19/12/2013

Top 10 – Melhores filmes de 2013



Nesse belo ano para os cinéfilos e para todo mundo que gosta de filmes inteligentes fomos brindados com diversos projetos que emocionaram, causaram indignação, calafrios e muitos outros tipos de sentimentos, sentados em nossas cadeiras de frente para a telona. Entre produções do Canadá, China, França, Arábia Saudita, Itália, Estados Unidos e com mais de 500 filmes vistos esse ano, nasceu a minha lista com os 10 melhores trabalhos de 2013.

10. O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar, 2011)

Ganhador de mais de 26 prêmios internacionais, chegou aos cinemas brasileiros neste ano o novo e elogiado trabalho do cineasta Philippe Falardeau (do excelente C'est pas moi, je le jure! ), O Que Traz Boas Novas. Qual o papel do professor? Educar ou ensinar? O longa levanta essa questão básica da educação centralizado nos interessantes diálogos entre pais, educadores e alunos. Além disso, o filme é delicado, transborda ao mesmo tempo pureza e maturidade. Na trama, após uma tragédia inestimável, uma escola enfrenta um grande problema com seus alunos. Abalados, pais e orientadores buscam uma saída para a superação de toda uma classe até a chegada do novo professor de origem argelina, interpretado pelo ótimo ator Mohamed Fellag (O Gato do Rabino). Esse é o tipo de filme para ver ao lado de quem você ama e quem sabe fazer uma sessão dupla e iluminar a sala de cinema com brilho no olhar, de ter encontrado alguém que te entende e gosta das mesmas coisas que você.

09. A Vida Secreta de Walter Mitty (Walter Mitty, 2013)

Você já fez algo realmente extraordinário? Com um roteiro do sempre competente Steve Conrad (À Procura da Felicidade), baseado em um personagem fantástico criado pelo escritor americano James Thurber no conto publicado na revista The New Yorker em 1939, o novo trabalho como diretor do astro de Hollywood Ben Stiller A Vida Secreta de Walter Mitty se propõe em ajudar ao público a encontrar a verdadeira beleza do sonhar contido dentro de todos nós. Contando também com a participação mais do que especial do ganhador do Oscar Sean Penn, A Vida Secreta de Walter Mitty se consolida a cada minuto de fita como um retrato maduro entre a realidade e a ficção. Então pessoal, o jeito é seguir o ABC de Walter Mitty. Veja o mundo. Os perigos que virão. Chegue mais perto. Sinta. Esse é o propósito da vida. Não percam essa fabulosa experiência cinematográfica que Jung iria amar. Bravo!


08. Um Toque de Pecado (Tian zhu ding, 2012)

O filme ganhador do prêmio de melhor roteiro no último Festival de Cannes chegou aos cinemas brasileiros no finalzinho deste ano, causando grande euforia nos cinéfilos que não puderam conferir suas exibições na Mostra Internacional de Cinema de SP 2013. A verdadeira identidade de uma China perdida em suas desilusões emocionais é o foco deste belo e violento trabalho de Jia Zhang-Ke (que dirigiu o excelente Em Busca da Vida (2006)). Em pouco mais de duas horas de fita, entramos em um quebra-cabeça social modelado primorosamente por Zhang-Ke (que assina também o roteiro). A qualidade no modo de contar essa história transforma Um Toque de Pecado em um dos melhores filmes do ano.


07. O Sonho de Wadjda (Wadjda, 2012)

Ganhador de elogios ao redor do mundo, desembarcou no Brasil o drama O Sonho de Wadjda. Tendo influência do clássico da década de 40, O Ladrão de Bicicletas, de Vittorio De Sica (Desejos Proibidos), o longa fala sobre a destemida juventude que calça All Star e com uma mescla de inteligência e sabedoria consegue burlar qualquer símbolo de prepotência de uma sociedade machista no tempos atuais. É no mínimo um filme ousado, aguerrido e alentado. Talvez chocante para alguns. Pelos diálogos nos identificamos e torcemos para que mais Wadjda apareçam nesse mundo tão perto e conservador. Bravo! É o tipo de filme que procuramos em dezenas de sites, inúmeras lojas, sites estrangeiros, pois queremos dar de presente para alguém que amamos e nutre a mesma paixão que temos pelo cinema. 


