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27/02/2024

Crítica do filme: 'Fim da Sentença'


A decepção é um labirinto. Escondido no catálogo da HBO Max, esse poderoso drama que parte do recorte de um pai e sua conflituosa com o filho dilacera as mágoas do passado entre idas e vindas da liberdade até a oportunidade. Fim da Sentença, dirigido por Elfar Adalsteins, em seu primeiro longa-metragem, é um interessante road movie que caminha na melancolia para se achar um norte, uma direção, mas de forma próxima à realidade, humana, numa relação angustiante presa em um passado que não existe mais. John Hawkes e Logan Lerman estão sublimes nos seus respectivos papéis.

Na trama, conhecemos Frank (John Hawkes), um vendedor aposentado que passa seus dias de forma pacata ao lado da esposa Anna (Andrea Irvine) no estado do Alabama. Quando ela falece, vítima de câncer, Frank, precisa realizar o último desejo da esposa: uma viagem para a Irlanda junto do filho. A questão é que Sean (Logan Lerman), que acabara de sair da prisão, não se dá bem com o pai. Embarcando nessa viagem, muitas surpresas pelo caminho esperam pai e filho.

O controle sobre as coisas se torna um parâmetro importante que define as personalidades de pai e filho. O primeiro um homem rígido, que viveu para seu amor toda uma vida e se lamenta pelo abismo na relação com o único filho. O segundo, um imaturo jovem que travou momentos conflituosos com o pai ao longo da vida jogando nele toda a culpa pelo seu presente momento. Ao longo dessa viagem, a oportunidade de verem lados nunca vistos de um e de outro, de alguma forma, transforma essa relação. A narrativa costura muito bem esse olhar num campo de interseção, nas peças que vão unindo os protagonistas.

Descobertas surpreendentes de um grande amor, as verdades por trás das raivas que logo se mostram traumas de um passado repleto de lacunas nunca respondidas, momentos com variáveis incontroláveis, o olhar para a família e sua relação com o caos, tem de tudo nesse roteiro que antes de mais nada se joga para cima do lado humano, dos erros e acertos que estão previstos em todos os caminhos.  



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19/02/2024

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Pausa para uma série: ' True Detective – Terra Noturna'


Os fantasmas do lado de fora. Um pequena cidade com muitos conflitos e misteriosas mortes é a porta de entrada para a proposta de imersão em uma história com personagens no limite emocional num lugar e época onde os dias viram noites. True Detective – Terra Noturna, quarta temporada do aclamado seriado, possui um discurso onde o roteiro e a narrativa andam lado a lado: traumas no passado refletindo no presente. Protagonizado pelas ótimas Jodie Foster e Kali Reis, True Detective – Terra Noturna, com seus seis episódios mistura o drama e o suspense em um fórmula que encaixa.

Na trama, conhecemos a chefe de polícia da gelada cidade de Ennis, no Alaska, Liz Danvers (Jodie Foster), uma mulher com problemas no relacionamento maternal com a filha do ex-companheiro que comanda a investigação de uma misteriosa morte que envolve cientistas de uma estação de pesquisas da região. Ao longo da investigação, esse caso parece estar ligado a outro, o de uma ativista morta no passado, fazendo com que Danvers se junte a ex-parceira Evangeline Navarro (Kali Reis) em busca das respostas de um enorme quebra-cabeça.

Dramas profundos nas vidas pessoais das protagonistas ditam o ritmo sem esquecer das respostas que chegam gradativamente. Com cerca de uma hora de duração por episódio, tempo suficiente para ir a fundo nos principais conflitos dos personagens, essa nova temporada mostra desde o início que cartas estão na mesa a todo instante mas embaralhadas, associadas a algumas perguntas sem respostas.

Não existe nada além de nós. Será? O flerte com o inexplicável fica no campo dos suposições. Nos perguntamos: Há algo ligado ao sobrenatural? Uma maldição? Esse contexto amplamente interpretativo acaba refletindo no discurso, as famílias e suas rupturas. A fé e o confronto com o cetismo ganha espaço trazendo questões relevantes.

O estado de solidão, culpa e seus embates consigo mesmo e os outros, acaba levando personagens a confrontos surpreendentes com os traumas de outrora. No final das contas, pra quem já sabe sobre os mistérios que chegam no último episódio, a temporada se resume a sobre como fechar as portas abertas.

Com alguns episódios brilhantes, como o quinto, True Detective – Terra Noturna, rodado na Islândia, traça um raio-x profundo de pessoas respondendo sobre seus atos e os limites do ser humano ao escorregar nas linhas da moral.

 

 

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01/01/2024

Crítica do filme: 'Sisu: Uma História de Determinação'


Buscar inovações dentro de um recheado gênero cinematográfico, aqui no caso, a ação, é sempre algo louvável. Dito isso, no último dia do ano de 2023 me deparei com um projeto violento, sangrento, que nos joga de frente para a figura de um anti-herói, um imortal em sua determinação, que dentro de um contexto histórico real, já no finalzinho da Segunda Guerra Mundial, se joga em sua jornada de incertezas tendo a sobrevivência como um único objetivo. Escrito e dirigido pelo cineasta Jalmari Helander, Sisu: Uma História de Determinação se destaca por cenas muito bem filmadas, empolgantes, e um roteiro que se destaca usando do indestrutível para dizer verdades de um embolado contexto geopolítico.

Na trama, conhecemos Aatami (Jorma Tommila), um ex-comandante do exército finlandês, temido pelo próprio batalhão, que abandonou os tempos de guerra, largado em uma terra ao norte, ainda destruída, no meio do nada, onde vira garimpeiro e começa a achar generosas quantidades de ouro. Só que logo seu caminho se cruza com o de nazistas inescrupulosos sedentos pelo ouro encontrado.

Curtinho e objetivo. Essa produção finlandesa não perde muito tempo para apresentar suas peças mesmo que uma necessária maior explicação sobre o contexto da época seja uma lacuna em aberto. Em 1944, já no finalzinho da Segunda Guerra Mundial, na região da Lapônia, rodeada por outros países além da Finlândia, a União Soviética e a Finlândia assinaram um armistício onde a segunda deveria expulsar as tropas nazistas restantes da região. Fato esse que criou uma corrida por sobrevivência de todos os lados, já que a Finlândia ficou arrasada pela guerra e seus próprios cidadãos não sabiam como seria o futuro. O gancho para o roteiro vem exatamente desse ponto, daí a importância do ouro num tempo de incertezas.

Com um orçamento na casa de seis milhões de dólares, valor bem baixo para os padrões de hoje em dia, a figura do anti-herói tem interpretações variadas dentro de uma narrativa que empolga o espectador elevando as bases da linguagem cinematográfica como o tempo e o espaço, muito pelo dinamismo alcançado. A sobrevivência na ponta do discurso, seja na terra, seja na água, seja no mar, afasta qualquer semelhança com a jornada do herói já que seu fim não causa transformação e somente mais um dia de guerra para alguém que se adaptou a isso no cotidiano. Essa análise em cima do personagem é um caminho instigante, reflexivo, que o espectador pode alcançar.


