19/11/2016

Crítica do filme: 'Homens de Coragem (USS Indianapolis: Men of Courage)'



Se quiser sobreviver e ser feliz, você precisa treinar, trabalhar e viver em equipe. Contando uma história real que ocorreu na segunda grande guerra, o ator e diretor mexicano Mario Van Peebles traz para as telonas um filme bastante água com açúcar, que possui apenas algumas boas partes e se prejudica com os excessos de clichês que obviamente atrapalham demais o andamento da história. Protagonizado pelo ator Nicolas Cage (um dos recordistas, ano pós ano, de atuações em filmes medianos para ruim), podemos dizer até que Nick dessa vez não atrapalha, Homens de Coragem (USS Indianapolis: Men of Courage) poderia ser um filme melhor do que é, tinha um bom potencial. 

Na trama, baseada em fatos reais, ambientada durante a Segunda Guerra Mundial, por volta de meados de 1945, conhecemos o capitão da marinha Charles Butler McVay (Nicolas Cage), o grande comandante do imenso navio de guerra USS Indianapolis. Quando Mcvay recebe uma ordem irrecusável do alto comando da marinha norte americana, transportar componentes de uma bomba nuclear sem escolta, sua enorme tripulação acaba sendo um alvo fácil para os temidos submarinos japoneses no mar das Filipinas. E não acontece diferente, um torpedo japonês atinge em cheio o USS Indianapolis e toda a tripulação que sobrevive ao ataque precisará de muita força, sorte e coragem para esperar o resgate em um mar repleto de tubarões. Dos 1196 tripulantes do USS Indianapolis, 300 morreram no ataque e apenas 317 pessoas se salvaram.

Um dos pontos negativos da trama é a falta de profundidade dos personagens, principalmente de seu protagonista. A trama é um pouco acelerada e vários pontos passam sem muita explicação, o que dificulta o público a entender melhor o seu contexto histórico. O filme ganha contornos emocionantes quando passa a focar nas batalhas de pensamento que acontecem quando a tripulação, totalmente dividida, está em alto mar flutuando em boates minúsculos e com grande medo dos ataques dos tubarões. O filme cresce nesse momento. 

A honra é, objetivamente, a opinião dos outros acerca do nosso valor, e, subjetivamente, o nosso medo dessa opinião. Seguindo na linha desse pensamento do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, o longa metragem em questão acaba mostrando um paralelo sobre a honra bem definido no encontro final entre o militar japonês que abateu o grande navio norte americano e o capitão McVay já na corte jurídica imposta para analisar o conflito durante a guerra. De longe a parte mais profunda e bem definida da trama.

Sem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, fato que deve ser muito difícil de acontecer, Homens de Coragem (USS Indianapolis: Men of Courage) possui seus méritos mas no final das contas, e comparando com outras grandes obras do gênero, acaba sendo mais um filme que será esquecido, rapidamente, sobre a Segunda Guerra Mundial.

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16/11/2016

Crítica do filme: 'Animais Fantásticos e Onde Habitam'

O sol é para as flores o que a magia é para a humanidade. Dirigido pelo ótimo cineasta britânico David Yates (que dirigiu alguns filmes da franquia Harry Potter) chega aos cinemas de todo o Brasil amanhã, dia 17 de novembro, um dos blockbusters mais aguardados do ano, Animais Fantásticos e Onde Habitam. O longa é repleto de efeitos especiais de primeira linha, possui personagens carismáticos e um roteiro pra lá de empolgante. Ao longo dos intensos 133 minutos de projeção – que mal vemos passar - vamos acompanhando uma aventura sobre magia que conversa com o público da mesma forma entusiasmada que fora toda a franquia do bruxinho de óculos mais famoso da história do cinema. Ambientado cerca de 70 anos antes da famosa história também criada por J.K. Rowling, Animais Fantásticos e Onde Habitam é uma extensão do mundo da magia que vimos com Harry e companhia.

Na trama, que conta com a primeira incursão de famosa escritora J.K. Rowling como roteirista, conhecemos o aventureiro Newt Scamander (Eddie Redmayne), uma espécie de Indiana Jones da Magia, um jovem que sai da Inglaterra rumo à Nova Iorque em busca de um objetivo muito incomum portando apenas uma maleta muito especial onde guarda diversos animais poderosos. Para cumprir seu objetivo e conseguir futuramente escrever um manuscrito, contará com a ajuda de Porpentina Goldstein (Katherine Waterston) e sua irmã que lê pensamentos Alison Sudol (Queenie Goldstein), além do hilário Jacob Kowalski (Dan Fogler), o único trouxa (pessoa que nasceu em uma família não-mágica e é incapaz de fazer magia) do grupo.

