17/10/2013

Crítica do filme: `Meu Passado me Condena`


O que fazer quando seu passado te condena? Dirigido pela estreante Julia Rezende e produzido por Mariza Leão, chega aos cinemas na próxima sexta-feira (25) a nova comédia nacional Meu Passado me Condena. Estrelado pelo ator Fabio Porchat (O Concurso) e pela atriz Miá Mello (Cilada.com) o longa-metragem é um filme feito para não se pensar. Os clichês e as historinhas para criar climas de romances e coincidências são exagerados, algumas atuações são terríveis e o público fica refém de um filme para norte-americano ver.

Nessa nova comédia de nosso cinema, conhecemos um hipocondríaco, pão duro,  animador de festas que após um mês de namoro se casa com uma jornalista econômica que gosta de Truffaut. Um encontro entre dois mundos desenvolvido de maneira cômica e sem limites principalmente após a lua de mel ser marcada em um cruzeiro - um lugar onde muitas referências do passado dessa dupla irão aparecer.

Adotando os próprios nomes de seus intérpretes, o roteiro tende às produções Hollywoodianas. As licenças poéticas são adotadas com certo exagero muito visto em terríveis comédias norte-americanas: um encontro entre dois casais que tem um passado em comum, a mistura dos estereótipos, e os falsos vilões em forma de trambiqueiros são alguns desses exemplos.

O filme funciona como cinema até certo momento. O ponto positivo vai para um pequeno detalhe sobre o ciúmes provocado pelas redes sociais – realmente um assunto bastante atual –  que são inseridos no roteiro dando um ar de atualidade e mesclado muito bem com as confusões que vemos na telona.Porém, é muita coisa ruim em meio a uma coisa boa.

A história se perde do meio para frente. O projeto funcionaria bem melhor se fosse um curta-metragem ou média-metragem. Como série de televisão funcionará muito mais do que como cinema.  O comediante Fábio Porchat – conhecido pelos seus Stand Up Comedy – tem bons momentos  mas assim como todo o elenco vai muito mal quando a trama entra no drama dos personagens.

Com uma série já encomendada para essa história - com um famoso canal de entretenimento da televisão a cabo - o espectador se sente assistindo a um piloto, o segundo episódio e ao terceiro de uma nova série de televisão. Esperamos que tais produtores, realizadores, diretores, roteiristas não se acostumem a criar a Brazilwood, somos muito mais criativos e não precisamos imitar nenhuma fórmula da terra do Tio Sam para conseguir público.

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Crítica do filme: 'Fading Gigolo'



Escrito e dirigido pelo norte-americano John Turturro (excelente ator, diga-se de passagem)  Fading Gigolo arrancará dos cinéfilos risadas gostosas mesmo que a história só seja mesmo interessante por conta da atuação genial de Woody Allen - que volta a atuar como ator em um filme que ele não dirige desde Juntando aos Pedaços, um filme pouco falado no longíquo ano  2000). O longa-metragem de modesto orçamento conta também com as presenças das sensuais Sofia Vergara e da veterana Sharon Stone.

Na comédia, conhecemos o tímido e acanhado Fioravante (John Torturro), um homem de classe média que decide se tornar um profissional do sexo, um Don Juan do bairro onde mora, como uma forma de ganhar bastante grana e assim ajudar o seu amigo sem dinheiro, Murray (Wody Allen). Com esse último agindo como uma espécie de cafetão, a dupla se joga em um universo de amor, sexo, piadas, dinheiro e prostituição.

O roteiro é um ponto a se analisar negativamente. Conforme as sequências vão passando mais o público percebe que Torturro nada mais fez do que imitar a formula de Woody Allen com histórias interligadas e com personagens fugindo do senso e das verdades comuns. Falta gás nas subtramas e os coadjuvantes acabam ficando se desfechos convincentes resumindo algumas histórias a muita informação e pouco desenvolvimento.

O filme corria o risco de não atrair a atenção do público se não tivesse Woody Allen no elenco. Esse genial artista que ama Nova Iorque realmente é um ponto diferencial já que o roteiro é trivial e fraco tendo somente as forças de um personagem para a história se tornar sustentável. O espectador se delicia com as ótimas tiradas do judeu Murray, Allen transpira carisma na frente das câmeras. Genial atuação desse ganhador do oscar de 77 anos.

