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16/09/2024

Crítica do filme: 'Garra de Ferro'


Profundo, forte, com amargura pra todos os lados. Apresentando aos espectadores os traumas de uma família vitoriosa no mundo da Luta Livre, aquelas lutas de mentirinha que são um enorme sucesso nos Estados Unidos até hoje, Garra de Ferro nos leva até profundas camadas emocionais onde há reflexões sobre os desenrolares psicológicos de irmãos com uma exigência forçada, na corda bamba de cargas desproporcionais aos seus reais sonhos. A culpa é um elemento importante que aparece em total construção ao longo das pouco mais de duas horas de projeção.

Na trama, ambientada pelas décadas de 70 e 80, conhecemos quatro dos irmãos Von Erich, uma família de lutadores que foi criada por um pai exigente e uma mãe permissiva. Ao longo do tempo vamos percebendo como essa criação voltada para um único objetivo, o de fazer campeões, acaba afetando todos esses irmãos que logo precisam conviver com tragédias sem fim.

Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Sean Durkin, esse é um daqueles filmes que emocionam e não deixam as reflexões escaparem um segundo sequer. Com um ritmo cadenciado explorando os detalhes de um sofrimento crescente que traz reflexos no presente dos personagens, a narrativa preenche as lacunas do passado em uma investigação sobre alguns porquês que se amontoam em destino longe da felicidade.

Nossos olhos são os embates ao longo do tempo entre Kevin (Zac Efron) e Fritz (Holt McCallany), pai e filho mais velho. A partir desses conflitos chegamos nas questões que exemplificam o caos dessa família disfuncional. Além dos absurdos feitos pelo pai, a passividade da mãe Doris (Maura Tierney), o público vai traçando suas próprias opiniões sobre qual o custo para se chegar ao sucesso.

 

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03/07/2024

Crítica do filme: 'Jornada para o Inferno'


A natureza e todos os seus aspectos. Baseado na obra Butcher's Crossing, escrito pelo professor e autor norte-americano John Williams, Jornada para o Inferno nos apresenta a caminhada de um jovem e sua necessidade de encontrar conexões entre o homem e a natureza, esbarrando de forma abrupta no medo que se mistura ao desbravar. Através de uma narrativa imersiva ao contexto do velho oeste americano e os modos de sobrevivência daqueles tempos, o longa-metragem propõe reflexões profundas e filosóficas. Dirigido pelo cineasta Gabe Polsky, e tendo como um dos seus protagonistas o vencedor do Oscar Nicolas Cage, o projeto estreou no prestigiado Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2022.

Na trama, conhecemos Will (Fred Hechinger), um jovem estudante que larga a prestigiada Universidade de Harvard para descobrir o mundo longe da bolha que vivia. Chegando na cidade de Kansas, em meados de 1870, logo conhece um experiente caçador de búfalos chamado Miller (Nicolas Cage). Ambos embarcam em uma perigosa caça, em uma região ao norte, numa imensidão de terras não habitadas, um lugar temido por muitos. Ao longo de dias intensos, ao lado de Miller e outros dois personagens, o protagonista vai de encontro a descobertas que o farão entender melhor sobre a vida e a natureza.

A nevasca, a insanidade, a fé, as crenças, a necessidade do ganhar dinheiro para se sustentar, se somam a uma aterrorizante sensação de estarem perdidos, algo que se torna uma constante. Os desdobramentos de interpretações da moral logo mostra suas facetas em meio a uma natureza selvagem de paisagens belas e perigos iminentes. O conflito se abre como uma oportunidade para se refletir. É muito simplista definir esse como apenas um filme sobre sobrevivência, há mais olhares. A filosofia e as questões da existência logo ganham paralelos com os valores sociais principalmente as definições sobre liberdade.

O que é preciso ver para se entender a vida? Essa é uma pergunta que podemos nos fazer ao ampliar o olhar crítico para tudo que nos é mostrado. Através dos olhares de seus protagonistas, a condução de Gabe Polsky vira ferramenta fundamental para o enorme alcance de definições que muitas interações entre os personagens nos dizem. Há espaço para alcançarmos contextos amplos daquele país naquele momento e as novas maneiras de viverem e pensarem os avanços da sociedade até ali. O desfecho diz muito pelas entrelinhas. Junta-se a isso, a enormidade de interpretações para as ações do homem no encontro com a natureza.

Rodado em menos de três semanas em algumas locações no Estado de Montana, numa região conhecida como Montanhas Rochosas, Jornada para o Inferno joga a definição de faroeste a outros patamares, amplia seus horizontes de reflexões sobre um período marcante no século XIX norte-americano.


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03/04/2024

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Crítica do filme: 'Uma Família Feliz'


O obscuro no mundo das aparências. Chega aos cinemas brasileiros nesse início de abril um suspense brasileiro que consegue estabelecer suas bases em um clima de tensão constante onde é construída a chegada até um esgotamento, os caminhos da paranoia, a quebra de confiança, um castelo de cartas que vai desmoronando rumo ao imprevisível. Dirigido por José Eduardo Belmonte, Uma Família Feliz coloca para reflexões o mundo das aparências, as verdades imprecisas, o linchamento público, a maldade, novos olhares para uma família taxada por todos como perfeita. No papel principal, Grazi Massafera, muito competente, que consegue encontrar um interessante caminho na construção dessa difícil personagem.

Na trama, conhecemos Eva (Grazi Massafera), uma artesã de bonecos de bebês à espera do terceiro filho, o primeiro menino, que vive seus dias felizes ao lado do marido, o advogado Vicente (Reynaldo Gianecchini), e das duas filhas gêmeas em um condomínio de alto padrão numa grande cidade brasileira. Certo dia, já após o nascimento do novo filho, e em meio a uma depressão pós-parto evidente, suas filhas aparecem machucadas e Eva acaba sendo acusada de ter cometido tal ato. Assim, sua vida muda completamente, desencadeando uma série de conflitos que rebatem em acontecimentos estranhos e duvidosos.

Como combater a maldade? A loucura é uma variável aqui invisível mas que permeia todo o caminho de muitos dos personagens. A quebra da confiança é o primeiro estágio que logo vira uma paranoia caminhando para uma angústia desenfreada onde a inconsequência logo toma conta da razão. A narrativa se constrói ao redor de toda essa tensão e um dos méritos é conseguir manter-se constante. Todo visto em cena: desde as cores, objetos, cenários, o figurino, conseguem ser elementos de impacto, que querem dizer alguma coisa, e se juntam para essa manutenção da tensão.

