13/08/2017

Crítica do filme: 'Afterimage'

A imagem deve ser aquilo que você absorve. Escrito e dirigido pelo grande Andrzej Wajda, Afterimage, conta nessa cinebiografia a história sofrida de um dos maiores pintores da Polônia, um homem que criou o primeiro museu de arte moderna da Polônia, o segundo da Europa. Encontrando seu destino, escolhendo seu caminho, viveu obstáculos navegando em pensamentos ligados à natureza e ao centro de atenção que nos levam a observação. O roteiro é primoroso, caminhamos em uma Polônia quase destruída intelectualmente, Wajda capta magistralmente a dor e o sofrimento de maneira tão inversa ao superficial, um retrato marcante que fecha com chave de ouro a filmografia de um dos maiores diretores da Europa oriental.

Na trama, vencedora do Grande prêmio do Júri no último Festival de Cinema da Polônia, conhecemos parte da trajetória do pintor polonês Wladyslaw Strzeminski (interpretado pelo excelente Boguslaw Linda, em atuação inspirada), professor carismático e inspirador, parte de um seleto grupo de artistas, que enfrenta o Partido Comunista da União Soviética por conta de seus pensamentos e diretrizes políticas e acaba tendo parte de sua vasta obra retirada de museus e galerias e algumas até destruídas . Mesmo sofrendo essa repressão política, luta pelos seus ideais em uma espécie de reclusão, ao lado de sua única filha, o artista vai sentindo na pele os horrores de uma nova política no seu país.

Na arte e no amor, você só pode dar o que tem. Mesmo tendo um contexto melancólico e deveras triste, por tudo que cerca a vida do ilustre pintor após seus embates com os que comandam o pensamento em sua terra, o filme é poético ao abordar o amor pela arte e todos os inúmeros sentimentos que passa com sua arte. A força de Strzeminski vem de sua arte, que representa quem ele é, e também de seus fiéis alunos. O primeiro arco mostra essa união e toda a inspiração que representa aos estudantes de arte de uma escola referência, do qual foi fundador, em uma Polônia com novas diretrizes políticas e com pensamentos que prejudicam a liberdade artística de pintores e outros mestres da arte.

Na vanguarda de sua arte, impõe seus pensamentos sobre o que define ser uma obra artística. Deficiente de um braço e uma perna, oriundo de batalhas da primeira grande guerra, já no segundo arco começa a sofrer por seus ideias políticos e de pensamentos sobre o que é arte, levando-o a um caminho sem volta pela sobrevivência em uma época de recessão e medo. Sua relação com a família, nem tanto explorada, fica reduzido a Nika (Bronislawa Zamachowska), sua única filha que passa por todas as dificuldades com seu pai sempre demonstrando muito carinho e admiração por ele.


O filme, que estreou no Festival de Toronto, marca a despedida nas telas do grande cineasta Andrzej Wajda, um dos mais marcantes da filmografia europeia, que faleceu, aos 90 anos, em outubro do ano passado. Wajda, ganhador do Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra no ano de 2000, sempre focou em suas obras na política e história da Polônia, levando para telas de todo mundo um pouco de sua visão sobre vários contextos históricos que seu país passou. Em Afterimage, título não traduzido que chega ao mercado exibidor brasileiro no próximo dia 17 de agosto, não é diferente. O fim de uma carreira emblemática, usando a sétima arte como ferramenta de denúncia e do não esquecimento sobre a história de um país que viveu de perto.
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Crítica do filme: 'Nu'

Dirigido por um especialista em filmes/sátiras oriundos de blockbusters, o cineasta Michael Tiddes (Cinquenta Tons de Preto, Inatividade Paranormal) chegou a netflix tempos atrás com seu novo trabalho, Nu, uma comédia repleta de situações absurdas com uma pegada Feitiço de Tempo, completamente bipolar. No papel principal, o comediante bastante famoso Marlon Wayans (As Branquelas, Todo Mundo em Pânico), que tanta a todo instante provocar risos no espectador com seu limitado personagem que se mete em uma situação diferente, só vista em filmes.

