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16/04/2024

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Pausa para uma Série: 'Fallout'


Tava procurando uma série que me deixasse empolgado e que se tornaria uma brilhante jornada de reflexões. Encontrei! Ambientada no universo de um jogo famoso criado nos anos 90, chegou na Prime Video um seriado empolgante que busca reflexões quando a tragédia flerta com a oportunidade. Nos longos e excelentes oito episódios dessa primeira temporada, em Fallout, somos guiados por carismáticos personagens que embarcam em uma trajetória de absurdos que os levam ao encontro de verdades não ditas e suas as interpretações da moral, dos valores ligados a um princípio darwiniano. Nesse enorme tabuleiro de mentiras, a narrativa brilha ao mostrar as inversões de perspectivas que nos ajudam a entender melhor esse universo fascinante que merece toda nossa atenção.

Na trama, bem à frente no futuro, conhecemos a Terra dizimada por ações nucleares. Para proteger alguns, os Estados Unidos junto à um grupo de empresas, principalmente uma, a Vault- Tec , resolvem criar refúgios subterrâneos. Assim, 200 anos depois do caos começar, conhecemos a jovem Lucy (Ella Purnell) que após o lugar onde nasceu e foi criada ser atacado, e ainda com o sequestro de seu pai, resolve ir atrás dele e desbravar a superfície, um lugar onde nunca antes havia ido. A cada caminhada, uma nova descoberta, e assim seu destino se cruza com Maximus (Aaron Moten), um sobrevivente de um dos ataques nucleares mais impactantes e o enigmático necrótico Cooper (Walton Goggins), esse último com um passado com vivas memórias do início do fim.

O que é preciso fazer para sobreviver? Os protagonistas se misturam na própria angústia, cada um no seu objetivo, em modos diferente de viver, de se adaptar. Saindo de um universo de regras tendo a meritocracia como pilar, com um mundo lá fora com outras, seguimos na maior parte do tempo os olhares de Lucy e sua busca incessante que geram perguntas do tipo: Como melhorar um mundo perdido? Essa ótima personagem passa por uma desconstrução absurda com o medo que logo vira coragem passando pelas dificuldades do confiar.

Não podemos esquecer da jornada de Maximus e Cooper. O primeiro, um jovem traumatizado com seu passado devastador, que é adotado por um grupo militar e almeja dias mais tranquilos num universo onde o poder é tomado, não dado. O segundo, um homem com ações moralmente questionáveis, detentor de muitas memórias dos tempos onde o mundo vivia como os dias de hoje, sobreviventes na superfície dos males da radioatividade, que viu a construção de um império do mal e luta para tentar se encontrar novamente com sua família.

O tempo e a manipulação de tudo. A variável ‘Tempo’ aparece como elemento principal, um catalisador de ações e inconsequências em meio a uma terceirização da sobrevivência. Animais radioativos, clérigos em busca de poder, necróticos que vagam como nômades se juntam à ambição e ao princípio de querer ser Deus, esse último ponto personificado na linha de comando da empresa Vault-Tec. Aliás, as poucas descobertas sobre as criações dessa empresa, e as maiores explicações sobre o potencial de ganhos com o fim do mundo, é o ótimo gancho para uma possível (e provável) segunda temporada.

Fallout já tem toda sua primeira temporada disponível na Prime Video e já posso dizer, é a melhor série do ano até aqui! Brilhante!


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11/04/2024

Crítica do filme: 'Death Sentence'


Quando o caos é tudo que existe. Dirigido pelo excelente cineasta James Wan, conhecidos pelos filmes de terror do seu currículo, em 2008 chegou aos cinemas um filme de ação brutal com alta doses dramáticas que coloca em evidência uma imersão às consequências de uma vingança. Protagonizado por Kevin Bacon, Death Sentence é sobre o estopim de uma guerra, a destruição de uma família, e as tentativas em vão do equilíbrio de uma equação que não deveria existir.

Na trama, conhecemos Nick (Kevin Bacon) um homem bem sucedido, com uma família feliz. Tudo muda quando, após parar em uma loja de conveniência, seu filho é assassinado de forma brutal. Completamente desnorteado com o ocorrido, logo seu luto vira vingança e assim, sem medir as consequências de seus atos dá início a uma jornada sem volta.

A justiça existe? Causando reflexões nas linhas do ‘o que você faria?’, Death Sentence, de forma sangrenta e sombria, apresenta uma enorme desconstrução de um personagem completamente enfurecido, que se desprendeu dos valores morais para ir atrás da justiça que acredita. Essa confusão no ultrapassar limites entre o que é justiça e o que se encaixa como vingança é o campo mais amplo nesse projeto rodado em apenas dois meses.

O drama familiar ganha contornos profundos na narrativa quando pensamos na relação do pai com seus filhos. O preferido, ganha todos os olhares com o mais jovem ficando de lado. Essa relação conturbada entre pai e seu filho mais novo acaba ganhando muitos olhares. A habilidade de Wan em traçar conflitos emocionais ligados à família ficam em segundo plano mas vão além da superfície.

Inspirado na obra homônima, escrita pelo autor norte-americano Brian Garfield em meados da década de 70, Death Sentence é uma caminhada rumo as certezas do precipício, da não tentativa de se desprender do ‘Olho por olho, dente por dente’. Quando o caos é tudo que existe, a sentença já está assinada.  


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06/04/2024

Crítica do filme: 'Uma História em Montana'


Os novos passos de uma família. Caminhando pelo estado da solidão forçada, nos laços em dificuldades para uma nova união, Uma História em Montana é uma bomba relógio de emoções onde as barreiras do medo buscam encontrar o perdão. Dirigido pela dupla Scott McGehee e David Siegel, a narrativa possui um ritmo constante, se fortalece pela força dos diálogos, no desabrochar de almas amarguradas com um passado preso em decepções. Haley Lu Richardson e Owen Teague estão absolutamente fabulosos em cena, transbordando emoções para seus complexos personagens.

