31/12/2013

,

Crítica do filme: 'Até o Fim'

O que fazer quando tudo está perdido, exceto a alma e o corpo? Depois de dirigir o excelente Margin Call - O Dia Antes do Fim, o diretor norte americano J.C. Chandor chega aos cinemas com um drama que lembra muito outros filmes de sobrevivência mas com o pecado de não ter uma apresentação decente sobre a história de seu protagonista. All is Lost conta apenas com Robert Redford na frente das câmeras e isso infelizmente é muito pouco para agradar ao público.

Na trama, acompanhamos um experiente velejado que precisa enfrentar o maior desafio de sua vida quando, em alto mar e sozinho, em seu barco atingido por um container gigante e repleto de sapatos. Com sérias avarias em seu barco, precisa lutar dia e noite para sobreviver. Não sabemos a história do protagonista, nem ao menos seu nome. Isso atrapalha a interação com o público. Uma breve introdução ajudaria muito a criar laços de empatia, até mesmo para aumentar a torcida para um desfecho feliz e suporte para aguentar as maçantes cenas de aventura em alto mar.

O veleiro é moderno e conta com toda a tecnologia disponível nos dias de hoje. Mesmo assim, não é páreo para a força da natureza e aos acasos que o destino coloca em nossa frente. Por conta do acidente, se transforma em uma jangada pouco operante. Mesmo tendo completo domínio sobre a embarcação, o protagonista precisa tomar rápidas e difíceis decisões. O personagem demonstra uma frieza muito grande ao enfrentar esse contratempo. Parece que assim que ocorre a fatalidade, liga o seu botão da razão e esquece a emoção.


Respiração, transpiração e expressões de tensão são alguns dos poucos movimentos que percebemos do protagonista. Se Tom Hanks tinha o Wilson como companhia (no ótimo filme O Náufrago), o veterano Robert Redford tem apenas o esforço e talento de tentar passar toda a agonia e desespero de seu protagonista. Mesmo o filme tendo uma duração aceitável para trabalhos do gênero, falta muita coisa para agradar aos cinéfilos. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Até o Fim'

26/12/2013

Crítica do filme: 'Circles'



Quando você joga uma pedra na água, os círculos aparecem, se estendem. Depois de dirigir o sensacional Klopka no ano de 2007, o excelente cineasta sérvio Srdan Golubovic mais uma vez chega surpreendendo o mundo do cinema com o suspense dramático Circles. Filmado na Bósnia e Herzogovina, na Alemanha e na cidade de Belgrado, o longa metragem foi o indicado da Sérvia para concorrer a uma vaga ao próximo Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Em 112 minutos de fita, somos envolvidos por um mistério que é a chave de todos os acontecimentos dramáticos que se estendem da primeira cena até o desfecho.

Logo no começo do filme, somos apresentados a Marko (Vuk Kostic), um soldado de bem com a vida que é muito feliz ao lado de sua namorada e adora jogar xadrez com seu amigo estudante de medicina Nebojsa (Nebojsa Glogovac). Certo dia, heroicamente, salva um pacato comerciante estrangeiro chamado Haris (Leon Lucev) do prepotente e irracional linchamento por outros soldados, comandados pelo temido Todor (Boris Isakovic). Logo após, sem sabermos as conseqüências deste ato, a fita dá um pulo temporal de 12 anos e somos apresentados a todos que estavam perto ou fizeram parte deste acontecimento com Marko. Assim, vamos acompanhando as surpresas, culpas, frustração, desejo de vingança e terríveis coincidências que acompanham esses personagens.

Será que um ato humano de bom coração é compreendido e traz algum aprendizado para as pessoas? O medo dos personagens é exatamente o legado da boa ação deixada por Marko. A consistência da história, escrita por Melina Pota Koljevic e Srdjan Koljevic, gira em torno de como uma situação trágica pode nunca ter uma solução no futuro. Seja para um abalado pai que precisa se relacionar profissionalmente com o filho de um dos soldados que linchavam o pobre comerciante, para o agora médico que é a única esperança de vida do ex-temido soldado, para a namorada que nunca esqueceu o grande amor e precisa proteger seu filho das garras de um bandido cruel ou mesmo para Haris que foi salvo e agora precisa ajudar alguém muito próximo ao homem que lhe salvou a vida.

