08/10/2017

Crítica do filme: 'Tom of Finland'

Arte do amar. Biografia de um dos mais influentes artistas do cenário homossexual de todos os tempos, Tom of Finland é um retrato delicado, envolvente e tocante de um homem que lutou contra o preconceito em uma Finlândia que caçava e proibia o homossexualismo. Encontrou em sua arte uma maneira de ajudar outros que vivem o mesmo drama e assim inspirou uma geração com uma obra que virou eterna. Dirigido por Dome Karukoski o filme é uma jornada de emoções, um grande tapa na cara do preconceito.

Na trama, conhecemos o até então tenente do exército finlandês Touko Laaksonen que mais tarde se tornara um dos mais icônicos artistas homossexuais do século XX. O filme conta a trajetória de Tom desde os tempos em que foi Tenente finlandês na Segunda Guerra Mundial, seu relacionamento cheio de tensão com sua irmã, seus intensos (alguns escondidos) relacionamentos sexuais amorosos e o gosto pela arte com parte de sua obra voltada ao público gay que conquistou uma legião de fãs, principalmente nos Estados Unidos. Muito bem roteirizado, os arcos são detalhistas e nos apresentam um grande raio-x desse finlandês que virou sensação nos Estados Unidos.

Durante a guerra, quando Stalin resolveu invadir a Finlândia, Tom foi Tenente e passou por várias situações dramáticas como quando teve que matar um soldado soviético que acabara de aterrissar de paraquedas. Esse acontecimento mudou sua vida, e também as pausas da guerra onde se reunia em bosques com outros soldados homossexuais. Após o conflito, Tom seguiu clandestinamente nas ruas de uma grande cidade finlandesa se relacionando com outros homens e tentando vender sua obra em lugares reservados e escondidos. Seu caminho sempre foi repleto de preconceito e grandes obstáculos lutando por suas idéias e sua maneira de amar.


Tom sempre solitário em seus pensamentos, viveu sonhos eróticos e resolveu desenhá-los. Quando o amor apareceu na sua porta, ganhou forças para investir em suas idéias e passou a tentar realizar mais publicações de seus pequenos livretos. Sua obra baseia-se em uniformes colocados em homens musculosos em situações desinibidas e repleta de sexualidade. Teve a sorte de uma editora norte americana lançar seus desenhos e logo virou sensação em um lugar onde o homossexualismo tinha maior liberdade. Chegando nos Estados Unidos, percebe as diferenças de sua terra natal e a América, ganhando e inspirando apoio de fãs e assim conseguindo cravar de vez seu nome na histórica luta contra o preconceito homossexual. Tom of Finland é um dos bons filmes da edição 2017 do Festival do Rio.
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05/10/2017

Crítica do filme: 'Chocante'

Colocando a nostalgia na ponta da chuteira, os cineastas Johnny Araújo e Gustavo Bonafé nos fazem voltar aos tempos das boy bands de décadas passadas. Dominó? N’Sync? Backstreet Boys? Não! Chocante!  Abrindo as cortinas do passado, em formato de sátira ou algo parecido, o projeto explora o antes e depois de jovens com o mundo em suas mãos que de repente precisam seguir por caminhos diferentes após uma briga ao vivo no programa do Gugu (sim, isso mesmo). As pitadas cômicas, que contornam os 94 minutos de fita, se restringem a tentativas de destaques individuais, pouco explorando o conjunto. Do segundo arco em diante parece que nada funciona, além de decepcionar com um desfecho pra lá de pouco inspirado.

Na trama, acompanhamos Téo (Bruno Mazzeo), Tim (Lúcio Mauro Filho), Clay (Marcus Majella) e Tony (Bruno Garcia), amigos já na faixa dos quarenta anos, que vinte anos atrás fizeram grande sucesso como integrantes de uma banda chamada Chocante. Após o quinto integrante, Tarcisio, falecer, eles que mal se falavam faz anos, se reúnem em seu funeral e começam a relembrar os dias de glória da Boy Band que faziam parte. Assim, após as boas lembranças do momento que viveram, resolvem voltar a serem uma banda e realizar um show relembrando os velhos tempos.

A ideia era muito boa, explorar esse mundo dos grupos musicais de antigamente e os inúmeros programas de televisão que participavam. Mas nem toda boa ideia vira um bom filme. E Chocante, fica pelo caminho rapidamente. Muito por conta de muitas subtramas pouco detalhadas, personagens soltos no roteiro, além de exageros em cima de exageros. Um elo importante dentro do roteiro, talvez a figura mais emblemática dentro do filme, é o papel do fã, representado por Quézia (Débora Lamm), responsável pelas lembranças da banda, como histórias, fotos, vídeos, momentos marcantes. Mesmo a personagem aparecendo pouco, se torna um desafogo e ajuda a dar sentido no primeiro arco.


