27/08/2014

Crítica do filme: 'Amores Inversos'



A arte de se descobrir surge das maneiras mais simples, no modo de amar. Baseado no premiadíssimo livro de Alice Munro, Amores Inversos é uma daquelas produções que sem muita divulgação, às vezes até como uma grande surpresa pela simplicidade, chega devagarzinho e atinge em cheio nossos corações. A direção competente de Liza Johnson, o ótimo Nick Nolte e a maravilhosa atuação de Kristen Wiig colocam muita qualidade em cada sequência, cada diálogo, deste surpreendente filme.

Na trama, acompanhamos a sofrida e distante Johanna Parry (Kristen Wiig), uma pacata mulher que esconde dentro de si desejos e sonhos, sem condições de realizar. Certo dia, vai trabalhar na casa do emburrado Mr. McCauley (Nick Nolte) e lá se aproxima da jovem Sabitha (Hailee Steinfeld). O pai da menina, Ken (Guy Pearce), volta e meia apareci para ver a filha e Johanna logo se apaixona. Depois de uma brincadeira de mal gosto de Sabitha e sua amiga Edith (Sami Gayle), Johanna embarca em jornada de descobertas que influenciam o destino de sua vida e a de todos ao seu redor.

A dinâmica do filme é muito interessante. As histórias dos personagens vão se desenvolvendo de maneira muito uniforme e a cada nova informação acontece uma transformação maravilhosa que leva o espectador a pensar sobre as ações deles. É um filme que gere uma grande reflexão sobre sonhos e o desejo de despertar. O carisma da protagonista é justificado exatamente por isso, uma pessoa comum que poderíamos facilmente encontrar diariamente atravessando a rua ou comprando um pão na padaria. Mesmo correndo o risco da personagem estacionar em momentos de lentidão – fruto do estilo da narrativa - , Kristen Wiig constrói e desconstrói Johanna de maneira surpreendente. Sem dúvidas, um dos melhores trabalhos dessa artista muito contestada pelos cinéfilos.

Amores Inversos não deve ganhar um circuito que merecia aqui no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro onde apenas duas salas vão exibir o filme. Uma grande pena que pequenas obras tão legais como essa vão ser “punidas” por um circuito nacional tão defeituoso e com poucas salas de cinema que realmente prezam pelos ótimos filmes. Mas você caro leitor cinéfilo, depois de tudo que leu até aqui, não deixe a chama da curiosidade se apagar e veja esse belo e surpreendente trabalho.  
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24/08/2014

Crítica do filme: 'As Tartarugas Ninjas'

Como fazer um filme bom baseado em um desenho que marcou uma legião de fãs no mundo todo? Com muita pizza, cenas de ação e um roteiro escrito para o público mais jovem, o diretor Jonathan Liebesman teve a difícil tarefa de comandar o mais novo blockbuster dos cinemas, As Tartarugas Ninjas. O filme é uma espécie de Transformers misturado com a mentiradas de James Bond e Cia. É o típico cinema pipocão norte-americano, repleto de clichês por todas as sequências. O que salva, é um pouco do carisma das famosas tartaruguinhas que nesse filme parecem mais lutadores de UFC.   

Na trama, a cidade de Nova Iorque está dominada em sua plenitude pelas ondas de crime de todos os tipos, comandados pelo vilão Destruidor. Assim, quatro irmãos tartarugas, frutos de uma experiência genética, batizados com nomes de grandes italianos da história, saem do esgoto onde vivem e começam a lutar contra esse terrível oponente. Para tal, contam com a ajuda da atraente repórter April O’Neil.

O uso excessivo de efeitos especiais tenta preencher a fraca história que foi escrita, quase uma marca em muitos filmes produzidos pelo Michael Bay. Os milhares de fãs devem gostar das sequências de ações mas vão sentir falta de uma trama mais envolvente que realmente prenda a atenção do público. Foi perdida uma grande oportunidade de realizar um filme que ficaria na memória dos fãs.

