11/11/2017

Crítica do filme: 'A Vilã'

Nessa vida, tem gente que tem apenas um destino aliado ao seu instinto. Pegue um liquidificador e misture Nikita com Oldboy, o resultado é A Vilã, essa ótima ação com cenas eletrizantes que estreia em breve no circuito nacional. Dos mesmos produtores do excelente Invasão Zumbi, o filme mostra a vida de uma assassina que desde cedo encontrou sua vocação em um mundo repleto de violência e frieza em busca de uma luz de esperança que nunca chega. O cineasta Byung-gil Jung, que também escreve o roteiro, tem muitos méritos nessa pequena obra prima que promete agradar aos cinéfilos.


Na trama, conhecemos Sook-hee (Ok-bin Kim) uma mulher repleta de habilidades que desde sempre foi treinada para ser uma espécie de assassina de organizações secretas. Após uma invasão, logo no início do filme (de tirar o fôlego e com lembranças daquela cena do machado de Oldboy) acaba sendo selecionada para um grupo misterioso comandado por uma chefe rígida e com várias cartas na manga. Ela faz um acordo de prestar serviços durante alguns anos e quando tenta levar sua vida de maneira normal após esse prazo, acaba sendo surpreendida pela entrada de elementos de seu passado que faz com que a protagonista entre numa jornada de vingança repleta de sangue e violência.


O roteiro não chega a ser complicado mas confunde um pouco o espectador em suas linhas de tempo. É preciso muita atenção aos detalhes pois pistas sobre o passado de Sook-hee são deixadas pelo caminho. Somos testemunhas das transformações da personagem principal que ganha contornos emocionais fortes e maternos com o nascimento de sua filha. Após anos de treinamento, se tornando uma ótima atriz como disfarce, encontra um porto seguro quando ganha sua ‘liberdade’ mesmo sendo observada de perto pela organização que a recrutou. Pitadas de suspense sobre o passado dá protagonista vão ganhando força no terceiro ato em diante, culminando em uma explosão de ações e reações onde prevalece o instinto guerreiro da assassina.


As cenas de ação são de tirar o fôlego, sequências fenomenais com movimentos de câmeras espetaculares. Não sentimos dentro da história a todo instante, percepção parecida com a de se jogar um vídeo game de última geração. Méritos de Byung-gil Jung que com certeza cairá nas graças dos cinéfilos. A Coreia do Sul a cada ano que passa vem premiando os cinéfilos de todo o mundo com obras interessantes, um cinema que dá gosto de ver. Esperamos que cada vez mais cheguem através das distribuidoras nacionais mais títulos desse país cheios de talentos.


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Crítica do filme: 'Loveless'

Não se pode viver em desamor. Na era dos selfies e das vitrines matrimoniais que a sociedade impõe para que a tal da incerteza da normalidade fique evidente e você não seja alvo de fofocas ou preconceitos, o novo trabalho do excepcional cineasta russo Andrey Zvyagintsev (dos excelentes Elena e Leviatã), Loveless, sensação nos festivais que fora exibido mundo a fora e um dos fortes candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro, é um filme que fala sobre acima de tudo de família. Em uma Rússia dos tempos modernos, repleta de idas e vindas em relacionamentos, Zvyagintsev faz o espectador navegar nas emoções mais profundas quando nos sentimos olhando pelo buraco da fechadura.

Na intensa trama, conhecemos o casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) que estão se separando em meio a muitas brigas. Eles tem um filho de 12 anos chamado Alyosha (Matvey Novikov) que sofre bastante pelas discussões diárias dos pais. Zhenya tanto Boris já estão em outros relacionamentos, o segundo inclusive já está esperando um outro filho com a nova namorada. Em meio a essa tumultuada relação, Alyosha some certo dia e os pais precisam reunir forças para enfrentar essa difícil situação.