Há também uma grande lupa no sentido de família colocado para reflexões. Um casamento desmoronando aos poucos, a depressão pós-parto, a falta de entendimento nas lacunas não preenchidas, a imaturidade em lidar com situações conflituosas. Dentro de quatro paredes, a porta é aberta e o espectador percebe, não só nos detalhes, a desconstrução de uma família perfeita.

Cheio de referências a algumas famosas obras cinematográficas conhecida dos cinéfilos, desde Precisamos falar sobre Kevin de Lynne Ramsay até A Caça de Thomas Vinterberg, o longa-metragem encosta bastante na essência de Anjo Malvado de Joseph Ruben. Uma questão interessante é que o roteiro escrito por Raphael Montes, logo após (e somente após) virou um livro onde o universo visto na obra cinematográfica acaba se expandindo. Pode ser uma interessante ação complementar para o espectador.

É tão bom ver o cinema brasileiro explorando o universo do suspense, um gênero tão amado por muitos cinéfilos. O drible no chocar, talvez uma sensação guardada para o estrondo do seu desfecho, fortalece o terror psicológico em uma obra que caminha pelas aflições sem deixar as reflexões em segundo plano.



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28/03/2024

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Crítica do filme: 'Instinto Materno'


Da angústia à paranoia. Do luto à necessidade de culpar. Chegou aos cinemas nesse finalzinho de março um suspense psicológico que instaura uma intrigante Guerra Fria entre duas amigas que após um grave acidente doméstico vivem uma relação despedaçada e imprevisível. Primeiro trabalho na direção do experiente diretor de fotografia francês Benoît Delhomme, Instinto Materno joga seus esforços para apresentar adultos lidando com uma situação incontrolável onde a terceirização da culpa se torna uma constante. Baseado na obra homônima da escritora belga Barbara Abel.

Na trama, ambientada na década de 60, conhecemos duas amigas, vizinhas, praticamente inseparáveis: Celine (Anne Hathaway) e Alice (Jessica Chastain). Quando uma tragédia acontece, essa relação entre as amigas é completamente abalada. Assim, ao longo dos dias, entre o luto e a culpa, no campo das suposições uma série de desconfianças encontra o caminho das personagens.

As diferentes formas de lidar com a tragédia. A interessante e necessária introdução parece apresentar de forma bem prática alguns dos traços de personalidade das protagonistas além de um olhar para os seus respectivos relacionamentos. Assim, vemos Celine, tendo o filho como grande tesouro, que após o nascimento dele se contentou em ser dona de casa, uma vida que parece levar com bastante leveza e felicidade ao lado do marido que trabalha com produtos farmacêuticos. Já Alice tem uma personalidade forte, não deseja no momento um segundo filho, sonha em voltar ao trabalho e seguir carreira no jornalismo, algo que o marido, um gerente de contas, machista, não apoia.

Após o grande evento do filme, o conflito que apresenta a virada na trama, as peças meio que se embaralham. A tristeza da culpa se torna um elemento enigmático como se o roteiro buscasse o imprevisível dentro de um leque de conflitos emocionais que entram em choque com personalidades, se atualizando a partir do gatilho que passam. Nesse ponto entram em protagonismo uma direção de arte impecável e uma fotografia que ganha destaque com fortes cores que expressam os cruzamentos de emoções que circulam entre a desconfiança e os fortes traços de amargura.

Mesmo derrapando num desfecho que vai se moldando previsível, Instinto Materno apresenta de forma eficiente o confronto com a dor, com a perda, pontos catalizadores da inconsequência não só aos olhos de uma mãe e sua busca por culpar alguém mas também no de terceiros e a necessidade quase absurda de controlar o incontrolável. 


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15/03/2024

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Crítica do filme: 'Ervas Secas'


Quando se fecha os olhos, os problemas nunca tem fim. Um vilarejo turco, um professor desiludido e com o sonho de sair dali, um fato marcante em meio a uma neve incessante. Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o longa-metragem turco Ervas Secas escancara o conformismo para destrinchar as relações humanas movidas pela esperança, a raiva, as incertezas. Baseado no diário do professor Akin Aksu, esse, que é o nono longa-metragem do excelente cineasta Nuri Bilge Ceylan, um decifrador da natureza humana, caminha na objetivo de apresentar argumentos de que uma vida tem valor mesmo que não encontre mais sentido.

Na trama, acompanhamos um período na vida do professor de artes Samet (Deniz Celiloglu), um homem que chegou no último ano como professor em uma aldeia distante e já planeja novos voos em uma das maiores cidades da Turquia. As desilusões sobre o ensino, as desconfianças sempre foram uma marca de sua personalidade. Um dia, ele e mais outro professor, são acusados de contato inadequado com duas alunas, fato esse que muda para sempre seus planos. Quando tudo parecia bem confuso e perdido, se aproxima de Nuray (Merve Dizdar), professora de uma outra escola da região, uma mulher que o confronta sobre seu conformismo, sua acomodação dentro de um fugir ao invés de encarar, trazendo novos olhares e restos de esperança.

O sufoco dos próprios gritos. As desilusões sobre o papel do ensino na formação, as desconfianças, retratos políticos, os relacionamentos se somam a trajetória de um protagonista que culpa o lugar por todos os seus problemas. O intrigante labirinto das suas emoções se jogam na evidência ao não conseguir entender os porquês das acusações que podem influenciar para sempre seu futuro. Cansado da esperança, se joga na incerteza. Esse relato nada mais é que um paralelo com muitos destinos do lado de cá da tela, transformando essa obra é algo muito próximo quando enxergamos uma enxurrada de realidade em cada movimento.

O espectador precisa de paciência, são mais de três horas de duração. A narrativa caminha de forma lente e desabrochando uma poderosa trama onde tudo é minuciosamente envolvido por belas imagens e diálogos longos, profundos. Impressionante como tudo faz grande sentido quando pensamos no uso das imagens e seus movimentos. Somos testemunhas de uma enorme viagem rumo ao abstrato dos sentimentos sem perder o norte de apresentar os caminhos para novas perspectivas, novos olhares, para dentro e para o que está lá fora.


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02/03/2024

Crítica do filme: 'Monster'


O que fazer quando não está tudo bem? Dirigido pelo genial cineasta japonês Hirokazu Kore-eda e vencedor do melhor roteiro no Festival de Cannes, o longa-metragem Monster é profundo drama que junta alguns temas para refletir sobre a sociedade e o sistema escolar através de versões de um mesmo fato. Baseado em algumas próprias experiências do roteirista Yûji Sakamoto, o filme é um delicado retrato que vai se expandindo conforme vamos compreendemos melhor a história.

Na trama, conhecemos Saori (Sakura Andô), uma mãe, viúva, em busca das verdades sobre o recente comportamento do jovem filho Minato (Soya Kurokawa). Ela aciona a escola onde ele está matriculado e seu destino se cruza com o professor Hori (Eita Nagayama) acusado de agredir Minato. Esse é um dos pontos de vistas de uma história que abre seu leque com o olhar de Hori e também o de Minato.

Rodado na cidade de Suwa, na província de Nagano, Monster tem um roteiro envolvente, aberto a surpresas, além de um olhar delicado para uma forte relação estabelecida em segredo que acaba virando o estopim para outras subtramas. O luto, a perda, a culpa, a mentira se somam ao desespero, vidas arruinadas, suposições, bullying dentro de um olhar da imaturidade sobre os abusos e a falta de esperança que se tornam pedras gigantes no caminho.

Os adultos parecem limitados no seu olhar para a questão que se desenrola. A escola e sua proteção ao ocorrido, lida da pior forma possível com a situação, aqui personificado na figura de uma diretora com um trauma recente e uma escolha pela mentira. A mãe, presa em um luto persistente não alcança o olhar para o turbilhão de emoções que passa o filho. O professor exigente e carinhoso, que recentemente se jogou a um amor, se vê perdido nas suas limitações como membro da escola.

A narrativa traz a emoção para a tela, através de imagens e movimentos que exemplificam o abstrato dos conflitos, o olhar que diz mais que mil palavras. A partir de alguns pontos de vistas, vamos entendendo melhor as verdades dessa história que comove e faz refletir.


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27/02/2024

Crítica do filme: 'Acertando o Passo'


A busca pelo sorriso no rosto até a hora de partir. Trazendo um olhar delicado e divertido para a melhor idade, associado também ao campo da redescobertas da vida, o longa-metragem britânico Acertando o Passo, lançado em 2017, é uma explosão dançante de sentimentos aos olhos de uma protagonista em crise existencial. Dirigido pelo cineasta britânico Richard Loncraine, o alegre projeto mostra a dança como uma ponte para descobertas nas novas maneiras de enxergar a vida.

Na trama, acompanhamos Sandra (Imelda Staunton), uma respeitada mulher da alta sociedade britânica que parece ter a vida perfeita. Só que uma questão logo a abala: três décadas e meia casada descobre a traição do marido, um ex-chefe de polícia, com uma amiga próxima. Sem saber direito o que fazer da vida, resolve ir morar com a animada irmã Bif (Celia Imrie), com quem não falava fazia tempos, em uma outra parte da cidade.

E como é bom ver artistas maravilhosos, veteranos, protagonizando um filme! As subtramas impulsionam o simpático roteiro, com ótimos coadjuvantes, como Bif e Charlie (Timothy Spall) que circulam o desconstruir da protagonista. Nesses momentos, as memórias ganham o sentido de nostalgia algo que aproxima a personagem do mundo real onde o vai e vem da vida deixam margens para surpresas.

As eternas lições do se reinventar. Altos padrões, alta sociedade, furando a bolha em que vivia e indo descobrir o mundo, a protagonista passa por descobertas em recordações do passado quando ia atrás dos sonhos, quando nada era fácil, onde o arriscar era uma opção. Mesmo caminhando rumo a previsibilidade, a narrativa enche a tela de alegria, num filme que fala sobre família e os laços que muitas vezes se encontram em estados de encontros e desencontros.

 

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15/02/2024

Crítica do filme: 'Um Homem Implacável'


A busca por uma segunda chance. Dirigido e protagonizado pelo sul-coreano Jung Woo-sung, o longa-metragem Um Homem Implacável é um filme convencional de ação onde a previsibilidade reina, a profundidade é jogada para escanteio em uma narrativa feita para empolgar os amantes desse gênero cinematográfico. A partir da saga de um ex-criminoso em busca de dias mais tranquilos após descobrir a paternidade, o projeto se desenvolve através de personagens nada carismáticos (alguns insuportáveis) em um roteiro que roda, roda e não sai do lugar. Um ponto positivo são as bem coreografadas cenas de ação.

Na trama, conhecemos Soo-hyeok (Jung Woo-sung) um homem com um passado tomado pela violência que após passar uma década preso volta à liberdade e logo descobre que é pai de uma menina, fruto de seu relacionamento com uma ex-namorada. Querendo largar a vida de criminoso e se dedicar a ser um bom pai, acaba sendo alvo da fúria de um invejoso ex-colega de gangue e então parte para um acerto final.

Um Homem Implacável tem cenas muito bem feitas, com foco total na ação. Alguns planos ganham destaque aliados a uma fotografia competente. A questão é a história, uma quase sonolenta trama que se perde a todo instante. O desenvolvimento da desconstrução do protagonista, aqui identificado como um dos alicerces do roteiro, é guiado pela obviedade, buscando encontrar sentidos na mudança de um provável ex-vilão para um anti-herói.

O roteiro gira em torno da paternidade e as possiblidades de mudanças de vida para um homem marcado pelo caos de um passado sangrento, impiedoso. Batendo na tecla do: ‘É possível esse recomeçar?’, essa segunda chance vem em forma de um último grande desafio impulsionado pela sede de vingança após ter uma nova vida ligada à sua trajetória. Como falta profundidade e com direito a um nada criativo flashback, lacunas ficam soltas, gerando o desinteressante ao longo dos 103 minutos de projeção.   


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04/01/2024

Crítica do filme: 'Perfumes'


O olfato e as barreiras antissociais. Já começo logo dizendo: Não, essa não é uma história de amor! Aqui navegamos por obstáculos impostos pela própria maneira de enxergar a sociedade tendo como elemento principal duas almas amarguradas com suas vidas atuais rodeadas de lacunas mas com uma brecha para se reinventar na forma como podem enxergar ao outro. Escrito e dirigido pelo cineasta Grégory Magne, Perfumes chegou sem muito alarde nos cinemas de alguns países no ano de 2019, conseguindo em sua simples e eficiente narrativa nos levar aos paralelos entre os sentidos e o viver.

