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16/11/2024

Crítica do filme: 'O Melhor está por Vir'


O descobrir e o redescobrir. Trazendo a história de uma forte amizade impactada por uma terrível notícia, o longa-metragem francês O Melhor Está por Vir sai correndo dos ares melancólicos óbvios tendo como maior mérito transformar um assunto delicado em uma jornada leve e descontraída. Convencional do início ao fim – fato que pode incomodar o olhar cinéfilo mais atento e exigente - se torna um passatempo divertido pelas conexões emotivas que consegue transmitir.

Na trama conhecemos Arthur (Fabrice Luchini), um professor e pesquisador que é taxado como chato pela maioria das pessoas que conhece, menos pelo melhor amigo Cesar (Patrick Bruel). Quando Arthur fica sabendo que Cesar está com uma doença terminal, esconde a informação e resolve realizar todos os desejos do amigo.

Como transformar um assunto pesado em uma narrativa leve? Com forte uso de clichês e derrapando na obviedade, a receita de bolo escolhida por aqui foi tentar divertir ao máximo e impulsionar a carga dramática quando necessário. Contando com carismáticos personagens – e uma harmonia em cena dos ótimos Luchini e Bruel – os cineastas Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte jogam na tela situações inusitadas e vão criando um clima onde a amizade vira protagonista.

Longe de qualquer pretensão de escavar camadas mais profundas sobre uma doença sem cura que acompanha a humanidade, o olhar aqui é no que tempo que resta, seguindo muito na linha de outros filmes, como Antes de Partir de Rob Reiner. Pode ser que você se emocione ao final dessa jornada ou seja capturado pelas reflexões que o filme aborda, o redescobrir a vida através de uma amizade sempre gera algum tipo de empatia no público.


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Crítica do filme: 'O Rei Perdido'




O inusitado de uma descoberta. Dirigido pelo craque Stephen Frears, O Rei Perdido é um cativante filme que se esconde atrás de uma busca que parece absurda para florear um recorte intimista e honesto sobre as formas de reconquistar a felicidade. Sem deixar de nos deixar atentos para um olhar sobre relacionamentos, passando de forma inteligente pelas surpresas do inconsciente, o filme, baseado em fatos reais, emociona pelos caminhos dos paralelos que conversam com uma narrativa bem definida e que prende a atenção.

Na trama conhecemos Filipa (Sally Hawkins), uma mulher infeliz no trabalho, num recente término de relacionamento com o ex-marido John (Steve Coogan) que certo dia embarca em uma busca inusitada pelos restos mortais do Rei Ricardo III. Indo atrás desse enorme desafio vai descobrindo a solidariedade e novos conflitos que surgem quando pingos de sucesso começam a aparecer nessa jornada.

A força da premissa é simplificada com narrativa estruturada que abre-se em camadas que vão dos conflitos emocionais até as certezas de uma generosidade encontrando o despertar de uma vida. Partindo de uma solidão que nunca encontra a solitude, vemos o desabrochar das novas descobertas de um caminho, da importância das relações, através de uma personagem principal amargurada pelo término de uma união e o desequilíbrio no lado profissional. Tudo isso representado por artistas maravilhosos em cena.

Trazendo outros olhares para a história de um Rei visto como maquiavélico por Shakespeare, enxergamos duelos de contrapontos que jogam para debate as imperfeições humanas e as verdades predefinidas por achismos e conceitos que variam na forma de um entendimento. O uso da fantasia, o fato da protagonista encontrar a figura central da trama, é um elo interessante que fortalece o olhar para o inconsciente, uma voz interior que equilibra um momento de solidão.

Baseado na obra The King's Grave: The Search for Richard III, escrito por Philippa Langley e Michael Jones, O Rei Perdido é um ótimo achado no vasto catálogo do segundo maior streaming disponível no Brasil.  


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05/11/2024

Crítica do filme: 'Apocalipse Z - O Princípio do Fim'


Darwin já falava: para sobreviver é preciso se adaptar. Seguindo uma cronologia de fatos que se aproximam dessa verdade, o longa-metragem espanhol Apocalipse Z - O Princípio do Fim, baseado no livro de sucesso homônimo escrito por Manel Loureiro, segue a cartilha dos bons filmes de luta pelo sobreviver. Superando desafios para se tornar o clássico herói em sua jornada apocalíptica, o protagonista é o nosso guia em uma narrativa – com seus clichês batidos - que busca sugar até a última gota de angústia em meio ao caos dos dilemas e desespero onde o espírito de sobrevivência é ativado.

Na trama conhecemos Manel (Francisco Ortiz), um advogado e empreendedor no ramo de energia sustentável em luto desde a morte da namorada em um trágico acidente de carro. Vivendo seus dias solitários ao lado do seu gatinho Lúculo, certo dia se vê numa situação inusitada: uma epidemia desconhecida se espalha pelo mundo e ele resolve se isolar. Mas com a falta de comida, não lhe resta outra escolha a não ser tomar um rumo que o leva para uma viagem repleta de perigos em busca de algum abrigo.

Um pouco mais de uma década atrás, o escritor espanhol Manel Loureiro por meio de um blog começou a escrever a história, dividida em três fases, que hoje se tornou esse projeto cinematográfico e antes uma publicação com milhares de cópias vendidas em todo o mundo – inclusive no Brasil. Isso provavelmente acendeu a chama da oportunidade para que logo virasse uma produção cinematográfica se mostrando um acerto ao já sentirmos o sucesso com a chegada rápida do filme ao Top 1 da Prime Video.

Caminhando pelo já batido cenário apocalíptico pandêmico, pessoas se transformando em alguma espécie de Zumbis, com suas derrapadas nos pontos vagos dos contextos amplos que propõe, tem como maior mérito a colocação de uma questão existencial que é bem explorada também nas linhas do roteiro do filme: nunca sabemos como lidaremos em situações extremas até que essas cheguem.

