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01/06/2025

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Pausa para uma série: 'A Melhor Irmã'


As surpresas de um homicídio contadas através de uma família disfuncional. Ao remexer traumas familiares, mostrando a bagunça da verdade de um assassinato através de personagens moralmente ambíguos, a nova série da prime video A Melhor Irmã mergulha em um drama incisivo que se entrelaça no suspense de forma organizada. Ao longo dos oito episódios, vamos criando uma imensa curiosidade sobre as verdades que vão aparecendo em doses precisas.

Baseado na obra The Better Sister, escrito pela romancista norte-americana Alafair Burke, o projeto apresenta seu ‘Casos de Família’ através dos ressentimentos e traições, um duelo entre a espontaneidade e o modelo da perfeição. O foco principal são duas irmãs e muito mais que um conflito. Em cena, brilham duas atrizes em excelência na atuação - Elizabeth Banks e Jessica Biel - nos guiando para um desfecho de tirar o fôlego.

Chloe (Jessica Biel), é um mulher bem-sucedida, editora-chefe de uma revista de sucesso, que vive sua rotina de milionária ao lado do marido, o advogado Adam (Corey Stoll), e do filho Ethan (Maxwell Acee Donovan). Sua rotina é interrompida quando Adam é brutalmente assassinado e Chloe encontra seu corpo quando chega em casa. A partir desse momento, segredos profundos sobre o casamento começam a vir à tona — incluindo a chocante revelação de que Ethan é, na verdade, fruto de um relacionamento entre Adam e Nicky (Elizabeth Banks), irmã de Chloe. Sem opções, a não ser lidar com o passado e os conflitos entre elas, Chloe e Nicky precisam superar as desavenças e encontrar soluções para os conflitos que aparecem.

O roteiro segue uma linha reta rumo ao desembaralhar os conflitos, um discurso forte e poderoso que passa pela curas das feridas mais profundas. Personagens ambíguos vão preenchendo todo o epicentro da trama dando forma a um instigante drama familiar. Passando pelas memórias nem sempre boas e as verdadeiras companhias nos momentos sombrios, as margens para surpresas se tornam constante em um esforço bem-sucedido de evitar a obviedade.

A narrativa é modelada com o auxílio de flashbacks, fato que ajuda demais para as arestas serem alinhadas. Com a investigação do assassinato indo calmamente para um plano de fundo, a luz se joga para assuntos que circulam os conflitos no presente entre as irmãs. Assim, ganhando camadas imprevisíveis, chegamos na violência doméstica, olhar para a maternidade, o alcoolismo, segredos e traumas do passado. Ainda em relação à narrativa, há um interessante ponto que merece destaque: poucos personagens são escanteados, cada subtrama exerce a função de complemento e se cruzam com a história principal.

A Melhor Irmã é uma série que surpreende, não tanto pelo suspense mas pelos fios de reconstrução de laços entre duas irmãs marcadas por eventos que fizeram seus caminhos se distanciarem - e novamente se unirem. É uma série que te prende desde o primeiro episódio. Se você está em busca de uma série envolvente para maratonar, essa é a escolha certa para dar o play.

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11/05/2025

Crítica do filme: 'Fight or Flight'


Você pode chamar a atenção com um filme de várias formas. Uma delas é reunir no pacote vários clichês de um gênero cinematográfico e criar sem limites uma história que atira para todos os lados. Se isso vai dar certo ou não, aí é preciso analisar outras variáveis. No curioso novo filme do catálogo da Prime Video, Fight or Flight, tem um pouco de tudo quando liga-se um liquidificador de loucuras marcado pelo humor perturbado - e por partes sem sentido - onde acompanhamos horas tensas de um carismático protagonista em busca de uma volta pra casa.

Lucas (Josh Hartnett) é um ex-agente da CIA que após uma situação em uma missão é praticamente retirado do sistema, conseguindo abrigo em Bangkok. Anos se passam e ele recebe um telefonema de Katherine (Katee Sackhoff), uma ex-namorada e atual chefona de uma rede poderosa que está com um enorme problema. Tendo em vista a possibilidade de voltar para casa, Lucas resolve aceitar um trabalho perigoso que só se complica quando entra em um avião repleto de assassinos impiedosos.   

O roteiro escrito por Brooks McLaren e D.J. Cotrona não tenta ser igual a tantos outros, busca sua originalidade, reunindo ideias batidas de filmes de ação e transformando numa locomotiva de possibilidades que logo se prende como chiclete em um discurso esporrento. O tempo certo da comédia em meio ao banho de ação é cirúrgico, a cereja do bolo tanto desejada pelas produções. Quando o entretenimento chega exatamente do fato de não se levar a sério, sempre encontramos pontos interessantes e que de alguma forma chama a atenção do público.

James Madigan, em seu primeiro trabalho como diretor de longas-metragens, vem de uma carreira com mais de 25 trabalhos na parte de efeitos visuais. Essa experiência nessa parte importante do processo cinematográfico é vista a todo momento. Com uma direção segura e bastante criativa, transforma – principalmente os atos finais dessa história - em um baile divertido tendo mentes perturbadas na frente das ações. Em relações as atuações, vale o destaque para Josh Hartnett, hilário no papel.

Com sangue por todos os lados, coreografias fantásticas, o clima de tensão debochado logo vira um show de maluquices onde acompanhamos o anti-herói e seus problemas na insistência de não desistir. Os estereótipos imersos nas ironias das paródias se grudam como chicletes em paralelos também com os clichês mais batidos do mundo, uma fórmula que encaixa como uma luva. Nesse show chamativo de um aparente desencontro acaba nascendo um filme eficiente que tem tudo para virar uma franquia.


