Mostrando postagens com marcador Mercado Play. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mercado Play. Mostrar todas as postagens

03/06/2022

,

Crítica do filme: 'Tantas Almas'


Os horrores da violência e as formas de lidarmos com o luto. Trazendo as dores de um pai que acabara de saber que perdera dois de seus filhos, Tantas Almas nos mostra os horrores de uma guerra civil, em terras sem lei, onde grupos que tem a estrutura e a organização de um exército, sem sê-lo, acabam mandando e desmandando modificando destinos diariamente. Há enormes críticas por todos os lados, um filme que mete o dedo na ferida de um país marcado pela violência. Escrito e dirigido pelo cineasta colombiano Nicolás Rincón Gille.


Na trama, conhecemos José, um homem que sustenta sua família faz anos através da pesca em uma região litorânea na Colômbia. Certo dia, após voltar de uma longa pesca de noite, descobre que integrantes de uma força paramilitar mataram seus dois filhos e os jogaram no rio. Reunindo forças de onde não tem José resolve ir atrás dos corpos dos dois filhos em um perigoso trajeto.


A questão do luto é um dos focos dessa dramática história. Com o objetivo de achar os corpos dos filhos, sem esperança de encontrá-los com vida, José parte em um busca de um desfecho, de completar um ciclo básico quando pensamos nas questões da humanidade. Um pai nunca deveria enterrar um filho, imagina dois. A dor e sofrimento do mesmo se tornam sua força para concluir seu objetivo.


Com poucos diálogos, o filme navega pelas águas conturbadas de uma região colombiana descontrolada, comandada por forças que se caracterizam pela violência. O olhar de Jose nos apresenta a mesma perplexidade com o paralelo das guerras urbanas que vemos nas grandes cidades não só do Brasil mas de todo o mundo, onde a lei do mais forte parece reinar sobre as leis da constituição.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Tantas Almas'

09/07/2021

,

Crítica do filme: 'O Charlatão'


A pior punição é ter uma escolha. Representante da República Tcheca ao Oscar em 2020, O Charlatão, novo trabalho da veterana cineasta polonesa Agnieszka Holland conta partes de uma história real de um homem, sua intuição, sua fé, seu amor proibido e sua ciência que atravessou passagens da antiga Tchecoslováquia nos períodos antes da Grande Guerra, durante a ocupação nazista e a administração comunista. Atendendo centenas de pacientes por dia e taxado de Charlatão pela Imprensa e grande parte dos que desconfiavam de sua ciência, o protagonista, introspectivo, parece perdido dentro de seu egocentrismo e isso é notório nos flashbacks que chegam como preenchimentos de lacunas deixadas pelos arcos iniciais.


Na trama, conhecemos em diversas passagens de sua vida o curandeiro Jan Mikolásek (Ivan Trojan) que na adolescência, depois de ajudar a irmã que estava à beira de ter a perna direita amputada, começa a acreditar que possui um dom ou mesmo alguma habilidade quase inexplicável pelo seu conhecimento de ervas medicinais. Filho de um jardineiro, ele possui um relacionamento muito complicado com o pai que é rompido de vez quando o protagonista foge de casa e busca mais explicações para suas técnicas que se baseiam em diagnósticos por meio de análises das urinas dos que procuravam sua ajuda, técnica que lapidou com uma curandeira no início de sua fase adulta. O tempo passa e a questão da fé e também do amor começam a ganhar protagonismo na sua reclusa vida.


O filme é denso, com arcos um pouco sonolentos que usa dos flashbacks para encontrar seu ritmo, seu dinamismo. Às vezes parece muito confuso com explicações das consequências antes de conhecermos os fatos. Traz em seu contorno a questão da fé, deixando entrelinhas implícitas das guerras internas que o protagonista travava consigo mesmo, talvez por não conseguir perdoar ou achar que estava pecando frequentemente. Até punição vemos, como nas cenas em que aparecem as marcas roxas em seus joelhos. Ligado nessa punição mencionada, sua vida amorosa ganha grande parte do filme além de seus contornos dramáticos, principalmente por viver a limitação de seu amor (correspondido) pelo seu assistente casado Frantisek (Juraj Loj) mas não podendo sair do armário.


O filme chegou aos cinemas brasileiros no mês de julho após passagens por alguns Festivais de nosso país. Herbalista certificado ou charlatão? Muitas perguntas são feitas indiretamente sobre essa ciência da não medicina clássica, nesse combate de doenças com as armas da natureza. Mas quem estava certo? Os que duvidam ou os que acreditavam? Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Charlatão'

12/06/2016

Crítica do filme: 'Chocolate'



Respeitável público cinéfilo, chega diretamente da França um dos filmes mais carismáticos que vão entrar no circuito em breve aqui no Brasil, Chocolate. Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês deste ano o longa-metragem dirigido pelo ator e diretor Roschdy Zem conta a história do primeiro palhaço negro da França e ao longo dos 110 minutos de projeção vamos acompanhando a trajetória deste grande artista. Para dar vida ao eterno Chocolate, o carismático ator Omar Sy (que ficou bastante conhecido pelo filme Intocáveis) que mais uma vez mostra todo seu talento. Outro grande destaque do longa metragem é a atuação fenomenal do ator suíço James Thierrée, neto de Charlie Chaplin. 