Na trama, conhecemos o esforçado motorista Guillaume (Grégory Montel), um homem que passa por um presente cheio de desafios, lutando para conseguir ganhar mais dinheiro e enfim se mudar para uma casa maior assim podendo ter mais dias de visitação da filha. Certo dia ele é designado para ser o motorista de Anne (Emmanuelle Devos) uma reservada perfumista que após uma determinada situação ligado ao seu olfato nunca mais produziu perfumes. Os dois embarcarão em uma jornada de descobertas, aprendendo um com o outro a entender melhor um conceito importante em qualquer lugar do mundo: a sociabilidade.

O recorte social aqui, focado no comportamento humano, podem gerar interpretações. Você pode se identificar mais com um ou outro personagem. O importante é que o discurso espera como resultado uma reflexão sobre o choque entre dois mundos que automaticamente, quando bem feito (como é o caso) acaba dando a possibilidade de descobertas transformando o clímax em algo constante, um fator importante para qualquer boa narrativa.

Já falamos em outros casos por aqui, pegar o abstrato e transformar em um elemento importante dentro de uma narrativa não é uma construção fácil, é preciso habilidade e uma boa direção. Essa produção francesa adota um impecável posicionamento em cena, o famoso mise-en-scène, onde são nos colocados todos os tipos de sensações que conversam com os arcos dramáticos que os protagonistas atravessam.

Perfumes é um drama que transforma o marasmo de personalidades conflitantes, porém na mesma estrada, em uma riqueza de desabafos que envolvem todos os sentidos. Uma preciosidade para ser vista com atenção. Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Netflix.



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30/12/2023

Crítica do filme: 'Minha Família quer que eu Case'


Não é preciso se reinventar, somente entender. Flertando com os clichês dos filmes românticos água com açúcar mas com algumas bonitas mensagens que chegam de maneira muito objetiva, o longa-metragem britânico Minha Família Quer que Eu Case pousa seu refletir nas tradições culturais e nas várias camadas do que seria amar. Dirigido pelo cineasta paquistanês Shekhar Kapur, com roteiro assinado pela britânica Jemima Khan, o projeto aborda de maneira encantadora, com personagens carismáticos, os dilemas provocados pelo pensamento contemporâneo e as raízes conservadoras.

Na trama, conhecemos a documentarista Zoe (Lily James), uma mulher já na casa dos 30 anos, independente, que se dedicou nos últimos anos de sua vida à carreira profissional com poucas aberturas para amores e paixões. Certo dia, tem uma ideia para um próximo documentário que consiste em filmar a vida do seu vizinho de infância, o oncologista Kaz (Shazad Latif) que está prestes a se casar em um casamento arranjado, de acordo com as tradições de sua família descendentes de paquistaneses. Com o passar do tempo, Zoe começa a refletir mais sobre sua própria vida, o olhar para o outro se torna mais corriqueiro, de forma simples começa a perceber os contextos que o destino transmite.

A multicultural londres do dias atuais vira cenário de uma história que se sustenta nos dilemas. Casar sem conhecer, sem amar, é algo impensável? Como construir os primeiros laços com um alguém que você não conhece? A narrativa, super dinâmica e envolvente, se joga em cima dessas e outras perguntas para trilhar uma caminhada sobre o choque das tradições tendo como elemento primordial as dúvidas e medos na visão de duas pessoas com trajetórias completamente diferentes mas com um forte elo sentimental. Essa base da história, aproxima demais os personagens dos espectadores.

O pensamento contemporâneo e as raízes conservadoras das tradições aqui encontram seus argumentos. É preciso entender ao próximo, sua história, suas raízes, mesmo não concordando. Minha Família Quer que Eu Case não é só uma história de amor, é um olhar atual para a sociedade quando pensamos nos abismos sobre importantes diálogos que devem acontecer. Afinal, não é preciso se reinventar, somente entender.


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Crítica do filme: 'Um Herói'


Não mentir não quer dizer que falou a verdade. Inspirado numa história real que aconteceu na cidade de Shiraz, no Irã, o longa-metragem Um Herói fortalece seu contundente discurso envolto de uma situação e transforma num olhar que expõe as facetas da sociedade, onde os valores são colocados numa vitrine. Escrito e dirigido pelo premiado cineasta iraniano Asghar Farhadi, Um Herói nos leva pelos caminhos da moral em cima de uma narrativa que é preenchida por muitos pontos de vistas.

Na trama, conhecemos Rahim (Amir Jadidi), um homem de fala mansa, preso por não honrar uma dívida. Quando tem a oportunidade de sair da prisão por dois dias, faz de tudo para conseguir resolver sua situação com seu credor e enfim chegar à liberdade. Com o tempo passando e tentativas frustradas se amontando, ele recebe uma bolsa com algumas moedas de ouro, achada por uma namorada, e como isso não resolveria sua situação resolve devolver o dinheiro. Quando ficam sabendo do fato, um homem preso devolvendo um dinheiro que supostamente achou, ele logo recebe a atenção da mídia e vira um herói nacional até que boatos começam a acontecer.

Vencedor de um importante prêmio no Festival de Cannes em 2021, o longa-metragem consegue colocar ampliar seu recorte, trazendo para reflexões as linhas sempre apertadas do que é certo ou errado. Um ato bom precisa ser louvado ou é só o certo a se fazer? O desencadeamento dessa situação nos leva pelos caminhos da moral, em relação as expectativas criadas, abrindo subtramas interessantes tendo o olhar familiar bem próximo. A construção da narrativa foca no drama de seu protagonista, um homem que se vê em constante conflito pelas suas ações que vão da bondade até o desespero em pouco tempo.

Uma história mal contada impede as verdades de um ato? Essa é uma outra questão que circula o roteiro. As reflexões em cima disso são inúmeras e a narrativa preenche com outros pontos de vistas mas sem pretensão de validar alguma resposta correta. Assim chegamos na visão dos que cercam o protagonista: autoridades prisionais querendo os holofotes, líderes de uma associação beneficente e as preocupações com o caso, a exposição da família num mundo midiático fortalecido pela avassaladora chegada das redes sociais. Esses três pontos se chocam com a desconfiança, com a honestidade, com a moralidade, trazendo para debates facetas da sociedade.

Um Herói pode ser considerado uma jornada de um homem em busca da recuperação de sua reputação em um mundo onde qualquer deslize pode ser interpretado de várias maneiras fazendo muitas vezes você voltar para o lugar onde tudo começou.