Na trama, conhecemos Cal (Owen Teague), um jovem estudando para ser engenheiro civil  volta às pressas para o rancho da família no Estado de Montana para ajudar no momento crítico em que se encontra seu pai, à beira da passagem. Buscando resolver os problemas burocráticos, afetado pelas dívidas de seu progenitor, acaba reencontrando seu irmã Erin (Haley Lu Richardson), após sete anos. Os irmãos, que se mantiveram distantes durante todo esse tempo, precisarão encontrar novas formas de entender um ao outro, além de resolver um impactante trauma do passado.

O que acontece com o amar nessa família? Um pai de passado duvidoso, à beira da morte, vira o epicentro para atualizações do hiato entre os irmãos, que se mostram constantes, virando peças numa nova forma de enxergar os caminhos iminentes. Como resolver o que ninguém quer falar? Será que a situação próxima do abismo da vida fará novos pensares chegarem como forma de resoluções? A extensa minutagem, cerca de duas horas de projeção, nos apresenta perguntas que são respondidas entre situações que se chocam, do presente ao passado, através de memórias vivas daquele lugar.      

A fuga é o caminho mais fácil para não pensar em um conflito. Buscando distância do enfrentar, a jornada dos personagens é algo próximo de uma redenção para que seus próprios caminhos se tornem menos dolorosos. A região da gelada Montana ajuda a criar o clima de reclusão das emoções, a fotografia busca nos detalhes e imagens passar a aflição, sentimento que vai de encontro à dor e a culpa. Uma História em Montana é cirúrgico ao relatar as fraquezas humanas, uma necessidade de um equilíbrio muitas vezes perdido pelo tempo.


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27/03/2024

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Pausa para uma série: 'Rainha Vermelha'


O contraponto da genialidade e a maldição. Baseado na obra homônima do escritor e jornalista espanhol Juan Gómez-Jurado, o primeiro de uma trilogia, chegou recentemente no catálogo da Prime Video um seriado empolgante, que parte da jornada de heróis brilhantes e imperfeitos até o encontro com um caso macabro que vai se moldando através de pistas sobre um psicopata enigmático. Rainha Vermelha tem todos os seus conflitos chegando através dos laços entre pais e filhos, esse sentimento forte, vívido, conflitante, muitas vezes dependente, que se torna a base dos sete episódios, com duração perto de uma hora.

Na trama, conhecemos Antônia Scott (Vicky Luengo), uma jovem considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo (com um altíssimo QI) que faz parte de uma organização que só entra em operação em casos complexos onde a polícia não consegue resolver. No passado, um trauma abala todas suas estruturas emocionais ficando longe de qualquer agitação. Mas tudo isso muda com uma série de acontecimentos horripilantes que percorrem as ruas da cidade mais famosa da Espanha. Assim, seu destino se interliga com o de Jon (Hovik Keuchkeriano), um carismático policial que se junta ao time com a função de escudeiro da nomeada Rainha Vermelha. Juntos, precisarão resolver esse sinistro caso que envolve violência e o sequestro de uma milionária.

Antônia Scott é um personagem fascinante mas só vamos descobrir isso lá pelo meio da temporada. Então, paciência! A série esquenta mesmo a partir do terceiro episódio. É importante toda a costura do contexto que é feita nos primeiros episódios, de peças da organização fantasma que corre em paralelo às forças policiais até os arcos do antagonistas, passando pelo brilhante e carismático policial Jon, Rainha Vermelha posiciona peças que serão importantes nesse desfecho e até mesmo nas sequências dos outros livros que muito provavelmente virarão novas temporadas (a segunda inclusive já está garantida).

O mundo é um enorme texto a ser decifrado. Superdotada e refém de um experimento, Scott é uma jovem com uma mente brilhante que sempre se viu distante de uma sociedade que prega valores por meio de muitas hipocrisias. Isso não a deixou longe de ter uma família, criar laços. Andando em uma corda bamba com sua observação apurada parece conseguir esconder em um lugar sombrio seus embates absurdos com o exigente e influente pai e todo um passado ainda ser contado. O seriado começa exatamente no seu despertar, através de um forte trauma.

De um outro extremo, conhecemos Jon, um policial gay, marcado por um passado repleto de situações que o deixaram de lado na força policial. Sua forte relação com a mãe é o caminho para entendermos sua capacidade impressionante de agregar valores positivos numa relação e seus princípios ligados à uma análise sentimental. Um homem de uma inteligência emocional apurada que muitas vezes estaciona nas dores de causas perdidas. Hovik Keuchkeriano, está fabuloso no papel. Você pode lembrar dele como ‘Bogotá’ do mega sucesso mundial La Casa de Papel.   

A razão e a emoção moldam as personalidades distintas desses dois protagonistas formando um encaixe perfeito dentro de uma fórmula de ação e suspense onde a trama nunca é deixada de lado e sempre guiado por eles. A maneira como a história é contada (narrativa) deixa o ritmo dinâmico ampliando o campo de visão do espectador, muitas vezes através de um raio-x do subconsciente da protagonista e as reações espontâneas do outro.

Um ótimo vilão, e as surpresas quando nos deparamos com a sua história, se juntam a essa trama repleta de mistérios, reviravoltas, segredos inconfessáveis, relacionamentos abusivos, psicopatia e suas esferas. Rodado todo na cidade de Madri, Rainha Vermelha é o pontapé inicial de um arco maior. Há muito para se desenvolver. A segunda temporada já está garantida e será a adaptação de Loba Negra, segundo livro da brilhante trilogia de Juan Gómez-Jurado. Para quem se interessar, essa primeira temporada está disponível no catálogo da Prime Video.


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Crítica do filme: 'A Filha do Rei do Pântano'


O olhar imaturo e as releituras das relações. Buscando um olhar minucioso numa relação conturbada entre filha e pai dentro de um doloroso confronto com o passado, A Filha do Rei do Pântano busca uma constante tensão através de uma forte conexão com o medo e as dificuldades de confiar. Dirigido pelo cineasta norte-americano Neil Burger, do ótimo O Ilusionista, um jogo de caça e caçador é estabelecido através dos conflitos emocionais, algo que domina o tempo de tela, se perdendo em sua narrativa que carece de ritmo.