Primeira parte dessa trilogia – que deve ganhar seus complementos em versões audiovisuais num futuro próximo -  Apocalipse Z - O Princípio do Fim pode ser visto por alguns ângulos mas com um ponto incomum: a construção de um herói incomum precisando se adaptar a uma nova rotina não se desgrudando da mira afiada de seu arpão. Em meio ao caos da natureza incontrolável a razão humana se torna um divisor de águas, um trampolim para a transformação do personagem.

A narrativa segue com seu clima de tensão bem instaurado, com bons personagens carentes de melhor desenvolvimento – talvez nos próximos capítulos - que rumam para um desfecho em aberto, com uma série de lacunas não preenchidas. Mas uma constatação se torna crucial: prende a atenção! Apocalipse Z - O Princípio do Fim mesmo com suas imprecisões não deixa de ser um bom entretenimento.


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29/10/2024

Crítica do filme: 'O Chef'


Um noite intensa e exigente. Baseado em um curta-metragem, o projeto de um tiro só O Chef nos leva do banal ao complexo em dramas que se acumulam num restaurante que tem uma noite de altos e baixos. Dirigido por Filipe Barantini, o projeto nos mostra o raio-x de uma descarga intensa de emoções onde dilemas precisam serem resolvidos em frações de segundos, tendo como foco um protagonista em total crise existencial. No papel principal, o ótimo Stephen Graham.

Na trama, filmada em plano sequência (sem cortes), acompanhamos uma noite conturbada na vida do experiente Chef Andy (Stephen Graham). Precisando lidar com problemas da sua equipe, e algumas questões inesperadas, como a visita de um ex-sócio celebridade, além de momento de vícios no seu presente – fato esse que vai destruindo a relação com a família – ao longo de uma noite, que parece não acabar, o esgotamento se torna uma questão de tempo.  

Rodado em um restaurante que existe no bairro londrino de Dalston, O Chef é impulsionado por uma adrenalina constante, um ritmo frenético, em torno dos embates que ocorrem em vários pontos do local. Cada detalhe se torna um elemento importante nessa avalanche de situações. Engraçado e trágico na mesma proporção, com inúmeros diálogos complementares e interessantes, serve ao público uma dezenas de questões sociais para reflexões.

Indicado para quatro prêmios BAFTA, o longa-metragem, entre outros méritos, tem uma direção brilhante, consegue fazer com que o espectador consiga sentir-se numa daquelas mesas elegantes do estabelecimento e assim acompanhar uma série de ações e reações em torno de uma caótica pressão que é uma cozinha de um restaurante premiado. Esse é um daqueles filmes que ficam nas nossas lembranças.


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20/09/2024

Crítica do filme: 'Un Actor Malo'


Pesquisando um filme pra ver na Prime Video não poderia ter sido mais certeiro! Escrito e dirigido por Jorge Cuchi, Un Actor Malo joga uma luz importante para denúncias de assédios num set de filmagens. Pelo olhar da vítima e do agressor vamos compreendendo melhor essa história repleta de tensão que transforma a gravação de um filme em um verdadeiro tribunal moral. Um dos inúmeros méritos, são as atuações de Alfonso Dosal, e principalmente Fiona Palomo, que contemplam o público com atuações viscerais, hipnotizantes.

Na trama, durante um dia cheio de reviravoltas, conhecemos Daniel (Alfonso Dosal) e Sandra (Fiona Palomo), dois artistas com bom relacionamento fora das câmeras que estão rodando um filme. Numa das cenas, Sandra acusa Daniel de má conduta, desencadeando uma série de situações. Ela vai em busca de apoio jurídico para uma denúncia, enquanto a produção do filme tenta contornar a situação. Ao longo dessa jornada, as consequências são mostradas de várias formas, chegando até mesmo ao circo midiático que logo se mostra presente.

O clima de tensão permanece constante, fato esse que leva a narrativa para os caminhos da angústia e apreensão ao longo de toda a projeção. O cenário claustrofóbico se complementa com os fortes sentimentos que passa a protagonista dando mais força de impacto para a mensagem forte embutida em cada cena de violência. Basicamente mostrando um dia e todo seus contratastes nas emoções, somos jogados para um caldeirão de situações que refletem sobre pontos importantes da sociedade.

Há reflexões em todos os cantos, fatos contundentes vão se acumulando até um final impactante. Temos os pontos de vistas de advogados de defesa e de acusação, o olhar das outras mulheres da equipe do filme que ajudam a vítima nesse momento horripilante que passa, a produção do filme e sua preocupação com o projeto que parece se distanciar da sensibilidade com a vítima, e as colocações da mídia sensacionalista que se perde na apuração dos fatos levando uma exposição ainda maior da vítima. O roteiro busca pelas ações e reações de seus personagens, de forma dura, todos os olhares em torno de uma série de acontecimentos violentos.

Desde sua premissa, imersa numa metalinguagem, seguindo para um desenvolvimento de embates e dilemas essa é uma daquelas obras que dificilmente esqueceremos, principalmente pelo seu desfecho emblemático que nos leva a mais reflexões.


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18/09/2024

Crítica do filme: 'A Última Viagem'


O vai e vem de revelações inesperadas. Apresentando muitas surpresas pelo caminho, A Última Viagem, filme irlandês escondidinho lá no catálogo da Prime Video, usa o clima fúnebre e o flerte com a tragédia para contornar as linhas melancólicas de um roteiro que apresenta reviravoltas importantes mudando o sentido da trama. Esse é um filme sobre pais e filhos, relacionamentos, novas chances, recheado de personagens carismáticos.

Na trama, conhecemos Daniel (Michiel Huisman), um advogado tributário em ascensão na carreira morando na cidade de Nova Iorque, que está indo para a Irlanda após a morte de sua mãe. Durante o voo um senhor de idade ao lado da sua poltrona morre e de uma forma bem inusitada Daniel fica responsável por levar o corpo dele para ser enterrado ao lado de um parente na Irlanda do Norte. Durante essa jornada, o protagonista busca se reconectar com o irmão autista Louis (Samuel Bottomley) e acaba conhecendo melhor uma funcionária da funerária, a carismática Mary (Niamh Algar).

