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07/11/2023

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Crítica do filme: 'Na Ponta dos Dedos'


O que você sente vs o que uma máquina te fala. Em seu segundo longa-metragem na carreira, o cineasta grego Christos Nikou, de 39 anos, apresenta ao público uma história que nos leva aos questionamentos de até onde a tecnologia pode influenciar a concepção de um amor duradouro e certeiro. Caminhando nos conflitos emocionais turbulentos de uma sensível professora, Na Ponta dos Dedos consegue enxergar seu alicerce, com uma história muito bem contada, em um norte de possibilidades numa batalha repleta de aflição entre a tecnologia e o que pulsa o coração.  No elenco principal, um trio de artistas excelentes: Jessie Buckley (indicada ao Oscar pelo excelente A Filha Perdida), Riz Ahmed (indicado ao Oscar pelo ótimo O Som do Silêncio) e Jeremy Allen White (da série sensação O Urso).


Na trama, acompanhamos Anna (Jessie Buckley), uma professora que está em busca de emprego e consegue um trabalho em uma empresa que vive de testar as possibilidades de sucesso de casais a partir de alguns testes e a retirada de uma das unhas para a real compatibilidade amorosa. Como seu casamento com Ryan (Jeremy Allen White) não anda nada bem aos seus olhos e a chegada de um impulsivo interesse amoroso em colega de trabalho, Amir (Riz Ahmed), Anna embarca em uma jornada em busca de respostas.


O que a ciência traduz ou o que o coração fala? A narrativa percorre, apresentando muitos detalhes, sobre uma questão existencial em relação as escolhas que fazemos dentro de um universo de sentimentos que se apresentam de uma forma e se fortalecem com o tempo. Estamos falando do mais forte dos sentimentos: o amor. Então, como assim uma máquina pode prever o que ainda não se viveu ou mesmo definir futuros a partir de características individuais? O conflito da protagonista é bem em cima dessa linha de pensamento, o que gera muitas reflexões do lado de cá da tela.


O roteiro define seu conflito logo de cara, constrói o caminho de seus personagens sob apenas um ponto de vista mas sem deixar de apresentar variáveis importantes que se juntam ao nosso refletir. Exibido na Mostra de Cinema de SP e também nos Festivais de Toronto e San Sebastian, o longa-metragem estreou nesse início de novembro no ótimo catálogo da AppleTV Plus.



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24/07/2023

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Pausa para uma série: 'Amor Platônico'


A amizade no centro do tabuleiro conturbado da meia idade. Chegou de mansinho, quase desapercebida uma brilhante comédia que gira em torno da crise de meia idade impulsionada pelo realinhamento de uma antiga amizade. Mostrando que é possível fazer rir e refletir de forma madura, trazendo paralelos interessantíssimos com a realidade, Amor Platônico é mais um achado da Apple tv Plus que vem se consolidando como uma mina de ouro para quem gosta de séries com alta qualidade e altamente envolventes.


Criada por Francesca Delbanco e Nicholas Stoller, que também dividem a direção dos episódios, na trama, conhecemos Sylvia (Rose Byrne) uma dona de casa, formada em direito, que abdicou da carreira para cuidar dos três filhos e vive um casamento feliz com seu marido, o advogado Charlie (Luke Macfarlane). Após aparecer em seu feed, de uma rede social, que o seu ex-melhor amigo, o mestre cervejeiro Will (Seth Rogen) acabara de terminar o casamento, ela resolve entrar em contato com ele. Assim, esses dois amigos, antes com 20, agora perto dos 40 anos se envolvem em várias situações onde um ajuda o outro a enfrentar os problemas nessa fase da vida cheia de variáveis e escolhas difíceis.


Nada como um roteiro inteligente para fazer a gente pensar sobre a vida. De forma leve e descontraída, a narrativa envolve o espectador atingindo o epicentro entre a maturidade e a melhor idade. Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes, a amizade, as diferentes formas de amar, o ciúmes são plano de fundo de situações hilárias que a dupla de protagonistas se metem ao longo de dez excelentes episódios na sua primeira temporada.  


A química entre Byrne e Rogen é fantástica, os artistas já haviam trabalhado juntos 10 anos atrás na comédia Vizinhos e mais uma vez mostram toda a harmonia em cena. Você, em um mesmo episódio, consegue rir muito e também se emocionar trazendo inclusive paralelos com a realidade. Passando por cima da pergunta: ‘É possível uma amizade entre um homem e uma mulher?’ o platônico do título é quase desnecessário, irreal. Esse projeto é um brinde à  amizade e todos seus altos e baixos.



 

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28/06/2023

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Pausa para uma série: 'Falando a Real'


Criado por Jason Segel, Bill Lawrence e Brett Goldstein (o Roy Kant de Ted Lasso), Falando a Real chegou sem muito oba oba ao ótimo streaming da Apple Tv+ e foi logo conquistando corações por todo lado. Com ótimos personagens, um episódio melhor que o outro, aqui o debate é sobre as camadas de emoções a partir de um trauma e as novas formas de lidar com conflitos que parecem gigantescos obstáculos. Batendo forte na tecla de que ajudar aos outros também é uma forma de se ajudar, o seriado, de 10 episódios em sua primeira temporada, é um aulão divertido e emocionante de reflexões sobre a vida.


Na trama, conhecemos Jimmy (Jason Segel), um terapeuta que trabalha com outros dois amigos em um enorme consultório que depois de um ano apenas sobrevivendo após o falecimento da esposa em um trágico acidente de carro, volta a despertar para a vida, reconectado laços perdidos, principalmente com a única filha, a adolescente Alice (Lukita Maxwell). Para buscar soluções para suas próprias barreiras que ele mesmo colocou na sua vida, contará com a ajuda dos amigos Paul (Harrison Ford) e Gaby (Jessica Williams) com quem divide esse enorme consultório de atendimento psicológico e também de um casal de curiosos vizinhos, Derek (Ted McGinley) e Liz (Christa Miller).