Um dos fatores que mais chama atenção na trama é a forma como lidam com o sentimento da amizade. A construção desse sentimento é bastante profunda e muito detalhada em cada progressão e desenvolvimento do elenco principal entre uma aventura e outra. As lacunas para continuações são bastante óbvias mas feitas de forma bem delicada e madura. E aí que vem a grande lição do filme, entre brigas de varinhas, magia e animais fantásticos, o que chama a atenção é o ser humano comum que nunca soube nada sobre esse universo. Assim, o grande destaque individual não vai para o protagonista mas sim para um coadjuvante de luxo, Jacob Kowalski , responsável pelo tom cômico da trama. O ator Dan Fogler que dá vida ao personagem simplesmente dá um show em cena, são os olhos do público a todo instante, toda vez que ele parece em alguma sequência aos olhos atentos do público parece que saltam em direção a tela. Ele vale o ingresso.

Mas o filme é muito mais que personagens bem escritos. Existem alguns debates argumentativos, como: magia usar ou não usar; confiar em quem em mundo de poderes ilimitados? Uma amizade vale mais que se safar de uma dada situação? Como enfrentar vilões terríveis e não perder a humanidade que há em todos os trouxas ou não touxas? A direção quase impecável de Yates, que usou e abusou de sua maturidade e no seu vasto conhecimento em J.K. Rowling e no universo Potteriano, aliada ao ótimo roteiro feito pela já citada criadora desse universo, transformam essas linhas de pensamentos em poderosos valores que se transformam em lição a todos que abrirem os olhos para essas questões.


Animais Fantásticos e Onde Habitam vai ter uma série de sequências e poderemos acompanhar mais aventuras desse seleto grupo de personagens em um universo onde o inusitado reina. Então é isso, varinha na mão e ouvidos atentos ao Magizoologista mais conhecido do mundo. O universo da magia tem muito a nos ensinar. 
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05/11/2016

Crítica do filme: 'Doutor Estranho'

Tudo tem começo e meio. O fim só existe para quem não percebe o recomeço. Um dos mais aguardados filmes do ano, desembarcou no Brasil no último dia 03 de novembro. Doutor Estranho é personagem dos quadrinhos criado pelo verdadeiro mago Stan Lee e Steve Ditko no início da década de 60. Arrogante e crendo apenas no que os livros e a dedicação lhe ensinaram ao longo de sua trajetória de vida até o momento que descobre muitas coisas sobre a essência do ser, do tempo e um mundo mágico que abre sua mente para novas revelações. Com todos esses elementos profundos e características bastante peculiares, o desafio do diretor escalado para dar vida a esse grande personagem nos cinemas, Scott Derrickson (Exorcismo de Emily Rose) era gigante mas esse passa com louvor e dirige com bastante maestria essa ótima aventura. No papel principal, o britânico sempre competente Benedict Cumberbatch, que mais uma vez desenvolve com eficiência e sabedoria seu complexo personagem.

Na trama, ao longo de 115 minutos muito bem explorados por Derrickson e Cia, conhecemos o Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), um dos melhores neurocirurgiões de Nova Iorque, porém, arrogante por si só, é extremamente odiado por grande parte de sua equipe, exceto pela doutora Christine Palmer (Rachel McAdams). Certo dia, após sair para uma conferência sobre neurologia e dirigir de jeito completamente desleixado, sofre um grave acidente e sua mãos ficam incapacitadas levando Strange a uma busca desenfreada pela cura. Um dia, conhece um homem que conseguiu se curar indo para um lugar no Himalaia e resolve juntar duas últimas finanças para ir em busca dessa oportunidade. Chegando lá, se torna aprendiz de uma grande mestre (Tilda Swinton) que o ajuda aos poucos se tornar um grande mago.

Mestre das Artes Místicas, recheado de características filosóficas, uma inteligência oriunda de uma dedicação profunda aos livros. Doutor Estranho é um personagem tão fascinante que assim que soubemos que o filme iria acontecer bateu um medo gigante de como iriam fazer cinema de uma história que nos quadrinhos é genial. Para o bem de todo o coração cinéfilo nerd, a maioria das peças de encaixam com harmonia. Você se diverte, presencia ótimas atuações, para um pouco também para refletir sobre algumas questões existenciais e ainda percebe várias pontas soltas (de propósito) para serem encaixadas em futuros filmes de outros super heróis da Marvel.

