25/09/2013

Crítica do filme: 'R.I.P.D. - Agentes do Além'

Repleto de efeitos especiais e subtramas de outro planeta, o novo trabalho do cineasta alemão Robert Schwentke (Te Amarei para Sempre) é uma mistura descarada de MIB (1997) e Os Caça-Fantasmas (1984). A movimentação de câmera e as manobras para capturar o melhor das sequências de ação se tornam um dos destaques do filme. O público se sente dentro de um videogame com um joystick nas mãos mas isso não é o suficiente para o espectador sair satisfeito da sala de exibição.

Na trama, acompanhamos um policial chamado Nick (Ryan Reynolds) que se meteu em uma confuão e acabara morto por seu melhor amigo Hayes (Kevin Bacon). Após o óbito, em uma espécie de rito de passagem, acaba indo para um limbo onde é interrogado e designado ao RIPD, os agentes do além. Assim, Nick ganha um antológio parceiro texano chamado Roy (Jeff Bridges) e ambos precisam manter a paz na terra dos vivos. Exatamente como Will Smith (Antes da Terra) e Tommy Lee Jones (A Família) fizeram na trilogia MIB.

O elenco tinha tudo para dar certo mas acaba se perdendo em histórias mal projetadas para seus respectivos personagens. Sempre bom conferir as ótimas atuações de Mary-Louise Parker (Red 2), simpática e muito bonita, a atriz norte-americana vai se consolidando em comédias hollywoodianas. Ryan Reynolds (Turbo) tem uma de suas piores atuações na carreira, esqueceu qualquer pingo de emoção no camarim. Jeff Bridges (Bravura Indômita), ao melhor estilo Oswaldo Montenegro, e seu sotaque de delegado texano de décadas passadas tenta passar algum tipo de humor à trama só que acaba embarcando em uma jangada rumo ao nada com piadinhas exclusivamente norte americanas.  

Os diálogos tentam ser interessantes e se sustentar no carisma do único ganhador do Oscar que faz parte do elenco (Bridges). A trama como um todo deixa muito a desejar. Na tentativa de um filme de ação tragicômico o resultado foi o velho e famoso clichê. Entre carros quebrados, cenários destruídos e muitos efeitos especiais faltou dar uma caprichada na alma de todo e qualquer filme, a história.


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24/09/2013

Crítica do filme: 'Kick-Ass 2'

Repleto de cenas de ação, muita violência e diálogos hilários voltam as telonas os super-heróis que mais falam palavrão no mundo do cinema. Dessa vez dirigidos pelo pouco conhecido cineasta norte americano Jeff Wadlow (Quebrando Regras), Kick- Ass (Aaron Taylor-Johnson) e companhia enfrentam novos desafios quando precisam enfrentar a normalidade do cotidiano estudantil. Uma das boas sacadas do filme foi dividir o protagonismo. Desta vez, Hit Girl (Chloë Grace Moretz) tem um grande destaque, aparece mais velha e enfrentando conflitos pessoais para seguir em frente na carreira de super heroína.

A guerra contra o crime continua mas o dia a dia na escola também. Com a morte de Big Daddy (Nicolas Cage ) no primeiro filme, Hit Girl passa a ser educada pelo detetive Marcus Williams (Morris Chestnut) e precisa cumprir certas regras básicas nunca antes obedecidas. Assim, aos poucos, resolve não enfrentar mais o crime pelas ruas. Sem ninguém a quem recorrer, Kick-Ass  se junta a uma nova leva de heróis mascarados independentes, liderados pelo Coronel Estrelas (Jim Carrey). Como o primeiro grande desafio, eles terão que lidar com o  Motherfucker (Christopher Mintz-Plasse) - que forma a sua liga do mal e coloca em prática um plano fazer Kick-Ass e Hit Girl pagarem pelo que eles fizeram com seu pai.

Os embates dos personagens principais, Kick-Ass e Hit Girl , agora em relação a vida sem os uniformes de trabalho, é o grande foco do filme - baseado nos quadrinhos da dupla John Romita Jr e Mark Millar. Enquanto o primeiro se vê preso em uma crise por não querer enfrentar sozinho os vilões da cidade, a segunda passa por uma fase que seria fácil para qualquer menina normal de sua idade mas não para ela, pois, agora tem que enfrentar outros tipos de vilões, na escola.

