28/03/2024

Crítica do filme: 'Instinto Materno'


Da angústia à paranoia. Do luto à necessidade de culpar. Chegou aos cinemas nesse finalzinho de março um suspense psicológico que instaura uma intrigante Guerra Fria entre duas amigas que após um grave acidente doméstico vivem uma relação despedaçada e imprevisível. Primeiro trabalho na direção do experiente diretor de fotografia francês Benoît Delhomme, Instinto Materno joga seus esforços para apresentar adultos lidando com uma situação incontrolável onde a terceirização da culpa se torna uma constante. Baseado na obra homônima da escritora belga Barbara Abel.

Na trama, ambientada na década de 60, conhecemos duas amigas, vizinhas, praticamente inseparáveis: Celine (Anne Hathaway) e Alice (Jessica Chastain). Quando uma tragédia acontece, essa relação entre as amigas é completamente abalada. Assim, ao longo dos dias, entre o luto e a culpa, no campo das suposições uma série de desconfianças encontra o caminho das personagens.

As diferentes formas de lidar com a tragédia. A interessante e necessária introdução parece apresentar de forma bem prática alguns dos traços de personalidade das protagonistas além de um olhar para os seus respectivos relacionamentos. Assim, vemos Celine, tendo o filho como grande tesouro, que após o nascimento dele se contentou em ser dona de casa, uma vida que parece levar com bastante leveza e felicidade ao lado do marido que trabalha com produtos farmacêuticos. Já Alice tem uma personalidade forte, não deseja no momento um segundo filho, sonha em voltar ao trabalho e seguir carreira no jornalismo, algo que o marido, um gerente de contas, machista, não apoia.

Após o grande evento do filme, o conflito que apresenta a virada na trama, as peças meio que se embaralham. A tristeza da culpa se torna um elemento enigmático como se o roteiro buscasse o imprevisível dentro de um leque de conflitos emocionais que entram em choque com personalidades, se atualizando a partir do gatilho que passam. Nesse ponto entram em protagonismo uma direção de arte impecável e uma fotografia que ganha destaque com fortes cores que expressam os cruzamentos de emoções que circulam entre a desconfiança e os fortes traços de amargura.

Mesmo derrapando num desfecho que vai se moldando previsível, Instinto Materno apresenta de forma eficiente o confronto com a dor, com a perda, pontos catalizadores da inconsequência não só aos olhos de uma mãe e sua busca por culpar alguém mas também no de terceiros e a necessidade quase absurda de controlar o incontrolável. 


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27/03/2024

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Pausa para uma série: 'Rainha Vermelha'


O contraponto da genialidade e a maldição. Baseado na obra homônima do escritor e jornalista espanhol Juan Gómez-Jurado, o primeiro de uma trilogia, chegou recentemente no catálogo da Prime Video um seriado empolgante, que parte da jornada de heróis brilhantes e imperfeitos até o encontro com um caso macabro que vai se moldando através de pistas sobre um psicopata enigmático. Rainha Vermelha tem todos os seus conflitos chegando através dos laços entre pais e filhos, esse sentimento forte, vívido, conflitante, muitas vezes dependente, que se torna a base dos sete episódios, com duração perto de uma hora.

Na trama, conhecemos Antônia Scott (Vicky Luengo), uma jovem considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo (com um altíssimo QI) que faz parte de uma organização que só entra em operação em casos complexos onde a polícia não consegue resolver. No passado, um trauma abala todas suas estruturas emocionais ficando longe de qualquer agitação. Mas tudo isso muda com uma série de acontecimentos horripilantes que percorrem as ruas da cidade mais famosa da Espanha. Assim, seu destino se interliga com o de Jon (Hovik Keuchkeriano), um carismático policial que se junta ao time com a função de escudeiro da nomeada Rainha Vermelha. Juntos, precisarão resolver esse sinistro caso que envolve violência e o sequestro de uma milionária.

Antônia Scott é um personagem fascinante mas só vamos descobrir isso lá pelo meio da temporada. Então, paciência! A série esquenta mesmo a partir do terceiro episódio. É importante toda a costura do contexto que é feita nos primeiros episódios, de peças da organização fantasma que corre em paralelo às forças policiais até os arcos do antagonistas, passando pelo brilhante e carismático policial Jon, Rainha Vermelha posiciona peças que serão importantes nesse desfecho e até mesmo nas sequências dos outros livros que muito provavelmente virarão novas temporadas (a segunda inclusive já está garantida).

O mundo é um enorme texto a ser decifrado. Superdotada e refém de um experimento, Scott é uma jovem com uma mente brilhante que sempre se viu distante de uma sociedade que prega valores por meio de muitas hipocrisias. Isso não a deixou longe de ter uma família, criar laços. Andando em uma corda bamba com sua observação apurada parece conseguir esconder em um lugar sombrio seus embates absurdos com o exigente e influente pai e todo um passado ainda ser contado. O seriado começa exatamente no seu despertar, através de um forte trauma.

De um outro extremo, conhecemos Jon, um policial gay, marcado por um passado repleto de situações que o deixaram de lado na força policial. Sua forte relação com a mãe é o caminho para entendermos sua capacidade impressionante de agregar valores positivos numa relação e seus princípios ligados à uma análise sentimental. Um homem de uma inteligência emocional apurada que muitas vezes estaciona nas dores de causas perdidas. Hovik Keuchkeriano, está fabuloso no papel. Você pode lembrar dele como ‘Bogotá’ do mega sucesso mundial La Casa de Papel.   

A razão e a emoção moldam as personalidades distintas desses dois protagonistas formando um encaixe perfeito dentro de uma fórmula de ação e suspense onde a trama nunca é deixada de lado e sempre guiado por eles. A maneira como a história é contada (narrativa) deixa o ritmo dinâmico ampliando o campo de visão do espectador, muitas vezes através de um raio-x do subconsciente da protagonista e as reações espontâneas do outro.

Um ótimo vilão, e as surpresas quando nos deparamos com a sua história, se juntam a essa trama repleta de mistérios, reviravoltas, segredos inconfessáveis, relacionamentos abusivos, psicopatia e suas esferas. Rodado todo na cidade de Madri, Rainha Vermelha é o pontapé inicial de um arco maior. Há muito para se desenvolver. A segunda temporada já está garantida e será a adaptação de Loba Negra, segundo livro da brilhante trilogia de Juan Gómez-Jurado. Para quem se interessar, essa primeira temporada está disponível no catálogo da Prime Video.


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Crítica do filme: 'A Filha do Rei do Pântano'


O olhar imaturo e as releituras das relações. Buscando um olhar minucioso numa relação conturbada entre filha e pai dentro de um doloroso confronto com o passado, A Filha do Rei do Pântano busca uma constante tensão através de uma forte conexão com o medo e as dificuldades de confiar. Dirigido pelo cineasta norte-americano Neil Burger, do ótimo O Ilusionista, um jogo de caça e caçador é estabelecido através dos conflitos emocionais, algo que domina o tempo de tela, se perdendo em sua narrativa que carece de ritmo.

Na trama, conhecemos Helena (Daisy Ridley), que no passado viveu isolada ao lado do pai Jacob (Ben Mendelsohn) e da mãe Beth (Caren Pistorius) sendo criada de forma selvagem pelos ensinamentos do primeiro. Certo dia, durante a infância, após fugir com sua mãe, é revelada a ela que o pai as mantiveram em cativeiro durante anos. O tempo passa e Helena vive nos tempos atuais, casada, já com uma filha, mas como se não encontrasse um lugar para viver em meio aos seus intensos traumas que voltam com frequência. Quando seu pai consegue fugir da prisão, o pesadelo aparece de novo na sua frente.

O que se vê no reflexo dos olhos? A narrativa se desenrola a partir do forte elo estabelecido entre pai e filha, com a segunda sendo colocada em um caminho de desconstrução quando cai na sua frente as verdades desse pai. A composição da protagonista é bem feita, atormentada pelos traumas parece em total desequilíbrio como se uma página do livro de sua vida estivesse sempre aberta. Essa questão da relação encosta no melodrama e aqui a direção se perde, buscando movimentos para personificar os traumas. Aliado a isso, o ritmo é inconstante, deixando o caminho até o clímax uma viagem sonolenta pelo desequilíbrio emocional.

Com o lema: ‘Sempre proteja a família’, e suas diversas interpretações que vão mudando conforme conhecemos mais dos personagens, A Filha do Rei do Pântano não alcança todo seu potencial, deixando que uma interessante construção da protagonista afundasse em uma narrativa que não alcança o fôlego para sustentar a releitura de uma relação.  



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Crítica do filme: 'Pandorum'


Imagina você acordar em uma nave espacial após um longo sono profundo e não conseguir se lembrar como e os motivos de ter ido parar ali? Seguindo as pistas desse primeiro mistério, o longa-metragem Pandorum, lançado 15 anos atrás, mistura drama existencial com ficção científica em uma intensa luta pela sobrevivência que reserva boas surpresas para o espectador. Escrito por Travis Milloy e Christian Alvart (esse também o diretor), o projeto, filmado em uma usina abandonada na cidade de Berlim, na Alemanha, solidifica seu caminhar nos disparos de gatilhos emocionais em uma narrativa envolvente com um desfecho marcante.

Na trama, ambientada perto do ano 3.000, conhecemos o Cabo Bower (Ben Foster), um homem que acorda numa nave chamada Elysium, com grandes avarias, sem lembrar direito como foi parar ali. Ao seu lado, o sargento Payton (Dennis Quaid) também é acordado. A dupla então começa a busca entender o atual cenário da nave espacial em que estão, e entre alguns lapsos de memórias, precisam descobrir uma nova maneira de reestabelecer o controle da nave que está ocupada por seres nada amistosos. Assim, o cabo Bower parte para as partes mais distantes da nave, já que uma solução pode ser a de chegar ao reator principal da nave, e assim descobre muitas surpresas pelo caminho.

Sem leis, um lugar onde a moralidade não existe. Explorando o conceito de colonização interplanetária, Pandorum parte do suspense para navegar seus conflitos numa luta pela sobrevivência num período onde nosso planeta está à beira do caos. Dentro desse cenário, 60.000 pessoas são recrutadas das formas mais diversas para uma viagem de muito anos, com direito a hipersono prolongado, compondo uma nave de colonização até um planeta chamado Tanis (esse com condições parecidas com a da Terra), encontrado bem longe daqui. A questão é que algo dá muito errado, fruto de uma ação à uma reação emocional na qual chamam de Pandorum. Essa base teórica do filme é algo que percorre todo o discurso sendo visto em cada detalhe da excelente narrativa proposta.

Programado para ser uma trilogia, pode ser que isso não aconteça (infelizmente) já que o desempenho em bilheteria na época de seu lançamento fora longe do esperado, o longa-metragem diz muita sobre a humanidade e as diversas reações em situações extremas. Há muito a se refletir por aqui. Longe de casa, vemos os pulos pelos obstáculos dentro de uma jornada do herói aos olhos de um protagonista carismático que precisa encontrar soluções, mesmo completamente perdido, sem entender direito o real sentido de tudo que vive.

Empolgante até seu último minuto, com direito a reviravoltas constantes, Pandorum é um daqueles filmes que poucos conhecem mas deveriam ir atrás. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.


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Crítica do filme: ' Shirley para Presidente'


As lembranças que teremos amanhã, são reflexos dos esforços de hoje. Navegando por um momento marcante da política eleitoral norte-americana durante a década de 70, com jovens já aos 18 anos tendo a possibilidade pela primeira vez de participar do ato democrático que é a eleição, conhecemos um pouco da vida e personalidade de uma mulher buscando a oportunidade de fazer a diferença. Shirley para Presidente, escrito e dirigido por John Ridley, busca um retrato intimista de Shirley Chisholm, congressista de Nova Iorque por sete mandatos, em um país e época de fortes preconceitos. No papel principal, a excelente atriz Regina King.