Sharon Stone também merece o crédito por ótimos diálogos com o protagonista, arrancando gargalhadas do espectador e mostrando sua sensualidade infinita. Sofia Vergara – que faz muito sucesso no seriado Modern Family – tenta mas ainda é uma fruta não madura como atriz. Ao longo de 98 minutos, rimos em grande parte com um dos pelés das telonas, por isso, vale muito a pena conferir esse trabalho. Somente por isso.
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15/10/2013

Especial | Top 10 Tim Robbins




Timothy Francis Robbins nasceu em West Covina no dia 16 de outubro de 1958. Filho de uma atriz, e um cantor de folk, o vencedor do Oscar começou a fazer teatro aos doze anos e se juntou ao clube de teatro na escola. Já na adolescência, ele passou dois anos na SUNY Plattsburgh e depois voltou para a Califórnia para estudar na prestigiada UCLA Film School.

Após a formatura da faculdade em 1981, Robbins fundou uma companhia de teatro experimental chamada Gang dos Atores , em Los Angeles, com alguns amigos atores de seu time de futebol universitário (um desses amigos era o também ator John Cusack).

Tim Robbins começou no cinema na década de 80, em pequenos papéis em filmes ,  inclusive no longa-metragem estrelado por Tom Cruise, Top Gun (1986). Seu primeiro papel de destaque foi como jogador Ebby Calvin " Nuke " LaLoosh em 1988 no filme Sorte no Amor , que ele co-estrelou com Susan Sarandon (sua ex-mulher) e Kevin Costner (Dança com Lobos). A partir desse trabalho, Tim Robbins entrou de vez na galeria dos mais cobiçados artistas em Hollywood.

Além de ator, Robbins, escreveu , produziu e dirigiu vários filmes, como o aclamado pela crítica Os Últimos Passos de um Homem (1995) , estrelado por Susan Sarandon e Sean Penn (Aqui é o meu Lugar). O filme lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor naquele ano. Mas o reconhecimento por toda sua obra veio com o Oscar de melhor ator coadjuvante no excelente Sobre Meninos e Lobos (2003) onde foi dirigido por Clint Eastwood (Gran Torino).


Abaixo, separamos uma lista com 10 filmes desse excelente ator:


10 – Passando dos Limites (Noise, 2009)

Na dramédia Passando dos Limites, Tim Robbins é David Owen, um pacato cidadãoque se muda para Nova York e começa a se incomodar com a barulheira da metrópole, ficando à beira de um ataque de nervos. Quando chega ao seu limite, o personagem enlouquece e se transforma em uma espécie de super-herói e começa a destruir carros que disparam seu alarme no meio da noite. O filme é uma grande crítica ao caos e desordem que se instalam em algumas grandes cidades.

9 – Gente de Sorte (The Lucky Ones, 2008)

Como falar sobre o exército de maneira sutil e emocionante? Em Gente de Sorte ,  Robbins se junta a Rachel McAdams (Questão de Tempo) e Michael Pena (Marcados para Morrer) nesse drama que promete levar muitos cinéfilos äs lágrimas. Na história, três soldados estão voltando da Guerra do Iraque para casa depois de sofrerem ferimentos. Nesse retorno, descobrem que a vida prosseguiu deixando-os para trás, assim, juntos, decidem fazer uma viagem através dos Estados Unidos onde cada um deles tem uma missão em busca de um novo destino. A única lástima é que foi um filme pouquíssimo visto aqui no Brasil, vale a pena conferir!

8 - O Suspeito da Rua Arlington (Arlington Road, 1999)

Em um dos suspenses mais tensos e imprevisíveis da década passada, acompanhamos a peculiar história de em um professor universitário que resolve investigar a vida de seus vizinhos, culpando-os por atentados terroristas. Assim, começa um jogo misterioso onde o público não sabe em quem acreditar. O desfecho desta película é algo fora do normal, inesquecível! Jeff Bridges (R.I.P.D -Os Agentes do Além) e Tim Robbins dão um verdadeiro show em cena!