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29/12/2023

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Crítica do filme: 'Vidas Passadas'


A incontrolável contramão do destino. Debutando na carreira de diretora, a cineasta sul-coreana Celine Song não podia ter começado com um melhor pé direito. Seu filme transborda sentimentos conflitantes aos olhos de duas almas que parecem complementares mas que o momento certo de se encontrarem muda completamente os rumos de seus destinos. Vidas Passadas é uma poesia em forma de cinema, onde declamações marcantes são vistas, sentimentos borbulham, nos levando de forma avassaladora para o núcleo do sentimento mais profundo que existe.

Na trama acompanhamos em algumas passagens de tempo a relação de amizade e quem sabe até mesmo amor entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo). No início amigos de escola, com a imigração da primeira para um outro país ficam distantes, voltando a se encontrar pela internet mais de uma década depois. Após mais uma pausa, sem conseguirem dar aquele passo necessário na relação, se reencontram mais uma década depois, já adultos e estabelecidos profissionalmente, ela uma escritora em Nova Iorque casada com o também escritor Arthur (John Magaro), ele um engenheiro ainda na Coreia do Sul. Um último encontro pelas ruas da cidade mais famosa do mundo, contemporânea, acontece, onde precisam lidar com o que o tempo e o destino tem para oferecê-los. Será o suficiente?

Uma amizade? Um possível amor? A narrativa navega de forma dinâmica e nada melancólica pelos caminhos turbulentos dos encontros e desencontros onde a saudade, palavra forte mas que só tem real significado na nossa língua, acaba virando uma variável constante mesmo na contramão do destino. O roteiro se fortalece com diálogos profundos (alguns fabulosos), na linha ‘pés no chão’, longe de qualquer fantasia, próximo do real, aproximando do espectador as reflexões sobre as inúmeras formas de amar. Há um elemento também forte por aqui, a lembrança. Por ela, conseguimos entender a força que essa relação não definida (e pra que definição né?) ganha novos capítulos com o passar do tempo.

Nessa relação que se estabelece à distância, em distantes linhas temporais, dentro de um discurso que nunca perde o sentido sobre o que se propõe a falar, era necessário uma dupla de artistas que entendessem as interrogações dos borbulhantes sentimentos. Isso acontece. O elenco é fabuloso, Greta Lee e Teo Yoo se completam em cena elevando a qualidade do projeto.

Tendo a força do destino como algo inalcançável, como é na realidade, seja pelas ruas de Nova Iorque ou de qualquer cidade do mundo, Vidas Passadas deixa enormes lições sobre algumas verdades do viver.


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27/12/2023

Crítica do filme: 'Dias Melhores'


A causa e o efeito. Baseado no livro In His Youth, In Her Beauty de Jiuyue Xi, Dias Melhores tem como seu tema central o Bullying, navega em dilemas carregando em sua alta carga dramática a iminência com a tragédia, um flerte contínuo, aos olhos de um alguém que parece estar em um labirinto de decepções. É possível se acostumar com a dor? Onde mora a esperança? Abrindo espaço para reflexões também para a pressão sofrida pelos jovens para as admissões em instituições de ensino superior, o olhar da lei para a questão do bullying, a denúncia, a incapacidade da escola em lidar com determinadas situações, o longa-metragem dirigido por Derek Tsang foi o indicado de Hong Kong para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2021.

Na trama, conhecemos Chen Nian (Dongyu Zhou), uma jovem introspectiva que vive seus dias derradeiros com a próxima chegada de uma prova que pode mudar sua vida. Ela vive com a  mãe, que sobrevive vendendo produtos ilegais e deve demais na praça, em um apartamento minúsculo em uma região nada agradável da cidade. Sua única saída é o estudo, se empenhando diariamente para ser uma das melhores de sua classe. Após o suicídio de uma aluna, Chen Nian parece ser o novo alvo de um grupo de alunas cruéis e privilegiadas que tacam o terror em outros alunos. Ela começa a sofrer bullying, com direito a inaceitáveis humilhações. Um dia, vivendo uma rotina de total medo, resolve ajudar Xiao Bei (Jackson Yee) um rapaz que está sendo agredido por uma gangue, fato esse que unirá essas duas almas, com o rapaz a protegendo dos bullying diários.

Arrecadando mais de 200 milhões de dólares somente em bilheteria na China, Dias Melhores levou muita gente aos cinemas. E tenho certeza que muitos dos que viram se identificaram com o que foi exibido, pelo menos com o tema central: o bullying. A construção para explorar em todos seus detalhes esse importante assunto é feita por um roteiro que apresenta o problema e vai atrás de fatores que giram em torno do assunto, transformando a narrativa com ritmo dinâmico, envolvente, pulsante. Além disso, dentro do discurso proposto, não há uma troca de perspectiva, e sim um complemento, transformando a saga dos dois personagens com um foco numa mesma direção.

O chocar, com as crueldades de alguns dos colegas de classe, é um elemento importante dessa narrativa que vira um gatilho para o campo das reflexões borbulharem. Mas e sobre as consequências das ações? Há punição? Há uma batida de tecla na incapacidade da escola em ao menos detectar o problema mesmo com um suicídio e atos de crueldade feitos a céu aberto. Não deixa de ser uma enorme crítica as instituições de ensino. E não só daquele país. A denúncia também ganha espaço, além do controverso olhar da lei para a questão do bullying.

Rodado todo em Chongqing, na China, a dualidade do gênero cinematográfico é algo constante por aqui, um filme de terror em muitos momentos abre-se um laço para um romance improvável com altas cargas dramáticas e onde os conflitos dos personagens parecem constantes, com a incerteza sendo um norte.



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14/12/2023

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Crítica do filme: 'Soldado Universal'


O faz de conta e seus paralelos com a realidade. Trazendo como protagonistas dois dos rostos mais famosos quando pensamos em filmes de ação de algumas décadas atrás, Jean-Claude Van Damme e Dolph Lundgren, Soldado Universal busca se colocar como uma crítica ao militarismo e as pretensões das grandes potências em transformar soldados em seres imbatíveis. Muito longe da realidade? Talvez! Mas as brechas para as reflexões são inúmeras, principalmente se o espectador conseguir ter um olhar atento em meio a bombas, tiros e pancadarias.


