23/12/2017

Crítica do filme: 'O Que Te Faz Mais Forte'

Baseado no livro Stronger de Jeff Bauman, chega as telonas brasileiras no início de 2018 o contundente drama O Que Te Faz Mais Forte. Dirigido pelo ótimo cineasta norte americano David Gordon Green (Joe), o longa, baseado em fatos reais, mostra a reconstrução na vida de homem após uma tragédia que aterrorizou os Estados Unidos durante uma prova famosa de maratona em Boston. No papel principal, o sempre competente Jake Gyllenhaal, em grande atuação. Destaque também para a canadense Tatiana Maslany, protagonista do excelente seriado Orphan Black.

Na trama, conhecemos Jeff Bauman (Jake Gyllenhaal), um jovem trabalhador norte americano, muito querido por amigos, na trabalho pela família, fanático por esportes. Jeff acabou de sair de um relacionamento com Erin (Tatiana Maslany) mas ainda nutre uma grande paixão e carinho por ela. Quando Erin decide correr a Maratona de Boston, Jeff resolve ir até a linha de chegada com um cartaz para receber sua amada. Só que perto da chegada de Erin, uma bomba explode, deixando diversos feridos, inclusive Jeff que acaba tendo amputada suas duas pernas. Após o ocorrido, vemos a recuperação do protagonista, nada fácil, mas sempre com a ajuda da ex-namorada.

O filme navega na vida pós tragédia de Jeff, um homem querido por todos, apaixonado pela ex-namorada, que dentro de suas maneiras em ver o mundo é afetado demais por conta da tragédia. Sua ligação com a família, seus complicados pais, a relação conturbada entre sua mãe e sua namorada, todo o âmbito familiar é explorado com riqueza de detalhes. Jeff foi um dos responsáveis em ajudar na identificação dos homens que cometeram o atentado em Boston, mesmo no hospital se recuperando conseguiu ajudar a polícia norte americana com detalhes sobre o que viu. Rotulado como herói nacional, recebe um gigantesco carinho de toda uma comunidade.


Uma das partes emocionantes e que nos fazem refletir bastante é o encontro do protagonista com o homem que o salvou, um sofrido trabalhador norte americano que perdeu filhos anos atrás. O diálogo nessa hora é forte, profundo e com uma verdade que impressiona, difícil segurar o choro.  Jake Gyllenhaal exala emoção com seu Jeff, mais uma bela atuação para a galeria de grandes trabalhos do já experiente ator de 37 anos.
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11/12/2017

Crítica do filme: 'Jim & Andy'

A linha tênue entre atuação e a paciência. Mostrando os bastidores de uma das filmagens mais complicadas de Hollywood na década de 90, conhecemos a doação do ator Jim Carrey, esse fabuloso artista dramático, com veias cômicas incomparáveis, que parece não ter limite quando entra em um personagem. O documentário, proibido (provavelmente) durante um bom tempo, conta passo a passo como foi o processo de criação de Jim, e as loucuras que aprontava no set de filmagens do cineasta tcheco Milos Forman (Um Estranho no Ninho) no que mais tarde seria um dos filmes mais aplaudidos daquele ano, O Mundo de Andy.

 Jim Carrey nem de longe era a primeira escolha de Forman para o papel de Andy Kaufman, logo no início do documentário ficamos sabendo que ele teve que fazer um teste para o filme. Depois de sucessos de bilheterias como O Máscara, Debi e Loide e Ace Ventura, Carrey mandou uma fita para a audição. Passou. Jim, era muito fã de Andy, conhecendo suas piadas, seus modos de agir, seus conceitos. Para entregar um personagem quase real, Carrey incorpora Andy durante todas as semanas de filmagens, mesmo quando as câmeras não estão ligadas, levando a todos da produção a uma verdadeira loucura que só é recompensada com a finalização do que seria um dos mais aclamados papéis de um ator durante muito tempo.