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07/05/2025

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Pausa para uma série: 'Étoile: A Dança das Estrelas'


A californiana Amy Sherman-Palladino já é um nome bastante conhecido dos amantes das séries. Mente criativa por trás de sucessos como: Gilmore Girls e Maravilhosa Sra. Maisel, em 2025 chega com seu novo trabalho: Étoile: A Dança das Estrelas. Percorrendo os bastidores de duas companhias de balé de forma sarcástica e com muito humor, trazendo problemas atuais para uma arte centenária - além de um ótimo elenco - o projeto se consolida como uma obra-prima de oito episódios que emociona e faz rir na mesma intensidade tendo a cultura como força motriz.  

Com um texto inteligente e empolgante – que nunca escapa de seu discurso afiado - conhecemos os conflitos de bailarinos, administradores, mães e filhas, pessoas influentes querendo se impor, além de trazer para debates questões sociais importantes quando o assunto é contemplar em vez de postar. Cheio de críticas pelas suas entrelinhas, essa nova série da Prime Video é viciante, daquelas para maratonar em um único dia!

Jack (Luke Kirby) é o administrador de uma renomada companhia de balé norte-americana que passa por grandes sufocos na tentativa de renovar o interesse do público para os espetáculos. Sofrendo do mesmo problema, Geneviève (Charlotte Gainsbourg) se encontra numa forte pressão dos patrocinadores da sua companhia, também famosa, na França. Quando surge uma mirabolante ideia, trocar os talentos para um intercâmbio durante um período, a vida desses dois administradores trará conflitos que vão do céu o inferno.

O desenvolvimento dos personagens é algo que chama a atenção. Nossos olhares se desdobram para acompanhar subtramas profundas que logo atingem os epicentros dos sentimentos. Como não amar Geneviève – interpretada pela fabulosa atriz Charlotte Gainsbourg – uma mulher na casa dos 40 anos que vive um furacão no seu presente, tendo que lidar com o problemas de seu trabalho e ainda se entendendo no momento atual da vida pessoal. Outra personagem que chama a atenção é Cheyenne (Lou de Laâge), um ponto de encontro de muitos dos conflitos que aos poucos vai ganhando camadas para a entendermos melhor.

Mas o ‘pulo do gato’ aqui é conseguir chegar ao interessante por meio de bastidores de uma espécie de empresa. As vertentes administrativas aqui ganham desdobramentos hilários, é um shoe de sofrimentos recompensadores que saltam aos nossos olhos. O roteiro consegue adaptar o contemporâneo com uma arte cultural centenária por meio dos deslizes das emoções e também do lado moral. Mesmo quem não conhece o universo do balé vai se deliciar com os ótimos debates que ganham tons provocativos através do sarcasmo em cada um dos episódios.  

 

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01/03/2025

Crítica do filme: 'O Reformatório Nickel'


Com uma narrativa que chama a atenção com sua criatividade e dinamismo, um dos indicados ao Oscar de Melhor filme em 2025, O Reformatório Nickel, mostra desde seu arco inicial a força que esse filme teria para trazer através de memórias dolorosas reflexões importantes para a sociedade. Esse é um daqueles filmes que você assiste e não esquece.

Ambientado em partes na década de 1960, acompanhamos Elwood (Ethan Herisse) um jovem negro, cheio de sonhos, que um dia após pegar uma carona acaba sendo enviado injustamente para um reformatório conhecido pelo tratamento abusivo. Nesse lugar, vive experiências marcantes numa época de separação racial e enorme preconceito, encontrando na amizade do colega Turner (Brandon Wilson) uma força para passar pelos obstáculos que o destino colocou em sua frente.

Baseado no livro homônimo ganhador do Prêmio Pulitzer de ficção em 2020, escrito pelo romancista norte-americano Colson Whitehead, o filme tem uma ótima sacada ao seguir com a câmera o ponto de vista dos protagonistas, provocando uma imersão fantástica que agrega imagens e movimentos para as intensas emoções dessa jornada de angústia, dor e preconceito. Essas trocas de perspectivas dão um fôlego interminável para a narrativa, com ângulos e imagens aleatórias completando uma experiência marcante e emocionante.

Com a surpresa de atravessar o tempo, num antes e depois, que vira uma única reta, contextualizando toda a experiência vivida num lugar cruel, acompanhamos a indignação, o preconceito descarado, em uma época triste da nossa história. Aos olhos de Elwood e Turner, um repleto de ideais e outro completamente cético ao futuro, exemplos entre tantos outros que sofreram a mesma dor, percorremos essas memórias doloridas que se mostram presentes, presos ao passado difícil de esquecer.

Com mais de 50 vitórias em premiações e com duas indicações ao Oscar 2025, O Reformatório Nickel entrou na Prime Video nesse início de 2025. Não deve ganhar o Oscar mas não deixa de ser um dos mais profundos filmes da seleção desse ano. Belo trabalho!

 

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21/02/2025

Crítica do filme: 'De Sombra e Silêncio'


A cumplicidade em meio a um mar de descobertas. Diretamente de um país da Europa central com ótimas contribuições à sétima arte, a República tcheca (ou atualizado, Tchéquia), o longa-metragem De Sombra e Silêncio de forma objetiva e sem muita delonga transforma um segredo familiar em um pilar de acontecimentos surpreendentes  que rumam para o imprevisível.