Na trama, conhecemos Rob (Marlon Wayans), um professor substituto que não quer se dedicar tanto ao trabalho e lá se vão anos. Sua noiva, Megan (Regina Hall), uma médica de sucesso vinda de uma família de um grande empresário Sr. Swope (Dennis Haysbert), acredita que Rob um dia irá mudar e o defende de sua família. Assim, os apaixonados resolvem casar. Chegando no grande dia do casamento, uma situação, no mínimo, inusitada acontece: Rob acorda completamente como veio ao mundo em um elevador de um hotel que não era o que estava hospedado. Para completar a loucura, o dia mais desesperante da vida dele começa a se repetir inúmeras vezes.

Nem o melhor advogado do mundo conseguiria defender esse filme no tribunal cinéfilo. A direção é muito fraca, o roteiro não possui força de sustentar as absurdas situações que nossos olhos assistem. Nada funciona com um mínimo de harmonia. Abre-se espaço a todo instante para improvisos ou mesmo piadas pré produzidas, inseridas em um contexto caótico, sem organização ou ritmo. Chamado de comédia, tem pequenos lampejos de suspense, lugar onde o filme poderia ter ficado por mais tempo, talvez a única subtrama que poderia funcionar e que fica somente na superfície, tendo um desfecho para lá de sonolento.


De positivo, o filme procura ser bastante honesto em sua proposta. Arrisca dezenas de piadas, algumas encaixam, outra não. Veste a camisa de que é um filme de comédia sem compromisso, feito para rir em alguns momentos modelando sua ações em uma situação constrangedora e com um protagonista que busca encontrar o seu carisma em todos os momentos. 
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09/08/2017

Crítica do filme: 'Um Filme de Cinema'

O lugar onde nossos sonhos vivem e que o projetor é acionado pela emoção. Decifrando métodos e pensamentos de grandes nomes do cinema atrás das câmeras, o brilhante homem de cinema - falar que ele é apenas diretor seria muito pouco - Walter Carvalho nos apresenta, por meio de depoimentos marcantes de grandes nomes do cinema mundial, as brechas da realidade, as flechas do tempo, o imperativo do ritmo, pessoas que nos levam a magia na tela lisa onde sonhos e pensamentos são colocados.

A poesia das primeiras imagens já colocam o espectador com os olhos atentos a uma série de argumentos, quase um aulão de ‘pré vestibular cinéfilo’. Entre um pensamento e outro, o escritor Ariano Suassuna e suas deliciosas experiências vendo filme em cinemas emblemáticos do sertão. Há uma poesia de plano de fundo, alguns dirão inexplicável. Nessa grande homenagem a todos que amam a sétima arte, que teve mais de uma década de planejamento e filmagens, Walter Carvalho busca os diferentes motivos que integram a vontade de filmar de grandes cineastas. Gus Van Sant, Julio Bressane, Ruy Guerra, Hector Babenco, Bela Tarr, Ken Loach, Andrew Wajda são alguns dos grandes nomes que prestam depoimentos sobre sua arte de filmar.

Tendo como cenário inicial as ruínas do Cine continental no Sertão da Paraíba,
abordando a linguagem cinematográfica, Um Filme de Cinema que estreia agora em agosto no circuito exibidor brasileiro, não deixa de emocionar. Plano a plano, o prazer e as frustrações, são temas de raciocínios, alguns até em forma metafórica. Os nossos sentidos básicos, o olhar ligado ao espaço e ouvido vinculado ao tempo, seus movimentos e o som, dentro ou fora do quadro, temos uma aula de cinema captadas por argumentações e pensamentos pela lente inteligente de Carvalho.


