11/11/2020

Crítica do filme: 'Sonata de Outono' (*Revisão*)


Você se importa com alguém além de você? Conversas profundas que viram análises sobre a fé, vivência, experiência de um passado conturbado, Sonata de Outono, escrito e dirigido pelo cineasta sueco Ingmar Bergman é um algoritmo de emoções tão rico e brilhante em detalhes. Não deixa de ser objetivo, preparando o terreno para angustiantes cenas de desabafos e mágoas de um passado que não volta mais. Para mostrar um retrato de uma mãe em conflito com suas escolhas e uma filha que precisa desabafar sobre suas dores, duas artistas entregam emoção e alma em cena, atuações magistrais de Ingrid Bergman e Liv Ullmann.


Na trama, conhecemos Charlotte (Ingrid Bergman), uma pianista de sucesso que durante anos deixou de acompanhar a vida presente de sua família em troca de uma excelência da arte musical. Já em fim de carreira, é convidada por sua filha Eva (Liv Ullmann), uma mulher deprimida e com mágoas do passado, para passar uns dias em sua casa. Com a chegada de Charlotte, prelúdios juntam dores do passado com um conflito logo à frente.


Tudo que tinha vida, você tentou sufocar. Há uma guerra fria embutida nos passos iniciais dos arcos que abrem essa obra-prima mas logo somos colocados em uma zona de conflitos emocionais, um ataque e defesa com argumentos sólidos. A dona de todas as palavras dentro de casa contra o olhar de uma infância prejudicada pela distância de sua mãe. Somos colocados quase dentro de cena, vários momentos sobre mãe e filha, resistentes de um passado nunca esquecido, magoado, jogados à mesa de forma dura. A infelicidade de uma, era a infelicidade da outra, como se o cordão umbilical nunca tivesse sido cortado.


Sonata de Outono, umas das obras que mais atingem o alvo quando pensamos em relacionamentos pais e filhos, é mais um filme maravilhoso desse genial cineasta que sabia como poucos expressar sentimentos dentro de uma dinâmica simples, porém, com uma objetividade que nos traz as verdades que andam pelo mundo. Que nem Chopin, emocional mas nunca enjoativo.