31/12/2015

Crítica do filme: 'Spotlight - Segredos Revelados'

Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade. Um dos grandes favoritos para ganhar a estatueta do Oscar na próxima grande festa do cinema, Spotlight - Segredos Revelados realmente é um baita de um filmaço que mostra detalhadamente uma investigação feita por um jornal de Boston sobre os abusos de sacerdotes da Igreja Católica contra crianças. Com uma direção impecável do cineasta norte-americano Tom McCarthy (diretor do fabuloso O Agente da Estação) e com um elenco para lá de inspirado, essa longa-metragem coloca todo o foco no jornalismo investigativo e na força que a mídia possui em nossa sociedade.

Lançado no último Festival de Veneza, o filme, baseado em fatos reais, gira em torno de uma equipe de jornalistas investigativos comandados Robby (Michael Keaton) que acabam descobrindo um escândalo ligado à igreja católica que escondia casos de abuso de menores por padres na cidade de Boston. Lutando contra grandes forças que sempre protegeram essa história, os jornalistas precisam lidar com muitas surpresas e bastante paciência para poder apurar todos os fatos e publicar a matéria. A reportagem rendeu aos jornalistas o prestigiado Prêmio Pulitzer de serviço público em 2003.

Ao longo dos 128 minutos de projeção (que nem vemos passar), acompanhamos um grande embate entre os que protegem a igreja católica e os combatentes da mídia. Com algumas batalhas de tribunais, apuração e descobertas surpreendentes ao longo do processo da matéria, o espectador fica com um ar de curiosidade a cada sequência sobre como vão se definir aqueles fatos. Principalmente quando um embate entre estratégias dos próprios jornalistas fica cada vez mais aflorado mas sempre caminhando no mesmo objetivo. Nesse momento surge um dos grandes personagens do filme Marty Baron (talvez a melhor atuação da carreira de Liev Schreiber), o novo editor do Jornal que incentivou o start nas apurações iniciais do caso.


Spotlight - Segredos Revelados tem estreia confirmada no Brasil no dia 07 de janeiro e deve ser um grande sucesso de público não só porque conta com rostos conhecidos do grande público mas porque possui uma poderosa trama, completamente envolvente do início ao fim. Não percam!
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Crítica do filme: 'Brooklyn'

O problema de resistir a uma tentação é que você pode não ter uma segunda oportunidade. Depois de bons trabalhos em longas-metragens passados (como o ótimo Boy A), além de ter dirigido dois episódios da badalada série norte-americana True Detective, o cineasta irlandês John Crowley volta às telonas com uma trama bem água com açúcar que não deixa de ser uma homenagem aos milhares de imigrantes irlandeses que partiram para a America em busca de oportunidades e ajudaram a construir pontes, estradas e outros. O grande destaque de Brooklyn, vai mesmo para a competente interpretação de Saoirse Ronan que deve beliscar uma vaguinha na categoria Melhor Atriz (merecidamente) no próximo Oscar.

Na trama, baseada na obra homônima do escritor irlandês Colm Tóibín, acompanhamos a história de Eilis (Saoirse Ronan) uma jovem irlandesa que resolve, ajudada por sua irmã, ir tentar a vida no longíquo Estados Unidos da America. Chegando em terras norte americanas, Eilis passa por um médio período de transação e começa a enxergar toda sua vida de outra forma. Quando supera os momentos de transição, uma notícia sobre sua família na Irlanda faz com que ela tenha que voltar para a terra natal, isso fará com que Eilis tenha que fazer escolhas difíceis.

A América é uma experiência nova, Eilis não sabia o que esperar. Mesmo muito tímida, a jovem se sobressai nos Estados Unidos, consegue boas amizades com jovens que moram na pensão onde vive, financiada pela igreja (que bancou sua ida aos EUA) se forma em contabilidade na Universidade do Brooklyn e ainda arranja um namorado descendente de italiano.Há um desenvolvimento, até certo ponto, um pouco profundo da personagem principal em relação à maturidade.  Conseguimos enxergar essa transformação por conta da excelente atuação da atriz Saoirse Ronan, que conquista o público com muita leveza e sutileza já nas primeiras cenas.