O filme não esconde sua proposta, em ser mais um blockbuster entre tantos outros lançados anualmente por Hollywood, desde seu início. Mestre Splinter, por exemplo, é um personagem forte e complexo que aparece tão pouco e tinha muito a acrescentar, perde espaço no roteiro que foi totalmente moldado para o público mais jovem.


A maior qualidade de muitos blockbusters lançados esse ano foi a de tentar inovar, arriscar em meio aos clichês que contém nesses tipos de filmes. As Tartarugas Ninjas insiste no feijão com arroz. Cabe aos fãs decidirem se a persistência é o caminho do êxito, ou não.
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Crítica do filme: 'O Casamento de May'

Quando há dúvidas sobre o amor, vale a pena lutar contra tudo e arriscar? Rodado nas lindas paisagens da Jordânia, o novo filme de Cherien Dabis, mostra conflitos familiares por conta de tradições e inseguranças. A história tenta ser convincente trazendo luz à problemas e preconceitos de uma sociedade eternamente em conflito com o restante do mundo.  Os clichês que estão contidos em muitas cenas podem atrapalhar certos olhos cinéfilos rigorosos mas como um todo, o filme se torna convincente na hora de transmitir a mensagem que queria.

Na trama, conhecemos a belíssima May (Cherien Dabis, que também assina a direção), uma escritora que não escreve faz um tempo e chega em Amã, na Jordânia, onde nasceu e foi criada, para casar com o professor palestino Ziad. Chegando lá, precisa encarar a imaturidade de suas irmãs, a mãe católica que não aprova o casamento de May com um muçulmano e o distante pai que resolve se tornar presente.

Obviamente, a história toda se passa aos olhos de May. Mas, quem rouba as cenas são alguns coadjuvantes. Nadine (interpretada pela maravilhosa atriz israelense Hiam Abbass), a mãe da protagonista, é uma personagem forte que consegue passar ao público uma visão diferenciada sobre os conflitos pessoais com a filha. O pai da noiva, interpretado pelo incansável Bill Pullman, é uma peça do roteiro usada para todas as cenas de clichês que contém no filme, mesmo assim se torna eficiente pois consegue preencher todas as lacunas para suas atitudes com sua família no passado.


Em aproximadamente 100 minutos, O Casamento de May fala sobre homossexualismo, conflitos religiosos, inseguranças e família. A história se sustenta em uma linha tênue entre sequências muito inteligentes e clichês dignos de filmes chatinhos da terra do Tio Sam. Inacreditavelmente, esse equilíbrio acaba sendo atraente e o filme se torna interessante com o decorrer da história. O projeto, não prende a atenção como podia mas está longe de ser um filme ruim, pelo contrário, é um filme que vale a pena conferir.
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10/08/2014

Crítica do filme: 'A Case of You'



Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura. Ah, amor! Sempre ele envolvendo histórias no mundo do cinema. Será que há espaço e criatividade para escrever um roteiro um pouco diferente de tudo que já vimos? Buscando inovações na maneira de contar uma inusitada história de amor, o norte-americano Justin Long (que você já deve ter visto em muitos filmes) roteiriza, produz e atua no interessante A Case of You. Dirigido pela belíssima Kat Coiro, o filme é uma jornada de incertezas em busca do amor perfeito.

Na trama, conhecemos o escritor Sam (Justin Long). Um homem de meia idade, desiludido com seu trabalho, com poucos amigos, sem muitas pretensões na vida. Certo dia, resolve ir atrás de uma moça chamada Birdie (Evan Rachel Wood), por quem sempre teve uma queda, que trabalha em um café que ele sempre frequenta. Quando a mesma é demitida e ele perde contato, consegue com a ajuda de amigos descobrir o perfil dela no Facebook e assim, descobrir por onde ela anda e seus gostos e costumes. Sam então, embarca em uma viagem rumo ao amor. 