Na trama, conhecemos Helena (Daisy Ridley), que no passado viveu isolada ao lado do pai Jacob (Ben Mendelsohn) e da mãe Beth (Caren Pistorius) sendo criada de forma selvagem pelos ensinamentos do primeiro. Certo dia, durante a infância, após fugir com sua mãe, é revelada a ela que o pai as mantiveram em cativeiro durante anos. O tempo passa e Helena vive nos tempos atuais, casada, já com uma filha, mas como se não encontrasse um lugar para viver em meio aos seus intensos traumas que voltam com frequência. Quando seu pai consegue fugir da prisão, o pesadelo aparece de novo na sua frente.

O que se vê no reflexo dos olhos? A narrativa se desenrola a partir do forte elo estabelecido entre pai e filha, com a segunda sendo colocada em um caminho de desconstrução quando cai na sua frente as verdades desse pai. A composição da protagonista é bem feita, atormentada pelos traumas parece em total desequilíbrio como se uma página do livro de sua vida estivesse sempre aberta. Essa questão da relação encosta no melodrama e aqui a direção se perde, buscando movimentos para personificar os traumas. Aliado a isso, o ritmo é inconstante, deixando o caminho até o clímax uma viagem sonolenta pelo desequilíbrio emocional.

Com o lema: ‘Sempre proteja a família’, e suas diversas interpretações que vão mudando conforme conhecemos mais dos personagens, A Filha do Rei do Pântano não alcança todo seu potencial, deixando que uma interessante construção da protagonista afundasse em uma narrativa que não alcança o fôlego para sustentar a releitura de uma relação.  



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Crítica do filme: 'Pandorum'


Imagina você acordar em uma nave espacial após um longo sono profundo e não conseguir se lembrar como e os motivos de ter ido parar ali? Seguindo as pistas desse primeiro mistério, o longa-metragem Pandorum, lançado 15 anos atrás, mistura drama existencial com ficção científica em uma intensa luta pela sobrevivência que reserva boas surpresas para o espectador. Escrito por Travis Milloy e Christian Alvart (esse também o diretor), o projeto, filmado em uma usina abandonada na cidade de Berlim, na Alemanha, solidifica seu caminhar nos disparos de gatilhos emocionais em uma narrativa envolvente com um desfecho marcante.

Na trama, ambientada perto do ano 3.000, conhecemos o Cabo Bower (Ben Foster), um homem que acorda numa nave chamada Elysium, com grandes avarias, sem lembrar direito como foi parar ali. Ao seu lado, o sargento Payton (Dennis Quaid) também é acordado. A dupla então começa a busca entender o atual cenário da nave espacial em que estão, e entre alguns lapsos de memórias, precisam descobrir uma nova maneira de reestabelecer o controle da nave que está ocupada por seres nada amistosos. Assim, o cabo Bower parte para as partes mais distantes da nave, já que uma solução pode ser a de chegar ao reator principal da nave, e assim descobre muitas surpresas pelo caminho.

Sem leis, um lugar onde a moralidade não existe. Explorando o conceito de colonização interplanetária, Pandorum parte do suspense para navegar seus conflitos numa luta pela sobrevivência num período onde nosso planeta está à beira do caos. Dentro desse cenário, 60.000 pessoas são recrutadas das formas mais diversas para uma viagem de muito anos, com direito a hipersono prolongado, compondo uma nave de colonização até um planeta chamado Tanis (esse com condições parecidas com a da Terra), encontrado bem longe daqui. A questão é que algo dá muito errado, fruto de uma ação à uma reação emocional na qual chamam de Pandorum. Essa base teórica do filme é algo que percorre todo o discurso sendo visto em cada detalhe da excelente narrativa proposta.

Programado para ser uma trilogia, pode ser que isso não aconteça (infelizmente) já que o desempenho em bilheteria na época de seu lançamento fora longe do esperado, o longa-metragem diz muita sobre a humanidade e as diversas reações em situações extremas. Há muito a se refletir por aqui. Longe de casa, vemos os pulos pelos obstáculos dentro de uma jornada do herói aos olhos de um protagonista carismático que precisa encontrar soluções, mesmo completamente perdido, sem entender direito o real sentido de tudo que vive.

Empolgante até seu último minuto, com direito a reviravoltas constantes, Pandorum é um daqueles filmes que poucos conhecem mas deveriam ir atrás. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.


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23/03/2024

Crítica do filme: 'Heroico'


A iminência do desequilíbrio. Escrito e dirigido pelo cineasta mexicano David Zonana, em seu segundo longa-metragem na carreira, Heroico é um projeto que escancara as linhas tênues entre a disciplina e a punição na visão de um jovem soldado, no limite do descontentamento, que sofre com o treinamento e os atos sádicos e desumanos de um dos superiores. Exibido nos Festivais de Berlim, Sundance e San Sebastian do ano passado, o filme busca um retrato de um pesadelo, onde a violência é um elemento para uma série de tragédias.

Na trama, conhecemos Luis Nunez (Santiago Sandoval), um jovem que acabou de entrar em uma escola militar no México em busca de uma estabilidade e também do seguro médico militar para ajudar a mãe que luta contra uma avançada diabetes. Logo nos primeiros dias, se depara com abusos e situações constrangedoras de seu oficial direto Eugenio Sierra (Fernando Cuautle) e embarca em uma jornada sem volta com conflitos que se seguem.

Como lidar com os absurdos que presencia? Contendo cenas fortes em sua narrativa, utilizando o recurso do chocar para refletir, Heroico navega na desconstrução de um protagonista que se vê perdido, completamente afetado pelos abalos emocionais que sofre. A direção busca nos detalhes a crítica social contundente, algo que se aproxima a uma lupa constante dos precipícios dos limites morais.  

O universo militar ganha contornos na visão do recrutas, suas expectativas e quanto a essa rotina. Muitos estão ali por necessidade, pelos benefícios que essa vida pode entregar. O choque com a realidade que se apresenta é um banho de água fria, com a hipocrisia de oficiais rolando solta. As mãos sujas de sangue, acaba sendo apenas mais um capítulo dessa história que vira peça chave na iminência do desequilíbrio.

Heroico é um filme que causa impacto. Abre nosso refletir para valores morais e instituições que deveriam ser uma saída para quem quer uma mas acabam sendo um reflexo constante da sociedade.  


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18/03/2024

Crítica do filme: 'Tempestade Infinita'


As montanhas sempre ouvem e nunca respondem de volta. Explorando duas forças emocionais conflitantes, o fugir e o ter esperança, Tempestade Infinita parte de uma história sobre luta pela sobrevivência onde o instinto maternal e a solitude são parte de uma engrenagem fundamental que contempla os desafios de superar perdas. Dirigido pela dupla Malgorzata Szumowska e Michal Englert, o projeto é baseado em fatos reais de uma dramática história ocorrida no ano de 2010. No elenco, a duas vezes indicada ao Oscar, Naomi Watts.

Na trama, conhecemos Pam (Naomi Watts) uma enfermeira na casa dos 50 anos com um enorme trauma no passado que vive seus dias sozinha em uma região fria e montanhosa. Ela faz parte da Equipe de Busca e Resgate do Vale de Pemigewasset, que cobre também o Monte Washington, em New Hampshire. Certo dia, mesmo sabendo das condições do tempo, com uma tempestade chegando, resolve ir até as montanhas. Durante o percurso, encontra um jovem perdido, e que parece desnorteado, fora de si. Lutando contra o tempo, Pam precisará usar todas suas habilidades para descer rapidamente a montanha e ajudar o jovem que encontrou.

Rodado em Kamnik, na Eslovênia, em uma co-produção que envolveu cinco países, Tempestade Infinita tem a perda implícita na trajetória de seus personagens mesmo que isso seja algo que demora a ser compreendido, fato que pode distanciar o espectador. O primeiro ponto é como sair de uma situação em condições contrárias, nesse parte, algumas perguntas podem ajudar: Quais os motivos para se sair daquela situação? Em quem você pensa quando embarca na esperança de volta pra casa? Qual o trauma sofrido pela protagonista? Para essa última pergunta, fundamental para entendermos algumas decisões, o uso de rápidos flashbacks completam algumas lacunas.

Basta uma pessoa para mudar os rumos de nossa vida. A narrativa adota a tempestade como um personagem importante, praticamente um elo entre os dois personagens que se encontram em um lugar inóspito onde o tempo muda rapidamente com a temperatura caindo abruptamente pelos menos 20 graus com a ausência do sol. Essa forte conexão, entre os dois personagens, só é completamente entendida no desfecho, deixando grande parte do filme estacionado em sequências repletas de cortes secos de um plano a outro guiadas pelo espirito de sobrevivência.

Outro ponto importante para reflexões é o instinto maternal, uma peça que aparece com mais clareza com a exaustão batendo e lembranças dolorosas transformando-se de peso à força. Nesse momento, entendemos o ritmo lento de uma narrativa que estimula alguns porquês do isolamento voluntário, a necessidade de uma solitude e as relações com as forças incontroláveis da natureza.

Disponível no catálogo da Prime Video, Tempestade Infinita é um filme que demora para acontecer mas que reserva boas reflexões quando desabrocha, saindo de um esmorecimento para uma profunda reflexão sobre os obstáculos que aparecem pela vida.


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14/03/2024

Crítica do filme: 'A Noite do Traidor'


A guerra é o pior momento de se apaixonar. Escondidinho no catálogo da Prime Video está uma pérola europeia que apresenta com brilhantismo um indigesto encontro premeditado com o objetivo de descobrir que matou uma pessoa anos atrás. Dirigido pela cineasta francesa Josée Dayan, o filme lançado em 2008, A Noite do Traidor parece uma mistério de Agatha Christie, daqueles mesmo onde só descobrimos o culpado nos últimos minutos.

Na trama, conhecemos Marie (Nathalie Baye), uma mulher da alta sociedade francesa no pós guerra que resolve reunir alguns amigos de um grupo que fez parte da resistência francesa durante a ocupação nazista mas que não se viam faz mais de uma década. Após amistosas reapresentações, o clima esquenta, com o grupo descobrindo que seu líder, morto em uma possível emboscada durante os conflitos de outrora, foi traído por um deles. Assim, uma pergunta terá que ter respostas, qual deles foi o traidor?

É um exercício interessante pensar sobre a direção de arte e os enquadramentos, já que são muitos personagens em cena que se passam em dois cômodos complementares de uma casa. O preenchimento em tela, usando a criatividade do posicionamento parece transportar um ar teatral com impacto de quem está no comando da oratória. Assim, versões de fatos se confrontam. Com a mira em constante mudança, parece que estamos vendo um julgamento onde muitos personagens vão se revezando em um banco de réus imaginário.

A narrativa insiste em apresentar de forma contundente o confronto. Suspeitas antigas, rusgas do passado, um balé de desconfiança que levam a becos sem saídas. Passados políticos se misturam com hipocrisias até então colocadas como inquestionáveis, a tal da falta de auto crítica em qualquer debate nessa direção. Indo e voltando dentro de um contexto de guerra e os novos pensares no pós guerra colocam em choque antigos dilemas apresentando as fraquezas de muitos personagens em conflitos.

Remake de um clássico do final dos anos 50, A Noite do Traidor é uma obra audiovisual exigente no seu discurso e na sua forma fato que leva o espectador a uma jornada que incita a reflexão.

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27/02/2024

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Crítica do filme: 'American Fiction'


Indicado para cinco Oscar em 2024, inclusive na categoria Melhor Filme, American Fiction usa sua brilhante e hilária narrativa para ir na contramão dos hipócritas de plantão, que recheiam olhares com estereótipos. Baseado na obra Erasure do escritor e professor da USC (Universidade do Sul da California) Percival Everett, o filme apresenta recortes na vida de um escritor em crise, entediado, completamente sem paciência com as hipocrisias na sua frente que tem uma ideia que o coloca no epicentro de tudo que pensa. Excelente estreia na direção do cineasta norte-americano Cord Jefferson.

Na trama, conhecemos Monk (Jeffrey Wright), um escritor e professor num presente repleto de conflitos não deixando barato os absurdos culturais que percebe ao seu redor. Após ser afastado pela universidade que leciona, vai passar um tempo na casa de praia da família se aproximando dos irmãos e da mãe em fase inicial de Alzheimer. Um dia, resolve escrever um livro de forma aleatória, longe das complexidades de suas outras obras e acaba vendo o sucesso chegar de forma curiosa e mostrando muitas verdades da sociedade.