7 – Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy, 1994)

Logo após rodar Um Sonho de Liberdade (um dos maiores clássicos do cinema moderno), Tim Robbins topou ser dirigido pelos brilhantes Irmãos Coen que  co-roteirizaram o enredo deste filme com Sam Raimi.  Na Roda da Fortuna é uma fábula capitalista que conta a história fictícia de um executivo americano sem nenhuma credibilidade e a sua invenção, o bambolê. O divertido filme foi selecionado para concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes naquele ano.

6 – Bob Roberts (IDEM, 1992)

O filme que marca a estreia na direção de Tim Robbins, é uma sátira política muito bem roteirizada e que curiosamente marcou a estreia do ator Jack Black nas telonas. Na trama, somos testemunhas de um cantor folk que resolve concorrer a uma vaga no Senado contra outros estereótipos padrões da classe política.

5 -  O Jogador (The Player, 1992)

Dirigido pelo espetacular Robert Altman (Nashville), Robbins ganhou créditos com os críticos e o público na pele de um produtor inconsequente.  Na história, acompanhamos a trajetória desse produtor que pressionado pelos seus fracassos de bilheteria acaba cometendo um assassinato. Após o ato impensável, uma neurose cresce em sua cabeça transformando qualquer passo que dá em uma grande paranóia, precisando enganar a polícia e escapar das investigações sobre o crime.

4 -  A Teoria do Amor  (I.Q. ,1994)

No carismático A Teoria do Amor somos guiados em uma volta ao passado e conhecemos o cientista Albert Einstein, que além de um genial físico, é o baita de um santo casamenteiro. Com a ajuda de seus colegas cientistas, tenta fazer com que sua sobrinha Catherine Boyd (Meg Ryan), uma aluna da faculdade de Princeton, se apaixone pelo sensível mecânico Ed Walters – interpretado pelo nosso homenageado da semana.  

3 – A Vida Secreta das Palavras (La Vida Secreta de las Palabras, 2005)

Em 115 minutos de muitas emoções, conhecemos Hanna, uma mulher solitária e com um passado misterioso. Funcionária exemplo, ela é obrigada a tirar férias por seu chefe.  Durante um lanche em um bar e sem nenhum destino, Hanna vira voluntária para cuidar de um homem que ficou temporariamente cego depois de uma explosão numa plataforma de petróleo. Uma estranha intimidade surge entre eles, e a qual irá mudar a vida de ambos para sempre.  O filme é dirigido pela sempre ótima Isabel Coixet (Minha Vida sem Mim) e Tim Robbins divide as principais cenas com a rainha do drama, Sarah Polley (O Doce Amanhã).


2 – Sobre Meninos e Lobos (Mystic River, 2003)

Vencedor de dois Oscar, um para Sean Penn por Melhor Ator e outro para Tim Robbins por Melhor Ator Coadjuvante, Sobre Meninos e Lobos é um drama violento e surpreendente que conta a história de um assassinato de uma garota. Após a tragédia um amigo do pai da menina passa a investigar o caso, precisando desenterrar segredos do passado para revelar quem foi o autor do crime.
O trio Sean Penn, Kevin Bacon (R.I.P.D – Os Agentes do Além) e Tim Robbins conseguem criar o clima de tensão e apreensão. Ótima direção de Clint Eastwood (Gran Torino). 

1 – Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994)

Ao lado de Morgan Freeman (Truque de Mestre) e grande elenco, nosso homenageado da semana fez parte de um dos melhores filmes da história do cinema. Tim Robbins é o protagonista Andy Dufresne, um banqueiro que é acusado de ter assassinado a esposa infiel e o amante dela. Condenado à prisão perpétua, conhece a dor e o sofrimento buscando forças nas amizades que faz nessa prisão e principalmente não perdendo o sonho de liberdade. Uma poderosa atuação desse grande ator. Impossível não gostar deste filme.
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13/10/2013

Crítica do filme: 'Os Belos Dias'

Com uma atuação maravilhosa da veterana atriz francesa Fanny Ardant (A Mulher ao Lado), Os Belos Dias é um trabalho simpático que inspira não só aos mais velhos mas a todos que gostam de sonhar. Dirigido por Marion Vernoux, o longa-metragem de pouco mais de 90 minutos vem conquistando adeptos de público e crítica por onde passa e para sorte dos cinéfilos que não puderam conferir no último Festival do Rio, o filme desembarcou nesta semana nos cinemas brasileiros.

