12/10/2017

Crítica do filme: 'Terra Selvagem'

Que nem todas as dores do mundo me façam desistir. Em seu segundo trabalho como diretor, o norte americano Taylor Sheridan (roteirista do ótimo Sicario: Terra de Ninguém e indicado ao Oscar do ano passado, também como roteirista, pelo excelente A Qualquer Custo) volta as telonas com um suspense de tons altos de drama, em meio a um distante e frio território indígena, explorando os caminhos tumultuados de uma investigação de um violento assassinato. Com uma direção primorosa, o filme vai envolvendo o espectador a cada nova descoberta sobre o assassinato. Em um ambiente de frio intenso e pessoas com recursos limitados, a selvageria ganha tons de drama, seja pelo passado traumático do protagonista, seja pelas fortes evidências que vão aparecendo a cada nova descoberta.

Na trama, conhecemos Cory (Jeremy Renner) um homem solitário com um passado repleto de tristeza que trabalha como caçador no Estado de Wyoming, mais precisamente em uma reserva indígena de frio intenso. Durante o inverso, com temperaturas abaixo de zero e neve para todos os lados, o corpo de uma adolescente é encontrada por Cory em uma região isolada. Conhecendo a adolescente, de quem é amigo da família, Cory busca ajudar as investigações assumida pelo FBI e designada pela agente Jane Banner (Elizabeth Olsen). Conforme vão descobrindo mais pistas sobre o ocorrido, a dupla enfrentará diversas adversidades para conhecer a verdade.

O roteiro explora a questão das terras indígenas, suas regras, sua solidão, seus dramas. Na linha de comando das ações, um homem que fora casado com uma descendente indígena que vive o luto da morte da filha três anos. Como é ele que conhece como poucos a região, acaba somando forças quando o FBI chega à cidade, e, assim, descobrindo melhor mais sobre personagens daquela região, que não é nada muito diferente das cidades grandes. A cada nova sequência percebemos mais sobre a personalidade dura, fria mas companheira e justa do grande personagem principal. Um trabalho impecável de Jeremy Renner, não perde a força de seu personagem em nenhum momento. Geralmente coadjuvante em alguns blockbusters, mostra a todos, de vez, que é um dos grandes atores de sua geração.


Vencedor do prêmio de melhor diretor da Mostra Um Certo Olhar (2017), uma premiação paralela dentro da programação do Festival de Cannes, dedicada a filmes com linguagem mais experimental, Terra Selvagem deve ter algumas indicações ao próximo Oscar, principalmente para Sheridan e Renner.


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09/10/2017

Crítica do filme: 'Prevenge'

Impossível entendermos determinadas loucuras. Escrito, dirigido e protagonizado pela artista britânica Alice Lowe (do ótimo Sightseers), Prevenge, com sessões no Festival do Rio desse ano, é um filme pra lá de maluco que tenta agir pela curiosidade em relação a mente conturbada de uma grávida que sofreu um forte trauma perto da data em que descobriu a gravidez. O foco do roteiro é essa questão da maternidade, de forma bastante inusitada, adicionando o elemento psicológico conturbado o filme se projeta a uma grande matança provocado pela protagonista em atos sobre pessoas diferentes que cercam mesmo distante seu passado recente de alguma forma.

Na trama, conhecemos a complicada Ruth (Alice Lowe) que está grávida de quase nove meses. Até aí tudo bem, senão fosse o fato dela iniciar uma verdadeira carnificina orientada pela filha que ainda está em sua barriga. Exibidos nos festivais de Veneza e Toronto em 2016, Prevenge chega a ser intrigante em alguns momentos, e sonolento em outros. Explora um assunto complicado de maneira quase debochada.

O simples fato de a mãe receber instruções da sua filha que ainda nem nasceu já gera um grande estranhamento do lado de cá da telona. É uma drama complexo com pitadas de humor negro que nos leva em uma trajetória de sangue ao mesmo tempo que tentamos de alguma forma entender o que se passa na cabeça da personagem principal. A violência das mortes que acontecem em sequência são oriundos de uma raiva de Ruth em relação a toda uma sociedade que na maneira dela de pensar e agir puniu o pai de sua filha.


