06/01/2014

Crítica do filme: '12 Anos de Escravidão'



Um dos grandes favoritos para conquistar muitas estatuetas do Oscar na próxima cerimônia da maior festa do cinema é um filme brilhantemente dirigido, com atuações primorosas e uma história que vai comover você por inteiro. 12 Anos de Escravidão, terceiro longa-metragem de Steve McQueen, e baseado na história real escrita por seu protagonista Solomon Northup, passa perto de ser uma obra-prima e deve agradar todo aquele que bate no peito e diz que adora filmes como Ben-Hur e Um Sonho de Liberdade.

12 Anos de Escravidão conta a incrível história real da luta de um homem para sobreviver e enfim encontrar sua liberdade. O longa é ambientado antes da Guerra Civil dos Estados Unidos, e assim conhecemos o protagonista Salomão Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro e livre do norte de Nova York. Certo dia, após aceitar trabalhar em Washignton, é raptado e vendido como escravo. A partir desse fato, sua vida entra em declínio e passa a viver situações humilhantes, cruéis, assim como gentilezas inesperadas de algumas pessoas que o tem como escravo. Tentando se manter o mais racional possível, o protagonista procura a sobrevivência diária em busca de sua liberdade tirada.

A atuação do ator britânico Chiwetel Ejiofor é uma das maiores interpretações dos últimos anos. Na pele do impactante protagonista, o artista de 36 anos chega ao ápice de sua carreira, deixando qualquer esperança de outro ator ganhar o Oscar se perder desde as primeiras cenas sem diálogos, onde o olhar diz mais que mil palavras, até as últimas quando nascem do destino uma chance de ter sua tão sonhada esperança de volta.

Preocupado com os mínimos detalhes, para o espectador poder acompanhar mais de perto essa comovente história, o diretor britânico Steve McQueen executa um trabalho inaudito. Em todas as cenas, somos reféns do drama do personagem e, comovidos com toda aquela humilhação, torcemos para um desfecho no mínimo digno para esse corajoso ser humano.     Em breve, esse cineasta (com nome de astro hollywoodiano) será o diretor preferido de muitos cinéfilos. Merece não só uma indicação ao Oscar mas levar muitos outros prêmios por esse belo trabalho.

Depois dos excelentes trabalhos em Hunger e Shame, o ótimo ator alemão Michael Fassbender volta a fazer uma dobradinha de sucesso com McQueen. Com um semblante duro e ações de tamanha insânia, Fassbender rouba a cena em muitos momentos e assim, como todos vão perceber, tem muitas chances de ter a estatueta mais cobiçada pelos artistas de cinema em sua estante, concorrendo na categoria de Melhor Ator Coadjuvante na próxima cerimônia do Oscar.

“Devemos construir diques de coragem para conter a correnteza do medo.” Essa frase do influente Martin Luther King elucida bem todas as características deste homem chamado Salomão Northup. Cativante, capaz de inspirar. Excruciante, capaz de gerar indignação. Fabuloso, capaz de tornar esse trabalho um dos retratos mais verdadeiros e cruéis sobre uma época repugnante da história mundial. Vocês não podem deixar de conferir, um filme inesquecível. Bravo!
Continue lendo... Crítica do filme: '12 Anos de Escravidão'
,

Crítica do filme: 'Fruitvale Station: A Última Parada'



Em seu primeiro longa-metragem, o cineasta californiano Ryan Coogler surpreende o mundo do cinema com um poderoso drama baseado em fatos reais que gera indignação e calafrios do início ao fim. Fruitvale Station: A Última Parada é aquele tipo de filme que faz o espectador não conseguir desgrudar os olhos da telona. A impactante trama não deixa de ser uma bandeira contra a violência policial e o despreparo da segurança, que ainda ocorre em muitas grandes cidades ao redor do planeta.

O vencedor do importante prêmio Um Certo Olhar, no último Festival de Cannes, conta a história de Oscar, um rapaz de 22 anos que busca redenção em sua vida. Demitido do seu honesto emprego, busca forças na sua carinhosa família para não voltar ao mundo das drogas. Mesmo com o passado triste batendo em sua porta muitas vezes, Oscar possui um desejo gigante de ser um melhor pai e um parceiro melhor para sua namorada. No dia 31 de dezembro de 2008, ele e sua família serão protagonistas de uma das cenas mais chocantes, dramáticas e absurdas da história da polícia norte-americana.

Fruitvale Station: A Última Parada é um filme independente. Partindo desse ponto, já sabemos que a força cênica precisa funcionar, exatamente para conseguir criar toda a atmosfera de sofrimento que a trama pede. A vencedora do Oscar Octavia Spencer domina o filme com sua sofrida, controlada e bastante racional personagem. Aos olhos dessa mãe em desespero por dentro mas controlada por fora, o público se sente, cada minuto que passa, mais próximo desta trágica história.

