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05/04/2012

Coletiva do filme "Xingu" no RJ

Foto: André Romano (Agência Infoco News)

Livremente baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), “Xingu”, chega aos cinemas no próximo dia 6 de abril. O trabalho do diretor Cao Hamburger transforma a saga dos irmãos Villas-Bôas em uma grande aventura.
Muito bem humorados e contando um pouco como foram as filmagens, como surgiram os nomes para a escolha do elenco, a questão ambiental envolvida além de outros assuntos, o elenco e o diretor se reuniram com os jornalistas em um luxuoso hotel na zona sul carioca na tarde da última segunda-feira (02/04).


Abaixo, o que de melhor aconteceu nessa simpática conversa com Cao Hamburger, Caio Blat, Felipe Camargo, João Miguel e o índio Tabata.


- Como foi a questão da logística para rodar o filme? Ocorreu algum imprevisto?

Cao Hamburger: Foi um filme muito complicado em termos de logística porque nós quisemos filmar nas locações mais parecidas com onde a história aconteceu. A gente filmou no estado do Tocantins, que é vizinho ao Mato Grosso, bem perto de onde aconteceu a história e filmamos uma semana dentro do Parque de Xingu, lá fizemos as cenas de aldeia e as cenas nas ocas. A gente teve que se deslocar muito, nas 10 semanas de filmagens praticamente uma semana foi só de deslocamento, fizemos os ensaios em Palmas (capital do Tocantins) depois a gente foi ao interior do norte de Tocantins, em Jalapão, que é um lugar muito bonito bem preservado e só nesse deslocamento uns quatro veículos quebraram. Já tivemos de cara uma ideia do que estava esperando a gente. E assim foi até o final, quebrando carro, atolando, a gente teve um incidente com um avião (com o diretor de cenas aéreas) não chegou a ser um acidente, não aconteceu nada mais sério. Foi uma aventura, vocês já devem ter ouvido histórias de outros filmes de como foi filmar nessas condições, chegamos perto de alongar o tempo de filmagem. O Coppola, por exemplo, demorou mais de um ano para filmar “Apocalipse Now”. Nós chegamos perto de ter problemas mais sérios, mas pela competência da produção, pela entrega que a equipe e os atores tiveram, a gente conseguiu fechar o filme no tempo previsto.

- Como surgiram os convites para os atores?


Cao Hamburger: Essa coisa de formar família é uma dificuldade a mais, um desafio. Fazer família sempre tem essa questão a mais, além de procurar encontrar o seu ator para cada papel, um ator que tenha haver com o papel que você ta querendo. É muito subjetivo nessa hora mas além de tudo isso tem que formar uma família, é uma dificuldade maior. Não foi muito, vamos dizer, não teve muitas dúvidas assim. Eu já tinha trabalhado com o Felipe (Camargo) e o Caio (Blat) anteriormente, nunca tinha trabalhado com o João (Miguel) ainda mas sempre admirei muito o trabalho dele. Com o Felipe e o Caio além da admiração que eu sempre tive pelo trabalho e da certeza de que são atores de altíssimo nível para cinema, eu já tinha trabalhado. Então fui juntando as peças. É uma honra e um prazer trabalhar com eles, a gente ter três papéis principais e conseguir três atores nesse nível é muito raro no cinema brasileiro.

Foto: André Romano (Agência Infoco News)


- Estava definido quem cada um dos atores iria ser na história?

Cao Hamburger: Com certeza. O Felipe tem aspectos do Orlando na personalidade dele. O João tem aspectos do Claudio na personalidade dele. Do meu ponto de vista funcionou bem. No mínimo 60% do trabalho é a escolha, se você escolher errado eu acho que é muito difícil o filme chegar no nível que você quer. Nesse caso não tive nenhuma dúvida. São papéis, os 3,  muito difíceis para fazer no registro cinematográfico que a gente gosta. O papel do Claudio é um papel introspectivo, cheio de dramas, denso e silencioso. O papel do Orlando é o cara que faz a política, a divulgação, que é pragmático. O papel do caçula pode ficar num lugar muito confortável se for só focar naquele caçulinha desprotegido. São papéis de três homens complexos. Quando eu assisto o filme, eu ainda não consigo assistir direito, fico muito orgulhoso dos três atores e dos coadjuvantes, além, dos novos atores que encontramos no Xingu que foi uma grata surpresa para nós, como o Tabata que tá aqui.