Dirigido pela cineasta Aoife Crehan, essa mirabolante jornada a princípio parece ter muitas questões soltas em subtramas que vão ganhando camadas emocionantes ao longo da projeção, nos levando até pontos familiares que usam os dilemas de outrora para trazer entendimento sobre atitudes do presente. Sem adotar flashbacks a narrativa mergulha nos desabafos e memórias de um protagonista que amadureceu forçadamente protegido pela família. Há um enorme spoiler que vira o roteiro de ponta a cabeça (e pra não estragar, sem menções por aqui). Essa carta na manga, que realmente surpreende, dá um novo sentido para tudo que acompanhamos.

A composição dos personagens é muito bem feita. Mesmo de forma bem objetiva, ultrapassando um pouco a superfície, entendemos o que precisamos para juntar as peças de um momento cheio de turbulências em diversas áreas para todos eles. Esse fato aproxima o público. Há clichês? Há. Mas nada que nos distancie, pelo contrário nos leva até reflexões profundas. Grata surpresa!


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16/09/2024

Crítica do filme: 'Beyond The Mountain (Detrás De La Montaña)'


O ódio que cega. Caminhando pelos capítulos na vida de um protagonista em total desespero para acabar com uma de suas maiores dores, Beyond The Mountain costura a tensão emocional e a tragédia em uma narrativa que coloca o espectador como testemunha da inconsequência de um solitário protagonista. Escrito e dirigido por David R. Romay, Beyond The Mountain utiliza de forma inteligente o antagonismo do abstrato, o ódio batendo de frente com o amor, a desilusão sendo surpreendida por uma luz de felicidade. Elementos que rumam para o imprevisível.

Na trama, conhecemos Miguel (Benny Emanuel), um responsável jovem, abandonado pelo pai no nascimento, que trabalha como datilógrafo em um escritório público na Cidade do México. Sua vida é simples, vive com sua mãe – que sofre até o presente pelo abandono do marido - em um humilde apartamento e tem o sonho de chamar Carmela (Renée Sabina), uma cliente regular do seu trabalho, para um encontro. Após uma tragédia, dominado por sentimentos conflitantes nos quais se vê amplamente perdido, resolve ir atrás do pai para dar um ponto final na história dele.

Em menos de 15 minutos somos convencidos que essa é uma história que precisamos assistir. Com um discurso que parecia seguir uma longa jornada para o perdão, percebemos aos poucos que o lidar com a perda proposto acaba abrindo novas janelas de oportunidades. Esse longa-metragem mexicano é um forte drama com suas camadas de suspense, muito também por seu ótimo protagonista que mistura sentimentos em tela e os torna uma progressão rumo ao trágico. A saudade logo vira raiva. Mesmo o amor aparecendo, a dor ainda é mais forte.

Rodado em Chihuahua, no México, essa pérola escondida no catálogo da Prime Video, se fortalece nessa tensão emocional. É frio, objetivo, faz o espectador imaginar possibilidades de desfechos, sempre tendo as consequências da imensurável sensação da perda sendo o maior dos seus alicerces.

 

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03/09/2024

Crítica do filme: 'Todo o Silêncio'


Daqueles filmes que precisam serem descobertos. Dirigido por Diego del Rio, o longa-metragem Todo o Silêncio explora com maestria a angústia e as camadas que se juntam a partir desse sentimento, tendo como força motora um recurso muito bem utilizado, o silêncio, fato esse que ganha inúmeras possibilidades dentro do contemplar e refletir através das infinidades da linguagem.

Na trama, conhecemos Miriam (Adriana Llabres), filha de pais surdos que trabalha como professora de libras em uma escola. Ela vive uma vida feliz ao lado da namorada Lola (Ludwika Paleta) e investe tempo e dedicação na carreira teatral. Às vésperas de interpretar uma personagem de uma peça de Tchekhov, após uma consulta médica, descobre estar ficando totalmente surda, fato esse que mudará para sempre sua trajetória e sonhos.

Nosso foco é a protagonista e seus dramas, próxima da surdez desde a infância parece se camuflar entre dois mundos com o impacto da notícia que mudará mais uma vez a forma de enxergar tudo ao seu redor. As artes e seus complementos ganham forma poética, com uma ebulição de sentimentos chegando ao mesmo tempo, em uma narrativa imersiva as dores e nos guiando lentamente para uma desconstrução que flerta a todo instante com o renascer.

Entre amores e amizade, antes prestes a realizar sonhos, somos testemunhas de uma rebobinada na vida, onde acompanhamos uma prisão da amargura e desespero tomando conta de cada olhar para fora. Del Rio com bastante delicadeza apresenta essa história com inúmeras pausas para nosso refletir, uma mistura de belas imagens que personificam as raízes dos problemas chegando até uma exposição da emoção muitas vezes difícil de encaixar na tela. Belíssimo filme mexicano!


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12/08/2024

Crítica do filme: 'Emma e as Cores da Vida'


As novas maneiras de enxergar a vida. Vamos falar agora de um longa-metragem italiano, que está escondido no catálogo da Prime Video, Emma e as Cores da Vida. Camuflado de filme romântico, o intenso drama e suas muitas possibilidades de leituras logo se tornam variáveis dentro de um contexto sobre responsabilidades, avançando no olhar de um protagonista cheio de traumas não resolvidos no seu passado que precisa lidar com a chegada do verdadeiro amor. Pode parecer um conto de fadas mas há a tentativa de trazer as reflexões ao mundo real. A acessibilidade, assunto muito importante, ganha espaço através de uma ótima personagem e sua rotina.

Na trama, conhecemos Téo (Adriano Giannini), um publicitário, sedutor, mulherengo, que vive sua vida amorosa sem compromissos com verdades e se relacionando com algumas mulheres ao mesmo tempo e com a mentira fazendo parte de seu cotidiano. Quando conhece a osteopata Emma (Valéria Golino), uma mulher cega que logo o atrai, Téo passará por reflexões sobre a própria vida e questões do seu passado que sempre foram lacunas sem respostas.