Há uma invisível linha tênue que separa os limites que Carrey contornava seu personagem, ele não queria que Andy fosse embora quando a claquete batia, ele precisava de alguma forma levar Kaufman de volta ao mundo. Invadiu a casa do dono da Revista Playboy, passeava com carrinhos de golfes pela major que produzia o filme, conversava com todos sendo Andy. A maneira que arranjou foi desestabilizar a todos, deixando que todos acreditassem que Andy estava ali com eles. Uma técnica arriscada de sucesso mas que conforme vimos no filme O Mundo de Andy, acaba se encaixando com louvor.
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Crítica do filme: 'Steve Jobs - o Homem e A Máquina'

Quais os mistérios da mente genial de um babaca de marca maior? Não é de hoje que sabemos de sua genialidade e tudo que fez pelos avanços da tecnologia. Mas Steve Jobs, o grande criador da Apple, teve uma vida repleta de polêmicas e um marcante espírito complicado de se entender. Ao longo desse ótimo documentário, dirigido por Alex Gibney, e que está na ótima seleção de documentários da Netflix no Brasil, vamos conhecendo as facetas obscuras de um ícone da cultura pop de nosso tempo.

O contorno do filme é muito bem detalhado. Explica-se a ascensão de Jobs, desde sempre já passando a perna no amigo e co-criador do seu maior projeto Steve Wozniak, quando ambos fizeram um jogo para a nostálgica Atari e Jobs repassou apenas parte do que ganhou, mentindo sobre valores. Tão concentrado em seu o grande Deus da computação nos anos subseqüentes de sua revolução, esqueceu-se de ser um bom ser humano e tratar as pessoas, principalmente as que o cercam com o mínimo de dignidade. Sua rigidez em todo o processo de trabalho de sua maça famosa deixou-o com fama de carrasco, fazendo tudo o que estava em seu alcance para conquistar seus objetivos.

Seu relacionamento com uma das primeiras namoradas, a não vontade de ser pai (talvez uma aceitação bem tardia), depoimentos e mais depoimentos de engenheiros, chefões de marketing e pessoas que o rodeavam chegam ao público com polêmicas mas sem com uma adoração fruto de tudo aquilo que conseguiu profissionalmente, não importando passar por cima de alguém. Mesmo na sua fase pós Apple (ou até a sua segunda passagem), até os escândalos das unidades de fabricações dos aparelhos da grande maça na China, Jobs sempre conseguiu se safar ainda com muito brilho e a idolatria de milhões de fãs de tecnologia que obviamente só enxergam o mito da computação, fazem vista grossa ou nem sabem do ser humano Steve Jobs.


Steve Jobs - o Homem e A Máquina é um documentário muito bem produzido que busca analisar Jobs por um outro lado, pouco comentado, pouco conhecido, que realmente só quem esteve por perto dele durante longo tempo poderia decifrar. 
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07/12/2017

Crítica do filme: 'Bad Genius'

Um dos filmes mais eletrizantes do cinema asiático dos últimos anos e representante da Tailândia ao Oscar 2018 na categoria Melhor Filme Estrangeiro, ‘Bad Genius’, dirigido pelo ótimo cineasta Nattawut Poonpiriya, contorna as emoções de maneira sublime para explicar uma história que envolve estudantes, as pressões pelas provas que podem mudar uma vida e um outro lado que se descobre quando determinadas portas de oportunidade se abrem. Tudo é muito bem encaixado no excelente roteiro de assinado pelo diretor, Tanida Hantaweewatana e Vasudhorn Piyaromna. Uma excelente surpresa e infelizmente ainda sem data de estreia no circuito brasileiro de exibição.

Na trama, conhecemos a doce, inteligente, concentrada e tímida Lynn (Chutimon Chuengcharoensukying) uma estudante do ensino médio tailandês que consegue, depois de muito esforço de seu pai (Thaneth Warakulnukroh), um professor de classe média baixa, ingressar em uma famosa escola para terminar os seus estudos e conseguir uma boa formação. Lynn é super dotada, tira notas altas e rapidamente vira bolsista 100% da escola. Em uma sessão de fotografias para livros da escola, conhece a ingênua Grace (Eisaya Hosuwan), com quem logo começa uma amizade. Vendo a dificuldade da amiga nos exames da escola, Lynn resolve ajudar em uma das provas passando uma cola das respostas. Logo após esse episódio, Lynn encontra Pat (Teeradon Supapunpinyo), um filhinho de papai rico que propõe a ela um imenso plano onde a protagonista passaria as respostas das provas para um grande número de alunos utilizando uma maneira criativa em troca de dinheiro de todos eles. Com esse primeiro plano dando certo, Lyyn, Grace e Pat resolvem ir além e burlar um dos exames mais difíceis do mundo que dá vagas em universidades norte americanas. Só que para isso, precisarão contar com Bank (Chanon Santinatornkul), um rejeitado bolsista, tão genial quanto Lynn. Assim, o quarteto parte em busca do plano que pode mudar suas vidas para o bem ou para o mal.