O luto é um canalha ardiloso. Nesse projeto, tudo começa com o luto e as variáveis que se aproximam quando esse chega em uma trajetória. Assim, conhecemos o protagonista na primeira etapa de sua recuperação que é reconhecer que precisa de ajudar. Redescobertas, memórias, lembranças positivas começam a fazer mais sentido para uma fuga de um lugar que afeta sua vida e aos de muitos ao seu redor.


Para entender mais sobre a vida, é preciso sofrer, chegar ao fundo do poço e assim recomeçar. Esse acaba sendo o lema do protagonista num segundo estágio, um homem que se vê em um presente confuso, com muitas arestas a se consertar após um tempo longe de tudo e todos. Quando se aproxima dos conflitos se vê forçado a usar suas habilidades para também tentar ajudar e assim buscar inspirações para seus próprios conflitos. Algo como um start é dado na sua sistemática emocional, como se a felicidade e conquistas dos outros fossem ferramenta para ele entender melhor a vida.


Paralelo a trama principal, subtramas profundas são acopladas as linhas do roteiro, nos levando a entender novos conflitos na visão de outros personagens. Tem o emburrado Paul e seu problema com o distanciamento da filha, Gaby e suas impulsividades além de ações e consequências no seu conturbado relacionamento, o casal Derek e Liz, o primeiro próximo da aposentadoria e a segunda querendo ter função na vida alheia, além de Alice, uma jovem que se vê sozinha com o pai em conflito e a descoberta de amores e situações conflituosas. Além dos pacientes do Doutor Jimmy, principalmente o carismático Sean (Luke Tennie).


Falando a Real é aquela série que você precisa ver todos os episódios de uma vez, no melhor estilo maratona. Os arcos complementares e as deixas fazem de cada episódio uma peça importante para diversas reflexões com enormes paralelos com a realidade do mundo.



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01/04/2023

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Crítica do filme: 'Tetris'


A criatividade para todo o mundo. Nos tempos dos primeiros Game Boys, da toda poderosa Nintendo, na época da União Soviética, que considerava os EUA como inimigo número um (até hoje, né?), um engenheiro de computação russo criou em poucos dias um jogo super interessante que se tornaria epicentro de uma disputa comercial enorme envolvendo burocracias legais e conflitos geopolíticos. Tetris, dirigido por Jon S. Baird e roteirizado por Noah Pink, fala sobre a criação desse famoso jogo e a luta de seu criador e um holandês, empresário do ramo de jogos, para que o jogo ganhasse o mundo.  


Na trama, toda rodada na Escócia, conhecemos Henk Rogers (Taron Egerton), um ex-programador e depois empresário do ramo de jogos eletrônicos. Ele é holandês, criado nos Estados Unidos, que conheceu a esposa em uma universidade do Havaí e foi morar em Tóquio com ela, abrindo sua empresa lá. Durante uma feira de jogos, consegue (ou pelo menos acha que) a licença para consoles e Pcs no Japão de um jogo que viria a ser uma enorme sensação em todo o mundo: O Tetris. Só que logo ele percebe que não era algo fácil assim e embarca em uma história onde seu destino irá se confrontar com o regime russo da época, empresários gananciosos de Londres mas ele contará com a ajuda do criador do jogo, o engenheiro de computação Alexey Pajitnov (Nikita Efremov).


Nos tempos do assembler, pascal, C, essa curiosa história começa em 1988, em meio a época de liderança de Mikhail Gorbatchov, por isso é importante uma forte introdução, fato que o roteiro busca fazer em partes. Com a tecnologia e o avanço do consumo dos jogos eletrônicos sendo enxergadas como uma mina de ouro, um futuro próspero, para quem estivesse nesse segmento. Henk busca ser um visionário do setor mas investe em projetos falidos tendo quase sempre problemas com seus financiadores (como muitos na época). Quando navega no mundo obscuro das burocracias soviéticas, se vê em conflito com a forte pressão do governo russo que enxerga no potencial jogo uma maneira do capitalismo invadir com força seu território.


Combinação da palavra ‘quatro’ em grego com um simples jogo de tênis (esporte que o criador do jogo adorava), o Tetris a princípio foi desenvolvido como um passatempo de um ótimo programador russo que passava por disquetes aos amigos versões do jogo. Ele trabalhava no centro de informática soviético, um lugar controlado muito rígido com informações controlado 100% pelo governo. Esse jogo, que viria a ser o mais vendido da história dos games, sendo superado somente em 2020 pelo Minicraft, se tornou a franquia de jogos mais vendida no mundo depois do Mario com mais de meio bilhão de cópias vendidas. O filme Tetris vem trazer à luz os bastidores desse sucesso e principalmente toda a luta inicial para o jogo sair da restrita União soviética e ganhar o planeta.


Com filmagens iniciadas em dezembro de 2020 e com diversas licenças poéticas, mesmo o roteiro sendo lido pelos personagens reais, a narrativa consegue ser dinâmica, empolgante, unindo a fantasia de uma produção cinematográfica com fatos chaves que aconteceram na realidade. Dezenas de portas que se abrem nessa fantástica história que une criatividade, jogos, negócios e geopolítica.