Brooklyn ainda não tem data certa para estrear no nosso circuito mas tomara que tenha oportunidade. Por mais que não seja um filme profundo da maneira como podia ser, em relação à adaptação literária mesmo, é um projeto interessante que deve agradar quem curte finais felizes e histórias de amor e superação. 
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30/12/2015

Crítica do filme: 'Os Oito Odiados'

Em seu oitavo trabalho, o cineasta norte-americano Quentin Tarantino volta às telonas mais uma vez com o gênero faroeste, de pano de fundo, para contar uma história repleta de entrelinhas sobre o pós-guerra civil norte-americana. Os Oito Odiados, com estreia garantida no dia 07 de janeiro do próximo ano, é um filme grande (2 horas e 47 de projeção), com arcos bem longos e uma história muito interessante que insinua uma representação de cada personagem no contexto da passagem histórica já mencionada. Para brindar os cinéfilos, a genial trilha sonora é assinada pelo mestre Ennio Morricone.  

Alguns anos após a Guerra Civil Americana, conhecemos o caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell), conhecido como ‘o enforcador’. John está indo para o vilarejo de Red Rock onde entregará a criminosa Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) para a justiça e ficará com a recompensa de 10 mil dólares. No caminho, encontra o misterioso Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), um ex-soldado que adora contar uma história, e também Chris Mannix (Walton Goggins), um homem que está indo assumir o posto de xerife da cidade de Red Rock. Após enfrentarem uma forte nevasca, eles buscam abrigo em um lugar conhecido pelo Major mas chegando lá, fortes surpresas os aguardarão. 

Esse novo trabalho do cinéfilo Tarantino parece uma peça de teatro aberta ao público. Nos sentimos na plateia vendo e ouvindo o desenrolar de uma trama cheio de entrelinhas em praticamente um cenário, com muitos e ótimos atores em cena. Falando em atuações, Bruce Dern (do excelente Nebraska)  dá um show e toma as atenções durante boa parte do projeção. Samuel L. Jackson e seu debochado personagem, também está ótimo no papel do cruel Major Marquis Warren. Jennifer Jason Leigh, muito especulada para disputas de prêmios importantes na próxima temporada de premiações, interpreta com profundidade sua difícil personagem.

Em certos momentos, percebemos que estamos em uma trama ao melhor estilo Agatha Christie onde temos que adivinhar quais as verdadeiras intenções de cada intrigante personagem que vão surgindo conforme o filme avança em seu inteligente roteiro. Nesse instante, o oitavo longa-metragem do diretor de Pulp Fiction, alcança a atenção do público e o roteiro (assinado pelo próprio Tarantino) brilha com diálogos instigantes. Os Oito Odiados, que teve um orçamento por volta de 60 milhões de dólares, tem o mérito de ser muito bem explicado, até um narrador aparece mais forte nos desenrolares dos fatos, e a não linearidade da trama ajuda no suspense. 

O filme estreia em breve e não temos dúvidas que é um bom trabalho. Mas não podemos dizer que é o melhor filme de Tarantino. O arco introdutório um pouco longo acaba freando um pouco as expectativas mas o brilhantismo do roteiro, o entrosamento do elenco e as associações dos personagens com a guerra civil americana são espetaculares. Tarantino é assim mesmo, um diretor que volta ao passado para ser sempre um cineasta a frente de seu tempo.  

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Crítica do filme: 'O Quarto de Jack (Room)'

Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade. Baseado na obra de Emma Donoghue, um dos filmes mais emocionantes das temporadas de premiações importantes do cinema mundial é sem dúvidas esse O Quarto de Jack (Room). Dirigido pelo cineasta irlandês Lenny Abrahamson, do interessante Frank, é uma aula de como o amor familiar pode vencer as barreiras mais difíceis que a vida coloca em nossa direção. Com uma atuação esplêndida da dupla Brie Larson e Jacob Tremblay, Room (no original) é um dos filmes que vai estar em algumas categorias no próximo Oscar com toda certeza.

Na trama, conhecemos a história de Jack (Jacob Tremblay), um menino que acaba de fazer 5 anos e mora com a mãe em um quarto de 10 metros quadrados. A rotina do menino é ver televisão, ler e sonhar. Conforme a curiosidade, sobre o mundo fora do quarto, do menino começa a fica mais intensa, a mãe chamada de Ma, depois de Joy, (Brie Larson) embarca em uma jornada de explicações sobre a situação que vivem e o que realmente existe fora daquele quarto. Até que um dia, mãe e filho bolam um plano para conseguir sair do lugar onde vivem.

