13/06/2017

Crítica do filme: 'A Garota Ocidental'

Você é livre para fazer suas escolhas, mas, às vezes, prisioneiro das consequências. Abordando um grande conflito familiar envolvendo uma jovem maior de idade que possui um pensamento diferente de seu pai e mãe sobre com quem deve se casar, A Garota Ocidental apresenta argumentos a esse conflito imposto e um pouco da visão de todos que estão ao redor dessa família paquistanesa. A protagonista, interpretada pela ótima atriz francesa Lina El Arabi, é uma mulher de espírito livre que luta pelo que entende ser o certo em um pedaço de ocidente repleto de imigrantes com pensamentos de seus países de origem.   

Na trama, conhecemos a jovem Zahira (Lina El Arabi) uma imigrante paquistanesa que mora na França e está totalmente adaptada ao seu estilo de vida nessa cidade. Quando chega aos 18 anos e seu pai e mãe impõem um casamento arranjado, onde ela deve escolher entre três pretendentes, a jovem com bastante coragem se diz contrária a decisão e acaba provocando um grande abalo na família. O subtítulo do filme no Brasil, entre o coração e a tradição é exatamente o conflito que a protagonista percorre durante intensos 98 minutos de projeção.

O conflito das aparências e costumes contra o lado da razão e emoção. Toda a trama se envolve em escolhas. A trajetória da protagonista é cheia de obstáculos provocados pelas imposições de sua família que deseja que ela se case com algum dos três pretendentes paquistaneses que pré definiram, além de passar por uma gravidez, fruto de um relacionamento com um alguém que ela achava que a amava. O irmão de Zahira, Amir (Sébastien Houbani), é peça chave nesse tabuleiro sentimental, se vê em grande conflito em como ajudar a resolver a situação. Os preenchimentos das lacunas emocionais e suas consequências são feitos de maneira cirúrgica pelas lentes do cineasta belga Stephan Streker (em seu terceiro longa metragem na carreira) que dirige e escreve o roteiro desse profundo drama exibido no Festival Internacional de Toronto, Rotterdam e Istambul deste ano.

Com estreia prevista para o dia 22 de junho, A Garota Ocidental é um recorte sobre o mundo das tradições. Um filme que chega também como uma crítica social, seus limites emocionais a flor da pele e as saídas muitas vezes não encontradas pelos envolvidos. Com grandes atuações e um desfecho arrebatador, esse é um daqueles filmes que você não pode perder.


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11/06/2017

Crítica do filme: 'The King (Deoking)'

Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade. Depois de um hiato de quatro anos depois de seu último longa-metragem Gwansang (2013), o cineasta sul coreano Jae-rim Han volta as telonas com um filme explosivo que abre feridas bastante expostas sobre a corrupção no submundo jurídico/político de uma Seul repleta de polêmicas e grandes trocas no poder. The King (Deoking) é um daqueles filmes onde a adrenalina toma conta de várias sequências, aproximando o espectador de subtramas repleta de gângsters, chantagens e muita ambição. O filme, que estreou no oriente em janeiro desse ano, ainda não tem data para desembarcar em nosso país.

Na trama, conhecemos, em um primeiro momento mais jovem, o brigão e relaxado Park Tae-su (interpretado pelo ótimo ator In-sung Jo), nascido na periferia da capital coreana, de família pobre, sendo criado por um pai trambiqueiro e que sempre arruma uma confusão. Estamos na década de 80 e aos poucos, via imprensa e por testemunhar seu pai desesperado implorando para um, cresce um desejo no protagonista em ser um promotor de justiça, cargo carregado de poder e influência em uma coreia recheado de casos violentos e corrupção em todos os escalões do poder. Assim, de preguiçoso e brigão, vira um estudioso intenso e consegue passar para a prestigiada faculdade de Direito se tornando um promotor. Chegando na nova função, nada do que sonhara (status, fama, dinheiro e poder) chega rapidamente e depois de insistir em um caso de abuso de um professor com uma aluna, acaba recebendo a chance de entrar para um grupo de promotores protegidos comandados por Han-Kang Sik (Woo-sung Jung) que exalam poder, fortuna e o controle do poder jurídico coreano. Vivendo agora do jeito que sonhou, acaba tendo também que sentir na pele as consequências de um lado sujo de sua profissão.

