Mostrando postagens com marcador Prime Video. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Prime Video. Mostrar todas as postagens

07/07/2025

Crítica do filme: 'Um Tipo de Loucura'


Abordando a força do amor na batalha cruel contra o declínio nas habilidades mentais, o longa-metragem sul-africano Um Tipo de Loucura – completamente escondido no ótimo catálogo do Prime Video - nos leva até uma história apaixonante, com altos graus de emoções, em uma narrativa que mergulha de corpo e a alma nos últimos elos de lembranças enraizadas de uma linda história de amor. Escrito e dirigido pelo cineasta Christiaan Olwagen, o filme deve esquentar até aqueles corações mais gelados.

Elna (Sandra Prinsloo) e Dan (Ian Roberts) se conhecem há muitas décadas e abriram mão de tudo para formar uma família sempre com o objetivo de viverem juntos até os fins dos dias. Já com três filhos e vida consolidada, Elna começa a sofrer de demência, fato que a faz ser hospitalizada e ficar longe de seu grande amor. Sem saber como lidar com a situação, Dan resolve invadir o lugar e partir com Elna para o resgate de lembranças de momentos marcantes do casal.  

Como contar uma história de amor de forma dilacerante? Partindo de um inusitado resgate – que simplifica o poder de um amar – Um Tipo de Loucura atravessa qualquer esconderijo da mesmice para nos levar até o pulsar de um subconsciente através de lapsos de memórias de um alguém com um declínio progressivo nas funções cognitivas. Apresentar esse tema já é algo valioso, que gera muitas reflexões, mas o roteiro consegue ir mais longe e mostrar o olhar de toda uma família para a situação que se apresenta.

Com o uso inteligente de flashbacks e cenas repletas de entrelinhas, a narrativa se desenrola com naturalidade e harmonia. Lançado discretamente em um dos principais catálogos de streaming no Brasil, o projeto apresenta uma história de amor que atravessa décadas, enfrentando dilemas e obstáculos – mas nada tão doloroso quanto os acontecimentos do presente. É fácil para parte do público traçar paralelos com a vida real, já que o tema toca diretamente em aspectos sensíveis da nossa realidade.

Com a demência posicionada no centro da trama – ainda que sem grandes explicações sobre os sintomas envolvidos – a narrativa abre espaço para diversas camadas significativas. Elas vão desde os conflitos sobre como lidar com a condição, que afetam toda a família, até os fragmentos de consciência da protagonista a respeito da própria realidade. Esse carrossel de emoções, com ótimas interpretações, transformam Um Tipo de Loucura é um filme necessário e certeiro para você que vive ou já viveu um grande amor.

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Um Tipo de Loucura'

04/07/2025

Crítica do filme: 'Chefes de Estado'


Colocando no centro do palco o espinhoso universo da geopolítica mundial — desta vez focando em duas superpotências — o longa-metragem Chefes de Estado mistura comédia e ação em uma narrativa explosiva, onde o sarcasmo afiado e o deboche funcionam como combustíveis para situações tão absurdas quanto divertidas.

É um filme em que o impossível se torna possível, sempre com uma boa dose de irreverência. Dirigido pelo cineasta russo Ilya Naishuller (diretor do excelente Anônimo), o projeto, mesmo seguindo a famosa, e por vezes sonolenta, receita de bolo de muitos filmes de ação, consegue encontrar na comédia um abrigo.

Will Derringer (John Cena) é um ex-ator de filmes populares que vira presidente dos Estados Unidos. Nos seus primeiros meses de governo, ao fazer uma visita à terra da rainha, precisa dialogar com o primeiro ministro britânico Sam Clarke (Idris Elba). A questão é que os dois não se entendem já faz um tempo. Quando resolvem embarcar juntos no Air Force One rumo a uma reunião importante da OTAN, são alvos de um terrorista implacável. Assim, as duas autoridades precisarão unir forças, para desmembrar uma conspiração que coloca o mundo próximo de mais conflitos.

Para quem dá o play esperando um filme de ação exagerado e descompromissado, não está exatamente errado — essa é, sim, uma forma de enxergar o projeto. A aposta no trio clássico 'tiro, porrada e bomba' é evidente desde o trailer, deixando claro que o foco está na ação explosiva. O lado positivo é que essas cenas são muito bem executadas, com direção competente e ritmo envolvente. Naishuller já havia mostrado sua competência no universo da ação com o ótimo filme Anônimo.

O que pode diferenciar esse de outros projetos é exatamente o uso de um sarcasmo que traça paralelos hilários com o mundo real. John Cena se destaca em muitos momentos como um presidente que assume todas as facetas do homem mais poderoso do mundo. Mas quando tenta ingressar em assuntos da geopolítica, o roteiro derrapa nos exageros deixando as reflexões em segundo plano. A narrativa se projeta para gerar cenas de ação constantes mas o que brilha mesmo é a comédia aos moldes pastelão - um surpreendente trunfo - além da ótima harmonia em cena entre Cena e Elba.

Com filmagens na França e na Itália, Chefes de Estado estreou neste início de julho no Prime Video. É aquele passatempo que passa na média. Não é uma obra-prima, logo vamos esquecê-lo mas diverte, e isso é o que importa quando queremos apenas relaxar. Dê o play e tire suas próprias conclusões.

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Chefes de Estado'

20/06/2025

Crítica do filme: 'Cuckoo'


Lançando luz sobre um esquisitismo eficiente, onde as peças embaralhadas de um tabuleiro de suspense são apenas a superfície de conflitos mais profundos, Cuckoo conduz o espectador por uma trama de tensão crescente que transita por diferentes camadas de drama familiar. Escrito e dirigido pelo cineasta alemão Tilman Singer, em seu segundo longa-metragem, o projeto apresenta várias linhas a seguir até o seu decifrar.