O espectador se sente de frente para um tabuleiro de quebra-cabeça em que lentamente uma nova peça é apresentada. A dedução é o melhor palpite para aqueles que tentam descobrir antes do tempo o que houve ao personagem chave. O desenrolar dos fatos são comoventes e o público fica totalmente refém dessa poderosa história. Pena que Circles escolheu um péssimo ano para tentar uma vaga entre os cinco escolhidos ao Oscar, senão tinha chances. Mas não deixa de ser um filme que precisa se conferido por todo aquele que ama cinema.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Circles'

Crítica do filme: 'Tudo por Justiça'



Até onde vai o controle emocional de uma boa pessoa quando percebe que seu mundo desabara ao seu redor? Contando uma história para lá de comovente e sofrida, o diretor Scott Cooper (Coração Louco) consegue em um único trabalho criar um clima de vingança e tensão poucas vezes visto nos últimos filmes norte-americanos do gênero ação. Cada sofrimento que acerta em cheio o protagonista tem uma razão, uma argumentação consistente para existir e a forma que o protagonista lida com isso é tocante e extremamente violenta, não deixando o público tirar os olhos da telona num por um segundo.

O foco central do filme é Russell (Christian Bale), o filho boa praça do paizão Rodney Baze (Bingo O'Malley). Um homem muito querido pela comunidade onde mora e que leva uma vida pacata trabalhando onde seu pai trabalhou e sonhando em construir uma família ao lado de sua namorada Lena (Zoe Saldana). Porém, tudo muda em sua vida quando, após pagar uma dívida de um integrante de sua família, se envolve em um terrível acidente de carro e vai parar na prisão. Após anos na cadeia, consegue sair em condicional e logo precisa enfrentar sérios problemas com a nova realidade que o aguarda, principalmente as enrascadas que seu irmão mais novo (Casey Affleck) provoca.

Após quatro anos longe das câmeras, quando rodou seu primeiro longa metragem Coração Louco (que deu a Jeff Bridges seu primeiro Oscar), o bom diretor Scott Cooper reaparece no cenário hollywoodiano trazendo de volta a melancolia e a ótima captura do drama de seus personagens.  Com um orçamento de U$$ 22 Milhões, o cineasta apostou no material humano que tinha nas mãos e criou uma atmosfera de dor deixando seus atores, com muita naturalidade, executarem ao extremo cada personagem.  

O elenco é admirável. O polivalente Woody Harrelson na pele do terrível bandido Harlan De Groat, Willem Dafoe interpretando o canastrão de bom coração John Petty e o excelente irmão de Ben Affleck, Casey, contribuem e muito para a ótima interação do público com todos os acontecimentos que se desenrolam na trama. Mas quem rouba a cena, mais uma vez, é o protagonista, Christian Bale. O ganhador do Oscar e o melhor intérprete do Batman de todos os tempos, dá mais um show de interpretação. O sofrimento de seu personagem é nítido em cada gesto, cada palavra de Bale. Só por isso, já vale o ingresso do filme.

Uma ótima canção executada pela peculiar voz de Eddie Vedder, logo no início do filme, já era um sinal que os cinéfilos estariam diante de uma bela obra. Tudo por Justiça pode ser visto por alguns como apenas um filme de vingança. Mas garanto, é mais do que isso. A transformação súbita que passa seu protagonista é eletrizante, se vingar é apenas umas das armadilhas que a vida coloca em sua frente. Não deixem de conferir esse belo trabalho que possui muitos ingredientes para conquistar o público.  
Continue lendo... Crítica do filme: 'Tudo por Justiça'

24/12/2013

Crítica do filme: 'Touchy Feely'

Atravessando o universo do Reiki e o mundo sempre envolvente das energias geradas pelo corpo em conjunto ao universo, o novo trabalho da cineasta Lynn Shelton (A Irmã da Sua Irmã), Touchy Feely, é aquele tipo de filme que infelizmente não chegará às telonas dos nossos cinemas. Extremamente Cult e com uma lenta narrativa somos jogados para dentro de uma história sobre família, descobertas e desilusões.

Nesse drama existencial, escrito pela própria diretora, conhecemos os irmãos Paul (Josh Pais) e Abby (Rosemarie DeWitt). O primeiro é um dentista entrando na sua fase idosa que vive dentro do seu consultório e acaba influenciando as escolhas da filha Jenny (Ellen Page). A segunda, uma massagista cheia de vida, praticante de yoga as horas vagas, passa por uma fase importante de sua vida amorosa, dando passos definitivos para um firme relacionamento. Certo dia, um bloqueio profissional e sensitivo atinge Abby, ao mesmo tempo, que seu irmão começa a fazer sucesso em sua profissão descobrindo assim novos rumos de sua vida.

