31/05/2014

Crítica do filme: 'Anna'



E se você pudesse entrar nas memórias de outra pessoa? Dirigido pelo espanhol Jorge Dorado – um grande participante de produção dos filmes de Almodóvar – Anna é um daqueles filmes de suspense que tenta fazer o público passar todo o tempo tentando decifrar seus esquisitos mistérios. A fórmula dá certa no arco inicial apenas. Uma pena que o longa-metragem encarna o espírito “Lost” e seu desfecho é apenas trivial demais sem responder a todas as respostas que queremos. Se Nolan visse esse filme, se identificaria em partes – levando em conta suas devidas proporções – com sua obra-prima, A Origem.

Na trama, que não é no futuro, acompanhamos o detetive de memórias John (Mark Strong). Após sofrer um trauma terrível mal explicado, começa a se desestruturar emocionalmente, perdendo seu emprego e sua família. Certo dia, consegue a chance de um recomeço aceitando o caso da misteriosa Anna, uma jovem que vive trancada dentro de casa pelos pais. Conforme o tempo passa, o detetive começa a buscar explicações para situações assustadoras no passado da menina.

O protagonista é muito bem interpretado pelo bom ator Mark Strong. Às vezes parece que o filme se resume a isso. O roteiro tenta ser brilhante mas apresenta falhas a todo instante (que ficam mais evidente ao término do longa). A direção, responsável por tentar criar sequências de tensão, opta por sustos imbecis camuflados de estruturas fantasmagóricas. A famosa premissa de pensar certo e executar totalmente errado.

O público não sente medo, não chora, não ri. Se sente como uma árvore. Torce para terminar as sucessões de clichês de outros filmes do gênero. Um filme de suspense precisa te surpreender de uma maneira tão marcante que te deixar louco para conferir a próxima sequência, isso acontece apenas no início do filme. Somos reféns de uma boa interpretação que infelizmente não consegue segurar o filme como um todo. Dos mesmos produtores do ótimo “A Orfã”, “Anna” deverá seguir o caminho triste para produções que não agradam nem as distribuidoras, a prateleira empoeirada das locadoras que ainda existem.
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28/05/2014

Crítica do filme: 'A Culpa é das Estrelas'

Pense na beleza de tudo a seu redor... e seja feliz. Para alegria de Milhares de leitores mundo a fora, chega aos cinemas o filme A Culpa é das Estrelas, baseado no Best-seller homônimo de John Green. Com direção de Josh Boone (do ótimo Ligados pelo Amor) e com jovens rostos, da nova geração de atores hollywoodianos, o aguardado longa-metragem é uma grande aula carismática de como combater as tristezas. Os atores doam-se ao máximo para manter o carisma dos personagens das folhas do livro tão famoso de Green. A emoção toma conta a todo instante do ambiente, é um filme forte, praticamente sem saída para um final feliz.

Na trama, conhecemos uma simpática jovem chamada Hazel Grace (Shailene Woodley) , uma universitária que tem câncer em estágio avançado. Hazel resolve freqüentar um grupo de apoio à doença e nessa reunião de jovens com problemas parecidos, conhece Augustus Waters (Ansel Elgort). O entrosamento logo de cara é maravilhoso, ambos se apaixonam perdidamente e juntos precisam enfrentar as tristezas e armadilhas do destino.

O mundo não é uma fábrica de desejos, tristezas farão parte de toda nossa trajetória. A história é muito profunda quando aborda esses desalentos. Assistindo Alien ou Buffy – A Caça Vampiros, entendendo melhor a relação dos pais dos protagonistas, conhecendo outros personagens fascinantes, uma enxurrada de particulares emoções é transmitida ao público de maneira simples sem ser em nenhum momento indelicado ou exagerado. Quando acaba a sessão, a vontade de ler o livro de novo, ou pela primeira vez, será imensa.

A produção do filme é inteligente quando consegue explorar todo tipo de assunto em uma história tão popular como essa. A maneira como é desenvolvida essa linda fábula sobre o amor e amizade pode até ter muitos elementos necessários em filmes do gênero mas percebemos um grande esforço de todos os envolvidos em recriar o máximo do que acontece no livro nas telonas. Com certeza John Green deve estar orgulhoso de todo o trabalho feito por Boone, Woodley e Elgort, principalmente.


