13/09/2017

Crítica do filme: 'Stockholm Stories'

Baseado na obra homônima de Jonas Karlsson e marcando a estreia na direção  de uma longa metragem da cineasta sueca Karin Fahlén, essa pérola sueca chamada Stockholm Stories é uma história suave sobre pessoas, suas emoções e suas escolhas em uma Estocolmo repleta de amargura mas com a necessidade do sonhar. Abordando, assuntos que vão desde a adoção até as inúmeras formas de amar, o filme navega em sua poesia ao mesmo tempo que o espectador é fisgado a todo instante com as ótimas viradas que a trama ruma.

Na trama, conhecemos cinco pessoas, totalmente diferentes que enfrentam encruzilhadas decisivas para suas vidas e cujos caminhos se cruzam durante alguns dias chuvosos em novembro. Johan (Martin Wallström), talvez o personagem mais fora da curva da história, é um jovem escritor que vive pedindo para uma famosa empresa editora publicar seu livro mas sofre por uma obsessiva história e ainda é taxado como o filho sem talento de um grande escritor. Douglas (Filip Berg) está apaixonado por uma amiga que reencontrou casualmente chamada Anna que acabou de ser largada pela amante, uma política famosa, e agora está sem rumo na vida. Jessica (Cecilia Frode), uma publicitária, sofre com seus dramas e resolve escrever uma carta para destinatário desconhecido e persegue um famoso da Tv por conta de uma premiação mal explicada. Thomas (Jonas Karlsson) é um workaholic solitário que curioso quando vê seu nome em uma carta misteriosa. Assim, esses personagens vão aos poucos encontrando seus rumos e se encontrando.


Uma reunião de fatos encontrados no cotidiano de nossa realidade transformam esse pequeno retrato urbano em algo profundo com dilemas e escolhas que muitos de nós vamos nos familiar. A condução dos arcos é detalhista, o roteiro ajuda muito, tinha tudo para ser confuso, mas as doses certas de informações sobre cada histórias caem como uma luva nas mãos da diretora Karin Fahlén. Os assuntos abordados são inúmeros, os seus desfechos satisfatórios com ar metafórico. Esse projeto mostra toda a força do cinema contemporâneo sueco e uma grande habilidade em retratar o ser humano e seus conflitos.


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07/09/2017

Crítica do filme: 'Tempestade de Areia'



Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade. Selecionado como representante de Israel ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, Tempestade de Areia, falado todo em árabe, abre mais uma vez os campos de discussões sobre culturas e tradições sobre os direitos da liberdade de escolha na vida das mulheres que vivem cercadas de imposições de costumes. Na linha de frente da história estão duas mulheres corajosas que sofrem com essas imposições. A cineasta israelense Elite Zexer, em seu primeiro longa-metragem, consegue criar um drama delicado recheado de argumentos para discussões sobre o despertar da necessidade de mulheres que não possuem liberdade de escolhas.

Na trama, conhecemos Layla (Lamis Ammar) uma jovem filha de uma família de beduínos (parte de um grupo árabe habitante dos desertos) que consegue convencer seu pai a deixar ela freqüentar a faculdade. Lá, conhece um grande amor e decide tentar resolver sua situação com seu pai Suliman (Hitham Omari), esse que acaba tomando decisões drásticas em relação a isso. Ao mesmo tempo, sua mãe Jalila (Ruba Blal) está irritada com o segundo casamento de seu marido e busca, mesmo em meio aos próprios conflitos, entender a situação de Layla e ajudá-la.

Atrás dos véus, estão duas mulheres fortes e corajosas, mãe e filha. Um conflito ideológico, oriundo de tradições e culturas, é imposto para a jovem Layla. Querendo lutar pelo seu direito de amar quem ela bem desejar, entra em choque com a imposição do pai de arranjar um casamento com quem ele quer. Já sua mãe Jalila viveu todo o drama de não saber com quem iria se casar e sofre atualmente com a preferência do marido para a segunda esposa. Os retratos emocionais se refletem nas situações mostradas, como as necessidades que Jalila passa com suas filhas enquanto a nova esposa do marido tem uma nova casa com geladeira funcionando e eletricidade. 