Entendemos melhor as características emocionais dos personagens nos diálogos profundos que ambos possuem com seus novos parceiros, principalmente Zhenya, que possui uma dificuldade de relacionamento com a mãe, nunca amou o ex-marido e se joga completamente nessa nova relação. Seu cotidiano com o filho é distante e agressivo, a impaciência e o comportamento distante com o filho são reflexos da impaciência e solidão que vivia com seu ex-marido. Quando o jovem desaparece, tanto mãe quanto pai se sentem perdidos e começam a perceber aos poucos o quanto existia uma barreira entre todos eles.

A frieza da polícia na condução do início do caso chama a atenção. Durante o pequeno interrogatório com o grupo de salvação e resgate, fica nítido o grande descaso e falta de observação dos pais com o próprio filho, principalmente da figura materna. Alyosha sofria bastante com as brigas e principalmente com o que escutava dos pais. A ausência de amor, desafeição, desprezo, indiferença eram algumas das características que distanciavam os pais do filho.


Com belíssimas cenas de fundo e uma atmosfera melancólica que se envolve intensamente em pontos importantes, Loveless é um retrato humano, que assusta mas acontece, das imperfeições na roda familiar. Zvyagintsev se consagra mais uma vez com suas lentes que conseguem transmitir com muita intensidade o que acontece entre quatro paredes e nos mostrando os detalhes como se estivéssemos olhando pelo buraco de uma fechadura.


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06/11/2017

Crítica do filme: 'Câmara de Espelhos'

Qual a visão que temos sobre a mulher? Com passagens por alguns festivais de cinema pelo Brasil, o interessante documentário Câmara de Espelhos, dirigido pela cineasta recifense Dea Ferraz traz a tona, com um ambiente estilo buraco de fechadura, o pensamento masculino sobre as mulheres. Com um livre arbítrio instaurado, os pensamentos vão e vem nessa que podemos dizer ser uma grande experiência social que nos faz entender melhor como o mundo está pensando. É um choque, um debate, sobre a visão masculina em relação a assuntos tabus em nossa sociedade como o avanço no movimento feminista, o machismo e a maneira como se lutam por determinados direitos.

Nesse curioso relato que explica muito sobre nossa sociedade, diversos grupos de homens, de várias idades diferentes, se juntam em uma sala repleta de espelhos onde de vez em quando vídeos são mostrados, exatamente para iniciar os debates daqueles que estão ali. Uma espécie de big brother sem manipulação, comportamental exalando verdades de cada um e com relatos fortes sobre muitos assuntos que lemos, vemos e vivemos nos dias atuais.

As hipocrisias da vida são colocadas em cheque a todo instante. Uns falam mais, outros menos. Talvez por estarem entre homens, os convidados dessa experiência social se sentem mais a vontade. As definições de papéis que a sociedade impõe desde longos anos atrás também geram opiniões diferentes, além de citações baseadas em óticas religiosas, vídeo clipes com letras fortes, vulgarização do sexo e outros assuntos.


Câmara de Espelhos estreia no final de novembro no circuito exibidor. É uma chance de ampliarem debates e abrir de vez a porta de assuntos e argumentações sobre o tema.
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03/11/2017

Crítica do filme: 'Boa Sorte Argélia'

Em seu primeiro trabalho como diretor em longa-metragem, o cineasta Farid Bentoumi apresenta ao público uma história inusitada que alia salvação de uma empresa e o esporte de alto rendimento. Boa Sorte Argélia, com algumas passagens em festivais mundo a fora, é um pouco parecido com o clássico da ‘sessão da tarde’ Jamaica Abaixo de Zero, só que consegue ser mais que apenas superfície quando entendemos as razões das escolhas feitas pelos personagens e de toda uma família ao redor.

Na trama, conhecemos os sócios de uma empresa que fabrica esquis artesanais Sam (Sami Bouajila) e Stéphane (Franck Gastambide). Eles conseguem segurar a empresa como podem e dependem de uma grande exposição da marca em uma grande competição para atrair assim mídia e mais clientes. Só que isso acaba não acontecendo por conta de acordos entre gigantes do segmento. Assim, Stephane, um grande esquiador francês do passado, tem uma ideia inusitada: que Sam se inscreva em competições de alto nível na modalidade esqui cross-country, representando a Argélia, já que Sam é descendente de argelinos. Não acreditando no sucesso da ideia, Sam no início fica receoso mas acaba topando, mexendo com as emoções de toda sua família.