O interessante do roteiro é a desconstrução de uma personagem carismática e a construção de outro, um completo alienado e ranzinza. A história é mais profunda do que aparenta ser em seu início, passando pelas vidas desses instáveis irmãos que vivem momentos completamente diferentes. Os personagens coadjuvantes chegam para tentar completar as lacunas e ajudar os protagonistas a encontrar um novo sentido para suas existências.

A família adora se reunir para jantar e contar o cotidiano, cada qual no seu qual. Assim, o público começa, gradativamente, a conhecer melhor as características dos personagens. A crítica negativa chega exatamente a esse ponto, quando já em seu desfecho percebemos que muitas respostas não foram dadas. Acaba faltando força aos personagens secundários, muitas vezes ofuscados pelas situações criadas pelos personagens centrais da trama.

Touchy Feely é um filme que dividirá opiniões. O decorrer moroso e algumas subtramas desinteressantes podem ser um fator prejudicial. Mas, se formos analisar o drama como uma generalização na arte das redescobertas da vida, a história começa a parecer mais simpática aos olhos do público. Energias, terapias, encontros e desencontros marcam essa história que provavelmente você já viu por aí.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Touchy Feely'

23/12/2013

Crítica do filme: 'Ninfomaníaca - Volume 1'



Vocês sabiam que o ingrediente secreto do sexo é o amor? Após dirigir os excelentes Anticristo (2009) e Melancolia (2011), o extraordinário cineasta Lars Von Trier chega aos cinemas de todo mundo com a parte final da sua "Trilogia da Depressão", Ninfomaníaca. Divido em dois volumes, o drama é conduzido com uma delicadeza fora do comum, misturada com um falso lirismo. Feito para chocar, o aguardado e polêmico trabalho do mais famoso cineasta dinamarquês de todos os tempos, é uma pequena obra-prima que será alvo de discussões durante longos anos.

Nesse primeiro volume, somos surpreendidos com o inusitado encontro entre Seligman (Stellan Skarsgård) e Joe (Charlotte Gainsbourg).  O primeiro, um homem simples e inteligente que adora conversar sobre pescaria. A segunda, sofrera uma agressão misteriosa e aceita desabafar toda sua história até aquele momento. Joe é viciada em sexo e ao longo de anos se viu em situações constrangedoras desde a perda da virgindade até os dias atuais. Conforme conta sua história para Seligman, os dois personagens começam a discutir a sexualidade, e a verdadeira face de uma sociedade que preza pelo desejo, com diversas comparações com o cotidiano humano.  

Uma grande tela preta permanece durante um longo período logo no início da projeção, ao som da chuva caindo, deixando o espectador paralisado com o inusitado. Já sabíamos que estávamos prestes a assistir mais um show deste polêmico cineasta ganhador da Palma de Cannes no ano de 2000 com o filme Dançando no Escuro. Passando pela polifonia de Bach e as analogias improváveis entre o sexo e a matemática, representada pelo famoso teorema de Fibonacci, o cineasta de 57 anos explora o mundo da sexualidade de uma maneira tão radical que até Alfred Kinsey ficaria de olhos esbugalhados.

A narrativa é feita de maneira abarcante se sustentando em cima das opiniões de Seligman sobre as situações que passara Joe. Esse bate-bola é tão pungente aos olhos de Joe que o sarcasmo toma conta rapidamente da situação, levando o público a diversos risos entre um raciocínio e outro. A protagonista, vista em duas fases nessa primeira parte, consegue ser forte o suficiente para enfrentar todo aquele drama que passara, relatando todos os detalhes com uma forte dor e desespero.

Os coadjuvantes que aparecem neste volume, alguns atores famosos só vão aparecer no volume dois como o Willem Dafoe (L), contribuem cada qual no seu quadrado para ajudar a contar essa história. Em relação a isso, vale mencionar que a personagem de Uma Thurman, Mrs. H, é um dos grandes destaques da fita. Desesperada e humilhada, parte para o confronto de maneira tão incisiva que acaba provocando na personagem principal um complexo conflito. Outro destaque é Jerome (interpretado por Shia Lebouf) que aparece em duas fases na vida de Joe. Seguro e com um baita entendimento de seu personagem, o ator californiano, famoso por sua presença em Transformers, tem uma cena de penetração que vai dar o que falar, principalmente pela maneira como foi filmada.  