O capitalismo e a criação audiovisual, o cinema autoral e os pontos do cinema blockbuster,  muita coisa sobre o que cerca a poderosa indústria da sétima arte no mundo a fora também recebe argumentos. Talvez, o depoimento mais marcante sobre cinema x indústria cinematográfica, o húngaro genial Bela Tarr fala que a maioria dos filmes excluem o tempo, por só querer focar em histórias: Ação, corte, ação... Mas assim, ainda segundo o diretor do brilhante de longos planos O Cavalo de Turim, você pode perder muitas coisas que você pode ter na vida. A arte de verdade tem que estar mais próxima da vida do que do mercado.
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05/08/2017

Crítica do filme: 'Love Film Festival'

O começo de um fim que já começou perto de acabar. Dirigido por quatro cineastas diferentes,  cada um em um país onde foi rodado, com direção geral de Manuela Dias, Love Film Festival é uma singela metáforas sobre o amor, um recorte na vida de duas pessoas, seus encontros e seus distanciamentos pelas escolhas que fazem. O roteiro é inspirador, parece que conversa com o espectador a todo instante, deixando sempre a necessidade em nossos corações de saber o final dessa saga. Uma trilha sonora afiada que comanda o centro das sequências ajuda a dar o ritmo nessa história de amor cheia de idas e vindas, como tantas outras que conhecemos na realidade.

Na trama, conhecemos Luzia (Leandra Leal) e Adrian (Manolo Cardona), dois profissionais da indústria do cinema, uma brasileira e um colombiano que durante anos e mais profundamente em quatro festivais se conhecem profundamente e vivem um conto moderno de amor, decepção e oportunidades. Ao longo dos anos, vamos conhecendo melhor os personagens e os desenrolares de suas escolhas, abdicando do amor por carreiras ou por não ter a certeza do que realmente querem, mesmo sentindo uma grande atração um pelo outro.

Escrevendo histórias de amor sem querer viver em sua totalidade suas mesmas histórias, os protagonistas  vivem as intensidades do conhecer o outro, da paixão, da atração, como peças de legos que se encaixam com perfeição em um primeiro momento e depois em situações que distanciam essas peças sempre com o acaso como vertente em seus futuros. O mundo dos festivais e suas confraternizações também são apresentados mais ou menos como acontecem de fato mesmo, acabam virando palco o cenário, ou o universo, perfeito para se desenvolver essa saga de amor, suas descobertas e desilusões. Entre encontros e desencontros, traições, crises de ciúmes, bebedeiras, os protagonistas seguem suas vidas relembrando em cada evento seu passado nem tão distante e sempre presente em suas memórias.

O filme cresce bastante no terceiro ato em diante quando outras variáveis entram nessa história de amor moderna. A dor das escolhas, os conflitos da amizade, os desentendimentos e compreensões apenas superficiais do que é estar junto, tudo isso reunido e interpretado com bastante maestria pelos envolvidos. Nesse conto moderno, bastante honesto e transparente, talvez a chave para seu sucesso, é o retratar as duras realidades dos desencontros e como isso influencia aos que tem o poder das escolhas.


Love Film Festival se encontra em cartaz em alguns cinemas, é um achado em meio a tantos filmes do circuito. No júri dos espectadores, não há favoritos, quem ganha sempre é o público.
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30/07/2017

Crítica do filme: 'Que Dios nos Perdone'

A razão e a inconsequência. A inconsequência e a razão. Indicado em categorias importante no último prêmio Goya, Que Dios nos Perdone (sem previsão de estreia no Brasil) é instigante, investigativo e que detalha as feridas emocionais dos personagens captadas pelas lentes inteligentes de Rodrigo Sorogoyen, diretor do longa. Ao longo de um pouco mais de duas horas de projeção, somos envolvidos em um thriller alucinante com grandes atuações onde cada peça do quebra cabeça vai aparecendo aos poucos em meio aos conflitos morais e psicológicos dos investigadores de casos de assassinatos interligados.  

Na trama, conhecemos os investigadores da divisão de homicídio da polícia espanhola Velarde (Antonio de La Torre) e Alfaro (Roberto Álamo), uma dupla totalmente diferente em relação a personalidade que precisam buscar a prisão de um serial killer de idosas em meio a chegada do papa bento XVI na Espanha. Lutando contra seus próprios demônios internos, por conta de suas personalidades distantes, os policiais entrarão em um caminho praticamente sem volta onde a obsessão e a inconsequência farão parte de sua rotina.