Na história, acompanhamos a inteirona dentista Caroline (Fanny Ardant), uma senhora muito bonita que possui um ar jovial escondido dentro de si. Quando se aposenta, forçadamente, passa por um processo de mudança e busca por liberdade, para isso tenta quebrar sua rotina tediosa se inscrevendo em um clube sênior cheio de atividades. Lá redescobre a vida, se sente mais jovem e se envolve perigosamente com um homem mais novo - seu professor de informática - gerando uma série de acontecimentos com um desfecho emocionante.

Os problemas na relação entre Caroline e seu marido Philippe (interpretado pelo sempre ótimo ator Patrick Chesnais) dão o ar de sua graça do início ao fim do filme. O desenvolvimento repleto de conflitos e incertezas deixam o público curioso em saber qual será o desfecho desse casal que se ama mas já não se entende tanto assim. Aonde foi parar o amor deles? Porque Caroline se apaixonou por outra pessoa, ela queria viver apenas uma aventura? São algumas das perguntas que vão rondar a cabeça do espectador.

Um dos pontos altos da trama é a forma como a protagonista rende positivamente nas mãos da musa europeia Fanny Ardant (que aparece por poucos segundos, mas com o mesmo sorriso cativante, no novo longa de Paolo Sorrentino, A Grande Beleza). A atriz de 64 anos e mais de 80 filmes na carreira dá um verdadeiro show em cena. Cativante e se sentindo-se super à vontade no papel, brinda os cinéfilos com uma atuação sólida, verdadeira e que emociona de verdade. Poucas atrizes no mundo desenvolveriam tão bem essa personagem como Ardant, a escolha foi certeira, ela é o filme!


É um filme para ser conferido por cinéfilos de todas as idades. Os Belos Dias, é aquele tipo de longa-metragem francês que vale a pena pagar o ingresso, você sai do cinema renovado tendo assistido uma ótima história com personagens que vão demorar a sair de sua memória, principalmente a carismática protagonista que faça dias feios ou dias belos você sempre vai lembrar. Bravo!
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12/10/2013

Crítica do filme: 'As Delícias da Tarde'

Em seu primeiro longa-metragem, a ex-roteirista de seriados famosos, Jill Soloway resolve abordar os dramas familiares e as problemáticas diárias que o sexo pode provocar em alguns casais na dramédia As Delícias da Tarde. Contando com um elenco oriundo de diversas séries norte-americanas, a estreante procura dar liberdade na composição dos personagens causando alguns exageros mas no geral uma fórmula que dá muito certo em cena.

Em 95 minutos de longa, somos guiados para a vida de uma mulher de meia idade chamada Rachel (Kathryn Hahn), moradora de uma bairro tranquilo e de classe média alta em uma grande cidade dos Estados Unidos. Seu casamento com Jeff (Josh Radnor) está de mal a pior, muito por conta da falta de entrosamento no sexo entre os dois. Para tentar apimentar as coisas, certa tarde, vão até um clube de strip tease e lá conhecem McKenna (Juno Temple). Após esse encontro, Rachel se sente necessitada de ter a jovem stripper por perto, levando a moça para ser babá de seu filho, causando diversas confusões e surpresas para todos na história.

É possível falar sobre sexo no cinema sem ser piegas ou ofensivo. As Delícias da Tarde é um grande consultório onde todos nós somos convidados a participar dos debates que acontecem entre os carismáticos personagens. A relação da protagonista com todos os outros coadjuvantes são excelentes, comovem e ajudam a contar essa boa história. O destaque para essas tramas secundárias fica para a ótima participação de Jane Lynch (Glee) na pele da psicóloga totalmente maluca Lenore.

Jill Soloway ganhou o prêmio de Melhor Direção no prestigiado Festival de Sundance deste ano. Realmente a direção surpreende positivamente, conseguem transformar uma história complicada em um filme gostoso de assistir. A liberdade que o elenco teve para criar os personagens poderiam ser um problema por conta do formato que estão acostumados (seriados) mas o saldo final é muito positivo e os personagens se sustentam com louvor até o final da história.