Como todo boa história de super-herói precisa de um bom vilão, volta junto com a turma dos bonzinhos, o excelente personagem Red Mist que agora se transformou no terrível vilão Motherfucker. Os confrontos entre a legião do mal e a legião do bem são impactantes e cada uma das sequências são muito bem dirigidas por Wadlow que substitui Matthew Vaughn (X-Men: Primeira Classe) na direção. O diretor do original, volta apenas como produtor, pois estava ocupado desenvolvendo a sequência de X-Men: Primeira Classe.

Jim Carrey faz uma participação mais do que especial na pele do Coronel Estrelas, consegue se comportar de suas conhecidas expressões que passam do limite do engraçado e faz um esforço para não ofuscar  os outros personagens. Por essa e outras Kick-Ass 2 consegue o mais difícil, ser melhor que o primeiro filme. O longa é um prato cheio para quem curte ótimos diálogos e filmes de super-heróis. Bravo!


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15/09/2013

Crítica do filme: 'Cabaré Biblioteca Pascoal'

E vem da Hungria – possivelmente – o filme mais esquisito do ano, Cabaré Biblicoteca Pascoal. Estranho em muitos sentidos, o trabalho do diretor Szabolcs Hajdu não é uma experiência fácil de entender, se o cinéfilo conseguir envolver-se emocionalmente a uma das inúmeras subtramas que compõe o trabalho, sairá da sala de exibição com a sensação gostosa de ter sido cobaia de uma experiência única dentro da sala de cinema.

Ao longo dos 111 minutos de muitas metáforas e sonhos, somos guiados para a história por uma cigana chamada Mona (Orsolya Török-Illyés) que vive nas ruas da Hungria ganhando a vida como artista. Logo do início da trama, ela vai precisar convencer um assistente social de que pode ser uma mãe responsável e assim recuperar a guarda de sua filha. Para isso, a bela persoagem irá contar histórias fantásticas que ultrapassam as fronteiras da realidade, construindo um mundo de sonhos e ilusões para tentar amenizar a dor que sofreu ao longo do tempo. Assim, começa a viagem do espectador.

A grande discussão gira em torno do roteiro. Uns acharão um trabalho terrível, outros gostarão. A narrativa é um pouco confusa e a não linearidade do filme se perde em alguns momentos pois não ficam muito nítidos os desfechos dos personagens nos retornos temporais. Mesmo com essa confusão que o espectador pode ser testemuha, não deixa de ser um roteiro corajoso, com a cara de David Lynch e lembranças do eterno clássico de Tim Burton Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias.

A romena Orsolya Török-Illyés simplesmente dá um show na pele da protagonista. Maluquices  do roteiro à parte, a desconhecida atriz europeia constrói e desconstrói sua personagem de maneira brilhante. Somos envolvidos em diversas histórias que se dividem de maneira segura na ótica de sua personagem. Criamos um laço profundo, quase poético com Mona – a protagonista. Sofremos juntos e torcemos para um final feliz em seu desfecho.


Muitas vezes dentro de uma sala de cinema, somos alvo da experiência de mentes criativas. Esse filme húngaro não é uma exceção neste quesito. Você pode até não gostar do resultado mas a história possui elementos criativos que fazem a gente voar e voar através dos sonhos, da nossa poltrona até a metáfora mais próxima. Que beleza maior existe senão sonharmos com as histórias que nos são apresentadas? Não deixe de conferir este trabalho único.
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Crítica do filme: 'Eu, Anna'

Baseado no best seller internacional de Elsa Lewin, chegou aos cinemas na última sexta-feira (13) o thriller Eu, Anna. Nesse primeiro longa metragem do diretor britânico Barnaby Southcombe somos jogados em uma trama misteriosa onde o jovem cineasta tenta criar elementos surpreendentes a todo instante o que acaba provocando uma lentidão exagerada na narrativa cinematográfica. O ponto positivo fica para a atuação impecável da experiente britânica Charlotte Rampling (Melancolia).

Durante os 93 minutos de fita frequentamos a vida misteriosa de Anna Welles (Rampling)que após passar por um doloroso divórcio se envolve com o desiludido inspetor chefe Bernie Reid (Gabriel Byrne) que investiga um caso de assassinato. Aos poucos vamos descobrindo os segredos desta mulher de meia idade que possui um relacionamento conturbado com sua própria mente, além de estar ligada a uma série de acontecimentos estranhos que ocorreram na cidade nos últimos dias.

Como todo filme de suspense, a trilha sonora tem papel importante. Só que neste caso, é mais um elemento que atrapalha a interação com o público. A narrativa lenta e o complexo quebra cabeça que é instaurado deixam o espectador confuso.  Em muitas sequências no decorrer a trama, o diretor apresenta diversos detalhes que ao desfecho do filme vemos não serem tão importantes assim. Será que houve um problema de adaptação? Pode ser, a questão é que não convence como cinema.

A veterana das telonas Charlote Rampling é a grande estrela do projeto. Constrói sua personagem de maneira retilínea, sem brilho e com ar confuso, deixando ao longo dos minutos o desespero e o ar do suspense ser desmascarado pelo espectador. No final do trabalho há uma certa confusão saudável, não sabemos definir se sentimos pena ou ódio da protagonista. Todas as subtramas passam por Anna Welles e seria muito fácil se perder na personagem. mas não com tamanha competência da artista britânica.

Pode ser que os amantes de thrillers curtam esse trabalho. Clima de mistério, tensão e surpresas são ingredientes do projeto mas o cinéfilo pode sair da sala de cinema com a leve sensação de que faltou alguma coisa, ou, que todos esses elementos misturados foram mal dosados, exagerados.  



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12/09/2013

Crítica do filme: 'Elysium'

Rodado no México e no Canadá, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (20) o mais novo trabalho da dupla de brasileiros Alice Braga e Wagner Moura, Elysium.  Muito bem contextualizado e tendendo mais ao lado da ação do que o da conscientização, o diretor do excelente Distrito 9, Neill Blomkamp, tenta criar um universo sci-fi com muitas referências a nossa sociedade de hoje deixando a desejar apenas em seu roteiro tremendamente superficial.

A ficção científica comandada por Blomkamp é ambientada em um futuro próximo onde os humanos se dividem em dois lares: a terra que conhecemos hoje - onde ficam os mais pobres - e Elysium, uma espécie de estação espacial onde moram os ricos que não morrem e se curam de todas as doenças. O eterno Jason Bourne, Matt Damon (Compramos um Zoólogico), vive Max da Costa um famoso ladrão de carros que após um acidente na fábrica em que trabalha, ganha uma armadura (impossível não fazer uma analogia à Robocop) e vai em busca de sua cura e a da humanidade.

O enredo é mais simples que o último trabalho de Blomkamp, Distrito 9. Não possui complexidades e nem de longe é um filme difícil de se entender. Nos primeiros minutos, a impressão que passa é a de que vamos conferir um dos grandes lançamentos do ano. Pena que essa sensação dura apenas 15 minutos, no máximo. O filme acaba se perdendo em sua simplicidade e o lado ‘cinema pipoca’ acaba dominando a maioria das cenas.

O elenco é um dos pontos altos do filme. O ator que faz o enigmático personagem Kruger - Sharlto Copley (Distrito 9) – rouba a cena em algumas sequências utilizando muito improviso em seu personagem – que é um dos vilões da história. Alice Braga interpreta a sofrida Frey, uma espécie de par romântico do personagem principal. O trabalho da veterana das telonas deixa a desejar e se parece muito com sua personagem no filme Eu sou a Lenda.

Wagner Moura mostra mais uma vez uma maturidade gigante em um importante papel na trama, Spider, um contrabandista que ajuda o protagonista a encontrar seu destino. Para alguns vilão, para outros um dos mocinhos da trama, Moura consegue mostrar ao público toda sua versatilidade como ator agora falando inglês fluente. Com toda certeza, após mais esse belo trabalho, as portas vão continuar abertas para o ator baiano no mercado internacional.

Mesmo com um clima de ação e aventura que empolga o público em algumas cenas, Elysium não consegue se aprofundar no que pretendia, deixando um bom argumento sem grandes desenvolvimentos, afogando-se a cada segundo em intensas cenas de tiros e explosões.


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Alice Braga e Wagner Moura falam sobre o sci-fi Elysium

Em 2011, o diretor sul-africano Neill Blomkamp (Distrito 9) assistiu ao filme Tropa de Elite e ficou entusiasmado com o personagem Capitão Nascimento, interpretado pelo ator brasileiro Wagner Moura (A Busca). Assim, logo após assistir ao trabalho de José Padilha (Robocop), pegou o telefone e ligou para os agentes de Moura nos Estados Unidos o convidando para seu novo projeto – que chega aos nossos cinemas no dia 20 de setembro – Elysium. Para falar sobre o projeto, a imprensa carioca foi convocada para conversar com os atores Wagner Moura e Alice Braga em um hotel na orla carioca. O Núcleo do Cinema teve acesso e bateu um papo descontraído com os artistas brasileiros.

