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14/12/2023

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Crítica do filme: 'Jerry Maguire - A Grande Virada'


O amor e o poder na era da ganância. O concorrido, midiático e rentável universo dos esportes americanos vira pano de fundo para uma história de amor e dedicação aos olhos de um workholic que precisa redesenhar seus objetivos passando por aprender a dar valor aos que o cercam na vida pessoal. Assim, podemos rapidamente definir Jerry Maguire - A Grande Virada, um dos melhores filmes dos anos 90 escrito e dirigido pelo cineasta californiano Cameron Crowe, inspirado na vida do agente esportivo Leigh Steinberg.


Na trama, conhecemos Jerry Maguire (Tom Cruise), um badalado empresário de esportistas que vai do céu ao inferno quando, no auge da carreira, é demitido da empresa onde trabalha. Buscando um recomeço no mercado competitivo que está, vai em busca de firmar parceria com um jogador de futebol americano chamado Rod (Cuba Gooding Jr.) que é puro coração. Nessa jornada, Jerry contará com a ajuda da ex-secretária Dorothy (Renée Zellweger) com quem viverá um grande amor.


Quinto filme consecutivo de Tom Cruise com mais de 100 milhões de dólares em faturamento de bilheteria (algo que se repetiria mais pra frente na sua vitoriosa carreira), Jerry Maguire navega pelo olhar crítico ao capitalismo, onde o dinheiro e o poder se tornam obsessão de muitos deixando para trás laços importantes. As redescobertas do protagonista, numa óbvia relação a uma jornada de redenção se mesclam com uma história de amor água com açúcar mas mesmo assim carismática. Nessa última parte vale o destaque para a atriz Renée Zellweger que na época estava em baixa na carreira.


A narrativa percorre conflitos emocionais ligados a uma era de obsessões, uma frenética corrida por posição social. As linhas do roteiro surgem cheias de críticas sociais, uma forma bastante madura de refletir um eterno estado de aflição. O panorama midiático é muito bem estabelecido pelas lentes do ex-repórter da Revista Rolling Stones Cameron Crowe, um cineasta brilhante, com um olhar cirúrgico para os epicentros de um discurso.


Na trilha sonora, outra área que Crowe conhece como poucos, a produção teve permissão de ninguém mais ninguém menos que Paul McCartney para usar duas partes instrumentais das canções ‘Singalong Junk’ e ‘Momma Miss America’ que estiveram no álbum McCartney lançado pelo eterno beatle no início da década de 70.


Indicado para cinco Oscar, venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante (Cuba Gooding Jr.), e com um orçamento na casa dos 50 milhões de dólares, o filme faturou quase 300 milhões em bilheterias em todo o mundo, se tornando um enorme sucesso. Pra quem se interessar, o filme está disponível na Paramount Plus, Prime Video e HBO Max.



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31/10/2023

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Crítica do filme: 'Um Tira da Pesada'


A boa e velha malandragem sob a ótica da lei. Pega um roteiro explosivo que segue a estrada de um principal conflito que envolve seu protagonista, chama um dos artistas mais carismáticos da década que é lembrado até hoje, a soma disso é Um Tira da Pesada, longa-metragem que se tornou em pouco tempo um dos filmes de ação de maior sucesso nos anos 80. Dirigido pelo cineasta nova iorquino Martin Brest (que temos mais tardes dirigiria Perfume de Mulher e Encontro Marcado) e indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original no ano de seu lançamento, o projeto busca seu alicerce na dose certa entre ação e comédia.


Na trama, conhecemos o investigador da polícia Axel Foley (Eddie Murphy), um impulsivo homem da lei que investiga da sua maneira os crimes na cidade de Detroit quase sempre causando a fúria de seus superiores. Após um de seus melhores amigos ser assassinado quando o visitava, Axel parte para Beverly Hills em busca de explicações e na caça do principal suspeito. Nesse caminho, seu destino se cruza com os policiais Rosewood (Judge Reinhold) e Taggart (John Ashton).


Filme de maior bilheteria dos cinemas norte-americanos no ano de 1984, na semana de estreia estava em mais de 1.500 salas por todo o Estados Unidos, Um Tira da Pesada consegue em sua narrativa um dinamismo constante que envolve o espectador através do foco em cima de um protagonista malandro, impulsivo, que através de um enorme conflito caminha para o choque de realidade entre forças policiais de lugares diferentes. Sua confiança nunca se abala, um herói que tem seu antagonista bem definido mas sem deixar de trazer reflexões sobre questões que envolvem a sociedade, como o preconceito, os privilégios e as relações entre policiais.


O sucesso foi tamanho que logo vieram o segundo filme em 1987 e o terceiro em 1994. Quase quatro décadas de pois, o quarto filme da franquia sairá nos próximos anos com o retorno de grande parte do elenco original, incluindo o astro Eddie Murphy. Pra quem quiser conferir esse primeiro filme dessa franquia de sucesso, está disponível no catálogo da Paramount Plus.



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31/07/2023

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Crítica do filme: 'Flashdance' (Revisão)


Ser é acreditar! Contando a trajetória de uma dançarina que trabalha como soldadora, um dos filmes mais empolgantes da década de 80 aborda o sonho sem deixar de mostrar a realidade da sobrevivência, a distância entre esses dois pontos, uma jornada de incertezas, acaba sendo importantes variáveis da narrativa de um dos filmes mais assistidos nos cinemas de todo o mundo no ano de 1983 (só começou a ser exibido nas televisões brasileiras só no final da década de 80). Dirigido pelo cineasta britânico Adrian Lyne, com roteiro assinado pela dupla Thomas Hedley Jr. e Joe Eszterhas, Flashdance é inspirado na vida de uma dançarina e operária canadense chamada Maureen Marder.


Na trama, conhecemos Alex (Jennifer Beals), uma jovem de 18 anos, amante da dança, com o sonho de entrar em um concorrido conservatório de balé. Para sobreviver, ela trabalha de dia como soldadora em obra e de noite se apresenta em impactantes shows noturnos de dança em uma boate. Certo dia, se aproxima do seu chefe, Nick (Michael Nouri), um homem mais velho, mais maduro, que a ajuda no seu caminho rumo aos sonhos.


What a Feeling, Maniac, quem nunca ouviu essas músicas e logo lembrou no filme? Com uma das trilhas sonoras mais bem sucedidas em vendas nas lojas, em apenas duas semanas mais de 700.000 cópias já haviam sido vendidas, as vezes esquecemos sobre alguns temas importantes que o projeto aborda. As oportunidades, o lidar com o medo, a amizade, o trabalho como forma de sobrevivência (aqui ainda com a adição do universo machista que está inserida a forte protagonista), os conflitos de um relacionamento entre chefe e empregado. Ao longo de um pouco mais de 90 minutos de projeção, a narrativa é recheada de cenas de dança empolgantes que giram ao redor do sonhar.