Mas voltando ao filme em si, destaque, sem dúvidas, aos efeitos especiais que simplesmente são fantásticos. Não seria nenhuma loucura achar que um Oscar pode ser ganho por esse filme nesse quesito.  Às vezes nos sentimos em uma espécie de Matrix da Marvel, uma experiência bem interessante para quem está na cadeira do cinema vendo tudo de pertinho. O desenvolvimento de Stephen também é muito bem escrito e atuado. Vemos muitas fases do personagem, seus medos, suas virtudes, sua arrogância que vai diminuindo conforme o egoísmo vai saindo aos pouquinhos da mente do herói. Essa virada na trama, do pense em todos não pense só em si, é fundamental para que o protagonista execute com sua máxima eficiência tudo que aprendeu e o levou a ser um mago extremamente poderoso e inteligente.

O ponto negativo talvez seja o vilão da trama. Mais uma vez, em um filme da Marvel, quem enfrenta o protagonista não consegue ter desenvolvimento, mesmo, no caso, interpretado por um dos grandes atores europeus da última década, Mads Mikkelsen. Ta realmente muito difícil conseguir um vilão tão genial e bem interpretado como Loki (Tom Hiddleston), esse, mencionado num diálogo pós créditos desse filme.

De qualquer forma, Doutor Estranho é um dos grandes filmes da Marvel esse ano, empolgante e passa uma lição muito bonita que os livros ajudam mas o enxergar o planeta com um espírito coletivo é o grande aprendizado do universo. Bravo!
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25/10/2016

Crítica do filme: 'Uma História de Loucura'

Baseado na autobiografia La Bomba, do escritor José Antonio Gurriaran, Uma História de Loucura traz uma luz histórica sobre uma guerra cruel entre turcos e descendentes de armênios, acontecimentos pouco explorados em livros de história mundial aqui no Brasil. A direção do filme é do excelente cineasta francês Robert Guédiguian (As Neves do Kilimandjaro) que consegue com muita delicadeza e objetividade mostrar ao espectador uma visão bastante completa sobre o conflito tendo em seus contornos uma poderoso história de uma mãe em busca de uma certa redenção para seu perdido filho.

Na trama, ambientada no início dos anos 80, conhecemos uma família descendentes de armenos que mora na França e que costuma não esquecer sua cultura e suas tradições. Mas quando o filho mais velho, Aram (Syrus Shahidi) participa de um atentado contra o embaixador turco em Paris (que deixa um civil francês muito ferido), foge e se une ao exército secreto da Libertação da Armênia em Beirute, a mãe Anouch (interpretada pela sempre maravilhosa Ariane Ascaride) parte em busca de uma jornada de redenção não só para seu filho, mas também para sua família.

Exibido no prestigiado Festival de Cannes no ano de 2015, os maiores méritos deste grande trabalho são por conta da maneira como é contado esse drama. O filme se justifica como sendo um grande aulão de história mundial, ramifica em subtópicos as razões do conflito, possui uma introdução essencial e bastante criativa onde começamos a mergulhar dentro do contexto que cerca toda a trama. As atuações também são grandes destaques, principalmente Ariane Ascaride que mais uma vez mostra porque é uma das melhores atrizes de sua geração.


O clímax percorre todos os 134 minutos de projeção, mesmo tendo um contexto histórico forte, na maior parte do tempo, em todos os atos, o foco passa a ser dividido com a força da subtrama da mãe em busca de lacunas preenchidas para as verdades de seu filho. O conflito entre o civil machucado pelos atos de Aram e a razão em forma de carinho adotada como postura por Anouch é um conjunto de cenas inesquecíveis para os cinéfilos.
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23/10/2016

Crítica do filme: 'Flocken'

Dirigido pela cineasta sueca Beata Gårdeler, o longa metragem Flocken, Urso de Cristal no Festival de Berlim de 2015, conta uma forte e bastante dramática trama onde a verdade vale menos que a força de uma família em uma comunidade. Com semelhanças com o sensacional filme dinamarquês A Caça, do dinamarquês Thomas Vinterberg, Flocken possui uma narrativa densa e com altas cargas dramáticas ao longo de seus fortes diálogos e acontecimentos. Destaque para a boa atuação da estreante em longas metragens Fatime Azemi que faz a protagonista do filme.

