17/07/2017

Crítica do filme: 'Okja'


A amizade não se busca, não se sonha, não se deseja; ela exerce-se. Escrito e dirigido pelo genial cineasta sul coreano Joon-ho Bong (dos espetaculares Expresso do Amanhã, Mother e The Host), Okja é uma baita crítica à indústria dos alimentos além de uma metáfora poética sobre a amaizade. Com personagens fascinantes, principalmente o fofíssimo Okja, um super porcão carismático (se fosse da Disney já encontraríamos bonequinhos à venda pelas prateleiras) , um roteiro cirúrgico que escancara argumentos profundos sobre os limites de mega indústrias e o caótico arranjo da indústria alimentícia esse projeto é um dos filmes inesquecíveis desse ano de 2017.

Na trama, conhecemos Mija (Seo-Hyun Ahn), uma jovem alegre e determinada que mora no alto de uma montanha na capital da Coreia do Sul. Mija foi praticamente criada junto com um super porco chamado Okja, esse, projeto de uma mega indústria liderada pela misteriosa Lucy Mirando (Tilda Swinton) que enviou no ano de 2007 vários porcos gigantes para serem criados por fazendeiros de todo o planeta para que depois de 10 anos haja uma eleição de melhor super porco. Com os dez anos passados, já em 2017, chega a hora de Okja voltar para as mãos da empresa, só que Mija não deixará essa viagem ser fácil e lutará para ficar com seu grande amigo.

Com um ar de sensibilidade absurda, com uma fotografia belíssima, Okja é o melhor filme do ano até agora não lançado nos cinemas. Em seus arcos, muito bem definidos, passeamos por críticas a indústria dos alimentos, o papel da imprensa na revelação de determinados fatos, o valor da amizade aos olhos de uma jovem com um coração gigante, toda uma cultura oriental representada muito fortemente pela figura do avô de Mija, ideologias de grupos de combate as explorações dos animais, os falsos limites de poder representados por Lucy Mirando (Tilda em atuação destacada buscando originalidade em sua personagem). Em cerca de duas horas de projeção esses e outros temas são captados de maneira bastante inteligente pelas lentes de Joon-ho Bong.


O carisma da protagonista é algo maravilhoso, junto com Okja, embarcam em uma aventura eletrizante (com cenas de ação muito bem produzidas, empolgantes) sem nunca deixar de abrir os olhos do público para as entrelinhas feitas pelas inúmeras críticas ao sistema/regime dos alimentos que todos nós acabamos tendo culpa pois somos consumidores. Muito bacana a Netflix produzir filmes e tal, mas esse em especial merecia um alcance de uma tela de cinema.
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15/07/2017

Crítica do filme: 'Despedida em Grande Estilo'

O que fazer quando você está já na terceira idade e vê seu mundo desabar quando descobre que o dinheiro de aposentadoria, merecido por toda uma vida trabalhando, não vai mais existir mês que vem? Dirigido pelo ótimo ator e cineasta Zach Braff (do inesquecível Hora de Voltar) Despedida em Grande Estilo é uma deliciosa comédia, com roteiro impecável e um trio de grandes atores (Morgan Freeman, Alan Arkin e Michael Caine) como protagonistas. Estimado em cerca de 25 milhões de dólares (o cachê desse trio não deve ter sido nada barato) o longa coloca seu foco na saga cômica criminosa sobre homens trabalhadores injustiçados buscando seus direitos tirados. Resultando em 96 minutos de grande diversão para o público.

Na trama, conhecemos os amigos e aposentados Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin), três homens que estão em dificuldades financeiras e em situação de risco para o futuro, pois, suas aposentadorias irão ser cortadas por conta de uma manobra macabra da empresa onde trabalhavam. Chateados e não tendo mais nada a perder, resolvem assaltar um banco e assim conseguir buscar a estabilidade financeira que tanto precisam. Só que a missão não será nada fácil e eles precisarão ralar muito para que tudo ocorra da maneira que eles querem.

