De vez em quando, a Netflix surpreende com obras que fogem do óbvio - e Uma Vida Honesta é um desses achados. O longa-metragem sueco, dirigido por Mikael Marcimain e roteirizado por Linn Gottfridsson e Joakim Zander, mergulha no espírito anarquista a partir das desilusões de um jovem protagonista. Preso em um labirinto de ideais, ele atravessa um intenso processo de amadurecimento ao se envolver com outros jovens que vivem à margem das convenções sociais. O filme constrói, com camadas bem estruturadas, uma reflexão sobre a inconsequência, os limites do idealismo e as complexidades das relações humanas.
O jovem estudante Simon (Simon Lööf) chega à cidade de Lund com o objetivo de cursar Direito
em uma prestigiada universidade, mesmo carregando o sonho de se tornar
escritor. Logo se depara com as desigualdades sociais à sua volta,
especialmente ao conviver com colegas de quarto abastados, o que o coloca
diante de um cotidiano de contrastes. É nesse cenário que conhece Max (Nora Rios), uma jovem carismática e
integrante de um grupo que comete pequenos delitos contra os mais ricos.
Fascinado pela rebeldia e pelo idealismo do grupo, Simon se vê cada vez mais
envolvido — até que eventos marcantes o forçam a encarar as consequências de
suas escolhas.
A confusão diante da realidade ao seu redor é o ponto de
partida do protagonista — nossos olhos ao longo dessa jornada. Seu
amadurecimento, quase precoce, é impulsionado pelos dilemas morais que surgem a
cada nova decisão. Inserido em uma narrativa de ritmo envolvente, o personagem
tem seus conflitos desenvolvidos com profundidade, sustentando uma história que
entrelaça questões de moral, sociologia e capitalismo, enquanto expõe a solidão
como um dos pontos mais vulneráveis da experiência humana. Com camadas bem
construídas, o filme oferece reflexões densas, equilibrando com habilidade
elementos de ação, drama e suspense.
Ao explorar as desilusões por meio de um gatilho disfarçado
de oportunidade, o roteiro mantém-se fiel ao seu discurso e ainda acerta ao
apostar na imprevisibilidade como trunfo — entregando um desfecho realista,
longe de qualquer tom novelesco. Um dos pontos que contribuem para a harmonia
da narrativa são as reflexões sobre as motivações por trás de cada ato, abrindo
espaço para uma discussão profunda sobre a inconsequência. Mesmo quando alguns
clichês surgem aqui e ali, eles não comprometem a força nem a coerência da
trama.