18/11/2013

Crítica do filme: 'O Mar ao Amanhecer'


Baseado em uma emocionante carta de despedida do jovem Guy Môquet, O Mar ao Amanhecer é mais uma das dezenas produções anuais sobre a Segunda Guerra Mundial. Dirigido pelo cineasta alemão Volker Schlöndorff , que dirigiu John Malkovich (Red 2: Aposentados e ainda mais perigosos) e Dustin Hoffman (O Concerto) no emocionante filme da década de 70, Morte do Caixeiro Viajante, o longa-metragem é uma sonolenta viagem ao terror que os nazistas colocaram na França tempos atrás. A falta de foco em algum dos personagens pode ser a chave do insucesso da fita.

Na trama, voltamos ao dia 21 de outubro de 1941,  na França, onde três integrantes do batalhão da juventude do Partido Comunista atiraram em um tenente-coronel nazista de alta patente no centro de Paris. Como retaliação, Hitler ordena a execução de 150 franceses, que eram mantidos prisioneiros. Entre os condenados está o jovem Guy Môquet (Léo-Paul Salmain), que escreveu uma carta de despedida tão impactante que passou a ser estudada nas escolas francesas.

A contextualização da história, baseada em fatos reais, como roteiro de cinema, peca por não criar um enredo onde um protagonista se sobressaia em relação aos outros personagens. O público se sente perdido quando a história começa a dar voltas e não ir a lugar nenhum.  Geralmente, quando isso ocorre, os olhos do público buscam uma referência, que nesse caso não existe. O próprio personagem já citado, Guy Môquet, poderia ser bem mais bem explorado dentro do filme.

 A eminência da execução dos listados constrói uma desnecessária acomodação da direção e das características dos personagens. Muitos detalhes não são captados pelas lentes do diretor, entre eles: um pouco da história de cada personagem, o desespero que certamente essas pessoas viveram, as burocratizações do embaralhado político que a França se submeteu na Segunda Guerra Mundial, entre outros.

Mesmo com a presença do excelente ator Jean-Pierre Darroussin (As Neves de Kilimanjaro), O Mar ao Amanhecer é um filme frio que em nenhum momento tem a coragem de se arriscar e realmente ir a fundo nos acontecimentos desta triste história europeia. Com tantos filmes bons em cartaz, fica difícil alguém parar noventa minutos e assistir esse.


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08/11/2013

Crítica do filme: "Las Acacias"


Dois anos depois de ser lançado mundo à fora, o novo filme do estreante cineasta argentino Pablo Giorgelli desembarca em nossa terra e promete ganhar a simpatia de muita gente nas salas de cinema por mais que a narrativa seja extremamente lenta e sonolenta em alguns momentos. 

Na trama, escrita pela dupla Pablo Giorgelli e Salvador Roselli, conhecemos o solitário viajante Rubén (Germán de Silva), um motorista de caminhão que transporta madeira como meio de sobrevivência. Certo dia, presta um favor a seu chefe e concorda em levar até Buenos Aires a paraguaia Jacinta (Hebe Duarte) e sua filhinha de 8 meses. A partir desse encontro e os quilômetros passando, uma relação muito forte e com poucas palavras é instaurada dentro do veículo.

Las Acácias já recebeu diversos elogios de público e crítica por todo o planeta. O prêmio Caméra d'Or (para o diretor Pablo Giorgelli) em Cannes, foi o prêmio mais importante e significativo que venceu. O cinema argentino mais uma vez consegue envolver o espectador de maneira muito honesta passando em cada sequência a pureza e a essência de seus complexos e profundos personagens. Os nossos Hermanos possuem uma receita de bolo daqueles bem gostosos que sempre agradam o espectador.

O pequeno ato de encontrar alguém se torna muito significativo nas mãos de Giorgelli que sabe captar toda pureza, sentimentos profundos e as almas dos personagens que são de uma simplicidade muito verdadeira. Como já dizia o escritor francês Georges Bernanos: ”Saber encontrar a alegria na alegria dos outros, é o segredo da felicidade.” Vá ao cinema, dê uma chance a essa história, quem sabe não acha o segredo da sua felicidade?
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Crítica do filme: "Minha Vida dava um Filme"


Com muita futilidade, inutilidade e cenas horrorosas o novo trabalho dos cineastas Shari Springer Berman, e Robert Pulcini (Os Acompanhantes) é um filme ao melhor estilo conversa para boi dormir.  Um dos atrativos do filme poderia ser a presença da ganhadora do Oscar Annette Bening (Ginger & Rosa) porém a veterana artista consegue, para grande surpresa negativa, uma de suas piores atuações da carreira.