O único pecado é que o filme não tem data definida para ser exibido no Brasil. Os sortudos que frequentaram o Festival do Rio deste ano – assim como quem vos escreve – são os únicos brindados com essa delícia, seja ela de manhã, de tarde ou de noite. Se pintar por aqui, não esqueçam, anotem na agenda e vão ao cinema, essa história vocês precisam conferir. 
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Crítica do filme: 'Minutos Atrás'

Despejando pensamentos na telona, Minutos Atrás é uma produção nacional diferente de muitas obras made in Brasil que você já viu por aí. Dirigido por Caio Sóh e com apenas três personagens em cena, o filme é quase uma canção declamada e sem nenhuma obrigação cinematográfica. O roteiro se sustenta em um cavalo, um personagem pensador e seu discípulo, ou meramente um fã daquelas palavras jogadas. Vladimir Brichta, Otavio Muller e o inusitado ruminante Paulinho Moska compõem o elenco desse filme feito para pensar.

Na curiosa história – roteirizado pelo próprio diretor – acompanhamos dois amigos seguindo sem direção em uma estrada abandonada. Tendo apenas uma carroça cheia de bugigangas, pensamentos argumentativos sobre a sociedade, os sonhos, a vida e o destino, a dupla corre contra o tempo pois não sabem onde esse caminho os levarão. Assim, o público é envolvido em raciocínios oriundo da vivência dos dois, fato que os fazem refletir sobre sua própria existência no planeta.

Alonso (Brichta) e Nildo (Muller), os personagens principais desta curiosa saga, podem ser comparados a um mestre e seu aprendiz, mais ou menos a relação conflituosa que vimos no último filme de Paul Thomas Anderson, O Mestre (2012). Os pensamentos são descarregados um atrás do outro e um terceiro elemento, Ruminante (Moska) – um cavalo - é a figura prostrada que serve de auxílio para os desabafos, virando também uma zona de conforto para essas duas almas perdidas. Se o público não se identificar com as palavras jogadas ao vento não curtirá essa viagem, caso contrário pode sair do cinema cheio de assunto para discutir na mesa de bar mais próxima.


Não deixa de ser um filme corajoso – como peça de teatro funcionaria bem melhor. Caio Soh despeja seus pensamentos e ideias inusitadas tendo como base a poesia e a música. O ar poético com que são declamadas as palavras transformam essa jornada em um grande experimento que deve gerar reações diversas nas nossas salas de cinema. A dica, é se deixar levar e tentar contra argumentar, sempre nas loucuras estão presas raios de brilhantismo e ideias geniais. É só querer acreditar. Viva essa experiência.
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Crítica do filme: 'Gravidade'

Tentando transformar a sala de cinema em um verdadeiro templo angustiante e de muito drama, o cineasta mexicano Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança) chega – finalmente – aos nossos cinemas com o seu aguardado longa-metragem Gravidade. Com poucos personagens, muita tensão e efeitos especiais muito bem executados a esperança do veterano diretor era encontrar uma atriz que conseguisse passar sozinha toda a verdade da sensação de estar em uma situação desesperadora. A escolha não poderia ter sido melhor, Sandra Bullock tem o melhor desempenho de sua vida. Porém, o filme é apenas bom. Os exageros e a criação de uma heroína hollywoodiana não convencem e tornam o longa-metragem apelativo em seu final.

Na fantástica aventura acompanhamos o veterano astronauta Matt Kowalski (George Clooney) e a engenheira médica Ryan Stone (Sandra Bullock) em um dia tumultuado no espaço. Enquanto estão consertando alguns probleminhas em uma estação espacial, são surpreendidos por uma chuva de meteoritos que atingem uma outra estação espacial, caminhando rapidamente na direção deles. Do lado de fora da nave, com pouco oxigênio e quase entrando em desespero, precisam unir forças para tentar sobreviver a essa eminente catástrofe.

O filme é angustiante (muitas pessoas vão ter algum tipo de desconforto), eletrizante, mas apenas bom. A única coisa espetacular é a atuação da Sandra Bullock (As Bem-Armadas). Choramos, pensamos e nos identificamos com sua personagem. Esse – sem dúvidas nenhuma – é o melhor trabalho da vida dessa artista norte-americana de trabalhos deveras contestados ao longo de sua carreira. O filme se torna uma grande redenção tanto para a personagem quanto para a artista. O espectador torce pela doutora Ryan Stone o tempo todo. Sandrinha tem mais carisma q o Lula, podem apostar. Ela vale o ingresso e se ganhar o Oscar ano que vem, dessa vez será merecido!