 

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01/03/2023

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Crítica do filme: 'Sharper - Uma Vida de Trapaças'

 


Nada é o que parece ser. Depois de dirigir alguns episódios de badalados seriados da atualidade, como 11 capítulos da aclamada série da Netflix The Crown, além de três do seriado Andor da Disney Plus, o cineasta britânico Benjamin Caron debuta na direção de um longa-metragem no engenhoso filme disponível na Apple TV Plus Sharper - Uma Vida de Trapaças. Escrito pela dupla Brian Gatewood e Alessandro Tanaka o projeto nos apresenta o confronto desleal entre a oportunidade e a fraqueza (também visto aqui como ingenuidade) além de uma visão pessimista sobre as relações humanas. Hipnotizante em muito momentos, os arcos são definidos pelas histórias individuais dos personagens, os profundos pontos de vistas em relação ao conflito principal que comanda as ações. Pena que na hora do 10, o desfecho fica bem óbvio, como se as surpresas que tanto nos surpreendem percam força pois vamos conhecemos os personagens e sabemos do que podem ser capaz.


Na trama, conhecemos o jovem Tom (Justice Smith), um amante de livros, que possui uma simpática livraria no centro de uma grande cidade norte-americana. Certo dia, entra pela porta do local uma jovem doutoranda chamada Sandra (Briana Middleton) e logo os dois se apaixonam perdidamente. Certo dia, Sandra, desesperada, avisa Tom que precisa de 350 mil dólares e ele, um herdeiro do milionário Richard (John Lithgow), logo consegue a quantia. Só que Sandra some, e Tom percebe que caiu em um golpe. Paralelo a isso, vamos conhecendo Max (Sebastian Stan) e Madeline (Julianne Moore), um dupla de trambiqueiros que vão nos mostrar os lados desse golpe aplicado por Sandra.  


Ao lado da trilha sonora afiada, a brilhante narrativa (a maneira como a história é contada) tem grandes momentos. A escolha pelos arcos na visão de cada personagem é certeira, dá uma cronologia aos fatos de forma interessante mantendo um ritmo de tensão como nos bons filmes de suspense que se mistruram nas profundezas de dramas existenciais. Mas aqui acontece algo que foge da criatividade vista, com tantos detalhes apresentados o espectador começa a desconfiar de tudo, entrando na parte de conclusão da história enxergando o desfecho bem óbvio, como se as surpresas a partir de determinado ponto percam força pois já conhecemos os personagens e sabemos do que podem ser capazes. O elemento surpreso, tão bem trabalhado pelo roteiro durante toda a trama, acaba se evaporando na linha de chegada. 


O conhecimento. A mentira. Sharper é um filme sobre golpes, manipulações sem pena, sobre vigaristas e os respectivos egocentrismos numa sociedade que enxerga a fraqueza do ser humano na sensibilidade que alguns podem ter sobre relacionamentos. A crueldade é a ferramenta mais usada por aqui dentro desse recorte bastante pessimista sobre a humanidade. Qualquer ação egoísta, de má-fé, tem várias interpretações ligadas as escolhas vingativas ou não dos ótimos personagens. 


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05/01/2023

Crítica do filme: 'Raymond & Ray'


O despertar do desalento. Buscando um exercício complicado de fazer refletir sobre as margens de divergentes sentimentos ligados à figura de um pai aos olhos de dois meio irmãos que não se falam faz bastante tempo, o cineasta colombiano Rodrigo Garcia, diretor e roteirista desse projeto, apresenta um passeio fúnebre numa estrada da melancolia, passando por um enterro pra lá de inusitado, que para os olhares mais atentos se torna um recorte interessante sobre os muitos jeitos de enxergar a vida. O filme tá disponível lá no streaming da Apple Tv Plus.


Na trama, conhecemos Raymond (Ewan McGregor) e Ray (Ethan Hawke), dois meio irmãos que não se veem faz algum tempo e sempre tiveram em comum muitas mágoas com o pai. O primeiro é metódico, todo certinho, recém separado, que trabalha no departamento de energia da cidade de Cincinnati no estado de Ohio. O outro, um mulherengo, um viciado em recuperação, parece viver seu cotidiano na leveza de não precisar de muito para viver, tem um fascínio pela música, principalmente o trompete algo que está ligado de maneira muito emotiva ao seu passado. Após saberem do falecimento do pai, recebem um último pedido do falecido e assim resolvem embarcar em uma road trip que ativa lembranças e apresentam surpresas do homem que achavam que conheciam por completo.


Os irmãos, com o mesmo nome de batismo, vão aos poucos descobrindo mais sobre a figura paterna que sempre detestaram, um homem que parecia distante e cruel em muitos momentos de suas vidas. Durante a viagem, conhecem Lucia (Maribel Verdú), o último amor de seu pai, uma batalhadora, mãe, que faz bicos no Uber e como bartender. Através do olhar dela, eles começam a enxergar que estão dentro de uma estrada sem rumo para conseguirem quem sabe chegar ao perdão ou pelo menos a compreensão.


A angústia de dormir entre sonhos e pesadelos. A solidão dos sentimentos, aquela mágoa guardada por anos, aqui é vista como um enorme vulcão, prestes a entrar em erupção. Os conflitantes sentimentos, da dor, da perda mas também da raiva e das más recordações, acabam ditando o ritmo desse projeto que faz questão de ter uma narrativa lenta, que explora o vazio existencial de peças de vidas que nunca foram encontradas até então. A reconstrução dos personagens através desse jornada para deixar pra trás o medo e a raiva acaba fazendo muito sentido com as escolhas que se apresentam dentro das diferentes maneiras de enxergar a vida.