A amizade levou ao amor. O amor os levou a uma eternidade, algo como um pequeno infinito. Quem não vai se emocionar com algo assim tão profundo e bonito? Preparem os lenços a história tem uma alta capacidade de enternecer. O filme não vai ganhar o Oscar, nem Cannes, nem Berlim. Ele vai ganhar seu coração! Não percam. O.K?
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27/05/2014

Crítica do filme: 'O Lobo Atrás da Porta'

O mal vem de cada lugar que nunca imaginamos. Uma das sensações do último Festival do Rio de Cinema, O Lobo Atrás da Porta é um daqueles filmes que vocês vão demorar a esquecer. Dirigido e escrito brilhantemente pelo cineasta da nova geração Fernando Coimbra, o filme flutua entre o suspense e o drama, lembrando um pouco os moldes dos filmes nórdicos, principalmente por conta das revelações bombásticas de seu desfecho eletrizante.

Na trama, conhecemos Bernardo (Milhem Cortaz), um simpático trabalhador que vive no subúrbio carioca com sua mulher Sylvia (Fabiula Nascimento) e sua única filha. Certo dia, mais precisamente na Estação de Trem em Marechal Hermes conhece uma linda jovem chamada Rosa (Leandra Leal) com quem mantém um ardente romance extraconjugal. Tudo ia bem até que sua filha é seqüestrada e durante o interrogatório policial, percebemos que muitos mistérios estão escondidos nesse perigoso triângulo amoroso.

O público é hipnotizado pela instigante trama bolada por Coimbra. Entre o Vai e vem dos personagens, histórias verdadeiras e muitas mentiras são aproveitadas de maneira genial pelo diretor. Por meio de flashbacks, vamos descobrindo lentamente quem é o verdadeiro lobo atrás da porta. O filme certamente vai figurar entre os melhores títulos do cinema nacional dos últimos tempos. Um suspense de alto nível, poucas vezes visto em nossa cinematografia, que deve ser um banho de água fria em quem adora criticar o cinema nacional.

O elenco está inspirado. Juliano Cazarré e seus diálogos hilários colhendo depoimentos das testemunhas, bebendo seu café xexelento levam o público a um oásis cômico em meio ao poderoso drama. Milhem Cortaz e Fabiula Nascimento sustentam muito bem seus personagens e desenvolvem com louvor o relacionamento conjugal difícil que Sylvia e Bernardo vivem. Mas o verdadeiro show é de Leandra Leal. Sua personagem, peça chave na história, é uma desequilibrada, psicótica, manipuladora que sonha viver um vida que não é a sua. As inflexões da personagem de Leal convencem o público, sinal da perfeição que Leandra encontra quando em cena.


O Lobo Atrás da Porta, juntamente com o filme de Rafael Primot, Gata Velha Ainda Mia, mostram que no Brasil existem novos diretores capazes de mudar o rumo do nosso cinema e trazer cada vez mais para perto o nosso próprio público que foi deixado por anos a mercê de comédias bobocas ou historinhas mais do mesmo. Esses novos profissionais, são cinéfilos, chegam cheios de referências e boas tramas. Tudo o que estávamos precisamos para nos orgulhar de um produto cinematográfico de qualidade, 100% Made in Brasil. Bravo!
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Crítica do filme: 'No Limite do Amanhã'

E se todo dia fosse o mesmo dia? Depois de assinar a direção do competente filme de ação A Identidade Bourne e do interessante Jogo de Poder, o cineasta nova-iorquino Doug Liman volta aos filmes do gênero, dessa vez para dirigir uma ficção científica protagonizada pelo Top Gun Boy Tom Cruise. No Limite do Amanhã é mais daqueles filmes que apresentam efeitos visuais de última geração, cenas de ação muito bem realizadas mas com um roteiro sonolento/confuso recheado de clichês e tentativas de sorrisinhos carismáticos de seu protagonista. É o típico pipocão norte-americano mais uma vez chegando aos cinemas brasileiros.

Na trama, ambientada em um futuro apocalíptico, acompanhamos um soldado norte-americano da área de publicidade do exército, chamado Cage (Tom Cruise), que nunca lutou em uma guerra. Depois de uma reunião surpreendente, é mandado forçadamente para a linha de frente da maior guerra da história mundial. Só que quando ele falece no campo de batalha, milagrosamente consegue despertar exatamente na manhã do ocorrido, rotina que se instaura a cada nova morte, deixando Cage com a obrigação de vencer a guerra contra os alienígenas contando com a ajuda da soldado modelo Rita (Emily Blunt).