Se abandonarmos nossos sonhos, não somos nada. O sonho é um emblemático ponto que liga todos os pontos dessa história que mora no coração de muitos cinéfilos. Além de acompanhar os passos da protagonista, tem o rapaz que sonha em ser um artista de stand up comedy, uma patinadora de gelo buscando alcançar o sucesso. Junto a isso tem o par romântico de Alex, um homem que veio da pobreza, alcançou seus objetivos com o estudo e trabalho honesto.


O filme tem algumas curiosidades na escolha dos personagens chaves. Kevin Costner fez o teste para o papel de Nick além do mesmo personagem ser oferecido a Gene Simmons (sim, o baixista do KISS!) mas o papel ficou com Michael Nouri. Já para o papel de Alex foi bem concorrido, Jamie Lee Curtis, Bridget Fonda, Melanie Griffith, Helen Hunt, Jennifer Jason Leigh, Michelle Pfeiffer e Sharon Stone fizeram o teste para o papel que acabou ficando com Jennifer Beals.


Flashdance marcou uma geração de fãs e sem dúvidas escreveu seu nome na galeria da cultura pop de uma década importante, com muitas mudanças sociais. Pra quem ainda não viu ou quer rever, o filme está disponível no catálogo da Paramount Plus.

 


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17/05/2023

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Pausa para uma série: 'Billy The Kid'

 


A saga de um famoso anti-herói. Criada pelo britânico Michael Hirst, produtor de Vikings e The Tudors, entre outros sucessos, chegou na Paramount Plus, quase desapercebido, uma série que nos leva de volta às disputas e conflitos no epicentro de um tumultuado velho oeste americano nos apresentando um amplo recorte sobre a vida do mais famoso pistoleiro desse período, Billy The Kid. Passeando pela história do marcante do período ligado à expansão americana, nos poucos mas intensos anos que viveu, o anti-herói presenciou a corrupção, terras sem lei, violência, disputas de comerciantes. Conhecido por alguns nomes, figura polêmica de uma época onde o sobreviver era o ganha pão de cada dia, Billy The Kid participou da famosa Guerra do Condado de Lincoln, fato que ficou integralmente para ser conferido nas próximas temporadas. No papel principal, o ótimo Tom Blyth brilha no papel principal.


Na trama, conhecemos os primeiros passos de William H. Bonney (Tom Blyth), depois conhecido como Billy The Kid, Desde o início de vida conturbado, vindo de uma família de imigrantes irlandeses, se muda para o velho oeste norte-americano junto com sua família ao mesmo tempo que uma série de tragédias começam a cercá-lo. Se vendo sozinho em um mundo cruel, onde sobreviver rompe com sua moral quase que instantaneamente. A primeira temporada foca em como ele tornou aos poucos um dos rostos mais procurados pelas autoridades da época.


Princípios que ferem princípios. Uma ampla análise é feita sobre essa figura controversa. O roteiro é bem detalhista, começando pela sua visão inicial do que seria sua vida dali em diante. Sua família foi para os Estados Unidos com o desejo de um tratamento justo para todos, fato que logo se revelara ser um objetivo difícil de se encontrar. As mortes que acompanham sua trajetória parecem o fazer entender a vida de outras formas, onde a justiça tem interpretações variadas o deixando em uma linha tênue sobre o que é ser justo e até mesmo suas interpretações para lealdade. Suas inúmeras fugas de prisões ganham real sentido além das escolhas que faz quando se vê entre traições e lealdades.


Na segunda metade da temporada, acompanhamos a história seguindo rumo ao epicentro dos seus conflitos (e os fatos que o tornaram conhecido), dentro das ações desenfreadas com uma gangue a princípio comandada por um impiedoso e perigoso amigo e o iminente rompimento, fruto de um idealismo conflitante. Aqui apresentam-se mais conflitos que o cerca. A disputa por gados, por meio de fazendeiros poderosos, um mundo onde a manipulação era uma ferramenta na busca por objetivos unilaterais, as concessões de terras espanholas, um clássico jogo pelo poder, em uma terra onde a lei é corruptível. Vivendo intensamente o período do Velho Oeste americano, os caminhos percorridos pelo protagonista segue em paralelo à história norte-americana.


Ao longo dos ótimos oito episódios da primeira temporada, a série criada por Michael Hirst é um retrato marcante de uma época, de atitudes moralmente questionáveis, que ainda tem muito a desenvolver nas próximas temporadas.



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10/05/2023

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Pausa para uma série: 'Rabbit Hole: Jogo de Mentiras'


Nem tudo é o que parece ser. Chegou no catálogo da Paramount Plus um seriado cheio de reviravoltas, idas e vindas por meio de diferentes pontos de vistas, que exploram as possibilidades da espionagem industrial através das ações de um protagonista desconfiado com tudo e todos, que tem uma empresa que resolve situações, cria vantagens, das mais diversas, para quem o contrata, mas se vê constantemente perdido pelas falhas de um enorme plano que envolve questões democráticas e que podem afetar o planeta das informações. Criada pela dupla Glenn Ficarra e John Requa, Rabbit Hole: Jogo de Mentiras, não entrega muito nessa primeira temporada, deixando as principais respostas para as próximas etapas.


Na trama, conhecemos John Weir (Kiefer Sutherland), um dos criadores de uma empresa de sucesso que resolve questões ligadas à espionagem para empresas e pessoas que os contrata. Em um novo e audacioso plano, a conclusão não sai como esperado e ele se vê envolvido em uma trama cheio de caminhos dentro da narrativa que tinha criado. Lutando contra seu complicado passado, memórias doloridas, e perdas no presente, ele precisará se juntar a um grupo de novas pessoas para enfim colocar o trem de volta aos trilhos e sair vencedor em uma batalha que gira em torno da informação.


O roteiro busca ser engenhoso, modifica peças de lugar frequentemente através das peculiaridades do seu confuso protagonista, usa do flashback para ampliar o entendimento na parte psicológica dos personagens. As perguntas começam aqui. Será que é tudo parte de um plano dele? Qual o plano? Será que está sendo enganado? Engana-se quem acha que encontrará respostas nessa primeira temporada, na verdade muitas perguntas são introduzidas pelas entrelinhas, inclusive.


Por falar do lado psicológico de John Weir, essa é a parte mais interessante para se seguir  observando. A mente e suas complexidades viram elementos importantes nessa história, o começo do visualizar outros cenários, até o real entendimento dos traumas de um passado que não esquece, até mesmo suas aflições do que pode ser real ou não são ingredientes que tornam esse protagonista enigmático.