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16/12/2022

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Crítica do filme: 'Passagem'


Os aprendizados numa jornada pela melancolia. Filme de estreia como diretora de longa-metragem da cineasta nova iorquina Lila Neugebauer, Passagem, disponível no ótimo catálogo da Apple TV Plus, nos apresenta uma imersão à solidão de uma jovem militar que volta pra casa depois de terríveis sequelas no Afeganistão. A partir de uma amizade com um mecânico, esse também com toda uma estrada de angústia em um passado recente, busca novos horizontes, um novo olhar para frente, numa linha mais positiva sobre o que consegue alcançar no seu pensar sobre existência. Esse poderoso drama conta com atuações emocionantes dos excelentes Jennifer Lawrence e Brian Tyree Henry. Esse último indicado ao Spirit Awards 2023 na categoria Melhor Atuação Coadjuvante.


Na trama, conhecemos Linsey (Jennifer Lawrence) uma militar do corpo de engenharia do exército, especialista em sistemas de águas, que sofre uma complicada lesão cerebral no Afeganistão quando o veículo onde estava é atacado. Ela perde alguns movimentos do corpo e na volta para os Estados Unidos acaba indo num primeiro instante para a reabilitação na casa de uma cuidadora depois ruma para casa, onde tem a chance de resolver (ou pelo menos tentar) problemas adormecidos na relação com a mãe Gloria (Linda Emond) e nesse meio tempo, consegue emprego como piscineira e acaba conhecendo o mecânico James (Brian Tyree Henry) um homem muito bondoso que perdeu a perna em um grave acidente que mudou para sempre o destino de sua família. Assim, essas duas almas iniciam uma amizade com ganhos mútuos numa estrada dolorosa para saírem da solidão.


Um dos principais pontos para refletirmos sobre essa bonita história de superação é a questão do estado de desencanto, da tristeza. A melancolia embutida, muito por conta dos diálogos passarem pela caminhada até ali dos novos amigos, dentro de seus conflitos difíceis de serem superados aqui se torna um raio-x de personalidades que buscam meio que inconscientemente respostas para questões ligadas aos respectivos passados vividos ali mesmo naquela Nova Orleans com altas temperaturas. No caso de Linsey, enxergamos logo de cara uma barreira na comunicação com a complicada mãe e os motivos de uma fuga do lugar de criação. No caso de James, reflexões e a busca de uma redenção em contraponto à culpa que sente por ser o responsável de um terrível acidente.


Há um parábola, uma mensagem indireta, nas cenas tendo a piscina como cenário. A de plástico, que divide com a mãe em uma cena a protagonista passa a pensar sobre o seu redor e logo depois em outros pensares limpando as enormes piscinas de endinheirados da região. Quando se sente curada de qualquer que sejam suas angústias salta numa piscina lotada como se fosse um forte paralelo onde encontra a hora de se jogar na vida novamente e buscar a felicidade.


No projeto, rodado todo em 2019 mas só lançado no segundo semestre desse ano, o tempo e o valor de um abraço também se tornam variáveis importantes em todo esse processo que gera aprendizados. Na jornada desse recorte pós traumático surge uma mola propulsora para preenchimentos de lacunas no campo emocional já que o Afeganistão, no caso da protagonista, não é o único trauma que busca-se soluções.



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17/08/2022

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Pausa para uma série: 'Black Bird'


A caminhada conflitante para a confiança nos próprios valores. Criado pelo escritor norte-americano Dennis Lehane, autor de romances policiais que viraram filmes de grande sucesso, como Sobre Meninos e Lobos e Ilha do Medo, Black Bird é mais uma série inquietante do ótimo streaming da Apple Tv+. Misturando uma intensa caçada policial à um estudo amplo e muito complexo sobre personalidades humanas (não é a toa que é possível fazer um paralelo com outro seriado, Mindhunter), ao longo de seis angustiantes episódios. Destaque para a atuação fantástica de Paul Walter Hauser


Inspirado em fatos reais, em Black Bird conhecemos Jimmy (Taron Egerton), um charmoso traficante de drogas que vê todo seu mundo ir à baixo quando a polícia invade a sua casa e o faz ser condenado a 10 anos de prisão. Alguns meses se passam e algo inusitado acontece: a polícia volta a conversar com ele lhe propondo um acordo que consiste em ele ser enviado a uma prisão de segurança máxima, conseguir a confissão de um suspeito de assassinatos chamado Larry (Paul Walter Hauser) e assim conseguir a liberdade. Mas nada será fácil e muitas perguntas se encontrarão pelo seu caminho.


Buscando entrar na mente de uma pessoa complicada, o protagonista acaba tendo que lidar com os próprios demônios, muitas vezes tendo que tomar decisões sozinho, em forma de todo o envolto que atravessa na sua frente, como os ambíguos guardas, perigosas gangue do lugar e as incontroláveis variáveis que se apresentam a todo instante. Tudo isso junto acaba levando Jimmy a uma trajetória de desconstrução bem longe de uma redenção convencional.


Há um clima de suspense no ar, não sabemos ao certo se Larry é o responsável pelos assassinatos, pistas entram e saem do rodares distanciando ou não as suspeitas, mas de alguma forma parece sempre estar envolvido. As questões sobre a investigação, não definidas de maneira lineares, nos levam a atravessar um longo período onde rastros são minuciosamente estudados dentro de premissas inquietantes definidas pelas afirmações do próprio suspeito. Jimmy aos olhos da lei é descartável? Por que usar um civil para conseguir essas informações? Algumas respostas passam pelas entrelinhas da suposição mas sem atrapalha todo o contexto, sobre o que realmente fala essa história.  


Nesse projeto impactante, que fora um dos últimos trabalhos do ator Ray Liotta (falecido recentemente), vamos descobrindo os mistérios junto aos personagens em uma caçada antes de tudo pela verdade. Você não pode perder Black Bird!