Na trama, conhecemos a jovem Jennifer (Fatime Azemi), uma estudante do ensino médio que após uma festa no vilarejo onde vive denuncia que foi abusada por um jovem de sua idade chamado Alex (John Risto), filho de uma influente família da região. Assim que todos na comunidade onde vivem ficam sabendo da denúncia, Jennifer vira a vilã da história pois todos acreditam que Alex nunca poderia ter cometido uma violência desse tamanho. Assim, ao longo de todo o processo de denúncia, Jennifer e sua família sofrerão dolorosamente punições da comunidade onde sempre viveram.

A trama é bem objetiva, foca e se mantém no clímax do processo de denúncia da jovem sobre o ocorrido. Os detalhes deixados para o público vão aos poucos se complementando, principalmente nas atitudes do personagem Alex e de sua mãe Susanne (interpretado pela ótima Eva Melander). A família de Jennifer também é bem explorada, do meio pra frente da fita sua mãe começa a ter papel importante dentro da história, além de ser uma das que mais sofre com o preconceito da cidade contra sua família por conta da denúncia. É um trabalho bem competente de Gårdeler na direção, consegue ao longo de toda a trama explorar toda uma comunidade que se envolve com o caso e que nunca parou para explorar os fatos e acreditar que na verdade quem é o vilão é Alex e não Jennifer.


Esse bom filme infelizmente não ganhou chances em nosso circuito, se você tiver a chance de conferir, não perca.
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Crítica do filme: 'Capitão Fantástico'

Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Escrito e dirigido pelo pouco conhecido ator e também cineasta Matt Ross, Capitão Fantástico é um daqueles filmes que deixam nosso coração na boca, faz nosso raciocínio brilhar e mexe intensamente com nosso modo de ver e viver tudo que aprendemos até hoje em nossas vidas. Exibido no Festival do Rio deste ano e com uma atuação brilhante do grande ator nova iorquino Viggo Mortensen, o longa metragem de objetivos 118 minutos é, sem dúvidas, o melhor filme do ano até agora.

Na trama, conhecemos Ben (Viggo Mortensen) e sua família para lá de diferente. Ben e sua esposa resolveram criar os seus seis filhos em um lugar muito bonito e longe da sociedade, deixando eles distantes de qualquer contato com as novidades e besteiras do mundo e sua globalização. Quando sua esposa, que precisou ser hospitalizada por conta de uma doença terrível, falece, Ben resolve ir até o encontro dela e leva junto seus filhos. Após o choque natural da criançada com o mundo da maioria das pessoas que os cercam mais que nunca tiveram contato, o capitão fantástico desta turma terá que fazer escolhas difíceis e confrontar pessoas que consideram seu modo de vida prejudicial aos seus filhos.

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Pensador desse lema, o protagonista criou seus filhos com rigidez e muita disciplina. Livros complexos são passados como dever de casa para todas as crianças, não importa a idade. As verdades são uma só e vários tabus de outras casas, para Ben, são apenas verdades que precisam ser ditas da única maneira que existe. O ambiente é de total harmonia, músicas (a cena da família cantando ‘Sweet Child o’Mine’ é emocionante e arrepia), brincadeiras mas também alguns excessos como exercícios físicos que não respeitam idade e que podem machucar. O personagem principal é intenso em seus princípios, a ideia de ter uma família vivendo longe dos vícios e futilidades, além dos alimentos que só prejudicam, é vivida intensamente mas falta equilíbrio, no fundo, Ben sabe disso.


No terceiro arco em diante, a mudança começa a acontecer. Ben, personagem complicado, de bom coração, interpretado com maestria por Mortensen se vê cercado de situações que o fazem repensar alguns de seus conceitos. Seus filhos, sua única riqueza nesse mundo, percebem rapidamente e o ajudam nesse momento de transição, transformando uma linda história em uma história inesquecível.  Capitão Fantástico é algo assim, único, um presente para quem gosta de se emocionar com filmes que mexem com nosso coração. A grande lição que aprendemos com essa fita é que Capitão Fantástico é qualquer um que acredita que uma boa ideia pode mudar um pouquinho nosso mundo, ou mesmo que um filme inesquecível faz com que reflitamos sobre nossa própria existência. Seja o Capitão da sua vida, viva fantasticamente. Bravo! :) 
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Crítica do filme: 'Elle'

O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não. Baseado na obra do escritor Philippe Djian, o novo trabalho do ótimo cineasta holandês Paul Verhoeven  (RoboCop - O Policial do Futuro, Instinto Selvagem, Zwartboek) , Elle, que concorreu a Palma de Ouro em Cannes esse ano, é uma jornada, um tanto quanto psicológica, que coloca em discussão o medo e a frieza em lados apostos. Protagonizado pela sempre extraordinária atriz francesa Isabelle Huppert (que mais uma vez dá um espetáculo em cena) e um elenco pra lá de primeira, o longa metragem pode ser considerado um grande quebra cabeça onde vamos montando as peças pelas deixas do roteiro e pelos caminhos trilhados pela lente inteligente, totalmente presa aos detalhes, de Verhoeven.