As pessoas não se resumem aos erros. Um dos méritos do roteiro é chegar numa ampla reflexão sobre seu protagonista através do relacionamento com a família. A narrativa é empolgante, até uma cena espetacular de personificação da escrita nós vemos. Perdido nos pensamentos que se juntam a absurda conclusão de uma ideia inusitada, nas perdas recentes, a volta do convívio com os mais próximos familiares, um espaço para um novo amor, o protagonista duela com seus conflitos sem nunca deixar de expressar sua opinião. Tudo isso é colocado de forma brilhante na tela.

Personagens surgindo aos montes só validam o pensar de Monk, aqui uma analogia com a sociedade e seus valores se torna uma reflexão importante. O mercado literário também ganha holofotes, o lucro com o entretenimento raso, preconceituoso em muitos momentos, se mostra evidente através da armadilha feita pelo personagem principal dessa história maravilhosa que ficará nas nossas lembranças por muito tempo.

As entrelinhas da moral da história chega através dessa narrativa dinâmica, envolvente, que nos faz rir, emocionar e pensar sobre muitas verdades que estão por aí pra quem quiser ver.


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26/02/2024

Crítica do filme: 'Blackberry'


Um recorte do início de uma era. Num tempo onde a busca pela informação em um único dispositivo traçaria as novas tendências tecnológicas de um frequente dinamismo no campo da comunicação, existiu uma empresa que saiu na frente e marcou seu nome na história. Blackberry, terceiro longa-metragem da carreira do ator e diretor canadense Matt Johnson, mostra em alguns recortes momentos chaves de uma meteórica ascensão e a brusca queda de uma das primeiras gigantes da comunicação via smartphone. Com uma narrativa empolgante, repleto de humor na linha do sarcástico, o filme vai a fundo num mar de emoções em conflitos que passam seus protagonistas.

Na trama, conhecemos Mike (Jay Baruchel) e Doug (Matt Johnson), dois amigos, nerds, que ditam o ritmo em uma micro empresa de tecnologia buscando algum dia alçar voos mais altos no setor de comunicação. Em certo momento, o destino da dupla se cruza com Jim (Glenn Howerton), um experiente homem de negócios que enxerga em um projeto dos amigos um grande potencial. Assim, entre decisões movidas pela emoção, amizades estremecidas e lidando de forma atabalhoada com a iminência da concorrência, no fim dos anos 90, nasceu o primeiro famoso smartphone da história, o Blackberry.

O contexto é importante para uma melhor compreensão do que acontece por aqui. O boom tecnológico ligado a comunicação estava prestes a acontecer, o Blackberry foi criado em um cenário onde a demanda pelo máximo de informações em um dispositivo móvel estava carente. Mike e Jim conseguiram se posicionar nesse mercado feroz, fazendo o que cada um era bom: o primeiro nas genialidades ligadas a inovação e segurança da informação, já o segundo sua capacidade impositiva de lidar com acordos e negócios.

Os arcos dos personagens são complementares, há uma desconstrução muito bem feita, o que transforma o filme em um explosivo retrato sobre dilemas, algo que se segue até a conclusão de conhecimento público quando não souberam lidar com a concorrência das gigantes Google e Apple.

Para contar essa história, uma referência foi importante. Baseado na obra Losing the Signal: The Untold Story Behind the Extraordinary Rise and Spectacular Fall of BlackBerry escrita pelos jornalistas Jacquie McNish e Sean Silcoff, o filme navega pelas emoções de personagens em eternos conflitos buscando assim um poderoso recorte dos motivos que trouxeram o sucesso e o fracasso. A narrativa brilha com seu dinamismo, com muitas informações que estão associadas a outras pelas entrelinhas.

 

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Pausa para uma série: 'O Falso Sheik'


Reflexões sobre as linhas tênues entre jornalismo e crime. Na década 90, tabloides sensacionalistas dominam as rodas de conversa de uma sociedade sedenta pela informação e ainda longe dos avanços das redes sociais que se tornaram uma certeza nos tempos atuais. Nesse período, no Reino Unido, um introspectivo e reservado repórter buscava seu espaço Ilustrando situações e transformando em interesse público, inclusive se passando por um falso sheik. Série documental de três episódios disponível na Prime Video, O Falso Sheik busca a reflexão ampla sobre o jornalismo e seus limites dentro da defesa de muitos do que seria liberdade de expressão.

Ao longo dos episódios, por meio de depoimentos de testemunhas das ações, vítimas, advogados e colegas do antigo trabalho, vamos conhecendo recortes da trajetória de Mazher Mahmood, descendente de paquistaneses, que lutou para conseguir seu espaço no meio jornalístico numa época de protestos e forte preconceito. Nos primórdios da internet, com poucos celulares, o personagem principal dessa história se abraçou a um jornalismo investigativo que cruzava limites fazendo quase de tudo para conseguir uma matéria. Ele basicamente jogava a isca e esperava que mordessem.

Aos poucos foi se tornando conhecido, vencedor de prêmios importantes dados para profissionais da imprensa britânica, assinando várias matérias de alta repercussão, com capas do jornal que trabalhava, inclusive alcançando o status de celebridade, mas sem nunca mostrar o rosto. Depois de muitas matérias de grande repercussão acabou ele mesmo virando uma.

A narrativa é detalhista ao buscar um diálogo interessante sobre o que fazia o protagonista, colocando na vitrine de reflexões o tipo de jornalismo praticado. Por meio de flagrantes provocados, vidas foram destruídas, jornais foram vendidos aos montes. A liberdade de imprensa usada como desculpa para não impor limites ou passear na linha tênue com a imoralidade deixando em ponto morto a ética é um elemento de discussão. O jornal britânico onde Mazher Mahmood trabalhou a maior parte do tempo, o ‘News of the World’, um do mais vendidos no mundo naquela época, chegaria ao fim por denúncias de invasões telefônicas.

Meios de comunicação na caça da imoralidade de rostos conhecidos são vistos até hoje, esse tipo de conteúdo se propaga de forma incontrolável, fator que diz muito sobre a sociedade em si.