No pífio roteiro escrito por Michelle Morgan, acompanhamos a vida tumultuada de Imogene (interpretada terrivelmente por Kristen Wiig). Entre seus atuais desastres: acaba de terminar o seu longo relacionamento e sua carreira está em ladeira abaixo. Sem dinheiro, ela é obrigada a voltar a morar com sua excêntrica mãe (Annette Bening), que vive com um jovem ambicioso e mentiroso.

Cenas escrachadas, de muito mal gosto recheiam a grande confusão na tela. A história não segue uma lógica, deixando o espectador perdido em diversos momentos. A atriz Kristen Wiig (Solteiros com Filhos) modela sua personagem de maneira bisonha e pouco inteligente. Provavelmente, com essa fraca atuação, conseguiu seu lugar na próxima cerimônia do Framboesa de Ouro. 

A direção é outro ponto que deixa muito a desejar. Adotando algumas técnicas peculiares na composição das cenas e não preenchendo as lacunas deixadas pelo roteiro. A câmera subjetiva (quando vemos o que o personagem vê) logo no início já indicava que seríamos transformados em jogadores de um modelo experimental de besteirol americano. Terríveis escolhas da dupla de cineastas.

Quem escreveu o roteiro deveria saber que o público hoje em dia está cansado de besteiras e cada vez mais se torna exigente, principalmente com filmes hollywoodianos. Mesmo com o sucesso de Missão Madrinha de Casamento, Kristen Wiig não conseguirá bons comentários desta vez, talvez por falta de competência, talvez por falta de talento. Ou ambos. 
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07/11/2013

Crítica do filme: "Cine Holliúdy"


Um dos mais esperados filmes nacionais deste ano, enfim, chega ao circuito nacional. Com uma tática de lançamento inusitada, começando pelo nordeste antes de estrear em outros lugares, o curioso trabalho de Halder Gomes (As Mães de Chico Xavier) é uma jornada de um sonhador atrás de seu objetivo. Desde os créditos iniciais até as citações e críticas nas letras que aparecem no final, percebemos uma reverência não só a sétima arte mas também a todos os profissionais que ajudam a criar esse universo mágico de entretenimento chamado cinema.

Com cenas ao melhor estilo Tela Class (um seriado que passava na ex-Mtv), Cine Holliúdy conta a incrível jornada de Francisgleydisson (Edmilson Filho) e sua família que abandonam tudo e partem rumo ao desconhecido, com o sonho de abrir novamente uma sala de cinema em alguma cidade. A chegada maciça da televisão nas pequenas cidades do Brasil, nos anos 70, coloca em perigo os pequenos cinemas e essa é uma luta que  Francisgleydisson, à bordo da sua Wanderlea (apelido curioso de seu carro amarelo), luta a todo instante. Em uma cidade onde cinema é uma lenda, o simpático personagem terá mais uma chance de levar a magia do cinema a todos.

O filme não perde o humor em nenhum momento deixando vazios quando tenta encostar nos dramas dos personagens. É como se a emoção não fosse a fundo, fato que poderia encorpar muito mais todas as ideias e objetivos dos personagens. O foco é no protagonista, um contador de histórias absurdas que lembra em muitos aspectos Ed Bloom (personagem principal do clássico de Tim Burton Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias (2003)).

O personagem principal, Francisgleydisson, possui um carisma bastante particular. O ator Edmilson Filho (As Mães de Chico Xavier) esbanja talento e competência. Grande revelação do nosso cinema. Vamos conferir em breve muitos outros bons trabalhos deste talentoso artista. Roberto Bomtempo (Ponto Final) na pele do prefeito Olegrio Elpdio possui ótimas cenas e também se destaca mesmo aparecendo poucas vezes.

Os coadjuvantes tem papel importante no ritmo acelerado da história. Figuras peculiares e algumas conhecidas como o cantor Falcão enchem a tela com sotaques e expressões típicas do nordeste brasileiro. As legendas em um filme nacional, fato quase inédito, cria uma dinâmica inusitada muito bem aceita pelo público. A magia do cinema está em cada cena, seja nas interações dos personagens sejam nas referências aos filmes orientais trash de antigamente.