06. Questão de Tempo (About Time, 2013)

Um pôster do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain preso na parede de um quarto já era o primeiro indicador que iríamos conhecer um sonhador, romântico e que faz de tudo para ser feliz. Em Questão de Tempo, o diretor e roteirista neo-zelandês Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill) nos leva a conhecer Tim e sua incrível jornada à procura de um futuro ao lado de um grande amor. Uma trilha sonora jovem e popular embala esse ótimo trabalho que é aquele tipo de filme que todo mundo na sala de cinema faz uma corrente imaginária positiva para que o desfecho seja feliz. Esse é o tipo de filme que você quer ver com a pessoa que ama. Se ela não puder ir, por ter provas no dia seguinte a exibição, vá com sua prima e pense nela. Fale do filme, mande mensagens no whatsapp, indique e faça o coração dela saber que precisa ver esse filme para entender cada dia mais que o amor de cinema está presente também na vida real.


05. A Grande Beleza (La Grande Bellezza, 2013)

Um dos diretores mais fantásticos do cinema atual Paolo Sorrentino (que dirigiu a ótima atuação de Sean Penn no filme Aqui é o Meu Lugar) chega novamente aos cinemas brasileiros apresentando um personagem e seu conflito. Dessa vez, criticando assiduamente a alta sociedade européia, seus altos e baixos, coloca um recheio de exuberância, luxo, dança e glamour através do olhar do amadurecimento de um homem e seus passeios nas memórias. Aos amantes de obras de arte, A Grande Beleza permite um grande tour, exclusivo para príncipes e princesas, por dentro de corredores memoráveis lembrando muito – nestas sequências - o clássico filme do russo Aleksander Sokurov, A Arca Russa. O protagonista fascina pois conhece tudo e todos. Molda seus raciocínios através da larga experiência que possui dentro dessa burguesia dominadora em que vive. É o tipo de filme que vemos no chão do cinema, por não ter mais lugar na plateia, ao lado do amor de sua vida que pode reclamar um pouquinho pelo filme ser muito longo.


04. Ferrugem e Osso (De rouille et d'os, 2012)

Quantas formas de amor existem? Escrito e dirigido pelo cineasta francês Jacques Audiard (O Profeta), Ferrugem e Osso é um drama que consegue tocar a alma de todos os espectadores de maneiro bruta, intensa, deixando um rastro de emoção em cada sequência. Estrelado pela ganhadora do Oscar Marion Cotillard (Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge) o filme é adaptado de uma história do autor Craig Davidson que mais parece o encontro da era moderna entre a bela e a fera. A trajetória fria, triste e vazia da personagem principal, a bela moderna Stephanie, se agrava com um acontecimento que muda para sempre sua vida. A partir desse momento, a personagem amadurece e conseguimos acompanhar essa linda mulher com outros olhos. Marion Cotillard está mais uma vez excelente em um papel sofrido, onde precisou de muita doação, dessa que é uma das melhores atrizes francesas de sua geração.


03. O Último Elvis (El Ultimo Elvis, 2012)

Festas para uns, vida para outros. A subida lenta pela escada, logo no início do filme mostrava que muitos detalhes seriam mostrados durante os poucos mais de 90 minutos do ótimo drama argentino O Último Elvis. Dirigido pelo cineasta Armando Bo, o longa personifica o drama em torno de um pai de família que busca uma vida melhor, paralela ao sonho que sempre teve. A maneira comovente que é apresentada essa história aproxima o público na série de fatos que preenchem aos poucos a telona. A inconsequente busca de um sonho nem sempre é uma história feliz. A sessão nostalgia e as canções que nunca sairão da memória são detalhes muito bem aproveitados pela história. Afinal, quem inventou o rock and roll nunca sai de moda!


02. Azul é a Cor mais Quente (La Vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2, 2013)

E vem da terra de Godard o filme mais quente deste ano, Azul é a Cor mais Quente. Dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche,  ganhador da Palma de Cannes neste ano, o drama francês é uma excepcional e comovente história recheada de diálogos árduos, cenas picantes e uma inteligente análise dos sentimentos humanos, feita de forma transparente, real e bastante atual. O longa metragem é provocante, chocante e ao mesmo tempo apresenta contornos dramáticos em forma de gestos de ternura e carinho de suas personagens. Esse é um filme que ficará na sua memória por muito tempo. As conversas em alto nível intelectual vão agradar o público. As amantes dão um show de conhecimento das artes argumentando sobre quadros de Picasso e conversando sobre teorias de Sartre. Os cinéfilos são abençoados com duas grandes interpretações. Todos os prêmios do mundo para as atrizes Léa Seydoux (Adeus, Minha Rainha) e Adèle Exarchopoulos. Vocês não podem perder esse lindo trabalho. Um dos melhores filmes do ano, sem dúvidas! Bravo!