A vida do veterinário Martin (Marian Mitas) passou por uma enorme transformação após um acidente de trabalho, fato esse que o deixou em uma situação estável mas bastante limitada, sem falar e com sérios problemas. Para cuidar dele, a esposa Erika (Jana Plodková) entra logo num embate com a sogra Dana (Milena Steinmasslová), com quem nunca teve boa relação. Com a chegada de uma outra mulher nessa história, segredos do passado vai sendo passados a limpo culminando em uma série de situações surpreendentes.

Umas das chaves do roteiro assinado - pelo também diretor da obra - Tomas Masin é gradativamente empilhar camadas em relações que chegam ao estopim com um acontecimento abrupto que muda todas as vidas dos personagens. Durante uma investigação de assassinato, com flashbacks que ajudam a reviver peças importantes desse tabuleiro misterioso, vamos vendo o desenvolvimento dos personagens num antes e depois. Isso entrega um dinamismo que ganha os caminhos da tensão.

Assuntos direcionados para as relações e a sociedade vão compondo uma série de elementos importantes para entendermos motivos dentro de ações e consequências. O elenco é ótimo, principalmente o trio feminino afiado em esconder o que nos espera no desfecho. E que final, já vale o ingresso!

Dentro do recorte que busca, num discurso reto e objetivo, há um olhar para a sociedade logo chegando de encontro com a exposição em torno da eutanásia, nas visões sobre uma traição, os embates familiares de longa data e a maturidade que se alcança através de um revés. Esse é um daqueles filmes de suspense bons para debate.


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12/02/2025

Crítica do filme: 'Com Você no Futuro'


Já olhou nos olhos de alguém e sentiu uma conexão? As fitas cassetes de outrora, os momentos que ficam guardados e nunca mais esquecidos são alguns dos elementos que envolvem o novo filme da Prime Video Com Você no Futuro, romance dramático camuflado de fantasia ingênua guiada por uma trilha sonora de uma das bandas mexicanas mais famosas de todos os tempos, Maná. Pena que a narrativa sonolenta nos leva para uma jornada convencional e pouco atrativa.

Carlos (Michel Brown) e Elena (Sandra Echeverría), antes muito apaixonados, hoje vivem as tristezas de um divórcio. Certo dia, ele um advogado estressado e ela uma musicista, se deparam com uma situação inusitada, uma pessoa que diz ser o cupido (Mauricio Barrientos) entrega a eles uma chance de reviver sua história de amor numa volta ao passado no ponto onde tudo começou. Assim, guiados pelas músicas do famoso grupo musical mexicano embarcarão em dilemas e reflexões sobre a relação.

Não sei vocês mas eu adoro a banda mexicana Maná. E por esse motivo, fui conferir esse filme. Talvez fosse melhor escutar as canções pelo Spotify. Reunindo uma série de fantasias e realidades distantes para abordar a relação a dois, o longa-metragem escrito e dirigido pelo cineasta mexicano Roberto Girault é um show de desencontros em duas épocas. Com o alvo mirado nas reflexões sobre casais em crise – algo que representa de alguma forma a maturidade - o tiro que não sai pela culatra, se tornando um show pelos deslizes da imaturidade.

Seguindo uma fórmula de bolo batida de muitas comédias românticas, pegando o passado como uma forma de mudanças de um presente estagnado, o roteiro - apoiado num confronto com o começo de um fim - costura os arcos dramáticos de forma corrida, não aproveitando personagens e principalmente o contexto temporal como uma ferramenta para preencher lacunas de uma relação. Nesse passatempo ingênuo, o previsível é algo constante nos 90 minutos de projeção.  


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08/02/2025

Crítica do filme: 'A Ordem'


Não é de hoje que os debates sobre o nazismo apresentam questões que ainda chocam. Trazendo mais um recorte desse universo totalitário, com o preconceito a flor da pele, A Ordem, novo filme protagonizado por Jude Law, nos mostra de forma intensa as investigações policiais que levaram ao desmanche de uma célula neonazista. Com uma narrativa detalhista que busca apresentar os pormenores de um história real ocorrida em partes dos Estados Unidos, o projeto nos leva até o modo de pensar e execução, aliado ao medo e terror, pelas irmandades milicianas de supremacistas brancos.

Ao se mudar para uma nova cidade, o agente do FBI Terry Husk (Jude Law) logo se depara com surgimento - e logo ascensão - de um grupo de supremacistas brancos que levantam dinheiro através de roubo a banco e falsificação de cédulas. Seu líder é Bob Mathews (Nicholas Houht), um homem impiedoso e metódico que a cada hora se torna mais poderoso. Buscando fechar o cerco contra o grupo, Husk se une ao policial Jamie (Tye Sheridan) para uma caçada sangrenta e com algumas reviravoltas.

Baseado em fatos reais e ambientado no início da década de 1980, e muito mais profundo que o pensamento superficial de ser um filme de ‘Polícia vs ladrão’, essa história mostra cada faceta - e maneira de pensar – do texano Robert Jay Mathews, um terrorista norte-americano líder do grupo intitulado A Ordem. Essa página triste na história dos Estados Unidos é retratada aqui de forma dura e visceral, com atuações excelentes que só elevam a qualidade do filme.  