Na trama, conhecemos a fria e solitária empresária do mundo dos games Michèle Leblanc (Isabelle Huppert), uma mulher de personalidade que possui um único filho, totalmente diferente dela. Certo dia, após deixar um gato entrar em sua casa, um homem mascarado aproveita a situação e a violenta. Tentando lidar com o ocorrido, Michèle se cala, não vai à polícia e conta para poucas pessoas o ocorrido mas começa a ligar o alerta e desconfiar de que o seu estuprador é alguém que ela conhece.

Ao longo dos intensos 130 minutos de projeção, Verhoeven joga o público em uma trama recheada de pequenos segredos que sempre circula em um tom de suspense. Nossos olhos é uma protagonista complexa, que poucas vezes se viu na posição de fragilidade que se encontra. Sua relação moderna, quase de irmã, com sua melhor amiga Anna (Anne Consigny) e sócia no negócio de games é regada a uma traição, já que Michele tem um caso de longa data com o marido de Anna. Sua relação quase de desespero com seu único filho Vicent (Jonas Bloquet), um jovem com problemas que se casou com uma mulher mais problemática que ele e Michele entra em conflito sempre com os dois. O ciúme adolescente que Michele possui de seu ex-marido Richard (interpretado pelo ótimo Charles Berling) que namora uma mulher mais jovem. Muito controladora de sua vida e dos que a cercam, a transição da personagem vai acontecendo ao longo da projeção.


Às vezes filmes de suspense, às vezes um drama, às vezes uma história de sedução. Elle pode ser visto por várias óticas. Verhoeven apresenta seu melhor, a todo tempo esperamos o desenrolar dos fatos na cena seguinte, são 130 minutos de projeção que nem vemos o tempo passar. Huppert desfila mais uma vez para o coração dos cinéfilos, uma atuação magistral em uma personagem cheia de complexidade e imperfeições. Elle estreia no dia 17 de novembro e é um dos grandes filmes do ano, não percam! Bravo! 
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22/10/2016

Crítica do filme: 'Não Olhe para Trás'

Não somos responsáveis pelas emoções, mas sim do que fazemos com elas. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o roteirista e produtor norte americano Dan Fogelman logo de cara tem a difícil missão de dirigir, talvez, o maior ator de cinema em atividade, Al Pacino. Contando a história, baseada em alguns trechos numa história real, de um decadente músico que vê sua vida mudar de rotina quando resolve acertar suas contas com o passado , Não Olhe para Trás mais uma vez mostra todo o talento e carisma de Pacino embasado em um roteiro bem sincero e que transpira verdade. Quem ganha somos nós cinéfilos, por termos a honra de sermos do mesmo tempo de um dos grandes artistas de toda a história da indústria cinematográfica mundial.

Na trama, conhecemos o famoso cantor Danny Collins (Al Pacino), um homem que vive de fama, whisky, shows e drogas faz 40 anos.  Sem lançar um novo sucesso por bastante tempo e sem ter muitas esperanças em seu futuro, após receber de presente uma carta que John Lennon escreveu para ele anos atrás e que ele não sabia, resolve embarcar em uma jornada comovente buscando resolver positivamente seu relacionamento com seu único filho Tom Donnelly (Bobby Cannavale). Nessa jornada, acaba reencontrando sentimentos que estavam perdidos em seu cotidiano, um deles, quem provoca é a gerente de hotel Mary Sinclair (Annette Bening), por quem Danny criará sentimentos fortes.

A honestidade com quem é executada essa bela história é um dos fatores mais preponderantes para o sucesso da trama. Fora o carisma de outro planeta de Pacino, Benning e Cia, a direção de Fogelman, extremamente cuidadosa e detalhista, também nos levam para dentro do que acontece nas cenas. Os diálogos são bastante emotivos durante boa parte do filme, o roteiro visa o amor como forma de perdão e como forma de auto descobertas. Questões são expostas e respostas ficam em aberto, trazendo cada vez mais o público para próximo de uma realidade totalmente possível.