Na trama, ambientada no início dos anos 70, conhecemos um pouco da história de Shirley Chisholm (Regina King), primeira mulher negra a ser eleita para o Congresso dos Estados Unidos, durante os sete meses de sua campanha para presidente no confuso sistema eleitoral norte-americano. Trazendo um olhar íntimo sobre essa parte de sua trajetória, a narrativa atravessa o preconceito e o machismo, as alianças políticas, os fortes discursos, os problemas familiares, de uma inesquecível mulher que buscava ser um importante catalisador de mudanças.

A importância do voto ainda mais num país onde desde 1800 e pouco possui um método de votação confuso e cheio de possibilidades para manobras políticas. O sistema político dos Estados Unidos é realizado de forma indireta, com a atuação de delegados em uma prévia eleição onde são escolhidos o colégio eleitoral que, esses sim, escolhem que governará a maior potência do mundo. Confuso? Sim, bastante!

Dentro do contexto apresentado acima, a narrativa busca um amplo recorte sobre a vida da famosa congressista, com ênfase no período mais marcante de sua trajetória política, durante toda sua campanha para presidente dos Estados Unidos passando pela convenção dos democratas. O papel que a sociedade impõe à mulher, o preconceito racial, traições políticas, tentativa de assassinato, se misturam com a própria vida pessoal de Shirley, uma mulher com uma relação conturbada com a irmã e, casada há quase duas décadas, enfrentando sérios problemas no casamento.

Com o preconceito e o machismo batendo na porta a todo instante durante uma trajetória vitoriosa de 14 anos no congresso norte-americano, país esse que ainda vivia em época de Guerra, a do Vietnã, Shirley para Presidente apresenta os fatos que marcou a trajetória de uma mulher, professora, política, que abriu portas e nunca deixou de lutar pela igualdade.


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23/03/2024

Crítica do filme: 'Heroico'


A iminência do desequilíbrio. Escrito e dirigido pelo cineasta mexicano David Zonana, em seu segundo longa-metragem na carreira, Heroico é um projeto que escancara as linhas tênues entre a disciplina e a punição na visão de um jovem soldado, no limite do descontentamento, que sofre com o treinamento e os atos sádicos e desumanos de um dos superiores. Exibido nos Festivais de Berlim, Sundance e San Sebastian do ano passado, o filme busca um retrato de um pesadelo, onde a violência é um elemento para uma série de tragédias.

Na trama, conhecemos Luis Nunez (Santiago Sandoval), um jovem que acabou de entrar em uma escola militar no México em busca de uma estabilidade e também do seguro médico militar para ajudar a mãe que luta contra uma avançada diabetes. Logo nos primeiros dias, se depara com abusos e situações constrangedoras de seu oficial direto Eugenio Sierra (Fernando Cuautle) e embarca em uma jornada sem volta com conflitos que se seguem.

Como lidar com os absurdos que presencia? Contendo cenas fortes em sua narrativa, utilizando o recurso do chocar para refletir, Heroico navega na desconstrução de um protagonista que se vê perdido, completamente afetado pelos abalos emocionais que sofre. A direção busca nos detalhes a crítica social contundente, algo que se aproxima a uma lupa constante dos precipícios dos limites morais.  

O universo militar ganha contornos na visão do recrutas, suas expectativas e quanto a essa rotina. Muitos estão ali por necessidade, pelos benefícios que essa vida pode entregar. O choque com a realidade que se apresenta é um banho de água fria, com a hipocrisia de oficiais rolando solta. As mãos sujas de sangue, acaba sendo apenas mais um capítulo dessa história que vira peça chave na iminência do desequilíbrio.

Heroico é um filme que causa impacto. Abre nosso refletir para valores morais e instituições que deveriam ser uma saída para quem quer uma mas acabam sendo um reflexo constante da sociedade.  