Tudo funciona muito bem no filme. O ritmo alucinante não deixa nem bebermos nosso refrigerante durante a sessão. Dividido milimetricamente em arcos poderosos, repleto de cenas com tons de humor dramático mesclando com dramas violentos, o filme conta em um pouco mais de duas horas a história do seu protagonista em décadas e toda a corrupção que a Coreia do Sul vive nesse tempo. O projeto não deixa de ser uma grande crítica ao sistema coreano mas que também pode ser ampliado a uma crítica mundial do setor. A troca de favores de pessoas influentes no campo jurídico/político, a escolha a dedo dos casos, a ligação com bandidos de alta periculosidade, tudo isso sabemos que acontece em muitas partes do mundo.


O filme tem méritos também por não fugir das responsabilidades do protagonista, e impor consequências severas pelos anos em que foi submisso a uma vida de riqueza de bens mas sem uma gota de compaixão humana. A transformação do personagem chega em torno de vingança, deixando o último arco com surpresas e cenas sensacionais, de tirar o fôlego. The King (Deoking) , sem previsão de estreia no Brasil (tomara que alguma distribuidora abra o olho para esse filmão) é um daqueles filmes que podemos dizer ser um dos melhores trabalhos do ano.


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10/06/2017

Crítica do filme: 'The White King' (O Rei branco)

Dirigido pela dupla Alex Helfrecht e Jörg Tittel, The White King, baseado na obra do escritor húngaro György Dragomán é um filme extremamente complexo que aborda um novo lugar, cheio de ideologias e princípios. O projeto, exibido em alguns festivais pelo mundo tem uma pegada meio Goonies dos novos tempos, com incrementos de ficção científica em um roteiro repleto de originalidade que explora as leis criadas por uma nova sociedade cheia de regras ofensivas, de controle absoluto e sem democracia. Essa ficção científica tem um excelente trailer e isso gera o interesse mas vendo o filme percebemos claramente que falta fôlego para a trama se sustentar, principalmente pelas lacunas não respondidas o que deixa tudo muito complicado de se entender.

Na trama, conhecemos um jovem chamado Djata (Lorenzo Allchurch) que vive uma vida cheia de regras em uma nova sociedade junto com sua mãe e seu pai Peter (Ross Partridge). Certo dia, após voltarem de um piquenique seu pai, um ex-major do exército do lugar é levado para uma espécie de prisão onde traidores são colocados. Seu filho então parte em busca de respostas para encontrar seu pai e para isso contará com algumas poucas ajudas ao longo desse caminho repleta de espaços não respondidos.

Uma construção de um novo mundo? Uma irmandade com novas ideias entre conflitos e ideais de um mundo que não existe mais? Militares e seus princípios duvidosos no poder? Que diabos é aquela estátua no alto da montanha que lembra muito o seriado Lost? Diversas perguntas (sem respostas) são feitas por nós meros mortais cinéfilos que tentamos entender esse longa metragem. O arco da amizade é bem feito, adapta os laços para a sociedade nova que foi imposta cheia de risco e onde a coragem é o principal trunfo. Já o tema central, a busca pelo pai desaparecido (ou melhor dizendo escondido em uma prisão que ninguém sabe onde é) é muito rasa. Nem outros personagens aparecendo na trama, como o avô do menino, um coronel aposentado e de prestígio ajudam a gente a entender melhor o que é direito esse projeto.


Taxado como ficção científica, e realmente é, o filme navega pelo drama durante bom tempo nesse universo criado por Dragomán repleto de brutalidade ditatorial e com personagens motivados por razões humanas envolvidos nas leis do universo, o amor de uma família. Infelizmente o filme tem apenas bons momentos, talvez o livro seja melhor.


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Crítica do filme: 'Nocturama'

Selecionado para alguns festivais pelo mundo e absurdamente sem a mínima chance de ser exibido pelo circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de muitas distribuidoras), exceto em um festival ou outro, o novo e impactante trabalho do excelente cineasta francês Bertrand Bonello (L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância), Nocturama, é uma trama cheia de reviravoltas que expõe um confronto de ideias e a falta de limite que pessoas comuns podem ter. O filme é uma grande crítica e expõe argumentos fortes que fala de maneira bem efetiva sobre muitos dos conflitos que assombram países de todo o planeta.