A vida não existe sem histórias. Cine Holliúdy bate nesta tecla a todo instante. Criar um universo de alegria e emoção mesmo com as dificuldades da vida, como Roberto Benigni fez em A Vida é Bela , é o objetivo desta história escrita pelo próprio diretor. Um indicativo de que a criatividade e originalidade do nosso cinema está vivo. Vida longa e próspera a esse tipo de cinema, o que faz a gente sonhar! Bravo!
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03/11/2013

Crítica do filme: 'Capitão Phillips'

Baseado no livro Dever de Capitão de Richard Phillips, o novo longa-metragem do excepcional diretor britânico Paul Greengrass (Zona Verde) é uma grande aventura de sobrevivência com tremendas críticas sociais. Com uma atuação espetacular de Tom Hanks (A Viagem) e um roteiro muito dinâmico, o espetador nem percebe que o filme tem  duas horas e vinte minutos de duração. Esse trabalho é muito mais do que apenas a incrível história do primeiro navio de carga americano a ser sequestrado em duzentos anos.

Na trama, acompanhamos mais uma viagem na vida do experiente Capitão da marinha norte-americana Richard Phillips (Tom Hanks). À bordo do gigantesco Maersk Alabama, no ano de 2009, sofreu junto com sua tripulação a inusitada situação de ser sequestrado no meio do oceano por um grupo de piratas oriundos da Somália. Lutando contra o tempo, utilizando todo o conhecimento que tem sobre a embarcação e contando com a ajuda de sua tripulação, Phillips trava uma difícil batalha psicológica com o líder dos piratas.

O drama tem um componente de crítica social que enxergamos claramente pelos olhos e ações do protagonista. Uma mescla de medo, terror e pena se misturam nos árduos diálogos e tentativas do Capitão de encerrar o mais breve possível aquela situação. Tom Hanks e Barkhad Abdi travam uma grande guerra para saber quem é o real senhor daquele enorme navio, duas atuações de se tirar o chapéu.

O filme é impulsionado pela bela formação de personalidade do protagonista que é mostrada nos primeiros vinte minutos de filme. Assim, conhecemos  um homem odiado por sua tripulação, distante de sua família e em eterno conflito com um de seus filhos. Com esse conhecimento nas mãos, o espectador compreende melhor cada passo do personagem, sente pena, discorda de algumas posições e entende muitos de seus movimentos para salvar a embarcação .
Tom Hanks volta em grande forma às telonas após o terrível A Viagem (2012) e o fraquíssimo Larry Crowne: O Amor está de Volta (2011). Com uma atuação digna de Oscar, fica muito difícil seu nome não figurar entre os cinco melhores atores na próxima grande festa do cinema. Os atores que interpretaram os piratas da Somália, também mrecem destaque. Estão sensacionais em cada uma das longas sequências que aparecem. Conseguem criar uma atmosfera de realidade absurda, fazendo o público interagir com os acontecimentos a todo instante.

Impressiona o trabalho de preparação desse elenco que mistura um ator consagrado com ouros que nunca tinham feito um filme sequer. É para se emocionar, é para você não perder. Capitão Phillips estreia na próxima-sexta-feira (08) nos cinemas brasileiros e deve levar muita gente aos cinemas. Um filme de Hollywood mas com um toque de genialidade e inteligência de Greengrass. Bravo!
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Crítica do filme: 'Arthur Newman'

Dirigido pelo estreante Dante Ariola, Arthur Newman é quase uma grande brincadeira de faz de contas onde a realidade vai ficando para trás dando lugar a sonhos, desejos e ações executados por alter egos diversos. O filme, que conta com mais uma atuação maravilhosa de Colin Firth, é uma grande estrada sem direção, o que pode incomodar alguns. A falta de objetivos dos personagens é abordada dentro da trama. Eles são guiados por desejos reprimidos, fantasias do que acham ser a felicidade. Tem uma personalidade de um road movie mas na verdade é um drama profundo e inteligente que tem como pano de fundo a relação entre pais e filhos.

Na trama, conhecemos um homem desiludido com sua vida profissional e pessoal. Certo dia, resolve fugir e plantar evidências do seu desaparecimento em uma deserta ilha longe de casa. Na estrada, à bordo de um conversível clássico esbarra com uma mulher completamente insana e juntos vivem dias intensos vivendo literalmente a vida de outras pessoas. A fita tem um dinamismo peculiar que se encaixaria como uma luva no formato peça de teatro. Seria uma interessante adaptação, desde já fica a dica aos que circulam pelo mundo do teatro no Brasil.