Dirigido por Silvio Soldini, o projeto apresenta a desconstrução de um machista, e seus novos olhares. Aqui pode haver um problema nas linhas interpretativas e o espectador segue por alguma das duas estradas, ou embarcamos nas reais mudanças através de um passado sutilmente apresentado ou ficamos presos nos achismos de uma fantasia. Intenso, profundo, reflexivo, a obra contorna as ações e consequências o que afasta qualquer tipo de pretensão.

A acessibilidade ganha os holofotes através de Emma e todo o contorno de sua deficiência visual. Suas batalhas do dia a dia entram em choque através de uma outra personagem, Nadia (Laura Adriani) uma jovem que não aceita sua condição, além das incertezas de um relacionamento com o complicado Téo. Há poesia para demonstrar os conflitos emocionais mas sem esquecer as verdades mundanas. Um dos méritos de Emma e as Cores da Vida é seguir na linha ‘pés no chão’ para tratar sobre o assunto.  

Dando sentido à um flerte com a melancolia, a narrativa se desenvolve de forma dinâmica. Valéria Golino, em grande atuação, é um dos pontos altos do longa-metragem que reproduz crises existenciais, algumas ligadas à falta de compromisso, que se coloca à disposição como oportunidade de mudanças.


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17/06/2024

Crítica do filme: 'Na Terra de Santos e Pecadores'


Sangrento, pulsante, imprevisível. Vamos falar agora sobre o novo filme protagonizado por Liam Neeson que entrou recentemente na prime video, Na Terra de Santos e Pecadores. Exibido no Festival de Veneza ano passado, nesse projeto somos apresentados a um choque entre a frieza e as desilusões pelo olhar de um protagonista, um clássico anti-herói, em total crise existencial que se vê envolvido em um último conflito ligando seu passado à vida que quer abandonar. O longa-metragem é dirigido pelo norte-americano Robert Lorenz, em seu terceiro projeto atrás das câmeras após uma carreira de sucesso como produtor de alguns filmes de Clint Eastwood, como: Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro.

Na trama, ambientada em meados da década de 70, conhecemos o assassino de aluguel Finbar (Liam Neeson), um homem já amargurado pelo seu passado que após a morte da esposa vem aos poucos começando a repensar suas escolhas e os rumos para o futuro. Morando numa vila de poucos habitantes, longe dos agitados dias de tensão política na outra parte da Irlanda, ele enfim resolve se aposentar. Mas a chegada ao local de um grupo associado ao IRA, liderado por Doireann (Kerry Condon) faz Finbar repensar algumas questões.

O ar fúnebre se mistura as reflexões sobre ideologia, dentro do contexto de uma guerra política que causou caos a terceira maior ilha da Europa. A narrativa é empolgante, com o ritmo dosado, explicando de forma trivial paralelos interesses, como um contorno do discurso que bate de frente com o clássico Crime e Castigo de Dostoiévski. Numa linda paisagem, o contraste com o violência é uma marca e assim vamos aos poucos entendendo as crises existenciais que se amontoam, toda essa parte é muito bem conduzida pelo olhar detalhista de Lorenz que consegue extrair não só os dilemas mas preenche as lacunas de muitos porquês.

Esse é um filme onde os personagens se mostram muito presentes em cada espaço. E nesse campo aberto rumo ao imprevisível, já inserido na iminência de uma guerra civil, de um lado um assassino experiente em crise existencial, já não sabendo mais lidar com o ganha pão que escolheu, do outro um grupo de jovens imersos nos limites emocionais de sua incursão à revolução que escolheram, um modo de vida instável sempre à espera das consequências dos atos que se seguem. Heróis e vilões ganham interpretações diversas. Ajudam a contar essa história três excelentes artistas irlandeses indicados ao Oscar: Liam Neeson, Kerry Condon e Ciarán Hinds.

Algo que o cinema faz como muitas artes, não deixar cair no esquecimento, se junta à força de um discurso. Esse projeto, mesmo sendo uma total ficção, é mais um capítulo na vasta história que liga o famoso grupo paramilitar IRA, que passou por diversas modificações ideológicas desde seu início lá em 1919, à conflitos por toda a Irlanda.  


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02/06/2024

Crítica do filme: 'O Alfaiate'


O plano perfeito não existe. Chegou recentemente ao catálogo da Prime Video um intrigante longa-metragem que nos mostra ao longo de uma noite, reviravoltas e surpresas em meio a um banho de sangue, numa busca da descoberta de quem é a pessoa mais esperta daquele lugar. Escrito e dirigido pelo roteirista vencedor do Oscar Graham Moore, e ambientado numa época de forte predomínio das máfias nos Estados Unidos, seguimos os passos de um intrigante personagem e sua aparente fuga da violência mas que esconde segredos conforme vamos entendendo melhor essa história.

Na trama, conhecemos o britânico Leonard (Mark Rylance), um experiente alfaiate que após uma tragédia se mudou para Chicago em meados da década de 1950. Nesse novo lugar, acabou se envolvendo, mesmo que de forma indireta, com a máfia, inclusive um dos chefões da região é o seu principal cliente. Quando em uma noite, uma série de acasos acontecem, o alfaiate precisará de muita habilidade para se livrar de uma peculiar situação.

Dilemas, suspense, num cenário com atuações excelentes. O brilhantismo do roteiro caminhando nas ações e consequências se torna um parceiro perfeito de uma narrativa com ar sombrio, que respinga violência, onde o inesperado é ansiosamente aguardado na próxima cena. Tendo esse plano de fundo instaurado, personagens se revezam na entrega de peças de um mosaico ligado a crimes, traições, ego, onde emoções entram em conflitos culminando numa série de ações inconsequentes.