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04/08/2022

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Pausa para uma série: 'Slow Horses'

 


As duras estradas para o restabelecimento da autoestima. Passando quase desapercebido no catálogo da Apple Tv+, o seriado britânico Slow Horses nos leva para o mundo da espionagem em seis episódios eletrizantes e com algumas reviravoltas. Protagonizado pelos ótimos Gary Oldman e Kristin Scott Thomas, a produção consegue um equilíbrio entre as profundezas emocionais de uma série de pessoas afetadas profissionalmente por um rebaixamento e um emaranhado de situações que envolvem os mistérios dessa primeira temporada. Surpreendente e empolgante, talvez essa seja a série que você está procurando.


Na trama, conhecemos os Slow Horses, um grupo de agentes da inteligência britânica que foram colocados para escanteio, indo para uma espécie de segunda divisão da espionagem local. Esse grupo é liderado pelo enigmático Jackson Lamb (Gary Oldman), um homem com um passado misterioso, deveras arrogante, que esconde segredos. Certo dia, o grupo descobre uma espinhosa trama que envolve mentiras no alto escalão da inteligência e um sequestro de um jovem. Assim, o destino deles se encontra com a poderosa Diana Taverner (Kristin Scott Thomas), uma das chefes de um setor do MI5.


Cheio de saídas para os conflitos de seus amargurados personagens, Slow Horses caminha em sua estrutura principal na modelagem emocional desse grupo de pessoas que foram punidas ou até mesmo rebaixadas da central de inteligência da Inglaterra. Assim, vamos conhecemos aos poucos e melhor esses personagens que precisam reunir as qualidades que possuem para trabalhar em equipe e assim chegar ao objetivo que chega quase ao acaso no colo deles. Tem uma mulher mais velha e misteriosa, tem um agente que está se separando da esposa e se apaixona por uma integrante do grupo, tem um agente qualificado que errou de forma chamativa em um treinamento. Tudo é muito misterioso mas com brechas para melhores desenvolvimento em próximas temporadas (inclusive já foi renovado para mais duas).


O foco acaba sendo a resolução do mistério que rege as ações da primeira temporada, uma embolada trama cheia de conflitos de interesse que jogam o grupo de um lado para o outro comandados por um líder cheio de duvidosas atitudes que parece a cada diálogo negociar situação de um passado escondido. Slow Horses deixa muita lacunas nessa primeira temporada e com possibilidades aos montes de desenvolvimento dos ótimos personagens.



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23/07/2022

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Pausa para uma Série: 'Ruptura'


E se você pudesse dividir seu tempo de trabalho com seu tempo em casa não lembrando de nada em quanto estiver em um deles? Cheio de atalhos para instigar nossa curiosidade, o roteiro de Ruptura é algo sublime que nos faz refletir sobre a sociedade, o trabalho e a questão descontrolada do avanço da tecnologia. Esses são alguns dos ingredientes de uma das mais aclamadas séries dos últimos tempos que tem alguns episódios dirigidos por Ben Stiller. Indicado a muitas categorias no Emmy 2002, o projeto nos leva a pensar sobre quão profundo pode ser a natureza humana por meio de metáforas que traçam duas realidades que coexistem.


Na trama, criada por Dan Erickson, que é uma das mais difíceis de se definir por conta de seu campo amplo, conhecemos Mark (Adam Scott), um funcionário de uma misteriosa e poderosa empresa chamada Lumen. Ele acaba de ser colocado como líder de uma equipe de funcionários que aceitaram serem submetidos a uma situação onde suas memórias foram divididas entre o seu trabalho e sua vida fora dele. Basicamente: quando eles estão no trabalho não lembram de nada do mundo fora dali, e quando eles estão em suas respectivas casas não lembram de nada do trabalho. Até que um dia um ex-colega deles de trabalho, que conseguiu sair dessa situação, acaba fazendo contato com o Mark de fora do trabalho. A partir disso, o drama vira um misterioso labirinto de descobertas convergindo das duas realidades.


Totalmente fora da caixa, vamos acompanhando, em meio a muitas críticas à sociedade, uma série de explicações (algumas deixadas nas entrelinhas) sobre alguns porquês. Num primeiro momento tudo é muito estranho mas aos poucos somos guiados para as rotinas, trabalho e vida pessoal, de um homem, ex-professor de história, amargurado por uma grande perda que decide ter em sua vida algumas horas para não pensar na tragédia. Concluímos que os outros personagens (todos ótimos) também seguem a mesma linha de pensamento com seus porquês mas isso é um mistério mais para próximas temporadas. Dentre os coadjuvante, ótimos arcos complementares, Christopher Walken, John Turturro e Patricia Arquette são alguns dos ótimos nomes do elenco.


O suspense chega primeiro na forma de entendermos o que seria a Empresa Lumen a partir dos achados dos dois paralelos de Mark que de maneira muito inteligente parecem colidir no mesmo objetivo. E esse suspense se mantém constante quando observamos os outros misteriosos personagens, a manipulação feita fora da empresa, as descobertas de Mark e sua equipe sobre outras portas dentro do lugar onde trabalham. O perigoso recorte sobre o controle da mente abre brechas para milhões de teorias sobre o que seria aquele experimento, quais seriam os reais objetivos da empresa nessa divisão entre trabalho e vida pessoal.


Você acaba a primeira temporada e as perguntas ainda são muitas mas já dá para ter uma noção das ótimas surpresas que chegarão na continuação da série. Os longos episódios buscam mastigar os detalhes não dando de bandeja todas as explicações e ainda abrindo nossa curiosidade com reviravoltas constantes. Simplesmente fabuloso!