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16/02/2024

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Crítica do filme: 'Zona de Interesse'


A normalidade de uma família e o horror de milhares de outras separados por poucos metros. Indicado em cinco categorias no Oscar 2024, inclusive Melhor Filme, o longa-metragem Zona de Interesse é uma jornada inquietante que nos leva de volta aos horrores feitos pelos nazistas sob a ótica de uma família alemã. Baseado no livro homônimo escrito por Martin Amis esse é um daqueles filmes que de tão impactantes demoram a sair de nossas memórias. Impressionantemente realista joga o espectador para os pensares daqueles terríveis tempos.

Na trama, ambientada na segunda guerra mundial, conhecemos Rudolf Höss (Christian Friedel), alta patente nazista e comandante do campo de concentração de Auschwitz que vive com sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) e seus filhos em uma casa confortável levando a vida que sempre sonharam. O lugar é situado ao lado do campo de concentração mencionado, onde atrocidades foram cometidas.

Primeiro filme do cineasta britânico Jonathan Glazer em língua não inglesa, o projeto consegue passar sua forte mensagem através de uma captação de imagens impressionantes, entre outros fatores, com muitos planos abertos que se transformam na imersão à dinâmica daquela família. A naturalidade em contraponto as atrocidades sendo cometidas a poucos metros são chocantes e muito do que não é mostrado fica óbvio nas entrelinhas. Essa construção da linguagem cinematográfica e toda a sensação de aflição de um contexto marcante na história da humanidade é feito de forma sublime.

Esse é um daqueles projetos audiovisuais que precisam ser debatidos. Não só por sua apurada técnica quando pensamos em cinema mas também pelos debates que levanta a partir de um registro histórico doloroso porém necessário e pra nunca cair no esquecimento.


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Crítica do filme: 'Bunny Drop - Surpresas da Vida'


Os primeiros passos sobre o que é a paternidade. Dirigido pelo cineasta japonês Sabu, Bunny Drop - Surpresas da Vida joga um olhar sensível e emocionante na jornada de um jovem que tem seu destino cruzado com a paternidade. Ao longo de quase duas horas de projeção, com uma narrativa leve, sem se desgarrar das emoções, o longa-metragem reflete sobre várias questões ligadas a pais e filhos, até mesmo a adoção, na visão do protagonista e também da criança. A explosão de cores salta na tela, fruto de uma direção impecável que transborda mensagens através de planos que buscam as emoções em todos os lugares.

Na trama, acompanhamos um jovem trabalhador de vinte e poucos anos, o Daikichi (Ken'ichi Matsuyama), que volta para casa após anos para o funeral de seu querido avô e descobre que o mesmo tinha uma filha pequena de cinco anos fora do casamento. Como toda sua família não quer cuidar da jovem, Daikichi assume essa responsabilidade e assim passará por situações e aprendizados que nunca esperava.

Pra ser pai não existe uma regra, é preciso viver e aprender. Baseado em um mangá japonês chamado Usagi Drop, criado por Yumi Unita, o filme caminha a longos passos longe da melancolia, objetiva seu refletir nos altos e baixos de um protagonista que bate de frente com a responsabilidade. Através de toda a rotina modificada desse ótimo personagem, fortes críticas sociais são vistas, como o olhar para os pais e mães nos empregos privados no Japão, além dos julgamentos que refletem nas crianças quando existe um filho fora do casamento.

A desconstrução do protagonista é muito bem feita, tomado pelo medo e insegurança, aprende com os erros tendo ao seu lado a boa intenção de ser um alguém importante. Essa questão da referência se choca com a própria família de Daikichi que aos poucos vão entendendo a situação, um lugar onde os embates se tornam aos poucos aprendizados pra todos. Vale a pena mencionar também que o olhar da criança sobre questões complexas para serem entendidas nos inícios de caminhadas, como a morte e o luto, também ganham espaço.

Bunny Drop - Surpresas da Vida é um dorama que foge das armadilhas dos clichês unindo a delicadeza e leveza de uma história de pais e filhos sem se esquecer das inúmeras reflexões que a mesma traz.


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15/02/2024

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Pausa para uma série: 'A Confissão'


As esperanças e os medos. O sumiço de uma dona de casa. Um jogo psicológico entre suspeito e polícia. Uma operação secreta. Um julgamento com uma decisão que muda os rumos. Minissérie documental disponível na Prime Video, A Confissão nos mostra todas as lacunas preenchidas sobre um caso de desaparecimento onde uma pessoa é o único suspeito. Com uma pacata comunidade na Inglaterra desconfiada e os sequentes vários olhares sobre a mesma situação, entre entrevistas, gravações originais em áudio, imagens de arquivo, vamos acompanhando essa surpreendente jornada em busca da verdade.

Dividida em duas partes, o projeto nos apresenta os detalhes de um crime que aterrorizou a cidade de Pudsey, Yorkshire, no início dos anos 90. Patt Hall, uma vendedora de cosméticos, saiu de sua casa durante a madrugada após uma discussão com o marido Keith e nunca mais voltou para casa. Com os dias passando, o caso chega até os holofotes da mídia. A frustração da polícia em não encontrar nenhuma pista nas semanas que se seguiriam vira uma exposição evidente. Meses após o sumiço, Keith resolve que é tempo de procurar um novo amor e a partir disso, uma série de situações surpreendentes começam a aparecer e as verdades a serem encontradas.

A narrativa é muito bem apresentada ao público. Após uma visão geral do caso, vamos entendendo os modos de pensar de Keith e também os poucos que o conhecem realmente. Trabalhador autônomo, pai de dois filhos, vivendo um casamento em crise, Keith é introspectivo, não apresenta muitas reações quando confrontado. Será ele o responsável pelo sumiço da esposa? Um jogo psicológico entre suspeito e polícia começa a detalhar parte dessa personalidade do suspeito.

Com o caso virando um verdadeiro circo midiático, a polícia resolve ter uma ideia que mudaria os rumos dessa história. Mas e as provas? Como validá-las aos olhos da polícia? Logo chegamos ao tribunal, as interpretações da lei, um experiente advogado de defesa, talvez uma precipitação da polícia. A minissérie documental busca apresentar todos os detalhes e deixar o público definir sua própria opinião. Tudo é muito bem contextualizado, o roteiro segue o discurso a todo instante rumando para um clímax realmente surpreendente.