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14/12/2023

Crítica do filme: 'Filadélfia'


O preconceito e a luta pelos direitos. Dirigido pelo nova iorquino Jonathan Demme, no seu filme de sequência logo após o impactante O Silêncio dos Inocentes, Filadélfia é um projeto emocionante, camuflado de drama jurídico, que transporta pra tela reflexões sobre vários assuntos bastante importantes, principalmente um que marcou a geração dos anos 80/90, a AIDS.


Mostrando os passos rumo as incertezas de um profundo protagonista, que sofre com o preconceito constante, o filme tem a força de também conscientizar e jogar pra longe a estigma sobre a doença. Esse é o primeiro dos dois Oscars que Tom Hanks ganhou em sequência (o outro foi por Forrest Gump), algo somente conseguido pelo ator Jason Robards na década de 70. É um trabalho impressionante de Hanks, que inclusive teve que perder 26 quilos para algumas cenas de seu personagem.


Na trama, conhecemos Andrew Beckett (Tom Hanks), um brilhante advogado, homossexual, que vem crescendo na poderosa empresa onde trabalha. Quando ele é demitido de forma surpreendente por conta da descoberta pela empresa que ele possui AIDS, Andrew resolve processá-los e para isso contrata Joe (Denzel Washington), um advogado, homofóbico, que é o único que aceita o caso.


Levemente inspirado na ação movida por um jovem advogado chamado Geoffrey Bowers, em um processo de discriminação contra a AIDS que moveu contra um empresa multinacional, Filadélfia amplia o campo de reflexão para falar sobre as facetas do preconceito em uma sociedade conservadora e mal informada. A narrativa segue em parte como drama jurídico, daqueles bons filmes com conflitos intensos de argumentações e júri mas também não deixa de relatar toda a dor e sofrimento que passa o protagonista, formando um discurso pulsante e envolvente.


A Aids é uma doença que ao longo do tempo foi ganhando um melhor entendimento de todos mas na época em que se passa o filme era bem diferente. O preconceito rolava solto e a desinformação era vista em cada esquina. Até hoje essa terrível doença que ataca o sistema imunológico não tem cura mas a evolução dos tratamentos possibilitaram uma qualidade de vida para os portadores do vírus.


O filme tem várias outras críticas sociais, algumas dessas que contornaram a história recente norte-americana e estão ligadas a orientação sexual. Um dos maiores exemplos disso é a reflexão sobre a proibição de gays e lésbicas servirem nas Forças Armadas dos EUA, algo que se seguia até meados da década de 90, quando o filme foi filmado. Uma cena de festa já na parte final do filme onde os personagens de Banderas e Hanks estão vestidos com uniformes militares é uma referência, algo para gerar o refletir sobre a situação.


Lançado nos cinemas norte-americanos em dezembro de 1993 e chegando no Brasil apenas em março de 1994 (pra vocês verem como demorava para os filmes de fora chegarem aos nossos cinemas tempos atrás), o filme foi ganhador de dois Oscars, para a potente canção Streets of Philadelphia de Bruce Springsteen na categoria de Melhor Canção Original e Tom Hanks na categoria Melhor Ator.


Para quem se interessar em assistir a esse filmaço, está disponível no catálogo a HBO Max.



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Crítica do filme: 'Cidade dos Anjos'


Um clássico revisitado sob as linhas do melodrama. Duas décadas e meia atrás o cineasta Brad Silberling recebeu a tarefa de recriar a essência de uma história marcada pelo cineasta Wim Wenders num clássico da década de 80 adaptando para os moldes do cinema hollywoodiano onde a filosofia marcante da obra original é quase jogada pra escanteio e onde o melodrama domina as ações. Como protagonistas, dois rostos conhecidos de uma década de 90 vitoriosa do cinema norte-americano e seus filmes de romance: Nicolas Cage e Meg Ryan. Mas o grande destaque de Cidade dos Anjos é sua trilha sonora, indicada ao Grammy no ano de 1999.


Na trama, conhecemos um anjo chamado Seth (Nicolas Cage), uma alma imortal que tem a missão de olhar pelas pessoas em aflição em uma Los Angeles da atualidade. Quando ele começa a se aproximar da história da médica Maggie (Meg Ryan), uma intensa paixão logo toma conta dele fazendo com que o mesmo opte pela mortalidade mesmo sabendo os riscos desse desejo.


Esse enlatado norte-americano não envelhece tão mal quando revemos. A história original, vista em Asas do Desejo, é algo muito mais profundo, ligando pontos de filosofia e metáforas dentro de um contexto de uma Berlim ainda com o famoso muro intacto. O refletir sobre a existência era algo rico em caminhos para nosso refletir. Nessa adaptação norte-americana, as estradas são moldadas pelas resoluções simples de uma história de amor que flerta com a tragédia dentro de uma iminência nada feliz.


Não consigo ver você. Mas sei que você está aí. A narrativa desse remake leva o espectador rapidamente ao clímax do discurso proposto gerando perguntas implícitas nas ações dos personagens: o que você faria no lugar do anjo Seth? Se jogaria na imortalidade, mesmo sabendo de todos os problemas de nós meros mortais? Se apaixonar é mesmo uma razão de existência, nada fica 100% completo sem o amor? A condução disso em forma de narrativa escorrega nos clichês mas tem lá sua importância através do existencialismo, uma característica muito forte dessa história.


A trilha sonora é o ponto mais impactante dentro da narrativa. Realmente uma seleção que vale a pena ter no seu player musical, indicada ao Grammy e ao Globo de Ouro. Nomes como: Alanis Morissete, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Goo Goo Dolls e U2 brindam o espectador com canções maravilhosas. Sobre esse fato duas curiosidades:


A primeira é que a banda Goo Goo Dolls conseguiu chegar ao estrelato com a canção ‘Iris’, um dos maiores sucessos dos anos 90 e até hoje muito associada ao filme. A segunda curiosidade gira em torno do U2, única banda que esteve presente na trilha do filme que é a continuação da versão original (Tão Longe, Tão Perto), com a canção ‘Stay Faraway, So Close!’. Em Cidade dos Anjos eles entregam a belíssima ‘If God Will Send His Angels’.


Com direito a uma aparição surpresa como ator do cineasta Michael Mann em uma das cenas, Cidade dos Anjos é um daqueles filmes que a maioria dos cinéfilos para pra ver quando está passando. Foi um dos grandes sucessos da carreira de Nicolas Cage e Meg Ryan, conseguindo alcançar a poderosa marca de 200 milhões de dólares em bilheterias de todo o mundo e somente no Brasil levou mais de 1 milhão de pessoas as cinemas (num ano que teve sucessos como Titanic e Armageddon).