A subtrama policial, com o foco na detetive que os investiga, é o ponto fraco dessa primeira parte da história, parece distante adicionado apenas o óbvio dentro de um limitado ponto de vista de quem, assim como nós espectadores, não está entendendo os principais porquês que atravessam essa mirabolante história.


Pelas ruas de uma grande cidade norte-americana, ou mesmo escondidos em lugares remotos,  vamos acompanhando os passos do novo grupo formado por Weir em busca de respostas, onde a busca pelo controle da informação é o início de um caminho com muitas motivações e possibilidades.



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05/04/2023

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Crítica do filme: 'Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes'


Escolha seu jogador e comece a aventura! Baseado em um dos mais renomados jogos de RPG, criado por Gary Gygax e Dave Arneson na década de 70, o aguardado longa-metragem de aventura e comédia Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes é um empolgante projeto que usa da nostalgia como aliada em uma narrativa dinâmica que apresenta um grupo de heróis desajustados que precisam lutar para manter o equilíbrio do mundo onde vivem. Dirigido pela dupla John Francis Daley e Jonathan Goldstein, ambientado no universo fictício que também foi publicado como cenário para várias edições do famoso jogo de RPG, Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes deve agradar públicos de várias gerações.


Na trama, conhecemos o carismático ladrão Edgin (Chris Pine) que viveu toda sua vida dando pequenos golpes ao lado de sua companheira de aventuras Holga (Michelle Rodriguez) até que um dia precisa largar a família para mais uma jornada e acaba sendo preso por algum tempo. Quando consegue sair dessa prisão, a dupla de aventureiros embarca em mais uma aventura, agora ao lado de outros novos amigos, em busca de uma relíquia que está nas mãos de pessoas que querem criar o caos no mundo onde eles vivem.


Quarto projeto audiovisual oriundo do mundo Dungeons and Dragons e ambientado no mesmo período de tempo e universo que os famosos heróis do desenho Caverna do Dragão (como valida uma cena desse mesmo filme), Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes caminha numa linha tênue entre a comédia e a aventura com camadas superficiais de desenvolvimento dos personagens mas com um carisma que chama a atenção, visto em todas as cenas.  Mas afinal, é uma paródia de filme de fantasia? Não! A fórmula é muito bem construída, com dinamismo que empolga. Você nem enxerga as mais de duas horas passarem!


Aqui, igual ao jogo de tabuleiro, a ideia de escolher um personagem e seguir a narrativa pelos olhos e conflitos do mesmo se torna algo lógico mas obviamente sem perder a objetiva contextualização. Com filmagens na Irlanda do Norte e na Islândia, rodado entre abril e agosto de 2021, Dungeons & Dragons - Honra Entre Rebeldes finalmente chegou aos cinemas de todo o mundo nesse primeiro semestre de 2023 e promete levar multidões aos cinemas!



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10/03/2023

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Crítica do filme: 'A Baleia'


Os olhares sobre uma escolha. Indicado para mais de 100 prêmios desde seu lançamento mundial, A Baleia, novo trabalho do cineasta e ex-frequentador da Universidade de Harvard Darren Aronofsky, é um filme que navega nas escolhas de um professor de inglês, que sofre com transtorno da compulsão alimentar e seu caminho para deixar um legado em laços corrompidos, principalmente com sua única filha com quem teve um relação sempre distante. Indo a fundo em uma melancolia durante suas quase duas horas de projeção, o projeto marca o renascimento de um artista muito querido por fãs e pela própria indústria cinematográfica, o indicado ao Oscar Brendan Fraser.


Na trama, conhecemos Charlie (Brendan Fraser), um professor que trabalha home office dando aulas online para alunos de um curso de escrita. Esse personagem é amargurado, com fortes problemas emocionais muitos desses causados por um forte perda no seu passado. Ele se encontra com quase 300 quilos, com grandes dificuldades de locomoção, e parece entregue, sem querer ajuda de hospitais ou médicos especializados. Sua única companhia é a enfermeira, e ex-cunhada, Liz (Hong Chau), talvez a única pessoa que ele escute nessa fase final da vida. Durante essa jornada que marca o provável desfecho de sua trajetória, outros personagens começam a entrar em seus dias, como o enigmático e vinculado a uma religião Thomas (Ty Simpkins), sua ex-esposa Mary (Samantha Morton) e principalmente sua filha Ellie (Sadie Sink). Com essa última, Charlie se esforça para resolver a complicada relação de pai e filha.


Baseado em uma peça teatral homônima, dramaturgo americano de 42 anos Samuel D. Hunter, A Baleia é um recorte introspectivo de um homem que escolheu chegar ao fim de sua jornada (algo parecido do que acontece no filme Despedida em Las Vegas) e tem como objetivo uma última redenção na relação conturbada com sua filha.  Falando abertamente sobre transtorno da compulsão alimentar, o roteiro parece que não alcança seu clímax por completo mesmo recheado de ótimas reflexões pelos pontos de vistas dos ótimos coadjuvantes que complementam demais as lacunas dessa jornada.


Aronofsky não é bobo, seu cinema é muito pensado, vemos por exemplo o uso explícito de suas ideias na maneira como o público recebe seu filme, partindo para a primeira reflexão na  relação entre a largura e altura de como foi filmado, um paralelo com as limitações de espaço que enfrenta o protagonista. Há também lacunas que o próprio olhar e sensibilidade do espectador acaba precisando preencher dentre os achismos que compõe as ações dos personagens.


Com 90% de suas cenas dentro de um apartamento e com um dedicado Brendan Fraser, que teve que vestir um traje protético pesado e foi ovacionado durante a exibição no Festival de Veneza, A Baleia concorre à três Oscars em 2023 com fortes chances de vitória para Fraser.



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01/03/2023

Crítica do filme: 'Piggy'


Uma ideia de curta que virou longa. Assim como outros projetos, como o aclamado Whiplash, por exemplo, Piggy, escrito e dirigido pela cineasta espanhola de 48 anos Carlota Pereda, em seu segundo longa-metragem da carreira, tem uma ideia oriunda de um curta-metragem homônimo (no caso Cereda, o título original). Nesse impactante suspense que encosta no terror a todo instante, ganhador de prêmios no Goya e exibido em San Sebastian e no Festival do Rio, acompanhamos o quanto pode ser triste e infeliz a vida de uma adolescente consumida emocionalmente pelas intimidações do bullying. O medo, variável constante nessa história, ganha novos significados com um iminente dilema. 


Na trama, conhecemos Sara (Laura Galán), uma adolescente que sofre fequetemente bulliyng das outras garotas da região onde mora, até mesmo de uma ex-amiga do qual era muito próxima num passado recente. Certo dia após ir nadar sozinha, numa espécie de piscina que tem no local, num horário onde não tina ninguém, acaba passando por mais uma situação constrangedora, tendo suas roupas roubadas e precisando voltar pra casa com o que não foi roubado. Nessa caminhada, seu destino cruzará com uma série de pessoas e situações que a colocarão no centro de escolhas aterrorizadoras.