Muito bem datado, o roteiro busca seguir os passos do bando com precisas localizações, dividindo o filme de maneira intuitiva, principalmente nos atos de desenvolvimento da história, onde o público, após uma breve apresentação, embarca nos confrontos que passam os personagens. A direção do cineasta australiano Justin Kurzel é precisa, consegue captar nossa atenção em cenas de ação de tirar o fôlego e no conturbado das emoções dentro de todo o arco dramático. Mesmo você que possa conhecer a história que fora baseado esse filme, ainda se surpreende.

Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado e baseado no livro The Silent Brotherhood de Kevin Flynn e Gary Gerhardt, o projeto disponível no catálogo da Prime Video garante duas horas de muitas reflexões mostrando as verdades por trás dos absurdos fascistas/nazistas que vemos até hoje por aí.

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18/01/2025

Crítica do filme: 'O Assassino do Calendário'


O abismo e as reflexões. Lançado na Prime Video nesse início de 2025, o suspense alemão O Assassino do Calendário nos apresenta peças embaralhadas num suspense que tem como estrutura base fortes reflexões sobre a violência doméstica. Partindo da tensão criada por ações de um serial killer inescrupuloso que coloca em dilema suas vítimas, partimos para um forte drama tendo dois personagens que não se conhecem no epicentro dos acontecimentos durante horas de um dia cheio de variáveis. A direção é de Adolfo J. Kolmerer.

Amargurada por anos de sofrimento e sem saber o que fazer quando é ameaçada pelo conhecido Assassino do Calendário, Klara (Luise Heyer) está à beira de um precipício emocional e acaba entrando em contato com um telefone que ajuda vítimas a chegarem em casa. Do outro lado da linha, o traumatizado Jules (Sabin Tambrea) faz de tudo para ajudá-la durante toda noite que se segue. Só que aos poucos vamos entendendo melhor toda essa história que apresenta muitas surpresas.

Baseado no livro Der Heimweg, do escritor e jornalista alemão Sebastian Fitzek, o projeto busca nas surpresas apresentar os elos que se fecham numa história onde as subtramas acabam sendo uma parte importante do discurso. O roteiro baseado na obra de Fitzek tenta adaptar as sensações de angústia através de lacunas soltas que vão sendo preenchidas, passando por um forte clima de tensão. Tem momentos que a narrativa, em busca de criar caminhos para suas reviravoltas se perde ou mesmo fica óbvia mas mesmo assim consegue prender a atenção.

Se você pensa que esse filme é igual a outros onde rumamos para a descoberta do assassino e somente isso, não se engane. A violência doméstica ganha o holofote por aqui, se tornando o principal ponto de reflexão. Através das dores de uma protagonista indecisa sobre seu futuro, sem saber como se livrar de uma marido completamente doente, vamos sendo apresentados a uma história parecida com muitas que infelizmente acontecem na realidade. O forte discurso explorando esse assunto se torna um dos méritos do projeto. As revelações do Serial Killer, motivações, psicopatia, acabam sendo apenas um complemento. Algo que se mostra certeiro.   


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14/01/2025

Crítica do filme: 'Além do Tempo'


Como viver após uma tragédia? Olha, tem alguns filmes que realmente conseguem passar toda a força das emoções por mais duras e inalcançáveis que elas sejam. O drama holandês Além do Tempo - completamente perdido lá no catálogo da Prime Video – nos apresenta uma história em duas linhas temporais sobre o caos emocional da perda, no entendimento do luto, na visão de pessoas que se amam que tiveram esse amor marcados por uma tragédia.

No início dos anos 80, tudo ia bem na vida dos jovens apaixonados Johanna (Sallie Harmsen) e Lucas (Reinout Scholten van Aschat) que estão à bordo de um cativante navio viajando por lugares lindos junto de seu filho, Kai. Certa hora, em pleno alto-mar, eles percebem que a criança sumiu e aos poucos o desespero daquela situação viraria uma página triste na história deles. Décadas mais tarde, eles se reencontram e muito do não dito vem à tona.

Filmado em Portugal, Malta, Republica Dominicana e na Holanda, Além do Tempo pode ser dividido em duas partes complementares que a narrativa envolve numa espécie de vai e vem como se fossem peças de um profundo marcante quebra-cabeça emocional. Na primeira, vemos a consolidação da tragédia e os primeiros passos após. Na segunda, unindo a arte com as lembranças transforma esse projeto em algo bem especial.

O luto e a dor são variáveis constantes por aqui. Vemos num mar de tristeza o desenrolar de uma deteriorização de uma forte paixão. A tragédia se une nesses pontos, mostrando de forma visceral os curtos caminhos rumo a um ‘seguir em frente’ e as difíceis decisões que podem conter nessa estrada sem volta na fuga pela dor. Com uma pequena reviravolta em seu desfecho rumamos para reflexões sobre os altos e baixos.


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13/01/2025

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Pausa para uma série: 'Plantão Policial'


As verdades da rua. Com oito excelentes episódios em sua primeira temporada, a nova série da Prime Video - Plantão Policial - apresenta através de dois personagens, do lado da lei, repleto de problemas nos respectivos presentes uma sólida trama onde as surpresas e ações impensadas se encontram nos limites da ebulição emocional.  Enfrentando dilemas e a corda bamba da ética e da moral, a narrativa se joga para dentro das ruas violentas de uma cidade que não parece dormir.

Introspectiva e com um passado recente cheio de amarguras e conflitos com outros policiais, a experiente oficial do corpo de polícia de Long Beach, Harmon (Troian Bellisario), recebe a missão de treinar mais um recruta, Diaz (Brendan Larracuente), um rapaz destemido que sofre com o irmão preso e precisa aprender muito mais do que imagina. Ao longo do tempo que formam dupla, esses dois policiais enfrentarão casos violentos pelas ruas da cidade.