Para quem quiser conferir, o filme está disponível na HBO Max.



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Crítica do filme: 'Jerry Maguire - A Grande Virada'


O amor e o poder na era da ganância. O concorrido, midiático e rentável universo dos esportes americanos vira pano de fundo para uma história de amor e dedicação aos olhos de um workholic que precisa redesenhar seus objetivos passando por aprender a dar valor aos que o cercam na vida pessoal. Assim, podemos rapidamente definir Jerry Maguire - A Grande Virada, um dos melhores filmes dos anos 90 escrito e dirigido pelo cineasta californiano Cameron Crowe, inspirado na vida do agente esportivo Leigh Steinberg.


Na trama, conhecemos Jerry Maguire (Tom Cruise), um badalado empresário de esportistas que vai do céu ao inferno quando, no auge da carreira, é demitido da empresa onde trabalha. Buscando um recomeço no mercado competitivo que está, vai em busca de firmar parceria com um jogador de futebol americano chamado Rod (Cuba Gooding Jr.) que é puro coração. Nessa jornada, Jerry contará com a ajuda da ex-secretária Dorothy (Renée Zellweger) com quem viverá um grande amor.


Quinto filme consecutivo de Tom Cruise com mais de 100 milhões de dólares em faturamento de bilheteria (algo que se repetiria mais pra frente na sua vitoriosa carreira), Jerry Maguire navega pelo olhar crítico ao capitalismo, onde o dinheiro e o poder se tornam obsessão de muitos deixando para trás laços importantes. As redescobertas do protagonista, numa óbvia relação a uma jornada de redenção se mesclam com uma história de amor água com açúcar mas mesmo assim carismática. Nessa última parte vale o destaque para a atriz Renée Zellweger que na época estava em baixa na carreira.


A narrativa percorre conflitos emocionais ligados a uma era de obsessões, uma frenética corrida por posição social. As linhas do roteiro surgem cheias de críticas sociais, uma forma bastante madura de refletir um eterno estado de aflição. O panorama midiático é muito bem estabelecido pelas lentes do ex-repórter da Revista Rolling Stones Cameron Crowe, um cineasta brilhante, com um olhar cirúrgico para os epicentros de um discurso.


Na trilha sonora, outra área que Crowe conhece como poucos, a produção teve permissão de ninguém mais ninguém menos que Paul McCartney para usar duas partes instrumentais das canções ‘Singalong Junk’ e ‘Momma Miss America’ que estiveram no álbum McCartney lançado pelo eterno beatle no início da década de 70.


Indicado para cinco Oscar, venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Cuba Gooding Jr.), e com um orçamento na casa dos 50 milhões de dólares, o filme faturou quase 300 milhões em bilheterias em todo o mundo, se tornando um enorme sucesso. Pra quem se interessar, o filme está disponível na Paramount Plus, Prime Video e HBO Max.



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Crítica do filme: 'E agora, meu amor?


A fuga dos clichês de forma leve e descontraída. De maneira despretensiosa e abordando a gravidez inesperada após um único encontro, no final da década de 90 chegava aos cinemas a comédia romântica E agora, meu amor?, um dos ótimos trabalhos na telona de Matthew Perry, um do astros do lendário seriado Friends que nos deixou recentemente. Dirigido pelo cineasta norte-americano Andy Tennant (de sucessos como: Hitch – O Conselheiro Amoroso, Para Sempre Cinderela e Doce Lar) com roteiro assinado pela dupla Joan Taylor e Katherine Reback, caminhamos pelas estradas conflituosas do amor com uma dupla de protagonistas carismáticos.


Na trama, conhecemos Alex (Matthew Perry), um engenheiro que tem a grande chance de sua carreira profissional ao ser designado para supervisionar um projeto de construção em Las Vegas. Em uma noite, nesse lugar, acaba conhecendo Isabel (Salma Hayek), uma jovem com quem passa uma única noite. O tempo passa e Isabel volta a cruzar o caminho de Alex ao descobrir que está grávida. Buscando se entenderem, mesmo sem se conhecerem, o casal resolve enfrentar os conflitos de uma união e a chegada do primeiro filho.


O filme bate na tecla das tradições culturais, esse é o principal conflito enfrentado pelos personagens. Isabel uma descendente de mexicanos, Alex um playboy norte-americano com a família cheia da grana. O choque entre as duas formas de pensar e viver a vida das famílias se torna um ingrediente interessante para os conflitos que passam os protagonistas. Buscando se entenderem, o caminho de descobertas e novos rumos se reúnem em uma narrativa leve e espontânea aproximando os personagens do público a cada cena.


A questão da gravidez é um outro ponto interessante. O que fazer quando você descobre que engravidou um alguém que nem conhece direito? Será essa situação suficiente pra o nascimento de uma história de amor? Rodado no intervalo das filmagens entre a segunda e a terceira temporada de Friends, o filme retrata essa realidade, os dúvidas e escolhas de forma divertida mas sem perder a seriedade da situação. Completamente confusos sobre o que fazer, os pombinhos resolvem se arriscar no universo da incertezas e responsabilidades em cenas que mostram essa caminhada de forma bastante honesta, divertindo o público em muitos momentos.


Com uma ótima trilha sonora que vai de canções de Enrique Inglesias até Elvis Presley, E agora, meu amor? ainda é um filme pouco lembrado, até mesmo subestimado. Um dos grandes méritos da produção é uma eficiente fuga dos clichês, como se remodelassem conceitos do lugar comum de um comédia romântica transformando algo mais próximo da realidade. Seus dramas e conflitos são absorvidos rapidamente fruto de um adamento detalhista de Tennant e sua equipe.


Mesmo não indo muito bem nas bilheterias, com um lucro na casa dos 10 milhões de dólares, valor muito abaixo quando pensamos em projetos de sucesso em bilheterias, o filme é carinhosamente lembrado por muitos que o assistem, talvez pela forma leve e descontraída de mostrar o construir de uma vida de forma às avessas, já com um filho a caminho. Para quem quiser conferir, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



 

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Crítica do filme: 'A Casa do Lago'


O inusitado relacionamento em pontos separados do tempo. Buscando um amplo olhar para as linhas conturbadas da solidão, mesmo em uma parábola absurda, um encontro improvável, de duas almas complementares dentro de uma confusa história, A Casa do Lago consegue levar os espectadores para um jogo pelas emoções e conflitos familiares. Remake do longa-metragem sul-coreano Siworae, escrito por Ji-na Yeo e Eun-Jeong Kim, essa fita norte-americana dirigida pelo cineasta argentino Alejandro Agresti flerta com a fantasia para mostrar a realidade de muitos corações a espera de um grande amor.