- Em relação à questão ambiental, vocês levaram em conta essas questões nos cenários e durante o tempo de gravação na região?

Cao Hamburger: Sim. As mais práticas e óbvias como o lixo, nós éramos nossos próprios lixeiros. As madeiras que usamos para os cenários eram todas certificadas e todas trabalhadas com arte para virar madeira cenográfica. A gente usou uma estrutura pequena de iluminação graças à maestria do Adriano Goldman nosso fotógrafo, ele já trabalha assim naturalmente e nesse trabalho radicalizou um pouco mais, tem uma cena noturna que é filmada só com uma lanterna. Tivemos cuidado não só na execução mas na intenção do projeto, essa história me cativou e a toda equipe pelo aspecto contemporâneo e urgente que essa história tem nos dias de hoje, é uma história que não terminou.  


- Como chegou essa história até você? (pergunta feita ao diretor Cao Hamburger)

Cao Hamburger: A história caiu no meu colo, foi um presente que eu recebi do Fernando Meirelles (produtor do filme) que recebeu do filho de Orlando Villas-Bôas, que foi até o Fernando lembrar a história e dizendo que estava sendo perdida.  E o Fernando quando deu as primeiras olhadas e lidas no material do Noel Villas Bôas, achou linda a história e me chamou para fazer.


- Como foi o laboratório para a composição dos personagens?

Caio Blat: Na verdade a gente conseguiu ter uma preparação, passamos uma semana lá no Xingu, praticamente sozinhos, sem produção (Caio e o João).  A partir daí ia ter uma preparação que estava prevista para acontecer em SP, durante um mês, e de repente muito sabiamente essa preparação foi transferida para o Tocantins, então eu e João passamos um mês no Tocantins, foi um processo muito intenso, a gente passava a manhã toda saindo pra mata com os sertanejos que compunham a expedição e logo se juntaram a nós os índios Caiabis que vieram do Xingu, então a gente passava a manhã inteira fazendo trilha, entrando pela mata, conversando. No período da tarde entravam os índios nas salas de ensaios para improvisar e interpretar com a gente. A gente passava metade do dia entrando no universo deles e na outra metade eles que entravam no universo do filme.
João Miguel: Foi fundamental esse processo, tanto da busca dos personagens em sala de ensaio quanto o convívio com eles. A construção do Claudio foi feita durante as filmagens.
Felipe Camargo: Pra mim foi muito angustiante. Eu tava fazendo uma novela, eu até pedi autorização à emissora para deixar a minha barba crescer, pois, eu tinha que me caracterizar de Orlando. Tivemos dois ensaios antes em SP, teve um encontro, mas muito pequeno. Aí, quando acabou a novela eu consegui passar quinze dias lá no Xingu.


Foto: André Romano (Agência Infoco News)


- Como foi para os índios participar do filme?

Cao Hamburger: A gente fez uma oficina bem grande com os atores indígenas. Depois de escolhido o elenco que ia fazer o filme, o Christian e a Marina (dois preparadores de elenco), foram para o Xingu e fizeram oficinas lá, depois trouxemos eles para o Tocantins e lá continuaram as oficinas e juntamos todos depois para fazer os ensaios. Foi um processo longo.


- O que vocês aprenderam com os índios durante o processo de filmagem?

Felipe Camargo: A questão da ansiedade. O índio que vive lá no Xingu ele não tem essa palavra, não faz parte do dicionário deles. Eles vivem o dia-a-dia, caçam, pescam, não tem ambição, não tem medo de perder as coisas, não tem medo de assaltos. Eles tem honra, que é uma coisa que tá difícil de se encontrar por aí. Na verdade nós temos muito o quê aprender com os índios. Tem uma coisa que o Tabata falou outro dia sobre o problema da água no Xingu. Eles não são donos da nascente do rio, eles não são donos da origem da água, isso é gravíssimo. O rio é o supermercado deles.


Você não pode deixar de conferir esse ótimo longa nacional que ficou em terceiro lugar na 14ª edição do Prêmio do Público, para os títulos da mostra Panorama do Festival de Berlim.

Viva o cinema nacional!
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