O roteiro não busca a profundidade em nenhum momento, seja na relação de amizade entre os integrantes da banda, seja na relação pai e filho de um dos ex-cantores, seja em subtramas pouco relevantes. Parece que o filme não tem clímax, é uma linha reta sem emoção. A música chiclete, choque de amor, serve apenas para grudar em nossas cabeças e se torna cada vez mais sonolenta a cada novo play. Falta carisma dos personagens, juntos decepcionam, individualmente não brilham.
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Crítica do filme: 'Churchill'

A vida dá lições que só se dão uma vez. Dirigido pelo cineasta Jonathan Teplitzky (Uma Longa Viagem) e com roteiro assinado por Alex von Tunzelmann (seu primeiro trabalho em longa metragem) Churchill é mais um filme que aborda parte da biografia marcante do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill. Brian Cox, que precisou ganhar dez quilos para viver o protagonista, tem atuação bastante competente na pele desse complexo, intrigante e forte personagem da história mundial.

Na trama, ambientada em junho de 1944, cerca de 96 horas antes da invasão da Normandia, onde os aliados tentam retomar parte importante da Europa invadida pelos nazistas, o famoso primeiro-ministro britânico, Winston Churchill (Brian Cox) dono de discursos inflamáveis e contagiantes tenta ser ouvido pelo alto comando dos aliados em meio a decisões importantes da segunda grande guerra. O filme também explora uma boa brecha do relacionamento em dificuldades com sua esposa Clemmie (Miranda Richardson) que passa todo o tempo controlando os ataques de fúria do político e estrategista britânico.

Churchill era perfeccionista e muitas vezes andando de cara feia de um lado para o outro, fumando seu inseparável charuto, despejando suas insatisfações ao não seguimento de suas ideias em todos que o cercavam. Nesse recorte da vida do duas vezes primeiro ministro britânico, vemos uma luta constante entre suas reservas severas em relação a Operação Overlord (codinome da batalha da Normandia) e seu papel cada vez mais marginalizado no esforço de guerra, deixado de lado muitas vezes pelos generais de batalha das forças aliadas.


Mostrando mais os bastidores da guerra, a visão política e militar dos que não vão para a frente de batalha, Teplitzky consegue dar um bom ritmo a história mesmo que em alguns momentos, principalmente no primeiro arco, o roteiro não esteja tão inspirado. Winston, como era mais chamado por muitos que o acompanhavam, dono de uma personalidade forte e trejeitos únicos será personagem central de outro filme, O Destino de uma Nação, com lançamento previsto para janeiro de 2018 e com Gary Oldman no papel principal.


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04/10/2017

Crítica do filme: 'The Book of Henry'

Uma mãe compreende até o que os filhos não dizem. Dirigido pelo cineasta californiano Colin Trevorrow (diretor de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros e um dos co-roteiristas de Star Wars: Episode IX, que deve ser lançado em 2019), The Book of Henry, ainda sem tradução no Brasil, em sua essência, é um drama bem profundo com contornos de filme policial. O roteiro possui umas viradas surpreendentes, parece ir em uma direção e de repente algo acontece e muda sua trajetória, até a maneira de enxergarmos os personagens. Pela web, lemos diversas sinopses sobre o filme mas nenhuma parece ser a que mais se aproxima sobre o que realmente é essa história. Há muitas surpresas e um acontecimento marcante que muda os rumos dessa interessante história.

Na trama, conhecemos Henry (Jaeden Lieberher, do ótimo Midnight Special) um jovem de 11 anos com a mente brilhante e genial que passa seus dias entre a escola e o convívio carinhoso com sua mãe Susan (Naomi Watts) e seu irmão mais novo Peter (Jacob Tremblay). Henry cuida das finanças da família, auxilia a mãe na educação de seu irmão mais novo, devora livros e livros toda semana. Ele desconfia que sua amiga, vizinha da casa ao lado, esteja sofrendo violência do padrasto, que é ligado a polícia. Assim, após um certo acontecimento que muda a vida de todos, Susan fica sabendo de um plano para salvar a amiga de Henry.