Na trama, conhecemos Alex (Keanu Reeves) um arquiteto solitário que tempos atrás teve problemas sérios com o pai, o famoso arquiteto Simon (Christopher Plummer), e acaba voltando para a cidade onde nasceu buscando uma reaproximação com a família. Paralelo a isso também conhecemos a médica Kate (Sandra Bullock), uma mulher também solitária que sofre com as perdas em seu intenso trabalho. Esses dois personagens, Alex e Kate viveram em tempo diferentes na mesma casa num lago e surpreendentemente começam a trocar cartas mesmo não estando no mesmo ano.


A confusão na linha temporal, e todos os absurdos que a compõe, não estraga uma experiência que aborda conflitos emocionais aos montes. O primeiro ponto é a solidão como um alicerce de personalidade importante, talvez o maior dos elos que envolve os protagonistas. Por esse olhar percebemos melhor os conflitos e algumas escolhas que se seguem ao longo do tempo. A melancolia é outro ponto notório, parece que o destino se torna algo sempre muito doloroso para as escolhas que fixam os protagonistas em suas vidas.  O despertar para mudanças acaba vindo do inusitado, do mágico e mesmo a forma confusa como isso é representado em forma de narrativa não atrapalhe a ponte para reflexões.


O roteiro muitas vezes nos faz pensar no que faríamos se fossemos os personagens. Quem nunca esperou um grande amor brotar bem na sua frente em algum momento da vida? Você embarcaria numa história de amor além do tempo? E se você pudesse mudar o destino? As perguntas são inúmeras e chegam como verdadeiras flechas que acoplam em nosso pensar. A sensibilidade para tratar o amor por aqui não deixa de se vincular das duras verdades que a vida pode colocar no nosso caminho.


E em falar em amor, esse sentimento contagiante, explosivo, que chega poucas vezes em nossas trajetórias é uma mola propulsora para o arriscar dos personagens envoltos também em crises familiares profundas ligadas as dores da perda. Os contornos e o desabrochar desse sentimento acaba sendo a fortaleza em meio a incongruências graves no seguimento dessa história que encontra sua lógica quando esquecemos da absurda linha temporal.  


Com um orçamento na casa dos 40 milhões de dólares e com um faturamento ultrapassando os 100 milhões em bilheterias em todo o mundo, esse reencontro entre Keanu Reeves e Sandra Bullock nas telonas (após o clássico de ação Velocidade Máxima) não deixa de ser um caso de sucesso na concorrida indústria cinematográfica.


Para quem se interessar em assistir a esse filme, a produção está disponível no catálogo da HBO Max.



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03/12/2023

Crítica do filme: 'O Vingador'


A justiça selvagem numa estrada de inconsequências. Dois anos depois de estrelar nos cinemas o primeiro filme da vitoriosa franquia Velozes e Furiosos, o ator californiano Vin Diesel chegaria aos cinemas com um filme pulsante que explora a dor da perda, a cegueira da vingança e o nebuloso universo do narcotráfico mundial, tudo isso preenchido por uma narrativa dinâmica repleta de cenas de ação. O Vingador, completa 20 anos em 2023.


Na trama, acompanhamos Sean (Vin Diesel), um agente do DEA (órgão norte-americano especializado em combate ao narcotráfico) que após meses de uma operação na fronteira entre os Estados Unidos e o México consegue enfim prender um poderoso chefão do crime organizado. Algum tempo depois, como forma de retaliação com a prisão do criminoso, um atentado acontece contra Sean e nesse momento sua esposa Stacy (Jacqueline Obradors) acaba morrendo. Partindo para uma vingança desenfreada, Sean contará com a ajuda do amigo e parceiro Hicks (Larenz Tate).


Dirigido por F. Gary Gray, O Vingador explora o temido universo dos cartéis de drogas e os limites de um protagonista que perde completamente seu rumo, consumido por uma vingança sem limites. Lançado em abril de 2003 nos Estados Unidos, chegando ao Brasil somente em agosto daquele ano, o projeto consegue fixar um olhar eficiente para as pessoas que estão ao redor do protagonista. O melhor exemplo disso é o melhor amigo e seus conflitos quando percebe que o descontrole toma conta.


Outro ponto interessante é a hipocrisia de um homem da lei querer fazer justiça com as próprias mãos. Estabelecendo a sua própria justiça como verdade absoluta, o protagonista opta pelo abandono da ética trazendo paralelos importantes para reflexões. O comportamento humano aqui se tornam mais um personagem que é incorporado na narrativa.


Muito mais que um filme de ação, a narrativa por aqui explora o transbordar de sentimentos conflitantes transformando o filme em um forte drama. Acompanhamos tudo sob o ponto de vista de um homem da lei que começa a enxergar a estrada na sua frente de forma embaçada, consumido pela vingança, por se sentir culpado pelo ocorrido com a esposa. Essa jornada pelo mundo da inconsequência faz o espectador refletir a todo instante sobre os limites do ser humano.


Carregado por uma impecável trilha sonora (com direito a uma canção de Seal nos créditos finais), o longa-metragem não fez tanto sucesso no Brasil na época de seu lançamento mas pode ser que com o tempo ele ganhe novos olhares. Se você quiser conferir, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



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02/12/2023

Crítica do filme: 'Questão de Honra'


Os deslizes da moral. 31 anos atrás chegava aos cinemas de todo o planeta um projeto que mostraria uma intensa batalha jurídica militar que gira em torno de condutas duvidosas em uma ação que resultou em morte. Caminhando nas estradas turbulentas do mundo militar, o longa-metragem dirigido por Rob Reiner, com roteiro baseado em uma peça teatral chamada A Few Good Men, escrita por Aaron Sorkin, possui uma narrativa repleta de detalhes que geram reflexões sobre os pontos de vistas que reúnem os conjuntos de valores que se chegam no certo ou errado em uma questão. Indicado para quatro Oscars, incluindo Melhor Filme, Questão de Honra não poderia ter um título mais certeiro.


Na trama, conhecemos Daniel Kaffee (Tom Cruise), um jovem tenente e advogado da marinha, formado em Harvard, sem muita experiência em casos de homicídios. Com menos de um ano no cargo é designado para um caso cheio de variáveis suspeitas, um cabo e um soldado acusados de assassinato de um outro militar que iria denunciar uma prática ilegal onde eles serviam como fuzileiros navais, em Guantánamo, a base militar norte-americana em solo cubano. Contando com a ajuda do assistente jurídico do caso, Sam (Kevin Pollak) e principalmente da tenente da corregedoria militar Joanne Galloway (Demi Moore), Daniel precisará descobrir o que esconde o responsável pela base militar, o enigmático coronel Nathan R. Jessep (Jack Nicholson) um condecorado militar que está prestes a assumir um alto cargo no conselho de segurança nacional.