Gretchen (Hunter Schafer) é uma jovem de quase 18 anos que, após um acontecimento, precisa ir morar com seu Luis (Marton Csokas), sua madrasta Beth (Jessica Henwick) e sua meia-irmã Alma (Mila Lieu) em um resort nos Alpes Bávaros, na Alemanha, que é o ponto de um futuro projeto de seu pai. Chegando nesse lugar, distante dos dias agitados dos Estados Unidos que está acostumada, Gretchen começa a perceber aos poucos que alguns curiosos segredos estão circulando pelo seu redor.

Cuckoo pode ser visto como um drama familiar que se abre em camadas através do inusitado, do fantástico. A protagonista, muito bem interpretada por Hunter Chafer, é um pilar de todos os enigmas que se mostram do início ao fim dos 102 minutos de projeção. Mas se você está pensando em algo mastigado, com fácil entendimento, procure outro filme.  

A trama pode parecer imprecisa em alguns momentos, demora um pouco pra ‘dar liga’, o que chama a atenção é como a narrativa consegue se desenvolver mesmo assim através dos pontos de interrogação do que vemos em cena. A construção da tensão, feita com uma eficiência quase cirúrgica, se apoia em uma combinação de ruídos ensurdecedores, personagens inquietantes, lapsos hipnóticos e visões trágicas que se repetem em um looping perturbador, nos levando pelo fascinante universo do esquisitismo e referências à algumas obras de Dario Argento.

Exibido no Festival de Berlim no ano passado e lançado diretamente no Prime Video, sem sequer passar pelos cinemas brasileiros, este terror constrói uma atmosfera densa de suspense ao mesmo tempo em que desafia a compreensão imediata de sua trama. Com uma premissa enigmática, o filme instiga a curiosidade do público, que se mantém atento na tentativa de decifrar os segredos que surgem ao longo da narrativa. Por mais estranhos que pareçam, os acontecimentos acabam se encaixando em uma lógica que se revela de forma convincente em seu desfecho.

 

 

 

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'Cuckoo'

Crítica do filme: 'Improvisação Perigosa'


Trilhando com passos largos o caminho de uma comédia camuflada de ‘nonsense’, acaba de chegar ao Prime Video um longa-metragem que coloca três aspirantes a comediantes, todos flertando com o fracasso, na linha de frente do perigo. Com uma estrutura narrativa simples e um roteiro repleto de diálogos feitos sob medida para o riso fácil e também inteligente, Improvisação Perigosa, dirigido por Tom Kingsley, aposta na ridicularização para construir uma sátira afiada sobre o insucesso.

Na vida profissional, as coisas vão de mal a pior para Kat (Bryce Dallas Howard), Marlon (Orlando Bloom) e Hugh (Nick Mohammed). Kat é uma professora de improvisação que ainda não conseguiu emplacar sua carreira como comediante. Marlon, um ator em busca do papel que mude sua trajetória, vive de pequenas oportunidades que nunca o levam ao estrelato. Já Hugh, um funcionário tímido e deslocado em uma grande empresa, vê nas aulas de improviso uma tentativa de dar algum rumo à sua vida. Certo dia, o destino cruza o caminho dos três e, sob a orientação de um agente da polícia, eles embarcam em uma missão inusitada: se infiltrar em uma perigosa gangue, criando personagens como disfarces. A partir daí, uma série de confusões e situações inusitadas está garantida.

Como inserir a comédia num clássico caminho que percorrem muitos filmes de ação? Com esse foco como objetivo e deixando as entrelinhas brilharem com o insucesso profissional em pauta, Improvisação Perigosa pode ser analisado de forma bastante profunda com camadas ocultas que enxergamos através das incertezas, de uma crise existencial. Num primeiro momento parece estarmos diante de um filme bobo, sem perspectiva, mas aos poucos vamos entendendo a leveza de um desfile de críticas sobre a sociedade, o bom e o mau, o sucesso e o desastre.

Este é aquele tipo de filme que arranca risos justamente quando menos esperamos, comprovando a eficácia de um roteiro provocativo que desafia os estereótipos e subverte a tradicional lógica entre heróis e vilões nos filmes de ação. Aqui, os dilemas reais da relação entre indivíduo e trabalho são transportados para o terreno do absurdo, sempre carregados de desespero, o que cria uma identificação imediata com o público. Mérito de uma história original criada por Derek Connolly e Colin Trevorrow, posteriormente adaptada pela dupla de comediantes britânicos Ben Ashenden e Alexander Owen.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Improvisação Perigosa'

18/06/2025

Crítica do filme: 'O Último Respiro'


Baseado em uma história real que envolve uma das profissões mais perigosas do mundo, o longa-metragem O Último Respiro vai direto ao ponto, sem rodeios, ao reconstituir um resgate inacreditável – e até hoje considerado inexplicável – ocorrido a centenas de metros de profundidade no Mar do Norte. Sob a direção de Alex Parkinson, o filme conduz o espectador por uma narrativa intensa e cheia de tensão, onde o foco e a precisão exigidos pelo ofício se chocam com variáveis incontroláveis da natureza.

Ao longo de 93 minutos, acompanhamos a trajetória de Chris (Finn Cole), um mergulhador especializado em grandes profundidades, que é escalado para uma missão de manutenção em oleodutos submarinos, ao lado de Duncan (Woody Harrelson) e Dave (Simu Liu). Quando o navio que os leva começa a sofrer com o tempo ruim, Chris acaba ficando para trás com apenas 10 minutos de oxigênio emergencial restante. Correndo contra o tempo, Duncan, Dave e toda a equipe de comando no navio buscam soluções para trazê-lo de volta.

