19/08/2015

Crítica do filme: 'Que Horas ela Volta?'

A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente da sua independência. Transformando uma história simples em um fabuloso roteiro, chega aos cinemas dia 27 de agosto um dos filmes mais elogiados dos últimos tempos de nosso cinema, Que Horas ela Volta? Sensação por onde foi exibido e contando com uma direção inspirada de Anna Muylaert, o longa-metragem de 112 minutos é cativante do início ao fim. Para dar vida à forte protagonista, parece não haver dúvidas que a escolha pela atriz e apresentadora Regina Casé foi mais do que certeira, uma atuação espetacular que vai fisga o espectador desde os primeiros diálogos.

Na trama, acompanhamos a carismática empregada Val (Regina Casé), uma mulher que vive já há anos com uma família de classe alta em São Paulo. A personagem é detalhada, um raio-x completo de sua personalidade é apresentado ao público de maneira muito eficiente. Val possui um grande conflito mal resolvido em seu passado, com sua única filha que precisou abandonar há mais de 10 anos. Toda essa junção de emoções chega como uma erupção sentimental quando a antes jovem, agora vestibulanda Jéssica (interpretada pela excelente Camila Márdila), bate em sua porta. Seu único contato em Sp, onde quer prestar o vestibular, é a própria mãe. Assim, numa leque de situações, algumas um tanto quanto constrangedoras, mãe e filha precisam definir para sempre seu destino. 

Estimado em cerca de 4 Milhões de reais, esse possível concorrente brasileiro ao próximo Oscar, escancara ao público situações que acontecem frequentemente em nossa sociedade, muito por conta do desmotivador senso comum que algumas pessoas utilizam, as vezes sem nem perceberem no seu cotidiano. Val é a simplicidade em pessoa, ingênua, amorosa, que faz de tudo para cumprir fielmente seus afazeres no lar de seus patrões. A relação maternal que possui com Fabinho (Michel Joelsas), filho de seus patrões, em vários momentos geram emoção. Ela é quase a mãe que ele não teve presente, e ele é quase o filho que ela se distanciou. Há um complemento muito bonito nas conclusões de todos os personagens, entendemos isso melhor já no desfecho da trama.

Que Horas ela Volta? traduz, usando o cinema como linguagem, a questão do ser se sentir livre novamente, quase um exercício do recomeçar. A relação entre mãe e filha chega nesse ponto. A vida de Val era tão vaga, tão pequena que precisou chegar sua filha que não via há anos para mostrar a Val que o indivíduo vive melhor perto da família e quando o sonhar volta a aparecer em nossas vidas. Nessa hora, Regina Casé mostra todo seu talento e posiciona de vez sua personagem como uma das melhores do cinema nacional dos últimos anos. 


O filme deixa uma lição muito importante, um raciocínio que Ernesto Guevara de La Serna, o Che, já proclamava aos montes por onde passava: Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida.