10/11/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #171 - Daniel Corcino


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de Natal. Daniel Corcino tem 24 anos, psicólogo, mestrando em Psicologia, amante das artes visuais (e cinéfilo por consequência). É um defensor do cinema brasileiro, mas acha que a maior beleza da 7ª arte é poder conhecer o cinema em toda a sua pluralidade (geográfica, histórica, temática, de gênero, etc). Em 2020, aproveitou a quarentena para realizar um projeto antigo: criou a PluriCine (Instagram @pluricine) no Instagram para falar sobre cinema a partir de seu ponto de vista.

 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Primeiramente, gratidão por ter me convidado para esse projeto tão bacana. Parabéns pelo trabalho que tem realizado, Rafael! Estou feliz por estar compondo esse espaço ao lado dos demais entrevistados.

Então, Natal tem uma variedade baixa de cinemas, então é bem fácil de responder. Gosto de ir ao Cinépolis Natal Shopping, porque lá é praticamente o único lugar na cidade em que é possível assistir algumas estreias que não sejam produções hollywoodianas.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu não tenho uma história bonita e inspiradora sobre minha relação com o cinema, tudo meio que só começou quando eu estava no fim da adolescência. Quando tinha 17 anos, lembro que fiquei muito impactado de ter acompanhado a experiência de assistir Taxi Driver (1976) num projeto de filmes clássicos do Cinemark. Talvez exista alguma experiência anterior que não me lembre no momento, mas essa foi uma das primeiras que me marcaram mais.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Nunca consigo pensar em artista favorito ou arte favorita, porque cada obra passa uma mensagem específica num momento diferente da vida. E, dentre os filmes que gosto muito, não costumo hierarquizar entre as que seriam inferiores ou superiores, sabe?

Mas, para eu não deixar de responder, posso fazer uma escolha: Sete Anos em Maio (2019) do Affonso Uchôa. Acredito que Uchôa fez muito em pouco tempo de carreira e de fato acredito que ele ainda tem bastante a oferecer ao nosso cinema. Minha aposta é que ele seja o próximo Kleber Mendonça Filho.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e por quê?

Mais uma vez, te digo que não tenho um dentre aqueles filmes que aprecio muito. De qualquer forma, indico um: Martírio (2016). O motivo é muito simples: raramente um filme consegue ser tão necessário à sociedade quanto essa obra. Único, bem realizado, inesquecível, um filme-denúncia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ampliar minha visão de mundo por meio da arte, conseguir entender quem sou a partir do encontro com múltiplas histórias e narrativas. É botar em prática minha empatia enquanto ser humano, estando aberto para todos os cinemas existentes na história e no mundo. Também é preencher minhas horas “livres” com algo que faz sentido em minha vida e que me faz sentir/refletir.

Além disso, para mim, ser cinéfilo não deveria se resumir a assistir muitos filmes comerciais como mero entretenimento, mas também o cinéfilo não deveria adotar uma postura de se encher de referências menos conhecidas para se sentir diferenciado, “cult”. Isto é, uma cinefilia que não seja acrítica e apolítica, nem elitista ou autocentrada. Tento explicitar essa minha posição cinéfila na prática pela forma como escrevo sobre cinema na PluriCine (@pluricine).

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Olha, o cinema é uma indústria, antes de tudo. Nesse sentido, são pessoas que entendem de cinema sim. Em resumo, creio que a programação é feita por quem entende de fazer dinheiro com o cinema.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Sinceramente, acredito que não. Ir ao cinema não é só assistir filmes, é um evento muito social. Muita gente vai ao cinema mais pelo encontro com pessoas queridas do que pelo filme em si... Mesmo com o avanço do streaming, não vejo as salas de cinema desaparecendo. Por outro lado, o que deve diminuir são alguns empregos para profissionais do cinema devido ao avanço da automatização dos postos de trabalho.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Morte de um Burocrata (1966) de Tomás Gutiérrez Alea.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se for por minha opinião, eu sou contrário à reabertura, pois, infelizmente, o cinema é um local muito propício à transmissão. Contudo, também não desconsidero os prejuízos financeiros enormes que essa situação tem trazido aos cinemas, então compreendo que haja reabertura. De qualquer forma, não pretendo frequentar esse espaço cultural nos próximos meses.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Na verdade, me empolgo bastante, porque sempre há boas e ótimas obras surgindo nos últimos anos. As duas décadas do cinema brasileiro que mais aprecio são as de 1960 e 2010. No caso dessa última, penso isso exatamente porque consigo enxergar vários avanços narrativos acontecendo. Só não sei o quanto o presente cenário político anticultural vai atrapalhar os avanços que ocorreram, tudo indica que vamos descer ladeira abaixo, com muito mais dificuldades de financiamento, etc.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

É para ser alguém vivo? Se não, diria Eduardo Coutinho. Se sim, diria Grace Passô.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é uma ponte.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Me lembrei da experiência que tive pouquíssimo tempo antes do fechamento dos cinemas devido ao coronavírus. Assistir Uma Mulher Alta (2019) foi uma experiência inesquecível para mim por um motivo inusitado: gostei da obra e odiei a experiência de ver no cinema. Tinha pouca gente na sessão que estava, mas as poucas pessoas presentes demonstravam sonoramente o quão incomodadas estavam ao estar vendo aquele filme (era conversa, som de insatisfação com a boca, mudanças de local). Talvez fossem conservadores demais para sacar a ambiguidade e a profundidade do que estava sendo passado em tela.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti, acredita? Hahaha Prefiro não falar daquilo que não conheço.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Sim. Um(a) diretor(a) de cinema que não seja cinéfil@, só consigo enxergar essa pessoa como alguém que possui um alto grau de esnobismo. Como não apreciar as maravilhas que estão sendo feitas na própria arte que é a sua profissão? Somente partindo do pressuposto de que não valeria gastar tempo com o trabalho artístico alheio.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

Olha, poucas vezes um filme me ofendeu tão fortemente quanto Feios, Sujos e Malvados (1976) do Ettore Scola. Não sei se foi o pior, mas vou deixá-lo só pela raiva que passei ao assistir.

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Se já citei o Martírio (2016) antes, posso dizer então O Fim e o Princípio (2005).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Lembro que eu e a plateia toda batemos palmas para Aquarius (2016).

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Provavelmente o que estou para assistir e ainda não vi: Mandy (2018).

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Nos últimos tempos, por estar produzindo conteúdo sobre cinema no Instagram, tenho acompanhado diversos perfis dentro dessa rede social. Como é de se esperar, tem muita gente trazendo conteúdos “mais do mesmo”, mas também há muita gente massa que vale a pena acompanhar. Geralmente, as que mais leio são aquelas que já indiquei em alguns posts lá da @pluricine.