A narrativa se joga para cima de um tripé abstrato ligado ao emocional (uma reunião de sentimentos vividos até ali) que envolve o terror, a culpa e o medo. O terror aqui tem várias camadas. Tem o bullying, o terror social que parece ser atemporal, cada vez mais cruel nos tempos dinânicos do instantâneo. Tem o comportamento psicopata, do assassino sem remorso e empatia. Essas linhas se cruzam dentro da narrativa, principalmente porque enxergamos os dilemas que chegam pela ótica da protagonista.


A culpa é um elemento predominante nas ações dos personagens, algo que gera mutias reflexões pelos diversos pontos de vistas sobre a questão. A protagonista não entra em uma estrada de redenção, vítima de difamações por toda uma juventude cruel que respira os esteriótipos das capas de revistas, o confronto maior é entender o sentido de medo, um estado paralisador do imaginário ao real.


O filme, entrou recentemente no catálogo da Paramount Plus. É um projeto de cerca de 100 minutos que traz críticas sociais importantes, mais um forte olhar para a intimidação vexatória que cisma em não sumir de atos cruéis de muitos jovens por aí.




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20/02/2023

Crítica do filme: 'Promoção do Século'


O que nos aguarda nosso destino? Baseado em quase inacreditáveis fatos reais e ambientada em agosto de 2017, o longa-metragem argentino Promoção do Século nos apresenta um peculiar personagem em total declínio na carreira que resolve apostar toda sua credibilidade restante em uma ideia pra lá de inusitada que envolve uma empresa do ramo eletrônico e a maior paixão nacional dos nossos hermanos. Dirigido por Ariel Winograd com roteiro assinado por Patricio Vega o filme que apresenta detalhes da jogada que ficou marcada na história do marketing argentino é protagonizada pelo experiente ator argentino Leonardo Sbaraglia e está disponível na Paramount Plus.


Na trama, conhecemos Álvaro Torres (Leonardo Sbaraglia) um homem metódico, óbvio, previsível, que parece não se atualizar mesmo trabalhando no dinâmico universo do marketing. Ele, não se sabe ainda porquê, é um dos gerentes criativos de uma empresa chamada Noblex que entre outros eletrônicos busca soluções para melhorar as vendas de suas televisões. Certo dia, já no limite de conflitos não só na vida profissional mas também na pessoal, ele acaba tirando da cartola uma ideia inusitada: aproveitando a onda de descontentamento com a seleção argentina de futebol, que na época dessa ação que se segue era quinta colocada nas classificatórias para a Copa do Mundo de 2018, ele sugere que caso a Albiceleste não se classifique para a Copa a empresa devolveria o dinheiro das televisões da marca para os que comprassem durante determinado período. A ação dá muito certo, muitas televisões são vendidas, só que a seleção argentina, a cada jogo que passa, corre mais riscos de não se classificar, levando Álvaro a uma enorme pressão.


Preso em teorias de auto ajuda, o protagonista se mostra um perdido em seu próprio cotidiano e entendermos ele por esses conflitos faz todo sentido. Passando por uma crise de meia idade, com medo de fazer exames, buscando de forma atrapalhada reunir os cacos de uma separação com a ex-esposa que ele nunca aceitou por completo, com uma distância cada vez mais notória no diálogo com o único filho e na mira de outros do seu trabalho que farejam sua incompetência a cada nova frustrante ideia, Álvaro está em colapso reprimindo e negando as emoções. Quando, por um lapso, um acaso do destino, tem a ideia conectando um produto à maior paixão nacional do argentinos, igual a de nós brasileiros, o futebol, o protagonista com o espírito vitorioso de volta tenta abandonar a obviedade e driblar a iminência. A narrativa se mantém a observação total à ele deixando subtramas apenas na superfície de seus desenrolares.


Rodado todo em Buenos Aires, Promoção do Século não é nenhum Mad Men, mas cumpre seu objetivo de refletir sobre a capacidade do ser humano em pensar criativamente em meio à batalha pelo equilíbrio entre vida pessoal e profissional, até mesmo quando o próprio detentor de uma brilhante ideia não acredita muito em si. Parece não fugir muito da realidade de muitos por aí...não é verdade?



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18/02/2023

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Pausa para uma série: 'Tulsa King'


Imaginem um gângster daqueles das antigas mesmo, com seu terno arrumado, falando com sotaque, jogado em nossa atualidade após algumas décadas preso, onde ao alcance de um clique uma comunicação mundial acontece. Esse é um início do caminho da nova série da Paramount Plus, Tulsa King, que brinca de forma inteligente com o novo e o antigo de forma equilibrada, sem perder a profundidade dos conflitos dos ótimos personagens, trazendo para o público um protagonista carismático, um clássico anti-herói, violento, exigente, mas com um coração enorme, que precisa entender de forma rápida o mundo de hoje. O projeto marca a primeira aparição do astro Sylvester Stallone como protagonista em uma série de televisão.


Criada pelo texano Taylor Sheridan (de sucessos como Yellowstone, O Dono de Kingstown e outros sucessos), na trama, conhecemos Dwight ‘The General’ Manfredi (Sylvester Stallone) que após quase três décadas preso sem falar uma palavra sobre a família da máfia nova-iorquina da qual pertence acaba indo parar na cidade de Tulsa no estado de Oklahoma, situado no centro-oeste dos EUA, com um único objetivo de levantar um domínio criminoso na região. Aos poucos vai conhecendo outros personagens que se juntam a ele nessa jornada que também navega pelo campo pessoal, principalmente no relacionamento conturbado com a única filha.


Uma bomba pronta pra explodir? Um romântico das antigas? Quais as vantagens e desvantagens de não conhecer o mundo de hoje, repleto de tecnologias, criptomoedas? Empreendendo pelas vias da violência pois é a única forma que enxerga o sucesso, Dwight, um orgulhoso nova-iorquino, durante toda a vida antes da prisão pensando de uma forma, vai se tornando um peixe fora d' água em uma região completamente diferente de tudo que viveu. Os coadjuvantes que cruzam seu caminho o fazem entender melhor aquele momento que vive onde vai percebendo aos poucos que precisa se descontruir sem perder sua essência. Mas como fazer isso? Várias antíteses o perseguem, violento e doce por exemplo, cabem na mesma frase desse que é um dos melhores personagens da vitoriosa carreira do ator norte-americano de 76 anos.