O universo dos sonhos é o caminho para enfrentarmos os absurdos que somos expostos em nosso cotidiano. A produção, que venceu o Grande Prêmio do Público no Festival Internacional de Cinema de Toronto 2015, fala bastante sobre a imaginação e o universo do sonhar. Nesses momentos, o ator mirim Jacob Tremblay vira gente grande e domina com uma força enorme as sequências. Impressionante a atuação de Jacob.

O filme cresce demais no segundo ato, numa luta quase desesperada da mãe para explicar ao seu filho como de fato é o mundo fora daquele quarto. Sequestrada faz sete anos, quando voltava da escola aos 17 anos, Joy possui uma esperança muito forte ainda de que vai conseguir fugir com seu filho e voltar para sua família. Nesse e em outros momentos de emoção, somos testemunhas de uma interpretação fabulosa da atriz californiana Brie Larson.

Após uma virada na história, já quase nos atos finais, o mundo aos olhos de Jack se torna outro, é como se nascesse outra vez. O interessante e muito bem abordado é a situação da mãe nessa virada, onde encontra mais dificuldades ainda na transformação. Joy entra em uma depressão profunda e fica bastante confusa sobre o velho e o novo mundo que agora está presente.


O Quarto de Jack (Room) estreia no Brasil dia 18 de fevereiro do próximo ano e promete emocionar bastante nossos cinéfilos. Uma das lindas lições que o filme nos passa é a de que Monstros são grandes demais para existir, principalmente quando temos pessoas que nos amam perto da gente. Não deixem de assistir a esse filme. Belo trabalho. 
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28/12/2015

Crítica do filme: 'A Travessia'

Você não pode mentir no palco, o público sempre saberá o que há em seu coração. Contando uma história real que ocorreu nos Estados Unidos na década de 70 e dirigido pelo craque Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro), A Travessia tem um ritmo eletrizante e uma trilha sonora ótima, empolgante, que lembra certos filmes de ação dos anos 90. No papel principal, Joseph Gordon-Levitt (A Origem), dá vida a um personagem que transborda carisma, interpretado por esse que é um dos melhores atores de Hollywood nos dias atuais.

Na trama, ambientada na década de 70, conhecemos o showmen francês Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt) um jovem sonhador, expulso de casa pelo seu pai autoritário, que resolve bolar um plano improvável de realizar uma travessia ilegal por meio de um cabo de aço entre as famosas torres do World Trade Center, em Nova York. Para tal, reúne um grupo de amigos, franceses e norte-americanos que embarcam na loucura do projeto. Pensando em não falhar, resolve também pedir a ajuda ao experiente equilibrista Papa Rudy (Ben Kingsley).

Desfilando com elegância seu francês com sotaque da terra do Tio Sam, Joseph Gordon-Levitt se entrega bastante ao papel. O ato de sonhar é filmado em cada sequência dando uma suavidade próxima a realidade do protagonista. Por mais que muitas características da formação inicial de Petit tenham sido ‘esquecidas’ pelo filme, a partir da obsessão dele em desfilar sua arte pelas torres gêmeas acontece uma marcante sintonia entre o personagem e o público.


A grande sequência do filme, já na corda entre as torres do World Trade Center é espetacular, tem o poder de prender a atenção do público de maneira impressionante. Zemeckis consegue sucesso em um filme que acaba batendo um pouco de frente com um documentário aclamado mundialmente chamado ‘Man on Wire’. Vejam os dois filmes, é um belo complemento! 
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Crítica do filme: 'No Coração do Mar'

Após o eletrizante Rush: No Limite da Emoção, o cineasta vencedor do Oscar Ron Howard volta aos longas-metragens dessa vez para contar ao público uma história complementar a do clássico Moby Dick.  No Coração do Mar conta as verdades não ditas sobre um grupo de marinheiros que enfrentaram um dos maiores animais do planeta no meio de um dos oceanos, a milhas e milhas longe da terra. Com um orçamento que beirou os 50 milhões de dólares, o filme possui efeitos especiais maravilhosos, ótima edição, trilha sonora eficaz, além de uma forte e sólida trama que prende o espectador a todo instante. Um destaque na atuação vai para o experiente Brendan Gleeson que emociona bastante com seu sofrido personagem.