Uma das coisas que quase encaixa no filme são as gracinhas e piadinhas que ganham destaque a cada novo despertar do personagem principal. Porém, é muito pouco e por conta das sucessivas repetições de acontecimentos, acaba cansando os olhos do espectador. Mesmo exibindo e utilizando seu habitual carisma, Tom Cruise não consegue desenvolver bem seu personagem, parece uma cópia de outros personagens filmes do ator. A participação da coadjuvante Emily Blunt é muito mal aproveitada. Sua personagem não ganha contextos, nem passado, o que dificulta a interação com o público. Doug Liman parece se importar muito com as máquinas e os efeitos especiais, muitas vezes para se esquecer dos personagens (um erro muito comum em filmes hollywoodianos de ficção científica).


No Limite do Amanhã pode até agradar quem curte filmes de ação. A parte técnica é eficaz. Tiros, explosões e muita guerra não faltam nessa produção multimilionária. Tom Cruise é uma especialista em pipocões do gênero. Salva o planeta mas deixa a desejar no quesito cinema. De qualquer maneira, gostando ou não, o público pode notar uma falta de personalidade, brilho próprio. É uma espécie de Gigantes de Aço misturado com Transformers. Que o Sr. Cruise seja mais do que mil sorrisos e seu próximo filme. Não foi dessa vez Tom, não foi dessa vez...
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15/05/2014

Crítica do filme: `Sob a Pele`


Os 10 primeiros minutos mais instigantes do ano já tem um dono. Depois do esquisito Reencarnação e do espetacular Sexy Beast, o cineasta britânico Jonathan Glazer volta ao mundo do cinema de maneira triunfal para contar ao público uma história filmada de maneira incomum sobre a visão da vida terrestre pelos olhos de uma alienígena.  É um filme estranho, sem dúvidas, mas longe de ser algo ruim isso. Esse trabalho, no mínimo interessante, vai gerar muitas discussões ainda dentro das salas de cinema logo que os créditos começarem a subir.   

A protagonista, caminhando pelas ruas, observa, sente, entende melhor aquelas pessoas e caça. O filme é um road movie de ficção científica que tenta passar uma mensagem sobre nossa própria natureza. Questões existenciais são abordadas a todo instante. Toda a nudez dos personagens vista em cena, não choca, nem é vulgar. Há um grande contexto para o que vemos em todas as sequências. A leitura corporal, entendida pelo elenco, principalmente Scarlett Johandson, é necessária para o contexto da história. É um filme de grande doação dos artistas envolvidos. Não seria um absurdo dizer que Sob a Pele marca a melhor atuação da linda Scarlett no mundo do cinema.

O roteiro é muito profundo quando explora a descoberta do corpo humano gerando na protagonista um desejo primitivo de desejo e de se igualar aos humanos. Se sentir viva na terra. A direção é extremamente competente, com ar kubrickiano. Movimentos de câmera que criam muita tensão a todo instante. Nos sentimos dentro da tela a cada novo segundo.  Muita gente vai assistir porque já é conhecido do público que Scarlett Johandson aparece nua em boa parte do filme. Porém, acreditem, o filme é muito mais que uma das mulheres mais desejadas do mundo despida.

Os mistérios contidos no filme não são superiores a um dos maiores suspenses do mundo cinematográfico: Como explicar a beleza diferenciada de Scarlett Johandson? Nem Stephen Hawking ou mesmo o Sheldon Cooper conseguiriam explicar. O diretor Jonathan Glazer buscou literalmente uma mulher de outro planeta para ser sua protagonista e acertou em cheio! Bravo!
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13/05/2014

Crítica do filme: 'Godzilla (2014)'

Custe o que custar, proteja sua família. Se chegam para você e perguntam qual o filme que tem um show de bombas letais, explosões a todo instante e muitos clichês, o que você responde? Transformers! Mas dessa vez, o “coitadinho” do Michael Bay ganhou um forte concorrente na hora de encher lingüiça nas emoções bombásticas em um roteiro de longa-metragem, Godzilla (2014). O novo filme do horroroso monstrengo oriental deixa o espectador refém de um novo “Alien vs Predador” e definitivamente prova que a história criada não é, nem de longe, do tamanho do bichinho.

Nessa nova roupagem de Godzilla, somos enviados para a costa do Japão ano atrás paa conhecermos Joe Brody (Bryan Cranston), um engenheiro que vê sua família desmoronar por conta de uma tragédia inexplicável com os reatores nucleares dos quais é o responsável. Anos se passam e o amargurado engenheiro continua sua busca por explicações para a tragédia, dessa vez acompanhado de seu filho Ford Brody (Aaron Taylor-Johnson). O que ele não esperava era ser surpreendido com a aparição de um enorme monstro e um outra raça jamais vista na Terra.