Os personagens ditam o ritmo do filme a todo instante. Isso é uma tática arriscada, as vezes parece que falta história mas no final tudo fica bem interessante. A história gira totalmente em torno de Sam. Parece a Apollo 13, do desastre ao triunfo. Consegue fazer tudo errado ao mesmo tempo e mesmo assim, por conta da sorte, é bem sucedido em muitas atitudes ao longo do filme. O personagem é bem problemático, isso fica bem claro para o espectador. Justin Long desempenha com eficácia esse papel que consegue com um carisma tímido conquistar o público. 

Birdie é uma daquelas personagens que somente Evan Rachel Wood consegue interpretar. Tinha tudo para ser sem graça e amarga mas com muita sutileza e charme, a Srta. Wood mais uma vez consegue elevar a qualidade de um filme que trabalha. Que baita atriz essa! A história funciona exatamente porquê há química entre esses dois personagens.

 A direção é apenas mediana, chega a ser preguiçosa. Poderia ajudar muito mais e elevar a qualidade da história. O filme luta a todo instante fugir dos clichês. Mesmo assim, por conta de seus atores principais e um monte de nomes ótimos como coadjuvantes, como Sienna Miller, Sam Rockwell e Peter Dinklage, A Case of You consegue agradar.
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Crítica do filme: 'Locke'



O amor é um conflito entre nossos reflexos e nossas reflexões. Um carro, diversos diálogos intrigantes, uma estrada que nunca termina e um homem no volante. Filme chato? Nada disso! O novo trabalho do cineasta inglês Steven Knight (que dirigiu o interessante filme Redenção) é um suspense com alta carga dramática, fruto da espetacular atuação de um dos melhores atores em atividade no mundo do cinema, Tom Hardy. Esse é um daqueles filmes que farão um sucesso tremendo se tiver a chance de chegar aos nossos cinemas.

No inteligente roteiro, somos o ‘carona’ do engenheiro de construção Ivan Locke. Após receber um telefonema, entra em seu carro correndo e dirige até o hospital onde uma mulher está tendo um filho seu. A questão é que não é a esposa dele! Durante o trajeto até o hospital, Locke precisa contar a verdade para sua esposa, lutar para não ser demitido e encarar da melhor maneira possível as consequências de um ato infiel do passado.

Quando lemos a sinopse curta deste filme, pensamos: esse filme deve ser um porre! Mas inacreditavelmente se torna um dos grandes filmes do ano até agora. O longa foi filmado em tempo real. Isso realmente é um diferencial. A adrenalina fica mais nítida na tela. A direção de Knight é competente mas deixa praticamente o trabalho todo para Tom Hardy. Ainda bem que esse, é um dos grandes atores do momento, um verdadeiro camaleão cinematográfico e consegue a todo tempo prender a atenção do público. 

Há uma desconstrução profunda do personagem ao longo dos 90 minutos de projeção. Encarando tantos problemas ao mesmo tempo, Locke busca uma redenção entre suas convicções. As fraquezas do personagem são expostas naturalmente a cada novo diálogo. Ao longo dessa trajetória eletrizante, sentimos pena, o culpamos e tentamos descobrir qual será o desfecho dessa história que beira ao espetacular. Não perca! Bravo!  
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05/08/2014

Crítica do filme: 'Tudo Acontece em Nova York'



Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos é sonhar mais. Lembram do filme, sucesso de público e crítica aqui no Brasil e no mundo, Pequena Miss Sunshine? Então, agora somem a uma história incrível como aquela, mais personagens carismáticos e uma direção primorosa da dupla Ruben Amar, Lola Bessis. Tudo Acontece em NY, ou para quem preferir o simpático título original Swim Little Fish Swim é uma comédia dramática que possui um paralelo com a realidade da sociedade sonhadora que impressiona. Há uma forte e profunda relação de afeto e carinho nos pontos de interseções de cada personagem.  Esse é um daqueles filmes que conquistam logo de cara nossos corações.