O primeiro arco é intenso, mostrando o dia a dia da família de Henry. Sua mãe viciada em vídeo game, bastante amorosa, cria os filhos da maneira que ela consegue, trabalhando como garçonete. Ela possui uma espécie de síndrome de imaturidade, deixando grande parte da responsabilidade das rotinas para seu filho mais velho, que tem 11 anos mas é praticamente um gênio que ajuda a resolver inúmeros problemas. A válvula de escape dela para a vida, até certo ponto limitada, são os desabafos entre um drink e outro com sua amiga Scheila (Sarah Silverman). O entendimento dessa personagem é deveras importante para a conexão com a trama, Naomi Watts domina as cenas de drama como poucas atrizes, boa escolha para o papel.


No segundo ato, após um acontecimento emblemático, o filme cresce e começa a ter muito sentido. Misturando drama com pitadas de suspense, uma viagem rumo ao desconhecido é traçada prevalecendo o amor de uma mãe pelo seu filho que por mais que seja um gênio é apenas uma criança. The Book of Henry é aquele tipo de filme que Hollywood sabe fazer, tenta conquistar o público com uma história forte e com reviravoltas primordiais para o seu desenvolvimento. 



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Crítica do filme: 'A Vida em Espera'

Baseado em um conto homônimo, escrito por  E.L. Doctorow, publicado na revista New Yorker, Wakefield é um drama bastante peculiar que aborda a trajetória de um homem que literalmente cansa da mesmice de sua rotina. O filme basicamente é um monólogo do protagonista, interpretado por Bryan Cranston, com várias perguntas ao vento enquanto percorremos lembranças perdidas do personagem. Essa fábula da depressão pós moderna, possui um roteiro interessante mesmo que algumas vezes confuso.

Na trama, conhecemos um advogado de classe média alta chamado Howard Wakefield (Bryan Cranston), casado há 14 anos com a bela Diana (Jennifer Garner) e pai de duas gêmeas adolescentes. Um dia, após uma catastrófica volta pra casa em meio ao seu bairro completamente sem luz, ele praticamente sofre um colapso emocional/nervoso e resolve passar a noite em um lugar onde ninguém o procuraria: o porão de sua casa. Quando ele acorda, decide continuar o plano e assim passa semanas vivendo na escassez de comida e refletindo sobre sua vida, conforme vai vendo como sua família reage pela sua ausência.

Depois de nove anos desde seu último filme, o ótimo O Clube de Leitura de Jane Austen, a cineasta norte americana Robin Swicord volta para seu segundo longa metragem como diretora. Mesmo com uma certa falta de ritmo, fruto da maneira como a narrativa acontece, Wakefield mexe com o público de maneira gradativa e quase constante. O personagem principal parece cutucar as feridas emocionais que cada um de nós possui, com indagações profundas sobre a sociedade e as diversas maneiras de enxergar as pessoas.

Muito controlador, ciumento e em péssimo momento no relacionamento com sua esposa mais jovem o fazem refletir como a conhecera. Mas a luta contra sua depressão é alta, esse colapso nervoso é provocado em pessoas que não tem para onde fugir e não conseguem tomar decisões sobre os caminhos de sua vida. O passado chega como uma certa cura para suas angústias, conhecemos bastante do sarcasmo no personagem e o seu modo de ver as pessoas que o cercam. Bryan Cranston se doa ao máximo ao complexo personagem.


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03/10/2017

Crítica do filme: 'Planeta dos Macacos: A Guerra'

A inumanidade que se causa a um outro, destrói a humanidade em nós. Depois de dois bons longas anteriores dessa trilogia (que tem uma linha de tempo diferente da história protagonizada por Charlton Heston no final da década de 60) repleta de ação e aprendizado sobre a humanidade, Matt Reeves (Cloverfield), cineasta nova iorquino responsável também pelo próximo filme do Batman que está em pré produção atualmente, volta para trás das câmeras, após dirigir o anterior da franquia, e com muita competência realiza um trabalho quase impecável no bom filme Planeta dos Macacos: A Guerra. Livremente baseado no livro La Planète des Singes, de Pierre Boulle, voltamos a encontrar o inteligente Cesar, brilhantemente interpretado pelo genial Andy Serkis (que merece uma indicação ao Oscar faz tempo).

Na trama, ambientada tempos depois das histórias dos longas anteriores, um exército de soldados sedentos por sangue e liderados por um louco e impiedoso coronel (Woody Harrelson) está a caça de Cesar e seu grupo. Após o esconderijo de Cesar ser encontrado e o Coronel matar parte de sua família, o líder dos macacos embarca em um plano para se vingar e também proteger toda a sua espécie.