São 30 mil quilômetros de oleodutos – tubulações subaquáticas responsáveis pelo transporte de petróleo – cuja manutenção depende exclusivamente de mergulhadores de saturação, profissionais que passam longos períodos em grandes profundidades. Partindo desse cenário arriscado, o roteiro escolhe um recorte específico: uma intensa história de sobrevivência, que concentra seu foco no clímax e nas decisões cruciais de toda uma equipe, sem se aprofundar em muitas camadas narrativas.

Movimentando-se entre thriller e drama, uma fórmula eficiente acaba sendo imposta, indo direto ao centro de suas questões, algo que se difere de muitos outros filmes que retratam resgate e mostram o sopro da tentativa de sobrevivência. Soma-se a isso uma ótima direção e ótimas atuações. O projeto, com cenas de tirar o fôlego, teve locações em Aberdeen (Escócia) e em Malta, tendo o auxílio do documentário Last Breath como referência – também dirigido por Parkinson (ao lado de Richard da Costa).

Essa história é algo até hoje sem muitas explicações científicas. A água fria e a mistura de gases com alta pressão parcial de oxigênio pode ser algo que explique o retorno intacto do mergulhador. Mas até os dias atuais esse resgate bem-sucedido é um dos grandes mistérios do mundo e aqui nessa obra, que chegou na Prime Video em 2025, vemos com real impacto todo o mix de emoções que trabalhadores numa das mais arriscadas profissões do mundo podem passar a qualquer momento do seu perigoso ofício.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'O Último Respiro'

01/06/2025

,

Pausa para uma série: 'A Melhor Irmã'


As surpresas de um homicídio contadas através de uma família disfuncional. Ao remexer traumas familiares, mostrando a bagunça da verdade de um assassinato através de personagens moralmente ambíguos, a nova série da prime video A Melhor Irmã mergulha em um drama incisivo que se entrelaça no suspense de forma organizada. Ao longo dos oito episódios, vamos criando uma imensa curiosidade sobre as verdades que vão aparecendo em doses precisas.

Baseado na obra The Better Sister, escrito pela romancista norte-americana Alafair Burke, o projeto apresenta seu ‘Casos de Família’ através dos ressentimentos e traições, um duelo entre a espontaneidade e o modelo da perfeição. O foco principal são duas irmãs e muito mais que um conflito. Em cena, brilham duas atrizes em excelência na atuação - Elizabeth Banks e Jessica Biel - nos guiando para um desfecho de tirar o fôlego.

Chloe (Jessica Biel), é um mulher bem-sucedida, editora-chefe de uma revista de sucesso, que vive sua rotina de milionária ao lado do marido, o advogado Adam (Corey Stoll), e do filho Ethan (Maxwell Acee Donovan). Sua rotina é interrompida quando Adam é brutalmente assassinado e Chloe encontra seu corpo quando chega em casa. A partir desse momento, segredos profundos sobre o casamento começam a vir à tona — incluindo a chocante revelação de que Ethan é, na verdade, fruto de um relacionamento entre Adam e Nicky (Elizabeth Banks), irmã de Chloe. Sem opções, a não ser lidar com o passado e os conflitos entre elas, Chloe e Nicky precisam superar as desavenças e encontrar soluções para os conflitos que aparecem.

O roteiro segue uma linha reta rumo ao desembaralhar os conflitos, um discurso forte e poderoso que passa pela curas das feridas mais profundas. Personagens ambíguos vão preenchendo todo o epicentro da trama dando forma a um instigante drama familiar. Passando pelas memórias nem sempre boas e as verdadeiras companhias nos momentos sombrios, as margens para surpresas se tornam constante em um esforço bem-sucedido de evitar a obviedade.

A narrativa é modelada com o auxílio de flashbacks, fato que ajuda demais para as arestas serem alinhadas. Com a investigação do assassinato indo calmamente para um plano de fundo, a luz se joga para assuntos que circulam os conflitos no presente entre as irmãs. Assim, ganhando camadas imprevisíveis, chegamos na violência doméstica, olhar para a maternidade, o alcoolismo, segredos e traumas do passado. Ainda em relação à narrativa, há um interessante ponto que merece destaque: poucos personagens são escanteados, cada subtrama exerce a função de complemento e se cruzam com a história principal.

A Melhor Irmã é uma série que surpreende, não tanto pelo suspense mas pelos fios de reconstrução de laços entre duas irmãs marcadas por eventos que fizeram seus caminhos se distanciarem - e novamente se unirem. É uma série que te prende desde o primeiro episódio. Se você está em busca de uma série envolvente para maratonar, essa é a escolha certa para dar o play.

Continue lendo... Pausa para uma série: 'A Melhor Irmã'

11/05/2025

Crítica do filme: 'Fight or Flight'


Você pode chamar a atenção com um filme de várias formas. Uma delas é reunir no pacote vários clichês de um gênero cinematográfico e criar sem limites uma história que atira para todos os lados. Se isso vai dar certo ou não, aí é preciso analisar outras variáveis. No curioso novo filme do catálogo da Prime Video, Fight or Flight, tem um pouco de tudo quando liga-se um liquidificador de loucuras marcado pelo humor perturbado - e por partes sem sentido - onde acompanhamos horas tensas de um carismático protagonista em busca de uma volta pra casa.

Lucas (Josh Hartnett) é um ex-agente da CIA que após uma situação em uma missão é praticamente retirado do sistema, conseguindo abrigo em Bangkok. Anos se passam e ele recebe um telefonema de Katherine (Katee Sackhoff), uma ex-namorada e atual chefona de uma rede poderosa que está com um enorme problema. Tendo em vista a possibilidade de voltar para casa, Lucas resolve aceitar um trabalho perigoso que só se complica quando entra em um avião repleto de assassinos impiedosos.   

O roteiro escrito por Brooks McLaren e D.J. Cotrona não tenta ser igual a tantos outros, busca sua originalidade, reunindo ideias batidas de filmes de ação e transformando numa locomotiva de possibilidades que logo se prende como chiclete em um discurso esporrento. O tempo certo da comédia em meio ao banho de ação é cirúrgico, a cereja do bolo tanto desejada pelas produções. Quando o entretenimento chega exatamente do fato de não se levar a sério, sempre encontramos pontos interessantes e que de alguma forma chama a atenção do público.

James Madigan, em seu primeiro trabalho como diretor de longas-metragens, vem de uma carreira com mais de 25 trabalhos na parte de efeitos visuais. Essa experiência nessa parte importante do processo cinematográfico é vista a todo momento. Com uma direção segura e bastante criativa, transforma – principalmente os atos finais dessa história - em um baile divertido tendo mentes perturbadas na frente das ações. Em relações as atuações, vale o destaque para Josh Hartnett, hilário no papel.

Com sangue por todos os lados, coreografias fantásticas, o clima de tensão debochado logo vira um show de maluquices onde acompanhamos o anti-herói e seus problemas na insistência de não desistir. Os estereótipos imersos nas ironias das paródias se grudam como chicletes em paralelos também com os clichês mais batidos do mundo, uma fórmula que encaixa como uma luva. Nesse show chamativo de um aparente desencontro acaba nascendo um filme eficiente que tem tudo para virar uma franquia.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Fight or Flight'

07/05/2025

,

Pausa para uma série: 'Étoile: A Dança das Estrelas'


A californiana Amy Sherman-Palladino já é um nome bastante conhecido dos amantes das séries. Mente criativa por trás de sucessos como: Gilmore Girls e Maravilhosa Sra. Maisel, em 2025 chega com seu novo trabalho: Étoile: A Dança das Estrelas. Percorrendo os bastidores de duas companhias de balé de forma sarcástica e com muito humor, trazendo problemas atuais para uma arte centenária - além de um ótimo elenco - o projeto se consolida como uma obra-prima de oito episódios que emociona e faz rir na mesma intensidade tendo a cultura como força motriz.  

Com um texto inteligente e empolgante – que nunca escapa de seu discurso afiado - conhecemos os conflitos de bailarinos, administradores, mães e filhas, pessoas influentes querendo se impor, além de trazer para debates questões sociais importantes quando o assunto é contemplar em vez de postar. Cheio de críticas pelas suas entrelinhas, essa nova série da Prime Video é viciante, daquelas para maratonar em um único dia!

Jack (Luke Kirby) é o administrador de uma renomada companhia de balé norte-americana que passa por grandes sufocos na tentativa de renovar o interesse do público para os espetáculos. Sofrendo do mesmo problema, Geneviève (Charlotte Gainsbourg) se encontra numa forte pressão dos patrocinadores da sua companhia, também famosa, na França. Quando surge uma mirabolante ideia, trocar os talentos para um intercâmbio durante um período, a vida desses dois administradores trará conflitos que vão do céu o inferno.

O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção. Nossos olhares se desdobram para acompanhar subtramas profundas que logo atingem os epicentros dos sentimentos. Como não amar Geneviève – interpretada pela fabulosa atriz Charlotte Gainsbourg – uma mulher na casa dos 40 anos que vive um furacão no seu presente, tendo que lidar com o problemas de seu trabalho e ainda se entendendo no momento atual da vida pessoal. Outra personagem que chama a atenção é Cheyenne (Lou de Laâge), um ponto de encontro de muitos dos conflitos que aos poucos vai ganhando camadas para a entendermos melhor.

Mas o ‘pulo do gato’ aqui é conseguir chegar ao interessante por meio de bastidores de uma espécie de empresa. As vertentes administrativas aqui ganham desdobramentos hilários, é um shoe de sofrimentos recompensadores que saltam aos nossos olhos. O roteiro consegue adaptar o contemporâneo com uma arte cultural centenária por meio dos deslizes das emoções e também do lado moral. Mesmo quem não conhece o universo do balé vai se deliciar com os ótimos debates que ganham tons provocativos através do sarcasmo em cada um dos episódios.  

 

Continue lendo... Pausa para uma série: 'Étoile: A Dança das Estrelas'

01/03/2025

Crítica do filme: 'O Reformatório Nickel'


Com uma narrativa que chama a atenção com sua criatividade e dinamismo, um dos indicados ao Oscar de Melhor filme em 2025, O Reformatório Nickel, mostra desde seu arco inicial a força que esse filme teria para trazer através de memórias dolorosas reflexões importantes para a sociedade. Esse é um daqueles filmes que você assiste e não esquece.

Ambientado em partes na década de 1960, acompanhamos Elwood (Ethan Herisse) um jovem negro, cheio de sonhos, que um dia após pegar uma carona acaba sendo enviado injustamente para um reformatório conhecido pelo tratamento abusivo. Nesse lugar, vive experiências marcantes numa época de separação racial e enorme preconceito, encontrando na amizade do colega Turner (Brandon Wilson) uma força para passar pelos obstáculos que o destino colocou em sua frente.

Baseado no livro homônimo ganhador do Prêmio Pulitzer de ficção em 2020, escrito pelo romancista norte-americano Colson Whitehead, o filme tem uma ótima sacada ao seguir com a câmera o ponto de vista dos protagonistas, provocando uma imersão fantástica que agrega imagens e movimentos para as intensas emoções dessa jornada de angústia, dor e preconceito. Essas trocas de perspectivas dão um fôlego interminável para a narrativa, com ângulos e imagens aleatórias completando uma experiência marcante e emocionante.

Com a surpresa de atravessar o tempo, num antes e depois, que vira uma única reta, contextualizando toda a experiência vivida num lugar cruel, acompanhamos a indignação, o preconceito descarado, em uma época triste da nossa história. Aos olhos de Elwood e Turner, um repleto de ideais e outro completamente cético ao futuro, exemplos entre tantos outros que sofreram a mesma dor, percorremos essas memórias doloridas que se mostram presentes, presos ao passado difícil de esquecer.