Os arcos são muito bem definidos, vemos uma apresentação rápida e um exalar de carisma absurdo do protagonista em um primeiro momento, depois somos apresentados às mudanças que aconteceriam e logo em seguida uma conclusão cheia de pontos de interrogações que são preenchidas pelo veredito do público e sua interação com cada personagem. Não Olhe para Trás ficou pouco tempo em circuito nas salas de cinema brasileiras, merecia mais. Para você quem não assistiu, não perca. Tem até no Netflix. Vale a pena! J
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16/10/2016

Crítica do filme: 'Águas Rasas'



O risco de uma decisão errada é preferível ao terror da indecisão. Dirigido pelo cineasta espanhol Jaume Collet-Serra (diretor do conhecido A Orfã), o suspense/thriller/terror Águas Rasas é um trabalho muito interessante que explorar com eficácia e objetividade uma situação inusitada vivida por uma turista surfista em uma praia paradisíaca completamente longe de casa. O clima de tensão que o filme consegue passar é o grande fator X para que a produção abra um belo sorriso nos cinéfilos.

Na trama, conhecemos a carismática Nancy (Blake Lively), uma jovem estudante de medicina que resolve visitar uma praia paradisíaca que foi importante na trajetória de sua mãe já falecida. Chegando no lindo lugar resolve ir surfar e acaba sendo atacada por um terrível tubarão. Sua sorte é que conseguiu ficar presa em algumas pedras e usando muita criatividade e ativando toda sua essência corajosa, a jovem terá que ultrapassar todos os seus medos e bolar um plano para sair dessa difícil situação. 

Quando o tubarão não rouba a cena, sabemos que o filme tem boas possibilidades de dar certo. A história é muito simples e nada muito além do possível é explorado pelas inteligentes lentes de Collet-Serra. O roteiro brinca com nosso imaginário conseguindo com que pensemos como seria nossas atitudes se tivéssemos dentro de uma situação similar. Blake Lively cresce em sua atuação a cada minuto, explorando as emoções mais conflitantes que a situação acaba gerando.  O único pesar é que a fita é curta, não se consegue detalhar com mais precisão a relação da jovem com sua família, talvez um ponto importante que não deram muita importância mas nada também que atrapalhe o desenvolvimento da interação do público com o filme. 

Águas Rasas estreou no Brasil e fez sucesso entre os cinéfilos mundo a fora. Se ainda não viu, vale a pena conferir.
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Crítica do filme: 'Conexão Escobar'



Pelo dever do correto uma vida pode virar duas. Protagonizado pelo eterno protagonista de um dos maiores seriados de todos os tempos, Breaking Bad, Bryan Cranston, Conexão Escobar tinha tudo para ser um baita filme mas acaba se perdendo por absorver vícios cinematográficos hollywoodianos em uma história que deveria ter sido contada de maneira simples e objetiva. Dirigido pelo cineasta norte americano, Brad Furman (O Poder e a Lei), o filme estreou no circuito brasileiro e sumiu das salas de cinema rapidamente. 

Na trama, baseado em fatos reais, ambientado em meados da década de 80 na flórida, conhecemos o experiente policial , Robert Mazur, (Bryan Cranston), um especialista em trabalhos disfarçados que resolve não aceitar a aposentadoria e fechar seu currículo com o maior desafio de sua vida, prender uma rede de banqueiros e investidores ligados ao narcotráfico colombiano que age nos Estados Unidos. Mas a missão não será fácil e para tal, precisará da ajuda da novata agente Kathy Ertz (Diane Kruger) e do extravagante agente Emir Abreu (John Leguizano).

Filmes sobre policiais que marcaram época em seus departamentos por atuarem disfarçados contra o crime organizado não é algo raro no mundo do cinema, fazendo com que uma certa originalidade/personalidade em algo assim tão visado seja necessária para o título não se tornar apenas mais um filme do gênero. Conexão Escobar tem uma estrutura excelente que é muito mal aproveitada e impressionantemente mal aproveitada. A cereja do bolo (O protagonista não consegue passar aquela empatia necessária para o espectador comprar a história. 

Falta clímax, explorar os momentos de virada na trama, focar no núcleo familiar de Mazur e sua relação complicada com sua esposa Evelyn ( interpretada pela ótima Juliet Aubrey). O longa deixa muito a desejar. O roteiro é baseado no livro O Infiltrado, do agente federal Robert Mazur (protagonista da trama). Podemos apostar ‘All in’ que o livro é melhor que o filme.
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