Na trama, conhecemos Lilas (interpretada pela diretora do longa, Lola Bessis) uma jovem estudante, artista, que para sair da aba da influência de sua mãe famosa, se joga nas oportunidades da cidade de Nova Iorque. Certo dia, conhece o frustrado músico Leeward (Dustin Guy Defa), pai da fofíssima Rainbow, que possui uma rebeldia contra o sistema e vive fugindo das responsabilidades de um clássico pai de família. Assim, com suas maneiras de verem o mundo, ambos irão influenciar o cotidiano e o destino de diversos personagens.  

O filme poderia cair na mesmice de diversos outros títulos que sugerem crônicas de Nova Iorque mas não conseguem chegar a fundo nos debates que surgem. Tudo Acontece em NY faz o caminho mais trivial possível para trazer à luz discussões profundas sobre a sociedade moderna. Se prende nas figuras emblemáticas das famílias e dão uma leitura diferente mas que você pode encontrar em qualquer esquina do mundo. O pai de família Leeward é o epicentro da trama, é nele que conseguimos enxergar uma humanidade louvável que fazem todos se deliciar com cada ação desse rico personagem.

A Nova Iorque do filme, não é muito diferente da realidade. Na verdade, é igualzinha. Uma terra de oportunidades, repleta de jovens estrangeiros sonhadores (hoje em dia 36% da população da terceira maior cidade da América é gringa), todos correndo atrás de suas realizações. Muito por encontrar vários traços comuns com a realidade, por mais que leves clichês contornem esse trabalho, Tudo Acontece em NY se torna aos poucos um filme tão delicioso que ao término da fita sentimos aquela emoção gostosa, respiramos fundo e pensamos: vimos uma pequena obra-prima!
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30/07/2014

Crítica do filme: 'Instinto Materno'



A força do amor de uma mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no planeta. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho. O ganhador do Urso de Prata, no concorrido Festival de Berlim do ano de 2013, Instinto Materno é um daqueles filmes impactantes, inteligentes, nu e cru, que deixarão os cinéfilos instigados do início ao fim. Partindo em uma jornada sentimental profunda, de uma relação nada prazerosa entre mãe e filho, o cineasta Calin Peter Netzer dirige com brilhantismo todas as cenas deste magnífico retrato familiar protagonizado por uma das melhores atrizes do mundo atualmente, Luminita Gheorghiu.

Na trama, acompanhamos a relação alvorotada entre Cornelia Keneres (Luminita Gheorghiu) e Barbu (Bogdan Dumitrache), mãe e filho que há tempos não se entendem. A rejeição profunda que Barbu tem pela sua mãe fica à prova quando esse é acusado pela morte de um jovem em um acidente de carro. Assim, Cornelia busca evitar a todo custo que ele seja indiciado por homicídio usando sua posição social e suas profundas relações com a alta sociedade romena.

Quem disse que as relações entre mãe e filho são que nem na maioria dos filmes blockbusters norte-americanos onde tudo são flores e os finais felizes se tornam eminentes? O trabalho de Calin Peter Netzer chega maneira avassaladora para mostrar outras verdades por trás desse relacionamento. O ponto principal dessa trama é exatamente o desdém que o filho tem pela sua mãe superprotetora que tenta a todo instante mandar nas ações e escolhas dele. Os árduos diálogos entre os dois, que aparecem constantemente no filme, são tensos e o público se vê envolvido do início ao fim por essa história. Talvez, por mostrar a realidade de muitas famílias e bater duro nas hipocrisias da sociedade, o filme absurdamente quase não teve espaço no minúsculo circuito carioca de cinema.

Pra quem não conhece o cinema romeno, corram para as locadoras urgentemente e aluguem 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias de Cristian Mungiu e A Morte do Sr. Lazarescu de Cristi Puiu. Ambos com participação de Luminita Gheorghiu. Essa, com mais essa espetacular atuação, se torna uma das grandes atrizes de sua geração. A mais Meryl Streep europeia, impressiona como domina cada sequência deste excepcional trabalho. Bravo!
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