Com mais de 50 vitórias em premiações e com duas indicações ao Oscar 2025, O Reformatório Nickel entrou na Prime Video nesse início de 2025. Não deve ganhar o Oscar mas não deixa de ser um dos mais profundos filmes da seleção desse ano. Belo trabalho!

 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Reformatório Nickel'

21/02/2025

Crítica do filme: 'De Sombra e Silêncio'


A cumplicidade em meio a um mar de descobertas. Diretamente de um país da Europa central com ótimas contribuições à sétima arte, a República tcheca (ou atualizado, Tchéquia), o longa-metragem De Sombra e Silêncio de forma objetiva e sem muita delonga transforma um segredo familiar em um pilar de acontecimentos surpreendentes  que rumam para o imprevisível.

A vida do veterinário Martin (Marian Mitas) passou por uma enorme transformação após um acidente de trabalho, fato esse que o deixou em uma situação estável mas bastante limitada, sem falar e com sérios problemas. Para cuidar dele, a esposa Erika (Jana Plodková) entra logo num embate com a sogra Dana (Milena Steinmasslová), com quem nunca teve boa relação. Com a chegada de uma outra mulher nessa história, segredos do passado vai sendo passados a limpo culminando em uma série de situações surpreendentes.

Umas das chaves do roteiro assinado - pelo também diretor da obra - Tomas Masin é gradativamente empilhar camadas em relações que chegam ao estopim com um acontecimento abrupto que muda todas as vidas dos personagens. Durante uma investigação de assassinato, com flashbacks que ajudam a reviver peças importantes desse tabuleiro misterioso, vamos vendo o desenvolvimento dos personagens num antes e depois. Isso entrega um dinamismo que ganha os caminhos da tensão.

Assuntos direcionados para as relações e a sociedade vão compondo uma série de elementos importantes para entendermos motivos dentro de ações e consequências. O elenco é ótimo, principalmente o trio feminino afiado em esconder o que nos espera no desfecho. E que final, já vale o ingresso!

Dentro do recorte que busca, num discurso reto e objetivo, há um olhar para a sociedade logo chegando de encontro com a exposição em torno da eutanásia, nas visões sobre uma traição, os embates familiares de longa data e a maturidade que se alcança através de um revés. Esse é um daqueles filmes de suspense bons para debate.


Continue lendo... Crítica do filme: 'De Sombra e Silêncio'

12/02/2025

Crítica do filme: 'Com Você no Futuro'


Já olhou nos olhos de alguém e sentiu uma conexão? As fitas cassetes de outrora, os momentos que ficam guardados e nunca mais esquecidos são alguns dos elementos que envolvem o novo filme da Prime Video Com Você no Futuro, romance dramático camuflado de fantasia ingênua guiada por uma trilha sonora de uma das bandas mexicanas mais famosas de todos os tempos, Maná. Pena que a narrativa sonolenta nos leva para uma jornada convencional e pouco atrativa.

Carlos (Michel Brown) e Elena (Sandra Echeverría), antes muito apaixonados, hoje vivem as tristezas de um divórcio. Certo dia, ele um advogado estressado e ela uma musicista, se deparam com uma situação inusitada, uma pessoa que diz ser o cupido (Mauricio Barrientos) entrega a eles uma chance de reviver sua história de amor numa volta ao passado no ponto onde tudo começou. Assim, guiados pelas músicas do famoso grupo musical mexicano embarcarão em dilemas e reflexões sobre a relação.

Não sei vocês mas eu adoro a banda mexicana Maná. E por esse motivo, fui conferir esse filme. Talvez fosse melhor escutar as canções pelo Spotify. Reunindo uma série de fantasias e realidades distantes para abordar a relação a dois, o longa-metragem escrito e dirigido pelo cineasta mexicano Roberto Girault é um show de desencontros em duas épocas. Com o alvo mirado nas reflexões sobre casais em crise – algo que representa de alguma forma a maturidade - o tiro que não sai pela culatra, se tornando um show pelos deslizes da imaturidade.

Seguindo uma fórmula de bolo batida de muitas comédias românticas, pegando o passado como uma forma de mudanças de um presente estagnado, o roteiro - apoiado num confronto com o começo de um fim - costura os arcos dramáticos de forma corrida, não aproveitando personagens e principalmente o contexto temporal como uma ferramenta para preencher lacunas de uma relação. Nesse passatempo ingênuo, o previsível é algo constante nos 90 minutos de projeção.  


Continue lendo... Crítica do filme: 'Com Você no Futuro'

08/02/2025

Crítica do filme: 'A Ordem'


Não é de hoje que os debates sobre o nazismo apresentam questões que ainda chocam. Trazendo mais um recorte desse universo totalitário, com o preconceito a flor da pele, A Ordem, novo filme protagonizado por Jude Law, nos mostra de forma intensa as investigações policiais que levaram ao desmanche de uma célula neonazista. Com uma narrativa detalhista que busca apresentar os pormenores de um história real ocorrida em partes dos Estados Unidos, o projeto nos leva até o modo de pensar e execução, aliado ao medo e terror, pelas irmandades milicianas de supremacistas brancos.

Ao se mudar para uma nova cidade, o agente do FBI Terry Husk (Jude Law) logo se depara com surgimento - e logo ascensão - de um grupo de supremacistas brancos que levantam dinheiro através de roubo a banco e falsificação de cédulas. Seu líder é Bob Mathews (Nicholas Houht), um homem impiedoso e metódico que a cada hora se torna mais poderoso. Buscando fechar o cerco contra o grupo, Husk se une ao policial Jamie (Tye Sheridan) para uma caçada sangrenta e com algumas reviravoltas.

