24/12/2015

Crítica do filme: 'O Regresso (The Revenant)'



Antes de sair em busca de vingança, cave duas covas. Após o quase inacreditável Birdman, o simpático diretor mexicano Alejandro González Iñárritu volta às telonas para dirigir o incrível O Regresso (The Revenant), filme que provavelmente dará o primeiro Oscar da carreira do ótimo ator Leonardo DiCaprio. O projeto possui inúmeras qualidades: um longa-metragem grandioso (em todos os sentidos), com belas paisagens, ótimas atuações e uma fotografia que beira ao espetacular. Sem dúvidas, a câmera eletrizante de Iñárritu eleva a qualidade das sequências transformando a experiência de assistir a esse filme em algo épico. 

Com um roteiro escrito por Mark L. Smith e o próprio diretor do filme, baseado no romance homônimo escrito por Michael Punke, inspirado pela história real de Hugh Glass, O Regresso (The Revenant) conta a história de um famoso explorador chamado Hugh Glass (Leonardo DiCaprio) que é atacado, sem piedade, por um imenso urso e acaba sendo deixado para morrer por sua própria equipe. Em uma natureza mais que selvagem, lutando para sobreviver, Glass busca suas esperanças guiado pelo instinto de vingança contra John Fitzgerald (Tom Hardy), homem que assassinou seu único filho a sangue frio. O foco principal de O Regresso (The Revenant) é a vingança, às vezes, um pouco camuflada em uma luta constante pela sobrevivência.

A jornada do protagonista é extremamente complexa, lutar para sobreviver em um ambiente hostil e cheio de perigos não só pelos atos impensáveis de homens sanguinários que atravessam o filme mas pelas intensas e ferozes ações da natureza. Uma força extra que Glass possui é um violento desejo de vingança que o domina. É quase inacreditável a maneira como sobrevive a tantas adversidades que vemos ao longo dos 156 minutos. Uma atuação de corpo e alma de Di Caprio. Merece seu primeiro, e tão sonhado, Oscar. Ao longo dos anos, se tornou um dos melhores atores de sua geração. Em O Regresso, prende a atenção do público com todo o sofrimento, emocional e físico, de seu impressionante personagem. Uma das principais sequências do filme, a do ataque feroz do Urso, é impactante. Gera uma agonia que se mistura com um medo e uma coragem muito real. Essa cena é um dos corações do projeto, que possui dois corações: a vingança e os instintos de sobrevivência.

O personagem de Tom Hardy, John Fitzgerald, é um homem bruto, totalmente inconseqüente, que adora contar historias passadas. Possui um forte instinto para matar além de ser extremamente egoísta. Esse egoísmo é a característica mais marcante deste excelente trabalho de Hardy na condução de Fitzgerald, conseguimos entender um pouco os objetivos do mesmo durante toda a projeção, o que ajuda a nos conectarmos mais ainda com a história. 

Com estreia marcada para o dia 21 de janeiro no Brasil, O Regresso (The Revenant), é um filme mais que indicado a quem ama cinema. Uma última curiosidade sobre a produção é que DiCaprio encontrou sua melhor atuação longe de seu grande mentor, Scorsese. Mas aprendeu bastante com o mestre né Leo?! Não percam esse filmaço! Bravo!
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21/12/2015

Crítica do filme: 'Operações Especiais'

Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos. Dirigido pelo cineasta Tomas Portella, Operações Especiais, de longe, parecia ser mais um longa-metragem fraco sobre violência no Brasil. Só que de perto, o filme surpreende com um mira certeira no quesito composição dos personagens, o que ofusca um pouco as cenas de ação. É um roteiro interessante, aborda pontos importantes para entendermos melhor os dramas e conflitos diários de um policial. É um dos melhores filmes brasileiros, do gênero, que conseguem êxito nesse sentido, a construção é muito bem feita apesar de alguns exageros.

Na trama, acompanhamos a bela Francis (Cleo Pires), uma jovem formada em turismo, recém aprovada no concurso da polícia civil do RJ. Em pouco tempo de exercício de suas funções, é selecionada para uma operação policial em outra cidade tomada por bandidos que fugiram a pouco tempo do RJ. Aos poucos vai começando a se entender em sua nova profissão e passa por diversos testes emocionais nesse processo tendo que, principalmente, provar suas competências mesmo com um certo preconceito de alguns colegas de corporação.

