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17/04/2024

Crítica do filme: 'Minha Vida Perfeita'


Das ameaças às decisões. Chegou esse mês, e sem muito alarde, ao catálogo da Netflix, um longa-metragem polonês que exercita o caos emocional e como o destino pode dar um empurrãozinho nas mudanças necessárias de uma vida. Escrito e dirigido pelo cineasta e ex-tenista Lukasz Grzegorzek, Uma Vida Perfeita dribla o suspense de uma ameaça e embarca em um profundo vazio existencial pelos olhos de uma protagonista, refém de suas próprias escolhas.

Na trama, conhecemos Jo (Ágata Buzek), uma professora do ensino médio com uma vida agitada. Uma mulher que aparenta uma infelicidade constante, vivendo seus dias num conturbado cotidiano, numa casa onde mora com o marido, a mãe, o filho mais velho que acabou de ser pai e o filho mais novo. Ainda por cima, em forma de oásis ao caos que impera em sua frente, tem um relacionamento secreto com outro professor. Um dia, começa a receber ameaças de um alguém que descobriu sua traição.

Com tantas variáveis colocadas no roteiro, busca-se o ritmo através de demonstrações do dia a dia de sua forte protagonista interpretada de forma competente por Ágata Buzek. Uma mulher de meia idade no epicentro de seus dramas é o pontapé inicial dessa história. Os conflitos emocionais se mostram presentes, se amontoam, as derrapadas do não saber lidar viram variáveis constantes por aqui. A narrativa se atropela em alguns momentos, define-se como duas etapas, o antes e depois de um despertar. Isso pode soar bastante confuso e até mesmo uma falta de direção ao discurso previamente proposto.

Como dito, o foco é total em Jo, seu relacionamento em crise com o marido, a falta que sente da liberdade de momentos em que flerta com a felicidade, a confusão organizada que virou sua vida sofre um enorme abalo com a descoberta de sua traição. Nesse último ponto, o filme começa a ganhar força e conseguimos entender melhor essa conflituosa personagem que parece sufocada em suas escolhas do passado, não sabendo como se desprender da estrutura familiar que ajudou a modelar.

Uma Vida Perfeita mostra que do desespero pode surgir uma oportunidade. O exercício pés no chão dentro de um vazio existencial nem pensa em adentrar num suspense, o foco aqui é o psicológico, o drama de uma mulher que desperta após ser colocada contra parede. Não deixa de ser uma jornada que encosta em reflexões de muitas realidades.


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16/04/2024

Crítica do filme: 'O Que Jennifer Fez?'


A sombria caminhada rumo à tragédia. Chegou na Netflix um documentário intrigante que mostra friamente a descoberta da maldade. Explorando os detalhes surpreendentes desse True Crime, O que Jennifer Fez expõe a psicopatia, as inconsequências de um crime violento, a descoberta da maldade. Ao longo de sombrios minutos vamos entendendo melhor essa história que apresenta reviravoltas e verdades impressionantes que giram em torno de uma família e seus segredos.

Uma jovem liga para a polícia relatando seu desespero em uma situação de invasão à própria casa e uma ação violenta contra os seus pais. A polícia da pacata cidade de Markham, Ontario, é acionada e logo uma ampla investigação é instaurada. Durante 15 dias, muitas possibilidades logo surgem, reviravoltas macabras acompanham o andamento dos fatos que tem como foco Jennifer Pan, uma jovem com mentiras no seu passado.

O que aconteceu naquela casa? Será que foi um plano frio e calculado? Um assalto aleatório à casa de uma família com raízes no Vietnã? As peças aos poucos vão ganhando seus lugares, deixando uma narrativa imersiva aos depoimentos gravados pela polícia, além de relatos dos investigadores envolvidos na tensa investigação. O documentário amplia o suspense sobre o caso, montando uma quebra-cabeça de nada fácil resolução.

Variáveis ligadas ao psicológico vão ganhando contornos assustadores. Tem o ex-namorado com a mente conturbada, um relacionamento obsessivo levado até as últimas consequências, as possibilidades bem altas de premeditação, um laço familiar perdido com o tempo e absorvido por falsas verdades que vem à tona. O que Jennifer Fez mostra os limites sendo ultrapassados, os valores jogados fora, o aparecimento de uma mente perigosa no lugar onde menos esperavam.