Após o bom início o clima de descontrole do roteiro aliado ao desespero cênico ds atores em seus respectivos personagens, deixam a paciência de qualquer pessoa pelo limite. O filme decola em seu início mas de repente cai em um limbo e não sai mais de lá. A história dos protagonistas é muito mal costurada após a passagem de tempo. Aaron Taylor-Johnson e Elizabeth Olsen, dois bons atores da nova geração, não encontram entrosamento entre seus personagens.


Os pontos positivos (sim! Há alguns!) são os ótimos efeitos especiais e a boa trilha sonora do craque Alexandre Desplat. Mesmo com esses pontos sendo destacados, é muito pouco para uma história que sempre teve grande potencial. Resumindo, em meio a essas palavras, a única coisa que temos certeza é a de que Godzilla vai ser taxado como um super-herói sem partido político e se ele não quiser...não teremos Copa! Cuidado Dilma! 
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21/04/2014

Crítica do filme: 'Pelo Malo'



“Eu não te amo.” “Eu também tão pouco.” Ouvir esse pequeno diálogo já causaria certo espanto de qualquer pessoa que preza pelo carinho, pelo amor. Saber que isso é fruto de uma discussão entre uma mãe e seu filho causa espanto, causa dor. Vem da Venezuela um dos filmes mais impactantes dos últimos tempos quando pensamos em relações familiares, Pelo Malo.  Dirigido pela cineasta Mariana Rondón, o longa-metragem venezuelano é uma excursão rumo ao mundo dos sonhos daqueles que possuem uma realidade dura, cheia de preconceitos. Nesse caso, o sonhar é viver.

Na trama conhecemos Junior e Marta, filho e mãe que nunca se entenderam. Junior tem nove anos e acha que tem cabelo ruim, e por isso quer alisá-lo para sua foto no álbum de formatura principalmente para ficar parecido com um cantor famoso. O problema é que isso gera mais conflitos com sua mãe, uma mulher sofrida que sofre por angústias e atos do passado. Quanto mais Junior tenta melhorar o visual pelo amor da mãe mais ela o rejeita. Até que a criança é  forçada a tomar uma decisão extremamente dolorosa.

Olhando da sacada do conjunto habitacional onde mora, Junior observa os vizinhos, brinca com sua realidade e sonha. O jovem tem um inusitado desejo de se tornar um cantor de músicas dançantes e de cabelo liso. Seus lapsos de alegria ocorrem quando encontra sua vizinha e quando visita sua avó: alisando o cabelo, cantando e dançando ao melhor estilo Simonal.  O olhar do menino para sua mãe é um olhar de medo, apreensão, em busca sempre de qualquer tipo de aprovação.

A mãe é uma figura importante na trama. Desiludida com a vida que leva, recém-desempregada, viúva, parece muitas vezes descontar todas suas angústias em seu filho mais velho. Ela possui um grande preconceito para com esse filho (pensa que o menino tem tendências homossexuais), e ao mesmo tempo que tenta combater esse sentimento, se sente culpada por não poder ser uma figura materna mais presente na vida dele. A atriz Samantha Castillo está espetacular neste papel, passa uma frieza absurda e deixa o público com o sentimento dividido de raiva e pena.

Andando pelas tumultuadas ruas de Caracas, mãe e filho tentam buscar uma solução para essa relação tão instável. A morte de um sonho, dá um ponto final emblemático e chocante a essa história, deixando apenas os créditos finais dizerem, com uma espécie de final alternativo, o quanto crua e fria pode ser uma relação entre mãe e filho.
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Crítica do filme: 'Getúlio'



Será que o Golpe de 64 poderia ter sido dado em 54? O novo trabalho do diretor brasileiro João Jardim, que dirigiu o ótimo Amor?, é uma viagem histórica até a década de 50, onde uma figura taxada por muitos como ditador, enfrentava seus últimos minutos de vida defendendo com unhas e dentes suas ideias, seus ideais. Getúlio (que teve a maioria de suas locações no palácio do Catete, onde o presidente residiu e comandou o país) entre muitas coisas, mostra que temos um dos melhores diretores de fotografia do mundo (Walter Carvalho) e um dos grandes atores em atividade, Tony Ramos.