01. A Caça (Jagten, 2013)

O que começa em novembro e não termina nunca mais. Discussões em familiares, bebedeiras e caça entre amigos, o novo trabalho do aclamado diretor, criador do movimento Dogma 95, Thomas Vinterberg (Submarino) é um daqueles filmes inesquecíveis onde sentimos do lado de cá da telona toda a angústia e injustiça que ocorre nas sequências desse projeto, disparado, o melhor filme do ano. A construção dos personagens dentro do contexto, especialidade de Vinterberg é o grande pilar desse drama comovente que gera uma comoção do público. Poucas vezes assistimos um filme e já pensamos nos debates que podem acontecer. A culpa, o perdão, a indignação. Sentimentos que andam em conjunto destruindo emocionalmente os personagens e brindando o público com uma verdadeira obra de arte. Cinema bom é assim mesmo, faz o público refletir. Bravo!
Continue lendo... Top 10 – Melhores filmes de 2013

Cinema aos olhos da música: Capítulo 2 – Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Clube



Cinema aos olhos da música: Capítulo 2 – Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Clube

O nosso segundo entrevistado na coluna Cinema aos olhos da música é um vocalista de personalidade forte e que sempre argumenta com muita propriedade sobre o cenário político e social brasileiro pelas redes sociais. Aos 36 anos, Luis Guilherme Brunetta, ou para nós Tico Santa Cruz, é o líder da banda Detonautas Roque Clube desde 1997. A banda se conheceu pela internet e ficou marcada no cenário musical brasileiro por suas letras impactantes tanto para falar sobre amor quanto para abrir os olhos do povo em relação à política, sendo assim, a voz de milhões de fãs espalhados pelo Brasil.

Por trás do corpo quase todo tatuado, há um ser humano engajado em expressar todos seus sentimentos e insatisfações em melodia. Tico batalhou com inúmeras palavras sobre o voto consciente, divulga o trabalho de diversas bandas independentes e nunca deixa de se expressar em qualquer polêmica de rápida repercussão por conta das redes sociais. Fã de Woody Allen e Quentin Tarantino, Tico Santa Cruz topou conversar com a gente e falar um pouquinho sobre sua visão em relação ao cinema.

1) Qual a relação que a música e o cinema possuem?

Tico Santa Cruz: A música sempre foi fundamental para o cinema. É através das trilhas sonoras que o diretor consegue conduzir o clima que precisa para fazer com que o espectador sinta-se inserido no contexto da cena. A música tem o poder de emocionar, de criar tensão, suspense, medo, ou seja, movimenta as sensações humanas. Sem a música o filme perde muito em sua capacidade de atingir a alma humana.


2) Quais seus filmes prediletos e porquê? E qual foi o último filme que assistiu?

Tico Santa Cruz: Assisto de tudo. Tenho filhos e um de meus hobbies preferidos é ir ao cinema com eles. Meus diretores preferidos são Quentin Tarantino e Roberto Rodriguez. Gosto de filmes que misturam ação, terror, violência. Mas também tenho apreço por títulos que mudam nossa forma de ver o mundo. Crash foi um desses, poderia dizer que Clube da Luta também mexeu muito comigo. Adoro Woody Allen, gosto de praticamente todas as fases dele e a forma como mete o dedo na ferida da hipocrisia das pessoas. Eventualmente uma boa comédia pastelão pode me fazer relaxar. Cinema assim como a música é Estado de espírito, então depende muito de como você está se sentindo. Matrix, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Invasões Bárbaras, são alguns filmes que marcaram minha lembrança. Gosto de temas de guerra também e tenho ótimas recordações da infância como Goonies, De volta para o Futuro, entre outros. O último filme que assisti que posso recomendar é Django Livre, pois existe uma safra atual no cinema assim como na música que seria melhor que não tivesse vindo à tona.


3) Quem você acha que tem maior dificuldade: um músico em início de carreira ou um cineasta tentando lançar seu primeiro filme?


Tico Santa Cruz: O início é difícil para todas as profissões. Para quem faz arte é mais difícil ainda, para quem faz arte num país onde as pessoas só dão valor depois que você chegou numa grande emissora de TV ou foi elogiado por revistas e jornais, nem se fale... Acho que talvez seja mais difícil para um cineasta fazer seu primeiro filme e lançar porque este depende de mais recursos técnicos e consequentemente de mais recursos financeiros. Enquanto que para um músico que tiver um estúdio este consegue produzir um disco sem grandes dificuldades operacionais.


4) O que é cinema para você?

Tico Santa Cruz: Entretenimento, informação, conhecimento. Uma maneira de fundamentar conceitos de vida e de transformar a realidade. Em alguns momentos quase uma bola de cristal. Quantos cineastas não desenharam no passado distante a realidade que vivemos hoje?