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11/04/2024

Crítica do filme: 'O Fabricante de Lágrimas'


A eterna fuga das variáveis incontroláveis que a vida coloca no caminho. Buscando traduzir em narrativa audiovisual um conto de fadas sensual que se tornou um dos livros de maior sucesso na Itália, o cineasta italiano Alessandro Genovesi tem a difícil missão de transformar em cinema uma obra com suas peculiaridades, de mais de 500 páginas, que explora um amor proibido e a repulsa a esse sentimento. O resultado é uma narrativa que paralisa sua criatividade no trivial, na receita de bolo de outras obras, nos levando para conflitos de uma piegas objeção ao amar com um desinteressante e mal explorado ar sombrio.

Na trama, conhecemos Nica (Caterina Ferioli, em seu primeiro trabalho no cinema), uma jovem com muitos traumas, orfã aos oito anos, que logo é enviada para um lar adotivo, o orfanato Sunny Creek, chefiado por uma insensível mulher que pratica abusos psicológicos com todos que chegam. Nesse mesmo lugar, está Rigel (Simone Baldasseroni), um introspectivo jovem que implica a todo instante com a recém chegada. A protagonista cresce, e já adolescente, é adotada por um casal que perdeu o filho tempos atrás. Para surpresa dela, Rigel também é adotado pela mesma família. Ao longo dessa nova jornada na vida dos jovens, um laço vai se criando e verdades do passado começam a serem descobertas.

Baseado no romance homônimo de Erin Doom (que também assina o roteiro), O Fabricante de Lágrimas estaciona em uma melancolia sonolenta, que busca nas emoções de seus protagonistas retratar um caótico conflito ligado à cicatrizes na alma. De forma nada profunda, escorregando nos clichês, esse romance adolescente não consegue ter uma narrativa eficiente, fruto de uma construção corrida que envolve traumas, dor, luto, tendo como foco Nica. Rigel é um mero coadjuvante, apenas contorna a trajetória de seu par romântico, uma pífia construção do personagem junto a uma desastrosa atuação de Simone Baldasseroni.

Um filme que poderia explorar, entre outras coisas, lidar com o perdoar de quem você ama. As variáveis realistas, situações e principalmente conflitos que podemos achar na realidade estavam todas ali. Algo que poderia gerar muito mais reflexões. Todas são mal aproveitadas. A maneira como demonstram os traumas, por exemplo, parece um jogo com peças faltando, lacunas não respondidas, tudo isso num ritmo corrido sem deixar interpretações para as emoções e alguns flashbacks que não dizem muita coisa. Se você parar para pensar e chegar até o filme Crepúsculo, não é nenhum absurdo, há semelhanças. E isso, não necessariamente, é uma coisa positiva.

O ar sombrio e sensual nas descobertas do amor buscam trazer um suspense que não se encaixa às generosas doses dramáticas que dominam os 103 minutos de projeção. A direção de arte nesse ponto até que acerta em alguns momentos, há um clima imposto nesse sentido para revelações. Muito pouco para convencer, os personagens mesmo dentro desse contexto não se tornam marcantes em nenhum momento e isso é como uma flecha irreversível no coração da narrativa.

Top 1 da Netflix em muitos países desde seu lançamento recente, e com canções das artistas mundialmente conhecidas, como: Olivia Rodrigo e Billie Eilish, em sua trilha sonora, esse longa-metragem italiano parte do luto, chega na fuga das variáveis incontroláveis ligadas ao amor e encontra a mesmice. Haja água com açúcar!

 

 

 

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05/04/2024

Crítica do filme: 'O Salário do Medo'


A previsibilidade numa corrida contra o tempo. Tendo como referência uma obra homônima lançada no final da década de 40 pelo escritor e ativista francês Georges Arnaud, O Salário do Medo, basicamente, busca explorar uma releitura dos principais elementos de uma história que já rendeu uma Palma de Ouro em Cannes e um Urso de Ouro em Berlim no mesmo ano para uma outra adaptação da década de 50. Só que aqui, nessa versão de 2024, tudo parece ser muito corrido e atropelado, em uma narrativa confusa que estaciona nas emoções associando conflitos familiares à um foco total em explosões pra todo lado. Em muitos momentos, parece que estamos vendo um filme do Michael Bay.