Von Trier é assim mesmo! Gosta de provocar o público a todo instante com suas ideias. Dessa vez abordando a sexualidade não tem medo dela ser vista de maneira aberta, nua, sem cortes, a cada instante gerando um constrangimento aos mais puritanos. Arrogante e debochado, o roteiro (assinado pelo próprio criador do Dogma 95) consegue reunir um conjunto de ações envolventes além de diálogos para lá de antológicos que deixam o público fascinado por essa história. Não deixem de conferir esse trabalho impecável que mais parece uma poesia picante. Bravo!
Continue lendo... Crítica do filme: 'Ninfomaníaca - Volume 1'

19/12/2013

Crítica do filme: 'Um Toque de Pecado'



O filme ganhador do prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes chegou aos cinemas na semana passada (13) causando grande euforia nos cinéfilos que não puderam conferir suas exibições na Mostra Internacional de Cinema de SP deste ano. A verdadeira identidade de uma China perdida em suas desilusões emocionais é o foco deste belo e violento trabalho de Jia Zhang-Ke (que dirigiu o excelente Em Busca da Vida (2006). Em pouco mais de duas horas de fita, entramos em um quebra-cabeça social modelado primorosamente por Zhang-Ke (que assina também o roteiro). A qualidade no modo de contar essa história transforma Um Toque de Pecado em um dos melhores filmes do ano.

Quatro histórias, quatro dramas com desfechos violentos. Um mineiro indignado (Wu Jiang) que luta contra a corrupção massiva dos líderes do vilarejo onde reside. Um homem frio e calculista que regressa para seu lar com sua mobilete de poucas cilindradas na véspera de ano novo e começa uma reflexão macabra em relação às infinitas possibilidades de se viver da violência. Uma linda jovem que se envolve com um homem casado sendo levada ao limite da loucura quando é assediada por um cliente imbecil. E por fim, um jovem (quase adolescente) trabalhador fabril salta de trabalho em trabalho à procura de uma vida melhor. Os visões dessas histórias são extremamente pessimistas mas não deixa de ser uma crítica ao que ocorre longe dos holofotes da mídia quando o assunto é o desenvolvimento do Dragão.

Passado nos tempos atuais, os costumes e tradições chineses são incorporados com grande maestria pelo diretor.  Detalhistas como sempre, os cineastas orientais sabem como prender a atenção do público em poucos minutos de projeção. Entre uma sequência e outra, somos testemunhas de belas imagens que lembram a abertura do famoso seriado de David Lynch, Twin Peaks. Os atores passam uma verdade absurda em seus gestos e ações, destaque para Wu Jiang e seu personagem Dahai que deve ficar na mente de muita gente durante algum tempo.

A história pode parecer um pouco confusa para alguns. São diversas tramas e elementos tendo apenas o objetivo de mostrar uma China que está escondida. O roteiro é o principal destaque do filme e não tenham dúvidas: Vão ter dezenas de cineastas norte-americanos querendo produzir um remake deste belo projeto. A questão é saber se temos a mesma sensibilidade que os nossos amigos do oriente. Essa afirmativa chega de encontro como uma crítica ao ‘novo Oldboy’  feito pelo Spike Lee que se torna uma verdadeira incógnita cinéfila.

A busca para entender o pecado é transportada das telas para as cadeiras do cinema. O oásis da prosperidade chega com um toque de pecado para cada uma dessas melancólicas e perdidas almas. Violento, sangrento, e certas vezes angustiante, são elementos que transformam Um Toque de Pecado em um trabalho que certamente Quentin Tarantino aplaudiria de pé, e quem sabe, você também.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Toque de Pecado'

Top 10 – Melhores filmes de 2013



Nesse belo ano para os cinéfilos e para todo mundo que gosta de filmes inteligentes fomos brindados com diversos projetos que emocionaram, causaram indignação, calafrios e muitos outros tipos de sentimentos, sentados em nossas cadeiras de frente para a telona. Entre produções do Canadá, China, França, Arábia Saudita, Itália, Estados Unidos e com mais de 500 filmes vistos esse ano, nasceu a minha lista com os 10 melhores trabalhos de 2013.