A honra, o que seria? Um dos pontos principais dessa obra é conseguir destrinchar para os espectadores o universo sempre complicado de entender sobre o mundo militar. Partindo do tal ‘Código Vermelho’, algo como uma punição para o militar que não vem cumprindo com total eficiência seu ‘dever’, chegamos em temas como o machismo, o autoritarismo, além de uma ampla reflexão sobre a reunião de valores que determinam o que seria o certo ou o errado em determinada situação. Isso tudo é revelado em uma batalha jurídica (dentro das regras do tribunal militar) onde a sociedade reflete sobre inúmeras questões na visão do protagonista, um homem em dúvida sobre o caminho que percorre na linha tênue entre o que entende como direito dentro da lógica militar.


O filme foi baseado na peça teatral A Few Good Men escrita pelo hoje conhecido Aaron Sorkin. Contratado para transformar o teatro em cinema, esse foi o seu primeiro roteiro escrito para um longa-metragem. Essa peça que viraria um enorme sucesso foi escrita nos tempos em que ele era bartender de shows na Broadway, ele usava guardanapos, entre uma folga e outra, para ir escrevendo as cenas. A peça foi baseada em relatos de um fato que aconteceu na vida real na Baía de Guantánamo, exatamente um ‘Código Vermelho’ com um sumiço de um corpo que nesse caso não teve solução até hoje.


O elenco é fabuloso. Além de Cruise, Moore e Nicholson, outros grandes artistas dão suas contribuições em cena: Cuba Gooding Jr, Kevin Bacon, Kiefer Sutherland, Kevin Pollak.  Uma curiosidade é que Jack Nicholson recebeu cerca de 5 Milhões de dólares por apenas 10 dias de trabalho, inclusive sendo indicado ao Oscar pelo papel. Demi Moore recebeu nem a metade desse valor, sendo sua personagem uma figura muito presente em todo o filme.


Com uma longa carreira como ator e como diretor dentro do cenário hollywoodiano, o nova iorquino Rob Reiner, diretor também dos ótimos Conta Comigo e Louca Obsessão, consegue com grande maestria nos transportar para dentro de muitas questões passando pelo tabuleiro de forças de leis militares chegando até os reflexos disso para a sociedade.



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Crítica do filme: 'Tango & Cash - Os Vingadores'


Quando há a ação sem pretensões mas com um importante refletir. Indicado ao Framboesa de Ouro em três categorias, de forma injusta, o longa-metragem de ação Tango & Cash - Os Vingadores reuniu no final da década de 80 dois dos maiores astros desse gênero pulsante nas bilheterias, Sylvester Stallone e Kurt Russell, para mostrar uma história, que mesmo de forma atabalhoada, bate na tecla da corrupção em alta escala e só por isso (e não só isso) já é um caminho interessante para gerar reflexão em uma sociedade em projeção planetária que sofre com esse mal. De forma honesta e longe da pretensão de outros filmes de ação da época, Tango & Cash - Os Vingadores é dirigido pela dupla Andrey Konchalovskiy e Albert Magnoli com roteiro assinado por Randy Feldman.


Na trama, conhecemos Tango (Sylvester Stallone) e Cash (Kurt Russell) dois brilhantes policiais porém completamente diferentes em seus métodos profissionais e bem longe de serem amigos. Ambos se tornam estrelas do departamento policial da cidade onde moram, ocupando quase sempre as capas dos jornais com grandes prisões e apreensões. Quando um grupo de poderosos do crime resolvem criar uma cilada para eles, a dupla de protagonistas precisará salvar a própria pele e provar inocência.


Com um orçamento de 55 milhões de dólares e lançado poucos dias antes do natal de 1989 nos cinemas de todo o mundo, Tango & Cash - Os Vingadores é um projeto puro suco de entretenimento que desliza na sua simplicidade mas sem deixar de abrir o campo da reflexão quando pensamos em corrupção. Definindo de forma simples em sua explosiva narrativa os heróis e os vilões, mesmo abarrotado de clichês, o longa-metragem agrada principalmente aos amantes do gênero ação. Exibido muitas vezes na Tv aberta brasileira anos atrás, o longa-metragem logo se tornou um projeto conhecido por aqui mesmo em uma época onde nem existia internet.


Duas curiosidades interessantes: o filme foi um dos primeiros blockbusters hollywoodianos a chegar com força (mesmo que de forma pirata) aos países que faziam parte da União Soviética e logo após a queda do Muro de Berlim. A segunda curiosidade é que esse projeto marca o primeiro de três trabalhos onde um personagem interpretado por Sylvester Stallone é um policial acusado de um crime que não cometeu. Na década de 90, o eterno Rocky Balboa estrelou os outros dois: O Demolidor e O Juiz.


Anos atrás rolou alguns rumores de uma possível continuação mas que só será possível se os dois protagonistas retornarem aos seus papeis. Será que ainda vai acontecer? Lembrando que muitos filmes de ação vem ganhando continuações para os próximos anos, inclusive Risco Total, protagonizado por Sylvester Stallone. Saiba mais sobre alguns desses filmes nessa matéria aqui. Se você se interessou pelo filme você pode encontrá-lo no catálogo da HBO Max.



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31/10/2023

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Crítica do filme: 'Cantando na Chuva'


Os holofotes aos anos 20, do mudo ao falado, na raiz da essência de uma Hollywood pulsante. Quando pensamos em musicais é impossível não lembrarmos, ou pelo menos não ter ouvido falar, em uma das grandes obras de uma das mais clássicas eras de Hollywood. Cantando na Chuva se veste como uma história de amor para entrar em uma contextualização glamourosa sobre uma transição complicada para artistas na iminência da extinção do cinema mudo e os novos tempos com o cinema falado. Dirigido por Stanley Donen e o próprio Gene Kelly, protagonista do filme, esse é um daqueles clássicos do cinema que você precisa conferir pelo menos uma vez na vida.


Na trama, conhecemos a trajetória do simpático Don (Gene Kelly), já no final da década de 20, antes num início meteórico como dublê, depois ao lado de Lina (Jean Hagen) formam o casal mais badalado no universo das artes, em uma Hollywood repleta de glamour. Certo dia, Don conhece a atriz Kathy (Debbie Reynolds), e logo se apaixona perdidamente, ao mesmo tempo em que o mundo do cinema passa por uma enorme transformação: os filmes mudos parariam de existir e o cinema falado ocuparia todo o espaço. Nessa transição difícil para os artistas da época, acompanhamos Don ao lado de Debbie e do amigo de longa data Cosmo (Donald O'Connor) em busca de se manterem na cena artista norte-americana.