Na trama, conhecemos Fred (Franck Gastambide), um faz tudo em relação à segurança, que no passado, após sua ganância o dominar, acabar vendo o irmão Alex (Alban Lenoir) ser preso. O tempo passa e Fred agora está em um campo de refugiados no meio de um deserto ao lado da esposa e filha do irmão. Quando um poço de petróleo, próximo ao lugar, apresenta graves problemas, a única solução é explodi-lo com uma quantidade enorme de material perigoso. Assim, colocado contra a parede pela empresa responsável pelo poço, Fred tem a chance de reencontrar seu irmão, e, junto a uma equipe duvidosa, precisarão encarar um caminho perigoso à bordo de dois caminhões por centenas de quilômetros transportando a carga.

Esse projeto francês ignora uma premissa básica de todo bom roteiro: explicar com um mínimo de profundidade os motivos para os conflitos dos personagens. Outra questão jogada para escanteio é o olhar macro para seu contexto, muito mal definido. O espectador se sente perdido a todo instante, deixando-se levar por uma correnteza de ações sem pé no freio explorando o deserto e seus riscos incalculáveis. Muitas vezes parece que estamos vendo um gameplay de um novo jogo de videgame onde o controle não funciona.

A ganância parece ser o elemento que percorre com mais eficácia o foco do roteiro. É um ponto estabilizador de onde surgem alguns conflitos. Numa região repleta de riquezas naturais, e seu contraponto com a pobreza, além de reivindicações territoriais e piratas armados pra todo lado, esse eterno conflito, visto em muitos lugares na realidade, é pouco explorado, deixando qualquer lapso de crítica bem distante do alvo.

O obra escrita por Georges Arnaud, já foi usada também em outros dois projetos cinematográficos. Um lá em 1953, também chamado O Salário do Medo, pelas mãos do cineasta Henri-Georges Clouzot. Esse filme, como mencionado no primeiro parágrafo, ganhou dois importantes prêmios da indústria cinematográfica no mesmo ano, um feito único nunca mais conseguido. No final dos anos 70, o longa-metragem O Comboio do Medo, assinado por William Friedkin, também usou como referência a obra de Arnaud.

Com a possibilidade de ser mais eficiente, esse filme lançado pela Netflix nesse primeiro semestre de 2024 e dirigido por Julien Leclercq, se esconde em uma narrativa trivial. As tentativas de validar um relacionamento abalado entre dois irmãos e um arco dramático do protagonista no seu romance em meio caos, deixam tudo fora de contexto, embaralhando muitos porquês rumo a uma corrida contra o tempo que não deixa de ser a representação de um filme convencional de ação.

 

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02/04/2024

Crítica do filme: 'Alma de Caçador'


Quando o passado adormecido encontra o alarmante presente. Baseado na obra ‘Heart of the Hunter’ de Deon Meyer, Alma de Caçador apresenta em sua ação desenfreada uma complexa conspiração política, um jogo de interesses, onde temos um protagonista com sede de vingança. Pena que o roteiro acaba se perdendo pelo caminho com entrelinhas que não dizem muita coisa, personagens mal construídos e subtramas espaçadas que demoram a fazer sentido. Dirigido por Mandla Dube, Alma de Caçador tem como mérito as ótimas cenas de ação que seguem fórmulas criativas (mas repetitivas) já vistas em outras produções.

Na trama, conhecemos Zuko (Bonko Khoza), um homem que encontrou a felicidade ao lado de sua família após anos de intensa ação e sofrimento. Filho de pais adotivos, teve os pais seriamente feridos em uma blitz da polícia de segurança do Apartheid. Quando o passado bate à sua porta, ele, que pertence a um grupo que tem como objetivo atual expor os absurdos cometido por Mtima (Sisanda Henna), um forte candidato para as próximas eleições na África do Sul, munido de sua adaga precisará reunir todas suas habilidades, contatos, em busca de completar mais uma missão.

A jornada do herói aqui é vista de maneira convencional: começo, meio e fim, estruturado em uma narrativa que busca seus pontos de empolgação nas cenas de total ação (muito bem dirigidas). Como drama, não avança da superfície, com conflitos de seu protagonista jogados em um emaranhado confuso onde traumas existem mas dentro de uma construção confusa. Há uma tentativa de trazer aos holofotes a subtrama de um jornalista prejudicado no passado por agentes políticos mas que é jogado para escanteio sendo uma peça nula dentro de um todo.

