02/05/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #402 - Henrique Nuzzi


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Henrique Nuzzi tem 24 anos iniciou seus estudos na área do cinema aos doze anos de idade em São Paulo. Atualmente é formado em Direção Cinematográfica no curso Filmwork da Academia Internacional de Cinema e Roteirista pela Roteiraria. Participou de diferentes projetos ao longo de sua carreira, nas linguagens de Drama, Suspense, Terror, Fantasia, Experimental e Comédia, ‘videoclipes’ e vídeos institucionais. Como destaque de sua trajetória, dirigiu o curta-metragem Solicita Alma e Anima, roteirizou o média-metragem Boneco de Carne; o Longa-Metragem Sorvete com Tofu e Heróis Corrompidos.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha formação cinematográfica demorei para conhecer espaços ‘alternativos’ na cidade. Passei mais da metade da minha vida indo em cinema de shopping. Quando busquei me relacionar com o cenário audiovisual descobri a minha sala de cinema preferida em São Paulo, o MIS. O que me possibilitou conhecer um circuito de filmes não convencionais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Minha vida está ligada ao cinema antes mesmo da minha primeira memória. Sempre existiu dois mundos, os filmes de Hollywood que assistia no cinema e minhas experiências com as câmeras digitais do meu pai. Posso narrar diferentes momentos que pensei ‘o cinema é um lugar diferente’. A cada ano essa questão assombrava os meus pensamentos. Sempre estudei em colégios artísticos e tinha medo do cinema tomar a minha vida. Mesmo nesses espaços havia muita desinformação sobre audiovisual. O meu ponto de virada foi conhecer o cinema de invenção brasileiro. Deu um sentido a minha busca, o cinema que eu fazia desde criança encontrou o seu lar, o cinema experimental.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Posso dizer com convicção que o meu diretor favorito é o Rogério Sganzerla, diretor do O bandido da luz vermelha de 1968. Sinopse: ‘História inspirada nos crimes do conhecido assaltante João Acácio Pereira da Costa, o “Bandido da Luz Vermelha”, que assalta residências, realiza fugas ousadas e gasta o dinheiro de forma extravagante. Encurralado, ele recorre a medidas extremas.’ Amo toda a filmografia do Sganzerla. Os seus filmes podem ser visto como uma grande ‘franquia’ a cada filme ele avança na desconstrução pós moderna. Ao longo da minha vida tive vários mentores no cinema de autor, desde Tim Burton a Tarantino. Sei que esses nomes são batidos no nosso imaginário, mas essas referências me influenciaram por toda a minha vida e contribuíram na construção da minha estética.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme nacional favorito é Terra em Transe de 1967 do Glauber Rocha. Sinopse: ‘País fictício da América Latina, Eldorado, é palco de uma convulsão interna desencadeada pela luta em busca do poder.’ O filme narra a história de um romântico poeta anarquista de classe média que busca a revolução a qualquer custo. O filme conseguiu quebrar as algemas do experimentalismo tropical influenciando o futuro do cinema mundial. Filmes de grande bilheterias nacionais como Tropa de Elite, Tropa de Elite: o inimigo agora é outro, Bacurau,  jamais teriam sido realizados sem o universo de Glauber Rocha.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Vejo a Cinefilia da mesma forma que os antigos viam. Como uma doença fruto de uma classe média ociosa. Somos viciados em imagem em movimento. Cinefilia está além de amar filmes, é a obsessão pela informação. Não consigo ficar uma semana sem ver um vídeo no YouTube.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que os cinemas sabem exibir filmes que o público quer ver. Eu vivo em São Paulo, tenho a possibilidade de conhecer circuitos mais Cults. E sei que esse cenário não está presente em todo o Brasil.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

As salas de cinema vão se adaptar, acredito que vai ser como o teatro. As grandes redes perderam a força com os novos acordos com as produtoras. As distribuidoras multi nacionais que intermedeia com o cinema tendem a desaparecer, visto que o espaço físico não tem o mesmo valor. O cinema tende a se tornar novamente o cinema de rua. Podendo locar o espaço para diferentes formatos de exibição.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Mulher de Todos de 1969 do Rogério Sganzela.

 

Sinopse: ‘A ninfomaníaca Ângela Carne e Osso convida o amante para visitar a exótica Ilha dos Prazeres. Desconfiado, seu marido contrata um detetive particular, o qual acaba revelando o plano ao se apaixonar pela moça. Desconcertado diante do flagra, o marido traído prepara uma terrível vingança.’ O filme protagonizado pela Helena Ignez, rompe com a dramaturgia clássica e implementa uma nova forma de atuação. O cinema de vanguarda brasileiro ainda não havia rompido com a opressão patriarcal. As figuras femininas nos filmes nacionais nos anos 60 não retratava a mulher moderna. Helena Ignez inaugura a liberdade feminina e expõe as contradições do Status Quo.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acredito que não devemos reabrir os cinemas antes da pandemia acabar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

É difícil dizer como está o cinema brasileiro atualmente, estamos em plena pandemia. Não estou tendo muito contato com os filmes produzidos nesses últimos 2 anos. Já que as grandes produções pararam e só quem produz cinema atualmente é o cenário independente. Acredito que estamos passando por mais uma das crises do cinema brasileiro. Nunca tínhamos vistos tantos filmes de qualidade e com diversidade tão ampla nessas últimas décadas. Houve uma democratização desde quem realiza até nas temáticas discutidas graças as leis de incentivo. Agora falta apenas democratização na distribuição dos filmes.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não perco o próximo filme o Kléber Mendonça Filho. Quero ver qual será o próximo passo do seu cinema. Torço pro crescimento do cinema mainstream de autor.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A materialização em movimento dos sonhos humanos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Minha relação com salas de cinemas mudou quando exibi o meu primeiro filme em tela grande com 15 anos. No meu ensino médio tinha aula de cinema e tive a minha primeira experiência dirigindo e roteirizando um filme. No clássico método brasileiro ‘Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão’. Infelizmente perdi esse filme em umas das minhas crises juvenis. Nunca pensei que as brincadeiras com a câmera digital poderiam gerar emoções em pessoas desconhecidas.

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

O The Room brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Para ser um cineasta é preciso conhecer a linguagem cinematográfica, não ver todos os filmes. Claro que quanto mais filmes se vê mas domínio da linguagem se tem. Só que a formação de um cineasta se dá em sua experiência com a câmera, o espaço e os atores. Depois que o artista desenvolve o seu universo o mais importante é o autoconhecimento, vivências reais e o estudo complementar em alguma área humana. É a formação pessoal que constrói um cineasta.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O pior filme que vi na vida foi 2 coelhos.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Minha experiência com cinema documental não é muito vasta, então não me vem o melhor na minha cabeça. O último documentário que vi e me surpreendeu foi Rocha que Voa. Sinopse: “A partir da premissa de que nenhuma revolução acontece isoladamente, o filme busca reconstituir o diálogo ocorrido entre o Cinema Novo brasileiro e o Cine Revolucionário cubano.”. Retrata a influência do Glauber Rocha em Cuba em seu exílio em 1971 e 1972. O filme retrata desde as intervenções artísticas do cinema Glauberiano, até às técnicas usadas pelos editores cubanos no filme Câncer.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Lembro de bater palma nos filmes do Harry Potter, quando pequeno.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de dois filmes do Nicolas Cage: O senhor das armas e Adaptação.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Quando novo costumava ler o site omelete e com o tempo deixei de acompanhar sites de cinema. Vejo bastante vídeo análise de cinema pelo Youtube como Tela em Transe, Cinema sem Limites e Cinédito.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Consumo o Darkflix, o Globo Play, SpCine Play, Canal Curta, Canal Brasil e Looke.