Elysium, Tropa de Elite e Distrito 9 são filmes populares e com conteúdo político. Nesse novo trabalho do diretor de Distrito 9, abre-se argumentações para imigração, segurança pública, saúde e desigualdade social inserido em um contexto de um filme pipoca. “Cada vez mais eu fico interessado em fazer parte de projetos que gerem discussões. Ninguém vai sair fazendo tratados sociológicos mas vão gerar discussões importantes sobre questões importantes. Elysium é muito mais um filme que reflete o mundo de hoje do que uma previsão futurística. É mais fácil você fazer um filme cabeçudo para pouca gente e um filme bobo para muita gente. Neil Blomkamp consegue ter um equilíbrio entre diversão e conscientização”, diz Moura logo no início da conversa.

O convite para a atriz Alice Braga foi sugerido pelo próprio Wagner Moura ao diretor do filme. “Eu estava em Nova Iorque quando vi o Distrito 9. Eu adorei. Quando soube da chance de fazer parte do projeto, batalhei, fiz o teste, e me reuni com ele. No final, deu tudo certo. Estou super feliz de fazer parte de um projeto como esse, com um diretor tão talentoso da nossa geração. Foi uma experiência gratificante”, disse Alice.

Um dos trunfos do diretor sul-africano de 34 anos é optar por atores de outras partes do mundo, não só utilizar atores que já caíram no gosto do público, por trazer visões diferentes, sentimentos novos em relação ao tema que seu filme aborda. Em relação a isso, Alice Braga mostra sua visão sobre a personagem que interpreta, Frey: “Minha personagem representa muitas jovens mulheres de comunidades no Brasil e no mundo que precisam amadurecer mais rápido, por ser uma mãe mais jovem e mesmo assim não desiste dos seus sonhos não tem auto piedade”, disse Alice.

O filme conta também com a participação do ator sul-africano Sharlto Copley (Distrito 9) – um dos destaques do longa – que já trabalhou com o Blomkamp em Distrito 9 e atualmente está rodando a aguardada comédia sci-fi Chappie que será lançado em 2015. Sobre o talentoso e desconhecido ator, Wagner Moura foi só elogios: “Ele é muito talentoso e excelente com improvisos, faz do seu personagem um homem muito enérgico. Esse é um cara que eu tenho mantido muito contato”.

Wagner Moura consegue brilhar no filme muito pela liberdade que lhe foi concedida para criar em cima do roteiro escrito pelo diretor. Assim, as comparações do personagem Spider (Moura) com o célebre Capitão Nascimento (Moura) foram levadas com muito bom humor pelo artista baiano que se consolida, ano após ano, como um dos grandes atores de nosso cinema. “Eu nunca mais vou poder falar no rádio que as pessoas vão associar ao Nascimento (risos)”, desabafa aos risos o ator brasileiro.

Em uma das curiosidades que aconteceram durante as filmagens, Wagner Moura contou uma situação cômica com o ator Matt Damon: “Eu sugeri que o meu personagem fosse brasileiro já que ele não tinha uma nacionalidade definida no roteiro. Assim, pensei vou colocar uma bandeira do Brasil no braço aí o Matt Damon olhou assim de longe e me perguntou porque eu tinha um hambúrguer tatuado no braço (risos)”.

A atriz Alice Braga se prepara para rodar o faroeste argentino The Ardor, do diretor argentino Pablo Fendrik, já Wagner Moura se prepara para seu primeiro trabalho como cineasta, a cinebiografia de Carlos Marighella, adaptação do livro Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo.




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11/09/2013

Crítica do filme: 'Repare Bem'

Eleito como melhor filme estrangeiro do último Festival de Gramado, o documentário Repare Bem - oitavo trabalho como diretora da atriz mais brasileira de Portugal, Maria de Medeiros (O Xangô de Baker Street) – empurra o público para dentro de um debate inteligentes sobre  mudanças repentinas de governo forçadas, narradas pelos olhos e memórias de quem viveu assiduamente essa época terrível que atingiu governos sul-americanos em décadas passadas. De maneira delicada e muito real, a luta contra a ditadura mais uma vez é apresentada nas telonas em forma de documentário.

O ótimo trabalho de Medeiros conta a história de uma família que por meio de depoimentos vívidos relembram os duros tempos da ditadura brasileira e chilena. Assim, conhecemos a história de Eduardo Crispim, o Bacuri, militante durante a ditadura militar no Brasil. Os relatos são emocionantes e detalhistas. As histórias de terror contadas através dos abusos da polícia nos tempos da ditadura ganham contornos poderosos na voz e memória da ex-militante Denise Crispim.