A dupla de investigadores é totalmente oposta mas que se completam. Velarde (Antonio de la Torre) é minucioso, sofre com o preconceito de uma gagueira, nunca deixa de ser objetivo e busca realizar seu trabalho com todos os elementos investigativos que um bom policial precisa ter. Alfaro (Roberto Álamo) é inconsequente, bruto, violento que se coloca em situações agressivas a todo instante e sofre as consequências de seu temperamento diariamente. Um sendo a força o outro a razão, precisam trabalhar em conjunto para buscar um serial killer que violenta idosas em um bairro na Espanha.

Os personagens são intrigantes, se veem como vilões em suas vidas pessoais, imperfeitos como muitos, conseguem reunir peças de uma quebra cabeça envolvente focando na busca de um assassino misterioso, implacável e perigoso. Durante essa busca, precisam convencer o chefe do departamento a classificar as mortes que acontecem como assassinatos de uma mesma pessoa mas isso entra em conflito com a chegada do novo papa o que deixaria em pânico os inúmeros visitantes que estão na Espanha. Como não possuem bom relacionamento com todo o corpo de policiais de sua divisão, entram em conflito a todo instante. O estopim da obsessividade chega por uma traição à Alfaro e um conflito amoroso de Velarde, transformando os minutos finais do filme em pura adrenalina.


Que Dios nos Perdone é um grande achado, um longa com direção competente e atuações acima da média juntamente com um roteiro intrigante que esgota até a última linha para detalhar seus personagens e seus conflitos. O cinema espanhol sempre nos proporciona coisas boas quando procuramos minuciosamente nos inúmeros lançamentos dessa escola europeia fantástica ano pós ano. 
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Crítica do filme: 'O Estranho que Nós Amamos'

As tensões das emoções guardadas e suas erupções abruptas nas tomadas de decisão. Ganhadora do prêmio de melhor diretora no último Festival de Cannes por este trabalho, a cineasta norte americana Sofia Coppola (dos ótimos As Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros) volta para atrás das câmeras após o polêmico Bling Ring: A Gangue de Hollywood para mostrar ao público uma história de época, já filmada pelo grande Don Siegel na década de 70 (e estrelada por Clint Eastwood), que fala sobre a tentação em muitas escalas explorada por um profundo isolamento social em época de guerra.

Na trama, ambientada durante a Guerra Civil Americana, durante uma caminhada próxima ao portão de onde mora, uma das moças de uma espécie de um internato feminino encontra um soldado da União chamado McBurney (Colin Farrell) que está ferido e à beira da morte. Querendo ajudar, a moça leva o soldado para o internato comandado por Miss Martha (Nicole Kidman) onde recebe todos os cuidados para sua breve recuperação. Durante sua estadia, nessa casa repleta de mulheres que vivem isoladas em tempo de guerra, uma grande tensão em muitos campos vai acontecendo aos poucos e também o medo de estarem ajudando um soldado da União, ele vai se tornando o grande centro das atenções.  

A direção é impecável. Coppola consegue captar as emoções e os conflitos internos, fruto da reclusão das jovens, de maneira inteligente e objetiva. Durante boa parte do filme, suas lentes passeiam pelo internato onde se passam a maioria das cenas, nos sentimos dentro daquela casa a todo instante. O clima de tensão que cresce a cada nova virada na trama ajuda a deixar o espectador com os olhos grudados na telona teorizando sobre como a consequência das ações feitas pelos personagens terão o seu final.

O roteiro baseado no filme de Don Diegel já comentado e na obra homônima de Thomas Cullinan acompanha o brilhantismo da direção em muitos momentos, mesmo não sendo impecável. Ao longo dos 93 minutos, bastante objetivos, explora a temática da tensão sexual que acaba surgindo de maneira detalhista e até certo ponto delicada, contando com atuações seguras, principalmente de Kirsten Dunst com sua enigmática Edwina e Nicole Kidman na pele da exigente, protetora, Martha.