 

 

 

 

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Crítica do filme: 'Diga-me Quando'


Quando a ingenuidade encontra as indomáveis lições do amar. Filme de estreia na direção e roteiro do cineasta mexicano Gerardo Gatica, Diga-me Quando apresenta pequenos exageros costurados com clichês mas nada que gere bocejos ou desinteresse, pelo contrário, o projeto se apresenta muito mais profundo do que aparenta, uma belíssima construção com diálogos criativos, emoções variadas, se tornando uma crônica latina sobre as descobertas do amar. Sem pretensão de ser perfeito, se arrisca com sucesso nas linhas tumultuadas da melancolia. Grata surpresa. Disponível na Netflix.


Na trama, conhecemos Will (Jesús Zavala), um jovem economista de formação, sem amigos, que nunca se diverte, workholic, pentelhado pelo seu chefe inclusive aos sábados, que mora em Los Angeles próximo a seus avós de origem mexicana. Quando seu avô morre no mesmo deserto que atravessou anos atrás quando chegou aos Estados Unidos, o tempo passa e Will encontra uma pequena caderneta que o avô deixou dizendo todas as coisas que ele precisa fazer no México (redescobrir suas origens, cantar com mariachis, ficar bêbado com mezcal, ir até a praça da constituição, ao palácio belas artes...encontrar um amor, fazer amigos...)  para ser uma pessoa mais feliz. Assim, parte em busca desse país multicultural e lá acaba conhecendo pessoas que mudarão sua maneira de ver o mundo, principalmente a atriz de teatro Dani (Ximena Romo), por quem se apaixona loucamente.


Entre uma polaroid e outra, até declamação de poema, passando por quase todas as fases do se apaixonar a comédia romântica apresenta de maneira muito poética o lado bom e o lado ruim de se jogar em uma paixão. Esses contrapontos, dentro de uma Inserção no universo da conquista, ditam o ótimo roteiro a um ritmo de gerar risos e energias boas, talvez pelas belas atuações, talvez por já sentirmos algumas daquelas fases vividas pelo protagonista.


Você precisa aprender a ser, não só a ter. O longa-metragem bate bastante na tecla do importante que é ter experiências que nos moldem como seres humanos e como é a melhor forma de aprendermos a perder e ganhar. O protagonista, antes um desajustado no convívio social, se descontrói e renasce através do mesmo universo que vive mas com uma ótica diferente, vira um constante observador de um novo mundo que já existia mas ele não conseguia enxergar.


Em um programa de perguntas e respostas, se essa mesma história se passasse ambientada nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova Iorque, a maioria dos cinéfilos e cinéfilas diria que se tratava de um filme do Woody Allen.

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01/05/2021

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Crítica do filme: 'Raia 4'


As mensagens que o silêncio traz. Exibido em diversos festivais de cinema pelo mundo, como 35º Festival Internacional de Cinema de Santa Barbara (EUA), o 41º Festival de Havana (Cuba), a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o Festival Internacional do Rio e vencedor do prêmio da crítica no Festival de Gramado, Raia 4 possui uma narrativa lenta, perto da amargura, de paralelos com o psicológico, que busca em suas imagens e movimentos revelar o caos emocional de uma jovem, de família de classe média alta do sul do país,  perto de completar 13 anos entre as competições semi-profissionais de natação que participa e as descobertas das primeiras fases da adolescência. Escrito e dirigido por Emiliano Cunha.


Na trama, acompanhamos o dia a dia de Amanda (Brídia Moni), uma jovem que está passando por uma turbulenta fase emocional e divide seu tempo em suas novas descobertas e seu ritmo acelerado de competição na equipe de natação de sua cidade. Em casa, seu relacionamento com os pais é um pouco conturbado, tendo imenso carinho pelo pai e uma certa distância da mãe. Ambos são médicos e vivem sempre com suas agendas lotadas de compromissos. Amanda fica mais confusa com a existência de uma linha tênue entre algum sentimento confuso e a competição na relação com a amiga de treinos Priscila (Kethelen Guadagnini).


Tecnicamente é um filme muito interessante, as metáforas aquáticas, seus movimentos, luzes, mostram uma aflição em crescente com o que podemos fazer um paralelo com a mente da protagonista, completamente confusa nas suas interpretações sobre as escolhas que lhe aparecem. Introspectiva, de poucas palavras, parece não saber lidar direito com suas fases de vida, como a primeira menstruação, o primeiro beijo, a competição. A cada nova saída da água (seu lugar de refúgio), a ansiedade e as cobranças de uma jovem atleta chegam por todos os lados, gerando um caótico recorte emocional que determina as ações, inclusive, do desfecho marcante.



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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #401 - Márcio Moraes


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nosso entrevistado de hoje é cinéfilo, de São Paulo. Márcio Moraes tem 28 anos, é Executivo de Vendas América Latina na distribuidora Califórnia Filmes, atua na distribuição de longas nacionais e internacionais para cinema, televisão e plataformas digitais. Trabalhou anteriormente na distribuidora Art-House, Imovision e na Fundação Padre Anchieta – TV Cultura. Também é ator de teatro há 13 anos, diretor-fundador da Trupe Caçadores de Tatu (Taturema) e da Tatu – Escola de Teatro, em Sorocaba no interior de São Paulo. Cursou Rádio, TV e Internet na Universidade Anhembi Morumbi.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A minha sala preferida com certeza é o Reserva Cultural, além de já ter trabalhado para o Jean Thomas na Imovision, é um dos cinemas que mais frequentei com pessoas muito queridas e que tem uma potente programação alternativa. Acho que as lembranças que a sala de cinema te proporciona pela experiência em si e o ponto de encontro entre pessoas, que vão para além de apenas o filme, também contam muito nessa decisão – então, sem dúvidas o Reserva é minha sala preferida.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Dogville (2003), fiquei dias refletindo sobre o filme e lembro até hoje dessa sensação.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Gosto muito do Lars Von Trier e meu filme favorito é o Dançando no Escuro (2000) com a Björk.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Não tenho um favorito, mas dos últimos que vi que mais gostei foram As Boas Maneiras (2018) de Juliana Rojas e Marco Dutra, Aos Teus Olhos (2017) de Carolina Jabor e Anna (2018) de Heito Dhalia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É guardar um espaço especial da sua vida para viver a experiência cinematográfica e ser transpassado por ela.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Com certeza, e entendem de cinema como um todo – tanto quando arte como enquanto mercado. Cada sala tem a sua própria “clientela” e por consequência, temos programações feitas para atender essas demandas. Um programador precisa acompanhar constantemente o cenário e por consequência, assiste muita coisa e isso por si só é “entender de cinema”.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Com absoluta certeza: não, eu não vejo o streaming e as novas mídias conseguindo transpor o “encontro”. Assim como o teatro, a sala de cinema promove uma reunião catártica de pessoas, além de trazer uma impressionante e gigantesca tela onde se projeta a imagem causando um impacto que nem a melhor TV consegue – existe uma mágica nessa combinação que traz a aura de evento para a além da sua reprodutibilidade técnica. Além de que sempre que uma nova mídia chega diz-se que a anterior vai se encerrar e vemos cada vez mais que isso não é verdade, elas coexistem dentro das suas dimensões.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Corpo e Alma (2017) de Ildikó Enyedi, Dentro da Casa (2013) de François Ozon, C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor (2005) de Jean-Marc Vallée e Monsieur & Madame Adelman (2017) de Nicolas Bedos, são filmes que eu gosto muito e sempre falo pras pessoas assistirem.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

As salas já reabriram e fecharam várias vezes ao longo da pandemia. Eu pessoalmente acho que é algo muito sensível de se discutir, porém com as devidas medidas de segurança e conforme permitido pelo governo entre os lockdowns, não me oponho.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Temos uma produção intensa, muito ativa, onde podemos encontrar espaço pra todos os projetos. É fenomenal o que os filmes de comédia da Downtown/Paris conseguem arrecadar de bilheteria, é incrível a visibilidade internacional de projetos nacionais em premiações como os títulos Babenco, Bacurau, A Vida Invisível, etc. Porém hoje atravessaremos um momento muito complicado causado tanto pela pandemia quanto pela ausência das políticas públicas e desmanche da ANCINE. Por mais que muitas produtoras ao longo dos anos conseguiram se estabilizar e produzir constantemente, a ausência dos fomentos governamentais causam efeitos devastadores e afetará o que será produzido e o quanto será produzido daqui para frente no país pois a ausência desses recursos minará a diversidade criativa, e apenas o mercado em si pautará o jogo – quem deter recursos conseguirá produzir, concentrando muito mais o que virá em poucos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Tudo o que a Fernanda Torres faz, eu assisto.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é encontro, desejo e contar histórias.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não me lembro de nada muito inusitado, mas teve uma época que eu ia quase todos os dias ao cinema, e teve uma semana em que eu perdi uma lente de contato e demorei uns dias pra comprar, nesse meio tempo eu ficava praticamente assistindo os filmes com um olho só – a triste vida do míope.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

“Vai passarinho, você como as crianças também tem direito a liberdade”

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu sempre penso que todos podemos desenvolver a sensibilidade necessária pra produzir uma obra de arte, seja ela em qual mídia for. Não acredito que apenas quem viu tudo (Até porque não se é possível ver tudo) é a única pessoa capaz de desenvolver com talento, a sensibilidade e a exatidão necessária pra executar um longa-metragem, mas com certeza o repertório aprimora o senso estético e criativo e contribui muito para o resultado final do cineasta.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Muito difícil, eu costumo esquecer e eu já tive que assistir muita coisa ruim por trabalhar com distribuição, não vou conseguir citar um filme.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Eu amo qualquer documentário de espaço do Discovery Channel ou do History, mas meu documentário favorito é Jogo de Cena (2007) de Eduardo Coutinho.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Só em pré-estreias com a presença do elenco, rs.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Gosto de O Resgate (2012), que sequestram a filha dele.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Variety, Deadline, TelaViva, Worldscreen/TV Latina e Hollywood Reporter.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Globoplay, Amazon Prime Video, WOW Plus, Netflix e DirectvGO.

 

 

 

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Crítica do filme: 'Em Busca de Sheela'


Quando a verdade é uma questão de perspectiva. Uma figura polêmica da história contemporânea indiana. Um Guru. Uma Seita? Culpada ou inocente? Dirigido pelo indiano Shakun Batra, o média-metragem, de pouco menos de uma hora de duração, Em Busca de Sheela traz à luz mais pontos de vistas sobre a história de Ma Anand Sheela ex-porta-voz do movimento Rajneesh (também conhecido como Osho) que fora acusada pelo governo norte-americano de alguns crimes no período que esteve com esse movimento em uma cidade por lá. Tentando decifrar diversos enigmas sobre essa personalidade complicada de se ler, o filme navega pelo faro investigativo mas sem deixar qualquer conclusão evidente.


O filme tem sua trajetória marcada no recorte do retorno de Ma Anand Sheela, agora com 70 anos, à Índia, terra que nasceu. Agora é uma espécie de celebridade local, amada por muitos e odiadas por outros, inclusive a questão da segurança é várias vezes debatidas no enredo da história. Sem deixar de traçar paralelos com o passado complicado de entender da protagonista e na atualidade sua chegada para uma série de entrevistas com jornalistas indianos de prestígio, o projeto busca levantar argumentos, pontos de vistas de muitos sobre essa figura polêmica, controversa que se refugiou na Suíça no início da década de 90 logo após sair da prisão nos Estados Unidos.


Em busca de uma certa cronologia da percepção, Batra atravessa os campos de reflexão focando mais no embate entre a mídia e Ma Anand Sheela, um duelo entre o sensacionalismo e a figura indecifrável, paralelos que caminham durante toda essa jornada. Ma Anand Sheela em julho de 1983 fora condenada nos Estados Unidos a vários anos de prisão acusada de envenenamento, escuta ilegal e agressão. Ela rebate a todo instante as acusações. Mas qual a verdade? Tente tirar suas próprias conclusões. Disponível na Netflix.



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Crítica do filme: 'Olla'


A independência do feminismo contra o machismo descarado. Escrito e dirigido pela cineasta grega Ariane Labed, Olla é um curta-metragem que deixa sua marca com paralelos importantes ligados à luta das mulheres e sua liberdade contra o conservadorismo, o pensamento machista, quase um desabafo do que se pode encontrar na realidade dos quatro cantos do planeta. Exibido no Festival de Cannes em 2019, em Clermont-Ferrand e Sundance em 2020.


Na trama, conhecemos Olla (Romanna Lobach), uma jovem que vem de uma parte menor da Europa, no leste e acaba conhecendo virtualmente através de um anúncio o francês Pierre (Grégoire Tachnakian), logo sem seguida a protagonista vai morar com Pierre e a mãe dele em uma casa pequena no subúrbio mas nada sai conforme o planejado, nem na visão de um, nem na visão da outra.


Limitada ao conservadorismo, Olla sente a liberdade quando está sozinha, seu ponto de reflexão, quase um desabafo de uma indomável mulher à frente do seu tempo que após entender toda a situação que vive resolve tomar atitudes que a fazem mais feliz. Seu contra golpe contra a violência e o machismo desenfreado é emblemático. O roteiro é objetivo, afinal são menos de 30 minutos, mas é preciso uma lida rápida na sinopse para se situar em pequenas referências que aparecem em quase escondidas entrelinhas.

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Crítica do filme: 'Os Quatro Paralamas'


A arte de viver da fé no que acreditam. Amigos de quase toda uma vida, uma das maiores bandas da história da música brasileira. Em Os Quatro Paralamas, documentário disponível no catálogo da Netflix, temos a chance de acompanhar bem de perto, ao longo de um pouco mais de 90 minutos, entrevistas atuais, muitos vídeos de arquivo do diretor Roberto Berliner, fotos aos montes, lembranças de uma história que andou em paralelo com todas as mudanças sociais e políticas de nosso país. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2020, o documentário nos mostra em meio a muito papo, reflexões sobre a vida, desses paralamas, que passaram mais tempo juntos do que com as próprias famílias.


Selvagem, Vital e sua moto, meu erro, alagados, Bora Bora, Trac-Trac...inúmeros sucessos em versões de registro de ao vivos fantásticos que somente quem viveu sabe mensurar fazem parte dessa trajetória fílmica que nos mostra a simplicidade das reuniões dos amigos e colegas de trabalho que sempre viam na música uma saída importante para dizer o que sentem, o que veem, o que pensam. Mas você deve estar pensando, mas a banda não tem somente três integrantes? O quarto elemento é um afigura muito importante, Zé, o primeiro e único empresário da banda, amigo de Hebert desde o início dos tempos de faculdade.


Passando quase que na superfície pela estrutura política de todas as décadas de existência da banda, há a curiosa menção de que eles durante o tempo de Collor e as reformas que afundaram o Brasil os Paralamas do Sucesso faziam mais shows na Argentina do que no próprio país. Sobre a chegada do sucesso, importante ponto é mencionado, o emblemático show do Rock in Rio, quase um divisor de águas na carreira dessa banda amada por todos os brasileiros.


Se o seu mundo for o mundo inteiro, sua vida, seu amor, seu lar, deixe tudo que for verdadeiro e tudo que não for passar. Já caminhando pro arco final, o momento mais triste dessa trajetória dos quatro paralamas, o acidente de avião que levou embora Lucy, a esposa de Hebert, e deixou esse último com muitas sequelas. São emocionantes os relatos que vemos além da força que precisaram ter para continuar, se segurando no que mais amam: a música.

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30/04/2021

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Crítica do filme: 'Os Salafrários'


Impressionismo? Expressionismo? Cubismo? Surrealismo? Não! Vence o ‘Clicherismo’. Mais novo longa-metragem nacional a badalar a cabeça do ranking do streaming mais acessado do Brasil, a Netflix, Os Salafrários, dirigido por Pedro Antônio possui minutos iniciais aterrorizantes: um festival de clichês, trama corrida, uma maquete de estereótipo tosco de comédia pastelão... Um dos graves problemas do roteiro é não encontrar seu clímax, parece uma sequência de esquetes desorientadas e pessimamente organizadas. Mas é aquilo que sempre buscamos deixar bem nítido nos textos por aqui: veja o filme e tire suas próprias conclusões, você pode gostar e não concordar com essa humilde análise.


Na trama, conhecemos Clóvis (Marcus Majella) um homem que teve uma infância difícil passando por vários lares que já adulto resolveu viver de malandragem, mais precisamente um falsificador de obras de arte. Quando um de seus projetos criminosos dá errado, ele acaba encontrando com Lohane (Samantha Schmütz), sua meia irmã que levava uma vida honesta com seu trailer fazendo hambúrgueres em Magé até ser passada pra trás por trambiqueiros. Agora, partindo rumo à região dos lagos no Rio de Janeiro os irmãos precisam se unir para buscar novos objetivos.


Há uma crítica bem na superfície pelo gosto do estrangeirismo caracterizado sob a ótica de uma das falcatruas dos personagens, a hipocrisia é que a própria narrativa se faz em cima de uma batida fórmula norte-americana de comédias escrachadas. De Arrarial do Cabo à Rua Oscar Freire vamos navegando com os personagens rumo ao desconhecido sendo que pelo caminho há um preenchimento de situações próprias para o riso fácil onde buscam o brilho das interpretações dos protagonistas.


Top 1 no ranking da Netflix no momento em que essas palavras estão sendo escritas, Os Salafrários anda na linha da comédia, da mesma fórmula de outros, nem flerta com o drama, sem pretensão de ser profundo (gerar reflexões...), se arrasta na superfície da mesmice.  

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #400 - Ana Luísa Mariquito


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São José dos Campos (São Paulo). Ana Luísa Mariquito tem 22 anos, é educadora audiovisual, editora de som e cineasta. É graduada em Cinema e Audiovisual – Licenciatura, pela Universidade Federal Fluminense (UFF - Niterói), e formada em Direção Cinematográfica pela Academia Internacional de Cinema (AIC - RJ), aprofundando seu conhecimento técnico e prático em cursos livres de roteiro e realização sonora. Atuante no mercado audiovisual desde 2017 em áreas de som e direção, procura basear seus projetos em torno do encontro entre o Cinema e os Direitos Humanos, acreditando que a experiência estética está acessível a todos que se dispõem a vivenciá-la.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Bem, a programação nos cinemas de São José dos Campos acompanha uma seleção muito parecida. A diferença maior entre as salas de cinema seria a maior disponibilidade de filmes legendados ou dublados e a permanência de uma semana ou duas de filmes independentes. Mas em geral, os filmes exibidos nas linhas de cinema são bloockbusters estadunidenses - com exceção da temporada do Oscar. Pouco se vê de filme brasileiro aqui, infelizmente.

 

Prefiro então falar sobre a minha sala de cinema preferida de outra cidade em que morei enquanto cursava cinema. Para mim, o CineArte UFF de Niterói é uma das melhores salas de cinema do Brasil, não só pela estrutura impecável, mas pela variedade de filmes. Foi lá que expandi minha cultura cinéfila. Quando percebi, o CineArte havia se tornado o espaço de encontro semanal com os filmes, me apresentando a Asghar Farhadi, André Novais e até proporcionando oportunidade de assistir uma animação alemã de 1926 ao som de uma orquestra de soundpainting. Tudo isso com um ingresso menos de dez reais! Não há lugar como o CineArte UFF!

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A memória é algo que nos engana, é um perigo intoxicante acessá-la. Mas vamos lá.

 

O cinema era para mim um lugar de fuga, onde poderia me refugiar do meu dia caótico por algumas horas. Acredito que isso mudou quando assisti "Silêncio" (2016), Martin Scorsese. O filme simplesmente veio em direção a mim. A partir de então, tenho preferido por filmes que me encontrem e conversem com o que vivo do que filmes que me tirem da realidade.

 

Mas agora se formos pensar na experiência da sala de cinema, devo contar de quando assisti "2001: uma Odisséia no Espaço", Stanley Kubrick, pela primeira vez. Em 2017, a rede Cinemark organizou uma sessão de clássicos e 2001 estava na lista. Eu morava em Niterói e meu namorado em SJC. Combinamos de assistir cada um em uma cidade e conversar sobre depois. Nossa relação com o filme foi totalmente diferente, contudo estar ao mesmo tempo em uma sala de cinema, assistindo ao mesmo filme, mesmo que a quilômetros de distância, fez com que a gente se sentisse no mesmo lugar. Isso só o cinema faz.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Provavelmente a diretora que mais me identifico é Lucrecia Martel. Eu simplesmente amo re-assistir seus filmes e perceber as camadas ocultas de mim em exibições anteriores. Seus filmes são feitos de lacunas e essa característica me agrada muito. Lucrécia nos convida a uma brincadeira de supressão e aparecimento. É uma coisa bela! "A Mulher Sem Cabeça" (2008) é uma obra prima!

 

Nessa lista de favoritos ainda estão Naomi Kawase, com o curta "Katatsumori", e André Novais, com o curta "Pouco Mais de Um Mês" e "Fantasma".

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

"Arábia" (2016) e "No Coração do Mundo" (2019) dividem esse espaço para mim. "Arábia" me roubou o ar, e ainda me rouba todas as vezes que me torno a ele. O filme todo foi um longo processo de criação, principalmente no que se refere à narração - presente em todo o filme e que ajuda a dar consistência ao protagonista. Estudei "No Coração do Mundo" durante a escrita da minha monografia em Cinema e posso dizer que ainda não encontrei nenhum filme brasileiro que trabalhe os territórios sonoros de forma tão exemplar. Nesses dois casos, o som tem um papel narrativo único, provavelmente por isso que me comova tanto.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acredito que ser cinéfilo seja estar disponível a fazer trocas com o filmes, a conversar com o que lhe é proposto em cena. Eu pouco sei sobre os filmes antes de assisti-los. Fiz esse voto comigo mesmo de por vezes nem assistir a trailers. Chego no filme disposta às surpresas que ele me trará. Isso é, pra mim, o que mantém uma amizade duradoura com o cinema.

 

Cinefilia vai além do conhecimento fílmico, tem a ver com se colocar num papel quase infantil de brincar o mesmo jogo de novo, de novo e de novo, sempre como se fosse a primeira vez.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Infelizmente o setor de exibição não é o forte do Brasil. Muita coisa tem mudado com os VOD, tenho percebido uma preferência das distribuidoras pelos serviços on-demand justamente pela deficiência dos exibidores em fazer filmes diferentes circularem.

[Prefiro manter meu comentário por aqui, ainda preciso estudar melhor essa relação da distribuição/exibição.]

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não enquanto houverem cine-clubes e oficinas de cinema. Por mais que o VOD tenha crescido muito, as salas de cinema trazem algo muito potente consigo: o "assistir-junto". Esse artifício extra-fílmico não se trata só de um mero debate pós filme, mas de uma democratização do discurso - todos assistiram a mesma coisa, todos podem falar sobre ela em pé de igualdade. Essa experiência simultânea só as salas de cinema podem trazer. O que é necessário é democratizar o acesso a elas e aos filmes em si.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Novamente No Coração do Mundo. Pouco ouvi sobre o filme nas mídias e nos cinemas, tanto que o assisti graças ao makingoff.org, mas devo dizer que o que Gabriel e Maurílio Martins fizeram naquele filme é sensacional. Se puder, assista hoje!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Com certeza não! O tempo que estamos agora é de cuidado consigo e com os outros.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sou uma completa defensora do cinema brasileiro. Nossas produções são de extrema criatividade e qualidade na execução e simplesmente não entendo essa aversão aos filmes. Atualmente, acredito que o novo cinema brasileiro virá de produções menores e fora dos eixos Rio-São Paulo. Os filmes de André Novais, Gabriel Martins, Nathalia Tereza, Marilia Rocha, Gabriel Mascaro, mostram que as narrativas brasileiras podem mais. O "interior" está reinventando o Brasil.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente estou acompanhando o trabalho do diretor Marco Antônio Pereira, ele tem feito um trabalho crescente em 4 curtas metragens autorais, com produção local e altamente premiados. É uma grande promessa para o nosso cinema nacional! Dentre seus filmes, fica a dica "Alma Bandida" e "Quatro Bilhões de Infinito".

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a forma mais privilegiada de se relacionar com o mundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Acho que o de sempre: muitas discussões, roncos, imagens dessincronizadas do som, filme começando pelo meio, filme parando no meio. Não tem nada surpreendente não.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca assisti, acredita? Por favor, não revogue minha carteirinha de cinéfila...

 

15) Muitos diretores de cinema  não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Pensando na cinefilia como essa relação de jogo com os filmes, acredito que sim. Uma diretora precisa ser cinéfila, precisa se entregar ao filme enquanto o traz para si. Pensando a cinefilia como mero gosto e conhecimento, não.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Muitos, tenho essa tendência auto-destrutiva de assistir comédias ruins da Netflix. Porém um filme que me decepcionei muito é Clarisse ou Alguma coisa sobre nós dois, uma pena.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Definitivamente não tenho um preferido, então segue cinco.

 

"Nunca É Noite no Mapa" (2016); "Tierra Sola" (2017); "Katatsumori" (1994); "Teodorico o Imperador do Sertão" (1978); " Kho ki pa lu" (2017).

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?

Sim! O último que aplaudi no cinema foi "Bacarau". Mas devo dizer que assisti "Cópia Fiel" (2010) nos últimos meses e estou aplaudindo até agora. Santo Abbas!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Não entendo essa obsessão pelo Nicolas Cage - se bem que gostaria muito de ter visto esse ícone como Super-homem. Respondendo a pergunta, talvez "Kick-Ass", vai explicar...

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Não consumo tanto sites de crítica, mas tenho o costume de acessar mais o letterboxd. - segue lá https://letterboxd.com/AnaMariquito/

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Amazon Prime está nos meus preferidos, seguido de Telecine Play e Netflix.

 

 

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #400 - Ana Luísa Mariquito

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #399 - Julia Rigaud


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Salvador (Bahia). Julia Rigaud tem 25 anos, é psicóloga e psicopedagoga. Apaixonada por cinema, teatro e literatura. Além disso, também gosta muito de atividades físicas, principalmente as que desafiam o corpo como as modalidades circenses.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui em Salvador, existe a Saladearte no shopping Paseo e no cinema da UFBA. Essas salas me agradam, pois costumam exibir filmes fora do circuito comercial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A magia do cinema esteve presente na minha vida. No entanto, a experiência que evidenciou o espaço físico do cinema, foi quando assisti um filme de terror, na época da minha adolescência. A sala estava cheia e todos gritavam muito. Algumas pessoas pareciam se segurar na cadeira. Lembro de comentar que me senti em uma “montanha russa”. Acabou sendo divertida a experiência de ver tantas pessoas se agoniando juntas, pois apesar de gostar de filmes de terror, sou muito medrosa. Então aquela histeria coletiva foi acolhedora. Certamente uma vivência diferente do que assistir ao filme em casa sem sentir que estava compartilhando o medo com dezenas de pessoas.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa pergunta é difícil, pois percebo como a minha preferência por determinados diretores muda com o passar do tempo. Posso dizer que atualmente estou viciada no Gaspar Noé. Apesar de seus enredos explorarem muito a degradação humana a estética que ele encorpa para suas histórias me captura. Meu filme favorito dele é Love.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Aquarius. Consigo ver muito conteúdo nesse filme. Além da clássica denúncia sobre os valores da classe média que o Kleber Mendonça trabalha tão bem, o filme defende a importância da memória, de valorizarmos a nossa história. Pra variar, a valorização dos artistas brasileiros e da cidade Recife, são mensagens transmitidas naturalmente na trama. Mas a cereja do bolo é a protagonista. Clara é uma personagem autoconfiante, que transmite uma firmeza proporcional à opressão que sofre. Ao mesmo tempo, cheia de camadas e misteriosa, bem como o clima do filme: sempre parecendo que tem algo por trás do exposto.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Apreciar filmes. Basicamente se interessar e leva-los a sério. Não no sentido de se proibir assistir comédias “pastelonas” ou algo do tipo. Mas assistir filmes no intuito de ter uma experiência, de se deixar levar por aquele universo independente do gênero. Não colocá-lo como um “plano de fundo” enquanto mexe no celular ou cozinha, ou conversa...

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que possuem programações feitas por pessoas que entendem de negócios. Basicamente mentes empresárias que percebem as tendências do consumo de massa, e promovem obras “palatáveis” em uma intenção mais financeira do que cultural.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não sei. Sou muito nostálgica e gosto de pensar que não. Independente da facilitação do acesso aos filmes com o serviço de streaming, nada se compara a assistir um filme em uma tela enorme, com equipamentos de som de alta qualidade, sem a opção de dar stop, atender celular, ou realizar qualquer outra atividade que te “tire” do filme. Isso claro, considerando pessoas educadas que não ficam comentando constantemente em voz alta e olhando o celular. No entanto, há alguns anos, a ideia de assistir um filme pela tela do celular era considerada absurda, então não duvidemos de nada. Faço votos de que o cinema continue.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Mãe só Há Uma, de Ana Muylaert.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Nesse caso só temos que agradecer pelos streamings e internet.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acredito que temos uma ótima qualidade, mas pouco reconhecimento dos próprios brasileiros, o que dificulta a obtenção de recursos para crescer o nosso cinema.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kleber Mendonça e Karim Ainouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Uma história composta de luz, som, e sensações.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando tinha quinze anos, comprei uma entrada “inteira” para assistir à Bruna Surfistinha sem ser barrada pela faixa etária (acho que era para 18 anos). Ao me acomodar na sala, uma mulher se sentou ao meu lado e começou a falar sobre ter terminado com o namorado recentemente e decidir ir ao cinema para “espairecer”. Lá estávamos as duas em situações atípicas. Até hoje lembro dos breves comentários que ela fez durante o filme mas nunca voltei a encontrá-la.

 

14) Defina “Cinderela Baiana” em poucas palavras...

Nem quis ver...

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

 

Para dirigir, não necessariamente. Mas certamente para dirigir bons filmes, sim. Mas essa informação é nova para mim. Não se porquê alguém iria querer dirigir um filme sem ser apaixonado por cinema...

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

Norbit.

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Elena.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?   

Já, Os dois Filhos de Francisco, mas não puxei as palmas. Certamente eu bateria palmas para O Rei Leão (1994).

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

The Family Man.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Omelete.

 

 

 

 

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #399 - Julia Rigaud

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #398 - Tayla Araújo


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Belo Horizonte (Minas Gerais). Tayla Araújo tem 29 anos, é coordenadora e crítica do Logopatia na Sétima arte (@logopatia7arte no Instagram). Formada em Administração Pública em Minas Gerais, é apaixonada pela sua profissão e tem como passatempo ler livros, assistir filmes e seriados. A ideia de criar o canal do Logopatia surgiu de uma conversa com seu pai, quando percebemos que faltavam canais de cinema que discutem não somente a parte técnica do filme, se ele é bom ou ruim, mas o quanto um filme pode ser rico em nos fazer compreender o ser humano nos seus aspectos mais intocáveis e difíceis.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Gosto muito das salas do shopping Boulevard (rede Cineart). A programação é mais blockbuster mesmo, mas de vez em quando alguns cults aparecem por lá. Fazer o que? Sou fã de Hollywood.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Mulan (1998). O primeiro filme que vi no cinema!! Quando fui confesso que nem sabia o que era isso, e chegando lá, vendo aquela sala, com várias pessoas comendo pipoca e olhando para aquela tela ENOOOORME...era ali que eu queria morar!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Hmmmm Robert Zemeckis tá beeeem empatado com Steven Spielberg, mas por ter levado as telas Forrest Gump e De volta para o Futuro, Zemeckis sempre irá ter um lugar no meu coração!! Filme favorito: Run Forest, RUUUUUNNN!!!

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Nossa! A alguns meses atrás a minha resposta a essa pergunta seria Bacurau! Saí impactada do cinema quando vi pela primeira vez e amei todas as vezes que revi. Porém, recentemente tive o prazer de conhecer e ver o famoso 'Cidade de Deus', e te contar que aquilo ali é uma obra prima! A fotografia, montagem, edição, atuações...comecei a ver o filme deitada no sofá e terminei sentada na pontinha dele! Ação, emoção, pautas sociais e raciais...deveria ser obrigatório na grade escolar! hahahaha

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é amar assistir filmes e mergulhar neles. É conseguir capturar a mensagem do filme e como essa mensagem está sendo passada. É aprender, entender os sentimentos despertados vendo aquilo. É se emocionar com pessoas ou acontecimentos fictícios! Ser cinéfilo é sentir a vida e vivê-la de diferentes pontos de vista!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Hahaha essa pergunta é tensa. Então, acho que a maioria ali é mais pelo sucesso de bilheteria. Colocar na programação o que gera mais lucro! Poucos são os cinemas de rua que ainda se importam em exibir filmes nacionais e estrangeiros (que não sejam americanos), e com isso ficamos limitados a um olhar específico sobre o cinema. Sinto falta disso! Gostaria de mais Cine Belas Artes (cinema alternativo em BH).

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Eu realmente espero que não! Giuseppe Tornatore dirigiu Cinema Paradiso em 1990 como uma homenagem aos cinemas, pois pensou que eles iam acabar. Ainda bem que isso não aconteceu! Apesar das salas terem diminuído em quantidade, acredito que o cinema tem seu lugar e não vão acabar tão cedo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tomates Verdes Fritos (1991) de Jon Avnet.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que não. Amamos cinema, mas segurança e saúde em primeiro lugar!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é bom! A forma com que nos expressamos é diversificada e linda! Porém, falta investimento financeiro para melhorar a qualidade de som e aumentar a divulgação!!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Paulo Gustavo! hahahahaha sim! Qualquer filme com ele que tenha uma comédia boa e light (que são quase todos), pode contar comigo!

 

12) Defina cinema com uma frase:

"Em um lugar como este, a magia está ao seu redor. O truque é vê-la." (Majestic, 2001)

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Fui assistir Azul é a cor mais quente no cinema, e logo ao chegar encontrei 3 senhoras sentadas na primeira fileira (era cinema pequeno, o Belas Artes). Achei bem estranho pela temática do filme, mas ao mesmo tempo legal pelo interesse delas no assunto. Quando acabou, escutei elas conversando entre si: "Mas eu só li o azul, pensei que era Blue Jasmine..." hahahahahaha nunca ri tanto!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eita! Nunca assisti, mas pela capa aqui do filme digo: É o tchan!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não. Um cineasta tem que ter o objetivo de passar uma mensagem ao seu público. Ele pode usar de outros filmes para se inspirar e aprender com ele, mas não precisa necessariamente ser um cinéfilo.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O Apocalipse (2014) com nosso queridinho e mais zuado ator, Nicolas Cage hahahahaha. Nossa, esse foi o ingresso que mais me arrependo de ter comprado. Que filme péssimo!!!!

 

17) Qual seu documentário preferido?

Dos mais recentes, O Professor Polvo conquistou meu coração!! For Sama foi o de maior impacto para mim! Não acho que tenha um preferido, pois documentários são sobre fatos reais, em sua maioria que envolve questões sociais, políticas, raciais, homofóbicas. Temos que agradecer a todos eles por existirem, e não me vejo na posição de eleger um favorito.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Já! hahaha em pré estreia de Piratas do Caribe! Aqueles filmes eram adrenalina pura! A gente ia pela farra de ver a pré estreia, batia palma pra tudo! E no final para comemorar pelo bom tempo gasto vendo um bom filme.

 

Agora bater palma por achar o filme genial, nunca bati. Eu já fiquei sentada depois de todas as luzes se acenderem pois estava impactada com o que tinha acabado de ter visto. Isso já aconteceu mais de uma vez...

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

hahahaha tinha que ter uma pergunta com ele. Poxa, eu acho que A Lenda do Tesouro Perdido (2007) merece seus elogios! O filme é ousado!! Tem cenas de ação, missões secretas...tipo um Código de Da Vinci para crianças hahahaha

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Cinema em Cena (do eterno mestre, Pablo Villaça) e claro, Logopatia na 7 arte! Recomendo demais a todos que queiram se aprofundar mais na análise dos filmes.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Netflix foi o primeiro streaming que assinei, então costumo ainda assistir mais nele...mas Amazon está com um catálogo muito bom também e super recomendo!

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29/04/2021

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10 Curtas que você precisa conferir


Iniciando mais essa série de listas cinéfilas buscando trazer, dessa vez, uma reflexão não só para as grandes obras que listamos abaixo mas também sobre a importância do curta-metragem. Praticamente o patinho feio do circuito exibidor (mesmo existindo a Lei do Curta...), muitos curtas-metragens ganharam novo fôlego com a chegada dos streamings e a possibilidade de enfim conseguirem chegar até os olhos de todos aqueles que amam a sétima arte.


Segue abaixo os primeiros dez filmes dessa contínua lista que faremos ao longo desse ano:

 

White Eye (2020, Israel)

 

O viciado e triste olhar do preconceito. Uma bicicleta roubada. As questões burocráticas da lei. Olho branco, viciado dentro do preconceito. Em tempos onde a linha tênue do bom senso insiste em não existir. Para onde caminhará nossa humanidade? Escrito e dirigido pelo cineasta Tomer Shushan, em seu segundo curta-metragem na carreira, White Eye é o retrato de muitos países europeus onde o medo dos imigrantes é constante, tentando se estabelecer em um país onde não nasceram.

 

 

Finalista do Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, o curta-metragem israelense em pouco mais de 20 minutos nos mostra um conflito quase banal que acaba se tornando uma questão legal sobre um imigrante que luta pelo bem-estar de sua família buscando ser um trabalhador honesto em um país diferente do dele, com mais oportunidades. Interpretados por Daniel Gad e Dawit Tekelaeb, dois homens, duas histórias, se cruzam em torno do roubo ou não de uma bicicleta sendo que um deles acaba acionando a polícia para uma rápida resolução. Mas será que era a melhor solução? O peso na consciência bate rapidamente quando percebe que a polícia está com o olhar viciado em relação ao outro homem.

 

 

O filme reflete dilemas sociais que vemos muito por aqui também na América Latina, sobre a ótica do resolver as coisas como adultos ou envolver a polícia e complicar tudo mais ainda? Será que as leis serão justas para todos? Aonde foi parar o bom senso da própria comunidade?

 

 

 

O Som do Tempo (2010, Brasil)

 

O mundo da mudança ao olhar da simplicidade. Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios em festivais espalhados pelo Brasil, O Som do Tempo, é um dos primeiros curtas-metragens da carreira do excelente cineasta cearense Petrus Cariry. Em curtos dez minutos de projeção, somos testemunhas da habilidade técnica, na criação de emoções através do movimento do impacto, das imagens, buscando a reflexão de toda ou qualquer forma dentro do contexto de uma mulher mais velha vendo as transformações do pequeno pedaço de universo que vive ao longo do tempo.

 

O silêncio que não existe mais. Ao redor prédios e barulhos, o verdadeiro caos urbano das grandes cidades que não param de se expandir. Em contraponto, a vida simples, uma casinha humilde em meio a enormes estruturas, avenidas barulhentas e palavras gritadas pra todos os lados. Em até certo ponto dentro de uma forma de poesia de imagens, identificamos um olhar muito humano e honesto compreendido mais de perto por quem está no epicentro dessa mudança, olhando um mundo novo diferente do que vira até então.

 

Quase sem palavras (usando a força do ver em vez do escutar), quando chega, a música em um gran finale mostra mais detalhada a questão cultural e existencial e de alguma forma explica bastante das imagens que vemos ao longo desse trajeto, o seguir em frente em meio às transformações que não abalam em nada quem apenas quer viver de sua maneira.

 

 

Dois Estranhos (EUA, 2020)

 

Cortesia, profissionalismo e respeito. Será? Vencedor do Oscar de melhor curta-metragem em 2021, Dois Estranhos explora o eterno giro de 360 graus constante onde os paralelos entre a autoridade e o preconceito parecem dois rios que acabam se unindo gerando dor e sofrimento. Dá um aperto no peito, são cenas fortes e infelizmente muitas dessas vistas por muitos olhos nas ruas pelo mundo todo o dia, tamanho o preconceito e intolerância dos olhares brancos contra os negros. É um filme arrebatador, conversa demais com muitos dos acontecimentos viralizados sobre preconceito e violência policial nos Estados Unidos que nos trazem muito tristeza. Dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe. Imperdível! Disponível na Netflix.

 

 

Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Carter (Joey Bada$$), em um dia de grande alegria por ter conhecido um provável futuro amor, Perri (Zaria). Ele está voltando para casa onde está seu cachorrinho fofo o qual ama muito e até mesmo aciona via wi-fi um lança biscoitinhos para ele enquanto não chega em casa. Ainda na calçada, em frente ao prédio onde estava é abordado de maneira abrupta e desleal pelo policial branco Merk (Andrew Howard) e assim, em fração de segundos, sua vida corre sérios riscos. Acontece que um loop infinito é ativado (volta sempre ao mesmo dia e momento da tragédia) e agora o protagonista precisa encontrar alguma maneira de ter um final diferente para essa história. Mas será que existe?

 

 

Um filme reflexivo, que coloca o dedo bem fundo na ferida de uma sociedade polarizada, ainda muito preconceituosa, em alguns momentos nada amistosa, onde a cor da pele vira questão de escolha de quem é bom ou mau. Two Distant Strangers, no original, usa da criatividade para mostrar diversas formas onde o preconceito se instaura tendo os mesmos personagens. Somos testemunhas oculares das várias abordagens policiais equivocadas, com o preconceito dentro da força desproporcional, na mira da metralhadora...

 

 

O desfecho é emblemático, lembra de diversos nomes de pessoas negras que tiveram suas vidas tiradas em questões muito parecidas das quais o filme aborda. Um projeto para todos nós, brancos e negros, refletirmos sobre o mundo em que vivemos e se de alguma forma podemos caminhar para uma melhora através do diálogo.

 

 

Boa Noite (Gana/Bélgica, 2020)

 

Os horrores camuflados de bondade. Um dos 15 semifinalistas ao Oscar 2021 de Melhor Curta de Ficção, Good Night (Da Yie) , co-produção Gana/Bélgica, é um filme que escancara aos nossos olhos os horrores de uma realidade, um retrato chocante de uma parte do mundo que carece de atenção. Dirigido pelo cineasta Anthony Nti, em 20 minutos somos jogados a uma história que fala sobre sonhos, impunidade e os absurdos que a vida apresenta. Um filme forte, porém necessário, para reflexão.

 

 

Na trama, conhecemos Matilda e Prince, duas crianças muito amigas que possuem em comum um grande amor pelo futebol. Certo dia, no campinho onde jogam, um estranho mas conhecido por eles estaciona o carro e os chama para irem lanchar e passear pela cidade. Só que as verdadeiras intenções desse estranho aos poucos vão sendo reveladas.

 

 

Tenso, fala sobre memórias, traumas, conversas que vão colocando dúvidas no personagem que começa a sofrer de peso na consciência, levando a trama para um desfecho que chama a atenção. Os jovens falam sobre seus sonhos, visitam o mar, falam de momentos tristes da vida, fotografia, futebol, repletos da inocência da idade e falta de maturidade para enxergar os perigos que se apresentam. Good Night (Da Yie) foi o vencedor de Melhor Filme da Competição Internacional do prestigioso Festival de Curtas de Clermont-Ferrand 2020. Um filme importante que fala as verdades sobre um mundo ainda muito cruel que muitos vivem.

 

 

O Presente (Palestina/Inglaterra, 2020)

 

Os absurdos de um presente que não esquece do passado. Vencedor do BAFTA de melhor curta-metragem de ficção e indicado ao Oscar 2021 na mesma categoria, O Presente, sendo bem objetivo, gera angústia, raiva e um enorme sentimento de tristeza com a absurda situação vivida por um pai, sua filha e uma geladeira. Bons curtas são aqueles que dentro de um recorte chamativo, conseguem expor problemas universais. Dirigido pela cineasta britânica Farah Nabulsi, esse projeto palestino faz refletir sobre a intolerância jogada na nossa cara. Esse filme gera uma indignação profunda por sabermos que os fatos aqui relatados acontecem de diversas maneiras na realidade.

 



Na trama, conhecemos Yusef (Saleh Bakri), um homem de meia idade, trabalhador, que acorda em uma manhã, após uma noite onde chegara muito tarde, com o objetivo de comprar um presente para a sua esposa já que ambos completam mais um aniversário de casamento. Assim, ele leva sua filha Yasmine (Mariam Kanj) para ir até Beitunia fazer compras e pegar o presente da esposa. Só que para ir e vir, Yusef e todos que moram naquela região da Cisjordânia precisam passar por um ponto de checagem israelense. E assim, um conflito se estabelece na ida e na volta do resgate do presente.