Dirigido pelo cineasta alemão Roland Emmerich, sua primeira assinatura da direção de um filme norte-americano, o longa-metragem conta a história de Luc (Jean-Claude Van Damme), um soldado enviado ao Vietnã no final da década de 60 que após estar entre a vida e a morte, ganha nova chance de vida, mesmo que forçadamente, agora na pele de super soldado, fruto de uma experiência militar. Buscando entender o mundo décadas depois de quase morrer na guerra, Luc é perseguido por Andrew (Dolph Lundgren), um soldado sanguinário que conhece de outros tempos.


Misturando a ficção científica e a ação, a narrativa pratica um exercício de imaginar um mundo com soldados imbatíveis, algo que por si só levaria a vantagens impensáveis em futuras guerras. Essa costura é interessante pois os paralelos que surgem podem também ser vistos como críticas sociais aliadas a um avanço tecnológico. Mas será a força e brutalidade os caminhos para a paz?


As passagens de tempo, começando no fracasso do avanço norte-americano no Vietnã, são importantes para vários recortes que são mostrados. Esse contexto de um período turbulento da história, não só a norte-americana, o antes e depois dentro dessa linha temporal, de duas décadas e meia, faz com que a narrativa caia nas armadilhas dos clichês mas sempre resgatado por possíveis espelhos em relação ao avanço da sociedade e principalmente ao senso crítico que caminha em forte crescente.


Com um orçamento perto dos 20 milhões de dólares e uma receita que superou a casa dos 100 milhões somente em bilheteria em todo o mundo (na primeira semana faturou logo 10 milhões estando presente em quase 2.000 salas), Soldado Universal logo se tornou um enorme sucesso na carreira do astro belga Jean-Claude Van Damme. Inclusive Van Damme e Lundgren estiveram presentes na mega divulgação do filme no Festival de Cannes no início dos anos 1990, fato que ajudou o marketing da produção em uma era onde a internet ainda estava pra nascer.


O projeto logo virou uma franquia, com seis filmes ao todo e não necessariamente com todos os atores principais voltando para seus personagens, aproveitando a enxurrada de filmes de ação que ganhavam a atenção dos espectadores a partir da década de 90. O filme também ganhou uma minissérie de três episódios em forma de quadrinhos escrita por Clint McElroy.


Para quem se interessar em conferir a esse trabalho, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Touro Indomável'


Os paralelos entre a vida e os tempos de lutador. Um dos maiores clássicos da carreira do mestre Martin Scorsese, Touro Indomável, lançado 43 anos atrás, nos leva para os conflituosos dias de fúria e destruição de um pugilista norte-americano de sucesso que aliado à uma fúria inconsequente conseguir destruir também o mundo de quem estava próximo. Baseado na obra Raging Bull: My Story, escrito por Joseph Carter e Peter Savage, a brilhante narrativa, dirigida de forma impecável por Scorsese, traça incríveis paralelos entre o ringue e os conflitos emocionais.


Na trama, acompanhamos os dias de glória e os dias de fúria de Jake LaMotta (Robert de Niro), nascido no bairro do Bronx, em Nova Iorque, filho de imigrante italianos que desde cedo iniciou uma carreira no boxe profissional conhecido por uma fúria implacável em lutas memoráveis. A questão é que fora dos ringues ele agia da mesma forma. Machista, ciumento, paranoico, até mesmo inescrupuloso, conseguiu destruir os laços familiares que o cercava sempre demonstrando uma violência desmedida. Quem mais sofreu com isso foi sua esposa Vickie (Cathy Moriarty) e seu irmão Joey (Joe Pesci).


A forma como o projeto é filmado é digno de aplausos. Todo em preto e branco, tudo tem relação com os altos graus de fúria encontradas em uma personalidade conturbada. As coreografia das cenas de luta filmadas com apenas uma câmera se juntam a esses espelhos das emoções com a vida cotidiana transformando esse filme em uma pulsante alegoria da inconsequência, sem esquecer do contexto da época com a máfia dominando as esquinas de uma Nova Iorque à beira do caos e descontrole.


A análise profunda sobre o protagonista é repleta de detalhes. Um olhar fixo para as relações com os próximos, entrando nas complexidades das paranoias, as intensas crises de ciúmes, geram cenas inesquecíveis onde realmente sentimos raiva do personagem. Tudo isso em conjunto com uma trilha sonora que foi selecionada pro filme a partir da obra de um compositor italiano chamado Pietro Mascagni, falecido em Roma na década de 40.


O caos também de uma mente brilhante. A carreira de Scorsese ao final da década de 70 estava marcada por um recente fracasso de bilheteria, o musical New York, New York, além de um intenso tour pelo destrutivo universo das drogas que quase levaram o famoso diretor a uma overdose. A luz do fim do túnel seria exatamente essa profunda história de um controverso personagem de um dos mais lucrativos esportes norte-americanos que logo estaria na prateleira dos maiores filmes dos últimos 50 anos. Um detalhe importante e também demonstrando o comprometimento de Scorsese com sua obra, o filme foi editado no seu próprio apartamento em Nova York todas as noites após o término das filmagens do dia.


Indicado para oito Oscars, vencendo nas categorias Melhor Ator (Robert de Niro) e Melhor Edição (Thelma Schoonmaker), Touro Indomável pode ter sido o trabalho que salvou a carreira de Scorsese. E que bom! Ganhamos uma obra-prima para relembrarmos sempre e passarmos para as próximas gerações. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.



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Crítica do filme: 'Asas do Desejo'


A mais bela poesia sobre a existência. Lançado no final da década de 80 e ainda ambientado em uma Berlim dividida pelo famoso muro que consta em todos os livros de história, a obra-prima do cineasta alemão Wim Wenders, Asas do Desejo, nos leva para uma série de reflexões sobre a existência entre anjos querendo o viver e almas perdidas quase sempre em desespero. Indicado para a Palma de Ouro em Cannes no ano de 1987 e vencedor do prêmio de melhor diretor no mesmo festival, esse filme consta na lista de muitos como um dos melhores da história do cinema.


Na trama, conhecemos um anjo chamado Damiel (Bruno Ganz) e outro chamado Cassiel (Otto Sander) que passeiam por uma Berlim do lado ocidental, friorenta, ao lado de outros iguais, observando o cotidiano dos mortais que não podem lhe enxergar. Damiel está no limite, de saco cheio da vida eterna. Seu maior desejo é se tornar um humano mortal algo que só cresce quando se apaixona por uma trapezista de circo chamada Marion (Solveig Dommartin).