10. O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, 2011)

Ganhador de mais de 26 prêmios internacionais, chegou aos cinemas brasileiros neste ano o novo e elogiado trabalho do cineasta Philippe Falardeau (do excelente C'est pas moi, je le jure! ), O Que Traz Boas Novas. Qual o papel do professor? Educar ou ensinar? O longa levanta essa questão básica da educação centralizado nos interessantes diálogos entre pais, educadores e alunos. Além disso, o filme é delicado, transborda ao mesmo tempo pureza e maturidade. Na trama, após uma tragédia inestimável, uma escola enfrenta um grande problema com seus alunos. Abalados, pais e orientadores buscam uma saída para a superação de toda uma classe até a chegada do novo professor de origem argelina, interpretado pelo ótimo ator Mohamed Fellag (O Gato do Rabino). Esse é o tipo de filme para ver ao lado de quem você ama e quem sabe fazer uma sessão dupla e iluminar a sala de cinema com brilho no olhar, de ter encontrado alguém que te entende e gosta das mesmas coisas que você.

09. A Vida Secreta de Walter Mitty (Walter Mitty, 2013)

Você já fez algo realmente extraordinário? Com um roteiro do sempre competente Steve Conrad (À Procura da Felicidade), baseado em um personagem fantástico criado pelo escritor americano James Thurber no conto publicado na revista The New Yorker em 1939, o novo trabalho como diretor do astro de Hollywood Ben Stiller A Vida Secreta de Walter Mitty se propõe em ajudar ao público a encontrar a verdadeira beleza do sonhar contido dentro de todos nós. Contando também com a participação mais do que especial do ganhador do Oscar Sean Penn, A Vida Secreta de Walter Mitty se consolida a cada minuto de fita como um retrato maduro entre a realidade e a ficção. Então pessoal, o jeito é seguir o ABC de Walter Mitty. Veja o mundo. Os perigos que virão. Chegue mais perto. Sinta. Esse é o propósito da vida. Não percam essa fabulosa experiência cinematográfica que Jung iria amar. Bravo!


08. Um Toque de Pecado (Tian zhu ding, 2012)

O filme ganhador do prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes chegou aos cinemas brasileiros no finalzinho deste ano, causando grande euforia nos cinéfilos que não puderam conferir suas exibições na Mostra Internacional de Cinema de SP 2013. A verdadeira identidade de uma China perdida em suas desilusões emocionais é o foco deste belo e violento trabalho de Jia Zhang-Ke (que dirigiu o excelente Em Busca da Vida (2006)). Em pouco mais de duas horas de fita, entramos em um quebra-cabeça social modelado primorosamente por Zhang-Ke (que assina também o roteiro). A qualidade no modo de contar essa história transforma Um Toque de Pecado em um dos melhores filmes do ano.


07. O Sonho de Wadjda (Wadjda, 2012)

Ganhador de elogios ao redor do mundo, desembarcou no Brasil o drama O Sonho de Wadjda. Tendo influência do clássico da década de 40, O Ladrão de Bicicletas, de Vittorio De Sica (Desejos Proibidos), o longa fala sobre a destemida juventude que calça All Star e com uma mescla de inteligência e sabedoria consegue burlar qualquer símbolo de prepotência de uma sociedade machista no tempos atuais. É no mínimo um filme ousado, aguerrido e alentado. Talvez chocante para alguns. Pelos diálogos nos identificamos e torcemos para que mais Wadjda apareçam nesse mundo tão perto e conservador. Bravo! É o tipo de filme que procuramos em dezenas de sites, inúmeras lojas, sites estrangeiros, pois queremos dar de presente para alguém que amamos e nutre a mesma paixão que temos pelo cinema. 


06. Questão de Tempo (About Time, 2013)

Um pôster do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain preso na parede de um quarto já era o primeiro indicador que iríamos conhecer um sonhador, romântico e que faz de tudo para ser feliz. Em Questão de Tempo, o diretor e roteirista neo-zelandês Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill) nos leva a conhecer Tim e sua incrível jornada à procura de um futuro ao lado de um grande amor. Uma trilha sonora jovem e popular embala esse ótimo trabalho que é aquele tipo de filme que todo mundo na sala de cinema faz uma corrente imaginária positiva para que o desfecho seja feliz. Esse é o tipo de filme que você quer ver com a pessoa que ama. Se ela não puder ir, por ter provas no dia seguinte a exibição, vá com sua prima e pense nela. Fale do filme, mande mensagens no whatsapp, indique e faça o coração dela saber que precisa ver esse filme para entender cada dia mais que o amor de cinema está presente também na vida real.