O incrível que acontece nessa fita nacional é que a ação, que geralmente é o ponto forte em filmes de ação propriamente ditos, fica em segundo plano, chamam pouco a atenção apesar de cenas muito bem feitas. O filme chega no aceitável no quesito ritmo, por mais que algumas vezes a protagonista não consiga passar com profundidade o que se passa nas sequências. De qualquer forma, é um bom trabalho de Cleo Pires, interpretando uma personagem bem diferente em sua carreira. Mas o destaque para atuação vai para Fabiula Nascimento, responsável por ótimas sequências dentro da história.


Com uma passagem relâmpago pelos cinemas, no segundo semestre deste ano, o filme deve ganhar nova vida nas telas de TV em breve e não deixa de ser uma boa indicação de cinema bem feito no Brasil. 
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Crítica do filme: 'Descompensada (Trainwreck)'

Seja como for o que penses, creio que é melhor dizê-lo com boas palavras. Indicado a duas categorias no Globo de Ouro do ano que vem, a comédia norte-americana Descompensada (Trainwreck) é um show de besteirol que tenta imprimir um ritmo maduro para poucos diálogos intriguistas, uma fórmula bisonha que obviamente não dá certo. Dirigido pelo cineasta nova-iorquino Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos) e com uma atuação bem fraca da humorista Amy Schumer a melhor piada que funciona pro filme é ele ter sido indicado ao Globo de Ouro.

Na trama, conhecemos a descontrolada, mal educada, chata e alcoólatra Amy (Amy Schumer), uma loirinha que trabalha em uma revista polêmica e que vive a vida de maneira inconseqüente, dormindo com várias pessoas ao longo do mês e com um relacionamento bem esquisito com seu namorado Steven (John Cena). Em relação a sua família, mantém uma certa proximidade com sua irmã Kim (Brie Larson) e sempre visita seu pai em um asilo. Tudo muda na conturbada vida de Amy quando ela conhece o médico Aaron (Bill Hader) por quem se apaixona loucamente. Assim, vamos acompanhando as surpresas que a história tenta apresentar ao longo de cansativos 125 minutos.

É complicado dizer o que incomoda mais: as tentativas de piadas sem graça de Amy Schumer ou um roteiro (assinado pela mesma) que dá várias voltas e não chega a lugar nenhum. Falta ritmo no filme, acredito que até que é viciado em comédias norte-americanas vai sentir isso, em um dos arcos, por exemplo, inventam uma linha emocional para ser explorada pela protagonista mas as sequências se tornam insignificantes. Existem também personagens coadjuvantes mal aproveitados, como a irmã de Amy, interpretada pela ótima atriz Brie Larson, praticamente sumida dentro do fraco roteiro. Nem as participações especiais de Tilda Swinton (mais uma vez irreconhecível) e Ezra Miller ajudam a melhorar o filme.


 Descompensada (Trainwreck) ainda não tem data de estreia no Brasil. Se chegar a entrar em circuito não deve agradar muito o público. História sem graça, longa, com algumas terríveis atuações. É uma comédia bem abaixo de uma boa comédia. 
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16/12/2015

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Crítica do filme: 'Creed: Nascido para Lutar'



Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Após o ótimo Fruitvale Station: A Última Parada, o cineasta californiano Ryan Coogler embarca em um projeto que resgata um dos grandes mitos do cinema norte-americano. Creed é uma espécie de mais um filme sobre o eterno Rocky Balboa, mas dessa vez, o lendário personagem lutador prefere ser o coadjuvante de uma ótima e criativa história que fala sobre grandes batalhas da vida. O grande destaque da fita é sem dúvidas a atuação maravilhosa de Sylvester Stallone que mostra que é possível resgatar um personagem quando ele é extremamente poderoso em cena.

Na trama, acompanhamos a história de Adonis Johnson (Michael B. Jordan), um homem marcado por uma infância conturbada e que nunca conheceu seu pai. Certo dia, anos depois de ser adotado pela ex-mulher de seu pai (o famoso pugilista Apollo Creed), Adonis resolveu investir na carreira de lutador e acaba se mudando para a Filadelfia, onde vai atrás de seu ‘Tio’, o famoso lutador Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Assim, esses dois buscarão enfrentar cada um seu desafio, nessa etapa da vida.

Creed fala entre outras coisas do poder da família em nossos corações. Rocky sempre cuidou de todos os amigos e familiares ao seu redor ao longo de todos os filmes, dessa vez, é ele que também precisa de uma motivação extra para lutar a maior batalha de sua vida. Adonis chega na vida de Rocky para preencher de esperança a rotina, do agora comerciante, do ex-campeão. Os laços de afeto entre os dois são muito bem expostos na telona, exalam carisma em cena.  