A narrativa, a maneira como é contada essa história, é repleta de metáforas com teor filosófico, numa afiada linha contemplativa, que nos fazem refletir sobre algumas questões da mortalidade dentro de um conjunto de ações que andam de mãos dadas com a evolução de uma sociedade que erra e acerta na mesma proporção. A visão de fora, no caso de um anjo, acaba sendo a cereja do bolo. Mesmo sabendo de todos os problemas que abalam os corações aflitos, quem está na eternidade quer se jogar na mortalidade. Essa distância entre dois pontos antagônicos, o mortal e o imortal, ganham novos olhares.


Esse transporte das emoções para a tela é sempre um caminho complexo. Mas por aqui tudo é feito com uma simplicidade aliada a uma inteligente emocional que fazem um tour de 360 graus quando pensamos em conflitos e o espaço/tempo. As interpretações serão diversas, cada um vai sentir esse filme de uma forma de diferente de acordo como seu modo de enxergar o mundo.


O filme termina dizendo que sua história continua. É verdade. Uma continuação lançada cinco anos depois, Tão Longe, Tão Perto, complementa a fantasia e as reflexões propostas nos mostrando o desenvolver dos principais personagens que vemos por aqui. Foi também uma inspiração para uma outra obra, dessa vez hollywoodiana, protagonizada por Meg Ryan e Nicolas Cage lançada 25 anos atrás, Cidade dos Anjos.


Wenders, hoje perto dos 80 anos, deve aparecer em muitas listas nesse ano com o também belíssimo Perfect Days que tem muitos paralelos com essa obra aqui. Ele é um eterno seguidor de outros monstros sagrados da cinematografia mundial, inclusive essa obra-prima é dedicada a alguns dos seus maiores ídolos: o japonês Yasujirô Ozu, o francês François Truffaut e o russo Andrei Tarkovsky. Esses dois últimos falecidos anos antes do lançamento de Asas do Desejo.


Para quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video e também do Telecine. Vejam que não vão se arrepender!

 


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01/11/2023

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Crítica do filme: 'Os Embalos de Sábado à Noite'


Muito mais do que um filme dançante, Os Embalos de Sábado à Noite joga na tela o machismo descarado fruto de uma juventude repleta de rebeldia, inconsequente, aos olhos de um impactante protagonista que embarca em uma tentativa de desconstrução quando percebe o que o futuro pode lhe reservar se continuar naquela rotina. Dirigido pelo britânico John Badham, e com o roteiro baseado em um artigo de Nick Cohn para o jornal The New York Times, o filme ficou marcado pela sua incrível trilha sonora, com muitas canções famosas (Night Fever, How Deep is your Love?, Stayin' Alive) assinadas pela banda australiana Bee Gees.


Na trama, conhecemos Tony Manero (John Travolta), um jovem perto dos 20 anos, morador de uma Nova Iorque no final dos anos 70, sem sonhos de estudos no futuro, perdido na ilusão de sua rotina de farra com os amigos. Ele trabalha numa loja de construção e faz parte de uma família conservadora, descendentes de italianos, religiosa, inclusive com o irmão padre. Suas discussões em casa são frequentes, parecem não se entenderem, principalmente com o pai que está desempregado. Quando chega à noite, Tony ajeita o topete, pega sua melhor roupa e vai com os amigos arruaceiros para a pista de dança de uma badalada boate local onde arrasa nas pistas de dança. Um dia conhece Stephanie (Karen Lynn Gorney) com quem treinará para participar de um concurso de dança, uma mulher que vai fazê-lo aos poucos refletir sobre a vida que leva.


Ambientado em uma Brooklyn (um dos mais famosos bairros de Nova Iorque) pulsante dos anos 70, Embalos de Sábado à Noite é um forte drama existencial que camuflado de uma narrativa que dá ênfase as cenas de dança que marcaram a trajetória do filme no imaginário dos espectadores, busca refletir sobre os sonhos, oportunidades e os conflitos de um cotidiano limitado a uma bolha criada pelo próprio caminho até ali. Tony Manero busca a desconstrução quando sua bolha é furada por uma pessoa que o faz enxergar novas direções. 


Aqui no Brasil mais de 6 milhões de pessoas foram aos cinemas conferir o filme. O álbum musical com a trilha sonora do filme foi um recordista de vendas, com mais de 20 milhões de exemplares vendidos. O longa-metragem também rendeu a primeira indicação ao Oscar pra John Travolta (na categoria Melhor Ator). Pra quem quiser assistir, o filme está disponível no catálogo do Telecine.

 


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25/09/2023

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Crítica do filme: 'Falcão - O Campeão dos Campeões' * Revisão *


Quando acreditamos em segundas chances. Longe de ser um dos mais elogiados filmes da carreira de Sylvester Stallone, inclusive indicado ao Framboesa de Ouro em algumas categorias, Falcão – O Campeão dos Campeões se tornou um dos mais emblemáticos filmes com o ator que foram exibidos na saudosa Sessão da Tarde. Trazendo para o público uma história girando em torno de uma turbulenta relação entre um pai e seu único filho, o projeto dirigido pelo israelense Menahem Golan busca trazer reflexões sobre erros e segundas chances.


Na trama, conhecemos Lincoln (Sylvester Stallone), um solitário caminhoneiro que após a ex-esposa Christina (Susan Blakely) adoecer de uma grave doença vai de encontro ao único filho do casal, Michael (David Mendenhall), um garoto mimado pelo avô Jason (Robert Loggia), com quem deverá passar alguns dias. Buscando recuperar mais de uma década em apenas alguns dias, Lincoln embarca em uma jornada tumultuada onde precisa assumir seus erros em troca de uma segunda chance. Ao mesmo tempo em que busca ter uma melhor relação com o filho, percorrendo quilômetros pelas estradas norte-americanas, o protagonista tem o sonho de vencer o principal torneio de queda de braço do país.


Sem pretensão de ser um filme com inúmeras lições sobre a relação entre pais e filhos, mas com a necessidade de impor grandiosidade demasiada em um duelo entre o herói e o vilão, o longa-metragem até consegue ser profundo em seu refletir. O drama se torna um elemento de importância que circula o desenvolvimento dos personagens. Assim chegamos até alguns dos conflitos: uma doença terminal que acaba tendo que unir dois parentes com um enorme hiato no convívio, as desilusões de um homem que abandonou a esposa e o filho pequeno por não se sentir apto a dar uma vida confortável a eles, um egoísmo de um avô influente pelo poder que tem mas sem sensibilidade para entender o momento. A narrativa se desenvolve em bom ritmo por essas estradas da vida.