Muito bem dirigido - com episódios conduzidos por Brenna Malloy e Eriq La Salle - o projeto consegue chegar numa poderosa imersão explorando as consequências principalmente quando os limites são ultrapassados. As câmeras no uniforme ajudam a dar um clima intenso sobre as verdades da rua, a trama abre um leque de variáveis que vão desde os julgamentos de ações até a parte política que mesmo não ganhando personificação está por todos os lados.

Assinado por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção do famoso showrunner Dick Wolf - criador da franquia Lei e Ordem - a série consegue reunir todos os elementos apresentados apontando para um clímax convincente que liga todos os capítulos. Criminosos cruéis, problemas familiares, violência extrema, esses e outros pontos são envoltos na responsabilidade e papel social da polícia que se vê em constante interrogações sob o foco na maneira de agir.

Há uma questão que percorre de forma nada silenciosa tudo que assistimos: Como fazer a diferença em um universo tão violento? A estrutura para isso ser apresentado - nos episódios de duração com cerca de 30 minutos - é estabelecer uma relação mestre x aprendiz mas que se encontram em muitos pontos deixando o discurso afiado. Com a classificação 18 anos, Plantão Policial já pode ser considerada uma das ótimas novidades na Prime Video nesse início de 2025.


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08/01/2025

Crítica do filme: 'A Hora do Silêncio'


Buscando chegar na tensão por meio de uma perseguição em um prédio quase desativado, A Hora do Silêncio, que chegou ao catálogo da Prime Video no finalzinho de 2024, atravessa o mundo das sensações através da perda de um sentido estabelecendo desde o início o velho e batido jogo entre heróis e bandidos. Dirigido pelo cineasta norte-americano Brad Anderson o projeto não é mais do mesmo mas também não alcança todo seu possível potencial.

Na trama acompanhamos Frank (Joel Kinnaman) um obstinado policial que após um acidente num dia de trabalho acaba perdendo a audição. O tempo passa e ele acaba se envolvendo num caso onde uma testemunha surda, Ava (Sandra Mae Frank), corre perigo. Depois de uma série de desencontros, ficam presos num prédio onde precisam encontrar uma solução de fuga lutando pela sobrevivência.

Um fator interessante é que o protagonista entra em desconstrução a partir do momento que percebe a aceitação da sua nova condição caindo das mãos, mesmo em um recorte não muito profundo. É válido as reflexões sobre o tema, mas novamente de forma trivial. As dores do sobreviver encaixam nas dúvidas do protagonista que precisa encontrar novas maneiras de enxergar e viver seu cotidiano estabelecendo uma camada de alguma forma sólida.

A narrativa não surpreende mas também não foge do que propõe: um 'polícia e ladrão' com os deslizes da moral como cereja do bolo. Acelerado para se estabelecer no gênero cinematográfico que mais veste a camisa, A Hora do Silêncio tem um discurso que encontra a narrativa durante todo o tempo e mesmo não causando impacto apresenta um recorte do gênero policial perto do satisfatório.


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07/01/2025

Crítica do filme: 'Temporada de Caça'


Um intrigante narrador anuncia uma espécie de prólogo para o que viria a ser uma jornada de angústia, sofrimento, loucura e escolhas onde um protagonista no limite das emoções dá as cartas. Lançado no final da década de 1980, Temporada de Caça aborda a obsessão e o psicológico - além de seus porquês - em meio a traumas de um passado com sequelas e um presente confuso. 

Na trama, ambientada numa cidadezinha fria no interior dos Estados Unidos, conhecemos Wade (Nick Noite) um policial local, com traumas familiares no passado, que vive um alvoroço no seu presente. Tentando se entender com a filha que vive com a ex-esposa e com os pensamentos sempre tumultuados sobre tudo que aparece em seu cotidiano, acaba ficando obcecado por um acidente de caça fatal, com um líder sindical, que acontece na região. 

O roteiro é primoroso. É uma trama muito bem amarrada, com um desenvolvimento impecável de um protagonista amargurado, dissecado por uma narrativa detalhista. Tudo funciona em cena: a atmosfera fria que dialoga com os acontecimentos trágicos que acompanhamos, além de potentes atuações de Nick Nolte e James Coburn. 

Em camadas profundas, vemos um raio-x de um perturbado psicológico e percebemos reflexões sobre as razões humanas. Nesse ponto, a violência familiar se torna a sustentação de argumentos que vemos nas atitudes de um homem à beira da loucura que em seu isolamento constante ultrapassa os julgamentos morais chegando ao precipício por não encontrar o sentido do viver. Tudo isso é mostrado com a tensão nas alturas. 

Indicado para dois Oscars - vencendo na categoria de melhor ator coadjuvante (James Coburn) - Temporada de Caça é um filme onde a história está toda no seu personagem principal que dentro do seu egocentrismo derruba qualquer barreira do trivial.  Baita filme.


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04/01/2025

Crítica do filme: 'Querida Zoe'


A tristeza do antes e o conseguir lidar com o depois. Lá em 2022 chegava em alguns cinemas pelo mundo um filme que possui no tripé: culpa, luto e tragédia elementos que andam acoplados num mesmo presente. A representação disso tudo chega numa desconstrução de uma jovem que se vê patinando nas referências que possui. Querida Zoe, adaptação de um livro homônimo escrito pelo romancista norte-americano Philip Beard, basicamente pode ser definido como um drama que nos leva até a história de um alguém que se vê num céu nublado sem saber como sair dele.