O filme, ambientado no ano de 1820, mostra, primeiro, os preparativos de um barco baleeiro chamado Essex que parte da Nova Inglaterra rumo aos famosos óleos de baleia, atividade bastante lucrativa nessa década. Toda a história é contada por Tom Nickerson (Brendan Gleeson), um dos poucos que sobreviveram a aventuram à Herman Melville (Ben Whishaw). No comando, George Pollard (Benjamin Walker) um capitão de navio que tem mais nome do que experiência; como primeiro imediato Owen Chase (Chris Hemsworth) um experiente em caçada de baleias que possui todo o respeito da tripulação. Ao longo de meses, a tripulação busca o maior número de óleo de baleia. Até que um dia, são atacados por uma gigantesca criatura marítima e agora precisarão lutar pela sobrevivência.

Os três arcos do filme são muito bem definidos e possuem a profundidade certa para entendermos a história e características mais marcantes dos personagens. No primeiro momento, rapidamente e com um recheio (que não chega a incomodar) de clichês, vemos a partida para a expedição onde já de cara é escancarado que teremos problema de relacionamento na linha de comando. No segundo ato, contém a ação mais específica e foca com detalhes na ganância do homem e os reflexos disso ao enfrentar uma força da natureza. Já no arco final, e talvez o mais surpreendente, é a luta pela sobrevivência e a necessidade de se fazer tudo para sobreviver.


Inspirado no conto dramático de Nathaniel Philbrick, que inspirou o famoso Moby Dick, o filme estreou no último dia 03 nos cinemas brasileiros e promete agradar bastante ao público. Conhecendo ou não a história de ‘Moby Dick’, não deixe de assistir a esse bom blockbuster.
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27/12/2015

Crítica do filme: 'Carol'

Nomeado a cinco categorias na próxima cerimônia do Globo de Ouro (e com grandes chances de ser indicado também em algumas categorias no Oscar do ano que vem), o novo trabalho do cineasta californiano Todd Haynes (Não Estou Lá) pode ser, desde já, considerado um grande hino ao amor em uma época recheada de preconceito. No papel título, a sensacional atriz australiana Cate Blanchett que mais uma vez deve levar para casa a estatueta de Melhor Atriz no próximo Oscar por mais esse impecável trabalho. Completando o elenco, e em atuações acima da média também, Rooney Mara e Kyle Chandler.

Baseado no livro The Price of Salt (1952), de Patricia Highsmith, Carol é ambientado na década de 50 e conta a história de Carol Aird (Cate Blanchett) uma elegante mulher que vive um casamento de aparências, para os outros diz ainda ser casada mas sua relação com o pai de sua única filha, Harge Aird (Kyle Chandler), já acabou faz tempo. Tendo um histórico de relacionamentos com outras mulheres, Carol se aproxima de encontrar novamente um grande amor quando conhece a vendedora Therese Belivet (Rooney Mara) com quem tem uma linda e inesquecível história de amor.

Uma coisa importante antes de alguns pontos de análise do filme: A personagem principal não é só Carol, Therese Belivet (Rooney Mara) rouba a cena em vários momentos! Descendente de tchecos, Therese é delicada, observadora e que segue seus instintos sem medos. Pelos olhos dessa última, na verdade, que vamos conhecendo as dificuldades da época e grande parte dos ‘clímaxs’ estamos sempre na ótica dessa. Quando as duas estão em cena, o que para nossa sorte são muitas vezes, a troca de olhares entre elas é sempre fulminante, há um interesse forte e recíproco, contido em cada gesto, cada atitude de que vemos ao longo dos 118 minutos de projeção. Blanchett e Mara simplesmente se entregam de corpo e alma em seus papéis.