A arrogância humana vs a consciência de um protagonista emblemático e muito querido. Durante todos os filmes fica evidente a luta de Cesar em tentar um entendimento, algum acordo de paz para que confrontos violentos não voltem a acontecer. Extremamente inteligente, não só em campo de batalha, o grande personagem dessa franquia está mais velho e o que o motiva acaba sendo a vingança, provocado constantemente por um ex-militar completamente insano que já não sabe mais viver em sociedade após, provavelmente, os acontecimentos catastróficos deduzidos de seu passado. Aliás, para personagens peculiares e repletos de loucura, só chamar o Woody Harrelson que ele resolve.


Os carismáticos personagens, do grupo de Cesar, se tornam coadjuvantes de luxo dando ritmo e carisma para os acontecimentos desse último filme da trilogia que aborda Cesar de maneira diferente dos tempos de Heston e companhia. A harmonia entre as espécies, grande objetivo do protagonista, em todos os filmes, não deixa de chegar como uma crítica a nossa sociedade que repleta de arrogância em sua ‘frente de batalha’ deixa de aproveitar oportunidades de união entre povos que vivem e usufruem do mesmo planeta.
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02/10/2017

Crítica do filme: 'Vremya Pervykh (Spacewalk – 2017)'

O universo tem o tamanho do seu mundo. Dirigido pelo cineasta russo Dmitriy Kiselev (Trovão Negro), um dos filmes russos mais norte americano dos últimos tempos, esse blockbuster europeu que mistura drama e aventura rumo ao desconhecido universo da física gravitacional em uma época onde a corrida espacial era questão de ordem nacional é uma grata surpresa em meio a uma temporada de bons lançamentos para vitrine do próximo Oscar. Baseado em fatos reais, Vremya Pervykh (Spacewalk – 2017) conta a versão russa sobre o primeiro homem a ‘caminhar no espaço'.

Na trama, ambientada no início dos anos 60, durante a Guerra Fria, conhecemos o piloto do exército russo Alexey Leonov (Evgeniy Mironov) que acaba sendo selecionado para o programa espacial soviético que planeja, antes dos norte americanos, fazer um vôo sobre a órbita da Terra e pela primeira vez um dos tripulantes sair da nave e explorar as condições do espaço. Ao lado do experiente e também piloto Pavel Belyayev (Konstantin Khabenskiy), Leonov enfrentará muitos obstáculos em uma missão até certo ponto quase suicida pois tudo foi resolvido em pouco tempo, deixando poucas margens para testes.

Tendo Leonov como o grande protagonista da história, o roteiro, em seu primeiro ato, aborda características do militar e sua rotina com sua família. A importância desse desafio para o experiente piloto é algo abordado no segundo ato, com paralelos que preenchem a tela com metáforas de um passado com lembranças dos dias difíceis com seu pai. Lembranças que vão até o desfecho, criando um arco no background do curioso personagem.

As cenas no espaço são de alto nível, deixando muita produção de blockbusters norte americano de queixo caído. A tensão toma conta do filme durante todo o trajeto da dupla no espaço, ambiente de agonia já pré criado com as incertezas dos chefes da missão na Terra que precisarão tomar inúmeras decisões arriscadas que vão desde um precoce abandono ou não de um dos pilotos até questões políticas por não saberem onde a nave (tecnologia) russa possa cair na volta a Terra.


Para quem curte o assunto corrida espacial, esse filme é um prato cheio. Com boas atuações e um roteiro bastante interessante, Vremya Pervykh (no original) é tão bom quanto o primo distante Apollo 13 já que se parecem bastante, principalmente quando pensamos na frase: do desastre ao triunfo.


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29/09/2017

Crítica do filme: 'Nossas Noites (Our Souls at Night - 2017)'

Nunca é tarde para amar. Falando sobre o amor na terceira idade e dos problemas dos sentimentos perante a solidão, o indiano Ritesh Batra (da obra prima The Lunchbox), baseado na obra homônima de Kent Haruf, apresenta um retrato tocante sobre duas almas solitárias que buscam entre eles novas formas de aproveitar a vida. Para dar luz aos protagonistas, melhor escolha impossível, Robert Redford e Jane Fonda se completam em cena, em atuações marcantes e emocionantes. Um retrato profundo, de ritmo lento, e que transpira verdade sobre o universo do estar sozinho na parte final de nossas vidas.