5) Você já criou alguma canção baseada em algum filme que viu?

Tico Santa Cruz: Não, mas certamente já saí de algum filme com pensamentos que possam ter me influenciado a compor algo que tenha escrito. Mas não me lembro de um filme especificamente.


6) Mande uma mensagem aos cinéfilos do nosso portal.

Tico Santa Cruz: Cinéfilos, entrem na minha página do Facebook e deixem dicas para que eu possa aprender e conhecer ainda mais sobre a sétima arte.
Continue lendo... Cinema aos olhos da música: Capítulo 2 – Tico Santa Cruz, do Detonautas Roque Clube

Crítica do filme: 'O Hobbit: A Desolação de Smaug'



Para delírio de milhares de fãs espalhados pelo mundo, chega aos cinemas a continuação da saga de Bilbo Bolseiro e Cia, O Hobbit: A Desolação de Smaug. Comandado por Peter Jackson, que faz uma pontinha nos primeiros segundos de projeção, essa continuação é infinitamente superior ao primeiro filme em relação a tudo o que você possa listar como fundamental para entreter qualquer tipo de público. Fugindo de aranhas gigantescas, chamas poderosas de um dragão assustador e monstrengos Orcs famintos por sangue, os nossos heróis, com a ajuda dessa vez de Legolas (Orlando Bloom), voltam a enfrentar inúmeros desafios em busca de seu objetivo.

Orçado em US$ 250 Milhões e com 161 minutos de fita, O Hobbit: A Desolação de Smaug é o segundo filme da trilogia de adaptação do livro O Hobbit, de J.R.R. Tolkien. Nesta segunda parte, voltamos a acompanhar os novos desafios da jornada épica de Bilbo Bolseiro para recuperar o Reino dos Anões de Erebor. Bilbo, os anões e Gandalf continuam sua ingrata caminhada depois de serem salvos pelas águias nas Montanhas Sombrias (no primeiro filme), chegando até a Floresta das Trevas onde são surpreendidos por criaturas arrepiantes e pelos elfos que os capturam. Quando conseguem fugir da prisão dos arqueiros orelhudos, precisam encarar o maior desafio dessa jornada: roubar Smaug, um dragão que há muito tempo saqueou o reino dos anões do avô de Thorin e que desde então dorme sobre esse tesouro.

Ágeis, corajosos e com verdadeiros corações de guerreiros, os anões de Erebor brindam os espectadores com suas cenas quase circenses de lutas e seus diálogos sempre bem humorados. Eles lutam, ajudam, brigam entre si, mas no final do dia mostram uma união comovente que os faz não desistir de seus objetivos. A cada nova sequência, entre um brinde e outro, os guerreiros liderados por Thorin conquistam e reconquistam o público a cada minuto.

Por mais que maravilhosos personagens da trilogia O Senhor dos Anéis dêem o ar de sua graça nesse segundo filme da franquia, quem rouba a cena é Thorin. O lúcido e enigmático personagem, líder da legião dos anões, é interpretado com bastante competência pelo ator Richard Armitage (Capitão América: O Primeiro Vingador). Destemido, bravo e com uma personalidade de causar inveja a muita gente, o pequeno guerreiro exala carisma na telona.

Tauriel, personagem de Evangeline Lilly (Ex-Lost), adiciona muita emoção à trama. Além de ajudar o famoso orelhudo elfo Legolas com suas setas e facadas certeiras, vira médica para um certo soldado ferido e figura central de um surpreendente triângulo amoroso com o arqueiro mais famoso da trilogia O Senhor dos Anéis e um dos anões. A bela atriz canadense de poucos trabalhos de expressões no mundo do cinema caiu como uma luva na personagem.

Os efeitos especiais continuam no mais alto padrão que a tecnologia deste planeta pode oferecer. Mas o mérito de Peter Jackson e sua equipe não vem só disso. Reunir um roteiro envolvente, uma direção louvável e cenas de tirar o fôlego, usando essa tecnologia mencionada, é uma tríplice mais do que vitoriosa, inesquecível. Os padrões para criar um filme de fantasia que agrade a qualquer tipo de público foram elevados de uma maneira considerável por este audacioso projeto.