Abrindo as cortinas dos bastidores, na visão dos artistas, de uma Hollywood na transição do cinema mudo para o falado, Cantando na Chuva e seus números musicais contagiantes, pulsantes, estrutura sua narrativa com muita simpatia e carisma através de um romance e a busca pelo estrelato para ir a fundo em uma contextualização que ficou marcada os anos 20 com a chegada do emblemático filme O Cantor de Jazz, onde os espectadores puderam pela primeira vez ouvir as vozes e logo foi percebida a importância e contribuição do som para uma obra cinematográfica. A guerra de egos nos bastidores também é mencionada, com a mídia sensacionalista sempre por perto, além das dúvidas que os mandas-chuvas dos estúdios tinham em relação à já falada transição.


Sem deixar de conseguir se conectar a essência da magia do cinema, que está em todo lugar ao longo dos prazerosos 103 minutos de projeção, e muito mais do que um inesquecível musical, Cantando na Chuva é uma declaração harmoniosa e histórica de uma mudança de paradigmas na mais impactante indústria cinematográfica no mundo.


Pra quem se interessar em assistir pela primeira vez, ou mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



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Crítica do filme: 'Rastro de Ódio'


A saga de transformação de um homem em meio a um borbulhante contexto histórico. Um dos filmes de faroeste mais lembrados da história do cinema, Rastros de Ódio, nos leva para alguns anos depois da maior guerra civil da história dos Estados Unidos, onde acompanhamos a saga de um homem amargurado pelo tempo em busca do paradeiro de sua sobrinha raptada por um grupo de indígenas. Dirigido por um dos mais lendários cineastas de Hollywood, o californiano John Ford, baseado na obra The Searchers, escrita no início da década de 50 pelo romancista norte-americano Alan Le May, Rastros de Ódio é muito mais do que um filme sobre vingança, marcou a cinematográfica mundial e fugiu de uma obviedade com um protagonista em enormes e aparentes conflitos mostrando verdades da época.


Na trama, conhecemos Ethan (John Wayne) um ex-soldado confederado (da parte que lutou pelos estados do Sul na Guerra Civil norte-americana) que visita a casa de seu irmão, no Texas, após alguns anos do término da guerra. Pouco tempo depois, a casa de seu irmão é atacada por um grupo da tribo indígena dos comanches que sequestra Debbie (Natalie Wood) a sobrinha de Ethan e mata o restante da família. Assim, ao lado do filho adotivo do irmão, Martin (Jeffrey Hunter), de quem o protagonista não conhece como sendo família por sua ascendência indígena, Ethan enfrentará diversos conflitos e obstáculos embarcando em uma jornada de longos anos atrás da sobrinha raptada.


Os conflitos emocionais de um protagonista em sua abrupta forma de se encontrar na solidão permanente, também alterando amor e ódio na relação de amizade com o sobrinho, formam a base de construções profundas de personagens amargurados pelo contexto histórico muito ligado à Guerra Civil Americana (também conhecida como Guerra da Recessão). Essa sangrenta batalha entre milícias do sul e norte dos estados unidos, com vitória da segunda região mencionada, afetou demais os estados sulistas que entraram em processo de reconstrução e reintegração aos Estados Unidos. Esse contexto histórico, muito bem explicado na trama, é uma ponta da origem do estado emocional dos personagens.


As filmagens, que ocorreram em regiões americanas com altas temperaturas, acima dos 40 graus muitas vezes, ajudam a narrativa na proximidade de um realismo constante de como eram naqueles tempos. John Ford, diretor de outros excelentes filmes, ficou marcado por esse. A violência abraçada à vingança, um elo que persegue os conflituosos momentos de uma tentativa de resgate, se torna um elemento chave para uma narrativa empolgante que marcou a história do cinema.



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Crítica do filme: 'As Pontes de Madison'


Velhos sonhos são bom sonhos, se a realização não vier, foi bom tê-los. Emocionando a todos os corações desde 1995, data de seu lançamento mundial nos cinemas, o longa-metragem dirigido por Clint Eastwood (também um dos protagonistas) As Pontes de Madison pode ser definido de muitas formas, uma delas: O encontro perfeito de duas almas solitárias mas que sentem essa tal da solidão de formas diferentes. Baseado no romance homônimo do escritor norte-americano Robert James Waller, o projeto também reflete sobre o legado que um grande amor pode deixar nas nossas vidas e também nas possibilidades de virar inspiração para tantos outros.


Na trama, dois irmãos vão saber sobre os documentos e testamento deixados por sua mãe recém falecida. Assim, a história volta para meados da década de 60, onde conhecemos a história de Francesca (Meryl Streep), uma descendente de italianos, moradora do interior de Iowa, casada, mãe de dois filhos, que um dia tem seu destino cruzado com o de Robert (Clint Eastwood), um fotógrafo que trabalha para a Revista National Geographic e está fazendo um trabalho sobre as pontes da região. Passando alguns poucos dias juntos, após a família de Francesca sair para um evento em outra cidade, Francesca e Robert viverão momentos que nunca mais irão esquecer.


Prezando por diálogos envolventes, profundos, que desabafam os segredos mais íntimos de dois personagens que se completam formidavelmente em cena, a narrativa nos leva para uma ordenação de um discurso muito bem definido, uma conflituosa e romântica história de amor, mais pela visão de Francesca. As delicadezas do amar, o afeto, o valor do momento, são captadas por imagens lindas, muito bem associadas ao fato de um dos personagens ser um fotógrafo, onde o contemplar vira uma peça nesse tabuleiro repleto de emoções. Tudo funciona com perfeição, orquestrado pela maestria de Eastwood.


Um amor que deixa legado. A reflexão daqueles momentos que viveu ao lado de Robert, chegam forte aos filhos de Francesca que passam a entender a importância das escolhas nos momentos mais difíceis. Uma das lições que o filme passa é a de que um amor verdadeiro pode e deve inspirar. Os sonhos se desfazendo, na equação de equilíbrio entre querer e poder também é visto, aqui o paralelo com a realidade é constante, já que nossos sonhos são fortalezas para nossa felicidade mesmo que muitos deles não irão se realizar. Não é toa que o filme bate forte em nossos corações, os paralelos com a realidade estão presentes, o amor, o sofrimento, os dilemas, os conflitos, são parte do cotidiano de todos nós.


Para você que gostaria de assistir, ou mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.

 


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25/09/2023

Crítica do filme: 'O Homem Ideal'


O artificial pode realmente consolidar a felicidade em algo concreto? Um flerte pode ser programado? Caminhando pelas estradas da inteligência artificial com um ar filosófico ligado ao existencialismo, o longa-metragem alemão O Homem Ideal bate na tecla de uma questão que chega em forma de pergunta: Um algoritmo projetado pode realmente fazer o outro feliz? Dirigido por Maria Schrader e indicado da Alemanha para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2022, o projeto promete gera vários linhas de reflexões através de seu rico desenrolar.


Na trama, conhecemos Alma (Maren Eggert) uma cientista e professora, em fase final de uma pesquisa de anos, que aceita ser cobaia de uma experiência inusitada: ficar por três semanas com um robô criado a partir do que seria seu homem ideal. Assim, entra em sua vida Tom (Dan Stevens), um alguém que vai revirar suas formas de pensar sobre sentimentos. Na balança, os prós e contras nos guiam por questões mundanas chegando até mesmo se o sofrer pode fazer falta.