Por incrível que pareça, e a sinopse não entrega isso de jeito nenhum, o longa-metragem roteirizado por Becky Johnston (que escreveu o roteiro do maravilhoso Sete Anos no Tibet), é um grande drama familiar, com foco na relação pais e filhos. Conforme somos apresentados aos fatos do passado dos personagens, subtramas ricas em emoção, principalmente os diálogos interessantes que surgem entre o filho abandonado e a atual mulher abandonada surgem para completar as lacunhas de algumas dúvidas que surgem sobre os objetivos dos personagens.

Emily Blunt já é expert em construção de personagens esquisitos. Vimos isso em Sunshine Cleaning e Your Sister’s Sister. A bela atriz britânica precisa tomar um certo cuidado para não cair na mesmice, algumas de suas personagens são muito parecidas. Nesse filme, por exemplo, sua personagem para a continuação de outras que já teve na carreira. Já o ganhador do Oscar Colin Firth, mais competente do que nunca, consegue passar toda a aflição de seu difícil personagem com a maestria de sempre.


O filme tem alguns momentos água com açucar mas ganha um ritmo bacana quando os personagens começam a viver a vida de outros casais, isso acontecendo na história, o filme eleva sua qualidade guiado pela ótima sintonia entre os protagonistas. É um longa muito indicado para psicólogos, sociólogos. Esses, terão vários assuntos para discutir com seus alunos em sala de aula. Não percam!
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27/10/2013

Crítica do filme: 'Uma Noite de Crime'



A abertura aterrorizante da produtora Blumhouse já indicava que teríamos momentos de tensão nessa surpreendente história escrita e dirigida pelo norte-americano James DeMonaco (State Island). Estimado em quase U$$ 3 Milhões de dólares, o filme já faturou mais de 30 milhões em poucos dias de exibição nos Estados Unidos tornando-se  líder de bilheteria e automaticamente a grande sensação da temporada. Protagonizado por Ethan Hawke (Antes da Meia-Noite), o suspense apresenta em tom argumentativo o caos democrático que pode se instaurar quando a violência – em uma única noite a cada ano – pode prevalecer sem punições.

Logo no início do filme, somos avisados que estamos no ano de 2022, onde um acordo governamental permitiu que as pessoas possam cometer crimes e vinganças se qualquer tipo de punição. Assim, conhecemos a família Sandin, que alcançou a riqueza nos últimos anos vendendo sistemas de segurança par aos vizinhos e sempre optou por se proteger ao invés de descarregar a raiva nesses dias one a violência reina. O filme basicamente são os fatos acontecidos em uma dessas noites onde a violência pode se externalizar sem punições e onde a família Sandin é alvo de jovens transtornados, sádicos e completamente insanos que travam uma guerra psicológica e física com os habitantes da mansão.  

O conflito pessoal de cada um dos personagens é preponderante para criar o interessante clima de suspense que é instaurado ao longo dos 82 minutos de fita. O filho mais novo se rebela contra o pensamento dos pais, a filha mais velha fica traumatizada com uma tragédia que acontece durante a noite e a mãe das crianças passa por um longo, traumático e curto período de transformação. James Sandin (Ethan Hawke), o pai das crianças, resolve ir contra tudo que sempre pensou e proteger sua família. Bolas de sinuca, metralhadoras ao melhor estilo Duke Nukem, machados e tacos de golfe são utilizados como armas. O espectador neste momento se sente dentro de um simulador de violência, onde a guerra travada é extremamente sangrenta e totalmente inconsequente.

O inteligente roteiro percorre o campo da argumentação mostrando os dois lados dessa inusitada situação de expurgo: os que são a favor e acreditam que esses violentos dias vieram para salvar a sociedade corrompida e os que são contra e que sofrem ou tem medo de sofrer alguma consequência desses atos radicais sem controle. Respostas claras não são dadas, deixando o público entrar no debate escolhendo algum dos dois lados.

O longa-metragem abre um leque de possibilidades para o seu desfecho levando o público a torcer, ou não, pela indefesa família a cada instante. O suspense gera alguns pequenos sustos até quando parte para seus momentos de ação, do meio para o fim, cumprindo seu papel. Merece ser conferido onde melhor conseguimos sentir a ambientação daquelas sequências, numa sala de cinema. Nada como bons sustos e histórias originais para atrair a atenção dos cinéfilos.
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