O roteiro possui os méritos de criar uma personagem com um passado trágico o que acaba se conectando com aquela situação desesperadora, virando força e justificando a luta pela sobrevivência da protagonista. Todo esse leque de emoções: passado, presente, lembranças, medo, angustia é muito bem distribuído e notamos isso nas ações da personagem a cada minuto. Ao longo dos 91 minutos de fita, é impossível tirar os olhos da tela mesmo que os últimos 20 minutos de filme deixem um pouco a desejar no quesito exageros da heroína. Os últimos 5 minutos são totalmente descartados mas muita gente vai gostar.


Como dizia o poeta sueco Vilhelm Ekelund: “A origem de toda a angústia é a de ter perdido o contato com a verdade”, Gravidade pode ter cometido algumas falhas reais dentre as fábulas físicas criadas para a aventura dar certo. Somando-se a isso – e caminhando com cuidado para não soltar nenhum spoiler indelicado – o desfecho vai gerar sérios conflitos entre os que conseguiram achar esse filme um espetáculo e aos que assim como eu acharam desnecessário esse final, além da exagerada louvação hollywoodiana.
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10/10/2013

Crítica do filme: 'Lore'


Dirigido pela cineasta australiana Cate Shortland (Somersault), o drama sobre a segunda guerra mundial Lore é uma troca de perspectiva sobre a ótica do Holocausto. A família dos vilões desses tempos violentos e desumanos também sofrem e isso é mostrado friamente, com muitos detalhes, neste excelente trabalho. A atriz Saskia Rosendahl dá um verdadeiro show na pele da protagonista que dá título à trama, com apenas quatro trabalhos no mundo do cinema, a artista alemã de 20 anos será um rosto freqüente no cinema europeu nos próximos anos, podem anotar!

Lore é baseado na obra The Dark Room, de Rachel Seiffert e conta a história de uma irmã que leva seus irmãos em uma viagem os expondo a verdade das crenças ensinadas por seus pais. Durante o caminho, um encontro com um refugiado misterioso, faz a protagonista aprender a confiar em alguém que toda a vida foi ensinada a desprezar. Ao mesmo tempo, vai descobrindo a verdade sobre a família e o regime onde foi educada. Segura e com novas convicções para seu futuro ruma para um destino cheio de surpresas.

O roteiro é muito bem escrito por Robin Mukherjee. Consegue recriar o cenário imaginado de tristeza, dor e sofrimento que a história pede. A emoção é constante, dosada na medida certa para comover, gerar indignações e argumentações – essas últimas no pós-filme. Não chega a ser uma lição de vida mas demonstra que a vida é uma grande caixa de surpresas e o futuro é um lugar indeterminado.


A co-produção Alemanha-Austrália consegue se diferenciar dos outros inúmeros filmes que abordam esse mesmo assunto. Neste drama, somos surpreendidos por uma visão diferente dos fatos, mais ou menos como ocorre no comovente O Menino do Pijama Listrado (2008). As descobertas dos irmãos sobre todas as atrocidades feitas durante anos por pessoas perto deles desconstroem e transformam todos esses personagens. O público é guiado brilhantemente pelas ótimas sequências captadas por Cate Shortland. A grande lição que fica da história é triste mas não deixa de ser uma verdade global: ame o impossível, porque é o único que te não pode decepcionar. 
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Crítica do filme: 'Terra Firme'

Com a pomposa frase “jamais deixarei uma pessoa no mar” é aberta a discussão sobre o bom longa-metragem italiano Terra Firme. O diretor Emanuele Crialese (Novo Mundo) consegue desenvolver muito bem seus personagens nesse drama que promete agradar a muitos amantes da sétima arte durante suas exibições, a partir da próxima sexta-feira (11), nos nossos cinemas. A direção de arte é impecável e a história comove, um prato cheio para qualquer pessoa que gosta de filmes do velho continente.   

