09/10/2013

Crítica do filme: 'Salvo - Uma História de Amor e Máfia'

O que dizer de um filme que não quer dizer nada? Vencedor de alguns Festivais neste ano, o longa-metragem italiano Salvo - Uma História de Amor e Máfia gerava expectativa de todos por conta de sua sinopse insinuante e repleta de elementos que poderiam compor uma boa história. Tudo vai para água abaixo quando o roteiro, praticamente sem diálogos, deixa o filme insosso e altamente sonolento. Aquelas olhadas para o relógio são constantes transformando o que era para ser uma agradável exibição em uma terrível perda de tempo.

Durante os 104 minutos, o espectador é exposto a uma história desinteressante protagonizado por um assassino profissional chamado Salvo (Saleh Bakri), um contratado pela máfia italiana para assassinar o seu principal rival. O que ele não esperava era encontrar Rita (Sara Serraiocco), uma jovem cega por quem cria um relacionamento conflituoso, porém, cheio de carinho e afeto. Quando seu chefe – interpretado por Mario Pupella (A Siciliana Rebelde) - o confronta para saber o porquê da missão não ter sido realizada por completo, Salvo irá mudar completamente o seu destino.

Os diretores do projeto Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, ambos em seu primeiro longa-metragem na carreira, conseguem desenvolver um bom ritmo nas sequências - que por sinal são bastante violentas mostrando uma realidade absurda -  porém, perdem totalmente o foco quando o longa entra na questão dramática. A falta de diálogo atrapalha muito a condução da história e acaba influenciando nas imagens que não dizem absolutamente nada para o espectador.

Sara Serraiocco tenta se sobrepor ao marasmo desenxabido que o filme vai se demonstrando. Sua personagem Rita, cega, é uma das poucas coisas que o espectador consegue acompanhar sem impaciência. 
Demonstrando um certo mistério nas suas atitudes, começa a criar uma empatia em relação ao protagonista que no fundo não sabemos se é vilão ou mocinho – pelo menos na visão dessa curiosa personagem.

Com tanto filme bom estreando no dia 11 de outubro - Os belos dias (2013), Gravidade (2013), Lore (2012) - Salvo - Uma História de Amor e Máfia se torna uma opção nula na hora de escolher qual o seu divertimento no fim de semana. Aproveitem melhor o dia de vocês, afinal o ingresso é muito caro para perdermos nosso glorioso tempo.


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Crítica do filme: 'Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses

Com uma legião de fãs em todo mundo, fruto da globalização em massa dos animes que viraram seriados no Japão e exportados para todo o mundo, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (11) Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses. Com os dubladores originais do seriado, liderados por Wendel bezerra, de volta, o filme conta ainda com a supervisão de Akira Toryama - o grande criador da saga de Goku e companhia.

Depois da épica batalha de Majin-Boo, o universo está totalmente em desequilíbrio mas a Terra consegue manter-se em paz, sendo apenas mantido pelas ações do Deus da Criação e do Deus da Destruição. Nessa nova aventura, para proteger o nosso planeta, nossos heróis vão precisar enfrentar um inimigo ainda mais poderoso, Bilus, que desperta de um longo sono e fica curioso com a notícia de um saiyajin que derrotou fortes adversários. Assim, empolgado em encontrar um oponente tão forte depois de tanto tempo Bilus desafia Goku: ou eles se enfrentam ou a Terra é destruída.

Os fãs dos quadrinhos vão encontrar um confronto épico nas telonas, repleto de cenas de ação e conversas recheadas de sarcasmos. A técnica de animação usada é espetacular e não foge das naturalidades e dos fortes traços orientais em todas as suas interações. É um filme produzido para a toda uma geração que acompanhou Goku, vegeta, Bulma, Gohan e todos esses emblemáticos personagens oriundos dos mangás japoneses.

Para quem nunca ouviu falar ou desconhece as histórias, os personagens, os contextos, Dragon Ball Z - A Batalha dos Deuses é inteligente neste ponto. Dirigido por Masahiro Hosoda e com um roteiro de Yusuke Watanabe, o projeto faz questão de por meio de memórias dos personagens situar cada espectador para o que se desenvolve na telona. Ao longo dos 85 minutos, o público se diverte a todo o momento, virando uma ótima opção para os marmanjos nerds, a geração que acompanhou o seriado e aos papais e mamães que querem levar a garotada para se divertir no fim de semana.


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08/10/2013

Crítica do filme: 'Rota de Fuga'

Reunindo os dois maiores astros de filmes de ação das últimas décadas, o diretor Mikael Håfström – do ótimo filme suspense O Ritual – cria um universo próprio de destruições e brigas que gira em torno de um homem que passa mais tempo dentro das prisões do que fora. Lembram de Fuga de Alcatraz (1979) e um Sonho de Liberdade (1995)? Esse novo filme da dupla Sylvester Stallone (Alvo Duplo), Arnold Schwarzenegger (O Último Desafio) segue a mesma linha destes clássicos com o diferencial negativo de ser um filme totalmente pipoca que comete terríveis deslizes no seu fraco roteiro.

Em uma trama cheia de socos e pontapés conhecemos Ray Breslin (Stallone), que há oito anos entrando, testando e saindo dos presídios norte-americanos se torna uma autoridade em construções de segurança máxima. Certo dia, recebe uma proposta da CIA de testar um novo modelo de presídio, situada em um lugar desconhecido. Quando aceita testar esse presídio acaba se metendo em uma grande armadilha tendo que confiar no único amigo que faz nessa nova instalação, Emil Rottmayer (Schwarzenegger).

Sem nenhum controle mais sobre a sua vida, só a respiração, Ray Breslin - o rei das fugas - é o típico super-herói que Hollywood adora. O cara que passa por dificuldades o filme todo mas no final consegue sua redenção. Como todo herói de filme, precisa ter um vilão para combater. Jim Caviezel (Na Mira dos Assassinos) interpreta um dos vilões da trama – o temido diretor de presídio Willard Hobbes. A frieza e crueldade do personagem tenta ser passada de maneira calma e fria por Caviezel mas a tentativa de criar um vilão memorável acaba virando um psicopata desregulado que não passa verdade com seus atos.

Não podemos negar que a dupla legendária juntos em um filme é uma adrenalina nostálgica que deve alegrar a diversões fãs de filmes de ação no mundo todo. Em cena, os dois relembram sequências de outros filmes, uma grande homenagem para os fãs dos artistas. Falando em veteranos da telona, a participação especial de Sam Neill (Para Sempre) mal é notada, personagem pouco aproveitado na trama – uma pena. Para quem quiser conferir essa obra, por mera curiosidade, desligue o pensar, compre a pipoca e divirta-se. Mas há coisas melhores para fazer com seu tempo.  



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07/10/2013

Crítica do filme: 'Paraíso' (Festival do RJ - 2013)

“Amo-te sem saber como, nem quando, nem onde, amo-te simplesmente sem problemas nem orgulho: amo-te assim porque não sei amar de outra maneira.” Com essa frase do grande Pablo Neruda (que explica muito desse filme), apresentamos uma das grandes surpresas do Festival do Rio 2013. Produzido por Gael García Bernal (No), Paraíso é, antes de tudo, uma grande lição de como o amor é importante para nossas vidas. Guiados pela estética e inteligência da cineasta Mariana Chenillo, o drama mexicano possui uma grande pitada de humor que faz o público se emocionar em muitos momentos.

Na trama, acompanhamos Alfredo (Andrés Almeida) e Carmen (Daniela Rincón), um casal de classe média mexicano que está dando um passo importante e se mudando para uma nova casa onde vão morar juntos pela primeira vez. Ambos são gordinhos e isso nunca foi problema para eles. Até que certo dia, após um bullying sofrido por Carmen na festa da empresa em que trabalha Alfredo, a protagonista resolve embarcar em uma dieta com um grupo especializado e leva junto seu marido.

Os protagonistas fogem dos padrões de beleza - forçadamente colocados em quase todo os filmes por Hollywood para atrair público ano após ano em suas produções e isso é algo admirável. O desenvolvimento dos personagens é profundo e o público é contemplado com ótimas sequências. A cena de sexo – que abre o filme - entre os dois gordinhos é algo sentimental, demonstrando pureza e todo o carinho que essas duas almas possuem um pelo outro. Chega a emocionar.

O emagrecimento que afasta e faz sofrer por não estarem alinhados. Alfredo consegue se desenvolver em sua dieta – ficando viciado em aparelhos de ginásticos e abandonando de vez a quantidade de comida que fazia parte de sua lancheira de super-herói. A delicada e sensível Carmen – que usa um par de brincos de pipoca - por outro lado começa a engordar e acaba se enfiando em um buraco de tristeza, solidão e decepções. A excelente trilha sonora dita o ritmo desse carrossel de emoções.

O sonho e as desilusões são muito bem detalhados pela câmera sensível da diretora Mariana Chenillo. Conforme a história vai passando pelos nossos olhos percebemos que o paraíso não é um novo lugar, é um estado de espírito. Não percam essa história mais gostosa que torta de chocolate!


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Crítica do filme: '7 Caixas Paraguaias' (Festival do RJ - 2013)

O sonho e a violência ganham contornos surpreendentes no elogiado drama paraguaio 7 Caixas Paraguaias. Dirigido pela dupla Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori, o filme é uma grande caixinha de surpresas onde o espectador é o grande privilegiado. O longa-metragem (a maior bilheteria da história do cinema paraguaio) mostra o sonho, nos gestos e expressões do jovem protagonista que leva uma vida na pobreza, trabalhando duro todos os dias em um mercado de muambas, uma espécie de 25 de março (SP) ou Uruguaiana (RJ).

Em 7 Caixas Paraguaias somos apresentados a Víctor (Celso Franco), um carreteiro de 17 anos, que trabalha dia e noite em um famoso mercado no centro de Assunção (Paraguai) sonhando em algum dia ser famoso e aparecer nas telinhas das televisões que lotam as lojas do grande mercado. Certo dia, recebe uma proposta diferente e misteriosa, transportar 7 caixas de madeira até um lugar, cujo conteúdo ele desconhece, em troca de uma nota rasgada ao meio de 100 dólares. Assim, ao lado de sua amiga Liz (Lali Gonzalez) precisa chegar até o seu destino fugindo de todos que não querem que isso aconteça.

O drama vira suspense em questões de minutos. Somos jogados em uma história envolvente de ambição, segredos e assassinato. Com um ritmo ao melhor estilo Corra, Lola, Corra (1998), a câmera dos diretores apresenta uma realidade impressionante, sempre tremendo e captando as expressões dos personagens de maneira detalhista mesmo que alguns cortes secos mal feitos e enquadramentos esquisitos apareçam de vez em quando.

A história poderia ser ambientada no Brasil, facilmente. Não deixa de ser um filme-denúncia contra toda a corrupção e violência que acontecem nesses grandes centros urbanos de compras. O mundo mafioso do mercado é hostil, competitivo e há milhares como Victor esperando trabalho para levar as compras dos clientes em troca de uma pequena remuneração.


Os diálogos e situações inusitadas que acontecem são bem recebidos pelo público que executa gargalhadas em muitas sequências. O ritmo dinâmico, a inversão rápida entre os gêneros drama, suspense e comédia são uma ótima sacada e conquistam a todos. Dê uma chance aos nossos vizinhos, os vinte minutos finais de filme valem o ingresso. Bravo!
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Crítica do filme: 'A Grande Beleza' (Festival do RJ 2013)



Um dos diretores mais fantásticos do cinema atual Paolo Sorrentino (que dirigiu a ótima atuaçao de Sean Penn no filme Aqui é o Meu Lugar) chega novamente aos cinemas brasileiros apresentando um personagem e seu conflito. Dessa vez, criticando assiduamente a alta sociedade europeia, seus altos e baixos, coloca um recheio de exuberância, luxo, dança e glamour através do olhar do amadurecimento de um homem e seus passeios nas memórias.

Jep Gambardella – interpretado pelo excelente ator italiano Toni Servillo (A Bela que Dorme) – anda e contempla sua cidade, Roma. Sempre muito elegante, com seus ternos caros e seus sapatos de grife, o jornalista (famoso por ter escrito um best-seller) vive diariamente em festas na alta sociedade italiana. Cercado de pessoas e contatos importantes, somos testemunhas de diálogos maravilhosos, repletos de sarcasmo, sentimento e verdades proibidas. Levando sua vida entre um deboche e outro, Jep começa a repensar sua vida quando abordado insistentemente sobre suas próximas publicações.

Coreografias remexendo os quadris, quase um flashmob no melhor estilo macarena, além de um coral afinado anunciam que estamos prestes a entrar em um mundo exclusivo, onde só os poderosos possuem acesso. Conhecemos essa história pelo olhar amadurecido de seu protagonista. Somos jogados para um delicioso passeio dentro da alta sociedade italiana pelo olhar e conhecimento do grande personagem principal, que não deixa de ser um fantástico contador de histórias.

Muitos vão achar que o filme não deixa de ser um resumo de contos de um excêntrico jornalista, acomodado, que começa a ter pequenos lapsos de uma grande mudança em sua vida, oriunda de lembranças de seu primeiro amor. As reflexões e conclusões geniais do Bon Vivant moldam a história escrita por Sorrentino. A perereca soviética, as confissões de um padre quase papa, as girafas que somem, poderiam muito bem ser modelados como contos que juntos formam esse belo filme.

Aos amantes de obras de arte, A Grande Beleza permite um grande tour, exclusivo para príncipes e princesas, por dentro de corredores memoráveis lembrando muito – nestas sequências - o clássico filme do russo Aleksander Sokurov, A Arca Russa. O protagonista fascina pois conhece tudo e todos. Molda seus raciocínios através da larga experiência que possui dentro dessa burguesia dominadora em que vive.

O único defeito do filme é o fato de se prolongar muito no seus últimos atos. Diversas conclusões são repetidas deixando o longa-metragem repleto de densidade. O público quase cansa com toda essa repetição que chega aos nossos olhos em forma de realidade que beliscam as fábulas mais bem contadas. Por sorte, a direção é impecável e a história seduz, dando créditos.

O amor muda destinos, modifica vidas, são dessas escolhas que vivem um ser humano, não há como negar. Sua trajetória só tem um guia, você. Seja quais forem suas escolhas daqui para frente, uma escolha certa é assistir a essa grande história.
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Crítica do filme: 'O Último Amor de Mr. Morgan' (Festival do RJ 2013)



O quão triste é perder alguém? Escrito e dirigido pela cineasta alemã Sandra Nettelbeck – que tirou leite de cabra da atriz Ashley Judd (Invasão à Casa Branca) no excelente filme Helen (2009) - O Último Amor de Mr. Morgan é um filme, vale dizer, sensível. Quem possui qualquer tipo de relação conturbada com seu pai terá suas estruturas abaladas. O vulnerável protagonista, interpretado brilhantemente pelo britanico Michael Caine (Truque de Mestre), guia o espectador  pela força que as imaginárias lembranças de sua falecida esposa tem sobre ele. Assim, somos jogados em um mar dramática cheio de emoções a todo instante.

Na trama conhecemos Matthew Morgan (Caine) um solitário vovô que vai se sentindo cada dia mais sozinho após a perda de sua adorável esposa. O ex-professor de filosofia da prestigiada Universidade de Princeton mora em Paris e parece fazer questão de não aprender o idioma local. Sua vida muda, passando a ter algum sentido, quando conhece a professora de dança Pauline (Clémence Poésy). Pauline tem as emoções a flor da pele – o que vira intimidação no primeiro momento para Mr. Morgan – mas ele acaba aceitando a relação de pai e filho que se estabelece, até a chegada dramática de seus dois filhos levando a um desfecho para lá de emocionante.

O filme, um pouco mais forte do que um copo de água com açucar, é o retrato de muitas relações familiares. Lindas paisagens, de uma França moderna e nublada, é o cenário escolhido da complexa relação que Mr. Morgan possui com o mundo, sem sentido, em que vive. Pauline acende uma chama de esperança mas a chegada do que restou de sua família acaba ganhando contornos dramáticos, já no meio do longa-metragem, o que só faz crescer a expectativa do público sobre como acabará essa história.

O longa-metragem (baseado em uma obra de Françoise Dorner) entra em um certo limbo quando um triângulo não definido é percebido pelo espectador. Porém, suas mensagens são muito bem aceitas pelo público que interage com risadas a muitas falas do protagonista em tal situação. Na segunda parte da história, a trama ganha mais contextos quando somos apresentados a família do personagem principal, principalmente pelos olhos de seu filho mais novo Miles (Justin Kirk). A relação pai x filho fica intensa a cada sequência, e os diálogos emocionados deixam o coração apertado que, na maioria dos espectadores que e identificam, se transformam em lágrimas compulsivas.

O desfecho gera opiniões diversificadas, pois o personagem torna-se carismático aos olhos do público que torce para um final feliz. Qual o sentido de vida que o personagem busca? Qual o último amor de Mr. Morgan? As respostas podem surpreender você, afinal, poucas coisas são mais deprimentes do que cabides velhos.

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04/10/2013

Crítica do filme: 'O Capital' (Festival do Rj - 2013)

Os reflexos e as entrelinhas políticas da crise que aflora o mundo econômico há alguns anos é apresentado de maneira dura e em forma de crítica sobre a responsabilidade moral das instituições bancárias nas vidas do trabalhador no novo trabalho do cineasta grego - muito querido pelos cinéfilos - Costa-Gavras (O Corte). Com uma atuação fabulosa do ator marroquino Gad Elmaleh (A Espuma dos Dias), O Capital faz uma reflexão sobre o jogo político, injusto, infiel e de escala mundial que assombram algumas instituições financeiras.

Baseado em um romance chamado Le Capital, do escritor francês Stéphane Osmont, o filme conta a história de Marc Tourneuil (Elmaleh) um jovem executivo de carreira promissora que se torna chefe de uma grande organização financeira francesa. Roubando dos pobres para doar aos ricos, Tourneuil é um homem mesquinho e sem escrúpulos que pratica jogos de manipulação para a garantia do seu poder e enriquecimento.

A trama é muito bem desenvolvida e o espectador consegue absorver elementos para contestar a responsabilidade moral das instituições bancárias nas vidas dos habitantes de todo o mundo. Costa-Gravas – conhecido pelo tom de denúncia política em seus trabalhos - sabe como poucos dirigir e contar esse tipo de história. O filme choca pela verdade, e o pior é sabermos que esse tipo de situação ocorre no mundo real.

Os atores, sem exceção, estão excelentes nos seus fortíssimos papéis. O comediante Gad Elmaleh surpreende em um papel dramático, consegue passar ao público todo o desespero de conseguir os objetivos de seu personagem. Uma atuação digna de Oscar, desse, até então, ator de segundo escalão do cinema europeu. O veterano Gabriel Byrne (Eu, Anna) interpreta uma figura poderosa e com muita malícia, chamado Dittmar Rigule, líder de um fundo de investimentos nos Estados Unidos. Uma das melhores atuações do artista irlandês – depois de muito tempo fazendo trabalhos contestados por crítica e público.

Saber o que melhor se passa nos altos escalões de quem comanda o dinheiro do mundo é um dos ótimos motivos para assistir esse longa-metragem, afinal, como pode ser possível em um mundo como o nosso os bancos se sobreporem à democracia?


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03/10/2013

Crítica do filme: 'Joe' (Festival do RJ 2013)



Depois de fazer os cinéfilos sofrerem por mais de uma década – com personagens horrorosos e atuações pífias – Nicolas Cage volta a uma grande atuação no intrigante, nu e cru filme de David Gordon Green (Prince Avalanche), Joe. O roteiro é primoroso, assinado por Gary Hawkins baseado na obra de Larry Brown, gera reflexões da plateia e não deixa de ser uma crítica a diversas questões ambientais.

A trama é toda voltada à Joe (Cage), um típico rebelde sem causa que gota de falar olhando nos olhos e não admite mentiras. Dirigindo sua velha caminhonete azul, vestindo sua camisa da banda de rock Pantera e sempre com seu cigarrinho a tira colo, se vê envolvido com a história de um novo morador da cidade com quem cria uma relação de pai e filho. A partir dessa amizade, o passado de Joe e o presente do novo amigo misturam-se de maneira explosiva, levando o protagonista ao limite da dor e raiva. Culminando em uma vingança para lá de sangrenta.

O diálogo impactante entre pai mal educado  e filho bem educado, logo na primeira cena do filme, já demonstrava que a história – no mínimo – seria interessante. O longa-metragem de quase duas horas é extremamente violento, quae um soco no estômago, possui cenas fortes – lembram da sequência do extintor do filme Irreversível? Ou da cena do cachorro do longa Tiranossauro? Joe possui sequências tão fortes e parecidas quanto.

Costumes locais como a caça e os trabalhos de meio período para madeireiras são apresentadas ao público em forma de crítica a certos costumes locais que não são de aprovação do senso comum. O retrato da típica cidadezinha do interior dos Estados Unidos é tão fiel  que existem ate aqueles policiais que só dificultam a vida dos moradores com atitudes imorais e constrangedoras.

O personagem principal é um homem bondoso mas que não consegue abandonar sua raiva com a vida que o cerca. No começo, fica com receio de se aproximar do novo amigo – mesmo vendo a violência que o mesmo sofria. Cage vai com seu personagem até o limite, aproxima Joe ao máximo da realidade. Sem dúvidas, a melhor atuação do sobrinho do cineasta Copolla – pelo menos – dos últimos 10 anos.

O espectador interage com o filme a cada segundo: fica com raiva dos vilões, torce para que os mocinhos vençam a batalha contra o mal e ainda é surpreendido pela volta de um ganhador do Oscar ao seu verdadeiro e merecedor lugar , os aplausos dos cinéfilos. Não deixe de conferir esse excelente trabalho!


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02/10/2013

Crítica do filme: 'Austenland' (Festival do RJ 2013)

Estimado em pouco menos de 5 milhões de Dólares a comédia Austenland é o primeiro trabalho no cinema da norte-americana Jerusha Hess. O longa-metragem é um falso filme de época, estrelado pela eterna Felicity – Keri Russell (Os Escolhidos). Entre danças coreografadas, momentos de tricô e muita confusão entre realidade e confusão para quem nunca ouviu falar de Jane Austen – autora de inúmeros clássicos da literatura britânica – o filme pode ser difícil de digerir.

Na trama, conhecemos Jane Hayes (Keri Russell) uma jovem de classe média que mora nos Estados Unidos e tem uma grande obsessão por um dos livros da escritora Jane Austen, Orgulho e Preconceito. Após discutir sobre os rumos de sua vida com uma grande amiga, junta uma grande quantia de dinheiro e resolve embarcar em uma viaja para um parque temático da Jane Austen em busca de seu perfeito cavalheiro.

Austenland apresenta muitas referências à primeira adaptação do clássico livro de Jane Austen Orgulho e Preconceito (1995) que contou no elenco com o ator britânico, ganhador do Oscar, Colin Firth (Um Golpe Perfeito).  No animado jogo de cenas de época, o mundo do fanatismo toma conta da história levando o público a uma viagem confusa entre encenações e realidade, aos olhos da personagem principal.

A atriz coadjuvante Jennifer Coolidge (American Pie: O Reencontro) consegue desenvolver muito bem seu personagem e se torna o grande destaque do filme. Já a protagonista, não tem força nem carisma para sustentar as cenas de emoção que a história pedia. Mais um fraco trabalho da californiana Keri Russell que insiste em interpretar todos os seus personagens iguais.

As locações belíssimas são muito bem aproveitadas pela lente de Hess, porém, se torna um pequeno destaque em torno da grande chatice que se torna o filme como um todo. O espectador olha para o relógio o tempo todo torcendo para que aquela história mal desenvolvida termine o mais breve possível. O filme não lotará salas de cinema mas – no máximo - pode fazer com que o público conheça melhor o mundo da mulher que marcou seu nome na literatura mundial.


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Crítica do filme: 'The Canyons' (Festival do RJ 2013)

O aguardado e polêmico filme do homenageado deste ano do Festival do Rio Paul Schrader (O Acompanhante) - roteirista do clássico filme de Martin Scorsese, Touro Indomável –  é uma grande discussão sobre relacionamentos, poder e uma necessidade quase obsessiva de falar sobre sexualidade, sendo essa, abordada de diversas maneiras ao longo dos 99 minutos do longa. Nem de longe é o melhor que Schrader poderia fazer atrás das câmeras, o filme deixa muito a desejar.

No filme de baixo orçamento bancado em parte via crowdfunding, somos apresentados ao protagonista Christian – interpretado pelo famoso ator pornô James Deen - que comanda a jornada de jovens de vinte e poucos anos em busca de poder, amor, sexo e status na capital mundial do cinema, Hollywood. Christian adora utilizar seu status nos filmes que produz e envolve sua namorada, Tara (Lindsay Lohan), que já foi uma modelo de renome, para essa vida tumultuada cheia de jogos mentais  que se transformam em uma espécie de vingança.

A trama foca o tempo todo na ambição e obsessão por sexo numa faixa etária jovem. A forma como é abordada essas atitudes intempestivas e inconseqüentes na história chegam ao público de maneira superficial e com pouco desenvolvimento. O roteiro do californiano Bret Easton Ellis (autor do livro que baseou o filme Psicopata Americano) não consegue ter a profundidade nem a maturidade de apresentar esses elementos de maneira convincente, culpa em parte da péssima atuação de todo o elenco.

Algumas curiosidades compõem essa obra. A participação especial do diretor Gus Van Sant (Terra Prometida) como ator, o protagonista ser um ator pornô muito famoso e  não se sabe se por duvidar do profissionalismo de sua protagonista ou apenas por precaução a atriz Leslie Coutterand ficou como substituta de Lindsay Lohan (Todo Mundo em Pânico 5) durante todo o período das gravações, para que se algo acontecesse e Lindsay saísse do projeto, ou fosse demitida, pudesse ser rapidamente substituída.


O filme dificilmente chegará aos cinemas brasileiros, devendo trilhar o caminho dos que não conseguem fazer brilhar os olhos dos distribuidores. A trama tinha potencial, a premissa é boa. O não desenvolvimento da história e dos personagens, transformam esse trabalho em uma frustração sonolenta.  
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