O roteiro é costurado através do desejo dos personagens em buscar uma redenção por conta de sua aposentadoria ser praticamente extinta pela empresa onde trabalharam a vida toda. A partir daí vemos como a ideia surge, a entrada de ótimos personagens coadjuvantes na história, subtramas delicadas e cheias de emoção como a relação de dois deles com suas netas. Já no desfecho e sua respostas de como conseguiram o grande feito, o roteiro é cirúrgico, muito parecido com as respostas perfeitas de O Plano Perfeito.

A trilha sonora acelerada, nos coloca no ritmo que o filme propõe. Os preparativos para o grande assalto são hilários, com o trio de velhinhos tentando buscar uma boa forma física para fazer uma coisa que nunca pensaram em fazer. Tudo funciona com simples perfeição. As atuações são ótimas sendo buscando o lado cômico mesmo nas situações dramáticas.

Despedida em Grande Estilo estreou em alguns cinemas semanas atrás. Não teve o alcance que merecia. Em breve nos canais a cabo, provavelmente. Podemos dizer que é uma louvável homenagem a esses três grandes atores já em final de carreira que muito fizeram pela diversão de nós cinéfilos.
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14/07/2017

Crítica do filme: 'Transformers: O Último Cavaleiro'

Dirigido novamente pelo cineasta californiano (e grande destruidor de cenários) Michael Bay (Armageddon, A Rocha) Transformers: O Último Cavaleiro volta em partes no tempo para explicar melhor o início de uma das franquias mais famosas do mundo baseada na linha de brinquedos da marca Hasbro. Rodado em boa parte em Cuba (Velozes e Furiosos 8 também foi rodado lá), o longa busca explicar origens da franquia e saga dos heróis robôs carros que acumulou mais de um bilhão e bilheteria mundo a fora nos quatro últimos filmes. Mark Wahlberg volta ao papel de Cade Yeager, um dos protetores dos bons transformers, dividindo o protagonismo com a bela atriz britânica Laura Haddock (a Meredith Quill  dos dois filmes até aqui lançados de Guardiões da Gálaxia) que interpreta Vivian Wembley, uma professora de Oxford que é peça chave dessa nova história. O grande Anthony Hopkins faz uma boa participação com seu misterioso personagem.

Na trama, voltamos ao universo Transformers, onde Cade Yeager (Mark Wahlberg) vive escondido em uma área distante dos grandes centros junto com sua equipe e seus robôs que falam. O mundo está em atenção total por conta de segredos desse universo que acabam culminando em uma quase extinção de nosso planeta. Para salvar a todos nós, Sir Edmund Burton (Anthony Hopkins) , ex-oficial da marinha britânica e guardião do segredo dos Transformers, precisará juntar Yeager e a jovem professora Vivian Wembley (Laura Haddock), essa última, parente viva de um famoso personagem que todos conhecemos até por outros filmes. Assim, a turma, junto com os robôs do bem se reúnem para uma batalha pela sobrevivência da Terra.

As cenas de ações são a grande marca dessa história e de toda a franquia, nesse quinto filme não é diferente. Há um superficial e interessante contexto, falando de Rei Arthur, Merlin mas fica nítido que o roteiro acelera para se chegar nas cenas de ação e aventura que realmente são muito bem feitas. Há um nítido cuidado para que o filme agrade a toda família, desde a nova geração até a geração mais velha. Cumpre seu papel quando pensamos em entretenimento e fica quase impossível dizer que esse quinto trabalho não terá uma grandiosa bilheteria novamente, mesmo que um pouco cansativo no caso desse último longa.

O ar de comédia que de vez em quando embarca na história não funciona como em outros filmes da saga Transformers, esse filme de 2017 tem um ar mais sério, bem puxado pro lado sombrio. É uma fórmula que funciona até certo ponto, deixa lacunas em branco e muitas explicações parciais, talvez para serem explicadas em futuros longas. Uma válvula de escape importante é vista já dentro dos créditos, deixando uma margem bem grande para construção de novas histórias. Realmente há muito o que se explicar ainda, a história como um todo fica bastante confusa em alguns pontos.