O grande mérito do filme é ter Rocky Balboa mas o próprio ser muito mais lembrando por algumas sequências que lembram o maravilhoso personagem. Stallone, o ser humano que mais conhece o garanhão italiano na face da terra, coloca um ar de terceira idade (parecido um pouco com linhas de raciocínio de ‘Os Mercenários’) muito profundo e bonito, em algumas partes chega a emocionar. Não sei se podemos dizer que a grande atuação de Sly foi uma surpresa, talvez a característica mais marcante e/ou curiosa é a releitura do personagem se encaixar como uma luva no roteiro de Creed.

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13/12/2015

Crítica do filme: 'Como Sobreviver a um Ataque Zumbi'

A amizade pode existir entre as pessoas mais desiguais. Ela as torna iguais. Depois de dirigir um dos filmes da franquia Atividade Paranormal (Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal), o cineasta californiano Christopher Landon resolve falar do bastante requisitado universo dos zumbis, pena que não acrescenta muita coisa e Como Sobreviver a um Ataque Zumbi acaba no final das contas sendo mais um filme sobre mortos vivos. Por conta da expectativa, principalmente, a produção não deixa de ser uma decepção para os fanáticos por Walking Dead e filmes do gênero.

Na trama, conhecemos um trio de amigos, Ben (Tye Sheridan), Carter (Logan Miller) e Augie (Joey Morgan) que são constantemente zoados por fazerem parte do grupo dos escoteiros. Certo dia, após um bizarro/estranho acidente em um laboratório da cidade onde vivem, um vírus que transforma as pessoas em zumbis infecta toda a cidade e por incrível que pareça o trio de amigos pode ser a única salvação de um grupo que está em uma festa e não sabe da notícia de contaminação. Para chegarem em seus objetivos, o trio contará com a ajuda da garçonete Denise (Sarah Dumont).  

Cheio de momentos com interações usando sustos lógicos, típicos de filmes do gênero, piadinhas sem graça, personagens sem carisma, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi possui um primeiro ato bem chato e mesmo melhorando um pouco com o passar dos minutos, principalmente quando a ação chega na trama, não consegue se sustentar. O roteiro é bem nos padrões de outras comédias ‘aterrorizantes’ norte-americanas, nada de novo. Há um dinamismo apenas raso, a partir do segundo ato, que é constantemente atrapalhado por diálogos levemente sem graça e litros e litros de sangue que saem dos zumbis (alguns ninjas, outros com a língua grande).


Falta criatividade no filme. O longa é repleto de exageros, alguns funcionam, outros nem tanto. Para quem ta precisando soltar uma risada ou outra, Como Sobreviver a um Ataque Zumbi pode até funcionar mas está longe de ser um bom filme. 
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Crítica do filme: 'Pecados Antigos, Longas Sombras'

É com muito terror que vemos a desunião das moléculas da nossa própria existência. Vencedor de 10 prêmios Goya (uma espécie de Oscar do cinema espanhol), o longa-metragem Pecados Antigos, Longas Sombras, dirigido pelo cineasta espanhol Alberto Rodríguez é um True Detective com sotaque hispânico. Um suspense com detalhadas pistas sobre as conclusões dos atos finais que faz o espectador não desgrudar os olhos da telona. Além de uma trama para lá de sólida, o filme possui uma fotografia belíssima.

Na trama, acompanhamos a saga de dois detetives de Madri, Juan (Javier Gutiérrez) e Pedro (Raúl Arévalo) com ideias, personalidade e ações sob pressão completamente diferentes, que são enviados a um pequeno povoado para resolver um caso intrigante de desaparecimento de duas jovens. Ao longo dos intensos 105 minutos, vamos descobrindo segredos, traições, e um grande mistério, muito maior que os assassinatos, que é aos poucos desvendado.

O longa-metragem estreou no circuito nacional faz alguns dias e já de cara conseguiu diversas críticas positivas e ótimas referências dos cinéfilos que já conseguiram assistir a este grande trabalho. O conflito entre as personalidades dos protagonistas é o ponto central da trama,é para onde vai a atenção do público logo nos primeiros minutos, muito também por conta do ato final onde escondidas situações chegam à luz. Este tipo de trabalho é um daqueles difíceis de escrever muita coisa, pois, há o receio de entregar alguma parte importante do filme (spoiler).