​Conforme os arcos vão passando, a trama começa a ter um certo sentido, principalmente em um dos últimos diálogos onde sabemos mais detalhes sobre o pai de sua filha e como estava o relacionamento deles perto da tragédia que aconteceu. Mas as curtas explicações podem ter vindo muito tarde, o sono pode tomar conta da sala de cinema.
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08/10/2017

Crítica do filme: 'Me Chame Pelo Seu Nome'

Se você fosse uma música seria as melhores notas. Baseado no livro homônimo, do autor André Aciman, Me Chame Pelo Seu Nome é um daqueles filmes emblemáticos que nos leva a década de 80, na belíssima riviera italiana e nos mostra em fragmentos poéticos todas as belezas da descoberta do amor na visão de um jovem inteligente e apaixonado. Dirigido pelo cineasta italiano Luca Guadagnino (Um Sonho de Amor) e com um elenco inspirado, podemos afirmar que poucas vezes nos últimos tempos assistimos uma obra tão delicada e profunda sobre o que com certeza é o amor. Vai estar, com toda certeza, indicado em muitas categorias do próximo Oscar.

Na trama, ambientada no início da década de 80 em algum lugar belíssimo do norte da Itália, conhecemos o jovem e inteligente Elio (Timothée Chalamet), que está passando férias na enorme casa que a família possui na Riviera italiana. Elio está na fase das descobertas, tem amigos mas prefere os livros, a música e uma calma solidão. Certo dia durante as férias, um estudante chamado Oliver (Armie Hammer), amigo de seu pai, o Sr. Perlmann (Michael Stuhlbarg), que é professor, chega para passar algumas semanas. Logo, Elio e Oliver começam a ver que possuem muitas coisas em comum, rapidamente se aproximam e sentimentos afloram de maneira intensa marcando para sempre as vidas dos dois.

A direção de Guadagnino beira a perfeição, rico em detalhes, explora as características dos personagens de maneira leve com ótimas pitadas cômicas aproximando o público do que acontece na telona a todo instante. Por ter altas carga de drama, o romance florece de maneira poética dando leveza as ações dos personagens. O roteiro inspirador, levanta a bandeira de todas as formas de amar.
É uma trajetória de começo, meio e fim de emoções viscerais onde somos testemunhas das belezas que é a sorte de amar. Essa construção do sentimento é feita de maneira intensa, sensual e com personagens carismáticos, inteligentes e com grande sede na arte do viver.

Impressiona a maturidade do modo de pensar, principalmente da família do protagonista que apoia seu filho em todas suas decisões. Em uma das cenas, talvez a mais impactante dentro do filme, somos brindados com um diálogo de Elio com seu pai de deixar um nó na garganta de tão profunda e emocionante. Michael Stuhlbarg larga na frente para a corrida ao Oscar de ator coadjuvante, baita atuação. Me Chame Pelo Seu Nome é um hino aos corações apaixonados e compreensão a todas as formas de amar.


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Crítica do filme: 'Tom of Finland'

Arte do amar. Biografia de um dos mais influentes artistas do cenário homossexual de todos os tempos, Tom of Finland é um retrato delicado, envolvente e tocante de um homem que lutou contra o preconceito em uma Finlândia que caçava e proibia o homossexualismo. Encontrou em sua arte uma maneira de ajudar outros que vivem o mesmo drama e assim inspirou uma geração com uma obra que virou eterna. Dirigido por Dome Karukoski o filme é uma jornada de emoções, um grande tapa na cara do preconceito.

Na trama, conhecemos o até então tenente do exército finlandês Touko Laaksonen que mais tarde se tornara um dos mais icônicos artistas homossexuais do século XX. O filme conta a trajetória de Tom desde os tempos em que foi Tenente finlandês na Segunda Guerra Mundial, seu relacionamento cheio de tensão com sua irmã, seus intensos (alguns escondidos) relacionamentos sexuais amorosos e o gosto pela arte com parte de sua obra voltada ao público gay que conquistou uma legião de fãs, principalmente nos Estados Unidos. Muito bem roteirizado, os arcos são detalhistas e nos apresentam um grande raio-x desse finlandês que virou sensação nos Estados Unidos.