Com quase duas horas e meia de duração, com muitas cenas de ação empolgantes e um roteiro apenas mediano, Transformers: O Último Cavaleiro é o famoso pipocão hollywoodiano de ação: foco total nas cenas de destruição e combates, embarca nos clichês, busca identidade própria de maneira bem superficial e acaba deixando lacunas em aberto para serem exploradas em concretos futuros filmes.  
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04/07/2017

Crítica do filme: 'Tour de France'

A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas. Exibido na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes ano passado, Tour de France usa a amizade para falar sobre preconceito e questões profundas entre pais e filhos. Quarto longa metragem do ator e diretor  Rachid Djaidani, o filme busca por meio de uma linguagem bastante jovem, com elementos musicais fortes, reproduzir uma história de afeto e esperança em uma França repleta de descriminação e preconceito.

Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, Tour de France conta a história de Far'Hook (Sadek), um jovem músico introspectivo que arruma confusão com invejosos outros músicos e acaba tendo que buscar refúgio na casa do pintor Serge (Gérard Depardieu), pai de seu produtor. Assim inicia-se uma jornada em torno de uma amizade que vai nascendo e onde as diferenças vão sendo postas aos poucos de lado conforme vão cruzando parte da França em busca de uma reprodução de quadros de um famoso pintor.

Os dois lados da moeda. A figura do protagonista, interpretado pelo rapper Sadek (em seu primeiro papel em um filme), representa o alcance do preconceito, tanto religioso como social, sua luta durante todo o longa é buscar seus objetivos descobrindo um novo mundo aos olhos de seu novo e mais velho amigo. Já Depardieu, em bela atuação, representa a força da amargura por erros no passado e a figura do preconceito. Durante boa parte do filme, situações vão fazendo esses dois mundos repensarem o país onde vivem, sejam nas representações de outras culturas, seja por atos de terceiros. Há uma bela construção e desconstrução dos personagens, Depardieu nas cenas leva o novato como um professor de dança ensinando a um aluno sua arte.

As subtramas conseguem um certo alcance dentro da história. Principalmente a do filho (o produtor de Far’Hook) que não fala mais com o pai (Serge). Quando conhecemos melhor a história de Serge, o filme cresce e muitas pontas soltas do roteiro são rapidamente amarradas deixando o filme transbordar em emoção. Talvez por ter uma linguagem bastante jovem, muito pelo foco demasiado em alguns momentos captados pelo diretor, o filme demora um pouco a entrar no ritmo. A variação de tipos de imagens, com câmeras de celulares em alguns momentos, deixam o filme com uma grande personalidade e originalidade.


Tour de France entra em circuito no próximo dia 13 de julho, é um filme para se refletir, faz força em falar sobre como o mundo estão nos dias de hoje, tudo isso pelos olhos de intrigantes personagens.
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Crítica do filme: 'Julho Agosto'

Família, família, papai, mamãe, titia. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème, Julho Agosto é um delicado retrato sobre a juventude e como é na realidade o relacionamento de pais e filhos. O longa metragem, com previsão de estreia no Brasil já na próxima semana (13), tem ótima direção o que nos coloca bem próximos dos personagens, suas angústias e resoluções das consequências são bem exploradas pelas lentes do diretor.

Na trama, conhecemos as irmãs Laura (Luna Lou) de 14 anos e Joséphine (Alma Jodorowsky) de 18 anos, que precisam passar suas férias em dois tempos. A primeira parte com sua mãe Anne (Pascale Arbillot), que acaba de saber que está grávida, e, seu padrasto endividado, o editor Michel (Patrick Chesnais), em uma casa linda onde curtem sempre as férias. No segundo momento, as irmãs viajam de trem até a casa de seu pai Franck (Thierry Godard) que passa por um momento de solidão em uma região fria e está apaixonado pela garçonete de um dos restaurantes da região. Assim, ao longo das férias, as irmãs, cada uma com sua visão do mundo, irão viver aventuras e conhecerem melhor o significado da palavra família.