Baseado em fatos reais e ambientado no início da década de 1980, e muito mais profundo que o pensamento superficial de ser um filme de ‘Polícia vs ladrão’, essa história mostra cada faceta - e maneira de pensar – do texano Robert Jay Mathews, um terrorista norte-americano líder do grupo intitulado A Ordem. Essa página triste na história dos Estados Unidos é retratada aqui de forma dura e visceral, com atuações excelentes que só elevam a qualidade do filme.  

Muito bem datado, o roteiro busca seguir os passos do bando com precisas localizações, dividindo o filme de maneira intuitiva, principalmente nos atos de desenvolvimento da história, onde o público, após uma breve apresentação, embarca nos confrontos que passam os personagens. A direção do cineasta australiano Justin Kurzel é precisa, consegue captar nossa atenção em cenas de ação de tirar o fôlego e no conturbado das emoções dentro de todo o arco dramático. Mesmo você que possa conhecer a história que fora baseado esse filme, ainda se surpreende.

Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado e baseado no livro The Silent Brotherhood de Kevin Flynn e Gary Gerhardt, o projeto disponível no catálogo da Prime Video garante duas horas de muitas reflexões mostrando as verdades por trás dos absurdos fascistas/nazistas que vemos até hoje por aí.

Continue lendo... Crítica do filme: 'A Ordem'

18/01/2025

Crítica do filme: 'O Assassino do Calendário'


O abismo e as reflexões. Lançado na Prime Video nesse início de 2025, o suspense alemão O Assassino do Calendário nos apresenta peças embaralhadas num suspense que tem como estrutura base fortes reflexões sobre a violência doméstica. Partindo da tensão criada por ações de um serial killer inescrupuloso que coloca em dilema suas vítimas, partimos para um forte drama tendo dois personagens que não se conhecem no epicentro dos acontecimentos durante horas de um dia cheio de variáveis. A direção é de Adolfo J. Kolmerer.

Amargurada por anos de sofrimento e sem saber o que fazer quando é ameaçada pelo conhecido Assassino do Calendário, Klara (Luise Heyer) está à beira de um precipício emocional e acaba entrando em contato com um telefone que ajuda vítimas a chegarem em casa. Do outro lado da linha, o traumatizado Jules (Sabin Tambrea) faz de tudo para ajudá-la durante toda noite que se segue. Só que aos poucos vamos entendendo melhor toda essa história que apresenta muitas surpresas.

Baseado no livro Der Heimweg, do escritor e jornalista alemão Sebastian Fitzek, o projeto busca nas surpresas apresentar os elos que se fecham numa história onde as subtramas acabam sendo uma parte importante do discurso. O roteiro baseado na obra de Fitzek tenta adaptar as sensações de angústia através de lacunas soltas que vão sendo preenchidas, passando por um forte clima de tensão. Tem momentos que a narrativa, em busca de criar caminhos para suas reviravoltas se perde ou mesmo fica óbvia mas mesmo assim consegue prender a atenção.

Se você pensa que esse filme é igual a outros onde rumamos para a descoberta do assassino e somente isso, não se engane. A violência doméstica ganha o holofote por aqui, se tornando o principal ponto de reflexão. Através das dores de uma protagonista indecisa sobre seu futuro, sem saber como se livrar de uma marido completamente doente, vamos sendo apresentados a uma história parecida com muitas que infelizmente acontecem na realidade. O forte discurso explorando esse assunto se torna um dos méritos do projeto. As revelações do Serial Killer, motivações, psicopatia, acabam sendo apenas um complemento. Algo que se mostra certeiro.   


Continue lendo... Crítica do filme: 'O Assassino do Calendário'

14/01/2025

Crítica do filme: 'Além do Tempo'


Como viver após uma tragédia? Olha, tem alguns filmes que realmente conseguem passar toda a força das emoções por mais duras e inalcançáveis que elas sejam. O drama holandês Além do Tempo - completamente perdido lá no catálogo da Prime Video – nos apresenta uma história em duas linhas temporais sobre o caos emocional da perda, no entendimento do luto, na visão de pessoas que se amam que tiveram esse amor marcados por uma tragédia.

No início dos anos 80, tudo ia bem na vida dos jovens apaixonados Johanna (Sallie Harmsen) e Lucas (Reinout Scholten van Aschat) que estão à bordo de um cativante navio viajando por lugares lindos junto de seu filho, Kai. Certa hora, em pleno alto-mar, eles percebem que a criança sumiu e aos poucos o desespero daquela situação viraria uma página triste na história deles. Décadas mais tarde, eles se reencontram e muito do não dito vem à tona.

Filmado em Portugal, Malta, Republica Dominicana e na Holanda, Além do Tempo pode ser dividido em duas partes complementares que a narrativa envolve numa espécie de vai e vem como se fossem peças de um profundo marcante quebra-cabeça emocional. Na primeira, vemos a consolidação da tragédia e os primeiros passos após. Na segunda, unindo a arte com as lembranças transforma esse projeto em algo bem especial.

O luto e a dor são variáveis constantes por aqui. Vemos num mar de tristeza o desenrolar de uma deteriorização de uma forte paixão. A tragédia se une nesses pontos, mostrando de forma visceral os curtos caminhos rumo a um ‘seguir em frente’ e as difíceis decisões que podem conter nessa estrada sem volta na fuga pela dor. Com uma pequena reviravolta em seu desfecho rumamos para reflexões sobre os altos e baixos.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Além do Tempo'

13/01/2025

,

Pausa para uma série: 'Plantão Policial'


As verdades da rua. Com oito excelentes episódios em sua primeira temporada, a nova série da Prime Video - Plantão Policial - apresenta através de dois personagens, do lado da lei, repleto de problemas nos respectivos presentes uma sólida trama onde as surpresas e ações impensadas se encontram nos limites da ebulição emocional.  Enfrentando dilemas e a corda bamba da ética e da moral, a narrativa se joga para dentro das ruas violentas de uma cidade que não parece dormir.