A aventura épica, dirigida pelo genial Peter Jackson (Almas Gêmeas) é garantia de diversão do início ao fim. Com um corte seco em seu desfecho e uma pergunta fundamental como gancho para o último filme da saga, O Hobbit: A Desolação de Smaug deve agradar não só aos fanáticos pelos textos de Tolkien mas também a todo mundo que ama cinema. Nessa próxima sexta-feira 13, Jason será esquecido facilmente, corra para o cinema e confira esse excepcional trabalho.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Hobbit: A Desolação de Smaug'

12/12/2013

Crítica do filme: 'A Vida Secreta de Walter Mitty'



Você já fez algo realmente extraordinário? Com um roteiro do sempre competente Steve Conrad (À Procura da Felicidade), baseado em um personagem fantástico criado pelo escritor americano James Thurber no conto publicado na revista The New Yorker em 1939, o novo trabalho como diretor do astro de Hollywood Ben Stiller A Vida Secreta de Walter Mitty se propõe em ajudar ao público a encontrar a verdadeira beleza do sonhar contido dentro de todos nós.

Na quimérica história, conhecemos Walter Mitty (Ben Stiller), um homem que trabalha há 16 anos em uma revista de grande circulação chamada Life sendo gerente da parte de processamento de imagens. Walter é tímido, tem poucos amigos e possui uma imaginação que ultrapassa qualquer limite da definição de absurdo. Em suas experiências memoráveis dentro de seus sonhos, o pacato cidadão possui inúmeras histórias fantásticas. Porém, na realidade, sofre por não conseguir se aproximar da mulher que ama e enfrentar de frente os grandes vilões de sua vida. Quando seu emprego é colocado em risco, Walter (um surpreendente e exímio skatista) parte em uma jornada muito mais fantástica que qualquer outro sonho já visto.

O roteiro é muito consistente deixando o público louco para saber o que virá na sequência das ações do protagonista. O filme mistura fantasias mirabolantes e realidade, o espectador precisa ficar atento para saber o que cada cena significa. Entre paisagens lindas, diálogos cômicos, e uma cena impagável fazendo analogia ao ótimo filme de David Fincher O Curioso Caso de Benjamin Button, A Vida Secreta de Walter Mitty é mais um daqueles filmes que ficará dentro de sua memória cinéfila durante muito tempo.

Um dos pontos altos desse projeto é o estupendo trabalho de Ben Stiller (quem diria?!), tanto na atuação, quanto na direção. Consciente e entendendo cada detalhe de seu curioso personagem, domina as grandes cenas como um veterano das telonas. Entre fantásticos sonhos e cenas puxadas ao drama, Stiller consegue ser simples e profundo ao mesmo tempo mostrando uma delicadeza absurda para que junto de seu personagem nos mostrar a beleza que existe na redescoberta da vida.

A trilha sonora assinada por Theodore Shapiro (O Diabo Veste Prada) é espetacular, o espectador se sente a todo instante fazendo parte da jornada de Walter Mitty. Outro ponto a ganhar destaque são as cenas entre Ben Stiller e Kristen Wiig (quem diria (2)?!). Essa última,  quando deixar de fazer comédias pastelões inúteis e ridículas como Missão Madrinha de Casamento, mostra que tem potencial de algum dia ser uma atriz muito interessante.

Contando também com a participação mais do que especial do ganhador do Oscar Sean Penn, A Vida Secreta de Walter Mitty se consolida a cada minuto de fita como um retrato maduro entre a realidade e a ficção. Então pessoal, o jeito é seguir o ABC de Walter Mitty. Veja o mundo. Os perigos que virão. Chegue mais perto. Sinta. Esse é o propósito da vida. Não percam essa fabulosa experiência cinematográfica que Jung iria amar. Bravo!
Continue lendo... Crítica do filme: 'A Vida Secreta de Walter Mitty'

10/12/2013

Crítica do filme: 'Como Não Perder essa Mulher'

Após o ano de 2012, com pelo menos três ótimos filmes no currículo, o artista californiano Joseph Gordon-Levitt (Lincoln) resolve ingressar na carreira de diretor apresentando o interessante drama Como Não Perder essa Mulher. O roteiro - que também é escrito pelo Robin do último filme de Christopher Nolan – fala com maturidade sobre a vida sexual de um jovem, tema que em muitos outros filmes é tratado com descaso e ignorância, principalmente pelos bobocas filmes pipocas hollywoodianos. O longa-metragem, estimado em U$$ 6 Milhões, conta com as presenças marcantes de Julianne Moore (Carrie, a Estranha) e da musa Scarlett Johansson (Hitchcock), ambas super divertidas em seus respectivos papéis.