Carol é uma forte personagem, uma mulher à frente de seu tempo, que causa um verdadeiro e peculiar impacto com sua presença. Quando uma questão jurídica chamada Cláusula da moralidade é presente na trama, vemos um dos maiores absurdos da justiça norte-americana, fruto do preconceito de uma época que não respeitava o amor entre pessoas do mesmo sexo. Mandante desse processo contra Carol, Harge Aird, interpretado pelo ótimo Kyle Chandler, que, entre um drink e outro, não admite perder a esposa, ainda mais para outra mulher, assim, a confronta o tempo inteiro. Pena que o filme não vai muito profundamente nesse briga de emoções, dariam ótimas cenas que deixariam a personagem melhor compreendida.


O longa-metragem, que estreia dia 14 de janeiro no Brasil, concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes neste ano e deve, merecidamente, ganhar muitos prêmios em festivais mundo à fora. Além da história muito bonita, uma adaptação muito profunda e interessante, Blanchett e Mara simplesmente valem o ingresso. Belo filme!  
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25/12/2015

Crítica do filme: 'O Lagosta'



A persistência é o caminho do êxito. Vencedor do prêmio do Júri no badalado Festival de Cannes deste ano, The Lobster, dirigido pelo cineasta grego Yorgos Lanthimos (o mesmo do aterrorizante Dente Canino) é uma crítica social aos ‘mandamentos de comportamento de relacionamento’ em forma de distopia.  Colin Farrell, Léa Seydoux e Rachel Weisz estrelam esse longa-metragem que ainda não tem data para estrear no Brasil.

Na trama, acompanhamos, num futuro estranho, a saga de um arquiteto chamado David (Colin Farrell) que vive em uma sociedade cheia de regras, onde pessoas que estão solteiras são obrigadas a passarem 45 dias em uma espécie de hotel, cheio de regras,para encontrarem seus novos amores. A questão é que se o indivíduo não conseguir encontrar um novo amor, o mesmo é transformado em um animal de sua preferência. Assim, o protagonista embarca em uma jornada de descobertas e atitudes corajosas que vão definindo sua história. 

Indicado a 16 prêmios internacionais, The Lobster é um dos filmes mais malucos, bem diferente mesmo, da temporada. As críticas sociais que encontramos ao longo dos 118 minutos, algumas profundas, outras bem rasas, chegam de maneira impactante por conta do roteiro (assinado pela dupla Yorgos Lanthimos, Efthymis Filippou) detalhista que percorre situações, até certo ponto, absurdas mas que apresentam argumentos interessantes sobre algumas questões intocáveis na sociedade em que vivemos.

A personalidade dos personagens chama muito a atenção. Principalmente quando uma guerra pela sobrevivência é instaurada já em um dos arcos avançados da trama. O protagonista é interessante do início ao fim, e com certeza fica um pouco confuso com tanta loucura na sociedade que vive. O engraçado disso é que o próprio ator Colin Farrell deu entrevistas dizendo que mesmo após terminar as filmagens, ainda não entendeu o filme. 

The Lobster possui sua própria personalidade, a originalidade do roteiro é evidente e faz o espectador raciocinar em cima de argumentos até certo ponto complexos. Por conta, principalmente da peculiaridade desta história, The Lobster é um filme que merece ser visto pelos cinéfilos.

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24/12/2015

Crítica do filme: 'O Regresso (The Revenant)'



Antes de sair em busca de vingança, cave duas covas. Após o quase inacreditável Birdman, o simpático diretor mexicano Alejandro González Iñárritu volta às telonas para dirigir o incrível O Regresso (The Revenant), filme que provavelmente dará o primeiro Oscar da carreira do ótimo ator Leonardo DiCaprio. O projeto possui inúmeras qualidades: um longa-metragem grandioso (em todos os sentidos), com belas paisagens, ótimas atuações e uma fotografia que beira ao espetacular. Sem dúvidas, a câmera eletrizante de Iñárritu eleva a qualidade das sequências transformando a experiência de assistir a esse filme em algo épico. 

Com um roteiro escrito por Mark L. Smith e o próprio diretor do filme, baseado no romance homônimo escrito por Michael Punke, inspirado pela história real de Hugh Glass, O Regresso (The Revenant) conta a história de um famoso explorador chamado Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) que é atacado, sem piedade, por um imenso urso e acaba sendo deixado para morrer por sua própria equipe. Em uma natureza mais que selvagem, lutando para sobreviver, Glass busca suas esperanças guiado pelo instinto de vingança contra John Fitzgerald (Tom Hardy), homem que assassinou seu único filho a sangue frio. O foco principal de O Regresso (The Revenant) é a vingança, às vezes, um pouco camuflada em uma luta constante pela sobrevivência.