A passividade do pai em alguns momentos chama a atenção. A mãe, figura forte e muito centrada tenta ajudar sua filha em certos momentos mas sempre na dúvida do que realmente quer para ela. Com o sofrimento imposto pelo segundo casamento de seu marido, as prováveis conseqüências de ajudar a filha a ir atrás do destino que ela quer são jogadas para escanteio, prevalece o amor pela filha. As escolhas que são feitas, já no ato final, mostram os conflitos e até onde conseguimos ir pra lutar contra quem amamos.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri na categoria World Cinema Dramatic no Festival de Sundance no último ano, Tempestade de Areia é um grito de socorro para essas mulheres que vivem presas em conflitos sem poder respirar suas próprias escolhas e conhecer o que é liberdade.

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06/09/2017

Crítica do filme: 'Behind Blue Skies (Himlen är oskyldigt blå)'

Escrito e dirigido pelo cineasta sueco Hannes Holm (Um Homem Chamado Ove), Behind Blue Skies é uma história que foca no desenvolvimento da adolescência e as inúmeras portas que se abrem quando estamos vulneráveis sobre o que faremos de nossas vidas. Baseado em fatos reais,  o longa-metragem, exibido no prestigiado Festival de Toronto anos atrás mostra todo o talento de Holm e seu raio-x completo sobre seus fortes personagens.

Na trama, ambientada na década de 70, conhecemos o jovem Martin (Bill Skarsgård - o Pennywise do novo It – A Coisa) que vive uma vida difícil ao lado de sua mãe e seu pai, esse último alcoolatra agressivo. Pensando em novos ares, consegue um trabalho de verão no prestigiado e exclusivo Royal Yacht Club localizado em Estocolmo. Mesmo no início não sendo tudo que ele tinha imaginado, nesse novo lugar conhece o primeiro amor da vida e se envolverá nas falcatruas do trambiqueiro Gösta (Peter Dalle) o que se tornará um dos maiores escândalos de todos os tempos na história do crime sueco.

O roteiro é muito bem feito, começa mostrando todo o foco familiar importante na vida do protagonista e todos os problemas em casa envolvendo o alcoolismo do pai, depois navega na linha tênue entre a amizade e o desprezo com as lentes colocadas em cima da amizade com um amigo de infância de Martin, após sua chegada ao clube privado, começa a descobrir as verdades sobre o mundo de aparências que existe naquela região.


O  ponto alto da trama é a estranha amizade patrão e empregado que Martin tem com o Gosta (ótima atuação de Peter Dalle). Cumprindo uma lacuna em aberto no campo da amizade e outra no campo da paternidade, a relação entre os dois é bastante complexa, envolvendo ambição, dinheiro e choque no idealismo de viver a vida. Toda a trama, a partir do segundo ato, se desenvolve por meio desses dois personagens levando a história a uma sucessão de inconsequências onde define-se com um desfecho satisfatório e dando margem aos sonhos do protagonista.


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05/09/2017

Crítica do filme: 'Shed No Tears (Känn ingen sorg)'

A música é um impulso para qualquer de nossos sonhos mais distantes. Dirigido pela dupla de cineastas suecos Måns Mårlind e Björn Stein, Shed No Tears (Känn ingen sorg) é uma história com personalidade, com personagens carismáticos e intrigantes que nos mostram um lado complicado da busca pela maturidade. Há bastante originalidade em cena. Um drama com ritmo alucinante e pitadas de musical em meio a amores e traições. Com um último ato simplesmente fabuloso, intenso e empolgante, o filme ganhou fãs na Europa rapidamente.

Na curiosa trama, um jovem chamado Pål (Adam Lundgren) perto dos 30 anos, que mora com seu avô, cheio de problemas de auto estima, e com o sonho dentro de si de ser reconhecido no universo musical, vive seus dias em Gotemburgo, na costa oeste da Suécia entre festas e badalações ao lado dos amigos Lena (Josefin Neldén) e Johnny (Jonathan Andersson). Certo dia, após conhecer a bela cantora Eva (Disa Östrand), vê seu mundo mudar e uma sucessão de fatos irão mudar para sempre sua maneira de ver e viver a vida.