Nessa profunda análise sobre a existência e as relações entre os humanos, vamos acompanhando sob a visão de uma protagonista que parece se sentir acomodada numa bolha repleta de limites (principalmente no campo emocional), os dilemas, conflitos, que contornam a questão sobre se o artificial pode realmente consolidar a felicidade em algo concreto. Os campos abstratos por aqui ganham interpretações das mais variadas, como se a leitura dos sentimentos traçados fossem peças chave para uma melhor reflexão. Tudo isso reunido em uma narrativa que flui de forma harmoniosa com pontos marcantes no desenvolvimento.


O Homem Ideal é aquele tipo de filme para ser debatido várias vezes numa reunião de amigos, aposto que cada um terá sua interpretação para todos os conflitos aqui encontrados. Pra quem interessar, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



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24/09/2023

Crítica do filme: 'Segredos do Passado'


Mesmo num longo tempo a verdade chega! Um homem e um peso no seu passado completamente ligado à uma tragédia que nunca mais conseguiu tirar de suas memórias. Uma cidade que parece não ter lei, onde a justiça com as próprias mãos se tornam ações reais baseadas em achismos nada profundos. Esses dois elementos, um espaço e uma pessoa, são as peças importantes de referências do longa-metragem Segredos do Passado, baseado no livro The Dry escrito pela jornalista e escritora Jane Harper e dirigido por Robert Connolly. Um suspense que prende a atenção do início ao fim.


Na trama, conhecemos Aaron (Eric Bana) um agente federal australiano que após saber da morte do melhor amigo em circunstâncias misteriosas resolve voltar para a cidadezinha onde foi criado, Kiewarra, no interior da Austrália, para ajudar a família do amigo a desvendar o crime. Só que ele não estava preparado para encontrar de frente seu passado e um outro mistério, ocorrido na sua adolescência, a morte de uma jovem, começa a encontrar suas verdades.


O lugar como personagem, a importância do destaque para o espaço. Um lugar há anos sofrendo fortemente com a seca, fato que gerou um desequilíbrio econômico em toda a comunidade, com famílias sofrendo com a falta de trabalho, de dinheiro, levando relações a conflitos intensos e distanciamentos cada vez mais recorrentes. Essa é Kiewarra, cidade fictícia criada por Jane Harper e peça fundamental no quebra-cabeça imposto sendo um pilar de justificativa, muitas vezes, para as inconsequências. As linhas do roteiro costuram muito bem a importância do lugar para a história.


Estariam o passado e o presente interligados? Como tornar uma narrativa nada entediante a partir de muitas peças fora do lugar? O principal mérito do roteiro é o de construir, entrelaçar, duas histórias ligadas a crimes misteriosos sem perder o foco na desconstrução de um protagonista acorrentado a um trauma no passado que tem a chance de enfim se libertar. A uma profunda análise em cima de Aaron, um homem em eterno conflito, que tem a chance de uma certa redenção de um fato que acabou com o relacionamento forte que tinha com o pai, que o afastou dos seus melhores amigos, o tornando uma pessoa fria completamente focada no trabalho.


Essas duas referências, o espaço (lugar) e o protagonista andam de mãos dadas dentro de uma narrativa que apresenta um ritmo intenso, que busca apresentar uma análise profunda de psicológicos corroídos pelo tempo, pelas tragédias, tendo como pano de fundo a caminhada por verdades escondidas.  

 


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Crítica do filme: 'Hank e Asha'


Para toda vida ou uma breve brisa de boas lembranças? De forma criativa e encontrando a maestria na simplicidade, o interessantíssimo Hank e Asha nos leva para o campo das hipóteses num improvável destino entre dois jovens de países e culturas diferentes que se conectam sem nunca se encontrarem. Através de vídeos individuais, debates sobre a vida, um outro olhar para o cotidiano, as experiências de um que o outro não teve que de forma leve e com enorme carisma, o longa-metragem dirigido por James E. Duff guia o espectador para inúmeras reflexões.


Na trama, conhecemos Asha (Mahira Kakkar), uma jovem indiana, estudante de cinema, que está terminando os estudos na Suíça. Certo dia, após assistir a um filme, consegue entrar em contato com o realizador do mesmo, Hank (Andrew Pastides) um jovem norte-americano que busca se encontrar profissionalmente em Nova York. Os dois começam a se falar diariamente através de vídeos e um dia resolvem marcar de se encontrar numa das cidades mais românticas do mundo, Paris. Mas será que esse encontro vai acontecer?


A magia do cinema unindo duas almas já seria algo poético, mágico. Mas a vida nos ensina que não é bem assim! Aos poucos as verdades de um e do outro vão começando a aparecer. A narrativa é super bem bolada, cheia de ritmo, pulsante como todo bom sentimento que nasce através do destino. As desilusões amorosas de outrora, casamento arranjado, as tristezas pelo não encaixe profissional onde se queria, os desabafos de duas almas solitárias que encontram no outro a possibilidade de refletir sobre as próprias experiências são itens que ajudam a contar essa história sob os dois pontos de vista.  


As perguntas que nascem dos diálogos nada instantâneos de um e outro são diversas. Talvez a mais importante: Qual o impacto dessa conexão na vida presente deles? E na futura? Essa resposta se torna a grande busca do espectador! Você não vai conseguir desgrudar dessa curiosa, romântica e criativa que fala muito sobre os novos tempos.



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01/09/2023

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Crítica do filme: 'Efeito Borboleta'


Você mudaria seu passado se pudesse? Buscando refletir sobre essa intrigante pergunta, o excelente Efeito Borboleta, um dos grandes filmes de ficção científica dos anos 2000 nos guia através de um roteiro inteligente, dinâmico, para uma curiosa trajetória de conflitos de um jovem que por uma inusitada circunstância do destino consegue voltar no tempo e reviver situações emblemáticas de sua vida. Escrito e dirigido pela dupla Eric Bress e J. Mackye Gruber, o projeto bate na tecla das incontroláveis variáveis de um olhar para a teoria do caos, percorrendo as alterações de eventos e os desdobramentos imprevisíveis. Um prato cheio pra quem curte narrativas que navegam na ficção científica e principalmente viagens no tempo.


Na trama, conhecemos Evan (Ashton Kutcher), um jovem já perto da fase adulta que ao longo de sua vida manifesta falhas de memórias sempre em momentos de alto estresse. Certo dia, por meio de diários que escrevia, consegue voltar no tempo para momentos em que nunca pensara mais encontrar. Buscando consertar determinadas situações traumáticas no passado, acaba criando novas variáveis tão ou mais complicadoras, muitas dessas que envolvem a vida de seu grande amor Kayleigh (Amy Smart).