Ao longo dos nove episódios da primeira temporada (já renovada para uma segunda jornada), o ótimo roteiro abre espaço para uma jornada familiar repleta de conflitos e aqui por dois caminhos há reflexões. O sentido de irmandade da máfia, que se tratam como irmãos, e as quebras dos protocolos e seus sangrentos e obsessivos conflitos. Em paralelo, Dwight tem uma difícil missão de se reaproximar com a filha que tem uma visão muito negativa sobre ele. Essa última parte é algo que deve ser mais explorado nas próximas temporadas.


Tulsa King não é um retorno mas sim a estreia de Stallone no universo em expansão das séries via streamings. E que estreia! Seu personagem domina nossos olhares exalando carisma do primeiro ao último episódio. Parece seguir rumo ao sentido de um conceito contido na frase de um revolucionário da realidade: ‘É preciso ser duro, mas sem perder a ternura, jamais’.



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16/02/2023

Crítica do filme: 'At Midnight'


Está aberta a temporada na eterna busca anual do filme mais água com açúcar do ano! At Midnight, novo lançamento da Paramount Plus se joga de peito aberto na previsibilidade, na busca pelo carisma envoltos de clichês mas tudo isso de forma nada pretenciosa buscando conquistar a atenção do público dentro do charme no fofo, e até mesmo ingênuo, jogo de sedução proposto onde acaba encontrando Freud mesmo que de relance. Dirigido pelo nova-iorquino Jonah Feingold, o filme busca ter identidade própria de conto de fadas mas bastam poucos minutos para nos lembrarmos de Anna Scoot e William Thacker, inesquecíveis personagens de Um Lugar Chamado Notting Hill.


Na trama, conhecemos Alejandro (Diego Boneta) um exemplar funcionário de um hotel de luxo no México que tem o sonho de ter seu próprio empreendimento nos Estados Unidos. Certo dia, chega para se hospedar no hotel a mundialmente conhecida atriz hollywoodiana Sophie (Monica Barbaro), que vem de uma enorme decepção amorosa com um outro ator. Ela está no México para rodar a continuação de uma franquia de sucesso que faz parte. Alejandro e Sophie se conhecem de maneira inusitada e a partir desse dia combinam encontros sempre à meia-noite para se conhecerem melhor. Será que esse romance vai dar certo?


O roteiro, talvez de forma nada intencional, troca a reflexão banal e salta para pequenos paralelos com os princípios de prazer e desprazer nas linhas de Freud. A questão aqui é achar caminhos para entendermos os personagens na busca do que seria proporcionar prazer e evitar o desprazer. Mas aí o filme se perde novamente. O conceito de ‘não se apaixonar’, algo comum entre os protagonistas, acaba virando uma busca incessante para gerar reflexões sobre a questão mas cai em um efeito redundante gerando uma enorme dor de cabeça de quem se prendeu a reflexões ou até mesmo para quem ainda busca se segurar firme e forte até o fim do filme.


O pot-pourri de clichês já vistos em outras comédias românticas incomodam mas tem seu charme. Talvez parte do público se sinta seguro dentro de uma fórmula já estabelecida, a famosa receita de bolo seguida por produções que adotam o não se arriscar como meta. Às vezes assistimos à filmes em momentos difíceis, então nossa exigência acaba sendo algo que toque de alguma forma nosso coração e nos leve para o sonhar, nisso, o filme cumpre seu papel.

 


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18/07/2022

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Pausa para uma série: 'Yellowstone'


Uma das mais aclamadas séries da atualidade, em breve já chegando na sua quinta temporada, Yellowstone nos mostra a saga de uma família repleta de conflitos que precisa defender suas terras. Aqui não há heróis nem vilões, todos rompem barreiras da moral mostrando a força da ganância em uma região que gira longe dos holofotes da mídia, em terras rentáveis, um universo extremamente violento ditado por regras impostas por quem comanda. Criado pela dupla Taylor Sheridan e John Linson, tendo Kevin Costner como protagonista.

Nesse resgate do faroeste em versão moderna, acompanhamos a família Dutton, liderado por John (Kevin Costner) um ex-homem da lei que comanda um dos maiores ranchos do mundo, situado no estado norte-americano de Montana. Nessa família, há todo tipo de drama, o relacionamento entre pai e filhos gera embates explosivos além dos combates a aproveitadores do capitalismo e os conflitos frequentes com moradores da reserva indígena. Quem está certo nessa história? Não há uma definição para isso, apenas completamos nosso refletir em intensos episódios (cada um melhor que o outro) que giram em torno dessa família de anti-heróis, gananciosa, que fará de tudo para proteger o que eles acham serem deles por direito.


Nesse projeto super elogiado disponível no streaming da Paramount+, o leque é amplo. Há o foco profundo em uma família que muitas vezes não se entende por conta das ações e inconsequências do pai, um viúvo que vive de proteger o que ele acha ser de sua família por direito. Inclusive, um dos grandes embates da primeira temporada gira em torno do distanciamento de um dos filhos de John, Kayce (Luke Grimes) que abdicou do legado da família e foi viver uma vida com a esposa Monica (Kelsey Asbille) e o filho dentro da reserva indígena. Os outros filhos do protagonista também são intrigantes, Wes Bentley interpreta Jamie, o advogado dos Dutton, que almeja ter uma carreira política e assim ser mais reconhecido por sua doação à família. Temos também a intrigante Beth (Kelly Reilly), peça importante nas batalhas políticas que o família se mete, uma mulher dura e ríspida que camufla um forte trauma emocional pela morte da mãe.


Sem tempo para conversas e resoluções na linha da paz, violentas cenas compõem as ações, onde traições e personagens ambíguos são figuras frequentes. Tudo fica mais interessante quando entendemos a origem das lutas pelas terras, nesse ponto nos apresentam cenários interpretativos, onde empresários buscam a guerra para terem posse de parte da terra da família. Há também o outro norte, a questão indígena, fato sempre recriado e trazido aos olhos para refletir, por meio desses conhecemos mais sobre sua cultura, ou o que sobrou dela, por conta do avanço do poder da terra repleto de amarras políticas caminhando em leis movidas a conveniência.


Yellowstone mete o dedo em feridas da história norte-americana, contorno dramas familiares potentes e personagens intrigantes. Um baita seriado, imperdível!


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23/06/2022

Crítica do filme: 'Veja por Mim'


Quando a sobrevivência vira um auto análise dos próximos passos na vida. Contornando os dramas de uma jovem, no ápice de sua rebeldia, que teve sua vida completamente modificada chegamos em um suspense que consegue manter o clima de tensão durante toda a projeção. Dirigido pelo cineasta canadense Randall Okita, em seu primeiro longa-metragem de ficção, Veja por Mim tem o mérito de traçar paralelos entre as situações que acontecem e a inconsequência.