As loucuras que temos dentro de nós e as reações fora da curva da maturidade são pontos analisados pelo diretor com seus personagens. Mesmo tendo um primeiro ato até certo ponto confuso, o longa metragem finalizado no ano de 2013 vai conquistando o espectador aos poucos. O protagonista é um grande mistério que aos poucos vai desabrochando ao longo dos 110 minutos de projeção. Toda a trama gira em torno dele, acompanhamos suas aventuras com os melhores amigos e a estrada que ele começa a enfrentar sozinho quando Eva entra em sua vida.


Misturando amor e drama em forma de musical, principalmente do segundo ato em diante, vemos suas escolhas cheias de metáforas e nos deparamos com conflitos constantes e indecisões do intrigante protagonista. A característica emocional é uma vitrine importante que o roteiro deixa exposto para analisarmos suas escolhas e seus porquês. Shed No Tears (Känn ingen sorg) não é um filme fácil de digerir (por isso, paciência!), é complexo em seus pontos altos mesmo tendo alma delicada.


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04/09/2017

Crítica do filme: 'El Bar'

Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer. Dirigido pelo cineasta espanhol Álex de la Iglesia, El Bar, ainda sem tradução para o Brasil, busca a atenção do espectador cultivando medos através de misteriosos personagens que por uma ação do destino se encontram confinados em um bar no cento de Madri. A direção de Iglesia é fundamental para o êxito do projeto, mesmo que o roteiro se torne um pouco arrastado no meio de seu caminho. O elenco conta com os ótimos artistas espanhóis Mario Casas (Contratempo, filme sensação disponível na plataforma Netflix) e Blanca Suárez.

Na trama, conhecemos um simpático bar no meio do centro de Madri em uma manhã. Indo e vindo vários clientes, já que o bar é bem popular pelos trabalhadores da região, algo inusitado acontece. Quando um desses clientes sai pela porta, leva um tiro. Todos que estão dentro do estabelecimento se assustam e começam a entender que aquela situação é mais complicada do que imaginam.

El Bar é uma mistura bem peculiar de gêneros que contorna o drama com o nonsense , possui atos bastante distintos transformando os personagens em uma espécie de personagens de RPG quando travam sua individual luta pela sobrevivência provocados pelo absurdo dos fatos. Elementos de terror são inseridos a partir do segundo ato, deixando um quebra cabeça de opções expostas ao público que pode topar ou não a trama cheia reviravoltas e personagens intrigantes.


Nuances aterrorizantes que conversam com o psicológico dos personagem é um dos grandes achados de Iglesias que foge dos estereótipos contornando a trama com muita personalidade. A sua resolução rápida em alguns momentos atrapalham um pouco a digestão das características dos mesmos, levando a um final complexo com certas explicações lógicas sobre a origem do que aconteceu no bar naquela manhã. Para quem curte novas formas narrativas de contar uma curiosa história, El Bar deve agradar.


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02/09/2017

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Crítica do filme: 'O Filho de Jean (Le fils de Jean)'

As surpresas da vida que renovam nossa maneira de ver o mundo. Indicado em duas categorias (Melhor ator e Melhor ator coadjuvante) no César - o Oscar Francês - desse ano, o fabuloso O Filho de Jean, absurdamente sem previsão de estrear no circuito exibidor brasileiro, nada mais é do que um homem em busca de preencher lacunas em branco sobre seu pai que nunca conhecera. O inusitado é figura presente nessa surpreendente trama que tem nos pontos altos as magníficas atuações de Pierre Deladonchamps (Um Estranho no Lago) e Gabriel Arcand (O Declínio do Império Americano).