A delicadeza de uma profissão, hoje quase esquecida pelo desenvolvimento da tecnologia, ganha uma luz intensa na composição de um protagonista marcante. Seu intérprete, o ganhador do Oscar Mark Rylance está fabuloso em um papel que poderia lhe render outros prêmios. Leonard e seu campo de percepção apurado vai se revelando aos poucos o ponto de interseção de subtramas, sempre muito bem conduzido por uma direção detalhista que busca encontrar a pulga atrás da orelha do lado de cá da telona.


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27/05/2024

Crítica do filme: ' Nahir – Entre a Paixão e as Grades'


As páginas de uma tragédia. O pivô de um crime que chocou a Argentina, culminando na pessoa mais jovem a ser condenada à prisão perpétua no país hermano. Você já ouviu falar de Nahir Galarza? Buscando seu dinamismo através de um vai e vem na linha temporal onde peças de um quebra-cabeça emocional vão aparecendo aos poucos, o novo filme da Prime Video Nahir – Entre a Paixão e as Grades busca traçar o perfil psicológico e uma cronologia de fatos que ganharam as páginas da imprensa mundial sobre um fato que até hoje tem algumas interrogações.

Na trama, conhecemos a introspectiva Nahir (Valentina Zenere), uma jovem iniciando a fase adulta que está em um relacionamento repleto de idas e voltas com o jovem Fernando (Simon Hemp). Numa madrugada, após uma discussão, ao pegar sua moto voltando pra casa é assassinado. No dia seguinte Nahir assume o crime. Mas será essa toda a verdade do caso?

A narrativa se joga no antes e o depois do crime e algumas versões que se chegam no arco conclusivo. A crueldade que choca está embutida no contraste das cores em cena, principalmente no figurino da protagonista, que expõe a composição de uma personagem enigmática, que caminha na falta de compaixão, a falta da culpa, um alguém definido com o desejo de ser o centro das atenções. Valentina Zenere está muito bem no difícil papel, buscando algo enigmático no olhar.

A visão dos pais que tem suas vidas completamente afetadas pelo ocorrido também ganham seus contornos, principalmente quando o foco se vira nos desenrolares no tribunal, numa audiência que ganhou a atenção de muitos por conta de todo o circo midiático. Aqui nesse ponto, uma importante reviravolta acontece rumando para as estradas de versões de um mesmo crime.

A cidade de Gualeguaychú, província de Entre Rios, ficou pra sempre marcada na história policial argentina por essa história. O filme, de forma objetiva, traz aos holofotes detalhes desse caso aterrorizante que escancara os deslizes emocionais e deixa margens para algumas interpretações.


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16/04/2024

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Pausa para uma Série: 'Fallout'


Tava procurando uma série que me deixasse empolgado e que se tornaria uma brilhante jornada de reflexões. Encontrei! Ambientada no universo de um jogo famoso criado nos anos 90, chegou na Prime Video um seriado empolgante que busca reflexões quando a tragédia flerta com a oportunidade. Nos longos e excelentes oito episódios dessa primeira temporada, em Fallout, somos guiados por carismáticos personagens que embarcam em uma trajetória de absurdos que os levam ao encontro de verdades não ditas e suas as interpretações da moral, dos valores ligados a um princípio darwiniano. Nesse enorme tabuleiro de mentiras, a narrativa brilha ao mostrar as inversões de perspectivas que nos ajudam a entender melhor esse universo fascinante que merece toda nossa atenção.

Na trama, bem à frente no futuro, conhecemos a Terra dizimada por ações nucleares. Para proteger alguns, os Estados Unidos junto à um grupo de empresas, principalmente uma, a Vault- Tec , resolvem criar refúgios subterrâneos. Assim, 200 anos depois do caos começar, conhecemos a jovem Lucy (Ella Purnell) que após o lugar onde nasceu e foi criada ser atacado, e ainda com o sequestro de seu pai, resolve ir atrás dele e desbravar a superfície, um lugar onde nunca antes havia ido. A cada caminhada, uma nova descoberta, e assim seu destino se cruza com Maximus (Aaron Moten), um sobrevivente de um dos ataques nucleares mais impactantes e o enigmático necrótico Cooper (Walton Goggins), esse último com um passado com vivas memórias do início do fim.

O que é preciso fazer para sobreviver? Os protagonistas se misturam na própria angústia, cada um no seu objetivo, em modos diferente de viver, de se adaptar. Saindo de um universo de regras tendo a meritocracia como pilar, com um mundo lá fora com outras, seguimos na maior parte do tempo os olhares de Lucy e sua busca incessante que geram perguntas do tipo: Como melhorar um mundo perdido? Essa ótima personagem passa por uma desconstrução absurda com o medo que logo vira coragem passando pelas dificuldades do confiar.

Não podemos esquecer da jornada de Maximus e Cooper. O primeiro, um jovem traumatizado com seu passado devastador, que é adotado por um grupo militar e almeja dias mais tranquilos num universo onde o poder é tomado, não dado. O segundo, um homem com ações moralmente questionáveis, detentor de muitas memórias dos tempos onde o mundo vivia como os dias de hoje, sobreviventes na superfície dos males da radioatividade, que viu a construção de um império do mal e luta para tentar se encontrar novamente com sua família.

O tempo e a manipulação de tudo. A variável ‘Tempo’ aparece como elemento principal, um catalisador de ações e inconsequências em meio a uma terceirização da sobrevivência. Animais radioativos, clérigos em busca de poder, necróticos que vagam como nômades se juntam à ambição e ao princípio de querer ser Deus, esse último ponto personificado na linha de comando da empresa Vault-Tec. Aliás, as poucas descobertas sobre as criações dessa empresa, e as maiores explicações sobre o potencial de ganhos com o fim do mundo, é o ótimo gancho para uma possível (e provável) segunda temporada.

Fallout já tem toda sua primeira temporada disponível na Prime Video e já posso dizer, é a melhor série do ano até aqui! Brilhante!