A jornada do protagonista é extremamente complexa, lutar para sobreviver em um ambiente hostil e cheio de perigos não só pelos atos impensáveis de homens sanguinários que atravessam o filme mas pelas intensas e ferozes ações da natureza. Uma força extra que Glass possui é um violento desejo de vingança que o domina. É quase inacreditável a maneira como sobrevive a tantas adversidades que vemos ao longo dos 156 minutos. Uma atuação de corpo e alma de Di Caprio. Merece seu primeiro, e tão sonhado, Oscar. Ao longo dos anos, se tornou um dos melhores atores de sua geração. Em O Regresso, prende a atenção do público com todo o sofrimento, emocional e físico, de seu impressionante personagem. Uma das principais sequências do filme, a do ataque feroz do Urso, é impactante. Gera uma agonia que se mistura com um medo e uma coragem muito real. Essa cena é um dos corações do projeto, que possui dois corações: a vingança e os instintos de sobrevivência.

O personagem de Tom Hardy, John Fitzgerald, é um homem bruto, totalmente inconseqüente, que adora contar historias passadas. Possui um forte instinto para matar além de ser extremamente egoísta. Esse egoísmo é a característica mais marcante deste excelente trabalho de Hardy na condução de Fitzgerald, conseguimos entender um pouco os objetivos do mesmo durante toda a projeção, o que ajuda a nos conectarmos mais ainda com a história. 

Com estreia marcada para o dia 21 de janeiro no Brasil, O Regresso (The Revenant), é um filme mais que indicado a quem ama cinema. Uma última curiosidade sobre a produção é que DiCaprio encontrou sua melhor atuação longe de seu grande mentor, Scorsese. Mas aprendeu bastante com o mestre né Leo?! Não percam esse filmaço! Bravo!
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21/12/2015

Crítica do filme: 'Operações Especiais'

Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos. Dirigido pelo cineasta Tomas Portella, Operações Especiais, de longe, parecia ser mais um longa-metragem fraco sobre violência no Brasil. Só que de perto, o filme surpreende com um mira certeira no quesito composição dos personagens, o que ofusca um pouco as cenas de ação. É um roteiro interessante, aborda pontos importantes para entendermos melhor os dramas e conflitos diários de um policial. É um dos melhores filmes brasileiros, do gênero, que conseguem êxito nesse sentido, a construção é muito bem feita apesar de alguns exageros.

Na trama, acompanhamos a bela Francis (Cleo Pires), uma jovem formada em turismo, recém aprovada no concurso da polícia civil do RJ. Em pouco tempo de exercício de suas funções, é selecionada para uma operação policial em outra cidade tomada por bandidos que fugiram a pouco tempo do RJ. Aos poucos vai começando a se entender em sua nova profissão e passa por diversos testes emocionais nesse processo tendo que, principalmente, provar suas competências mesmo com um certo preconceito de alguns colegas de corporação.

O incrível que acontece nessa fita nacional é que a ação, que geralmente é o ponto forte em filmes de ação propriamente ditos, fica em segundo plano, chamam pouco a atenção apesar de cenas muito bem feitas. O filme chega no aceitável no quesito ritmo, por mais que algumas vezes a protagonista não consiga passar com profundidade o que se passa nas sequências. De qualquer forma, é um bom trabalho de Cleo Pires, interpretando uma personagem bem diferente em sua carreira. Mas o destaque para atuação vai para Fabiula Nascimento, responsável por ótimas sequências dentro da história.


Com uma passagem relâmpago pelos cinemas, no segundo semestre deste ano, o filme deve ganhar nova vida nas telas de TV em breve e não deixa de ser uma boa indicação de cinema bem feito no Brasil. 
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Crítica do filme: 'Descompensada (Trainwreck)'

Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras. Indicado a duas categorias no Globo de Ouro do ano que vem, a comédia norte-americana Descompensada (Trainwreck) é um show de besteirol que tenta imprimir um ritmo maduro para poucos diálogos intriguistas, uma fórmula bisonha que obviamente não dá certo. Dirigido pelo cineasta nova-iorquino Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos) e com uma atuação bem fraca da humorista Amy Schumer a melhor piada que funciona pro filme é ele ter sido indicado ao Globo de Ouro.