Na trama, acompanhamos os últimos dias de governo do ex-presidente Getúlio Vargas, tumultuados por grades acusações de corrupção e uma tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda (seu grande inimigo político) pelo chefe de segurança presidencial Gregório Fortunato. Nesse furacão de informações, surpresas e dificuldades, o espectador faz uma verdadeira jornada pelos bastidores da política brasileira pré-golpe militar e pela vida pessoal de um homem que gravou seu nome na história do Brasil. 

Getúlio pegou o trem de Porto Alegre até o Rio de Janeiro para se sentar no maior cargo deste país. Sua trajetória durou 15 anos, todos esses sem saber amarrar seus sapatos. O longa-metragem tenta preencher certos contextos complexos de forma mastigada, trivial para o público, méritos do roteiro de Jardim e George Moura. Para dar vida a essa figura emblemática de nosso Brasil, somente um grande ator como Tony Ramos para dar conta do recado. A elegância, emoção, dedicação e lucidez que o global aplica em seu personagem causa uma reação instantânea verossímil de empatia desde o primeiro olhar nos primeiros segundos de fita.

O filme fica em cima do muro em relação a muitos assuntos políticos daquela época. Isso é, de certa maneira, uma forma inteligente de dizer ao espectador que os argumentos pesquisados serão apresentados mas quem define quem foi o certo ou o errado somos nós mesmos. Um exemplo disso é o quarto poder se manifestando quase que por completo na figura de Lacerda. A manipulação da informação, levava o povo a apoiar ou desgostar de uma figura pública a cada nova manchete (fato que ocorre, se bobear de forma bem pior, até os dias de hoje).

 Um ditador que enfrentou tudo e a todos? Uma figura carismática, aclamada e jogada nos braços do povo? Um pai e político importante que de repente se viu encurralado por militares? Acompanhando passo a passo desta rica história, o público chega às suas próprias conclusões no desfecho. Getúlio chega aos cinemas brasileiros no dia 01 de maio e merece ser conferido por todo mundo que ainda acredita que o cinema nacional sempre pode surpreender positivamente.
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15/04/2014

Crítica do filme: 'Noé'



Um certo escritor paraibano escreveu uma vez: “O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso .” Pensando em cima dessa linha de raciocínio, o novo e polêmico trabalho do cineasta nova-iorquino Darren Aronofsky, Noé, transforma um conto bíblico em uma experiência Mainstream repleta de hiperbólicos efeitos especiais e um protagonista completamente descontrolado que não consegue nos guiar com eficácia na construção dessa fábula moderna.

Na trama, acompanhamos o famoso Senhor Noé que vive bem antigamente em um mundo devastado/dominado pelo pecado humano. Certo dia, o pai de Ila (Emma Watson), Shem (Douglas Booth) e Ham (Logan Lerman) recebe uma missão vinda diretamente de Deus que é a difícil tarefa de construir uma arca para salvar a criação do dilúvio. Assim, lutando contra tudo e contra todos, o implacável e intenso personagem principal fará de tudo para cumprir seu objetivo.

A não definição do gênero do filme já mostrava o Pot-Pourri que veríamos em cena. O roteiro, escrito pelo diretor e por Ari Handel, deixa muito a desejar. A história em seu início é muito mal construída não dando as bases para que o público possa entender todas as ações dos personagens que se perdem por completo em muitas cenas. Do meio para frente, com a estabilidade do seu protagonista, Noé ganha força em emoção, justamente quando começa a explorar as relações de carinho, raiva e afeto entre os integrantes da família.

Aronofsky é conhecido por cinco belíssimos trabalhos no cinema (Pi, O Lutador, Fonte da Vida, Cisne Negro e Requiem para um Sonho), esses, que contaram com um orçamento reduzido e onde a força do roteiro e direção sempre tiveram papel fundamental para o êxito perante público e crítica. Com um orçamento de US$ 130 milhões nas mãos para trabalhar Noé, Aronosfky parece que se perdeu na hora de aplicar em efeitos especiais e escolher elenco. Muita coisa dá errado ao mesmo tempo nesse projeto. Para citar apenas um exemplo, as cenas de ação beiraram em uma mistura bizonha de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e Gladiador.

Irritando o Vaticano e sendo banido em diversos países do Oriente Médio, Noé segue conquistando dinheiro ao redor do mundo, até o presente momento mais de US$ 180 milhões já foram arrecadados no mundo todo. Como investimento de um grande estúdio, o filme é um sucesso. Como cinema e para os que conhecem os outros trabalhos de Aronofsky, o filme é um verdadeiro Titanic.
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