Os depoimentos das duas protagonistas, mãe e filha, são de arrasar o coração. Conviveram com duas ditaduras terríveis em dois governos militares sul americanos. Imaginem uma mãe com uma filha pequena tendo que viver com agressões e situações desumanas para tentar sobreviver em meio caos e um mundo que desaba mais a cada dia. Nômades, viajaram o planeta em busca de proteção e um pouco de paz, fato que nunca as distanciou da vontade tamanha de viverem em sua verdadeira pátria, o Brasil.

O espectador precisa estar preparado e ter um coração forte, os depoimentos são intensos e comovem facilmente o público. Mesmo quem não viveu naqueles tempos de luta armada no Brasil consegue encontrar pontos de interessante para discutir assim que a sessão acabar. Principalmente nas sequências que possuem uma argumentação muito bem fundamentada pelos envolvidos com as situações de guerrilha da época.


A cada relato, o público faz um exercício saudável de tentar recriar o filme em sua cabeça, usando como mecanismos imaginativos as falas enternecedoras dos personagens. O trabalho não deixa de ser uma busca por respostas sobre o que de fato aconteceu com bacuri e tantos outros militantes brasileiros que sumiram tentando fazer do Brasil um país mais livre.
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08/09/2013

Crítica do filme: 'Esse Amor que nos Consome'

Dirigido pelo cineasta Allna Ribeiro, o drama cheio de esperança Esse Amor que nos Consome não é só um filme, é uma experiência. Talvez, por este fato, possa não ser bem recebido pelo público cinéfilo. Há uma certa falta de ritmo propositalmente inserida nas sequências que fala sobre a vida em forma de poesia. No mundo dos sonhadores encontramos os protagonistas, seus  desejos de realização são escancarados na telona e ganham grande destaque ao longo do projeto em forma de metáforas e movimentos corporais.

Na trama, acompanhamos os coreógrafos Gatto Larsen e Rubens Barbot. Companheiros de vida há mais de 40 anos. Juntos resolvem se instalar em uma grande casa abandonada no centro do Rio de Janeiro. Para alimentar seus desejos e sonhos, passam a viver e ensaiar com sua companhia de dança – formada por jovens talentos da dança que enfrentam a dificuldade da falta de patrocínio. A luta cotidiana mistura-se à luta contra mosquitos que tocam violinos em suas orelhas.

Por mais que a beleza tome conta e boa parte das sequências, algumas tramas com personagens reais ou histórias reais simplesmente não conseguem se encaixar. O roteiro, ponto básico de qualquer filme, é fundamental para isso. Nesse quesito o filme comete deslizes sérios, o uso da narrativa em marcha lenta atrapalha qualquer tentativa de interação com o público.

O homem está na cidade, assim como a cidade está no homem. Partindo deste princípio e sabendo que a coreografia – definida muito bem por Larsen -  é o primeiro esboço de uma possibilidade, cada pensamento ganha coreografia e assim vai sendo mostrado um Rio de Janeiro cheio de cores e emoção. O palco, é o centro da cidade maravilhosa, com seus habitantes e seus imensos labritintos de paredes e janelas.  


A trilha sonora dita o ritmo das belas cenas de dança ao ar livre. Clara Nunes e outros grandes cantores aparecem dando sentido aos movimentos. Quem já está acostumado a assistir espetáculos de dança consegue criar um vínculo carinhoso com o filme, quem não gosta ou não está acostumado passará minutos em constante conflito com seu relógio. 
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05/09/2013

Crítica do filme: 'Jobs'

Com muita desconfiança após seu lançamento em outros países, o aguardado longa de Joshua Michael Stern (do irritante Promessas de um Cara de Pau), Jobs, chega ao Brasil nesta sexta-feira (06). O longa aborda seus pensamentos sobre ter um diploma universitário, sua dificuldade no começo de carreira de trabalhar em equipe, sua primeira grande chance na matriz da famosa empresa de jogos Atari e todas as confusões que enfrentou ao longo do tempo com sua famosa empresa, a Apple.

Desde seu início, Jobs tem o objetivo de transformar Steve em um Deus genial. A desconstrução do personagem feita ao longo do filme é muito bem feita tornando essa grande mente vulnerável, principalmente quando olhamos para os conflitos pessoais que o mesmo enfrenta. O homem que gostava de andar descalço e que não conseguia ver um futuro sem mainframes e plataformas tinha um emocional conturbado.