Na trama, conhecemos a descontrolada, mal educada, chata e alcoólatra Amy (Amy Schumer), uma loirinha que trabalha em uma revista polêmica e que vive a vida de maneira inconseqüente, dormindo com várias pessoas ao longo do mês e com um relacionamento bem esquisito com seu namorado Steven (John Cena). Em relação a sua família, mantém uma certa proximidade com sua irmã Kim (Brie Larson) e sempre visita seu pai em um asilo. Tudo muda na conturbada vida de Amy quando ela conhece o médico Aaron (Bill Hader) por quem se apaixona loucamente. Assim, vamos acompanhando as surpresas que a história tenta apresentar ao longo de cansativos 125 minutos.

É complicado dizer o que incomoda mais: as tentativas de piadas sem graça de Amy Schumer ou um roteiro (assinado pela mesma) que dá várias voltas e não chega a lugar nenhum. Falta ritmo no filme, acredito que até que é viciado em comédias norte-americanas vai sentir isso, em um dos arcos, por exemplo, inventam uma linha emocional para ser explorada pela protagonista mas as sequências se tornam insignificantes. Existem também personagens coadjuvantes mal aproveitados, como a irmã de Amy, interpretada pela ótima atriz Brie Larson, praticamente sumida dentro do fraco roteiro. Nem as participações especiais de Tilda Swinton (mais uma vez irreconhecível) e Ezra Miller ajudam a melhorar o filme.


 Descompensada (Trainwreck) ainda não tem data de estreia no Brasil. Se chegar a entrar em circuito não deve agradar muito o público. História sem graça, longa, com algumas terríveis atuações. É uma comédia bem abaixo de uma boa comédia. 
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16/12/2015

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Crítica do filme: 'Creed: Nascido para Lutar'



Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Após o ótimo Fruitvale Station: A Última Parada, o cineasta californiano Ryan Coogler embarca em um projeto que resgata um dos grandes mitos do cinema norte-americano. Creed é uma espécie de mais um filme sobre o eterno Rocky Balboa, mas dessa vez, o lendário personagem lutador prefere ser o coadjuvante de uma ótima e criativa história que fala sobre grandes batalhas da vida. O grande destaque da fita é sem dúvidas a atuação maravilhosa de Sylvester Stallone que mostra que é possível resgatar um personagem quando ele é extremamente poderoso em cena.

Na trama, acompanhamos a história de Adonis Johnson (Michael B. Jordan), um homem marcado por uma infância conturbada e que nunca conheceu seu pai. Certo dia, anos depois de ser adotado pela ex-mulher de seu pai (o famoso pugilista Apollo Creed), Adonis resolveu investir na carreira de lutador e acaba se mudando para a Filadelfia, onde vai atrás de seu ‘Tio’, o famoso lutador Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Assim, esses dois buscarão enfrentar cada um seu desafio, nessa etapa da vida.

Creed fala entre outras coisas do poder da família em nossos corações. Rocky sempre cuidou de todos os amigos e familiares ao seu redor ao longo de todos os filmes, dessa vez, é ele que também precisa de uma motivação extra para lutar a maior batalha de sua vida. Adonis chega na vida de Rocky para preencher de esperança a rotina, do agora comerciante, do ex-campeão. Os laços de afeto entre os dois são muito bem expostos na telona, exalam carisma em cena.  

O grande mérito do filme é ter Rocky Balboa mas o próprio ser muito mais lembrando por algumas sequências que lembram o maravilhoso personagem. Stallone, o ser humano que mais conhece o garanhão italiano na face da terra, coloca um ar de terceira idade (parecido um pouco com linhas de raciocínio de ‘Os Mercenários’) muito profundo e bonito, em algumas partes chega a emocionar. Não sei se podemos dizer que a grande atuação de Sly foi uma surpresa, talvez a característica mais marcante e/ou curiosa é a releitura do personagem se encaixar como uma luva no roteiro de Creed.

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