No roteiro, há uma busca por um contexto mais amplo, chegando até mesmo a menções sobre o famoso regime de segregação racial que durou de meados da década de 40 até 1994 (apartheid), envolvendo assim as lutas políticas e uma curiosa agência de segurança particular que parece refém de um jogo de interesses. Mas como narrativa nada disso traduz a força que poderia ter no seu discurso, algo na linha da reflexão, se perdendo dentro dos conflitos do personagem principal.

Chegando rapidamente ao topo do ranking do mais famoso dos streamings disponíveis no Brasil, a Netflix, essa fita sul-africana pode ser definida como um filme sul-africano americanizado. Não entendam isso como uma crítica, o cinema norte-americano é e sempre será uma referência, é apenas uma constatação. Traições, quebras de confiança, dilemas dentro da linha do previsível que serão resolvidos, são parte dos elementos que envolvem esse projeto que poderia empolgar muito mais.


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30/03/2024

Crítica do filme: 'Sem Pressão'


Acertando as contas com a vovó. Partindo de um falso enterro e usando a arte da culinária como ponto de apoio para interligar personagens com uma relação esquecida ao longo do tempo, chegou na Netflix a comédia romântica polonesa Sem Pressão. Dirigido pelo cineasta Bartosz Prokopowicz, com roteiro escrito pela dupla Carolina Frankowska e Katarzyna Golenia, o longa-metragem é simpático ao apresentar a cultura local de uma cidadezinha rural com menos de 2.000 habitantes mas não consegue se desprender da previsibilidade em uma narrativa que navega pelo convencional.

Na trama, conhecemos Oliwka (Anna Szymanczyk), uma jovem chef de cozinha, num presente bem impaciente, com uma promissora carreira pela frente e que já trabalha em um restaurante badalado de um grande centro da Polônia. Quando recebe a notícia de que sua avó faleceu, ela volta até a cidadezinha onde foi criada e lá vai precisar cuidar dos negócios da fazenda que pertence à sua família. Nesse caminho, acaba encontrando o mais forte dos sentimentos na figura de um empresário e fazendeiro local.

História de amor? Drama existencial? O roteiro busca na desconstrução de um sonhar, aqui visto como epicentro dos conflitos, criar pontes emocionais que vão do ressurgimento de memórias afetivas até as novas descobertas que surgem de maneira surpreendente. O amor é um variável constante, seja na forte ligação entre uma vovó fofa que nunca saiu do lugar onde nasceu com sua única neta, seja na descoberta de que abrir o coração para uma nova paixão pode ser um caminho para o equilíbrio imposto pelo destino.

Nesse projeto açucarado, percebemos uma tentativa constante de se mirar o desabrochar dos reais sentidos da vida. Os valores materiais ganham novos entendimentos, sem o peso da imposição da corrente capitalista que acaba sendo um termômetro para instabilidades e desequilíbrios. De que vale ter sucesso se você pode não ser completamente feliz? O sedutor universo da culinária também é um elo importante, através dessa arte a protagonista começa a perceber que aquele lugar onde está não é somente um pedaço de Terra.

A narrativa apresenta suas versões para tudo isso de forma leve e ingênua. A direção segue sua receita de bolo, vista em tantas outras comédias. Não há margens para se arriscar. Sem Pressão é um filme água com açúcar bem honesto, sem pretensões, previsível do início ao fim. Pode ser considerado um passatempo para você que busca um filme para assistir com a família.

 

 

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29/03/2024

Crítica do filme: 'Descanse em Paz'


Quando a última saída é a solidão. Tendo como elemento importante para uma reviravolta chave um fato real marcante ocorrido na Argentina em julho de 1994, o longa-metragem Descanse em Paz, nos apresenta um doloroso personagem principal com um enorme peso na alma que a partir de suas escolhas vê rotações constantes de seu mundo. Dirigido pelo cineasta Sebastián Borensztein, produzido por Ricardo Darín e baseado na obra Descansar en paz: ¿nunca soñaste con dejar todo y empezar de nuevo? de Martín Baintrub, esse longa-metragem argentino enumera reflexões sobre várias formas de tragédias e suas consequências.