Na trama, conhecemos a ex-esquiadora de relevante sucesso Sophie (Skyler Davenport), uma jovem que após algumas conquistas na carreira promissora acabou ficando cega. Essa nova condição a levou a uma certa rebeldia que faz com que seu relacionamento com a mãe fica amargurado e chegando ao ponto de inconsequentes roubos em trabalhos que arruma cuidado de lares de pessoas que viajam. Um dia, após aceitar mais um trabalho desse tipo, acaba ficando refém de uma situação inusitada quando ladrões invadem a casa em que ela está para arrombar um cofre. Sem saber direito o que está acontecendo, ela consegue fazer uma chamada de um aplicativo que ajuda pessoas cegas, conhecendo assim Kelly (Jessica Parker Kennedy), uma veterana do exército, que a ajuda a encontrar soluções para que a noite não termine em uma grande tragédia.


O roteiro bem construído nos leva logo de início aos reflexos da personalidade da protagonista que parece viver em uma melancolia agressiva por não conseguir aceitar sua nova condição. Com isso estabelecido para o público, o longa-metragem avança ao seu clímax onde as reflexões que fazemos viram complementos para entendermos as escolhas que ela faz quando precisa tomar decisões. Essa questão do trauma é muito bem elaborada, nos guiando até os outros personagens por onde entendemos as mudanças que esse fatídico dia fará na vida dela. Precisando de Kelly, a protagonista encontra nela um paralelo de ideias e atitudes para analisar, agir dentro da situação que fica refém. Longe de ser uma heróina, a protagonista se desconstrói ao longo dos intensos 92 minutos de projeção.  


Veja por Mim e sua narrativa que apura os detalhes de personalidade, consegue encontrar uma ótima fórmula para prender a atenção do público.

 

 

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21/06/2022

Crítica do filme: 'Jerry & Marge Go Large'


A boa sorte acontece do mesmo jeito que a má sorte. Inspirado em uma história real e disponível com exclusividade no catálogo da Paramount+, Jerry & Marge Go Large nos leva de maneira bem leve da matemática ao amor pelas linhas bem conhecidas dos conflitos existenciais, aqui exemplificado por um recém aposentado que de maneira quase inusitada encontra um novo sentido em sua vida. Dirigido pelo cineasta nova iorquino David Frankel (de sucessos como Marley & Eu), o longa-metragem de pouco menos de 100 minutos de projeção é estrelado pelos ótimos Bryan Cranston e Annette Bening.


Na trama, conhecemos Marge (Annette Bening) e Jerry (Bryan Cranston) um casal que está juntos faz anos e morando sempre no mesmo lugar na cidadezinha de Evart, no interior de Michigan. O segundo está a mais de quatro décadas acordando cedo, as vezes antes do sol nascer, trabalhando em uma fábrica de sucrilhos, um emprego que começou ainda quando estava no Ensino Médio. Quando chega a aposentadoria, após a linha de produção que gerenciava sair de linha, Jerry, buscando algum novo sentido para sua vida, acaba descobrindo uma brecha em apostas de bilhetes de loteria. Fato que mudará sua rotina, de sua família e de seus amigos.


Quando ninguém sabe o quanto que podemos. O filme nos leva para a reflexão da melhor idade, no pós aposentadoria quando precisamos de alguma forma preencher lacunas que antes eram cheias de compromissos profissionais. Encontrar um sentido para o viver é o caminho que muitos podem trilhar. Jerry é essa alma cheia de sonhos guardados no seu coração e na sua impressionante memória. Os conflitos matemáticos na verdade nunca foram seus verdadeiros conflitos, eram apenas diversão e empolgação para alguém que ama o universo dos cálculos e muitas vezes virava alguém incompreensivo. A questão aqui em foco acaba sendo o lado dos relacionamentos, o lado do conhecer as pessoas. Sempre foi sobre se conectar com as pessoas por meio de uma espécie de dom.


Ser a pessoa mais esperta da sala importa quando vivemos e pensamos na sociedade ao nosso redor? De maneira bem simples e colocando em evidência o fazer o bem e dando um tapa no egoísmo Jerry & Marge Go Large nos leva a uma viagem sobre os porquês da existência. Afinal, quando arriscamos, pode dar certo.



 

 

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24/01/2022

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Pausa para uma série: 'Yellowjackets'


As lições e consequências de escolhas pela sobrevivência. Criado pela dupla Ashley Lyle e Bart Nickerson, Yellowjackets chegou ao catálogo da Paramount Plus sem muito alarde. Ao longo de dez fortes episódios que envolve uma grande tragédia, duas linhas do tempo, uma seita, canibalismo, abalos após traumas, entre outros ingredientes podemos afirmar que esse projeto é um dos mais impactantes do universo dos seriados nos últimos anos. O roteiro dessa primeira temporada, que teve seu último episódio exibido no início de janeiro de 2022, é primoroso, possui uma sagacidade entre caminhar uma linha tênue entre o concreto e a suposição.


Na trama, conhecemos quatro mulheres na fase adulta que por mais que sigam suas vidas com suas respectivas famílias foram marcadas por acontecimentos trágicos quando eram adolescentes (cerca de duas décadas atrás) e viajavam de avião para um jogo importante já que eram do time de futebol feminino conhecido em toda a cidade delas chamadas de Yellowjackets. Assim, ao longo de 10 intensos episódios vamos conhecendo Tai (Tawny Cypress), Shauna (Melanie Lynskey), Misty (Christina Ricci) e Natalie (Juliette Lewis) e os segredos que esconderam durante todo o tempo em que estiveram perdidas após um grave acidente de avião.


A narrativa, que segue duas linhas temporais, consegue compor uma série de subtramas que de alguma forma estão relacionadas, seja no presente, ou nos acontecimentos misteriosos do passado. Os mistérios são revelados aos poucos, bem presos ao passado temos que ser ambientados aos acontecimentos após o acidente, como era a rotina delas nos longos dias que se passaram praticamente presas em uma região de difícil acesso. No presente, questões saem da normalidade, fogem dos segredos escondidos como se alguém quisesse revelar o mundo verdades não ditas. Há uma harmonia muito grande, pensando em linhas interpretativas, entre o elenco mais jovem e os que interpretam os personagens 25 anos depois. Não é preciso definir quem é a protagonista, todas ganham seu destaque.


O trauma aqui é visto por várias óticas, e em alguns casos acaba encostando em vários paralelos com o luto. Tem personagem ligado à sua fé, tem a questões de simbolismos místicos, tem jovens que não conseguem entender aquilo tudo que estão passando, tem amores que nascem a partir das dores de uma vida fora dali, há uma série de conflitos explorados nessa primeira temporada que dão margem para mais explicações em temporadas futuras.