O projeto como um todo, pode ser visto como uma grande crítica às injustiças do destino, ao despreparo de policiais e ao preconceito que ainda cisma em sobreviver nesse mundo. Ao causar indignação do público, ou para todos que não conheciam essa história, o diretor consegue que a mensagem seja passada de forma muito objetiva nas telonas. Fruitvale Station: A Última Parada é um filme que pode e deve ser usado em salas de aula, principalmente em disciplinas ligadas à sociologia e direito. Essa é, sem dúvidas, uma fita que todo cinéfilo precisa conferir.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Fruitvale Station: A Última Parada'

02/01/2014

Crítica do filme: 'Breathe In'



As músicas mais bonitas são aquelas que chegam ao coração de alguém que nos entende. Depois de conquistar plateias no mundo todo com o tênue romance Loucamente Apaixonados, o cineasta californiano Drake Doremus dirige e assina o roteiro da atraente fita Breathe In. Falando sobre a redescoberta da arte do viver em meio a um caos familiar derivado das conseqüências de atos naturais e impensáveis, o drama possui um enredo envolvente que vai conquistar o público do primeiro ao último minuto de fita.

Na história, passada em uma pequena cidade de Nova Iorque, conhecemos a família de classe média do professor de música Keith (Guy Pearce). Aparentemente, são três pessoas que são felizes e conseguiram se acertar na vida depois de enfrentar certas dificuldades financeiras no passado. Certo dia, Sophia (Felicity Jones), uma estudante estrangeira chega de Londres para fazer intercâmbio e se hospeda na casa da família, despertando em Keith uma vida em que tenha, de fato, vontade de fazer as coisas.

A profundidade em que chegam os personagens quando são atingidos por novas perspectivas é visto nas telas com uma verdade tocante. A trama gira toda em cima de Keith que teve uma vida cheia de alegria interrompida muito cedo por conta da gestação de sua namorada e atual mulher. Um certo complexo de juventude paira pela cabeça dele com a chegada da linda Sophia. Qualquer lembrança sobre como era mais divertida sua vida vivendo de música e na cidade grande, é motivo para um isolamento instantâneo que só Sophia parece entender.

Uma relação madura e carinhosa de desejo entre homem e mulher (e também pela arte que conhecem) vai dominando os dois personagens. Um encontra no outro um porto seguro. O jeito que se olham, aquele brilho no olhar, a maneira como sentem e se identificam com a música levam essas duas almas a um relacionamento de respeito, desejo, confiança e carinho, por mais que o restante dos envolvidos (mais precisamente a filha imatura e a passiva mulher de Keith) sofram as conseqüências desses atos.

Selecionado no Festival de Sundance em 2013, Breathe In é um daqueles trabalhos em que a força dos personagens faz a riqueza da história. As melancolias, os dramas, as situações constrangedoras são passadas ao público de maneira muito verdadeira. Os últimos 20 minutos de fita são cheios de momentos intensos, dramáticos, surpreendentes e avassaladores. Vocês não podem perder esse ótimo filme, afinal, quem nunca buscou novos sentidos para sua vida?
Continue lendo... Crítica do filme: 'Breathe In'

01/01/2014

, ,

Crítica do filme: 'O Grande Herói'



Depois de dirigir o horroroso Battleship: A Batalha dos Mares, o cineasta Peter Berg surpreende o mundo cinéfilo comandando o show de um dos melhores filmes de guerra dos últimos tempos, O Grande Herói. Os intensos dias de preparação de um grupo de Seals são postos em prática em uma terrível batalha física e psicológica nas montanhas do Afeganistão. Orçado em mais de U$$ 50 Milhões e com um elenco que corresponde a todo instante, o projeto tem tudo para ser aclamado por crítica e público aqui no Brasil, por mais que o nome em português não corresponda em nada ao que o filme mostra.

Na trama, acompanhamos a saga de quatro soldados de um grupamento especial da marinha norte-americana que precisam tomar uma decisão importante, em pleno território inimigo, de vida ou morte, quando uma operação é comprometida. Sendo encurralados por um pelotão de centenas de talibãs, com artilharia pesada, correm contra o tempo para buscar ajuda com o que restam de munições e sanidade mental.

A direção de Peter Berg é excelente, transportando o público para dentro daquela batalha de sobrevivência a todo instante. Parece que o contestado diretor resolveu de fato fazer um cinema de qualidade, onde não só as explosões, bombardeios e tiroteios comandam a trama. Nesse projeto, diferente dos demais, há o fator drama muito desenvolvido e captado pelas lentes certeiras do cineasta nova-iorquino. A cena do avião militar sendo destruído por um míssil lançado pelos inimigos é aterrorizante, angustiante e impressiona pelo realismo obtido.

O conflito, e grande clímax do filme, que se instaura já na metade do longa-metragem é se eles devem ou não matar aquelas pessoas que atrapalharam a missão. Uma mistura de medo, incerteza e bom senso tornam os acontecimentos seguintes guiados mais pela emoção do que pela razão. Os horrores de uma guerra são vistos pelos olhos cinéfilos da maneira mais real possível. O drama dos soldados e a luta pela sobrevivência tomam contornos extremos e surpreendentes.