Na trama, conhecemos a trajetória de Rafael Padilha, um ex-escravo que nasceu em Cuba no ano de 1868 e foi vendido quando ainda era criança. Tentando sobreviver mesmo sem ter a documentação para viver na França, resolve embarcar no universo mágico do circo e assim após encontrar-se com George Footit (James Thierrée), um palhaço em franca decadência, resolvem juntos montar um espetáculo em dupla que é um tremendo sucesso num dos principais teatros de uma Paris que respirava grandes espetáculos. Mas nem tudo são flores na vida de Chocolat, seu vício em jogos e bebidas acabaram levando sua carreira de sucesso para um sofrimento sem limites. 

Por conta do dinheiro fácil ganho e seus vícios oriundos de má amizades que fez quando estava no clímax de sua carreira, Chocolate sofre bastante durante toda sua trajetória. Ingênuo e sem muitos amigos, encontra um porto seguro apenas quando está por perto de Footit. Quando resolve embarcar em uma trajetória solo, montando o espetáculo Otelo, de Shakespeare, Chocolate sofre durante e novamente com a questão do preconceito. Toda a trajetória é mostrada com eficiência e boas ligações entre um arco e outro. 

Nem mesmo quando o amor entra na história do artista sua vida entra em equilíbrio. Após uma tarde de autógrafos nas ruas de Paris, Chocolate conhece a linda enfermeira Marie Hecquet (Clotilde Hesme), mulher que o acompanha até sua prematura morte em 1917 causada por um desenvolvimento de uma tuberculose não combatida. Trazendo um paralelismo para a paixão de nosso país, a carreira de Chocolate é muito parecida com a de muitos ex-jogadores de futebol que nos bons momentos eram conhecidos, tinham fama e dinheiro mas que após o repentino sucesso , alguns, caíram no esquecimento e perderam quase tudo o que conquistaram. 

Com um orçamento de cerca de 18 milhões de dólares, Chocolate possui uma direção muito competente de Roschdy Zem além de atuações que transformam esse drama em um delicado e profundo retrato sobre o mundo artístico francês.  
Continue lendo... Crítica do filme: 'Chocolate'

04/02/2015

Crítica do filme: 'Força Maior'

O inimigo é a imagem que temos do herói. O cineasta sueco Ruben Östlund resolve voltar as telonas de todo mundo para contar uma história tensa sobre medos, constrangimentos e uma relação deteriorada por uma ação inconsequente. Com uma trilha sonora moldada a partir de solos intensos de violinos, Força Maior é um daqueles filmes que causam um grande impacto em todos nós durante as duas horas de fita. O diretor, que também assina o roteiro, dá um show atrás das câmeras, a cena da avalanche, epicentro da trama, é simplesmente eletrizante.


Na trama, conhecemos uma família sueca que vai para uma estação de esqui para passar um período de férias. Tudo ia bem até que um dia, almoçando em um restaurante ao ar livre, uma avalanche inesperada surge, dando um grande susto. Na hora em que estava se aproximando o fenômeno natural, o pai pega suas luvas e celular e sai correndo, deixando o restante da família para trás. Agora, a partir desse ato, terá que viver as consequências que impulsionarão brigas e desconfianças com sua mulher.


O sofrimento causado pela inusitada situação é enorme,  atinge todos os membros da família com a mesma intensidade. A mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), não se conforma que o marido não admita que saiu correndo por medo da avalanche. O homem, Tomas (Johannes Kuhnke), fica constrangido toda vez que o assunto volta a tona em conversas, parece lutar para não admitir sua ação no trauma em que passaram, é uma vítima de seus próprios instintos. Outros casais (e seus outros problemas) vão passeando pela história e os protagonistas precisam segurar seus pensamentos e tentam blindar a família a todo instante. Porém, o assunto da atitude durante a avalanche nunca perde espaço e propaga uma série de reações inesperadas.   


O diretor realiza um trabalho muito competente atrás das câmeras. Ajuda a compor várias cenas emblemáticas como: a forçada não troca de olhares no espelho do banheiro, a tentativa de sexo entre o casal de protagonistas visto pelo reflexo de uma janela, entre outras. A capacidade de gerar ao público um raio-x completo sobre os problemas que um relacionamento pode enfrentar é feito com louvor.


O longa-metragem, que figurou entre os melhores filmes do cinema europeu ano passado, chega ao Brasil em março e promete deixar a plateia satisfeita pelo belo trabalho de Östlund e todo o elenco. É um grande filme, sem dúvidas.
Continue lendo... Crítica do filme: 'Força Maior'