Há tempo para o amor surgir, há tempo para conflitos eminentes explodirem, como se estivessem em um Big Brother surpreendente conhecendo lados/facetas desconhecidas das amigas de time. Por serem adolescentes na época da tragédia, muitas descobertas se tornam precoces dentro de uma imaturidade tamanha para lidar com o que sabem até ali e sobre o que precisam fazer para sobreviver.


O desfecho super aberto, em um eletrizante último episódio, deixa uma enorme margem para novos elementos e a abertura de novas possibilidades com sua última cena bombástica. Agora é aguardar, Yellowjackets tem ainda muito a nos contar.

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14/01/2022

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Pausa para uma série: 'Mayor of Kingstown'


A crueldade de uma realidade. Chegou sem muito oba oba no catálogo da Paramunt Plus no final de 2021 um seriado eletrizante, sangrento, que mostra a saga de uma família que possui um peculiar negócio que envolve o universo violento do mundo carcerário. Criado pela dupla Hugh Dillon e Taylor Sheridan, Mayor of Kingstown segue as dores, escolhas de pessoas sem muitas pretensões no quesito felicidade e que vivem de acordos para aumentar o máximo que podem seu tempo de sobrevivência vivendo a realidade cruel que bate à porta diariamente. Ao longo dos 10 impactantes episódios vamos vendo algumas reviravoltas (um plot twist quente já no primeiro episódio) e como as soluções para algumas situações podem levar os protagonistas a profundos abalos emocionais. Um dos grandes papéis da carreira do quase já veterano Jeremy Renner.


Na trama, conhecemos os irmãos McLusky, Mike (Jeremy Renner) e Mitch (Kyle Chandler), que levantaram um negócio na cidade de Kingstown que envolve serem intermediários em acordos envolvendo criminosos barra pesada, policiais, carcereiros. Isso obviamente os coloca em situações complicadas e violentas, se expondo ao tempo todo. A mãe deles, a professora Miriam (Dianne Wiest) nunca foi a favor do que os filhos fazem principalmente quando eles usam como apoio em suas negociações o outro irmão deles, o policial Kyle (Taylor Handley). Assim, em meio ao tiroteio de informações que chegam, Mike toma à frente das ações que terão consequências para ele e a todos que o cerca.


É muito difícil navegar na construção da análise quando há um meteórico spoiler (que obviamente eu não quero escrever aqui pra vocês), um fato que acontece no primeiro episódio e que muda radicalmente o que tínhamos construído ao longo dos excelentes minutos do abre alas dessa impecável produção. O roteiro busca nos ricos detalhes mostrar os abalos emocionais, as escolhas, os conflitos de integrantes de uma família que navegam em uma linha tênue entre o legal e o ilegal para defender os seus interesses e o de todos aqueles que os procuram. Cheios de contatos por toda a cidade, o clã McLusky possui muitas diferenças de personalidades entre seus integrantes. Mike é uma pólvora intensa que resolve as questões que precisa na violência, quase sempre. Esse personagem é intrigante, sonha em ser um chef de cozinha e se mudar daquela cidade, daquele mundo, percebe-se que tem um bom coração mas inconsequente por si só acaba colocando fogo em negociações seja contra quem for. Um impressionante trabalho de Jeremy Renner, grande destaque dessa produção.


Metendo o dedo na ferida em ações e reações que envolvem todo o jogo de favores entre a lei e a criminalidade, em uma cidade que às vezes parece sem lei (qualquer paralelo com a realidade não é mera coincidência), Mayor of Kingstown é um recorte muitas vezes incivil, cruel, duro de pessoas em eternos conflitos. Que venha a segunda temporada!

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13/01/2022

Crítica do filme: 'Pânico 3'


A multiplicação de uma história marcante. Chegando aos anos 2000 com muita história ainda para contar e adotando aquela fórmula que já conhecemos dos outros dois filmes, com um início alucinante e muita tensão, Pânico 3 busca sua força nas referências, na memória dos outros filmes, trazendo um roteiro repleto de clichês selecionados e diálogos que divertem em alguns momentos e causam clima de mistério em outros. Dirigido novamente por Wes Craven e dessa vez com roteiro Ehren Kruger, o projeto conta com a participação de mais rostos novos como: Patrick Dempsey e Parker Posey. A trilha sonora desse filme é assinada pelo craque Marco Beltrami.


Na trama, após uma tragédia envolvendo um dos rostos conhecidos de outros filmes da franquia, vemos a produção de Stab 3 (longa-metragem baseado nos fatos trágicos acontecidos no primeiro Pânico) e o retorno de mais um assassino que usa a Ghostface e que volta a aterrorizar os personagens. Sidney (Neve Campbell) está com nova identidade, vivendo isolada em uma área distante dos grandes centros, trabalhando home office. Mas ela precisará reaparecer para tentar buscar as respostas desse nova quebra-cabeça juntamente com Dewey (David Arquette) e Gail (Courteney Cox).


A fórmula começa a ficar batida: Pânico 3 é a causa e a consequência de como espremer o suco até o final. Os paralelos e diálogos curiosos sobre a cinema e os filmes continuam, até mesmo a análise não objetiva da metalinguagem está de volta aqui mas o roteiro perde força, talvez por não ser tão criativo como em outros filmes da famosa franquia. Deixa um rastro de mais do mesmo em muitos momentos. Buscando surpreender em seu arco final, trazendo teorias e beirando ao absurdo, o projeto que arrecadou quase 170 milhões de dólares em bilheteria ao redor do planeta não deixa de ser um despretencioso filme para os fãs.  

 

 

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Crítica do filme: 'Pânico 2'


As repetições que dão certas em apenas alguns momentos. Buscando um novo capítulo na saga iniciada em 1996, a dupla Wes Craven (na direção) e Kevin Williamson (roteiro) voltam às telonas alguns poucos anos depois em Pânico 2. Querendo desenvolver ainda mais a franquia, após o enorme sucesso do primeiro filme, agora recheado de nomes conhecidos como: Heather Graham, Omar Epps, Jada Pinkett Smith, Liev Schreiber, Sarah Michelle Gellar, Joshua Jackson, Jerry O'Connell, o projeto caminha pela mesma estrada mas vai perdendo um pouco do fôlego (que também podemos chamar de surpresa) da primeira parte.


Na trama, após os acontecimentos do primeiro filme, dois anos se passam, Sidney (Neve Campbell) agora virou universitária e estuda teatro em uma faculdade norte-americana. Gael (Courteney Cox) virou escritora e seu livro mais recente é baseado nos fatos que ocorreram em Woodsboro, inclusive virou filme. A questão é que alguém está buscando repetir os rastros de terror e sangue com a famosa Ghostface fazendo com que Sidney e os sobreviventes da matança de anos atrás se reúnam novamente.