Durante a guerra, quando Stalin resolveu invadir a Finlândia, Tom foi Tenente e passou por várias situações dramáticas como quando teve que matar um soldado soviético que acabara de aterrissar de paraquedas. Esse acontecimento mudou sua vida, e também as pausas da guerra onde se reunia em bosques com outros soldados homossexuais. Após o conflito, Tom seguiu clandestinamente nas ruas de uma grande cidade finlandesa se relacionando com outros homens e tentando vender sua obra em lugares reservados e escondidos. Seu caminho sempre foi repleto de preconceito e grandes obstáculos lutando por suas idéias e sua maneira de amar.


Tom sempre solitário em seus pensamentos, viveu sonhos eróticos e resolveu desenhá-los. Quando o amor apareceu na sua porta, ganhou forças para investir em suas idéias e passou a tentar realizar mais publicações de seus pequenos livretos. Sua obra baseia-se em uniformes colocados em homens musculosos em situações desinibidas e repleta de sexualidade. Teve a sorte de uma editora norte americana lançar seus desenhos e logo virou sensação em um lugar onde o homossexualismo tinha maior liberdade. Chegando nos Estados Unidos, percebe as diferenças de sua terra natal e a América, ganhando e inspirando apoio de fãs e assim conseguindo cravar de vez seu nome na histórica luta contra o preconceito homossexual. Tom of Finland é um dos bons filmes da edição 2017 do Festival do Rio.
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05/10/2017

Crítica do filme: 'Chocante'

Colocando a nostalgia na ponta da chuteira, os cineastas Johnny Araújo e Gustavo Bonafé nos fazem voltar aos tempos das boy bands de décadas passadas. Dominó? N’Sync? Backstreet Boys? Não! Chocante!  Abrindo as cortinas do passado, em formato de sátira ou algo parecido, o projeto explora o antes e depois de jovens com o mundo em suas mãos que de repente precisam seguir por caminhos diferentes após uma briga ao vivo no programa do Gugu (sim, isso mesmo). As pitadas cômicas, que contornam os 94 minutos de fita, se restringem a tentativas de destaques individuais, pouco explorando o conjunto. Do segundo arco em diante parece que nada funciona, além de decepcionar com um desfecho pra lá de pouco inspirado.

Na trama, acompanhamos Téo (Bruno Mazzeo), Tim (Lúcio Mauro Filho), Clay (Marcus Majella) e Tony (Bruno Garcia), amigos já na faixa dos quarenta anos, que vinte anos atrás fizeram grande sucesso como integrantes de uma banda chamada Chocante. Após o quinto integrante, Tarcisio, falecer, eles que mal se falavam faz anos, se reúnem em seu funeral e começam a relembrar os dias de glória da Boy Band que faziam parte. Assim, após as boas lembranças do momento que viveram, resolvem voltar a serem uma banda e realizar um show relembrando os velhos tempos.

A ideia era muito boa, explorar esse mundo dos grupos musicais de antigamente e os inúmeros programas de televisão que participavam. Mas nem toda boa ideia vira um bom filme. E Chocante, fica pelo caminho rapidamente. Muito por conta de muitas subtramas pouco detalhadas, personagens soltos no roteiro, além de exageros em cima de exageros. Um elo importante dentro do roteiro, talvez a figura mais emblemática dentro do filme, é o papel do fã, representado por Quézia (Débora Lamm), responsável pelas lembranças da banda, como histórias, fotos, vídeos, momentos marcantes. Mesmo a personagem aparecendo pouco, se torna um desafogo e ajuda a dar sentido no primeiro arco.