Na trama, conhecemos o tímido e inteligente Mathieu (Pierre Deladonchamps), um homem que vive uma vida pacata na capital francesa. Divorciado, possui uma relação excelente com a ex-mulher e juntos cuidam do filho Valentin. Certo dia, uma coisa inusitada acontece, Mathieu recebe uma ligação dizendo que seu pai que nunca conhecera faleceu. Assim, parte em busca de conhecer mais sobre sua história indo até o local onde morou seu pai, no Canadá. Chegando lá, seu contato é Pierre (Gabriel Arcand), grande amigo de seu pai que o ajuda bastante nessa jornada reveladora e surpreendente.

Essa pequena obra-prima francesa é um daqueles trabalhos que grudam em nosso coração de maneira avassaladora. O roteiro é muito bem construído, parte da construção da personalidade do protagonista, sua maneira de pensar e seu redescobrimento como pessoa durante uma viagem curta mas que muda a vida dele para sempre. Muito bem resolvido na vida, Mathieu é um trabalhador que nunca soube de seu pai, uma das poucas lacunas em aberto na sua vida. O mais legal disso tudo é que a competente direção faz como se fosse um presente ao espectador de ser testemunha ocular de todas as descobertas que o personagem principal faz sobre sua vida.


O papel de Pierre nessa história é a cereja do bolo que todo filme busca ter para ter mais proximidade com seu público. Uma amargura doce sai de todas as lições de vida que passa para Mathieu, entendemos melhor esse grandíssimo personagem ao longo dos 98 minutos de projeção. As lições que os personagens aprendem, ficam de relíquia para nossos corações jamais esquecerem que o destino prega peças surpreendentes em nossas trajetórias e que ao abrir uma porta, um mar de possibilidades marcantes podem acontecer. Mas só se abrirmos essa porta.


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Crítica do filme: 'Berthe Morisot'

A beleza das artes e os confortos dos retratos da vida. Depois de muitos trabalhos como diretora de fotografia, a cineasta parisiense Caroline Champetier apresenta um dos seus primeiros trabalhos como diretora principal, nesse interessante tele filme Berthe Morisot. O projeto, que rodou muitos poucos cinemas, sendo exibido em outras janelas, possui uma direção de arte impecável que passa a sensação ao espectador de estar entrando em uma coleção de museus de todo o mundo. Para dar vida a essa importante artista francesa, a escolhida foi a bela Marine Delterme (Vatel - Um Banquete para o Rei, Paris-Manhattan), que explora sua personagem de maneira convincente.

Na trama, baseada na obra Manet, un rebelle en redingote de Beth Archer Brombert, conhecemos a vida adulta da pintora impressionista francesa Berthe Morisot (Marine Delterme) que passa por diversas transformações nos rumos de sua vida, principalmente quando conhece uma das maiores figuras das artes no século XIX, Édouard Manet (Malik Zidi). Berthe foi sempre uma mulher a frente de seu tempo e conseguiu o respeito de todos através de sua forte personalidade e suas obras inesquecíveis.  

Uma das grandes damas do impressionismo, tem parte de sua vida detalhada nesse ótimo projeto. Com foco no primeiro ato em sua vida familiar e todo o inicial interessante pela pintura. Berthe nasceu em Bourges, era prática comum das famílias bourgeois em educar as filhas nas artes. Assim, ela e sua irmã tiveram aulas particulares com grandes professores da época. No segundo ato, o longa metragem, explora as transformações que Berthe passa após ter alguns de seus quadros bem comentados e seu encontro com uma das referências nas artes da época ,Manet. Os contextos políticos e sociais do século XIX também influenciam sua maneira de pensar e ver o mundo.

Há uma ênfase no relacionamento intenso da protagonista com Manet, onde crescem os atores em cena. Os dois são atraídos pelo contexto das artes mas o filme deixa claro que poderia ter sido uma grande história de amor também, talvez, atrapalhado porque Manet já era casado e ter sido diagnosticado com sífilis (causa inclusive de seu falecimento precoce aos 51 anos. Berthe foi musa inspiradora de quadros famosos do artista francês.

Nesse belo passeio pela história da arte européia, somos testemunhas de uma incrível trajetória de uma mulher à frente de seu tempo.


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