Na trama, conhecemos jovens de diversas etnias que se espalham por uma grande cidade francesa tramando alguma coisa que é revelada aos poucos. Um pouco do cotidiano desses jovens, já no dia da ação, mostram que são pessoas comuns que não geram nem tipo de alerta da polícia. Com a chegada da noite, se reúnem em uma loja de roupas de vários andares, onde é exposto um plano aterrorizante de diversos atentados em lugares previamente estudados. Ao longo dessa noite, muitas questões serão abordadas e o roteiro volta em algo parecido com flashbacks para explicar um pouco de como eles chegaram até esse dia.

Fica claro, por diversos diálogos ao longo das sequências, que os jovens não aguentam viver na sociedade onde vivem, cada um com seu motivo. Isso gera um conflito interno muito grande, um jovem segurança de um edifício com andares desativados, um casal de namorados que tinham a vida toda pela frente, jovens com estruturas emocionais fortes outros nem tanto. Cada um a sua maneira vai deixando de tentar viver a vida como ela é e embarcam em um plano inconsequente. A ficha parece que só cai quando estão confinados em uma loja no fim da noite, discussões e ações, além do conflito de ideias, tomam conta dos diálogos e as incertezas e o medo apontam para todos eles.  Presos em seus próprios pensamentos, o não saber o que fazer dali para frente é uma verdade que eles não conseguem esconder.


Bonello, que dirige e assina o roteiro, mais uma vez volta às telonas com uma trama intrigante e corajosa que expõe uma parte da sociedade em crise de consciência e totalmente inconsequente que muitas vezes encontra refúgio no seu gritar em atitudes que impactam negativamente ao todo levando o medo para outras pessoas. Nocturama é um filme para ser visto, discutido e analisado. Uma aula de cinema desse cineasta francês que possui trabalhos interessantes em sua vasta filmografia.
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Crítica do filme: 'Trapped'

A luta pela sobrevivência é uma questão de persistência. O drama camuflado de thriller Trapped (sem tradução para o Brasil), dirigido Vikramaditya Motwane é uma daquelas histórias inusitadas do cotidiano que acabam ganhando contornos épicos pelas lentes de um bom diretor e um ator protagonista inspirado. O filme, basicamente, fala sobre a sobrevivência, nossos instintos mais humanos e ainda provoca discussões no campo religioso. Diretamente na Índia, esse belo trabalho deixará você com os olhos grudados na tela e ainda imaginando teorias sobre seu final.

Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Shaurya (Rajkummar Rao) que após criar coragem consegue se declarar para uma outra jovem que trabalha  em uma empresa com ele. Só que tem um problema, a jovem está com data de casamento marcada com uma outra pessoa (o famoso casamento arranjado). Para tentar continuar com seu grande amor, o protagonista precisa encontrar um lugar para eles morarem em menos de dois dias. Por circunstâncias do destino, consegue um apartamento no último andar de um edifício em fase de espera do alvará para poder ser habitado. Na primeira noite que se muda para lá, quando acorda, Shaurya deixa a porta da rua bater com a chave do lado de fora. Totalmente sozinho, sem ter como sair do apartamento e em um prédio desabitado, ele precisará de muita criatividade e coragem para sobreviver.

O roteiro é cirúrgico. Define muito bem seus arcos, deixando um grande espaço de clímax em seu miolo onde explora as ideias criativas que surgem na cabeça do protagonista para sobreviver. Com apenas uma garrafa de água, ele monta um engenhoso sistema de resgate da água da chuva, faz um estilingue para tentar chamar a atenção dos vizinhos do prédio, mesmo estando a dezenas de metros de altura, precisa definir se vai contra sua religião ou sobrevive comendo um pombo. O filme não perde sua angústia em nenhum instante e isso é algo excelente pois nos conectamos rapidamente com o que acontece em cena tentando encontrar uma solução para o protagonista. Aliado a tudo isso, uma atuação assombrosa do ator Rajkummar Rao, praticamente sozinho em cena durante boa parte do filme, conquista a atenção do público.


Não é possível entender porque tantos poucos filmes indianos chegam no Brasil. Será falta de observação das distribuidoras nacionais? O último filme indiano que entrou no circuito exibidor que lembramos é o espetacular Lunchbox, lançado pela Imovision anos atrás. Um mercado tão influente na indústria como o indiano, com tantos cineastas excelentes, merece cada vez mais ter espaço por aqui. Pena que a maioria dos nossos cinemas que ainda continuam muito norte americanizados. 