Na trama, conhecemos Sérgio (Joaquín Furriel) um empresário de classe média, pai de dois filhos e casado com a dentista Estela (Griselda Siciliani). Em meados da década de 90, sua situação é alarmante, dívidas e mais dívidas se acumulam na sua frente, a mais complicada delas é a que fez com um agiota chamado Brenner (Gabriel Goity), esse último, um homem inescrupuloso que começa a ameaçar o protagonista. Buscando alguma luz no fim do túnel, certo dia acaba passando na hora e lugar de um atentando à associação Israelita (AMIA). Aproveitando a oportunidade em meio ao caos instaurado, resolve fugir e acaba durante anos se afastando de tudo e todos. Mas quando a vontade de reencontrar seus parentes bate à sua porta, uma série de consequências acontecem.

O destino é traiçoeiro, o acaso uma oportunidade. Com uma construção ligada ao foco no emocional destroçado de um homem e sua brusca mudança de vida somos jogados para uma trama bem amarrada, onde a narrativa se desenvolve de forma objetiva rumando gradativamente para os fortes conflitos que se seguem a cada passo do protagonista. A fotografia do filme merece destaque, a atmosfera das emoções ligadas aqui à uma solidão forçada são vistas em cada canto captado pelas imagens.

A trajetória do personagem principal acaba estando associada à muitos argentinos na questão econômica, numa década de 90 ainda preocupante com os índices altíssimos de inflação, altos riscos em rendimentos de tempo curto, além das manobras político-econômicas que se amontoavam na frente da população. Pensando nesse ponto, é possível enxergar uma crítica interessante a todo esse cenário mesmo que uma contextualização não seja efetivamente mostrada. Taxado por muitos como caloteiro, o protagonista é um reflexo de seu próprio país.

Antes de entrar na ficção e prestes a começar o segundo momento da jornada de seu personagem principal, o roteiro encosta na realidade ao retratar o atentado mais mortal em solo argentino, o ataque inesperado na Rua Pasteur à Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em julho de 1994, que deixou centenas de feridos e dezenas de mortes. Uma página triste da história de nossos Hermanos.

O ‘descansar em paz’ do título é algo que ficamos pensamos sobre. O amor vira saudade, a escolha vira desilusão, o sentido de família é congelado. Existe realmente alguma paz nesse descansar? Sentimentos antagônicos vão se misturando apresentando diversos olhares para a tragédia pessoal de um homem que nunca soube lidar com seus conflitos e deixando margens para mais reflexões. Exibido pela primeira no Festival de Málaga, no início desse mês, Descanse em Paz chegou ao mais poderoso dos streamings, a Netflix.

 

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27/03/2024

Crítica do filme: ' Shirley para Presidente'


As lembranças que teremos amanhã, são reflexos dos esforços de hoje. Navegando por um momento marcante da política eleitoral norte-americana durante a década de 70, com jovens já aos 18 anos tendo a possibilidade pela primeira vez de participar do ato democrático que é a eleição, conhecemos um pouco da vida e personalidade de uma mulher buscando a oportunidade de fazer a diferença. Shirley para Presidente, escrito e dirigido por John Ridley, busca um retrato intimista de Shirley Chisholm, congressista de Nova Iorque por sete mandatos, em um país e época de fortes preconceitos. No papel principal, a excelente atriz Regina King.

Na trama, ambientada no início dos anos 70, conhecemos um pouco da história de Shirley Chisholm (Regina King), primeira mulher negra a ser eleita para o Congresso dos Estados Unidos, durante os sete meses de sua campanha para presidente no confuso sistema eleitoral norte-americano. Trazendo um olhar íntimo sobre essa parte de sua trajetória, a narrativa atravessa o preconceito e o machismo, as alianças políticas, os fortes discursos, os problemas familiares, de uma inesquecível mulher que buscava ser um importante catalisador de mudanças.

A importância do voto ainda mais num país onde desde 1800 e pouco possui um método de votação confuso e cheio de possibilidades para manobras políticas. O sistema político dos Estados Unidos é realizado de forma indireta, com a atuação de delegados em uma prévia eleição onde são escolhidos o colégio eleitoral que, esses sim, escolhem que governará a maior potência do mundo. Confuso? Sim, bastante!

Dentro do contexto apresentado acima, a narrativa busca um amplo recorte sobre a vida da famosa congressista, com ênfase no período mais marcante de sua trajetória política, durante toda sua campanha para presidente dos Estados Unidos passando pela convenção dos democratas. O papel que a sociedade impõe à mulher, o preconceito racial, traições políticas, tentativa de assassinato, se misturam com a própria vida pessoal de Shirley, uma mulher com uma relação conturbada com a irmã e, casada há quase duas décadas, enfrentando sérios problemas no casamento.