Estimado em 4 Milhões de Euros, essa bela fita espanhola tem diversos trunfos, a começar pelo roteiro (assinado pela dupla Rafael Cobos e Alberto Rodríguez) extremamente minucioso, também vale destacar a ótima dupla de protagonistas, a fotografia que beira ao espetacular, além da direção bem competente de  Alberto Rodríguez, pouco conhecido ainda no Brasil. Pecados Antigos, Longas Sombras é um dos melhores suspense lançado no Brasil esse ano. 
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Crítica do filme: 'O Clã'

Um revolucionário pode perder tudo: a família, a liberdade, até a vida. Menos a moral. Chegou ao Brasil na última quinta-feira (10) o mais novo filme do cineasta argentino Pablo Trapero, um diretor que adora colocar o dedo na ferida e deixar o público atônito com tantas sequências eletrizantes ao longo de toda sua carreira. Em O Clã, indicado pela Argentina ao próximo Oscar e que encerrou o último Festival do Rio de Cinema, Trapero vai pelo mesmo caminho, dessa vez entrando a fundo no universo da ditadura e tendo como primeiro plano uma história que aconteceu na realidade sobre uma família que era especializada em sequestros de pessoas ricas. Com uma atuação fantástica do veterano Guillermo Francella e um final para lá de arrepiante, O Clã é um dos grandes filmes argentinos do ano, sem dúvidas.

O longa-metragem, que ganhou o Leão de Prata de melhor direção no Festival de Veneza este ano, conta a história dos Puccios que por trás da rotina de uma típica família de classe média argentina, escondem um cotidiano repleto de segredos e alguns seqüestros de pessoas com muito dinheiro. Liderando o Clã, Arquímedes Puccio (Guillermo Francella), um senhor de idade, bastante rígido que pratica os maiores absurdos tendo toda sua família como cúmplice, principalmente seu filho Alejandro Puccio (Peter Lanzani). Ao longo dos anos, a família praticou diversas atrocidades, até um determinado dia onde tudo dá errado.

O Clã é um filme bem complexo onde os personagens prendem a atenção do público muito mais do que a história propriamente dita. Os arcos são bem equivalentes, sempre muito sólidos, entendemos um pouco mais sobre a família criminosa ao longo do tempo, como os filhos reagem aos atos do pai, como a mãe é completamente passiva e finge que não vê as escancaradas ações que acontecem na casa dela. Com a boa tática de apresentar uma cena importante do ato final e depois meio que rebobinar a fita para entendermos melhor o porquê daquelas cenas iniciais, Trapero brinda o público com uma forte história e uma direção brilhante.

O excelente ator argentino Guillermo Francella, muito conhecido por ótimas comédias, incorpora um papel diferente de tudo que tinha feito no cinema e convence do primeiro ao último minuto. Do andar calmo, quase baseado nos suspeitos dos livros de Agatha Christie, à frieza que chega a ser deveras cínico/debochado, a execução deste personagem é absolutamente fantástica. Merece muitos e muitos prêmios por essa atuação.


Esse ótimo drama/suspense, de aproximados 110 minutos, produzido por Pedro Almodovar, é um dos melhores filmes em cartaz atualmente no circuito brasileiro. Não percam!  
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11/12/2015

Crítica do filme: 'O Vale do Amor' (Valley of Love) (2015)

Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. O Vale do Amor, trabalho do cineasta francês Guillaume Nicloux contém fortes diálogos com cargas emocionais constantes em cenas abertas que nos transportam para a situação central da trama a todo instante. A produção reúne dois dos grandes artistas da história do cinema francês: Isabelle Huppert e Gérard Depardieu.


Rodado, quase inteiramente, no Death Valley National Park, na Califórnia, Valley of Love (no original), conta a história de um ex-casal francês que inusitadamente voltam a se encontrar depois de certo tempo, após receberem uma carta do falecido filho dizendo que se eles fossem até um determinado local, o jovem reapareceria uma última vez para eles. Assim, entre as dores que nunca vão sarar e sem a menor perspectiva de algum final feliz, a dupla embarca numa jornada melancólica.
Pensem em um filme triste, multiplique por dois e multiplique por mais cinco. 

A produção de 91 minutos, que já foi comprada por uma distribuidora brasileira (isso quer dizer que entrará em circuito nacional em breve), fala sobre temas fortes que podem circular a lista de diálogos de uma relação duradoura. O modo com cada um dos personagens trata o assunto do suicídio do filho é bastante peculiar, parece que nunca se encontram nas desacreditadas buscas em encontrar alguma razão para o ocorrido. O trauma que algo assim pode gerar é bem retratado em cada camada de emoção dos personagens, a dupla Huppert/ Depardieu funciona muito bem.