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Crítica do filme: 'Como Nossos Pais'

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e precisa lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões, aliada a uma impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.

Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.

Uma super heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma perturbação inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje. Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como a aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as explosões em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e, assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada esquina.

Na parede da memória, a lembrança é o quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada na história e quando acontece a virada da personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner) afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as atitudes irresponsáveis dele na vida.

Nessa última semana estreou Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante, talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a luta com super poderes por tentativas diárias de conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz chega aos cinemas brasileiros no final de agosto e você simplesmente não pode perder.


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05/06/2017

Crítica do filme: 'Uma Família de Dois'

A paternidade nos aproxima de um sentimento suave e agridoce de perdão por nossos pais, que agora somos nós. Dirigido pelo cineasta francês Hugo Gélin, em seu segundo longa metragem na carreira, Uma Família de Dois é um drama disfarçado de comédia com muitas reflexões sobre a paternidade e o modo de encarar a vida quando essa toma rumos jamais imaginados. Contando com o carisma e o talento do ator francês Omar Sy (Intocáveis), o filme não deixa de ser um recorte dramático sobre o amor de um pai com sua filha.

Remake do longa metragem mexicano Não Aceitamos Devoluções (2013), Uma Família de Dois conta a história de um inconsequente homem chamado Samuel (Omar Sy), que leva a vida entre um romance e outro trabalhando em um resort em um lugar paradisíaco da França. Certo dia, após passar a noite com duas mulheres dentro de um barco, uma antiga conhecida chamada Kristin (Clémence Poésy) aparece em sua vida trazendo com ela uma criança e dizendo que Samuel é o pai. Após ser surpreendido pela notícia e com o abandono de Kristin da história, Samuel, ao longo dos anos, cresce e amadurece dando o que tem de melhor nessa vida para sua filha. Assim, se muda para Londres e consegue um emprego de dublê, carreira que segue com sucesso até o inesperado retorno da mãe de sua filha a história.

O primeiro arco é bastante corrido, conhecemos Samuel e sua vida desleixada, repleta de noitadas e mulheres. O choque por suas inconsequências constantes chegam ao mesmo tempo que Gloria (a criança abandonada pela mãe) chega em sua vida. O caminho percorrido é intenso e desgastante, precisa arrumar um emprego e uma moradia em uma cidade que não conhece, nesse tempo , como um anjo, surge em sua vida Bernie (Antoine Bertrand) um gerente de elencos famoso que acaba adotando não só o pai mas a pequena criança. O segundo arco mostra a estabilidade e a busca constante de Samuel em busca de notícias de Kristin (por quem tenta se corresponder pelo inbox do facebook), além de explorar como se sente a jovem menina, agora com quase 10 anos, em relação a sua mãe que ela acha ser uma agente secreto (fruto de uma mentirosa ideia de Samuel). No ato a seguir, somos surpreendidos com o retorno da mãe da menina e todo o desenrolar jurídico que acaba sendo consequência quando Kristin resolve se aproximar da filha e ser sua mãe novamente mas aí surpresas sobre a vida são colocadas na mesa e o filme se tornar bastante emocionante com lindas cenas já perto de seu desfecho.


Essa comédia dramática francesa estreia no final de junho no circuito brasileiro, é um recorte sobre a vida e a maneira como precisamos, as vezes, mudar para que as pessoas que amamos, que nos cercam, tenham todas as ferramentas do mundo para se sentir feliz.


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Crítica do filme: 'Quem é Primavera das Neves'

Se o futuro existisse, concreta e individualmente, como algo que pudesse ser discernido por uma mente melhor dotada, talvez o passado não fosse tão sedutor. Dirigido por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, Quem é primavera da Neves, essa curiosa fita, navega pelas vertentes da curiosidade e das memórias para contar uma história adormecida nas lembranças de quem a conheceu mas muito viva para explicar também contextos brilhantes da história.

Nesse belo documentário, selecionado para o interessante festival É Tudo Verdade, somos testemunhas do faro e curiosidade do grande diretor brasileiro Jorge Furtado em encontrar Primavera das Neves, tradutora portuguesa que veio para o Brasil fugindo da ditadura em Portugal com seus pais aos nove anos de idade. Primavera é a responsável, entre alguns livros, pela tradução de Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll.