O roteiro não busca a profundidade em nenhum momento, seja na relação de amizade entre os integrantes da banda, seja na relação pai e filho de um dos ex-cantores, seja em subtramas pouco relevantes. Parece que o filme não tem clímax, é uma linha reta sem emoção. A música chiclete, choque de amor, serve apenas para grudar em nossas cabeças e se torna cada vez mais sonolenta a cada novo play. Falta carisma dos personagens, juntos decepcionam, individualmente não brilham.
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Crítica do filme: 'Churchill'

A vida dá lições que só se dão uma vez. Dirigido pelo cineasta Jonathan Teplitzky (Uma Longa Viagem) e com roteiro assinado por Alex von Tunzelmann (seu primeiro trabalho em longa metragem) Churchill é mais um filme que aborda parte da biografia marcante do ex-primeiro ministro britânico Winston Churchill. Brian Cox, que precisou ganhar dez quilos para viver o protagonista, tem atuação bastante competente na pele desse complexo, intrigante e forte personagem da história mundial.

Na trama, ambientada em junho de 1944, cerca de 96 horas antes da invasão da Normandia, onde os aliados tentam retomar parte importante da Europa invadida pelos nazistas, o famoso primeiro-ministro britânico, Winston Churchill (Brian Cox) dono de discursos inflamáveis e contagiantes tenta ser ouvido pelo alto comando dos aliados em meio a decisões importantes da segunda grande guerra. O filme também explora uma boa brecha do relacionamento em dificuldades com sua esposa Clemmie (Miranda Richardson) que passa todo o tempo controlando os ataques de fúria do político e estrategista britânico.

Churchill era perfeccionista e muitas vezes andando de cara feia de um lado para o outro, fumando seu inseparável charuto, despejando suas insatisfações ao não seguimento de suas ideias em todos que o cercavam. Nesse recorte da vida do duas vezes primeiro ministro britânico, vemos uma luta constante entre suas reservas severas em relação a Operação Overlord (codinome da batalha da Normandia) e seu papel cada vez mais marginalizado no esforço de guerra, deixado de lado muitas vezes pelos generais de batalha das forças aliadas.


Mostrando mais os bastidores da guerra, a visão política e militar dos que não vão para a frente de batalha, Teplitzky consegue dar um bom ritmo a história mesmo que em alguns momentos, principalmente no primeiro arco, o roteiro não esteja tão inspirado. Winston, como era mais chamado por muitos que o acompanhavam, dono de uma personalidade forte e trejeitos únicos será personagem central de outro filme, O Destino de uma Nação, com lançamento previsto para janeiro de 2018 e com Gary Oldman no papel principal.


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04/10/2017

Crítica do filme: 'The Book of Henry'

Uma mãe compreende até o que os filhos não dizem. Dirigido pelo cineasta californiano Colin Trevorrow (diretor de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros e um dos co-roteiristas de Star Wars: Episode IX, que deve ser lançado em 2019), The Book of Henry, ainda sem tradução no Brasil, em sua essência, é um drama bem profundo com contornos de filme policial. O roteiro possui umas viradas surpreendentes, parece ir em uma direção e de repente algo acontece e muda sua trajetória, até a maneira de enxergarmos os personagens. Pela web, lemos diversas sinopses sobre o filme mas nenhuma parece ser a que mais se aproxima sobre o que realmente é essa história. Há muitas surpresas e um acontecimento marcante que muda os rumos dessa interessante história.

Na trama, conhecemos Henry (Jaeden Lieberher, do ótimo Midnight Special) um jovem de 11 anos com a mente brilhante e genial que passa seus dias entre a escola e o convívio carinhoso com sua mãe Susan (Naomi Watts) e seu irmão mais novo Peter (Jacob Tremblay). Henry cuida das finanças da família, auxilia a mãe na educação de seu irmão mais novo, devora livros e livros toda semana. Ele desconfia que sua amiga, vizinha da casa ao lado, esteja sofrendo violência do padrasto, que é ligado a polícia. Assim, após um certo acontecimento que muda a vida de todos, Susan fica sabendo de um plano para salvar a amiga de Henry.