Hello, Sidney! O roteiro, ainda feito na era do VHS, novamente brinca com a indústria cinematográfica. As discussões sobre se as continuações são melhores que o original chegam de maneira afiada, de Alien a Exterminador do Futuro argumentos são levantados. Com mais personagens que aparecem, o leque de suspeitos só aumenta a expectativa. As linhas afiadas de Williamson encostam na metalinguagem para explorar a questão do herói, do protagonista, dos elementos para se ter êxito em um produto ficcional. Há brechas para a despretensão conhecida do uso dos clichês, climas de tensão mas também de arcos compridos que pecam em congruências. A questão da fama, ambição, ainda sobrevivem através de Gale e também de Cotton Weary, esse último que acaba tendo importante participação.


Ao longo de duas horas, uma minutagem um pouco acima de Pânico (1), vamos revendo os personagens sobreviventes, seus novos conflitos, arrependimentos, novas amizades e principalmente a força motriz que é a busca pelo verdadeiro vilão.


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Crítica do filme: 'Pânico' (1996)


As diversas maneiras de encontrar o medo. Lançado em meados da década de 90, dando início a uma revolução quando pensamos em filmes de terror, Pânico, um dos mais conhecidos filmes de slasher (subgênero do terror onde há um serial killer, vítimas aleatórias e a descoberta de quem é o vilão) chegou chutando a porta da emoção com um abre alas pra lá de eletrizante que já mostrava a força do que vinha pela frente no roteiro assinado por Kevin Williamson, na época em seu primeiro trabalho como roteirista! E como acertou em cheio! A direção fica a cargo do genial Wes Craven que depois de inúmeros trabalhos como diretor de filmes de terror, uma carreira que começou no início da década de 70 com o filme Aniversário Macabro, iniciava a saga de sua franquia mais famosa.


Na trama, acompanhamos o início da trajetória de Sidney (Neve Campbell), uma jovem atormentada pela assassinato da mãe anos atrás que em seu presente precisa fugir de um terrível assassino mascarado que vem aterrorizando e deixando rastros de sangue na cidade onde mora, Woodsboro (cidade localizada no estado americano de Maryland). Com uma trilha sonora repleta de ótimas canções, o projeto teve um orçamento de 14 milhões de dólares e arrecadou quase 180 milhões de dólares em bilheteria por todo o mundo. O elenco tem ainda Courteney Cox, David Arquette e Skeet Ulrich, além da participação mais que especial de Drew Barrymore.


A juventude norte-americana, repleta de seus clichês e estereótipos constantes é retratada do ponto de vista emocional até com uma certa profundidade. Cheia de vícios, inconsequente, gera diversas críticas que são feitas das mais diversas maneiras mas principalmente pelas entrelinhas. Numa época sem whatsapp, onde existia telefones sem fio dentro das casas, o longa-metragem virou rapidamente parte da cultura popular global (imagina o fenômeno ainda maior que seria se fosse lançado nos tempos tão comunicativos e instantâneos atuais).


O roteiro surpreende pelos paralelos. Há muitas referências a outros filmes, não só de terror mas alguns outros famosos da indústria hollywoodiana. Há inclusive muitas brincadeiras nesse sentido, quando por exemplo em uma cena de namoro há menção a algum filme da Meg Ryan (figura muito famosa na indústria audiovisual norte-americana na época). A protagonista feminina é forte, destemida, mesmo com seus traumas sempre arranja um jeito em seguir em frente. Há ainda oportunidade de refletirmos sobre o papel sensacionalista da mídia na cobertura de eventos marcantes, a inesquecível Gale Weathers domina nesses momentos. A direção é detalhista, como se buscasse cada peça em seu lugar certo. Uma das sequências mais emblemáticas, a da festa já no arco final do filme, foi filmada em mais de 20 dias!


Disponível no catálogo da Paramount+, Pânico marcou gerações de cinéfilos e se tornou um sucesso atemporal que influenciou centenas de filmes dali pra frente.




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10/01/2022

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Pausa para uma série: 'Dexter: New Blood'


O retorno de um personagem marcante da história das séries. Buscando um novo desfecho para a saga do analista forense e serial killer mais famoso da televisão (agora dos streamings), Dexter: New Blood preenche lacunas, traz novos e intrigantes personagens e abre um ótimo debate sobre o maior dos conflitos de Dexter Morgan: a paternidade. Ao longo dos intensos (e alguns emocionantes) 10 episódios conhecemos muito mais as fraquezas de um homem e seu eterno conflito. Agora finalmente podemos dizer que uma conclusão digna fora feita... e que final!!!! Michael C. Hall não perdeu um segundo da essência desse grande personagem de sua carreira. Destaque também para Jack Alcott na pele de Harrison, o filho de Dexter.

Na trama, acompanhamos Dexter (Michael C. Hall) que após ter desaparecido (ele tinha sido dado como morto) vai morar numa cidadezinha gelada no interior de Nova Iorque com menos de 3.000 habitantes. Lá ele parece conseguir controlar de alguma forma seu instinto assassino, sua vida amorosa vai a todo vapor com a delegada local Angela (Julia Jones), trabalha em uma loja que vende armas de caça e mora em uma região um pouco mais isolada do centro da cidade. Tudo ia bem até que seu instinto assassino volta a dar as caras e paralelo a isso seu filho Harrison (Jack Alcott) reaparece misteriosamente para confrontar o pai sobre o porquê fora abandonado.


A grande vantagem do roteiro, desse que podemos chamar de uma minissérie complementar ao seriado Dexter, é que nos seus primeiros episódios consegue de maneira muito inteligente nos apresentar novamente o famoso personagem, explicar (mesmo que superficialmente) algumas questões que eram lacunas, nos mostrar possíveis cenários conclusivos e pitadas de futuros conflitos pelo qual ele passaria. A questão do anti-heroísmo não deixa de ser uma pauta para debates mesmo pela conclusão bombástica e que diz muito pelas entrelinhas.


O vilão do anti-herói, (sempre tem que ter um vilão né?!) talvez seja a questão mais decepcionante de toda essa minissérie. De maneira bem rasteira, sendo apenas um coadjuvante com desfecho inconclusivo, cheia de lacunas não preenchidas. O ponto alto e o foco quase que total é a questão da paternidade para Dexter e os conflitos que Harrison possui. Em busca de se conectar com o pai ausente, mostra sinais de violência descontrolada mas o debate nesse caso é mais amplo se formos pensar em tudo que está envolvido nas conflituosas emoções do jovem. Jack Alcott dá um verdadeiro show nesse complexo papel.


Pra quem é fã do seriado que frequentou nosso pensar de 2006 à 2013 em 8 eletrizantes e algumas decepcionantes temporadas, Dexter: New Blood é um grande achado, o desfecho que os fãs mereciam finalmente chegou!

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