Filha de um anarquista e uma sufragista, amante de música clássica, tentamos entender sua jornada de vida através dos olhos de amigos próximos e do olhar afiado de Furtado. As costuras do roteiro, viajando um pouco sobre a história mas sempre com um olhar atento à vida de Primavera. A narração de Mariana Lima dá um desenvolvimento necessário para que essa bonita saga de descobertas seja melhor compreendida, principalmente com citações de lindos textos que Primavera traduziu ao longo de sua carreira.

Quem é Primavera da Neves estreia no circuito exibidor no meio desse mês de junho, é um recorte curioso de uma imigrante mas que também fala muito sobre nossas origens.  


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04/06/2017

Crítica do filme: 'Mulher-Maravilha'

O coração da mulher, como muitos instrumentos, depende de quem o toca. Criada em 1941 por William Moulton, depois vista na série homônima da década de 70, um dos mais aguardados lançamentos deste ano era sem dúvidas esse blockbuster Mulher-Maravilha. Dirigido pela californiana Patty Jenkins (do impactante Monster: Desejo Assassino) e protagonizado pela belíssima Gal Gadot, o filme foca no feminismo e representativa da personagem título sendo também resgatada sua origem ligada a mitologia grega com citações a deuses poderosos e suas principais qualidades como guerreira.

Na trama, conhecemos uma ilha paradisíaca chamada Temiscira, onde só moram mulheres e possui como sua líder a rainha Hippolyta (Connie Nielsen).  Desde pequena, a jovem e futura amazona princesa Diana (Gal Gadot) queria ser uma guerreira e quando cresce descobre segredos de sua força. Certo dia, um avião cai no mar e Diana salva o único tripulante, o militar e espião Steve Trevor (Chris Pine) de quem escuta que o mundo está em guerra. Após navios inimigos tentarem invadir Temiscira, Diana resolve embarcar em uma viagem rumo à desconhecida humanidade, buscando encerrar o conflito mundial e assim também lutar pelo bem estar de todos ao seu redor.

O filme foca seu primeiro arco na infância e adolescência de Diana, uma princesa de um reino visualmente deslumbrante escondido/protegido do restante da humanidade. Desde a infância, acompanhamos a saga dessa guerreira que a princípio tinha muitas restrições de sua mãe Hippolyta (Connie Nielsen) para que aprendesse as técnicas de luta ensinadas pela General Antiope (Robin Wright). Mesmo guardando segredos sobre sua origem, a Rainha Hippolyta sempre soube que um dia sua filha Diana encontraria seu destino. É quando chega Steve Trevor, um espião envolvido atrás das linhas inimigas que roubou um caderno de anotações importante e está em busca de ajuda para tentar que a guerra tenha vitória das forças aliadas.

O miolo do roteiro explora questões dos homens e suas intermináveis guerras. Os defeitos e qualidades da humanidade são colocadas em xeque pela visão diferenciada e protegida da primeira heroína da DC. Conforme vai descobrindo mais sobre as limitações humanas, Diana vai criando sua própria opinião sobre quem realmente é, e a quem precisa defender. Cenas cômicas entre uma sequência e outra são vistas e dão um toque elegante no choque cultural sofrido pela protagonista.


Em seu arco final, a dor e o sofrimento tomam conta e vão dando a sustentação e maturidade que Diana nunca encontrara, assim como o primeiro amor, assim como sua importância e representatividade feminina.  Mulher-Maravilha é um dos melhores longas metragens feitos pela DC mas sem tanto brilhantismo como alguns clássicos da Marvel. De qualquer forma, essa aventura empolgante cumpre com louvor seu papel de entreter o público com uma boa trama e um roteiro de tirar o fôlego. 
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Crítica do filme: 'Vida'

Claramente inspirado no clássico Alien, Vida, recentemente lançado no circuito brasileiro (onde ficou pouco tempo em cartaz) é uma ficção científica de qualidade transformando uma simples missão espacial em uma mescla de luta pela sobrevivência em paralelo ao senso comum de defesa do planeta. Estimado em 58 Milhões de Dólares, dirigido pelo cineasta sueco Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo) e escrito pelos mesmos roteiristas da sensação de bilheteria do ano passado Deadpool, Paul Wernick e Rhett Reese, o blockbuster apresenta mais lacunas preenchidas sobre sua trama do que a história inesquecível de Ridley Scott. 