Com o preconceito e o machismo batendo na porta a todo instante durante uma trajetória vitoriosa de 14 anos no congresso norte-americano, país esse que ainda vivia em época de Guerra, a do Vietnã, Shirley para Presidente apresenta os fatos que marcou a trajetória de uma mulher, professora, política, que abriu portas e nunca deixou de lutar pela igualdade.


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23/03/2024

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Pausa para uma série: 'Magnatas do Crime'


Ação e humor debochado na medida certa. Diretamente da mente criativa do cineasta britânico Guy Ritchie chegou na Netflix um seriado que possui uma narrativa detalhista que encontra um ritmo intenso num habilidoso jogo de perspectivas com excêntricos e inconsequentes personagens. Magnatas do Crime, spin-off (uma história derivada) do filme lançado em 2019 pelo próprio diretor, nos leva para um tour pelo domínio, a necessidade de poder, no mundo obscuro da criminalidade.

Na trama, conhecemos o aristocrata Eddie (Theo James) um soldado britânico que servia na ONU que é chamado pra casa por sua família já que o pai está pelas últimas. Quando assume uma herança indigesta que traz riquezas e muitos desastres, descobre que na propriedade da família existe uma enorme plantação secreta de maconha comandado pela família de Susie (Kaya Scodelario). Buscando encontrar alguma solução para se desvincular da criminalidade acaba entrando de cabeça no submundo do crime.

Um novo duque e uma série de missões. Com uma trama mirabolante que passa um raio-x na iminente criação/formação de um gângster, algo parecido com o já vimos em O Poderoso Chefão, Magnatas do Crime nos leva para o confronto com narrativas de poderosos sendo seguidas por situações peculiares que mostram todo o controle e também descontrole numa busca pelo trono de mais poderoso. Pode ser visto também como um Game of Thrones do submundo do crime em uma Inglaterra dos tempos atuais.

Expandindo o universo de histórias oriundas do filme lançado em 2019, o projeto de oito episódios em sua primeira temporada é um mergulho profundo na psiquê humana, repleto de personagens peculiares que possuem como elo as contradições, o confronto com o antagônico. Tudo isso é mostrado de forma minuciosa pelas lentes de Ritchie que não deixa de lado ótimas cenas de ação e espaço para reviravoltas, transformando o seriado em mais uma obra consistente de seu currículo.


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Pausa para uma série: 'O Problema dos 3 Corpos'


Um chamado. Uma resposta. Onde está o inexplicável? Baseado na obra homônima escrita por Liu Cixin, O Problema dos 3 Corpos é um drama existencial com muita ficção científica que reúne uma série de elementos que vão dos conceitos físicos que se juntam à quebra de valores éticos, até as derrapadas da moral, dramas pessoais, tragédias e dilemas. Adaptado para as telas pela dupla, David Benioff e D.B. Weiss, alguns dos responsáveis pelo sucesso Game of Thrones, a narrativa, que percorre uma extensa faixa temporal com blocos de histórias que vão se reunindo, busca ser objetiva nas jornadas profundas de seus intrigantes personagens.

Na trama, conhecemos uma jovem cientista lá na década de 60, em meio à revolução cultural chinesa, que após passar por um trauma acaba recebendo a chance de trabalhar num lugar secreto que tem como objetivo colocar a China como líder na comunicação interestelar. Um dia, ela consegue contato com seres de outro planeta e uma decisão nessa comunicação acaba vindo a ter consequências anos depois atingindo em cheio as vidas de um grupo de amigos e brilhantes cientistas que estão na Europa nos tempos atuais.

Estrelas brilhando de forma estranha, códigos vindo de outros lugares, pesquisas avançadas sendo sabotadas, seita alienígena, sol amplificando transmissões, uma inteligência artificial jamais vista. O que deixamos pra trás para pensar na frente? Suportando sua base do discurso em confrontos de ideologias e tendo a ciência como elemento importante de salvação da humanidade, o misterioso seriado, que tem um dos maiores orçamentos da história da Netflix, consegue equilibrar o fisiquês com a razão da existência onde embates são vistos em várias subtramas que nos levam a reflexões sobre jornadas profundas sobre a vida e a morte.