Na trama conhecemos Tess (Sadie Sink) uma jovem que passa por um momento difícil após uma tragédia e se distanciar da mãe Elly (Jessica Capshaw). Sem saber o que fazer, resolve ir morar com o pai Nick (Theo Rossi) por um tempo e nesse período busca entender a vida sob novas perspectivas. Ao longo da história vamos entendendo melhor alguns porquês dos conflitos da personagem.

Como uma espécie de ‘grito de socorro’ Tess é levada até outra realidade, a do pai, um homem amoroso mas perdido no lado profissional. Aqui o roteiro abre camadas para uma desconstrução através do olhar pelo outro. Entram em cena: um vizinho com problemas, a mãe presa ao luto, um padastro em crise emocional. Como tudo passa pelo ponto de vista da protagonista a história se enrosca na melancolia desabrochando de forma lenta mas com reflexões.    

Problemas todo mundo tem mas só quem sente sabe os abalos que podem causar uma dor. Buscando uma ampla análise sobre o tripé mencionado no primeiro parágrafo, a narrativa se embola um pouco querendo seguir algumas vertentes que dão voltas em torno das relações familiares. Com essa visão geral, o sentimento de dor moral associado a culpa parece a estrada mais sólida para entendermos o quebra-cabeça emocional que passa a protagonista. Querida Zoe mesmo com seus quebra-molas não deixa de ser um interessante retrato sobre respostas quando nada mais faz sentido.


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03/01/2025

Crítica do filme: 'Cosas Imposibles'


Tem muitos filmes interessantes escondidos no catálogo da Prime Video. Cosas Imposibles é um deles. Passando por fragmentos de uma construção da solidão, as marcas de um passado que atingem o presente conhecemos dois personagens, completamente opostos que embarcam em uma jornada da vida real e suas descobertas. 


Na trama conhecemos Matilde (Nora Velázquez) uma mulher mais velha que recentemente ficou viúva. Sem conseguir se desprender de lembranças ruins e precisando procurar emprego pra sobreviver, acaba se aproximando de Miguel (Benny Emmanuel), um jovem que está num caminho sem direção. Assim, encarando as consequências de atos que se somam, uma amizade nasce e traz muitas lições.

Esse longa-metragem mexicano tem uma narrativa que vai conquistando aos poucos. Tudo é pincelado preenchendo contexto, então paciência até as reflexões aparecerem. E elas chegam! Um encontro de dois mundos que vivem no mesmo lugar esbarra no escapar da realidade, no deixar para trás o que já era cinza. Tudo isso é contado de forma poética mas sem nunca deixar de se aproximar das muitas realidades por aí.

As camadas dos personagens se desenvolvem dentro da arte do redescobrir-se. Atormentada, com um transtorno psicológico constante convivendo com alucinações, Matilde chega aí fundo do poço. Miguel busca sobreviver através dos atos errados, do que é fácil, traficante sem direção possui um segredo que acaba sendo o trampolim para novos olhares. A amizade, ponto fundamental da vida em sociedade, é o fim do túnel que aos poucos vai se preenchendo com esperança de dias melhores. 

Cosas Imposibles e sua delicadeza ao mostrar recortes de nossa sociedade brinda o público com uma história forte mas que encontra os lapsos de um renovar. 



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17/12/2024

Crítica do filme: 'Cidade de Asfalto'


Focado nas angústias e verdades de realidades vistas pelo cotidiano de um jovem que entra para o corpo de oficiais de emergência de uma das mais famosas cidades do planeta, Cidade de Asfalto é um compilado de situações que colocam em xeque a sanidade mental, a ética, e as incertezas sobre a moral. Nessa linha tênue entre o que é certo e o que dá pra fazer, o protagonista enfrenta uma incansável crise existencial buscando galhos de esperança através das referências que encontra pelo caminho. Tudo isso é composto por uma narrativa visceral, nua e crua, que também leva à reflexões.

Na trama conhecemos Ollie (Tye Sheridan), um esforçado novato na função de paramédico que se dedica também aos estudos para uma vida melhor. No seu ofício, no complexo turno da noite, logo de cara enfrenta o caos das emoções que chegam forte por um cotidiano repleto de dor e emoções conflitantes. Aos poucos busca na sua única referência, Rut (Sean Penn), um experiente na função, algum sentido para seu presente. Mas nada será tão simples.

Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano de 2023, esse projeto busca sem sutilezas nos levar para uma situação de luta pela sobrevivência através do psicológico conturbado de um alguém sem diretriz. Partindo desse ponto, logo em subcamadas, percebemos uma imersão no que gira ao redor do protagonista. Um relacionamento distante logo afetado por seu trabalho, um parceiro de turno que de referência vira um ponto de interrogação pela absorção do caos na própria vida, as dificuldades em sobreviver quando tudo desmorona. Essa visão pessimista sobre os desandares urbanos se torna o alicerce de um roteiro que recorta situações para preencher o todo, uma fórmula que pode agradar ou desagradar, sem meio termo.

Dirigido pelo cineasta francês Jean-Stéphane Sauvaire, Cidade de Asfalto joga luz para funções com forte carga emocional, aqui com os holofotes apontados para os paramédicos. Essa profissão tão explorada no mundo dos projetos seriados, ganha nesse longa-metragem algo mais ‘pés no chão’, através de verdades de noites e mais noites no combate para salvar vidas mas abrindo brechas para reflexões sobre os contextos. Guiados pelo ótimo elenco, que além de Sheridan e Penn, tem a ótima Kali Reis e uma participação especial de Mike Tyson, o filme busca as verdades da rua através de heróis que nunca deixam de estar de frente para o que der e vier.