É um filme que incomoda mas longas-metragens que incomodam também podem ser um bons filmes. É uma produção que pode não gerar interesse do público por conta do drama, que só de ler a sinopse o espectador já sabe que nada de muito feliz acontecerá nessa história. De qualquer forma, para os que tem corações cinéfilos fortes é um filme que merece ser visto, principalmente por mais uma aula de cinema de Barrigon Depardieu e da sempre elegante Isa Huppert.
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06/12/2015

Crítica do filme: 'Mistress America'

O cineasta nova-iorquino Noah Baumbach (A Lula e a Baleia, entre outros grandes filmes) não cansa de alegrar os corações cinéfilos. Seu novo trabalho, lançado há duas semanas no circuito brasileiro, Mistress America é um retrato do desenrolar da juventude do ponto de vista dos abalos que a vida pode provocar quando temos 20 e poucos anos. A personagem principal é uma jovem, cheia de energia, em busca do desapego da solidão. Mesmo o roteiro (escrito pela dupla Noah Baumbach e Greta Gerwig) sendo bastante objetivo, é impactante, e ao mesmo tempo profundo, para explorar a estrutura emocional de sua protagonista.

Na trama, conhecemos Tracy (Lola Kirke), um jovem estudante que tende à solidão por não conseguir se socializar com os jovens ao seu redor. Certo dia, é orientada por sua mãe a conhecer sua mais nova meia-irmã que está morando na mesma cidade que ela. Assim, ela conhece Brooke (Greta Gerwig) e sua vida começar a ter algum sentido, guiada pelas ações e pelo modo de viver a vida da meia irmã, que possui um positivismo do sonhar, típico de toda uma geração.

A relação das irmãs é uma das forças do filme, é algo como mestre e discípulo. Há uma admiração escancarada e até certo ponto meio que obsessiva, em alguns momentos mútua. Há de interseção um intenso desejo em ser livre e fazendo o que se ama no lado profissional, meio que seguindo a regra do custe o que custar. Brooke é tudo que Tracy (Lola Kirke) queria ser, mesmo que talvez de outra forma, outra maneira.


O impacto da chegada da ex-Frances Ha e sua deliciosa personagem Brooke é marcante. A partir daí os olhos estão voltados a mais esse excêntrico e delirante personagem dessa ótima atriz. Reza a lenda que um filme bom tem que chamar sua atenção em até 15 minutos iniciais. Em Mistress America, cerca de 12 minutos bastam para você já estar fisgado pela história. Não deixem de conferir mais esse belo trabalho de Baumbach.
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Crítica do filme: 'Taxi Teerã'

As pessoas do cinema são pessoas em quem se pode confiar. Com estreia no saudoso 65º Festival de Cinema de Berlim (onde ganhou o prêmio de melhor filme), neste ano, o novo projeto do criativo diretor iraniano Jafar Panahi (O Balão Branco), Taxi Teerã, pode ser considerado um conjunto instigante de histórias, espontâneas ou não, que contém muito da cultura e censura de um país que vive fechado em tradições antigas. Vencedor também do prêmio Fipresci, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, este longa metragem é um daqueles que você não pode deixar de assistir.

Uma sobrinha tagarela que não faz idéia de que está sendo filmada, um camelô especializado em clássicos do cinema estrangeiro (que não são permitidos no Irã), uma professora e um profissional autônomo que discutem arduamente sobre as punições aos crimes no país em que vivem, uma dupla de senhoras totalmente devotas de suas peculiares crenças, entre outros. Ao longo de 82 minutos de projeção, vamos acompanhando uma série de personagens e assim conhecendo melhor o Irã, através do olhar clínico de Jafar Panahi.

Pelo Táxi de Jafar, vamos sendo impactados pelas diferentes e ricas histórias que vão sendo contadas. Utilizando somente seu dinâmico olhar e uma câmera escondida, bem ao estilo ‘Táxi do Gugu’, o mundialmente conhecido cineasta de 51 anos traz ao público relatos/depoimentos chocantes. Em Duas das partes mais marcantes, ficamos atentos e surpresos. Em uma cena rápida e intensa, entra um homem ferido no táxi acompanhado de sua desesperada mulher que pede para Jafar fazer um vídeo como se fosse uma espécie de testamento do marido ferido. Em outra parte, fala-se muito do que o Sr. Panahi já sofrera, a censura, quando sua sobrinha (de longe, a melhor personagem do filme) declama uma lista de regras impostas por sua professora de cinema para que um filme, no Irã, seja ‘distribuível’.


Quando chega em seu surpreendente desfecho, já bate instantaneamente uma saudade de alguns personagens que acabamos de conhecer. Gugu Panahi nunca deixe de andar com seu táxi por aí. Entendemos melhor o mundo pelos seus olhos.
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