O dom de educar é extremamente complicado e o entender os filhos mais ainda. Esse reflexo é aplicado na história pelos olhos da complicada Laura, uma menina com síndrome de adulta que faz de tudo para conquistar a atenção dos pais, do padrasto e principalmente da irmã. Já Joséphine é uma jovem entrando na idade adulta, se envolve em um romance com um pequeno criminoso da região, se preocupando pouco com a família e sentindo na pela as consequências dos seus atos. O pai e a mãe das meninas possuem um carinho eterno, tem uma cena linda onde o primeiro viaja quilômetros só para dar um abraço na ex-companheira que agora está grávida do terceiro filho. Unidos pelo entendimento das meninas, tentam a todo custo fazer do cotidiano delas positivo, algo que elas levem para toda vida.

Nesse grande aulão sobre a juventude e a maneira às vezes complicada que buscamos nos comunicar com nossos filhos, vale observar o papel do padrasto das meninas que de sua forma mais simples tentar passar ensinamentos e ajudar no que elas precisam. Já com a pretendente do pai, a irmã menor sente um grande ciúme já a maior apoia. Essa gangorra de opiniões junto com a personalidade desses personagens fascinantes transformam esse projeto em uma pequena obra prima com foco na família.


Julho Agosto é bem objetivo em seus 96 minutos de projeção, quase duas histórias em uma só mas que se complementam perfeitamente. Uma história com reviravoltas e passagens marcantes no cotidiano de uma família onde o amor reina.
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03/07/2017

Crítica do filme: 'O Zoológico de Varsóvia'

Os horrores da guerra e a coragem de alguns para esperança de outros. Dirigido pela cineasta neo Zelandesa Nick Caro (do excelente Encantadora de Baleias) e baseado em histórias do livro The Zookeeper's Wife: A War Story, de Diane Ackerman, O Zoológico de Varsóvia é mais um recorte das histórias da maior das grandes guerras, onde milhares de lares foram extintos e onde poucos conseguiram ajudar quem mais precisava. Explorando todo o contexto que cercava a Polônia em época de guerra, o filme conta com uma bela fotografia mesmo que em alguns momentos o roteiro seja um pouco arrastado. No papel principal, Jessica Chastain prova que uma boa atriz consegue fazer de um filme bom um belo trabalho.

Na trama, voltamos à Polônia, no final da década de 30, perto da invasão nazista, onde o casal Antonina (Jessica Chastain) e Jan (Johan Heldenbergh) vivem felizes administrando um zoológico bastante frequentado em Varsóvia. Quando a invasão nazista chega mais forte na Polônia, a rotina da família é modificada, resolvendo abrigar dezenas de judeus perseguidos pelos alemães por todos os lados na capital polonesa. Dedicando seus esforços nesse tempo de guerra e perseguição, o casal precisará com Lutz Heck (Daniel Brühl) que antes um amigo acaba se tornando um dos chefes da invasão nazista naquela parte da Polônia.

O filme é muito detalhista quanto ao contexto histórico que ocorre e explica um pouco sobre o maior gueto judaico estabelecido pela Alemanha Nazista na Polónia durante o Holocausto, o Gueto de Varsóvia. Exatamente por esse gueto e conseguindo entrar e sair, Jan, alegando buscar comida para os porcos que eram criados no zoológico para alimentar as tropas nazistas lá instauradas, consegue retirar dezenas de Judeus e os colocar em seu caminhão a caminho a sua casa, onde, ajudam os judeus a fugir com documentação falsa.

A personagem principal, divinamente interpretada por Jessica Chastain, é a grande alma do filme. Sua delicadeza e coragem com que encara essa nova fase em sua vida é algo bem nítido nas emoções da personagens, principalmente nos diálogos com seu marido e o modo como tenta lidar com as ações e observações de Lutz Heck. Antonina é uma guerreira da era moderna, sua luta é ajudar a quem precisa mesmo que isso coloque ela e sua família em constante perigo. Todo o carinho e dedicação com sua família refletem nos novos hóspedes que abriga, respeitando suas tradições e sendo uma referência para as crianças que ficaram longe de suas famílias.


A beleza de gesto positivos de generosidade e coragem dessa família vale todo o filme. O Zoológico de Varsóvia chega aos cinemas brasileiros em breve. Nick Caro consegue realizar mais um projeto com alma e muito delicado. Vale muito a pena conferir.
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