O primeiro arco é intenso, mostrando o dia a dia da família de Henry. Sua mãe viciada em vídeo game, bastante amorosa, cria os filhos da maneira que ela consegue, trabalhando como garçonete. Ela possui uma espécie de síndrome de imaturidade, deixando grande parte da responsabilidade das rotinas para seu filho mais velho, que tem 11 anos mas é praticamente um gênio que ajuda a resolver inúmeros problemas. A válvula de escape dela para a vida, até certo ponto limitada, são os desabafos entre um drink e outro com sua amiga Scheila (Sarah Silverman). O entendimento dessa personagem é deveras importante para a conexão com a trama, Naomi Watts domina as cenas de drama como poucas atrizes, boa escolha para o papel.


No segundo ato, após um acontecimento emblemático, o filme cresce e começa a ter muito sentido. Misturando drama com pitadas de suspense, uma viagem rumo ao desconhecido é traçada prevalecendo o amor de uma mãe pelo seu filho que por mais que seja um gênio é apenas uma criança. The Book of Henry é aquele tipo de filme que Hollywood sabe fazer, tenta conquistar o público com uma história forte e com reviravoltas primordiais para o seu desenvolvimento. 



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Crítica do filme: 'A Vida em Espera'

Baseado em um conto homônimo, escrito por  E.L. Doctorow, publicado na revista New Yorker, Wakefield é um drama bastante peculiar que aborda a trajetória de um homem que literalmente cansa da mesmice de sua rotina. O filme basicamente é um monólogo do protagonista, interpretado por Bryan Cranston, com várias perguntas ao vento enquanto percorremos lembranças perdidas do personagem. Essa fábula da depressão pós moderna, possui um roteiro interessante mesmo que algumas vezes confuso.

Na trama, conhecemos um advogado de classe média alta chamado Howard Wakefield (Bryan Cranston), casado há 14 anos com a bela Diana (Jennifer Garner) e pai de duas gêmeas adolescentes. Um dia, após uma catastrófica volta pra casa em meio ao seu bairro completamente sem luz, ele praticamente sofre um colapso emocional/nervoso e resolve passar a noite em um lugar onde ninguém o procuraria: o porão de sua casa. Quando ele acorda, decide continuar o plano e assim passa semanas vivendo na escassez de comida e refletindo sobre sua vida, conforme vai vendo como sua família reage pela sua ausência.

Depois de nove anos desde seu último filme, o ótimo O Clube de Leitura de Jane Austen, a cineasta norte americana Robin Swicord volta para seu segundo longa metragem como diretora. Mesmo com uma certa falta de ritmo, fruto da maneira como a narrativa acontece, Wakefield mexe com o público de maneira gradativa e quase constante. O personagem principal parece cutucar as feridas emocionais que cada um de nós possui, com indagações profundas sobre a sociedade e as diversas maneiras de enxergar as pessoas.

Muito controlador, ciumento e em péssimo momento no relacionamento com sua esposa mais jovem o fazem refletir como a conhecera. Mas a luta contra sua depressão é alta, esse colapso nervoso é provocado em pessoas que não tem para onde fugir e não conseguem tomar decisões sobre os caminhos de sua vida. O passado chega como uma certa cura para suas angústias, conhecemos bastante do sarcasmo no personagem e o seu modo de ver as pessoas que o cercam. Bryan Cranston se doa ao máximo ao complexo personagem.


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03/10/2017

Crítica do filme: 'Planeta dos Macacos: A Guerra'

A inumanidade que se causa a um outro, destrói a humanidade em nós. Depois de dois bons longas anteriores dessa trilogia (que tem uma linha de tempo diferente da história protagonizada por Charlton Heston no final da década de 60) repleta de ação e aprendizado sobre a humanidade, Matt Reeves (Cloverfield), cineasta nova iorquino responsável também pelo próximo filme do Batman que está em pré produção atualmente, volta para trás das câmeras, após dirigir o anterior da franquia, e com muita competência realiza um trabalho quase impecável no bom filme Planeta dos Macacos: A Guerra. Livremente baseado no livro La Planète des Singes, de Pierre Boulle, voltamos a encontrar o inteligente Cesar, brilhantemente interpretado pelo genial Andy Serkis (que merece uma indicação ao Oscar faz tempo).