A comédia cult Como Não Perder Essa Mulher acompanha Jon (Joseph Gordon-Levitt ), um clássico Don Juan dos dias de hoje que vive intensamente sua juventude e seus filmes pornôs. Levando uma vida sem relacionamentos sérios, consegue encontrar felicidade em simples movimentos noturnos cotidianos. Um dia, em mais uma dessas noites regadas a bebidas e mulheres, conhece Barbara (Scarlett Johansson), nascendo deste encontro uma paixão avassaladora. Após os enormes conflitos que atrapalham esse relacionamento, Jon conhece Esther (Julianne Moore) e a maturidade e os simples prazeres da vida são vistos de outra forma por esse curioso personagem.

Não é fácil abordar o sexo no cinema. Um dos grandes méritos de Gordon-Levitt e companhia é conseguir passar muita verdade e naturalidade nos ótimos diálogos que o filme possui. A história a princípio parece bobinha e seu personagem um eterno histrião. Porém, a cada nova sequência somos jogados e postos a pensar sobre as atitudes imaturas desse protagonista que com certeza vai dar o que falar no final da sessão. As coadjuvantes, já mencionadas no primeiro parágrafo, elevam a qualidade da fita, sendo muito bem aproveitadas pelo ótimo roteiro.

O filme é muito direto na hora de passar suas mensagens se tornando dinâmico mas também um pouco repetitivo. O lado positivo é que essa tática em chegar logo ao tema central da história, prende o público rapidamente (ajudado pelo forte carisma dos personagens). O lado negativo é que perto do fim da história percebemos que muitas mensagens se tornaram repetitivas e isso pode gerar um certo desgosto do espectador que entender assim.

Uma curiosidade marcou a pré-produção deste projeto. Joseph Gordon-Levitt escreveu o papel de Barbara especialmente para Scarlett Johansson. Imaginem a felicidade do jovem artista quando a musa de Woody Allen – e porque não dizer, de todos nós cinéfilos - concordou em estrelar o filme. Além disso, o personagem principal era para ser interpretado por Channing Tatum, porém, o diretor assumiu o posto alguns dias antes de começar a rodar o filme. Não é todo dia que podemos contracenar com a Scarlett não é Sr. Gordon-Levitt?


Brincadeiras à parte, esse trabalho merece ser conferido por todos os cinéfilos. Afinal, não é todo dia que somos brindados com argumentos inteligentes e fáceis de entender sobre um tema que corre nosso imaginário desde a juventude. Lembramos vagamente de Kinsey e outros tantos estudiosos da área que tentaram surpreender o público em dezenas de publicações. Usar o cinema para falar sobre o sexo desta forma madura é muito mais prazeroso para todos nós.   
Continue lendo... Crítica do filme: 'Como Não Perder essa Mulher'

Crítica do filme: 'Até que a Sorte nos Separe 2'

Fica difícil saber por onde começar a falar dessa nova comédia com cara, pescoço e pernas de global. Com um orçamento na casa dos R$ 6,5 milhões, Até que a Sorte nos Separe 2 deve chegar aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira com mais de 700 cópias. Se o número for esse mesmo, provavelmente baterá alguns recordes e se tornará o filme de maior lançamento da história do cinema nacional. A questão é: aonde foi parar a qualidade nesses 6 milhões gastos? O roteiro é pífio, as atuações arrastadas e a direção completamente perdida. Mais uma enorme decepção nacional do gênero comédia.

Gravado no Rio de Janeiro e em Las Vegas, nos Estados Unidos, Até que a Sorte nos Separe 2 volta a apresentar ao público as confusões do tijucano Tino e sua família. Dessa vez, o personagem mais sortudo do cinema nacional é salvo de uma eminente falência pela surpreendente herança deixada por um tio de sua esposa. Com R$ 50 Milhões no bolso e com a simples missão de jogar as cinzas do falecido tio meio do Grand Canyon, viaja com sua mulher Jane (Camila Morgado) e seus filhos para Las Vegas onde, novamente, se mete em diversas confusões no cassino do hotel onde está hospedado.  

O roteiro é terrível. Bobagens gigantescas, toscas, se misturam com diálogos sem o mínimo de veracidade e repletos de exageros. A overdose de besteiras que vemos nas telonas chega ao seu ápice nas sequências de MMA que só servem mesmo para promover esse esporte - nada violento (sarcasmo) - que por acaso tem preciosos minutos reservados em uma famosa emissora de televisão, que por acaso mais ainda tem uma certa influência neste filme. Por que será?  

A petropolitana Camila Morgado (a eterna Olga) tem a fácil missão de substituir a atriz Danielle Winits que por algum motivo não pode reviver a personagem que interpretou no primeiro filme. Isso é o que chamamos de desperdício de talento. Morgado faz de tudo para dar algum oásis à terrível história, porém, não consegue. O personagem de Leandro Hassum (Se Puder... Dirija!), Tino, é um dos mais caricatos e chatos da história do cinema nacional. A atuação do comediante é de dar pena, completamente perdido em cena, exagera de maneira impressionante em sua atuação. Uma boa seria Hassum voltar ao teatro, onde realmente é um dos grandes talentos brasileiros. Fazer cinema não é tão fácil assim e nós cinéfilos não somos pacóvios!