Longe de ser algo Jane Austen de ser, principalmente com suas viradas interessantes que transformam um drama em quase um suspense com um final emblemático, O Estranho que Nós Amamos apresenta uma trama envolvente, com tons feministas e uma grande diretora inspirada. 
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29/07/2017

Crítica do filme: 'Real - O Plano Por Trás da História'

Money, Money, Money , Money. Plano real, bastidores da política brasileira de governos confusos passados, ritmo alucinante, as verdades ou não. Real - O Plano Por Trás da História, filme bastante polêmico que estreou no circuito brasileiro de exibição faz poucas semanas, chegou recheado de pedras lançadas por muitos por conta do momento de turbulência política que se encontra nosso amado país nos dias atuais. Falando de cinema, o longa metragem dirigido pelo cineasta Rodrigo Bittencourt, opta por dar evidência a um dos maiores economistas que o Brasil já viu, mesmo esse não sendo figura totalmente central (era mais um integrante da equipe) nos fatos ocorridos na realidade. O roteiro possui inflexões ligadas ao ritmo alucinante imposto.  Como um repórter apressado em busca de soltar uma notícia antes de apurar, para não deixar dúvidas, com um grande pente fino no que houve, o filme deixa brechas não preenchidas e principalmente argumentos superficiais.  

Na trama, conhecemos o personagem principal do filme, o famoso e competente economista Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto) que, no início da década de 90 durante o governo de Itamar Franco e após uma sequência de tentativas de planos econômicos confusos que acabaram atrasando demais o desenvolvimento econômico brasileiro chegando ao caos da hiperinflação, é selecionado para fazer parte de um mutirão de economistas renomados com uma única missão: criar uma nova moeda que se transformou no plano real usado até hoje. Ao longo de dias tensos, repletos de discussões e estratégias políticas o grupo precisará encontrar uma solução complicada e mostrá-la ao povo brasileiro, usando o dia após a data da final da copa do mundo vencida pelo Brasil em 1994.

Talvez, para deixar o enredo com mais cara de filme (na visão dos seus idealizadores), muitas coisas foram adicionadas à trama e que fogem da referência da obra 3.000 dias no bunker, de Guilherme Fiúza (de acordo com muitos, bastante fiel aos fatos que aconteceram de fato), de onde o roteiro fora inspirado. Um discurso acalorado do protagonista em cima de um caminhão de som em Brasília e um relacionamento amoroso complicado com a namorada são pelo menos dois fatos que podemos adicionar ao campo da invenção. Ao dar ênfase ao momento econômico histórico de nosso país, o filme procura preencher lacunas com muitos personagens (alguns caricatos como o petista interpretado por Juliano Cazarre) e algumas subtramas desnecessárias se afastando em alguns momentos do seu objetivo principal: mostrar o processo da criação do plano e deixar poucas dúvidas.


Real - O Plano Por Trás da História passou como uma flecha pelo circuito. Seria interessante saber o que os representados acharam do resultado. Tudo é muito corrido no roteiro, tentando buscar construir uma estrada para o caminhão das suposições passar.  
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23/07/2017

Crítica do filme: 'A Luta de Steve'

O amor nos faz viver, aprender e ter forças para os que nós amamos. Chegou aos cinemas brasileiros na última semana, um daqueles filmes emocionantes que contam a história de um pai, um herói, um atleta e um marido em forma de documentário. A Luta de Steve, Gleason no original, conta a história do ex-jogador de futebol americano da NFL Steve Gleason, um homem responsável por uma das jogadas mais marcantes da história desse jogo (que vem crescendo em audiência ano após ano no Brasil) e que ao se aposentar enfrenta um gigantesco drama por conta de uma doença ingrata. Ao longo de quase duas horas de filme, é impossível não se emocionar, e impossível não olhar para Steve e ver um exemplo do querer viver.