Em um universo infinito de variáveis, em qual delas você se sente mais confortável de que é a linha correta a seguir? Essa é uma questão importante, algo que corre em paralelo as alucinantes situações que vive o protagonista. A narrativa liga o turbo na não linearidade, algo que faz com que o espectador precise ter atenção já que praticamente uma sequência influencia a outra. Essa construção é feita de maneira brilhante tendo como norte as incontroláveis variáveis de um olhar composto por linhas temporais, física e toda a problemática que gira em torno. Parece que estamos montando um quebra-cabeça onde peças novas entram e desmontam as já montadas.


O universo também incontrolável do abstrato recorte do sentimento também é uma mola propulsora da narrativa. Há espaço para a importância da amizade, dos sonhos, do amor, esse último talvez o ponto fixo e estopim de mudanças quando o protagonista se distancia do ‘eu quero’ e começa a tomar atitudes sobre ‘o que fica melhor para eles’. Algo que não deixa de ser um lopping reflexiva sobre crise existencial.


Passam-se gerações e Efeito Borboleta continua sendo pauta de conversas, indicações. É um filme que depois de assistido faz o espectador pensar sobre muitas coisas e o que talvez poderia se mudar havendo possibilidade. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video e da HBO Max.



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Crítica do filme: 'A Hora do Pesadelo'


O terror na sua mais alta escala de medo. Chegava em meados da década de 80 nos cinemas de todo o mundo um filme que marcaria para sempre o gênero terror e apresentaria ao público um dos personagens mais impactantes desse universo. Escrito e dirigido por Wes Craven, A Hora do Pesadelo navega sua narrativa na fixa ideia da personificação do medo na figura de um psicopata aterrorizante que caminha onde o sobrenatural se sobrepõe à razão.


Na trama, conhecemos um grupo de amigos adolescentes que começam a serem perturbados quando estão dormindo, durante seus sonhos (que virão logo pesadelos), por uma figura monstruosa que usa chapéu, tem o corpo dominado por queimaduras e está sempre com um suéter vermelho e verde, conhecido por Freddy Krueger (Robert Englund). Após algumas mortes, a jovem Nancy (Heather Langenkamp), completamente abalada emocionalmente, se torna a única capaz de encontrar coragem para enfrentar a terrível situação que seu destino encontra.


O roteiro busca apresentar alguns porquês importantes que são encaixados ao longo da trama, fato que deixa poucas lacunas em aberto. O antagonismo aqui chega de forma metafórica, colocando de frente o sonho contra o pesadelo e toda a representação do que seria os dois lados, assim vemos uma estrada que percorre os embates entre vítimas e psicopata. Com a certeza que mortes em pesadelos se tornam reais enxergamos outro elemento que a narrativa aproveita, o sobrenatural se sobrepondo à razão e os conflitos que se seguem a partir disso.


Mas não há como não refletir sobre essa obra sem buscar com uma lupa um olhar minucioso sobre o medo, essa variável incontrolável da emoções humanas. Aterrorizante, com cenas angustiantes, pessoas engulidas por camas, as incertezas do sonhar e a realidade, para simbolizar o medo, o roteiro de Craven investe suas fichas em uma figura grotesca, cruel, com próteses afiadas nos dedos que reúne simbolismo de um verdadeiro pesadelo. Craven teve a ideia para o filme a partir de uma série de artigos de um jornal norte-americano sobre um grupo de refugiados asiáticos que morreram em meio a pesadelos, um fenômeno que ficou conhecido como Síndrome da Morte Asiática.


A Hora do Pesadelo é repleto de curiosidades. Demi Moore e Courteney Cox fizeram testes para serem a protagonista. Já Brad Pitt, Nicolas Cage e John Cusack para o papel de Glen (um dos jovens perseguidos por Freddy). As filmagens aconteceram na Califórnia, duraram um mês, com um orçamento de menos de dois milhões de dólares, o projeto arrecadou mais de 25 milhões somente em bilheteria por todo o planeta. Esse projeto marca a estreia de Johnny Depp nos cinemas.


Para quem quer ver ou rever, o filme está disponível no catálogo da HBO Max.



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23/08/2023

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Crítica do filme: 'Os Imperdoáveis' - *Revisão*


Uma lenda, é uma lenda! Dirigido por Clint Eastwood e com roteiro assinado pelo craque David Webb Peoples (que também assinou roteiros adaptados dos aclamados Blade Runner e Os 12 Macacos), Os Imperdoáveis nos leva de volta ao século XIX, na época do velho oeste norte-americano onde a violência rolava solta e o machismo era uma marca. Assim, vamos conhecendo uma história de vingança pelos olhos de um homem em eterno conflito com seus atos no passado. Vencedor do Oscar de Melhor Filme no ano de 1993 (além de vencer em Melhor Edição, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Direção), esse é um dos mais aclamados filmes de faroeste da história do cinema.


Na trama, que é ambientada no estado norte-americano de Wyoming no ano de 1880, conhecemos um grupo de prostitutas de uma pequena cidade comandada pelo xerife Little Bill (Gene Hackman) que se revoltam quando uma delas sofre uma enorme violência tendo o corpo todo marcado por um cliente. Não satisfeitas pela punição dada aos agressores, resolvem juntar a quantia de mil dólares e oferecer a pistoleiros em troca de darem um fim em quem cometeu esse ato violento. A notícia chega até o antigo pistoleiro William Munny (Clint Eastwood), um homem que por mais de uma década largou a bebida e não queria mais saber da antiga profissão mas acaba embarcando nessa história ao lado do inexperiente Schofield Kid (Jaimz Woolvett) e seu eterno braço direito Ned Logan (Morgan Freeman).


Ambientado já no final do período como Velho Oeste Americano e pouco tempo depois da Guerra Civil Americana, o filme mostra os detalhes de terras quase sem leis, dominadas por pistoleiros que se autodenominavam homens da lei. A visão dessas histórias, que iludiam os jovens na época, ganha espaço na ótica de Schofield Kid, que na sua tentativa de ser pistoleiro conhecido muda sua rota quando acompanha de perto a violência que reina no epicentro dos conflitos.


Todo filmado em Calgary, no Canadá, Os Imperdoáveis navega pela ótica de um protagonista em eterno conflito que após viver toda uma vida perto da violência, se casa e muda sua maneira de enxergar o mundo em que vivia, criando uma família e vivendo longe da ação desenfreada e das incertezas. Mas será que essa mudança tinha um prazo de validade? Essa pergunta vai acompanhando toda a narrativa, que busca seu dinamismo nas ações e consequências ligadas à um antagonismo evidente mas longe de entrar em dilemas de heróis e bandidos já que o anti-herói é muito bem definido.


Os Imperdoáveis está disponível no catálogo da HBO Max. Um filme inesquecível para os amantes do faroeste!



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