O longa tem mais de duas horas de duração mas nem vemos passar o tempo. A adrenalina é absurdamente detalhista e faz com que nós, meros espectadores, não tiremos os olhos desse complexo plano. Para entender todas as ações do projeto, precisamos entender os porquês, principalmente da protagonista. Lynn, é criada com todo esforço por seu pai, não tem mãe. Tudo que conquistou veio da disciplina no estudo tendo pouco tempo para amizades. Quando percebe as dificuldades do pai mais de perto para sustentar os custos que possui isso inflama nela uma maneira de ajudar, aliando a oportunidade na hora certa mesmo ela sabendo que a punição maior será de sua consciência. Os detalhes e as angústias de Lynn durante todo o filme é muito bem mostrada pelas lentes de Poonpiriya. Uma bela atuação de sua intérprete, a jovem Chutimon Chuengcharoensukying.
Outra peça importante nesse tabuleiro é Bank, talvez o personagem que mais apresenta transformações de caráter ao longo do tempo. É nele que o plano corre o maior risco por conta de situações que o levam a aceitar fazer parte dessa trama engenhosa. Do segundo arco em diante, reviravoltas emocionantes acontecem no pré plano, na execução dele e no pós plano, deixando o público surpreso em muitos momentos.

Bad Genius é um dos fortes candidatos a conseguir estar entre os cinco finalistas ao prêmio de Melhor filme estrangeiro da academia em 2018, um filme empolgante e com um final pra lá de simbólico e surpreendente.

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Crítica do filme: 'Fortunata'

Exibido no último Festival de Cannes, na mostra Um Certo Olhar, o drama Fortunata é mais uma grata surpresa europeia que infelizmente ainda não tem data de estreia no cirucito exibidor brasileiro. O projeto, dirigido pelo ator e diretor italiano Sergio Castellitto, ganhador de alguns prêmios internacionais, dá luz ao papel da mãe em um mundo repleto de desafios, tendo que superar obstáculos do passado para seguir em frente, não desistir dos seus sonhos e dar o máximo de amor para sua herdeira. O elenco, grande força desse belo trabalho, é encabeçado pela apaixonante e talentosa Jasmine Trinco (nova musa de Cannes) que realmente eleva a qualidade desse pequeno bom filme.

Na trama, ambientada nos dias atuais no subúrbio de Roma, conhecemos Fortunata, uma bela cabeleireira delivery de meia idade que possui um sonho de ter seu próprio empreendimento, um salão de beleza no centro da cidade onde mora. A protagonista tem uma filha, sua maior paixão do mundo, mas com quem tem um relacionamento complicado, provocado, muito, pelo seu afastamento do ex-marido, figura que sempre a rodeia. Certo dia, Fortunata resolve levar a filha para ver um psicólogo/psiquiatra, por quem a protagonista acaba vivendo um intenso romance.

A personagem principal é uma mulher incrível, uma personagem marcante. Uma mescla de beleza e ingenuidade, camuflada de grande leoa que faz de tudo para dar para sua filha uma vida confortável e repleta de amor e carinho. Suas batalhas diárias com o ex-marido, esse que não aceita a separação de jeito nenhum, a busca do sonho em ter seu próprio salão de beleza, preenchem a tela com cenas emocionantes que dizem muito sobre a personalidade da carismática protagonista. Vale o destaque para a atriz italiana Jasmine Trinco (‘Um Novo Dueto’, ‘Maravilhoso Boccaccio’), que cumpre com louvor um papel complexo e cheio de contextos emocionais.

A vida de Fortunata ganha novos contornos com a entrada do psicólogo/psiquiatra em sua vida. Antes, receosa quanto levar sua filha para ser consultado pelo médico, depois acaba se consultando com ele e se apaixonando, o que deixa mais tumultuado sua relação com a filha e com outros personagens que contornam o longa. A surpreendente trilha sonora ganha muito destaque, sempre nos fechamento de arcos e acompanha a poderosa protagonista em busca do seu passaporte para a felicidade nesse projeto que merece ser conferido por todos que amam cinema.


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Crítica do filme: 'O Poder e o Impossível'

As dores e o poder do impossível. Com uma história super corrida, onde tudo acontece com uma ansiedade danada, chega aos cinemas no próximo dia 14 de dezembro, o relato baseado em fatos reais ‘O Poder e o Impossível’. Dirigido pelo cineasta Scott Waugh (do terrível ‘Need for Speed: O Filme’) e com os sumidos Josh Hartnett e Mira Sorvino no elenco, o projeto parece uma propaganda motivacional, um livro de auto ajuda sobre um ex-atleta com problemas graves com drogas que vai para o alto de uma montanha, com o tempo fechando, praticar snowboard terapêutico.  

Na trama, conhecemos Eric LeMarque (Josh Hartnett), um jovem que nos últimos meses se perdeu completamente na vida. Viciado em drogas, afastado da mãe, deu adeus a uma vida de sucesso no mundo do Hóquei no gelo e agora vive aos pés de uma montanha onde pratica snowboard quase que diariamente sem muitas pessoas saberem de seu paradeiro. Certo dia, acorda em sua rotina de busca da salvação de seu vício, faz exercícios físicos, se alimenta de maneira balanceada e parte para a montanha surfar na neve. Após receber uma carona de uma bela jovem responsável por resgates emergenciais, chega até o topo da montanha, com o tempo fechando e, após uma descida complicada, acaba ficando preso na neve durante dias. Assim, para sobreviver, precisará de muita força de vontade, criatividade e sorte.

Baseado no livro ‘Crystal Clear’ de Eric LeMarque e Davin Seay, O Poder e o Impossível pode ser que funcione como livro de auto ajuda, mas como cinema deixa bastante a desejar. Tudo é bastante corrido, não conseguimos entender o personagem em nenhum momento, os flashbacks que aparecem para mostrar as dificuldades que teve com as cobranças do pai e parte de seu vício sendo desenvolvido na fase adulta são jogados na tela em alguns momentos como se fossem um forçado paralelo dos pensamentos de Eric lá na montanha.


A distância da personagem de Mira Sorvino, mãe de Eric, com a trama é algo esquisito. Aparece em cenas, quase paralelas ao que está vivendo o filho, em espécies de clipes que poderiam muito bem ser de outros filmes. Cada partezinha que acontece fora do drama de Eric nas montanhas geladas são peças estrategicamente colocadas e vestidas de insuportáveis clichês para se chegar a um sonolento final apoteótico. 
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04/12/2017

Crítica do filme: 'Detroit em Rebelião'

As páginas não viradas de absurdos atemporais. Emplacando belos filmes em sequência, A Hora mais Escura, Guerra ao Terror, a excelente cineasta californiana Kathryn Bigelow traz para o público uma história baseada em fatos que ocorreram, sobre ações de elementos do corpo policial em um hotel, em meio a uma Detroit perturbada pelo caos nas ruas no ano de 1967. Detroit em Rebelião explora o preconceito vivido pela população negra em uma cidade completamente desgovernada e com ações policiais polêmicas. O roteiro, é do excelente nova iorquino Mark Boal (A Hora Mais Escura, Guerra ao Terror), que faz da carga dramática um filme explosivo que não nos deixam tirar os olhos da tela.

Estimado em cerca de 34 milhões de dólares, o filme conta a história de uma batida policial em um hotel no centro de Detroit onde forças policiais buscam a todo instante incriminar algumas das testemunhas sobre um tiro dado pelas costas. Assim, acompanhamos essa situação através de algumas óticas, como o segurança Dismukes (John Boyega), o policial estressado Krauss (Will Poulter) e um grupo de músicos talentosos que tiveram o show cancelado por conta dos terríveis atos de violência que aconteciam pelas ruas. Ao longo dos 134 minutos de projeção, vemos os absurdos abusos da lei (na figura do policial), situações constrangedoras que sofrem as pessoas que estavam no hotel e um julgamento meses após o ocorrido.

A tensão e as ações desenfreadas de três oficiais da lei da polícia de Detroit tomam conta do clímax. Os absurdos atos de pressão para uma confissão que não existe, destruindo qualquer lei sobre direitos civis, e invocando um preconceito acentuado em uma reta final da década de 60, onde as emoções estão a flor da pele. As lentes de Bigelow captam e expõem ao público uma versão guiada através de testemunhos de pessoas que estavam presentes no lugar. Com poderosas atuações de todo o elenco, Detroit em Rebelião merece ser lembrado na temporada de premiações do cinema.

Detroit em Rebelião é um filme forte, corajoso, que prende a atenção do espectador do início ao fim, em mais de duas horas de projeção. O racismo, os direitos civis, a má conduta da polícia, são assuntos, infelizmente, atemporais que vemos até os dias de hoje. O cinema é uma ferramenta de denúncia e nada melhor que um ótimo filme, extremamente bem filmado, para nos fazer refletir sobre toda uma sociedade e seus preconceitos.

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Crítica do filme: 'November Criminals'


Como seguir em frente após a dor da perda? Após o aguardado ‘Hitchcock’ de cinco anos atrás, o cineasta e roteirista britânico Sacha Gervasi volta para trás das câmeras para contar uma história sobre perdas. ‘November Criminals’, com previsão de ir direto pra home vídeo aqui no Brasil, não é um suspense, não é um filme sobre o amor, é uma jornada as vezes profunda, as vezes muito rasa e complexa sobre como entender que algumas perguntas não possuem as respostas que queremos. Na pele dos protagonistas, Chloë Grace Moretz e Ansel Elgort, dois rostos famosos da nova geração.

Na trama, conhecemos o jovem e quase graduando Addison (Ansel Elgort) que vive dias turbulentos e ansiosos por conta do recente falecimento precoce de sua mãe e o nervosismo de conseguir passar para a universidade de letras. Seu ponto de equilíbrio, além de seu carinhoso pai Theo (David Strathairn), é Phoebe (Chloë Grace Moretz) sua namorada. Tudo fica muito confuso na mente do protagonista quando um grande amigo é assassinado em uma cafeteria e tem o nome ligado a gangues que dominam o submundo da cidade onde vivem. Correndo contra o tempo para tentar provar, de alguma forma, que o amigo não era ligado ao mundo do crime, Addison embarca em uma dolorosa jornada onde tem o risco de por tudo a perder.

Tudo gira em torno do caos emocional que vive Addison. Após perder sua mãe, por conta de um aneurisma surpreendente, não consegue seguir em frente de certa forma por não conseguir encontrar todas as respostas para suas perguntas. Mesmo tendo zonas de equilíbrio, quando está com a namorada, ou nas conversas matinais com o pai, um estopim chega como um vulcão, a morte de um amigo querido. Totalmente inconseqüente em seus atos a partir da definição de que iria investigar por sua própria conta o crime ocorrido, o personagem embarca em uma estrada melancólica, desenfreada em busca das verdades que achava que existia. Esse conflito interno é o que guia o filme, que certos momentos parece bem confuso ao longo dos seus curtos 85 minutos de projeção.

Os coadjuvantes possuem um papel apenas na superfície do roteiro. Uma pena, ótimos personagens poderiam causar um maior impacto de compreensão sobre as características dos personagens. A mãe de Phoebe, interpretada pela sempre ótima Catherine Keener, aparece pouco mas na figura de mãe protetora, pouca desenvolvida na história. O experiente ator David Strathairn e seu Theo ganham luz apenas no ato final, um completo tardio para a rica história de pai e filho que poderia também ser anexada as emoções que preenchem o longa.

November Criminals usa do carisma dos protagonistas, algumas vezes até parecendo os mesmos personagens de outros filmes, para tentar sustentar uma trama com bons e incompreensíveis momentos.


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02/12/2017

Crítica do filme: 'Lutando por um Sonho (American Wrestler: The Wizard)'


A sobrevivência e as descobertas de uma nova vida. Milhares de guerras civis tomaram e tomam conta da vida de milhões de pessoas em diversas regiões do mundo. Quem consegue escapar das barbaridades muitas vezes lutam contra o preconceito no seu recomeçar, principalmente se for em uma pátria que não é a sua de origem. Dirigido pelo cineasta francês Alex Ranarivelo, Lutando por um Sonho mostra as dificuldades de um jovem iraniano, que consegue, em uma fuga quase que espetacular, fugir do conflito que acontece na região onde mora, deixando para trás pai e mãe para buscar viver sua vida em um Estados Unidos repleto de preconceitos, usando o esporte como ferramenta de conscientização social.

Na trama, conhecemos o jovem iraniano Ali Jahani (George Kosturos) que consegue se mudar de um Irã aterrorizado por crueldade de uma guerra sem fim para um Estados Unidos na década de 80 onde alguns imigrantes sofrem preconceito de muitos. Sem amigos e em um lugar totalmente novo, busca no esporte uma maneira de interagir. Acaba descobrindo um grande potencial para a Luta Olímpica/ Luta Greco Romana (o também chamado nos Estados Unidos de Wrestler) e assim, dia após dia, e lutando contra diversos obstáculos, busca encontrar seu espaço nessa nova terra.

Ali, é um guerreiro dentro e fora dos tatames. Sua maturidade chega de fora abrupta, pois viveu os terrores de uma guerra bem de perto, tendo que se esconder em um caminhão para poder fugir do lugar onde nasceu. Para piorar sua situação, o Irã estava no centro das notícias naquela época. A problemática dos reféns americanos no Irã causou uma crise diplomática entre o Irã e os Estados Unidos (cerca de 52 norte-americanos foram mantidos reféns por mais de um ano após um grupo de estudantes e militantes islâmicos tomarem a embaixada americana em Teerã, em apoio à Revolução Iraniana). Parte da população norte americana, protestava pelas ruas pedindo deportação para todos os iranianos.

Mesmo tendo diversos clichês em seu preenchimento como filme, a paixonite de escola, o ar épico para ações do dia a dia, Lutando por um Sonho, história baseada em fatos reais, fala muito sobre o papel do professor em meio a uma sociedade de consumo que só presta a atenção nos que são excepcionais em suas áreas. William Fichtner e Jon Voight interpretam acadêmicos que de alguma forma busca a integração de Ali. O filme ainda tem uma brecha, mesmo que um pouco na superfície, para a relação de Ali com sua cultura, chegando na forma do tio Hafez Tabad (Ali Afshar) que o hospeda em sua casa nos Estados Unidos e depois acaba o ajudando nas técnicas de Wrestler.

Lutando por um Sonho (American Wrestler: The Wizard) acaba tendo paralelos com os dias de hoje, onde o mundo luta contra o preconceito cada vez mais forte. O esporte sempre foi e sempre será uma grande ferramenta de descoberta, integração, e histórias como essa são importantes para entendermos melhor não só as pessoas, mas toda uma sociedade onde vivemos.

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Crítica do filme: 'Corpo e Alma'


As poesias na arte de amar. Dirigido pela cineasta Ildikó Enyedi e vencedor do último grande prêmio de melhor filme no Festival de Berlim, Corpo e Alma é uma incrível jornada sobre o amor que chega ao espectador de maneira inusitada, ligada por sonhos, onde somos testemunhas, ao longo das quase duas horas de projeção, de uma das histórias mais bonitas que apareceram numa tela de cinema esse ano. O projeto, que demorou mais de dez anos para ficar pronto por conta de uma grave crise no órgão que administra o cinema Hungria, possui uma riqueza nos detalhes, há um silêncio preponderante em muitas cenas, seja nos olhares distantes dos protagonistas, seja nos reflexos que acompanham as metáforas cotidianas na arte do descobrir. Um trabalho primoroso de direção.

Teströl és lélekröl, no original, conta a história de Endre (Géza Morcsányi), um gerente administrativo de uma empresa do ramo alimentício, que possui um problema em um dos seus braços, que durante uma sessão com uma psicóloga chamada para auxiliar a empresa que trabalha, descobre que seus sonhos se completam com os mesmos sonhos de uma nova funcionária da empresa chamada Mária (Alexandra Borbély). Assim, se encontrando quase sempre nos sonhos mas sem muita aproximação na vida real, resolvem embarcar nessa história onde buscam a todo instante entender melhor sobre o amor e sobre essa situação totalmente inusitada que é o fato de se ligarem por um sonho. 