Exageradamente indicado ao Framboesa de Ouro, Falcão - O Campeão dos Campeões não é nem de longe um filme ruim. Tem muitos paralelos com a realidade de muitos, seja nas relações conflituosas que são apresentadas, seja na questão dos sonhos que precisam ser regados com a força de vontade e muitas vezes sozinho. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo do Telecine e da Prime Video. 



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22/09/2023

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Crítica do filme: 'Gladiador' * Revisão*


Um pouco mais de duas décadas atrás chegava aos cinemas pelas mãos do sempre competente Ridley Scott um filme que marcaria gerações de amantes da sétima arte nos trazendo o contexto de sangue e dor de um general romano que traça uma jornada cheia de obstáculos motivado por um espírito de vingança em meio ao caos da ambição na figura de um rei assassino e não declarado. Com uma visão bastante próxima de uma Roma Antiga, todo o circo do entretenimento da época associada à uma luta de vida e morte numa enorme arena, as intrigas políticas, alguns personagens que realmente existiram mas com novas interpretações, Gladiador venceu cinco Oscars e até hoje é lembrado como um dos mais grandiosos e elogiados blockbusters.


Na trama, ambientada em 180 D.C, conhecemos o respeitado general Maximus Decimus Meridius (Russell Crowe) um homem que lidera milhares de soldados em linhas de frente de batalhas e só possui um objetivo: voltar para casa e reencontrar a família. Só que após vencer uma importante batalha, já no final de uma grande guerra, o imperador Marco Aurélio (Richard Harris) lhe motiva a ser um dos próximos líderes romanos, fato que deixa o filho do imperador, Cômodo (Joaquin Phoenix), com enorme ciúmes. Num ato premeditado e cruel, Cômodo mata seu pai assumindo assim o poder máximo desse grande império. Em um de seus primeiros atos como grande chefão romano é ordenar a morte de Maximus e toda sua família. Só que o herói dessa história consegue fugir e começa aos poucos a planejar uma enorme vingança tendo pelo caminho que se tornar um gladiador.


Rodado todo em ordem cronológica aos acontecimentos que assistimos, a mega produção coloca sua construção narrativa nos passos de um protagonista que se desconstrói em relação a tudo que acredita sobre lealdade atingindo um caminho sem volta para uma vingança épica. As subtramas nos mostram o caos político e a luta pelo poder em uma Roma enfraquecida com a perda de seu respeitado imperador Marco Aurélio. O olhar para o antagonista se resume as práticas cruéis de um recém imperador mimado, que sonha em alcançar o respeito de seu povo mas que nunca o terá.


Traições, amores proibidos, e um grande senso de justiça são elementos que contornam o vai e vém dos personagens. Mas há um elemento que se torna importante, um espaço criado para uma série de épicas lutas. Todo o circo caótico e desumano do mais famoso entretenimento desse recorte temporal romano, criado através de sangue e luta pela própria vida de pessoas intituladas gladiadores, ganham destaque e acabam nos guiando para todo o epicentro da trama.  


Vencedor de cinco Oscars (incluindo Melhor Filme) esse inesquecível longa-metragem de mais de duas horas de projeção, com cenas grandiosas de batalhas, algumas que demoraram dezenas dias para serem filmadas, e uma trilha sonora assinada pelo craque Hans Zimmer, está disponível na Netflix, Star Plus e Telecine.

 


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29/08/2023

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Crítica do filme: 'Psicose' * Revisão*


A impulsividade como força motora de um encontro cabuloso com o destino. Chegava em junho de 1960 aos cinemas norte-americanos, e pouco tempo depois nas salas de todo o planeta, um filme que se tornaria anos um dos maiores e mais lembrados clássicos do cinema, Psicose. Abordando as fraquezas do ser humano em duas vertentes, uma ligada a um crise existencial que dá um bico na inconsequência e outra ligada a um transtorno dissociativo de identidade, a pulsante narrativa nos leva para uma história aterrorizante cheia de reviravoltas. O filme é baseado no romance homônimo de Robert Bloch, e esse por sua vez inspirado na história verídica de Ed Gein, um famoso serial killer da época. Dirigido pelo genial Alfred Hitchcock.


Ambientado em Phoenix, no Arizona, na trama, num primeiro momento, acompanhamos a história de Marion (Janet Leigh) uma secretária que foge com uma alta quantia de dinheiro que pertence a um cliente da empresa que trabalha e segue sem rumo por uma estrada até resolver parar em um hotel perto da estrada onde encontraria um fatídico destino. Num segundo momento, vamos conhecendo a tenebrosa história de Norman Bates (Anthony Perkins) que a atende nesse hotel e as verdades de uma família.


O brilhantismo da narrativa, a maneira como assistimos em imagens e movimentos as linhas do roteiro, parece se dividir em duas partes, o antes e o depois de um crime. No antes, vemos as dificuldades de uma mulher em lidar com seus conflitos quando percebe uma oportunidade de mudar de vida e de forma impulsiva ruma para talvez o primeiro crime de sua vida sem olhar para trás mas uma forte crise de consciência. Aqui temos o ponto de vista dela para tudo que acontece até esse momento. No depois, o roteiro navega em cima da ideia do trauma como justificativa para ações do mais intrigante dos personagens, um homem recluso, a princípio simpático mas que esconde segredos que são elementos da principal reviravolta da produção e dá margens para inúmeros debates até hoje.


Indicado para quatro Oscars e com uma trilha impecável, criada por um dos maiores compositores de cinema de todos os tempos, o californiano Bernard Herrmann, Psicose é repleto de curiosidades que vão desde um juramento feito por todo elenco para que não contassem absolutamente nada da história até a aquisição de muitas cópias do livro original que deu origem ao filme com o objetivo de que menos pessoas possíveis soubessem sobre o surpreendente final.


Com um orçamento baixíssimo para os padrões da época, o filme que foi o primeiro longa-metragem de terror de Alfred Hitchcock, faturou mais de 40 vezes mais sendo o filme de maior bilheteria da sua carreira. Para quem se interessar em ver pela primeira ou até mesmo rever, o filme está disponível no catálogo da Star Plus e do Telecine.



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