Na trama, conhecemos seis astronautas, muitos deles cientistas, que por conta da curiosidade norte americana em continuar explorando o espaço e seus mistérios, são designados para uma missão complexa e cheio de protocolos onde precisam descobrir se realmente há vida inteligente em Marte. Assim, um organismo é encontrado, na verdade coletado, e levado para dentro da estação espacial onde estão para melhor ser analisado. Após dias de comemoração pelas primeiras promissoras descobertas, a instabilidade e o desconhecimento, aliados a impressionante evolução da mostra marciana encontrada, transformam a missão em uma luta pela sobrevivência e escolhas difíceis precisarão ser tomadas.

Como toda conquista norte americana, Nasa principalmente envolvida, os louros e as comemorações chegam logo ao povo americano, tanto que no filme, o nome do organismo ganha o nome de Calvin, em homenagem a uma escola que concorreu com outras dezenas para conquistar esse direito de escolher o nome da espécie que eles mesmo não sabiam direito o que seria e como poderia evoluir. Não chega como uma crítica já que o assunto é abordado de maneira rápida pois o foco do longa fica mesmo no desenrolar da descoberta dos cientistas astronautas, do que o organismo em questão é capaz.

O clima de tensão é grande durante todo o filme. Quando os astronautas perdem o contato com o centro de controle espacial na Terra, os ânimos variam, e decisões precisarão ser tomadas em grande equilíbrio, principalmente pelo fato/risco do organismo marciano conseguir sobreviver e chegar de alguma forma na atmosfera do nosso planeta. Sem pouco conhecer sobre o organismo, um gigantesco quebra cabeça de hipóteses é pensado e o comando da missão vai caindo de colo em colo conforme os acontecimentos. O filme em certo ponto vira um grande jogo de rpg onde temos que torcer pelo personagem que mais achamos qualificado para resolver as complexas dificuldades que são apresentadas muito pela consequência da mutação do organismo encontrado.

Não devemos pensar que Life, no original, é uma cópia de Alien, por mais que existam semelhanças. É um filme bom para quem curte tramas do gênero e com um final que deixa a todos de boca aberta.


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01/06/2017

Crítica do filme: 'Kiki - Os Segredos do Desejo'

Falando sobre casos inusitados e vícios peculiares envolvendo desejos sexuais, o cineasta espanhol Paco León (que também atua no filme) reúne algumas histórias de pessoas e seus dramas, em uma Madri diversificada e cada vez mais cabeça aberta. Kiki - Os Segredos do Desejo, com estreia confirmada para a próxima quinta-feira (08), é quase uma reunião de curtas que tenta explorar o mais profundo possível tabus e o sofrimento dos casais envolvidos. É um remake com pitada europeia do filme de 2014 do cineasta Josh Lawson, A Pequena Morte.

Na trama conhecemos diversas pessoas que possuem em comum algum fato não comum ligado aos seus próprios desejos sexuais. Tem uma esforçada trabalhadora de barraquinha de tiro em parque de diversão que sente tesão quando o marido chora, tem uma mulher que fica com tesão por plantas e quando é assustada por um assalto, tem outra que se excita tocando nas camisas de sedas, o longa explora também o poliamor em um dos retratos. Essa reunião de histórias bem puxadas para a dramédia tenta colocar respostas em diversos tabus que vemos no mundo aqui de fora da telona.

O uso da comédia é um recurso interessante para falar sobre o tema. O problema é que o filme chega a ser meio bobão em algumas partes, tamanho o exagero em algumas cenas mas tenta sempre dar sua profundidade a temas polêmicos que podem aparecer a qualquer esquina. O projeto, que é uma história adaptada de um filme australiano tenta a todo instante mostrar sua própria personalidade e por vezes consegue. O elenco parece que estudou bem o outro filme (o original), seguem perto da linha de atuação do outro set. Não há compromisso seguido de perto do roteiro com os assuntos abordados em muitas situações, tem vezes, onde percebemos os exageros, que há uma comédia forçada até no gestual dos personagens.


Para quem curte das umas boas risadas sem compromisso e consegue desviar dos exageros Kiki - Os Segredos do Desejo pode ser um bom programa pro próximo fim de semana.
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