A breve apresentação de um pouco da história dos personagens é o suficiente para entendermos suas atitudes futuras na história. Mesmo reunindo um grande número de rostos famosos do mundo do cinema, como: Mark Wahlberg, Taylor Kitsch, Emile Hirsch, Eric Bana e Ben Foster, ninguém que aparecer mais do que o outro, o que transforma O Grande Herói em um ótimo drama de guerra sobre um grupo de pessoas.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Grande Herói'

Crítica do filme: 'O Maravilhoso Agora'



Sonhos para quem sonha. Futuro para quem trabalha para ele. Mas, que tal os dois? Baseado na obra homônima de Tim Tharp, a grande surpresa do último Festival de Sundance, The Spectacular Now, é muito mais do que um filme maduro sobre o retrato da juventude. Dirigido por James Ponsoldt (que comandou o interessante Smashed: De Volta a Realidade), o drama promete conquistar todo o tipo de público principalmente por conta de seus diálogos para lá de envolventes.

Na trama, conhecemos Sutter (Miles Teller) um jovem norte-americano que simplesmente não quer crescer. Desafios, dificuldades, futuro são algumas das palavras que não existem para ele. Certo dia, após uma bebedeira danada, acorda no quintal de Aimee (Shailene Woodley), uma garota que passa despercebida por todos nos corredores do colégio. Mesmo com o encontro inusitado, nasce uma história de amizade e amor que modifica a vida de Sutter. O conflito existencial de não ter a mínima idéia de como vai ser seu futuro vai transformando a cabeça do jovem e ele precisa cada vez mais entender que a maior dificuldade da vida dele sempre foi ele mesmo.

O contraste dos personagens é um ponto interessante a se destacar. Aimee é uma delicadeza em pessoa que acabara de passar para a faculdade, sonha em trabalhar na Nasa e ter uma família perfeita. Já Sutter é um acomodado, malandro por si só, que não almeja nada além de piadas prontas para seu vasto repertório de conchavos. Os dois passam por problemas com suas respectivas famílias, a primeira por ter que lutar por sua independência acadêmica e o segundo por ter sido abandonado pelo pai muito cedo prejudicando sua relação com a mãe.

Não é um absurdo dizer que o filme lembra em alguns momentos (claro, cada qual no seu qual) os excelentes diálogos do clássico Antes do Amanhecer, principalmente por conta da maturidade e harmonia que são executadas as cenas pelos protagonistas.  O público é brindado com um enorme carisma que eles passam. Shailene Woodley e Miles Teller são os grandes responsáveis por toda essa positiva interação. Os jovens artistas dão um verdadeiro show em cena. Orçado em U$$ 2,5 Milhões, o longa-metragem ganhou o prêmio especial do Júri no Festival de Sundance 2013 em uma categoria de desempenho dos atores em cena.

Dos mesmos produtores de 500 Dias com Ela, The Spectacular Now é um daqueles filmes que todo cinéfilo vai gostar de ter em seu acervo.  Falando sobre a arte do sonhar e do amadurecer, a história vai cativar até os corações mais difíceis de agradar. Imperdível.



Continue lendo... Crítica do filme: 'O Maravilhoso Agora'

31/12/2013

,

Crítica do filme: 'Até o Fim'

O que fazer quando tudo está perdido, exceto a alma e o corpo? Depois de dirigir o excelente Margin Call - O Dia Antes do Fim, o diretor norte americano J.C. Chandor chega aos cinemas com um drama que lembra muito outros filmes de sobrevivência mas com o pecado de não ter uma apresentação decente sobre a história de seu protagonista. All is Lost conta apenas com Robert Redford na frente das câmeras e isso infelizmente é muito pouco para agradar ao público.

Na trama, acompanhamos um experiente velejado que precisa enfrentar o maior desafio de sua vida quando, em alto mar e sozinho, em seu barco atingido por um container gigante e repleto de sapatos. Com sérias avarias em seu barco, precisa lutar dia e noite para sobreviver. Não sabemos a história do protagonista, nem ao menos seu nome. Isso atrapalha a interação com o público. Uma breve introdução ajudaria muito a criar laços de empatia, até mesmo para aumentar a torcida para um desfecho feliz e suporte para aguentar as maçantes cenas de aventura em alto mar.

O veleiro é moderno e conta com toda a tecnologia disponível nos dias de hoje. Mesmo assim, não é páreo para a força da natureza e aos acasos que o destino coloca em nossa frente. Por conta do acidente, se transforma em uma jangada pouco operante. Mesmo tendo completo domínio sobre a embarcação, o protagonista precisa tomar rápidas e difíceis decisões. O personagem demonstra uma frieza muito grande ao enfrentar esse contratempo. Parece que assim que ocorre a fatalidade, liga o seu botão da razão e esquece a emoção.


Respiração, transpiração e expressões de tensão são alguns dos poucos movimentos que percebemos do protagonista. Se Tom Hanks tinha o Wilson como companhia (no ótimo filme O Náufrago), o veterano Robert Redford tem apenas o esforço e talento de tentar passar toda a agonia e desespero de seu protagonista. Mesmo o filme tendo uma duração aceitável para trabalhos do gênero, falta muita coisa para agradar aos cinéfilos. 
Continue lendo... Crítica do filme: 'Até o Fim'