Na trama, ambientada tempos depois das histórias dos longas anteriores, um exército de soldados sedentos por sangue e liderados por um louco e impiedoso coronel (Woody Harrelson) está a caça de Cesar e seu grupo. Após o esconderijo de Cesar ser encontrado e o Coronel matar parte de sua família, o líder dos macacos embarca em um plano para se vingar e também proteger toda a sua espécie.

A arrogância humana vs a consciência de um protagonista emblemático e muito querido. Durante todos os filmes fica evidente a luta de Cesar em tentar um entendimento, algum acordo de paz para que confrontos violentos não voltem a acontecer. Extremamente inteligente, não só em campo de batalha, o grande personagem dessa franquia está mais velho e o que o motiva acaba sendo a vingança, provocado constantemente por um ex-militar completamente insano que já não sabe mais viver em sociedade após, provavelmente, os acontecimentos catastróficos deduzidos de seu passado. Aliás, para personagens peculiares e repletos de loucura, só chamar o Woody Harrelson que ele resolve.


Os carismáticos personagens, do grupo de Cesar, se tornam coadjuvantes de luxo dando ritmo e carisma para os acontecimentos desse último filme da trilogia que aborda Cesar de maneira diferente dos tempos de Heston e companhia. A harmonia entre as espécies, grande objetivo do protagonista, em todos os filmes, não deixa de chegar como uma crítica a nossa sociedade que repleta de arrogância em sua ‘frente de batalha’ deixa de aproveitar oportunidades de união entre povos que vivem e usufruem do mesmo planeta.
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02/10/2017

Crítica do filme: 'Vremya Pervykh (Spacewalk – 2017)'

O universo tem o tamanho do seu mundo. Dirigido pelo cineasta russo Dmitriy Kiselev (Trovão Negro), um dos filmes russos mais norte americano dos últimos tempos, esse blockbuster europeu que mistura drama e aventura rumo ao desconhecido universo da física gravitacional em uma época onde a corrida espacial era questão de ordem nacional é uma grata surpresa em meio a uma temporada de bons lançamentos para vitrine do próximo Oscar. Baseado em fatos reais, Vremya Pervykh (Spacewalk – 2017) conta a versão russa sobre o primeiro homem a ‘caminhar no espaço'.

Na trama, ambientada no início dos anos 60, durante a Guerra Fria, conhecemos o piloto do exército russo Alexey Leonov (Evgeniy Mironov) que acaba sendo selecionado para o programa espacial soviético que planeja, antes dos norte americanos, fazer um vôo sobre a órbita da Terra e pela primeira vez um dos tripulantes sair da nave e explorar as condições do espaço. Ao lado do experiente e também piloto Pavel Belyayev (Konstantin Khabenskiy), Leonov enfrentará muitos obstáculos em uma missão até certo ponto quase suicida pois tudo foi resolvido em pouco tempo, deixando poucas margens para testes.

Tendo Leonov como o grande protagonista da história, o roteiro, em seu primeiro ato, aborda características do militar e sua rotina com sua família. A importância desse desafio para o experiente piloto é algo abordado no segundo ato, com paralelos que preenchem a tela com metáforas de um passado com lembranças dos dias difíceis com seu pai. Lembranças que vão até o desfecho, criando um arco no background do curioso personagem.

As cenas no espaço são de alto nível, deixando muita produção de blockbusters norte americano de queixo caído. A tensão toma conta do filme durante todo o trajeto da dupla no espaço, ambiente de agonia já pré criado com as incertezas dos chefes da missão na Terra que precisarão tomar inúmeras decisões arriscadas que vão desde um precoce abandono ou não de um dos pilotos até questões políticas por não saberem onde a nave (tecnologia) russa possa cair na volta a Terra.


Para quem curte o assunto corrida espacial, esse filme é um prato cheio. Com boas atuações e um roteiro bastante interessante, Vremya Pervykh (no original) é tão bom quanto o primo distante Apollo 13 já que se parecem bastante, principalmente quando pensamos na frase: do desastre ao triunfo.


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