Um filme possui uma lentidão, um ritmo diferenciado, necessário para absorvermos os paralelos que o roteiro busca explorar. Os protagonistas são dois pilares, cada um com sua essência que juntos em cena transformam uma inusitada história de amor em algo inesquecível. Endre é um homem desiludido que vive em pura reclusão mesmo tendo certa vida social, prefiro a solidão do que se envolver. Já Mária é uma superdotada, com memória espetacular que não consegue interagir com ninguém, vive uma vida metódica sabendo muito pouco sobre sentimentos e o próprio corpo. Quando o inusitado aparece nessa história, na forma de um sonho em conjunto, acontece uma ação quase instantânea na arte do desabrochar para vida dessas duas almas. Lacunas nunca preenchidas, chegam pela curiosidade, levando Endre e Mária a uma jornada de erupções sentimentais que passam, do amor até o ciúmes sempre de forma mais delicada do que estamos acostumados a ver.

Um dos grandes méritos de Enyedi em sua direção é tentar captar todos os sentimentos que passam nos personagens de maneira poética, usando as imagens como forma de preenchimento de um pensamento. A arte de amar é uma ciência não exata, totalmente fora de controle, as duas almas que conhecemos nesse fabuloso filme descobrem que a vida pode ser muito mais quando deixamos de olhar para o lógico e conseguimos entender até o impossível.


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01/12/2017

Crítica do filme: 'Castelo de Vidro'


Dirigido pelo cineasta havaiano Destin Daniel Cretton (do excelente Short Term 12), Castelo de Vidro fala sobre diversas fases da vida de uma jornalista que viveu muitas dificuldades no passado por conta do confuso relacionamento com sua família, principalmente seu pai. As vezes com cara de novela mexicana, puxando muito o lado melodramático, o projeto alterna bons e incompreensíveis momentos. Dá a impressão a todo instante ser um filme feito para ganhar prêmios e isso não necessariamente pode ser uma coisa que o transforma em algo inesquecível para o espectador.

Baseado em fatos reais, usando o livro de memórias de Jeanette Walls como base do roteiro, Castelo de Vidro conta a história de Jeannette (Brie Larson), uma jornalista de sucesso que viveu durante boa parte da infância e adolescência com sua família em vários lugares dos Estados Unidos, sempre repleta de limitações por conta da forma como seus pais, Rex (Woody Harrelson) e Rose (Naomi Watts) criaram seus filhos. Já adulta, a protagonista relembra situações que viveu com sua família e entra em conflito sobre o que realmente é felicidade.

O foco do filme é a estrutura pra lá de conturbada de uma família que vive como nômades durante boa parte da infância e adolescência da personagem principal. O pai, o conflito maior de Jeannette, é um grande sonhador que viveu seus conflitos com sua família antigamente e busca de sua forma inusitada entregar aos filhos lições e mandamentos sobre o que é viver defendendo suas ideias. Conforme a vida não consegue se desenvolver, Rex se entrega a bebida deixando a casa onde vivem um lugar complicado de se viver. Woody Harrelson, mais uma vez, desenvolve um personagem bastante complexo de maneira delicada e que domina as cenas que participa. Não seria nenhum absurdo ser lembrado em algumas premiações por esse trabalho.

As idas e vindas na linha temporal ajudam a criar todo um contexto para tentarmos entender esse quebra cabeça emocional que vive e viveu a forte protagonista. No presente, vive uma vida boa ao lado do noivo mas não consegue se desprender dos ensinamentos de vida que recebeu. Seu castelo de vidro é uma metáfora para todos os sonhos que nunca conseguira realizar mas o papel de construção de sua vida tendo um sonho a realizar criar fortalezas fundamentais para seu processo de amadurecimento, sendo uma figura importante para seus irmãos.

Brie Larson, atual detentora do Oscar de Melhor Atriz, desenvolve sua Jeanette de maneira firme, exalando seus sentimentos que alternam entre desespero e insegurança no passado. Ao lado do Rex de Harrelson consegue dar um certo sentido ao desenvolvimento de uma trama que não consegue mostrar muito potencial na superfície mas quando alcança uma profundidade, principalmente os conflitos da protagonista, mostra qualidades.


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