Introspectiva e com um passado recente cheio de amarguras e conflitos com outros policiais, a experiente oficial do corpo de polícia de Long Beach, Harmon (Troian Bellisario), recebe a missão de treinar mais um recruta, Diaz (Brendan Larracuente), um rapaz destemido que sofre com o irmão preso e precisa aprender muito mais do que imagina. Ao longo do tempo que formam dupla, esses dois policiais enfrentarão casos violentos pelas ruas da cidade.

Muito bem dirigido - com episódios conduzidos por Brenna Malloy e Eriq La Salle - o projeto consegue chegar numa poderosa imersão explorando as consequências principalmente quando os limites são ultrapassados. As câmeras no uniforme ajudam a dar um clima intenso sobre as verdades da rua, a trama abre um leque de variáveis que vão desde os julgamentos de ações até a parte política que mesmo não ganhando personificação está por todos os lados.

Assinado por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção do famoso showrunner Dick Wolf - criador da franquia Lei e Ordem - a série consegue reunir todos os elementos apresentados apontando para um clímax convincente que liga todos os capítulos. Criminosos cruéis, problemas familiares, violência extrema, esses e outros pontos são envoltos na responsabilidade e papel social da polícia que se vê em constante interrogações sob o foco na maneira de agir.

Há uma questão que percorre de forma nada silenciosa tudo que assistimos: Como fazer a diferença em um universo tão violento? A estrutura para isso ser apresentado - nos episódios de duração com cerca de 30 minutos - é estabelecer uma relação mestre x aprendiz mas que se encontram em muitos pontos deixando o discurso afiado. Com a classificação 18 anos, Plantão Policial já pode ser considerada uma das ótimas novidades na Prime Video nesse início de 2025.


Continue lendo... Pausa para uma série: 'Plantão Policial'

09/01/2025

,

Crítica do filme: 'Herege'


A religião, o terror e as necessidades de sobrevivência. Com um vilão interpretado com maestria por Hugh Grant e buscando criar algo ‘fora da caixa’ mas sem deixar de se fortalecer com as altas cargas de tensão que todo bom longa-metragem de suspense precisa ter, no final do ano passado, chegou aos cinemas um filme que busca no seus diálogos profundos colocar em confronto a fé e os questionamentos sobre inúmeros aspectos da vida. Herege é um filme sobre o obscuro do psicológico cheio de caminhos para reflexões.

Na trama conhecemos Irmã Paxton (Chloe East) e a Irmã Barnes (Sophie Thatcher) duas jovens missionárias mórmons que vão até a casa de um homem para tentar convertê-lo à religião delas. A questão é que logo elas percebem estarem de frente com Mr. Reed (Hugh Grant), um pesquisador pra lá de maluco que as envolve em uma espécie de jogo macabro.

A fé e a tensão se tornam elementos importantes dentro de um contexto que busca nos pontos de vistas agregar paralelos. Sobre o primeiro ponto, uma enxurrada de críticas podem surgir mas o uso de uma direção nessa questão é para elucidar e fortalecer os contrapontos. Sobre o segundo, tudo é muito bem conduzido, com um estabelecido labirinto assustador vamos entendendo camadas dos personagens dentro de um desenvolvimento narrativo que prende a atenção.

Escrito e dirigido pela dupla Scott Beck e Bryan Woods, Herege busca seu próprio caminho em um gênero repleto de repetições. Isso é um mérito. Mesmo com o pecado de tentar dar definições conclusivas elaboradas para seus personagens - o filme termina quando parecia ir ladeira abaixo no seu conjunto de ideias - não deixa de ser um suspense inteligente e deveras intrigante.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Herege'

08/01/2025

Crítica do filme: 'A Hora do Silêncio'


Buscando chegar na tensão por meio de uma perseguição em um prédio quase desativado, A Hora do Silêncio, que chegou ao catálogo da Prime Video no finalzinho de 2024, atravessa o mundo das sensações através da perda de um sentido estabelecendo desde o início o velho e batido jogo entre heróis e bandidos. Dirigido pelo cineasta norte-americano Brad Anderson o projeto não é mais do mesmo mas também não alcança todo seu possível potencial.

Na trama acompanhamos Frank (Joel Kinnaman) um obstinado policial que após um acidente num dia de trabalho acaba perdendo a audição. O tempo passa e ele acaba se envolvendo num caso onde uma testemunha surda, Ava (Sandra Mae Frank), corre perigo. Depois de uma série de desencontros, ficam presos num prédio onde precisam encontrar uma solução de fuga lutando pela sobrevivência.

Um fator interessante é que o protagonista entra em desconstrução a partir do momento que percebe a aceitação da sua nova condição caindo das mãos, mesmo em um recorte não muito profundo. É válido as reflexões sobre o tema, mas novamente de forma trivial. As dores do sobreviver encaixam nas dúvidas do protagonista que precisa encontrar novas maneiras de enxergar e viver seu cotidiano estabelecendo uma camada de alguma forma sólida.

A narrativa não surpreende mas também não foge do que propõe: um 'polícia e ladrão' com os deslizes da moral como cereja do bolo. Acelerado para se estabelecer no gênero cinematográfico que mais veste a camisa, A Hora do Silêncio tem um discurso que encontra a narrativa durante todo o tempo e mesmo não causando impacto apresenta um recorte do gênero policial perto do satisfatório.