05. A Grande Beleza (La Grande Bellezza, 2013)

Um dos diretores mais fantásticos do cinema atual Paolo Sorrentino (que dirigiu a ótima atuação de Sean Penn no filme Aqui é o Meu Lugar) chega novamente aos cinemas brasileiros apresentando um personagem e seu conflito. Dessa vez, criticando assiduamente a alta sociedade européia, seus altos e baixos, coloca um recheio de exuberância, luxo, dança e glamour através do olhar do amadurecimento de um homem e seus passeios nas memórias. Aos amantes de obras de arte, A Grande Beleza permite um grande tour, exclusivo para príncipes e princesas, por dentro de corredores memoráveis lembrando muito – nestas sequências - o clássico filme do russo Aleksander Sokurov, A Arca Russa. O protagonista fascina pois conhece tudo e todos. Molda seus raciocínios através da larga experiência que possui dentro dessa burguesia dominadora em que vive. É o tipo de filme que vemos no chão do cinema, por não ter mais lugar na plateia, ao lado do amor de sua vida que pode reclamar um pouquinho pelo filme ser muito longo.


04. Ferrugem e Osso (De rouille et d'os, 2012)

Quantas formas de amor existem? Escrito e dirigido pelo cineasta francês Jacques Audiard (O Profeta), Ferrugem e Osso é um drama que consegue tocar a alma de todos os espectadores de maneiro bruta, intensa, deixando um rastro de emoção em cada sequência. Estrelado pela ganhadora do Oscar Marion Cotillard (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) o filme é adaptado de uma história do autor Craig Davidson que mais parece o encontro da era moderna entre a bela e a fera. A trajetória fria, triste e vazia da personagem principal, a bela moderna Stephanie, se agrava com um acontecimento que muda para sempre sua vida. A partir desse momento, a personagem amadurece e conseguimos acompanhar essa linda mulher com outros olhos. Marion Cotillard está mais uma vez excelente em um papel sofrido, onde precisou de muita doação, dessa que é uma das melhores atrizes francesas de sua geração.


03. O Último Elvis (El Ultimo Elvis, 2012)

Festas para uns, vida para outros. A subida lenta pela escada, logo no início do filme mostrava que muitos detalhes seriam mostrados durante os poucos mais de 90 minutos do ótimo drama argentino O Último Elvis. Dirigido pelo cineasta Armando Bo, o longa personifica o drama em torno de um pai de família que busca uma vida melhor, paralela ao sonho que sempre teve. A maneira comovente que é apresentada essa história aproxima o público na série de fatos que preenchem aos poucos a telona. A inconsequente busca de um sonho nem sempre é uma história feliz. A sessão nostalgia e as canções que nunca sairão da memória são detalhes muito bem aproveitados pela história. Afinal, quem inventou o rock and roll nunca sai de moda!


02. Azul é a Cor mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2, 2013)

E vem da terra de Godard o filme mais quente deste ano, Azul é a Cor mais Quente. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche,  ganhador da Palma de Cannes neste ano, o drama francês é uma excepcional e comovente história recheada de diálogos árduos, cenas picantes e uma inteligente análise dos sentimentos humanos, feita de forma transparente, real e bastante atual. O longa metragem é provocante, chocante e ao mesmo tempo apresenta contornos dramáticos em forma de gestos de ternura e carinho de suas personagens. Esse é um filme que ficará na sua memória por muito tempo. As conversas em alto nível intelectual vão agradar o público. As amantes dão um show de conhecimento das artes argumentando sobre quadros de Picasso e conversando sobre teorias de Sartre. Os cinéfilos são abençoados com duas grandes interpretações. Todos os prêmios do mundo para as atrizes Léa Seydoux (Adeus, Minha Rainha) e Adèle Exarchopoulos. Vocês não podem perder esse lindo trabalho. Um dos melhores filmes do ano, sem dúvidas! Bravo!


01. A Caça (Jagten, 2013)

O que começa em novembro e não termina nunca mais. Discussões em familiares, bebedeiras e caça entre amigos, o novo trabalho do aclamado diretor, criador do movimento Dogma 95, Thomas Vinterberg (Submarino) é um daqueles filmes inesquecíveis onde sentimos do lado de cá da telona toda a angústia e injustiça que ocorre nas sequências desse projeto, disparado, o melhor filme do ano. A construção dos personagens dentro do contexto, especialidade de Vinterberg é o grande pilar desse drama comovente que gera uma comoção do público. Poucas vezes assistimos um filme e já pensamos nos debates que podem acontecer. A culpa, o perdão, a indignação. Sentimentos que andam em conjunto destruindo emocionalmente os personagens e brindando o público com uma verdadeira obra de arte. Cinema bom é assim mesmo, faz o público refletir. Bravo!
Continue lendo... Top 10 – Melhores filmes de 2013