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04/02/2024

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Pausa para uma série: 'Sr. e Sra. Smith'


A consciência de um matrimônio. Inspirado nos personagens criados pelo roteirista Simon Kinberg lá naquele famoso filme de 2005, protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, o novo seriado da prime video Sr. e Sra. Smith busca um outro olhar para a já conhecida história onde a violência se mistura com uma potente crise conjugal. Criado pela dupla Donald Glover e Francesca Sloane, o drama engole a ação, fato fundamental para um profundo recorte, fazendo com que cada um dos oito episódios dessa primeira temporada seja impulsionado por uma narrativa empolgante, divertida, nunca deixando a emoção de lado.

Na trama, conhecemos John e Jane, interpretados pelos excelentes Donald Glover e Maya Erskine, duas almas solitárias, novatos no ramo da espionagem, trabalhando para uma agência que mal conhecem onde precisam fingir serem casados enquanto são enviados para as mais diversas relações. Quando os dois começam a desenvolver uma forte atração, o que leva a uma relação de fato, buscam se entenderem ao longo desse praticamente infinito percurso.

Esqueça tudo que você lembra do filme de Pitt e Jolie. Nesse projeto, o foco é outro. Lidando com os obstáculos de formas diferentes, vemos dois personagens completamente diferentes que se jogam em uma nova vida, juntos, quebrando protocolos e de alguma forma ligados aos laços com seus conflitos no passado. Uma casa super confortável em uma grande cidade norte-americana é um dos cenários de intensas e reflexivas discussões da relação através das missões que esses espiões se metem.

Essa comédia próxima ao absurdo, que engloba elementos criativos, anda lado a lado com o forte discurso que propõe, tem cenas de ação empolgantes que são vistas em cada um dos episódios mas o alicerce da narrativa é a construção de um enorme divã sobre relacionamentos. O ciúmes, as incertezas, as fragilidades dos personagens, entre espiões, vilões e dilemas nos perguntamos a todo instante: Há felicidade nesse lar? É possível serem felizes com a vida que levam juntos? Maya e Donald formam uma dupla excelente, em total harmonia, dois personagens brilhantemente construídos. Não seria nenhum absurdo pensar neles para as futuras premiações que envolvem séries.

Com um desfecho em aberto, talvez na esperança de uma breve confirmação de uma segunda temporada, Sr. e Sra. Smith tem uma peculiaridade que só faz aumentar a qualidade. É repleto de participações especiais: Paul Dano, John Turturro, Alexander Skarsgård, Parkey Posey, Úrsula Corberó, Ron Perlman, Sarah Paulsen e até o nosso Wagner Moura, entre outros artistas, somam demais a esse seriado que é, sem dúvidas, uma das gratas surpresas desse primeiro semestre de 2024.


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02/02/2024

Crítica do filme: 'Sede Assassina'


Onde está a origem do trauma? Nove anos após o estrondoso sucesso com Relatos Selvagens, o cineasta argentino Damian Szifron volta às telonas, dessa vez debutando em Hollywood, com um suspense bem contado, um drama hipnotizante, que parte para uma análise do caos de uma série de atentados indo até as profundas camadas de uma protagonista em eterno conflito. Sede Assassina atravessa um olhar para a decadência da esperança se juntando a uma ampla análise psicológica que respondem alguns porquês.

Na trama, acompanhamos Eleanor (Shailene Woodley), uma inexperiente policial, com um passado de traumas e vícios que é recrutada pelo oficial do FBI com mais de 30 anos de experiência Lammark (Ben Mendelsohn) para fazer parte de uma operação de captura a um psicopata que está matando pessoas inocentes e de forma aleatória em uma grande cidade.

A força dramática de seus personagens vira um ponto alto do roteiro, com as fraquezas sendo destrinchadas em conflitos que se misturam levando a algumas jornadas. Nas ruas frias da cidade de Baltimore, histórias se interligam tendo um alicerce preso a incapacidade de completar as lacunas de passados mal resolvidos. Essa análise psicológica profunda transformam esse projeto em pontos interpretativos dentro de suas várias formas de definição.

Do lado do suspense, a narrativa se desenrola com ritmo pulsante onde as verdades aparecem aos poucos. Um assassino que causa o terror vira o epicentro que expõe os conflitos dos personagens através do caótico estado emocional de cada um deles chegando até as reflexões dentro de um estado permanente que se sustentam na leitura sobre a vida e a morte além dos paradoxos das escolhas. Uma pergunta que se segue constante é: Onde está a origem do trauma? A resposta está escondida por trás de ações e inconsequências através da jornada desses personagens.

Sede Assassina, é um filme pouco badalado mas que você precisa descobrir. Está no catálogo da Prime Video.


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19/01/2024

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Crítica do filme: 'Anatomia de uma Queda'


As hipóteses de uma tragédia. Vencedor de muitos prêmios, inclusive a Palma de Ouro em Cannes além dos prêmios de melhor roteiro e melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, o longa-metragem Anatomia de uma Queda nos leva para o campo das suposições, dos dilemas, na vida de uma família que desmorona por completo após uma fato impactante. Escrito e dirigido pela cineasta francesa Justine Triet, o projeto caminha de forma minuciosa pela exclusão da determinação, jogando todos seus holofotes para os fatos, conclusões e achismos que envolvem um casamento em crise que se afunda em frustrações, com a presença de um fardo emocional marcante, após uma outra tragédia no passado.

Na trama, conhecemos Sandra (Sandra Hüller), uma famosa escritora alemã que mora com o marido francês, o também escritor Samuel (Samuel Theis), e o filho Daniel (Milo Machado Graner), de 11 anos, na região dos alpes franceses. Certo dia, Samuel é encontrado morto em uma parte na frente da casa. A polícia logo começa uma investigação e começa a suspeitar que Sandra cometeu o crime, iniciando assim uma jornada de incertezas rumo as verdades em um detalhado julgamento onde o filho do casal, que ficou com deficiência visual após um acidente num passado recente, pode ser uma testemunha chave.