A única coisa de interessante, e rezo para que não tenha sido usado muito dos seis milhões nisso, é a participação especial (bem rápida) de Jerry Lewis. O comediante norte-americano de 89 anos, que ficou famoso já na década de 40 quando formou uma dupla espetacular com Dean Martin, interpreta uma espécie de mensagem de hotel, talvez uma homenagem a um de seus filmes mais famosos, O Mensageiro Trapalhão (1960). E saibam que filme Até que a Sorte nos Separe 2  só não ganhou nota zero por conta dessa homenagem.


Lançado ano passado, o primeiro filme levou mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas. Essa sequência baterá esse número facilmente. Mas será que é esse tipo de filme que o público quer assistir? Precisamos desligar nossa inteligência durante o pouco mais de 90 minutos de fita e rir de qualquer coisa que apresentam para nós? É justo com quem ama cinema e ainda acredita nas produções nacionais? Com R$ 6,5 Milhões, em vez de bobagens, poderiam dar a chance para dezenas de projetos mais interessantes que certamente existem e estão espalhados pelo nosso país. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Até que a Sorte nos Separe 2'

Crítica do filme: 'Minhocas'

Após os cinéfilos de todo o mundo conferirem A Noiva Cadáver, Fuga das Galinhas e Mary and Max, entre outros ótimos filmes que adotam a técnica do Stop Motion como modelagem para as telonas, chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira 13 uma aventura bem longe de ser uma experiência apavorante, estamos falando do cativante Minhocas. A corajosa produção é a primeira experiência de nosso cinema nessa técnica de animação adotada por grandes diretores de todo o planeta, como o genial Tim Burton.

Inspirado em um curta-metragem homônimo, vencedor de 11 prêmios no Brasil, incluindo Animamundi e o Festival de Gramado, Minhocas conta a história de Júnior, um menino sonhador que sofre por não conseguir se incluir nas conversas, jogos e animações da turminha que conhece. Certo dia, após ser desafiado por alguns colegas, é cavado para fora da terra onde vive, indo parar em um lugar novo e perigoso. Assim, vive uma série de aventuras ao lado dos amigos Nico e Linda procurando um jeito de voltar para casa.

Como toda a animação, a dublagem é um ponto fundamental para o sucesso com o público. Os dubladores envolvidos nesse projeto conseguem captar muito bem a essência de cada personagem, resultando em ótimas cenas. O público, tanto o infantil como o adulto, recebe e interage com os acontecimentos da história. O roteiro se divide em partes para a criançada e em partes para os adultos. Essa divisão, gera uma desencaixe nas interações pois existem algumas mensagens que os baixinhos vão conseguir entender. Porém, esse argumento não desqualifica de maneira nenhuma a produção.

O interessante projeto, longe de ser uma obra-prima, consegue com poucos elementos chegar ao seu objetivo de passar uma mensagem educativa. Entre os rasos diálogos, encontramos mensagens bem profundas sobre ecologia, cidadania e amizade. Os próprios personagens são cativantes por conta, exatamente, dessas interações que chegam aos ouvidos da criançada, de forma leve e descontraída. O papai e a mamãe que forem levar os filhos para conferir essa animação irão sentir que conseguiram em um só evento, divertir e levar uma mensagem bonita para sua família. Não percam!


Continue lendo... Crítica do filme: 'Minhocas'

01/12/2013

Crítica do filme: "Última Viagem a Vegas"

Reunindo um elenco de estrelas do cinema e falando sobre a maturidade em aproveitar a vida, o cineasta Jon Turteltaub (A Lenda do Tesouro Perdido) chega com seu novo trabalho aos nossos cinemas, a comédia Última Viagem a Vegas. A terceira idade é o foco principal deste longa-metragem roteirizado por Dan Fogelman (Amor a Toda Prova), que tenta se sustentar com diálogos cômicos e uma boa atuação de Kevin Kline (Um Peixe Chamado Wanda). Mesmo com alguns elementos envolventes, a história tem altos e baixos. Do meio pra frente parece sem direção mas as situações hilárias que passam os velhinhos devem tirar bons risos da plateia.