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24/03/2022

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Pausa para uma série - Suspicion (1a Temporada)


Quando um embolado roteiro nos levam a respostas vagas. Uma das estreias no universo dos seriados no ano de 2022, Suspicion, disponível no catálogo da Apple TV + é um drama misturado com suspense que mostra o poder de uma chantagem e as consequências que sobram para muitas pessoas que acabam envolvida. Buscando ser profunda nas razões e completamente rasa nas questões políticas envolvidas, o seriado se perde em muitos momentos, abrindo portas que ficam sem respostas talvez focando em próximas temporadas com mais respostas do que perguntas. O problema é que o grande atrativo desse projeto acaba sendo a questão de quem é que está por trás do sequestrado que ronda a mente dos envolvidos, muito pouco para prender a atenção por completo.


Na trama, conhecemos a magnata das comunicações Katherine (Uma Thurman), uma poderosa mulher que vê seu mundo revirar quando seu filho é sequestrado em um hotel nos Estados Unidos por pessoas mascaradas. Logo, os criminosos começam a fazer ameaças expostas ao público colocando a personagem em uma situação complicada por conta de questões do passado. Paralelo a isso, a polícia acaba encontrando alguns suspeitos que recentemente viajaram da Inglaterra para os Estados Unidos e assim vamos acompanhando os dramas desses personagens em fuga sem sabermos se algum deles é realmente culpado por alguma parte desse sequestro.


O mistério por trás do sequestro acaba sendo o grande ponto chamativo de um roteiro preguiçoso que busca em uma criatividade confusa confundir o público com as ações inconsequentes de seus personagens. Optando por uma profundidade rasa quando o assunto é política, fica difícil de entendermos os motivos por completo, como se dessem uma chave de uma porta para nós que simplesmente não abre. O papel da polícia nessa história é quase um show de comédia, a junção entre autoridades da Inglaterra e dos Estados Unidos conseguem perder seus investigados a todo instante e ficam mais perdidos que o público nesse embaralhado de cartas.


Pode ser que as próximas temporadas desse seriado apresentem, enfim, respostas mais concretas sobre os porquês de algumas ações dos personagens. Até lá, a temporada terminou e tudo continua muito complicado.

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10/02/2022

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Crítica do filme: 'Finch'


A exposição ao que não é previsível. Com referências a Isaac Asimov, ao filme do início da década de 70 Corrida Silenciosa (Silent Running), Finch é um road movie de um homem em sua solidão num planeta desabitado e seus experimentos robóticos com adição de inteligência artificial. Produzido por Robert Zemeckis (diretor de Forrest Gump), o projeto possui uma narrativa lenta e demasiadamente explicativa nos detalhes o que atrapalha o andamento da história já que muitas coisas que aparecem são auto explicativas e poderiam ser entendidas como algo implícito não só sobre as ações mas também sobre o contexto geral. Se focarmos na relação inusitada de pai e filho que se estabelece o filme cresce em reflexões. Escrito pela dupla Craig Luck e Ivor Powell, dois debutantes em roteiros para longas-metragens, esse é o segundo longa-metragem da carreira do cineasta britânico Miguel Sapochnik.


Na trama, ambientada em uma Terra pós apocalíptica, acompanhamos o engenheiro Finch (Tom Hanks) que conseguiu sobreviver ao caos radioativo que se tornou caminhar pelo nosso planeta se refugiando na empresa onde ele trabalhava. Lá mora com ele seu cachorro, o grande amor de sua vida. Finch não está bem de saúde, pelo visto parece que a radiação a que foi exposto sempre que ia buscar comida ou algum elemento vital foi alta demais fazendo com que ele comece a construir um novo robô e o faça ensinar sobre o ser humano. O plano é fazer o robô cuidar do seu cachorro caso seja preciso. Assim, Finch e companhia embarcam em uma jornada rumo a lugar mais seguro.


Como fazer para sobreviver em um planeta cheio de problemas e sem saber se existem outros sobreviventes? A rotina acaba sendo algo importante para Finch. Disciplinado, bate o cartão do ponto da empresa como se fosse mais um dia de trabalho, organiza seu tempo para o estudo e assim conhecimento da situação em que vive, e, principalmente o que precisa fazer para sobreviver em um recorte onde a vegetação, comida, alimentos, quase não existem mais.


Uma relação de pai e filho é estabelecida, um homem e um robô. Os dilemas, os aprendizados e de alguma forma vemos como um acaba ajudando o outro nesse jornada quase sem esperança rumo a um destino incerto em um planeta devastado talvez até mesmo pela ação do homem.


Finch, em meio à poeira, fumaça, radiação, dramas e conflitos deixa sua marca de emoção quando pensamos que a vida nunca deve ser vivida sem alguma esperança, seja no mundo que for.



 

 

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Crítica do filme: 'A Tragédia de Macbeth'


A eterna discussão sobre os limites do desejar. Uma das mais curtas peças de Shakespeare ganha mais um recorte, uma adaptação para a telona, dessa vez sob a chefia do craque Joel Coen. A Tragédia de Macbeth disponível na Apple Tv +, mostra a questão do regicídio, do orgulho, da ambição, da quebra da moralidade em um texto impecável, com intrigantes personagens, onde a profundidade e a atemporalidade impressionam. No papel principal, o espetacular Denzel Washington que foi indicado ao Oscar de Melhor Ator nesse ano por essa sua impressionante atuação.


Na trama, conhecemos Macbeth (Denzel Washington), um grande soldado e lorde escocês que após ter um inusitado encontro com bruxas, acaba entrando na paranoia de executar o que lhe foi falado que seria seu destino. Assim, ele e sua esposa, Lady Macbeth (Frances McDormand), resolvem criar um plano maquiavélico que envolve a morte do atual rei Duncan (Brendan Gleeson).  