Nesse belíssimo documentário, somos apresentados ao personagem título, Steve Gleason, que aos 34 anos de idade e já aposentado de sua profissional de atleta de futebol americano do querido time New Orleans Saints, é diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, uma doença neuro degenerativa. Os médicos a princípio lhe deram poucos anos de vida, pois essa doença terrível vai tirando os movimentos do corpo aos poucos além de graves outros problemas pelo organismo. Dias após saber de sua doença, Steve descobre que vai ser pai e tem a ideia de fazer uma série de vídeos para seu filho além de criar uma grande iniciativa para tentar ajudar a outras pessoas com a mesma doença.
Uma grande lição de vida. Não temos como não definir dessa maneira esse lindo documentário. 

Alguns acharão exagerados, forte, mas essa é a realidade que Steve precisa conviver na realidade todos os dias. Com um enorme e inacreditável força para viver, o protagonista dessa linda história vai aos poucos se adaptando as suas novas rotinas conforme vai perdendo os movimentos de seu corpo. Os vídeos que faz para o filho acaba preenchendo lacunas de sua personalidade divertida e transparece um gigantesco amor e expectativa que tem pela chegada de seu filhão tão amado.

Os dramas com o restante de sua família não são deixados de lado. Cenas fortes de desabafos com o pai rígido, sobre fé e a maneira como foi criado recheiam o filme de emoção. Seu relacionamento com a sua esposa guerreira passa por diversos níveis mas o amor nunca falta. O reconhecimento de todos que conhecem sua história fazem com que Gleason crie uma associação chamada Team Gleason que ajuda pacientes com a mesma doença de Steve, além de prestar auxílio as famílias e realizar sonhos que nunca conseguiriam realizar sem ajuda.


A Luta de Steve é uma gigante redescoberta da vida que nos deixam reflexivos e dando um grande valor para todo o amor que ainda existe nesse mundo cheio de reviravoltas. 
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Crítica do filme: 'Um Contratempo'

Se o mundo girasse ao redor de você? Como seria o mundo para as pessoas que o cercam? Explorando as ambições, instintos e os limites do bom senso do ser humano, Contratiempo foi lançado na plataforma netflix alguns meses atrás e aos poucos vem ganhando uma notoriedade importante. Dirigido pelo cineasta espanhol Oriol Paulo (do ótimo El Cuerpo) o longa metragem é um daqueles suspenses arrepiantes que a cada ato entrega mais peças para o tabuleiro instalado em nossas mentes nos levando a uma jornada intensa de 106 minutos rumo as verdades dentre muitas mentiras.

Na trama, acompanhamos Adrián Doria (Mario Casas), um jovem homem de negócios que está na crista da onda profissionalmente falando. Já em sua vida pessoal, há várias contradições. Acusado recentemente de matar sua amante Laura (Bárbara Lennie), em um episódio que ele jura que não é como todos estão pensando, ele tem a decisão dos rumos de sua vida quando chega para entrevistá-lo uma das grandes advogadas de defesa da Espanha. Durante as próximas horas, muitas idas e vindas nas versões do crime cometido são detalhados e uma outra importante subtrama é jogada a limpa na mesa. Certo dia, após passar algumas horas com sua amante em uma casa isolada em uma região distante, acaba se envolvendo em um acidente de carro culminando fatalidade para um outro jovem que estava no outro carro. Assim, aos poucos vamos descobrindo e desmascarando a verdade que é chocante.

Nesse espetacular suspense,  tudo funciona cirurgicamente rumo a um final arrebatador. Começa com um primeiro ato intrigante, onde descobrimos as primeiras versões do assassinato cometido, mas obviamente deixando várias lacunas em branco. As subtramas são apresentadas cercadas de muito mistério, principalmente a entrada dos pais do jovem envolvido no acidente de carro. Tudo é cercado de mentiras camufladas de verdades. A relação do protagonista com sua amante e todas as reviravoltas que passam juntos é angustiante, somos testemunhas da ótica dos dois personagens em relação aos acontecimentos, a parte de Laura detalhada pelas suposições da advogada colocada para ajudar Adrián.