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Crítica do filme: 'Gosto de Sangue'


Até o limite das inconsequências. Escrito e dirigido pelos irmãos Joel Coen e Ethan Coen, em meados da década de 80 chegava aos cinemas um filme que mostra relações repletas de tensão onde mal entendidos viram desconfianças trazendo a violência e várias de suas formas permeando as trajetórias de personagens que se desprendem da felicidade de forma constante. Gosto de Sangue é um retrato sobre a psicopatia, o desprezo pelo outro, em uma narrativa submersa a detalhar cada canto de conflitos que estão em iminente rota de colisão. O filme marca a estreia nas telonas da três vezes vencedora do Oscar de Melhor Atriz Frances McDormand.

Na trama, conhecemos Marty (Dan Hedaya), o dono de um bar no Texas que descobre a traição da esposa Abby (Frances McDormand) com Ray (John Getz), um funcionário do estabelecimento. Tomado pelo ódio, contrata um detetive inescrupuloso (M. Emmet Walsh) para matar a mulher e o amante. Só que uma série de situações começam a acontecer, com errôneas verdades impostas por achismos.

As reflexões sobre o lado psicológico dos personagens é uma ferramenta importante dessa engrenagem. Tudo é muito bem construído. A crueldade de alguns desses, está associada à uma ingenuidade, outros ao desprezo pelos valores morais. O limite emocional é o ponto de chegada onde limites são cruzados e o caos dos conflitos internos reina sobre as ações. A traição, a vingança são as consequências.

Uma mulher em busca da felicidade com um novo amor, um marido possessivo, um amante que se coloca em uma posição de incertezas, um detetive condenável. Mexendo esses elementos em uma trama que envolve o acaso como ponto intercessor, os irmãos Coen, com certo brilhantismo e uma direção primorosa, conseguem navegar em gêneros cinematográficos, de filme policial aos poucos vai se tornando um sufocante suspense que caminha de forma imprevisível para um desfecho marcante.


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Pausa para uma série: 'Magnatas do Crime'


Ação e humor debochado na medida certa. Diretamente da mente criativa do cineasta britânico Guy Ritchie chegou na Netflix um seriado que possui uma narrativa detalhista que encontra um ritmo intenso num habilidoso jogo de perspectivas com excêntricos e inconsequentes personagens. Magnatas do Crime, spin-off (uma história derivada) do filme lançado em 2019 pelo próprio diretor, nos leva para um tour pelo domínio, a necessidade de poder, no mundo obscuro da criminalidade.

Na trama, conhecemos o aristocrata Eddie (Theo James) um soldado britânico que servia na ONU que é chamado pra casa por sua família já que o pai está pelas últimas. Quando assume uma herança indigesta que traz riquezas e muitos desastres, descobre que na propriedade da família existe uma enorme plantação secreta de maconha comandado pela família de Susie (Kaya Scodelario). Buscando encontrar alguma solução para se desvincular da criminalidade acaba entrando de cabeça no submundo do crime.

Um novo duque e uma série de missões. Com uma trama mirabolante que passa um raio-x na iminente criação/formação de um gângster, algo parecido com o já vimos em O Poderoso Chefão, Magnatas do Crime nos leva para o confronto com narrativas de poderosos sendo seguidas por situações peculiares que mostram todo o controle e também descontrole numa busca pelo trono de mais poderoso. Pode ser visto também como um Game of Thrones do submundo do crime em uma Inglaterra dos tempos atuais.

Expandindo o universo de histórias oriundas do filme lançado em 2019, o projeto de oito episódios em sua primeira temporada é um mergulho profundo na psiquê humana, repleto de personagens peculiares que possuem como elo as contradições, o confronto com o antagônico. Tudo isso é mostrado de forma minuciosa pelas lentes de Ritchie que não deixa de lado ótimas cenas de ação e espaço para reviravoltas, transformando o seriado em mais uma obra consistente de seu currículo.


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Pausa para uma série: 'O Problema dos 3 Corpos'


Um chamado. Uma resposta. Onde está o inexplicável? Baseado na obra homônima escrita por Liu Cixin, O Problema dos 3 Corpos é um drama existencial com muita ficção científica que reúne uma série de elementos que vão dos conceitos físicos que se juntam à quebra de valores éticos, até as derrapadas da moral, dramas pessoais, tragédias e dilemas. Adaptado para as telas pela dupla, David Benioff e D.B. Weiss, alguns dos responsáveis pelo sucesso Game of Thrones, a narrativa, que percorre uma extensa faixa temporal com blocos de histórias que vão se reunindo, busca ser objetiva nas jornadas profundas de seus intrigantes personagens.