O longa é um sinal de alerta, uma crítica social aos confins da pobreza e consequentemente a fuga ilegal para uma nova terra com oportunidades. Na trama, uma família que vive numa ilha (que não existe nem no Mapa Mundi), enfrenta muita dificuldade quando resolvem ajudar imigrantes ilegais. A ética do mar é muito mais forte, para os envolvidos na trama, que qualquer lei de imigração. O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção pela qualidade como é feito, alterando imperfeições e habilidades com muita realidade.

Quem sente mais a situação é o mais jovem na tríade familiar é o protagonista Filippo. Sua trajetória é uma espécie de amadurecimento forçado, explodindo e tentando absorver seu destino, muitas vezes motivado por uma impulsividade fora do comum. A Ingenuidade do personagem Filippo é passada com uma naturalmente impressionante, méritos para o jovem ator Filippo Pucillo (Novo Mundo). Mimmo Cuticchio (Baarìa - A Porta do Vento) e Donatella Finocchiaro (Para Roma, com Amor) com seus personagens carismáticos, completam a família e são preponderantes para o sucesso das subtramas.

Muitas vezes, a dúvida paira na cabeça da voz feminina da família Giulietta (Donatella Finocchiaro), que não sabe se tem que ajudar os imigrantes ou não. A dúvida é repassada ao espectador que acaba a sessão tendo muitos assuntos para conversar na mesa de bar. A personagem é intrigante e desenvolve com fortes argumentos seus pontos de vista, visando principalmente a segurança de sua família.


Ao longo das sequências vemos impressionantes paisagens, deslumbrantes. A câmera detalhista do diretor ajuda a contextualizar o que vemos na telona, fato que enriquece o longa, que foi o indicado da Itália para o Oscar 2012 a melhor filme estrangeiro. À bordo de Santuzza, o barco da família, o espectador tem ótimos 88 minutos de muito drama e dúvidas. Recomendado aos cinéfilos que gostam de cinema europeu.
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09/10/2013

Crítica do filme: 'Salvo - Uma História de Amor e Máfia'

O que dizer de um filme que não quer dizer nada? Vencedor de alguns Festivais neste ano, o longa-metragem italiano Salvo - Uma História de Amor e Máfia gerava expectativa de todos por conta de sua sinopse insinuante e repleta de elementos que poderiam compor uma boa história. Tudo vai para água abaixo quando o roteiro, praticamente sem diálogos, deixa o filme insosso e altamente sonolento. Aquelas olhadas para o relógio são constantes transformando o que era para ser uma agradável exibição em uma terrível perda de tempo.

Durante os 104 minutos, o espectador é exposto a uma história desinteressante protagonizado por um assassino profissional chamado Salvo (Saleh Bakri), um contratado pela máfia italiana para assassinar o seu principal rival. O que ele não esperava era encontrar Rita (Sara Serraiocco), uma jovem cega por quem cria um relacionamento conflituoso, porém, cheio de carinho e afeto. Quando seu chefe – interpretado por Mario Pupella (A Siciliana Rebelde) - o confronta para saber o porquê da missão não ter sido realizada por completo, Salvo irá mudar completamente o seu destino.

Os diretores do projeto Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, ambos em seu primeiro longa-metragem na carreira, conseguem desenvolver um bom ritmo nas sequências - que por sinal são bastante violentas mostrando uma realidade absurda -  porém, perdem totalmente o foco quando o longa entra na questão dramática. A falta de diálogo atrapalha muito a condução da história e acaba influenciando nas imagens que não dizem absolutamente nada para o espectador.

Sara Serraiocco tenta se sobrepor ao marasmo desenxabido que o filme vai se demonstrando. Sua personagem Rita, cega, é uma das poucas coisas que o espectador consegue acompanhar sem impaciência. 
Demonstrando um certo mistério nas suas atitudes, começa a criar uma empatia em relação ao protagonista que no fundo não sabemos se é vilão ou mocinho – pelo menos na visão dessa curiosa personagem.

Com tanto filme bom estreando no dia 11 de outubro - Os belos dias (2013), Gravidade (2013), Lore (2012) - Salvo - Uma História de Amor e Máfia se torna uma opção nula na hora de escolher qual o seu divertimento no fim de semana. Aproveitem melhor o dia de vocês, afinal o ingresso é muito caro para perdermos nosso glorioso tempo.


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