Produzido pela Netflix, Nossas Noites conta a história de Louis (Robert Redford), um homem de idade avançada, aposentado, que mora sozinho em uma casa de classe média no interior dos Estados Unidos. Certo dia, algo inusitado acontece. Uma de suas vizinhas, Addie (Jane Fonda), que conhece por morarem a muitos anos no mesmo bairro, vai a sua casa e faz uma proposta surpreendente: de que eles passem noites juntos, para servirem de companhia um para o outro. Assim, de maneira apaixonante, os dois embarcam em uma história inesquecível de amor e amizade.

É um filme feito para os protagonistas brilharem. Há muita qualidade em cena, que transformam diálogos simples e ritmo controlado em grandes lições de vida que chegam junto com um show de maturidade e segurança para romper qualquer traço de preconceito desse novo amor. O projeto é quase um teatro aberto, os diálogos e suas profundidades. Os simples gestos se tornam grandes conquistas para esses corações solitários que encontraram um no outro uma razão de viver. Mesmo na hora das escolhas que chegam aos personagens, o roteiro se mantém fiel as características deles, transpirando sentimentos bons.

Batra tem um poder de captar o sentimento e jogar na tela grande que poucos no cinema mundial tem atualmente. É tão lindo o amor mostrado, a linha tênue entre amizade e paixão é composta pelo conforto do próximo. Delicado e sensível, Our Souls at Night, no original, mostra um lado humano que emociona com simples modos de olhar o próximo.


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Crítica do filme: 'O Melhor Professor da Minha Vida'

A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida. Com data de estreia marcada para o próximo dia 05 de outubro, esse ótimo drama francês O Melhor Professor da Minha Vida chega as telonas de todo o Brasil para fortificar as inúmeras discussões sobre a educação e a relação entre mestres e alunos. Protagonizado pelo sempre competente ator francês Denis Podalydès, esse projeto traz um olhar interessante também sobre as pessoas que encontramos em nosso caminho e que podem mudar para sempre nossa trajetória de vida.

Na trama, conhecemos um rígido professor chamado François Foucault (Denis Podalydès) de uma renomada escola de Paris que durante uma noite de autógrafos dos livros de seu pai escritor, conhece uma funcionária do ministério da educação e acaba sendo convidado a dar aulas em um colégio na periferia para ajudar com sua experiência. Chegando na nova escola, uma turma rebelde e indisciplinada o recebe. Somente com o passar do tempo ele consegue entender melhor os alunos e uma relação de professor e aluno é criada.

A mudança de comportamento, que não é radical mas bastante sensível, chega em forma de ensino não só para a turma mas para o professor. François é o que mais muda ao longo do filme, sua personalidade rígida acaba deixando brechas para o inusitado e cedendo a seus eternos limites obrigatórios. A turma sente essa mudança no carrancudo professor que aos poucos vai começando a interagir de uma forma onde todos ganham.


A função do professor e o ato de educar fica muito evidente no ato final da trama, quando François parte em defesa de um de seus alunos em um comitê disciplinar. Os atritos com alguns professores que estão anos no local são iminentes, abordados no filme como forma de gerar boas discussões sobre o ensino.  As analogias com pensamentos do escritor Victor Hugo, livro que a turma lê durante o ano letivo com François como professor, são ótimas e enchem de brilho o roteiro. O Melhor Professor da Minha Vida é um competente trabalho que alia humor, drama e um assunto muito sério que precisa ser discutido no lado de cá da telona.


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27/09/2017

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Crítica do filme: 'Doentes de Amor'

Não podemos acreditar no fim do amor. Exibido no Festival de Locarno, a comédia dramática The Big Sick, no original, é uma daquelas gratas surpresas que aparecem no circuito. Falando de um assunto bastante abordado em longas metragens ao longo dos anos, o amor proibido por conta da religião e costumes de uma das partes, Doentes de Amor, título nacional desse projeto, possui peculiaridades que vão do roteiro baseado na história de vida do ator principal Kumail Nanjiani, que escreveu o roteiro com sua mulher, Emily Gordon, até atuações equilibradas e um grande cheiro de Oscar para Holly Hunter, deslumbrante, e com um carisma que impressiona.