O filme relata com muita coerência e aos moldes cinematográficos o perfeccionismo que Steve Jobs lapidava todos os seus revolucionários projetos. Durante a década de 70 – período de aprovação mundial do trabalho de Jobs – o futuro criador da Apple fazia o que ninguém achava que era possível. Seus discursos memoráveis sempre com uma leve cutucada no seu rival Bill Gates e na poderosa IBM ganham grande destaque ao longo da projeção. Uma das melhores cenas no filme mostra exatamente como era difícil o relacionamento entre os dois grandes gênios da informática, quando Jobs faz uma ligação polêmica à Gates para tirar satisfação sobre uma cópia de um software.

Ashton Kutcher – que para se preparar para o papel, seguiu uma dieta só de fruta, similar à dieta de Jobs. - passa no teste, convence com sua determinação e o seu controle contra eventuais exageros cênicos, principalmente na fase inicial adulta de Jobs. Suas cenas de discussões com John Sculley (interpretado pelo sumido Matthew Modine), que foi vice-presidente e presidente da PepsiCo, antes de se tornar CEO da Apple, eram recheadas de elementos que poderiam deixar o filme maçante mas o roteiro de Matt Whiteley (em seu primeiro trabalho no cinema)  adéqua perfeitamente aos moldes do cinema tornando cada cena dessas grandes destaques dentro da trama.

A trilha sonora tem papel importante dentro da história. Consegue criar uma atmosfera aos sentimentos jogados na tela e cria um grande ritmo às sequências, principalmente no início do filme. As pessoas sairão das salas de cinema com uma visão diferente sobre Steve Jobs. Haverá uma dúvida se ele é um gênio, um vilão ou os dois. Não deixe de conferir o homem que era o começo e o fim do seu próprio mundo.


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27/08/2013

Crítica do filme: 'Se Puder...Dirija!'

Para a primeira tentativa nacional de gravar em live action usando tecnologia 3D, a história escolhida não poderia ser pior. Dirigido pelo cineasta Paulo Fontenelle (Intruso), a nova comédia brasileira Se Puder... Dirija! é uma experiência terrível para quem espera uma história inteligente e longe de bobeiras – típicas nos últimos filmes do gênero feitos no Brasil. Os personagens interagem de maneira superficial, o roteiro não se encontra e logomarcas de patrocinadores recebem mais atenção que a história. Resumindo, uma experiência sonolenta.

Distribuído pela Disney e pela Buena Vista, Se Puder... Dirija! conta a história de João (Luis Fernando Guimarães) um manobrista que vive deprimido por estar longe de sua família após o divórcio. Certo dia, após reflexões em um frustrado aniversário, resolve se tornar um pai mais presente e convida seu filho Quinho para passar o dia com ele. Atrasado para esse compromisso, pega emprestado o carro de uma cliente – a médica Márcia (Bárbara Paz), e parte para uma série de imprevistos no que era para ser um dia de diversão entre pai e filho.

O principal erro do filme tem haver com o roteiro. Personagens sem objetivos circulam pela trama como se estivessem em um desfile de moda. Situações forçadas – que dificilmente iriam acontecer no mundo real – são despejadas na tela transformando o enredo em uma grande confusão que é apresentada ao espectador. O personagem principal, interpretado pelo comediante Luis Fernando Guimarães (Os Normais 2) também é um pobre coitado perdido em cena. Sem objetivo fixo, fica vagando entre as toscas sequências captadas pelas lentes do diretor.

Uma das coisas que mais incomodam é a exposição – algumas desnecessárias – de logomarcas patrocinadoras nas cenas. O protagonista trabalha como manobrista e para surpresa geral, quase todos os carros são de uma marca famosa francesa (que patrocina o filme). Isso destrói qualquer tipo de veracidade. Outro fator irritante no filme é a interação de Reynaldo Gianecchini e Lívia de Bueno, os efeitos no cabelo da personagem feminina e um charme forçado do outro personagem fazem o público ficar atônitos com tamanha bobagem.

A experiência em 3D não muda em nada a interação com público, a expectativa gerada cai por terra quando a história não é boa. A única coisa que muda realmente é que o público vai pagar mais caro na bilheteria dos cinemas. E o que não muda é que o espectador vai comprar seu ticket para ver um filme nacional e – a maioria – se arrependerá.   

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