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30/11/2024

Crítica do filme: 'Submissão'


Tentando implementar um suspense sensual em meio a um retrato melancólico de um drama familiar o suspense Submissão caminha de forma desordenada pela redundância, se distanciando do discurso. Dirigido por SK Dale e protagonizado por Megan Fox, a produção que estreou na Prime Video nesse segundo semestre de 2024 é uma junção de peças sem sentido que nos levam até o caminho do desinteresse.

Na trama conhecemos Nick (Michele Morrone), um pai de família que vive um presente conturbado precisando cuidar dos dois filhos pequenos e com a esposa Maggie (Madeline Zima) precisando de um transplante de coração pra sobreviver. Para ajudá-lo no seu cotidiano, ele compra uma robô, Alice (Megan Fox). Aos poucos vai percebendo que essa escolha pode trazer muitos perigos para sua família quando a inteligência artificial começa a descobrir atualizações em seu sistema.

As questões sociais e os impactos da implantação da tecnologia é um tema recorrente no mundo do cinema. Por aqui ganha foco na questão da substituição de humanos por máquinas. Usuário principal, protocolos, sistemas em conflitos, rebelião de IA, há uma tentativa de imersão nesse universo e os contrapontos que atingem a sociedade. A questão é que sem a profundidade necessária, o projeto não encontra camadas, se tornando refém de chamativas cenas sensuais para gerar um clímax sem criatividade.  

A tecnologia como negócio, com as grandes corporações fazendo uso da inteligência artificial via robôs programados para fazerem tudo parece ser uma linha que busca juntar os pedaços dessa narrativa sonolenta, previsível, que se perde ao tentar unir a isso o forte drama familiar instaurado. A questão mais evidente que percebemos é que tinha elementos que poderiam serem melhor explorados. É como se a história estivesse lá mas a narrativa não acontece.

Logo alcançando o top 1 da Prime Video, Submissão (Subservience, no original) é um passatempo pouco criativo que busca chamar a atenção no ardente conflitante de um pai juntando os cacos de um presente caótico com cenas pouco inspiradas de máquinas em busca de atualizações para terem autonomia. Muito pouco para agradar.   

 

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16/11/2024

Crítica do filme: 'O Melhor está por Vir'


O descobrir e o redescobrir. Trazendo a história de uma forte amizade impactada por uma terrível notícia, o longa-metragem francês O Melhor Está por Vir sai correndo dos ares melancólicos óbvios tendo como maior mérito transformar um assunto delicado em uma jornada leve e descontraída. Convencional do início ao fim – fato que pode incomodar o olhar cinéfilo mais atento e exigente - se torna um passatempo divertido pelas conexões emotivas que consegue transmitir.

Na trama conhecemos Arthur (Fabrice Luchini), um professor e pesquisador que é taxado como chato pela maioria das pessoas que conhece, menos pelo melhor amigo Cesar (Patrick Bruel). Quando Arthur fica sabendo que Cesar está com uma doença terminal, esconde a informação e resolve realizar todos os desejos do amigo.

Como transformar um assunto pesado em uma narrativa leve? Com forte uso de clichês e derrapando na obviedade, a receita de bolo escolhida por aqui foi tentar divertir ao máximo e impulsionar a carga dramática quando necessário. Contando com carismáticos personagens – e uma harmonia em cena dos ótimos Luchini e Bruel – os cineastas Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte jogam na tela situações inusitadas e vão criando um clima onde a amizade vira protagonista.

Longe de qualquer pretensão de escavar camadas mais profundas sobre uma doença sem cura que acompanha a humanidade, o olhar aqui é no que tempo que resta, seguindo muito na linha de outros filmes, como Antes de Partir de Rob Reiner. Pode ser que você se emocione ao final dessa jornada ou seja capturado pelas reflexões que o filme aborda, o redescobrir a vida através de uma amizade sempre gera algum tipo de empatia no público.


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Crítica do filme: 'O Rei Perdido'




O inusitado de uma descoberta. Dirigido pelo craque Stephen Frears, O Rei Perdido é um cativante filme que se esconde atrás de uma busca que parece absurda para florear um recorte intimista e honesto sobre as formas de reconquistar a felicidade. Sem deixar de nos deixar atentos para um olhar sobre relacionamentos, passando de forma inteligente pelas surpresas do inconsciente, o filme, baseado em fatos reais, emociona pelos caminhos dos paralelos que conversam com uma narrativa bem definida e que prende a atenção.

Na trama conhecemos Filipa (Sally Hawkins), uma mulher infeliz no trabalho, num recente término de relacionamento com o ex-marido John (Steve Coogan) que certo dia embarca em uma busca inusitada pelos restos mortais do Rei Ricardo III. Indo atrás desse enorme desafio vai descobrindo a solidariedade e novos conflitos que surgem quando pingos de sucesso começam a aparecer nessa jornada.

A força da premissa é simplificada com narrativa estruturada que abre-se em camadas que vão dos conflitos emocionais até as certezas de uma generosidade encontrando o despertar de uma vida. Partindo de uma solidão que nunca encontra a solitude, vemos o desabrochar das novas descobertas de um caminho, da importância das relações, através de uma personagem principal amargurada pelo término de uma união e o desequilíbrio no lado profissional. Tudo isso representado por artistas maravilhosos em cena.