 

 

A falta de liberdade do ir e vir é o principal ponto de reflexão desse pequeno grande projeto. A falta de humanidade, compaixão dos soldados na ‘fronteira’ mostram as hipocrisias que comandam ações do universo da generalização em vez de olhar para o indivíduo. Sensibilidade? Isso não existe nesses lugares. Tentando se locomover por uma Cisjordânia controlada, com estradas segregadas, milhares de pessoas diariamente precisam ser ‘checadas’ perdendo princípios básicos dos seres humanos. O filme escancara verdades que poucos gostam de dizer ou até mesmo conhecem. O cinema tem esse papel: gerar reflexões para quem sabe trazer mudanças.

 

 

 

The Letter Room (EUA, 2020)

 

 

Quando o introspectivo se une ao intermediário. Um dos concorrentes ao Oscar 2021 de Curta-metragem de ficção, The Letter Room, ou a Sala de Correspondência, se formos traduzir literalmente para o nosso idioma, conta a história de alguns através do olhar curioso de um personagem que acaba sendo testemunha de relatos pessoais da família e dos presos, inclusive para os que estão no corredor da morte, após assumir o novo cargo de diretor de comunicação dos prisioneiros. Escrito e dirigido pela cineasta Elvira Lino, o projeto (com potencial de ser um longa-metragem) possui um indecifrável lado tragicômico escondido por trás da história, sentimos que há muito mais por conhecer desse curioso protagonista. Ótima interpretação do ator Oscar Isaac.

 

 

Na trama, conhecemos o boa praça e simpático agente penitenciário Richard (Oscar Isaac), um ser solitário que vive de ir ao trabalho e voltar pra casa, tendo apenas a companhia de seu cachorro. A fim de se desenvolver profissionalmente, se inscreve para outras funções na penitenciária que trabalha, por mais que tenha um ótimo relacionamento com os outros guardas, a chefe do local e os presos. Assim caba indo para no setor de comunicação da prisão, onde precisa escanear e analisar possíveis irregularidades nas mensagens externas que chegam para os que estão presos. Mas ele acaba se envolvendo mais do que devia e assim acaba embarcando nas soluções de duas questões para dois prisioneiros.

 

 

Há um composto interessante ligado ao desejo e as emoções que o guarda acaba sentindo, não consegue fugir das diversas reflexões daquelas palavras espalhadas nas mensagens. Precisa ir atrás das resoluções daquela história, como se fosse um intermediador, um fato que acaba se conectando com seu perfil introspectivo de pouco contato com o mundo lá fora. O personagem em cima é longe de ser caricato detalhista, inclusive controla a alimentação através de um bloquinho de papel preenchido com as calorias diárias ingeridas, talvez uma ideia que teve a partir de alguma referência que viu nas dezenas de horas que fica de frente para a televisão quando não está trabalhando.

 

 

Em cerca de 30 minutos, ficamos refletindo muito sobre a personalidade e as ações tomadas, certas ou erradas, pelo personagem, gerando a curiosidade de querer conhecer mais sobre a história dessa alma introvertida e as prováveis sinucas que se envolve a partir da curiosidade.

 

 

Hair Love (EUA, 2019)

 

O amor por nossos filhos nos fazem ser fortes em qualquer situação. Vencedor do prêmio de melhor curta de animação no Oscar 2020, Hair Love mostra tanto amor em 7 minutos que os ensinamentos se prolongam para nossas vidas. Produzido, escrito e dirigido pela ex-atleta da NFL Matthew A. Cherry, o filme conta um pequeno retrato na vida de um pai e uma filha pequena e a tentativa do primeiro em pentear o cabelo da filha pela primeira vez.

 

 

Simples e profundo como todo bom curta deve ser. A difícil missão de um pai em fazer um belo penteado no lindo cabelo de sua filha, nos leva em uma jornada linda em analogias para nossa realidade, principalmente quando entendemos no finalzinho desse belo trabalho o porquê daquela missão ser tão importante sem ser cumprida por esse super pai. A mamãe da jovenzinha está em uma luta contra doença no hospital e o corte especial é para ela ir toda linda encontrar a mamãe.

 

 

Nessas horas é que vemos o exemplo e pensamos em muitos outros super papais. Tendo apenas um vídeo gravado pela mãe da menina como único auxílio na tentativa de ser bem-sucedido, o poder da animação entra como uma rajada de criatividade metafórica simbolizando aquela simples luta como algo tão importante que vira algo inspirador nossos corações. Belíssimo curta.

 

 

Irmã (China, 2019)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigido pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos cinco indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação em 2020, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

 

 

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

 

 

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

Memorável (França, 2019)

 

Pintar com os dedos invoca o homem primitivo que há entre nós. Indicado ao Oscar de Melhor curta de animação em 2020, o projeto francês Memorável fala sobre as nuâncias da nossa mente em momentos chaves de nossa vida. Na surreal que a vida presente os prega, um pintor e sua esposa precisam conviver com as mudanças oriundas do tempo mas sem deixar de acessar memórias que não há como serem esquecidas. Um belo curta. Pena que os cinemas brasileiros não exibem curtas antes dos longas em seu circuito exibidor (o capitalismo em exagero chega mais forte pela ótica do lucro dos chatos e inúmeros comerciais antes das histórias), tem tanto curta bom por aí...como esse.

 

 

12 minutos de muitas emoções onde o coração pulsa mais forte nessa singela história sobre as memórias de alguém ainda vivo.  Há poesia nos respingos das tintas do artista, há muita metáfora nas explicações sobre os nós que nossa mente submete, tudo isso é tratado com muita delicadeza e uma trilha sonora instrumental que chega bem forte aos nossos corações. 

 

 

Escrito e dirigido pelo cineasta francês Bruno Collet, Mémorable, no original, nos puxa para refletirmos sobre a arte de amar igual muitas vezes. Importante os detalhes à força da arte, pelo seu precioso protagonista e suas novas descobertas de uma vida recheada de boas memórias.  

 

 

Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina) – (Inglaterra, 2019)

 

O que é coragem? Porque é importante ter coragem? Vencedor do Oscar de melhor curta metragem anos atrás, Aprendendo a Andar de Skate em uma Zona de Guerra (Se Você For uma Menina), passa pelos períodos das estações, usados como pequenos arcos para o desenvolvimento da narrativa, entendemos melhor um projeto inovador para meninas de origem muito pobre com famílias conservadoras. Em um planeta que preza pelo egoísmo e a falta de reflexão sobre o outro, os olhos do mundo devem estar atentos a esse belo trabalho da cineasta Carol Dysinger.

 

 

Em um país devastado pela guerra de décadas, onde o básico ler e escrever ainda é um grande desafio, principalmente para as mulheres, sempre estando em perigo nas ruas, sem segurança, um pequeno oásis acontece em Kabul, no Afeganistão, com a criação de um projeto chamado Skateistão que associa aulas para meninas carentes e aulas de skate. Toda uma equipe de pessoas com enorme coração é vista fazendo seu trabalho com toda dedicação. Desde a professora que prefere não mostrar o rosto, até a jovem instrutora de skate, além da assistente social que tem como uma de suas funções recrutar novas jovens que se encaixem no perfil do projeto.

 

 

Vivendo com o dia a dia intenso, ajudando nas tarefas de casa e o medo da violência diária, as pequenas guerreiras não desistem dos seus sonhos, nem de seu livre arbítrio do pensar e praticar esse esporte muito popular que as leva para outros lugares durante aquelas horas que praticam. Em busca de um futuro melhor, percebemos no arco final que os sonhos começam a brotar e isso é algo que ninguém tira delas, jamais.

 

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