Na trama, quatro amigos de infância, que hoje já estão na fase dos 70 anos, resolvem se reencontrar após anos sem contato para comemorar a despedida de solteiro de um deles em Las Vegas, o ricaço Billy (Michael Douglas). Além de Billy, o grupo é formado por: Sam (Kevin Kline), Archie (Morgan Freeman) e Paddy (Robert de Niro). O primeiro está infeliz e depressivo no casamento, o segundo teve muitos problemas de saúde além de ser tratado como criança pelo filho, o terceiro é um viúvo ranzinza e infeliz que tem contas a acertar com Billy. Esse grupo vai se meter em altas confusões pelas noites na famosa cidade dos cassinos.  

Talvez o menos famoso da turma, Kevin Kline, leva o filme nas costas. Seu personagem é o único que consegue ter excelentes momentos na trama. O ator nova-iorquino esbanja categoria e improvisos.  Robert De Niro e Michael Douglas ficam engessados nos seus respectivos papéis, não conseguindo desenvolver de maneira convincente seus personagens. O primeiro tem até uma cena bem legal que lembra o personagem Jake La Motta, interpretado por De Niro no filme Touro Indomável, mas decepciona como um todo. Já Morgan Freeman, faz de tudo para desenvolver seu personagem mas Kevin Kline é quem acerta bastante com seu excêntrico velhinho que ganha um Viagra e uma camisinha da esposa pra curtir Las Vegas.

Em algumas sequências, principalmente em uma específica da boate, há um uso excessivo de merchandising de famosas bebidas alcoólicas. O diretor poderia ter sido um pouco mais delicado para incluir essas marcas no longa, ficou muito exposto e gratuito da maneira que foi filmado. Muitos dirão que esse trabalho é um Se Beber, Não Case sênior, cheio de bebidas e mulheres bonitas. Realmente os filmes possuem vários elementos em comum mas por conta da qualidade de seu elenco, Última Viagem a Vegas é muito mais maduro na hora de passar sua mensagem. Pra quem gosta de comédia, o filme estreia dia 06 de dezembro em todo o Brasil.



Continue lendo... Crítica do filme: "Última Viagem a Vegas"

29/11/2013

,

Crítica do filme: 'Carrie, a Estranha' (2013)

Depois de cinco anos longe das telonas e tendo no currículo o excelente filme Meninos Não Choram (que deu o primeiro Oscar para a atriz Hilary Swank), a cineasta norte-americana Kimberly Peirce topou o desafio de recriar o universo de uma das histórias mais famosas de Stephen King, Carrie, a Estranha. Com pequenas adaptações para a nossa época, fato que já diferencia esse remake do seu original dirigido por Brian de Palma em 1976, e uma atuação convincente de Chloë Grace Moretz (Kics-Ass 2) essa nova releitura possui bons argumentos para convencer o público a partir do dia 06 de dezembro nos cinemas.

Na história, conhecemos Carrie White (Chloë Grace Moretz) uma jovem que entrou no colégio recentemente a pedido da justiça já que antes recebia apenas aulas em casa. Sua mãe Margaret White (Julianne Moore) é uma costureira e fanática religiosa que impõe uma severa disciplina de sua jovem filha. Certo dia, Carrie sofre um intenso bullying de sua classe dentro da banheiro e a partir deste fato vai descobrindo que possui poderes especiais que culminam no terrível dia de sua formatura na escola.

O conflito familiar na casa 47 é mostrado de forma intensa, com direito a agressões verbais e físicas. Carrie começa a bater de frente com sua mãe e a argumentar com eficácia, principalmente quando a personagem amadurece começando a estudar e entender melhor seus poderes. A questão é que ela ainda é jovem e confusa, tendo apenas como porto seguro e desabafo algumas conversas com sua professora de educação física, Ms. Desjardin (Judy Greer).

Chloë Grace Moretz volta a atuar bem em um remake. No ano de 2010, a jovem atriz norte americana de apenas 16 anos surpreendeu os cinéfilos com uma bela atuação na pele da vampira Abby, no suspense Deixe-me Entrar, baseado na fita sueca de Tomas Alfredson (O Espião Que Sabia Demais), Deixe Ela Entrar. Um dos pontos negativos é a atuação de Julianne Moore (Amor a Toda Prova) que exagera na composição de sua personagem mas não compromete a história.

Como qualquer remake, nem tudo é igualzinho ao original. Nesse caso, a essência da história é preservada, além de algumas cenas clássicas. Os efeitos especiais, detalhe que não tinha na fita original, são muito bem executados e acrescentam, sem exageros, bastante às sequências. Carrie, a Estranha 2013, é um bom filme de terror camuflado de suspense sobrenatural.  Pra quem gosta do gênero, deve agradar.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Carrie, a Estranha' (2013)