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11/04/2024

Crítica do filme: 'Death Sentence'


Quando o caos é tudo que existe. Dirigido pelo excelente cineasta James Wan, conhecidos pelos filmes de terror do seu currículo, em 2008 chegou aos cinemas um filme de ação brutal com alta doses dramáticas que coloca em evidência uma imersão às consequências de uma vingança. Protagonizado por Kevin Bacon, Death Sentence é sobre o estopim de uma guerra, a destruição de uma família, e as tentativas em vão do equilíbrio de uma equação que não deveria existir.

Na trama, conhecemos Nick (Kevin Bacon) um homem bem sucedido, com uma família feliz. Tudo muda quando, após parar em uma loja de conveniência, seu filho é assassinado de forma brutal. Completamente desnorteado com o ocorrido, logo seu luto vira vingança e assim, sem medir as consequências de seus atos dá início a uma jornada sem volta.

A justiça existe? Causando reflexões nas linhas do ‘o que você faria?’, Death Sentence, de forma sangrenta e sombria, apresenta uma enorme desconstrução de um personagem completamente enfurecido, que se desprendeu dos valores morais para ir atrás da justiça que acredita. Essa confusão no ultrapassar limites entre o que é justiça e o que se encaixa como vingança é o campo mais amplo nesse projeto rodado em apenas dois meses.

O drama familiar ganha contornos profundos na narrativa quando pensamos na relação do pai com seus filhos. O preferido, ganha todos os olhares com o mais jovem ficando de lado. Essa relação conturbada entre pai e seu filho mais novo acaba ganhando muitos olhares. A habilidade de Wan em traçar conflitos emocionais ligados à família ficam em segundo plano mas vão além da superfície.

Inspirado na obra homônima, escrita pelo autor norte-americano Brian Garfield em meados da década de 70, Death Sentence é uma caminhada rumo as certezas do precipício, da não tentativa de se desprender do ‘Olho por olho, dente por dente’. Quando o caos é tudo que existe, a sentença já está assinada.  


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06/04/2024

Crítica do filme: 'Uma História em Montana'


Os novos passos de uma família. Caminhando pelo estado da solidão forçada, nos laços em dificuldades para uma nova união, Uma História em Montana é uma bomba relógio de emoções onde as barreiras do medo buscam encontrar o perdão. Dirigido pela dupla Scott McGehee e David Siegel, a narrativa possui um ritmo constante, se fortalece pela força dos diálogos, no desabrochar de almas amarguradas com um passado preso em decepções. Haley Lu Richardson e Owen Teague estão absolutamente fabulosos em cena, transbordando emoções para seus complexos personagens.

Na trama, conhecemos Cal (Owen Teague), um jovem estudando para ser engenheiro civil  volta às pressas para o rancho da família no Estado de Montana para ajudar no momento crítico em que se encontra seu pai, à beira da passagem. Buscando resolver os problemas burocráticos, afetado pelas dívidas de seu progenitor, acaba reencontrando seu irmã Erin (Haley Lu Richardson), após sete anos. Os irmãos, que se mantiveram distantes durante todo esse tempo, precisarão encontrar novas formas de entender um ao outro, além de resolver um impactante trauma do passado.

O que acontece com o amar nessa família? Um pai de passado duvidoso, à beira da morte, vira o epicentro para atualizações do hiato entre os irmãos, que se mostram constantes, virando peças numa nova forma de enxergar os caminhos iminentes. Como resolver o que ninguém quer falar? Será que a situação próxima do abismo da vida fará novos pensares chegarem como forma de resoluções? A extensa minutagem, cerca de duas horas de projeção, nos apresenta perguntas que são respondidas entre situações que se chocam, do presente ao passado, através de memórias vivas daquele lugar.      

A fuga é o caminho mais fácil para não pensar em um conflito. Buscando distância do enfrentar, a jornada dos personagens é algo próximo de uma redenção para que seus próprios caminhos se tornem menos dolorosos. A região da gelada Montana ajuda a criar o clima de reclusão das emoções, a fotografia busca nos detalhes e imagens passar a aflição, sentimento que vai de encontro à dor e a culpa. Uma História em Montana é cirúrgico ao relatar as fraquezas humanas, uma necessidade de um equilíbrio muitas vezes perdido pelo tempo.


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27/03/2024

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Pausa para uma série: 'Rainha Vermelha'


O contraponto da genialidade e a maldição. Baseado na obra homônima do escritor e jornalista espanhol Juan Gómez-Jurado, o primeiro de uma trilogia, chegou recentemente no catálogo da Prime Video um seriado empolgante, que parte da jornada de heróis brilhantes e imperfeitos até o encontro com um caso macabro que vai se moldando através de pistas sobre um psicopata enigmático. Rainha Vermelha tem todos os seus conflitos chegando através dos laços entre pais e filhos, esse sentimento forte, vívido, conflitante, muitas vezes dependente, que se torna a base dos sete episódios, com duração perto de uma hora.

Na trama, conhecemos Antônia Scott (Vicky Luengo), uma jovem considerada uma das pessoas mais inteligentes do mundo (com um altíssimo QI) que faz parte de uma organização que só entra em operação em casos complexos onde a polícia não consegue resolver. No passado, um trauma abala todas suas estruturas emocionais ficando longe de qualquer agitação. Mas tudo isso muda com uma série de acontecimentos horripilantes que percorrem as ruas da cidade mais famosa da Espanha. Assim, seu destino se interliga com o de Jon (Hovik Keuchkeriano), um carismático policial que se junta ao time com a função de escudeiro da nomeada Rainha Vermelha. Juntos, precisarão resolver esse sinistro caso que envolve violência e o sequestro de uma milionária.

Antônia Scott é um personagem fascinante mas só vamos descobrir isso lá pelo meio da temporada. Então, paciência! A série esquenta mesmo a partir do terceiro episódio. É importante toda a costura do contexto que é feita nos primeiros episódios, de peças da organização fantasma que corre em paralelo às forças policiais até os arcos do antagonistas, passando pelo brilhante e carismático policial Jon, Rainha Vermelha posiciona peças que serão importantes nesse desfecho e até mesmo nas sequências dos outros livros que muito provavelmente virarão novas temporadas (a segunda inclusive já está garantida).