Continue lendo... Crítica do filme: 'A Hora do Silêncio'

07/01/2025

Crítica do filme: 'Temporada de Caça'


Um intrigante narrador anuncia uma espécie de prólogo para o que viria a ser uma jornada de angústia, sofrimento, loucura e escolhas onde um protagonista no limite das emoções dá as cartas. Lançado no final da década de 1980, Temporada de Caça aborda a obsessão e o psicológico - além de seus porquês - em meio a traumas de um passado com sequelas e um presente confuso. 

Na trama, ambientada numa cidadezinha fria no interior dos Estados Unidos, conhecemos Wade (Nick Noite) um policial local, com traumas familiares no passado, que vive um alvoroço no seu presente. Tentando se entender com a filha que vive com a ex-esposa e com os pensamentos sempre tumultuados sobre tudo que aparece em seu cotidiano, acaba ficando obcecado por um acidente de caça fatal, com um líder sindical, que acontece na região. 

O roteiro é primoroso. É uma trama muito bem amarrada, com um desenvolvimento impecável de um protagonista amargurado, dissecado por uma narrativa detalhista. Tudo funciona em cena: a atmosfera fria que dialoga com os acontecimentos trágicos que acompanhamos, além de potentes atuações de Nick Nolte e James Coburn. 

Em camadas profundas, vemos um raio-x de um perturbado psicológico e percebemos reflexões sobre as razões humanas. Nesse ponto, a violência familiar se torna a sustentação de argumentos que vemos nas atitudes de um homem à beira da loucura que em seu isolamento constante ultrapassa os julgamentos morais chegando ao precipício por não encontrar o sentido do viver. Tudo isso é mostrado com a tensão nas alturas. 

Indicado para dois Oscars - vencendo na categoria de melhor ator coadjuvante (James Coburn) - Temporada de Caça é um filme onde a história está toda no seu personagem principal que dentro do seu egocentrismo derruba qualquer barreira do trivial.  Baita filme.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Temporada de Caça'

04/01/2025

Crítica do filme: 'Querida Zoe'


A tristeza do antes e o conseguir lidar com o depois. Lá em 2022 chegava em alguns cinemas pelo mundo um filme que possui no tripé: culpa, luto e tragédia elementos que andam acoplados num mesmo presente. A representação disso tudo chega numa desconstrução de uma jovem que se vê patinando nas referências que possui. Querida Zoe, adaptação de um livro homônimo escrito pelo romancista norte-americano Philip Beard, basicamente pode ser definido como um drama que nos leva até a história de um alguém que se vê num céu nublado sem saber como sair dele.

Na trama conhecemos Tess (Sadie Sink) uma jovem que passa por um momento difícil após uma tragédia e se distanciar da mãe Elly (Jessica Capshaw). Sem saber o que fazer, resolve ir morar com o pai Nick (Theo Rossi) por um tempo e nesse período busca entender a vida sob novas perspectivas. Ao longo da história vamos entendendo melhor alguns porquês dos conflitos da personagem.

Como uma espécie de ‘grito de socorro’ Tess é levada até outra realidade, a do pai, um homem amoroso mas perdido no lado profissional. Aqui o roteiro abre camadas para uma desconstrução através do olhar pelo outro. Entram em cena: um vizinho com problemas, a mãe presa ao luto, um padastro em crise emocional. Como tudo passa pelo ponto de vista da protagonista a história se enrosca na melancolia desabrochando de forma lenta mas com reflexões.    

Problemas todo mundo tem mas só quem sente sabe os abalos que podem causar uma dor. Buscando uma ampla análise sobre o tripé mencionado no primeiro parágrafo, a narrativa se embola um pouco querendo seguir algumas vertentes que dão voltas em torno das relações familiares. Com essa visão geral, o sentimento de dor moral associado a culpa parece a estrada mais sólida para entendermos o quebra-cabeça emocional que passa a protagonista. Querida Zoe mesmo com seus quebra-molas não deixa de ser um interessante retrato sobre respostas quando nada mais faz sentido.


Continue lendo... Crítica do filme: 'Querida Zoe'

03/01/2025

Crítica do filme: 'Cosas Imposibles'


Tem muitos filmes interessantes escondidos no catálogo da Prime Video. Cosas Imposibles é um deles. Passando por fragmentos de uma construção da solidão, as marcas de um passado que atingem o presente conhecemos dois personagens, completamente opostos que embarcam em uma jornada da vida real e suas descobertas. 


Na trama conhecemos Matilde (Nora Velázquez) uma mulher mais velha que recentemente ficou viúva. Sem conseguir se desprender de lembranças ruins e precisando procurar emprego pra sobreviver, acaba se aproximando de Miguel (Benny Emmanuel), um jovem que está num caminho sem direção. Assim, encarando as consequências de atos que se somam, uma amizade nasce e traz muitas lições.

Esse longa-metragem mexicano tem uma narrativa que vai conquistando aos poucos. Tudo é pincelado preenchendo contexto, então paciência até as reflexões aparecerem. E elas chegam! Um encontro de dois mundos que vivem no mesmo lugar esbarra no escapar da realidade, no deixar para trás o que já era cinza. Tudo isso é contado de forma poética mas sem nunca deixar de se aproximar das muitas realidades por aí.

As camadas dos personagens se desenvolvem dentro da arte do redescobrir-se. Atormentada, com um transtorno psicológico constante convivendo com alucinações, Matilde chega aí fundo do poço. Miguel busca sobreviver através dos atos errados, do que é fácil, traficante sem direção possui um segredo que acaba sendo o trampolim para novos olhares. A amizade, ponto fundamental da vida em sociedade, é o fim do túnel que aos poucos vai se preenchendo com esperança de dias melhores. 

Cosas Imposibles e sua delicadeza ao mostrar recortes de nossa sociedade brinda o público com uma história forte mas que encontra os lapsos de um renovar. 



Continue lendo... Crítica do filme: 'Cosas Imposibles'