Escrito no início de 1600 e com diversas versões que sempre buscaram mostrar as forças dos conflitos ligados as consequências das atitudes de seu protagonista, a essência de Macbeth é fazer refletir sobre os limites do ser humano em contraponto a seus sentimentos. Aqui não é diferente. Os paralelos sobre a expressão do medo, a paranoia que chega sem dias para ir embora, o caos emocional que é instaurado na cabeça e corpo do ambicioso personagem ditam o ritmo eletrizante dos arcos.


Há um prólogo que podemos definir como uma queda de braço entre o ceticismo e a ambição. O primeiro é o pensar inicial do protagonista que só apenas tendo o orgulho ferido se completa pela ambição de sua cruel esposa. Nos atos em seguida, vemos o clímax se dividir sob a questão da ação e a consequência. Um elo de interseção aqui nesse longa-metragem é o uso do preto e branco como imagem, até mesmo linguagem, ao lado do tempo, espaço, som. Coen parece buscar explorar o lado psicológico, como se as linhas dos personagens estivessem traçadas pela intensidade de suas características emocionais, a ganância até o fim, a dor até o fim, a culpa até o fim.   


Parece que estamos em um teatro, acho até que a intenção foi essa. Para quem não está acostumado com os profundos e reflexivos textos de Shakespeare pode achar o filme difícil, ou até mesmo chato. Mas não se engane por completo caro cinéfilo, dê uma chance ao filme e vá até o fim. Esse filme é muito reflexivo dentro de um recorte cirúrgico e completamente atemporal.

 

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09/02/2022

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Crítica do filme: 'Palmer'


Os dilemas das segundas chances. Lançado em 2021 no streaming da Apple Tv+ , o longa-metragem Palmer é um drama que mostra as reviravoltas na vida de um ex-detento que perdeu sua vida por conta de um ato violento anos atrás e agora se vê em meio a uma série de decisões que envolvem sua vida e a de uma mãe e filho. Em seu segundo longa-metragem de ficção, o cineasta Fisher Stevens busca captar a profundidade dos dilemas de um homem buscando novas escolhas para sua vida e as relações de uma família disfuncional e como os outros enxergam esses conflitos. No papel principal, um competente Justin Timberlake.

Na trama, conhecemos Palmer (Justin Timberlake), um ex-atleta com bolsa na faculdade que acaba se metendo em uma enorme confusão, sendo preso e passando bastante tempo na prisão. Ele volta pra casa da avó e assim busca recomeçar sua vida. Paralelo a esse momento que passa de sua vida, o destino colocar em seu caminho Sam (Ryder Allen), um jovem garoto que mora com a drogada mãe Shelly (Juno Temple) no terreno da avó de Palmer. Aos poucos Palmer e Sam vão se aproximando e um tenta aprender mais com o outro.


Escrito por Cheryl Guerriero, o projeto bate na tecla das relações familiares. Sobre isso, enxergamos a de Palmer com sua avó, o primeiro cheio de impasses tendo que lidar com todos os tipos de problemas que vão desde o preconceito contra o fato dele ser um ex-detento até as dúvidas que sua avó tem ainda sobre a índole dele. Também enxergamos a relação de Sam com sua família, praticamente abandonado por longos dias por uma mãe com problemas com drogas e a aproximação dele com Palmer e sua avó na esperança de uma novo lar ou pelo menos referências mais positivas para sua vida.


Palmer é um filme cheio de camadas quando pensamos em emoção. O fato dos personagens serem introspectivos nos deixam margem para complementos do que não são ditos mas que são demonstrados nas ações dentro dos conflitos que aparecem ao longo das quase duas horas de projeção.  


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03/01/2022

Crítica do filme: 'O Canto do Cisne'


Os confrontos com o eu, o seu, o meu. Disponível no catálogo da Apple Tv +, O Canto do Cisne possui um roteiro engenhoso onde é preciso muita paciência para um entendimento completo do que acontece. Falando sobre família, escolhas, dores e amores, o projeto escrito e dirigido pelo cineasta irlandês Benjamin Cleary nos leva a uma jornada existencial em um futuro não longe daqui. No papel principal um dos mais competentes atores do momento Mahershala Ali que mais uma vez emociona do início ao fim na imersão profunda de um personagem extremamente complicado.  


Na trama, conhecemos o artista Cameron (Mahershala Ali) que se encontra em anos no futuro perdido em uma notícia que abalou seu pensar: ele está com uma doença terminal e não sabe como contar para sua família. Assim, acaba explorando uma possibilidade que chega por meio da doutora Jo (Glenn Close), que é criarem um clone dele para esse viver o resto da vida que ele não pode viver ao lado da família e por consequência defendendo da dor da perda sua esposa Poppy (Naomie Harris) e seu filho pequeno. Uma escolha complexa, cheia de variáveis precisará ser tomada.


Repleto de caminhos representativos em torno do luto, da perda, o filme nos levar a pensar em variáveis criativas que acabam vindo com uma responsabilidade, também desestrutura qualquer alicerce emocional. As facetas do personagem, desde seu lado amoroso, a construção de seu amor pela esposa, pela família, até os dias atuais, em contraponto, onde sofre praticamente sozinho por conta da doença que não quer conversar são mostradas em detalhes deixando a narrativa lenta em muitos revelando os sentimentos dos personagens de forma profunda. Um trabalho emocionante e intenso de Mahershala Ali, passa emoção a cada segundo em cena.


Os avanços tecnológicos ganham reflexões quando pensamos nas ações da Dra. Jo ligadas à ética, e também do uso das gravações em lentes que mesmo dinâmicas deixam o ser humano presos a informações gravadas artificialmente. Também na questão clonagem e os paradigmas da passagem de memória, teorias que filósofos do cotidiano nenhum podem negar ser interessante pensar.