Um dos aspectos que mais chamam a atenção é a jornada de busca pela suas origens que acaba acontecendo com o protagonista. Tendo ido poucas vezes até a Argélia, sua última passagem encosta no início dos anos 90, ele passa a se aproximar melhor da cultura desse povo que é idolatrado pelo seu pai e grande parte de sua família. O princípio básico do protagonista é usar a única ideia que tem para fazer o impossível e salvar sua empresa da falência, mas ao longo de sua jornada acaba se aproximando de maneira verdadeira com suas origens.


Dando a entender que poderia ser uma história real, ao final do filme sabemos as origens dessa curiosa trama que mescla esportes com sentimentos familiares importantes. Um doce e muito bem detalhado conto de fadas esportivo.


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Crítica do filme: 'Tirez la langue, mademoiselle'

As lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle Ropert, Tirez la langue, mademoiselle tem uma pegada meio ‘sessão da tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de dois irmãos que trabalham em um mesmo consultório em uma Paris nos dias atuais. A belíssima e talentosa artista francesa Louise Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto, entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretações do que é o amor em nossas vidas.

Na trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent Stocker) que vivem um rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em uma clínica geral onde também atendem em domicílio. Certo dia, após uma ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra na rotina e relação dos dois irmãos.

É difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se solidifica. Os irmãos doutores são de diferentes maneiras de pensar, Dimitri até certo ponto bastante carente e luta constantemente contra o alcoolismo, já Boris é o que podemos dizer de solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca tinham observado.

Já Judith, mãe de uma pré adolescente, solteira que trabalha como barwoman pelas noites e Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de sua filha. 


Tirez la langue, mademoiselle é uma fita delicada, com o ritmo certo para apresentações dos personagens. Também muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados quando o coração bate mais forte por alguém.
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Crítica do filme: 'Band Aid'

As notas musicais do amor. Escrito, dirigido e protagonizado pela nova iorquina Zoe Lister-Jones, Band Aid, que infelizmente não teve chances de entrar no complicado circuito brasileiro de exibição em cinema, é um grande achado que emociona, faz rir e principalmente chega com o intuito de trazer um reflexão sobre o mundo a dois em quatro paredes. Unindo música e os conflitos de um relacionamento conturbado, o projeto é uma comédia bastante interessante já que aborda as brigas de um casal e os encontros das próprias curas de maneira inusitada e criativa.

Na trama, conhecemos o casal Anna (Zoe Lister-Jones) e Ben (Adam Pally), que já perto dos quarenta anos vivem uma imensa crise oriunda de insatisfações que vão desde falta de carinho até preguiça em encontrar algo pra fazer profissionalmente. Mesmo existindo muito amor na casa, as brigas são diárias e a rotina estava deprimindo o casal. Até que certo dia, eles resolvem fazer o inusitado,  compor músicas sobre todas as brigas que tiveram e assim montam uma banda junto com seu vizinho de porta, viciado em sexo. Ao longo do processo, os três embarcam em uma jornada interessante que busca no inusitado um porto seguro para as curas que precisam.

Tudo funciona de forma organizada. Os arcos do roteiro nos apresentam características, qualidades e defeitos do casal que são fundamentais para entendermos melhor eles. Surpresas também são vistas, principalmente sobre o passado do casal, com traumas sobre maternidade e como eles enxergam os amigos ao redor. A ideia da banda chega por meio de instrumentos antigos que encontram quando estão limpando o porão. Já havia um passado ligado as notas musicais em ambos. A transformações chega em forma de música, um desabafo emocionante sobre situações e sentimentos guardados no coração de cada um.


O filme tem curvas de dramas profundo mesclado com situações peculiares, personagens carismáticos surgem nesse grande ventilador de emoções para dar aquela pitada de originalidade que a trama precisava. Um singelo e delicado roteiro, com ótimas atuações que gera um grande debate sobre a maneira que enxergamos um relacionamento.


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