Na trama, conhecemos uma jovem cientista lá na década de 60, em meio à revolução cultural chinesa, que após passar por um trauma acaba recebendo a chance de trabalhar num lugar secreto que tem como objetivo colocar a China como líder na comunicação interestelar. Um dia, ela consegue contato com seres de outro planeta e uma decisão nessa comunicação acaba vindo a ter consequências anos depois atingindo em cheio as vidas de um grupo de amigos e brilhantes cientistas que estão na Europa nos tempos atuais.

Estrelas brilhando de forma estranha, códigos vindo de outros lugares, pesquisas avançadas sendo sabotadas, seita alienígena, sol amplificando transmissões, uma inteligência artificial jamais vista. O que deixamos pra trás para pensar na frente? Suportando sua base do discurso em confrontos de ideologias e tendo a ciência como elemento importante de salvação da humanidade, o misterioso seriado, que tem um dos maiores orçamentos da história da Netflix, consegue equilibrar o fisiquês com a razão da existência onde embates são vistos em várias subtramas que nos levam a reflexões sobre jornadas profundas sobre a vida e a morte.

Qual o bem maior? O confronto entre o egoísmo e o coletivo é algo que permeia as ações dos personagens dentro da linha de que toda ação pode ter uma consequência. A ciência sobre o misticismo é outro ponto também abordado de forma franca que desemboca em dilemas bastante terráqueos mas aqui ligados a uma necessidade de defesa planetária.

O Problema dos 3 Corpos é a primeira parte de uma trilogia, então já sabem que o final é aberto! Ao longo desse intenso, e cheio de peças soltas, arco introdutório de oito episódios, a construção da identidade da série é feita com maestria, com ritmo equilibrado, deixando lacunas a serem preenchidas nas futuras temporadas.

 


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19/03/2024

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Crítica do filme: 'As Quatro Filhas de Olfa'


A angústia de um desaparecimento duplo. Exibido no Festival de Cannes do ano passado, o documentário As 4 Filhas de Olfa, por meio de ensaios, bate-papo entre personagens reais e atrizes, nos mostra uma história que vai se montando por seus detalhes tendo como alicerce toda forte relação familiar entre uma mãe e suas quatro filhas. O reabrir as feridas se torna uma marca presente dentro de um contexto no passado doloroso que influenciou a trajetória de todas elas. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2024, o projeto é escrito e dirigido pela cineasta tunisiana Kaouther Ben Hania.

Ao longo de 107 minutos de projeção vamos acompanhando recortes nas vidas de Olfa e suas filhas. Desde a infância, o crescimento das meninas, a vivência no período da conhecida Revolução de Jasmim até uma radicalização e sumiço de duas delas que acaba trazendo dor e sofrimento sem fim. Reviver tudo o que passaram se transporta para a tela, com encenações de momentos das duas filhas que ficaram e duas atrizes substituindo as que foram. Memórias se misturam com as incertezas que duram até os dias atuais.

A angústia do desaparecimento é algo que percorre todo o filme. Não sabemos a princípio o que realmente aconteceu com as duas filhas mais velhas de Olfa. Fugiram? Foram sequestradas? Quando as peças se alinham nas posições de revelação, o campo de reflexões se amplia nos levando até alguns porquês. Dentro desse contexto, se expõe o processo criativo do projeto como um complemento da narrativa.

Nesse interessante documentário, com 18 prêmios internacionais, todo rodado em um hotel abandonado, passamos por uma Tunísia em plena revolução e a protagonista buscando a própria, chegando até uma temida organização jihadista que justifica seus atos pela aplicação da lei religiosa islâmica e muitas questões políticas que se amontoam. As 4 Filhas de Olfa é um forte e contundente retrato de uma sociedade que parte da dor de uma família até os caminhos da perplexidade.


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