É muito difícil saber onde está a mentira entre tantos argumentos fortes. Até as verdadeiras facetas de alguns personagens serem reveladas vamos somando uma série de peças para tentar chegar ao que de fato aconteceu. O engraçado e de criatividade sensacional é que uma grande reviravolta acontece já no desfecho deixando parte da trama ainda em aberto mas que nem importante mais pois um mistério maior ainda é revelado aos nossos olhos e nos deixam simplesmente pasmos por essa revelação.

Contratiempo é um dos melhores suspenses do ano, sem dúvidas. Reúne grandes atuações, um roteiro magnífico e uma direção detalhista. Nem tudo é o que parece nessa arrepiante história. Não percam, disponível na netflix.
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Crítica do filme: 'O Círculo'

A vida é minha e eu só abro pra quem eu quiser. Baseado no livro homônimo escrito Dave Eggers, O Círculo é, antes de mais nada, uma tentativa de crítica social e tecnológica aos limites do bom senso. Jogando no liquidificador big brother, facebook e pitadas de show de truman, o projeto sofre com um primeiro ato bastante morno, cheia de lacunas para serem preenchidas no decorrer da trama. Os personagens não são carismáticos, há uma grande corrida para o clímax o que acaba deixando brechas importantes, as famosas pontas soltas, no roteiro. Dirigido pelo cineasta norte americano James Ponsoldt (dó ótimo The Spectacular Now e do interessante Smashed: De Volta a Realidade) tinha tudo para ser um grande filme, possui momentos interessantes, mas acaba parando nos clichês e fazendo o espectador acreditar que o livro possa ser melhor.

Na trama, conhecemos Mae (Emma Watson), uma jovem que trabalha em um lugar onde não gosta e vive com seus pais em uma casa humilde em uma cidade norte americana. Certo dia, consegue uma grande oportunidade de uma entrevista em uma empresa nova, famosa ligada a tecnologia, informações, dados e redes sociais chamada o Círculo. Chegando lá, sua primeira impressão é estar no paraíso, o ambiente de trabalho é maravilhoso e sempre acontece várias atividades ‘extra job’ como shows de músicas e variadas festas. Conforme o tempo passa, a protagonista percebe que nem tudo é mil maravilhas, principalmente como passa a viver como se estivesse em um reality show e toda sua vida é transmitida ao vivo todos os dias da semana. Percebendo a furada em que se meteu e com a ajuda do criador da ideia da empresa que vive agora imperceptível e quase escondido Ty (John Boyega), Mae tentará achar uma solução para o abuso digital cometido pela empresa.

O mundo vive um grande paradoxo de avanço de funcionalidades básicas que facilitam um simples pagamento de conta até a criação de elos de amizades instantâneos via assuntos incomuns (muitas vezes). Os livros de verdade estão sendo aos poucos substituídos por tablets e e-books, as relações interpessoais estão sendo cada vez mais ‘curtidas’ e um simples abraço ou aperto de mão está virando algo quase obsoleto. Isso é bom ou ruim? Tudo é filmado, postado, compartilhado. A informação virou questão de segundos. No segundo ato do filme, abordando as relações variadas num universo digital sem filtros, o longa metragem tem seu melhor momento, com argumentos variados para um problema que enfrentaremos bem mais forte futuramente.

Eles pedem perdão mas não pedem permissão. O cotidiano da protagonista muda bastante conforme vai crescendo na linha de comando e estratégia do Círculo. Suas reuniões com seus chefes, um deles interpretado pelo ganhador do Oscar Tom Hanks, são intensas e cheias de entusiasmo, fato que muda bastante aos olhos de Mae pois as consequências para a quebra de privacidade são inúmeras e sentidas na pele pela personagem. Por conta do abuso da tecnologia e a falta de limites sobre a privacidade alheia, Mae se afasta dos pais, da melhor amiga Annie (que a colocou dentro da nova empresa), e vive via ‘live’ um trágico episódio com um amigo de infância, Mercer (Ellar Coltrane de Boyhood: Da Infância à Juventude).


O Círculo, talvez, possa ter o papel para refletirmos nossa sociedade globalizada de hoje em dia. É um exercício sobre privacidade alheia e um tom agudo de abuso de tecnologia para obter o controle de muitos, por poucos. 
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