O mundo é um enorme texto a ser decifrado. Superdotada e refém de um experimento, Scott é uma jovem com uma mente brilhante que sempre se viu distante de uma sociedade que prega valores por meio de muitas hipocrisias. Isso não a deixou longe de ter uma família, criar laços. Andando em uma corda bamba com sua observação apurada parece conseguir esconder em um lugar sombrio seus embates absurdos com o exigente e influente pai e todo um passado ainda ser contado. O seriado começa exatamente no seu despertar, através de um forte trauma.

De um outro extremo, conhecemos Jon, um policial gay, marcado por um passado repleto de situações que o deixaram de lado na força policial. Sua forte relação com a mãe é o caminho para entendermos sua capacidade impressionante de agregar valores positivos numa relação e seus princípios ligados à uma análise sentimental. Um homem de uma inteligência emocional apurada que muitas vezes estaciona nas dores de causas perdidas. Hovik Keuchkeriano, está fabuloso no papel. Você pode lembrar dele como ‘Bogotá’ do mega sucesso mundial La Casa de Papel.   

A razão e a emoção moldam as personalidades distintas desses dois protagonistas formando um encaixe perfeito dentro de uma fórmula de ação e suspense onde a trama nunca é deixada de lado e sempre guiado por eles. A maneira como a história é contada (narrativa) deixa o ritmo dinâmico ampliando o campo de visão do espectador, muitas vezes através de um raio-x do subconsciente da protagonista e as reações espontâneas do outro.

Um ótimo vilão, e as surpresas quando nos deparamos com a sua história, se juntam a essa trama repleta de mistérios, reviravoltas, segredos inconfessáveis, relacionamentos abusivos, psicopatia e suas esferas. Rodado todo na cidade de Madri, Rainha Vermelha é o pontapé inicial de um arco maior. Há muito para se desenvolver. A segunda temporada já está garantida e será a adaptação de Loba Negra, segundo livro da brilhante trilogia de Juan Gómez-Jurado. Para quem se interessar, essa primeira temporada está disponível no catálogo da Prime Video.


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Crítica do filme: 'A Filha do Rei do Pântano'


O olhar imaturo e as releituras das relações. Buscando um olhar minucioso numa relação conturbada entre filha e pai dentro de um doloroso confronto com o passado, A Filha do Rei do Pântano busca uma constante tensão através de uma forte conexão com o medo e as dificuldades de confiar. Dirigido pelo cineasta norte-americano Neil Burger, do ótimo O Ilusionista, um jogo de caça e caçador é estabelecido através dos conflitos emocionais, algo que domina o tempo de tela, se perdendo em sua narrativa que carece de ritmo.

Na trama, conhecemos Helena (Daisy Ridley), que no passado viveu isolada ao lado do pai Jacob (Ben Mendelsohn) e da mãe Beth (Caren Pistorius) sendo criada de forma selvagem pelos ensinamentos do primeiro. Certo dia, durante a infância, após fugir com sua mãe, é revelada a ela que o pai as mantiveram em cativeiro durante anos. O tempo passa e Helena vive nos tempos atuais, casada, já com uma filha, mas como se não encontrasse um lugar para viver em meio aos seus intensos traumas que voltam com frequência. Quando seu pai consegue fugir da prisão, o pesadelo aparece de novo na sua frente.

O que se vê no reflexo dos olhos? A narrativa se desenrola a partir do forte elo estabelecido entre pai e filha, com a segunda sendo colocada em um caminho de desconstrução quando cai na sua frente as verdades desse pai. A composição da protagonista é bem feita, atormentada pelos traumas parece em total desequilíbrio como se uma página do livro de sua vida estivesse sempre aberta. Essa questão da relação encosta no melodrama e aqui a direção se perde, buscando movimentos para personificar os traumas. Aliado a isso, o ritmo é inconstante, deixando o caminho até o clímax uma viagem sonolenta pelo desequilíbrio emocional.

Com o lema: ‘Sempre proteja a família’, e suas diversas interpretações que vão mudando conforme conhecemos mais dos personagens, A Filha do Rei do Pântano não alcança todo seu potencial, deixando que uma interessante construção da protagonista afundasse em uma narrativa que não alcança o fôlego para sustentar a releitura de uma relação.  



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Crítica do filme: 'Pandorum'


Imagina você acordar em uma nave espacial após um longo sono profundo e não conseguir se lembrar como e os motivos de ter ido parar ali? Seguindo as pistas desse primeiro mistério, o longa-metragem Pandorum, lançado 15 anos atrás, mistura drama existencial com ficção científica em uma intensa luta pela sobrevivência que reserva boas surpresas para o espectador. Escrito por Travis Milloy e Christian Alvart (esse também o diretor), o projeto, filmado em uma usina abandonada na cidade de Berlim, na Alemanha, solidifica seu caminhar nos disparos de gatilhos emocionais em uma narrativa envolvente com um desfecho marcante.

Na trama, ambientada perto do ano 3.000, conhecemos o Cabo Bower (Ben Foster), um homem que acorda numa nave chamada Elysium, com grandes avarias, sem lembrar direito como foi parar ali. Ao seu lado, o sargento Payton (Dennis Quaid) também é acordado. A dupla então começa a busca entender o atual cenário da nave espacial em que estão, e entre alguns lapsos de memórias, precisam descobrir uma nova maneira de reestabelecer o controle da nave que está ocupada por seres nada amistosos. Assim, o cabo Bower parte para as partes mais distantes da nave, já que uma solução pode ser a de chegar ao reator principal da nave, e assim descobre muitas surpresas pelo caminho.

Sem leis, um lugar onde a moralidade não existe. Explorando o conceito de colonização interplanetária, Pandorum parte do suspense para navegar seus conflitos numa luta pela sobrevivência num período onde nosso planeta está à beira do caos. Dentro desse cenário, 60.000 pessoas são recrutadas das formas mais diversas para uma viagem de muito anos, com direito a hipersono prolongado, compondo uma nave de colonização até um planeta chamado Tanis (esse com condições parecidas com a da Terra), encontrado bem longe daqui. A questão é que algo dá muito errado, fruto de uma ação à uma reação emocional na qual chamam de Pandorum. Essa base teórica do filme é algo que percorre todo o discurso sendo visto em cada detalhe da excelente narrativa proposta.