Produzido pelo famoso diretor Judd Apatow, o filme conta a história do indiano Kumail (Kumail Nanjiani), um jovem motorista de Uber que faz de tudo para entender os costumes e tradições de sua família e foge sempre que o assunto é sobre seu futuro como advogado. Kumail faz Stand Up pela cidade onde mora e em um desses shows acaba conhecendo Emily (Zoe Kazan), uma estudante por quem acaba se apaixonando perdidamente. Só que tudo vai por água abaixo quando Kumail termina com Emily por conta de sua família, que deseja que ele se case com uma indiana. Mesmo sofrendo muito, os dois seguem em frente, até Emily entrar em coma, e, assim, Kumail passa os dias a visitando no hospital e acaba conhecendo melhor a família dela, principalmente o pai Terry (Ray Romano) e a mãe Beth (Holly Hunter).

O equilíbrio eleva a força dos personagens de maneira bonita, quase poética. O protagonista é um cidadão norte americano ainda preso a costumes por conta de sua família. Com medo de ser banido, faz mil e uma piadas coerentes sobre isso, e tenta aos poucos convencer sua família sobre suas escolhas, não só no campo amoroso mas no profissional. Mesmo assim, sua mãe sempre que vão jantar, chama uma jovem de outra família indiana para apresentar a ele. Mas essa é apenas uma parte de sua vida. Seu sonho é ser comediante profissional e se apresentar em palcos pelos Estados Unidos, o foco de suas piadas obviamente são suas histórias e tradições da cultura de sua família.  

O fator amor chega na figura de Emily. Completamente encantado, começa a ganhar coragem para tomar decisões que antes eram um tabu em sua cabeça. A maior parte da transformaçãoo do protagonista acontece no segundo ato em diante quando entra a família de Emily na história. Terry e Beth são um casal comum, cheio de problemas e que tem em Emily um elo eterno. O carinho de Jumail por sua filha aproxima os três personagens que entre idas e vindas, em situações hilárias em alguns momentos, vão descobrindo novas maneiras de ver o mundo, sempre através do amor ao próximo. Beth domina muitas dessas cenas, fruto de uma atuação espetacular de Holly Hunter que merece mais uma indicação ao Oscar.


A emoção rola solta em muitos momentos. É impossível após as duas horas de filme você não sair apaixonado por essa história.


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Crítica do filme: 'Trespassing Bergman (Invadindo Bergman)'

Se tudo é imperfeito nesse mundo imperfeito, então o amor é perfeito em sua imperfeição. Dirigido pela dupla de cineastas suecos Jane Magnusson e Hynek Pallas Trespassing Bergman é uma grande viagem ao mundo peculiar de um dos maiores cineastas da história do cinema, Ingmar Bergman. Ao longo de quase duas horas de filme somos testemunhas de relatos profundos, emocionantes, de grandes diretores e atores mundialmente conhecidos sobre todo o legado do saudoso mestre. Tomas Alfredson, Woody Allen, Wes Anderson, Harriet Andersson (uma das musas de Bergman), Francis Ford Coppola, Wes Craven, Robert De Niro, Michael Haneke, Claire Denis, Martin Scorsese e Ang Lee são alguns dos nomes que aparecem nesse belo trabalho.

Tendo como início a viagem de alguns renomados artistas da sétima arte até a ilha Faro, local onde Bergman passou boa parte de sua vida e que hoje virou um lugar escondido  tendo visitas de muitos para conhecer onde morava o diretor de Morangos Silvestres, Persona e tantos outros clássicos do cinema. Alejandro González Iñárritu, visivelmente emocionando em grande parte do filme conta com muita sinceridade sua relação e importância do cinema de Bergman para sua formação como cineasta. Cada detalhe é captado pelas lentes dos diretores responsáveis por esse documentário que não deixa de ser uma homenagem ao infinito legado que Bergman deixou em suas obras.

Na parte mais polêmica, com certeza, vem os pensamentos sobre Bergman do polêmico cineasta dinamarquês Lars Von Trier, muito por conta de não ter tido uma carta sequer que enviou ao mestre ter sido respondida. Já John Landis (diretor do inesquecível The Blues Brothers entre outros grandes filmes) fica fascinado com a filmoteca de Bergman, de filmes históricos até Duro de Matar em fita VHS. Wes Anderson, que dá seus relatos em um apartamento em Paris, é o mais equilibrado em dizer sua relação com os filmes do diretor sueco, uma pequena aula de cinema desse genial cineasta, ídolo de muitos cinéfilos.


Falecido em 2007, aos 89 anos, Ingmar Bergman transformou o cinema com sua visão do mundo. Era um cinéfilo dos grandes, via três filmes por dia até perto de sua morte. É um nome inesquecível na imensa galeria de pessoas que mudam nossa maneira de olhar, sempre através de uma câmera.


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