Um rompimento após uma tragédia. O roteiro é engenhoso, detalhista, traça os perfis de suas peças chaves com bastante eficiência. Somos jogados para dentro de verdades de um casamento que desmorona de vez quando se choca com um fato marcante. O egocentrismo, o egoísmo, a inveja, se tornam recorrentes na vida desse casal de escritores. Há também o ponto de vista do jovem Daniel, suas interpretações para tudo que presencia no cotidiano, onde os dilemas se seguem dentro de uma angustiante situação.

Mas como se chega até a culpa ou a inocência? O filme foca nisso? Anatomia de uma Queda é também um filme de tribunal, onde todos buscam compreender o ocorrido, mesmo essa conclusão sendo posta em segundo plano. A narrativa busca olhares para essa família mas com a falta do dinamismo, onde cada detalhe da investigação se sustenta no campo das suposições, assim é compreensível achar o filme maçante em alguns momentos.

O desmoronar através de um fato é uma das peças do efeito dominó que se chega na sua conclusão onde não existe uma verdade absoluta, onde a frustração vira uma tatuagem marcada nas emoções. Anatomia de uma Queda deve marcar presença no mais famoso prêmio do cinema, o Oscar, em algumas categorias. É um projeto que necessita de atenção total durante suas duas horas e meia de projeção.


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15/01/2024

Critica do filme: 'Fale Comigo'


Um grupo de amigos. Um artefato macabro. Sessões de possessão que tem tudo pra dar errado. Uma brilhante narrativa que envolve o espectador pra dentro de um intenso clima de tensão. Primeiro longa-metragem dupla de irmãos cineastas Danny Philippou e Michael Philippou, Fale Comigo não reinventa a roda dos filmes de terror mas busca na criatividade e principalmente na análise profunda na construção de seus personagens a força para um longa-metragem que deve conquistar até que não gosta de filmes de terror. O filme, que estreou nos cinemas brasileiros em agosto de 2023, chegou recentemente ao catálogo da Prime Video.

Na trama, conhecemos um grupo de amigos que resolvem se reunir para uma sessão de possessão através de um artefato macabro que chega até um deles. No início já se deparam com terríveis situações e não percebendo o perigo que podem estar correndo resolvem continuar se encontrando e realizando as sessões. Até que um deles, a protagonista Mia (Sophie Wilde) acaba sendo atingida em cheio pela obsessão à situação, abrindo assim uma conexão constante com os seres do outro lado.

Rodado todo em Adelaide, na Austrália, Fale Comigo, refletindo sobre uma geração, bate de frente com espíritos de uma juventude completamente incapaz de enxergar os limites, muitos desses vivendo em bolhas de imaturidade. Todo roteiro que possui o alcance às consequências dos atos já merece destaque. Longe de qualquer simplicidade para mostrar os desenrolares da ação obsessiva de sua protagonista (a história se desenvolve com um foco maior em Mia, brilhantemente interpretada por Sophie Wilde), a narrativa encontra o egoísmo, o trauma, as desilusões, depressão, ciúmes, culpa, atos impensados, de uma forma dinâmica e envolvente.

Chegando com eficiência nos pontos altos de tensão da narrativa, além de ser muito bem filmado, o filme vai causar alguns sustos. Essa imersão à tensão é a prova de que Fale Comigo consegue seu objetivo que é fazer refletir sobre os limites dentro de uma juventude imatura sem se esquecer do entretenimento que o cinema pode proporcionar. Destaque por onde foi exibido, esse longa-metragem australiano está disponível na Prime Video. Ah! Se vai ter continuação não sabemos. Há margem para tal.


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12/01/2024

Crítica do filme: 'O Jogo do Disfarce'


Os dois lados de uma vida. Você provavelmente já viu algum filme bem parecido com esse novo lançamento da Prime Video. Reunindo um amontoado de clichês, expostos em uma narrativa sonolenta, fruto de um roteiro ingênuo que foge de qualquer criatividade, O Jogo do Disfarce se propõe em seu discurso abordar uma crise conjugal num desenrolar de verdades por trás de mentiras. Feito pra divertir, o projeto se perde a todo instante com seu leme apontado para o previsível.

Na trama, conhecemos Emma (Kaley Cuoco), uma mulher super dedicada a sua linda família, casada com o carinhoso Dave (David Oyelowo), mas que esconde um importante segredo. Sete anos casada, com dois filhos, moradora de Nova Jérsei, Emma passa seus dias se desdobrando entre os afazeres profissionais como assassina de aluguel e a vida familiar. Certo dia, quando percebe junto ao marido que precisam apimentar a relação, eles tem a ideia de se encontrarem em um hotel luxuoso, fingindo não se conhecerem, e assim terminar a noite de uma forma diferente. Só que nesse lugar, Emma vai bater de frente com sua outra vida, gerando uma série de situações.

Não tem como eu começar esse texto dizendo que reinventaram um modelo batido de entretenimento. Eu bem que queria dizer isso. Mas...longe disso. Dirigido pelo cineasta francês Thomas Vincent, em seu segundo longa-metragem de ficção após uma passagem pelo universo das séries dirigido alguns episódios de Os Bórgias, Versailles, Reacher entre outras, O Jogo do Disfarce é um pouco mais do mesmo do que já vimos por aí. Embarcando em uma história com construções simplistas, na linha do superficial, onde os conflitos da protagonista se resumem a um acordar de uma estrutura fantasiosa que criou precisando lidar com as consequências de sua arriscada profissão, o filme chega quase sem forças ao ponto mais alto de tensão na sua narrativa.

Se buscarmos um olhar para a crise conjugal que o casal enfrenta, temos algumas camadas a partir disso que podem gerar reflexões. Inclusive, indo por essa estrada o filme pode até se tornar mais interessante. As dificuldades que já existem em qualquer casamento se somam a uma protagonista que estaciona no seu presente se sentindo culpada pelo acúmulo das mentiras. Pena que o roteiro não desenvolve mais essa relação, flertando com a rápida chegada de uma ação desenfreada onde tudo fica mais desinteressante.

Indo atrás de pausas dramáticas aos montes, escorregando em clichês, O Jogo do Disfarce é um filme despretensioso, frio, sem nem ao menos pingos de emoção. Mas assista, tire suas próprias conclusões.


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