Programado para ser uma trilogia, pode ser que isso não aconteça (infelizmente) já que o desempenho em bilheteria na época de seu lançamento fora longe do esperado, o longa-metragem diz muita sobre a humanidade e as diversas reações em situações extremas. Há muito a se refletir por aqui. Longe de casa, vemos os pulos pelos obstáculos dentro de uma jornada do herói aos olhos de um protagonista carismático que precisa encontrar soluções, mesmo completamente perdido, sem entender direito o real sentido de tudo que vive.

Empolgante até seu último minuto, com direito a reviravoltas constantes, Pandorum é um daqueles filmes que poucos conhecem mas deveriam ir atrás. Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Prime Video.


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23/03/2024

Crítica do filme: 'Heroico'


A iminência do desequilíbrio. Escrito e dirigido pelo cineasta mexicano David Zonana, em seu segundo longa-metragem na carreira, Heroico é um projeto que escancara as linhas tênues entre a disciplina e a punição na visão de um jovem soldado, no limite do descontentamento, que sofre com o treinamento e os atos sádicos e desumanos de um dos superiores. Exibido nos Festivais de Berlim, Sundance e San Sebastian do ano passado, o filme busca um retrato de um pesadelo, onde a violência é um elemento para uma série de tragédias.

Na trama, conhecemos Luis Nunez (Santiago Sandoval), um jovem que acabou de entrar em uma escola militar no México em busca de uma estabilidade e também do seguro médico militar para ajudar a mãe que luta contra uma avançada diabetes. Logo nos primeiros dias, se depara com abusos e situações constrangedoras de seu oficial direto Eugenio Sierra (Fernando Cuautle) e embarca em uma jornada sem volta com conflitos que se seguem.

Como lidar com os absurdos que presencia? Contendo cenas fortes em sua narrativa, utilizando o recurso do chocar para refletir, Heroico navega na desconstrução de um protagonista que se vê perdido, completamente afetado pelos abalos emocionais que sofre. A direção busca nos detalhes a crítica social contundente, algo que se aproxima a uma lupa constante dos precipícios dos limites morais.  

O universo militar ganha contornos na visão do recrutas, suas expectativas e quanto a essa rotina. Muitos estão ali por necessidade, pelos benefícios que essa vida pode entregar. O choque com a realidade que se apresenta é um banho de água fria, com a hipocrisia de oficiais rolando solta. As mãos sujas de sangue, acaba sendo apenas mais um capítulo dessa história que vira peça chave na iminência do desequilíbrio.

Heroico é um filme que causa impacto. Abre nosso refletir para valores morais e instituições que deveriam ser uma saída para quem quer uma mas acabam sendo um reflexo constante da sociedade.  


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18/03/2024

Crítica do filme: 'Tempestade Infinita'


As montanhas sempre ouvem e nunca respondem de volta. Explorando duas forças emocionais conflitantes, o fugir e o ter esperança, Tempestade Infinita parte de uma história sobre luta pela sobrevivência onde o instinto maternal e a solitude são parte de uma engrenagem fundamental que contempla os desafios de superar perdas. Dirigido pela dupla Malgorzata Szumowska e Michal Englert, o projeto é baseado em fatos reais de uma dramática história ocorrida no ano de 2010. No elenco, a duas vezes indicada ao Oscar, Naomi Watts.

Na trama, conhecemos Pam (Naomi Watts) uma enfermeira na casa dos 50 anos com um enorme trauma no passado que vive seus dias sozinha em uma região fria e montanhosa. Ela faz parte da Equipe de Busca e Resgate do Vale de Pemigewasset, que cobre também o Monte Washington, em New Hampshire. Certo dia, mesmo sabendo das condições do tempo, com uma tempestade chegando, resolve ir até as montanhas. Durante o percurso, encontra um jovem perdido, e que parece desnorteado, fora de si. Lutando contra o tempo, Pam precisará usar todas suas habilidades para descer rapidamente a montanha e ajudar o jovem que encontrou.

Rodado em Kamnik, na Eslovênia, em uma co-produção que envolveu cinco países, Tempestade Infinita tem a perda implícita na trajetória de seus personagens mesmo que isso seja algo que demora a ser compreendido, fato que pode distanciar o espectador. O primeiro ponto é como sair de uma situação em condições contrárias, nesse parte, algumas perguntas podem ajudar: Quais os motivos para se sair daquela situação? Em quem você pensa quando embarca na esperança de volta pra casa? Qual o trauma sofrido pela protagonista? Para essa última pergunta, fundamental para entendermos algumas decisões, o uso de rápidos flashbacks completam algumas lacunas.

Basta uma pessoa para mudar os rumos de nossa vida. A narrativa adota a tempestade como um personagem importante, praticamente um elo entre os dois personagens que se encontram em um lugar inóspito onde o tempo muda rapidamente com a temperatura caindo abruptamente pelos menos 20 graus com a ausência do sol. Essa forte conexão, entre os dois personagens, só é completamente entendida no desfecho, deixando grande parte do filme estacionado em sequências repletas de cortes secos de um plano a outro guiadas pelo espirito de sobrevivência.

Outro ponto importante para reflexões é o instinto maternal, uma peça que aparece com mais clareza com a exaustão batendo e lembranças dolorosas transformando-se de peso à força. Nesse momento, entendemos o ritmo lento de uma narrativa que estimula alguns porquês do isolamento voluntário, a necessidade de uma solitude e as relações com as forças incontroláveis da natureza.

Disponível no catálogo da Prime Video, Tempestade Infinita é um filme que demora para acontecer mas que reserva boas reflexões quando desabrocha, saindo de um esmorecimento para uma profunda reflexão sobre os obstáculos que aparecem pela vida.


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