Swan Song tem cenas lindas, nos embates sobre as escolhas, como se nas dores encontrássemos caminhos para o não sofrer dos que estão ao nosso redor. Com quase duas horas de duração e atuações marcantes, o filme promete emocionar a muitos.

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20/07/2020

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Crítica do filme: 'Greyhound'


Como faz falta uma sala de cinema! Com um orçamento de cerca de 50 milhões de dólares, com roteiro escrito pelo próprio Tom Hanks baseado no livro The Good Shepherd, de C.S. Forester, Greyhound, nova estrela no catálogo da Apple Tv é um filme de guerra sem muitas pausas para absorvermos os inúmeros termos náuticos de combate em meio a um oceano atlântico que lembra o bom e velho batalha naval que jogávamos na infância. No papel principal, também Hanks com pitadas de um pouco mais do mesmo visto em outros filmes. Pena que esse filme não conseguiu chegar aos cinemas, pelo menos ainda não, pois as cenas muito bem conduzidas e o som principal deixariam o espectador com uma interação mais profunda com tudo que acontece na tela aos longos dos menos de 100 minutos de projeção.

Na trama, dirigida pelo cineasta Aaron Schneider, conhecemos o capitão da marinha norte-americana Ernest Krause (Tom Hanks) que tem uma missão muito complicada, na fase inicial da Segunda Guerra Mundial, liderar diversas embarcações de mais de três dúzias de navios norte-americanos e britânicos a cruzar o enorme Oceano Atlântico e protege-los dos ataques perigosos dos enormes submarinos nazistas. Ao longo de todo o filme, vamos vendo toda a angústia e pressão na cabine de comando.

Um dos méritos do filme é conseguir criar o clima de tensão, principalmente pelo comandante interpretado por Hanks, a cabine onde acontecem as maiores situações de perigo e decisões que influenciam todo o comboio é vista de perto pelo espectador graças à boa condução da direção dessas cenas por Schneider. A experiência com certeza foi pensada para ser exibida na tela enorme dos cinemas pelo mundo, muitas cenas com ótimas técnicas são vistas e passam tamanha realidade. Recheado de termos técnicos de combate em alto mar, o filme não deixa marca no coração cinéfilo mas não deixa de ser um competente trabalho.

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21/06/2020

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Pausa para uma série! - #3 - Em Defesa de Jacob (Defending Jacob)


Os mistérios de um mente e os segredos a quatro paredes. Quase desapercebia, estreou no dia 24 de abril (dia do meu aniversario inclusive J ) na ainda pouco conhecida Apple Tv (streaming que já tem no Brasil mas somente para algumas tvs samsungs e dispositivos apple) a minissérie Em Defesa de Jacob, Defending Jacob no original, o projeto é baseado numa obra de sucesso escrita pelo escritor William Landay. Durante os intensos oito episódios vamos conhecendo uma família perfeita norte-americana que se vê envolvida em um crime bárbaro mudando para sempre a rotina dentro e fora dessa casa. Viciante, impactante e com reviravoltas eletrizantes. Além disso, atuações impecáveis de Chris Evans, Jaeden Martell, da ótima atriz britânica Michelle Dockery e da veterana Cherry Jones. Do primeiro inclusive, podemos afirmar que é a grande atuação de sua carreira.

Na trama, conhecemos a família Barber: Andy (Chris Evans), o pai, principal promotor da cidadezinha onde vivem e bastante querido pela comunidade; Laurie (Michelle Dockery) um profissional exemplar e super mãezona; Jacob (Jaeden Martell), o único filho do casal que possui uma personalidade introspectiva e não tem muitos amigos. Tudo desmorona em pouco tempo para essa família quando Jacob é acusado de assassinato de um colega do colégio. O pai, no início, promotor titular do caso, é dispensado e praticamente usa todo seu tempo e conhecimento para tentar inocentar o filho. A mãe, desmorona aos poucos e a cada episódio que passa, desconfiando mais do filho.  Assim, a série vai caminhando para uma decisão no tribunal que deixará marcas em todos. A minissérie conta com a participação de um brasileiro, o ator goiano Guilherme Vieira que atua como um ‘paralegal’ e repórter.

Uma minissérie viciante, impactante e com reviravoltas eletrizantes. Não só sendo um drama de tribunal, conhecemos a fundo os problemas e segredos da família Barber. Claro que numa série com a premissa inicial envolvida no tema se Jacob matou ou não o amigo, queremos descobrir o que houve. Porém, por incrível que pareça a minissérie toma rumos tão profundos sobre a família que o julgamento até certo ponto fica em segundo plano, pois, há uma lógica conclusiva de que não importa o resultado do julgamento, muita coisa caminhou para estradas sem voltas e as dúvidas sempre vão permanecer através dos fatores que impulsionaram as acusações sobre Jacob.

Confissão ou fantasia? Como todo bom advogado, o pai, (interpretação de gala do ex-Capitão América Chris Evans) usa de todos os argumentos possíveis para se fazer acreditar na inocência de seu único filho. Mas percebemos que há um sério conflito nessa questão. Toda a família é culpada? Dna Assassino? O drama caminha por diferentes estradas para nos apresentar a visão e pensamentos dos pais sobre o ocorrido. É como se Jacob já fosse culpado ou inocente na visão de cada um deles.
Com nota de 8.1 no Imdb (até o momento e merecidamente) e aclamada pela crítica, com todos os méritos, Defending Jacob é um dos melhores projetos que lançaram nesse difícil ano para a indústria cinematográfica e televisiva do mundo.

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