Trazendo outros olhares para a história de um Rei visto como maquiavélico por Shakespeare, enxergamos duelos de contrapontos que jogam para debate as imperfeições humanas e as verdades predefinidas por achismos e conceitos que variam na forma de um entendimento. O uso da fantasia, o fato da protagonista encontrar a figura central da trama, é um elo interessante que fortalece o olhar para o inconsciente, uma voz interior que equilibra um momento de solidão.

Baseado na obra The King's Grave: The Search for Richard III, escrito por Philippa Langley e Michael Jones, O Rei Perdido é um ótimo achado no vasto catálogo do segundo maior streaming disponível no Brasil.  


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05/11/2024

Crítica do filme: 'Apocalipse Z - O Princípio do Fim'


Darwin já falava: para sobreviver é preciso se adaptar. Seguindo uma cronologia de fatos que se aproximam dessa verdade, o longa-metragem espanhol Apocalipse Z - O Princípio do Fim, baseado no livro de sucesso homônimo escrito por Manel Loureiro, segue a cartilha dos bons filmes de luta pelo sobreviver. Superando desafios para se tornar o clássico herói em sua jornada apocalíptica, o protagonista é o nosso guia em uma narrativa – com seus clichês batidos - que busca sugar até a última gota de angústia em meio ao caos dos dilemas e desespero onde o espírito de sobrevivência é ativado.

Na trama conhecemos Manel (Francisco Ortiz), um advogado e empreendedor no ramo de energia sustentável em luto desde a morte da namorada em um trágico acidente de carro. Vivendo seus dias solitários ao lado do seu gatinho Lúculo, certo dia se vê numa situação inusitada: uma epidemia desconhecida se espalha pelo mundo e ele resolve se isolar. Mas com a falta de comida, não lhe resta outra escolha a não ser tomar um rumo que o leva para uma viagem repleta de perigos em busca de algum abrigo.

Um pouco mais de uma década atrás, o escritor espanhol Manel Loureiro por meio de um blog começou a escrever a história, dividida em três fases, que hoje se tornou esse projeto cinematográfico e antes uma publicação com milhares de cópias vendidas em todo o mundo – inclusive no Brasil. Isso provavelmente acendeu a chama da oportunidade para que logo virasse uma produção cinematográfica se mostrando um acerto ao já sentirmos o sucesso com a chegada rápida do filme ao Top 1 da Prime Video.

Caminhando pelo já batido cenário apocalíptico pandêmico, pessoas se transformando em alguma espécie de Zumbis, com suas derrapadas nos pontos vagos dos contextos amplos que propõe, tem como maior mérito a colocação de uma questão existencial que é bem explorada também nas linhas do roteiro do filme: nunca sabemos como lidaremos em situações extremas até que essas cheguem.

Primeira parte dessa trilogia – que deve ganhar seus complementos em versões audiovisuais num futuro próximo -  Apocalipse Z - O Princípio do Fim pode ser visto por alguns ângulos mas com um ponto incomum: a construção de um herói incomum precisando se adaptar a uma nova rotina não se desgrudando da mira afiada de seu arpão. Em meio ao caos da natureza incontrolável a razão humana se torna um divisor de águas, um trampolim para a transformação do personagem.

A narrativa segue com seu clima de tensão bem instaurado, com bons personagens carentes de melhor desenvolvimento – talvez nos próximos capítulos - que rumam para um desfecho em aberto, com uma série de lacunas não preenchidas. Mas uma constatação se torna crucial: prende a atenção! Apocalipse Z - O Princípio do Fim mesmo com suas imprecisões não deixa de ser um bom entretenimento.


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29/10/2024

Crítica do filme: 'O Chef'


Um noite intensa e exigente. Baseado em um curta-metragem, o projeto de um tiro só O Chef nos leva do banal ao complexo em dramas que se acumulam num restaurante que tem uma noite de altos e baixos. Dirigido por Filipe Barantini, o projeto nos mostra o raio-x de uma descarga intensa de emoções onde dilemas precisam serem resolvidos em frações de segundos, tendo como foco um protagonista em total crise existencial. No papel principal, o ótimo Stephen Graham.

Na trama, filmada em plano sequência (sem cortes), acompanhamos uma noite conturbada na vida do experiente Chef Andy (Stephen Graham). Precisando lidar com problemas da sua equipe, e algumas questões inesperadas, como a visita de um ex-sócio celebridade, além de momento de vícios no seu presente – fato esse que vai destruindo a relação com a família – ao longo de uma noite, que parece não acabar, o esgotamento se torna uma questão de tempo.  

Rodado em um restaurante que existe no bairro londrino de Dalston, O Chef é impulsionado por uma adrenalina constante, um ritmo frenético, em torno dos embates que ocorrem em vários pontos do local. Cada detalhe se torna um elemento importante nessa avalanche de situações. Engraçado e trágico na mesma proporção, com inúmeros diálogos complementares e interessantes, serve ao público uma dezenas de questões sociais para reflexões.

Indicado para quatro prêmios BAFTA, o longa-metragem, entre outros méritos, tem uma direção brilhante, consegue fazer com que o espectador consiga sentir-se numa daquelas mesas elegantes do estabelecimento e assim acompanhar uma série de ações e reações em torno de uma caótica pressão que é uma cozinha de um restaurante premiado. Esse é um daqueles filmes que ficam nas nossas lembranças.


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