Qual o bem maior? O confronto entre o egoísmo e o coletivo é algo que permeia as ações dos personagens dentro da linha de que toda ação pode ter uma consequência. A ciência sobre o misticismo é outro ponto também abordado de forma franca que desemboca em dilemas bastante terráqueos mas aqui ligados a uma necessidade de defesa planetária.

O Problema dos 3 Corpos é a primeira parte de uma trilogia, então já sabem que o final é aberto! Ao longo desse intenso, e cheio de peças soltas, arco introdutório de oito episódios, a construção da identidade da série é feita com maestria, com ritmo equilibrado, deixando lacunas a serem preenchidas nas futuras temporadas.

 


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15/03/2024

Crítica do filme: 'A Arte de Amar'


Quando o destino é um reencontro. O novo filme de ação misturado com um romance água com açúcar A Arte de Amar nada mais é do que uma sequência de situações previsíveis em um jogo, nada carismático, de gato e rato tendo lindas paisagens como cenário. Dirigido por Recai Karagöz, em seu segundo longa-metragem de ficção, e com roteiro de Pelin Karamehmetoglu, esse novo projeto lançado diretamente na Netflix busca na sensualidade de dois atraentes personagens apresentar uma história de amor bem longe da realidade.

Na trama, conhecemos a agente da divisão de roubos de arte da Interpol Alin (Esra Bilgiç), uma profissional competente que está no presente atrás de um habilidoso ladrão que percorre o mundo roubando obras de arte e nunca é pego. Certo dia, acaba percebendo que o criminoso na verdade é Güney (Birkan Sokullu), um empresário influente e seu ex-namorado que sumiu anos atrás. Bolando um plano ao lado do parceiro Ozan (Ushan Çakir), resolve se reaproximar do antigo amor para tentar um flagrante.

Quando você lê a sinopse logo pensa: já vi esse filme em algum lugar! Bem, longe de ser algum remake ou baseado em alguma outra produção, A Arte de Amar possui elementos na sua narrativa que nos fazem estar diante de uma receita de bolo vista em alguns blockbusters norte-americanos. Tem a heroína, o anti-herói charmoso, o vilão canastrão, colecionadores excêntricos, alta tecnologia, que rumam para seus conflitos com conclusões previsíveis dentro de um contexto recheado de situações que nos levam a uma história de amor mirabolante.

O dilema que enfrenta a protagonista sobre amar ou não um ladrão que rouba obras românticas poderia ser algo que trouxesse algum frescor para a história mas só é visto a superficialidade, a conclusão trivial. Esse é o ponto fundamental da construção da personagem, seu principal conflito, aqui meramente usado como trampolim para clichês se reunirem não completando percursos importantes entre o amor e a lei.

Seja nas belas paisagens de Praga ou em Istambul, essa produção turca tem uma direção que foca seus esforços nas cenas de ação como se qualquer explosão ou situação impossível de sobrevivência transformasse uma história em algo realmente impactante aos olhos do espectador.  


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13/03/2024

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Pausa para uma série: 'Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu'


Uma tragédia e muitas descobertas. Chegou recentemente no catálogo da Netflix, um seriado documental argentino que traça um pente fino no catastrófico sumiço de um submarino com 44 tripulantes à bordo ocorrido em outubro de 2017. Um desastre que abre um mar de absurdos que vão desde um governo insensível, completamente perdido ao lidar com uma situação, até inúmeras teorias mirabolantes do que de fato possa ter acontecido.

Nos oito episódios com cerca de 25 minutos, Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu navega pelos desabafos de parentes, falta de sensibilidade de oficiais da marinha argentina, espionagem ilegais, entrevistas com especialistas e jornalistas que cobriram o caso desde o início, até críticas que chegaram ao alto escalão do governo, afetando a popularidade do presidente em exercício argentino na época: Mauricio Macri.

Com o objetivo de realizar exercícios navais no percurso entre Mar del Plata e Ushuaia, logo após ir à mar aberto no controle de pescais ilegais, além de coletar informações sobre possíveis navios do Reino Unido e suas posições perto das Maldivas, o Ara San Juan partiu para numa viagem sem volta no que culminaria em um misterioso recorte sobre o que de fato pode ter acontecido. Uma das maiores buscas da história naval mundial ligadas a um submarino, inclusive contando com a ajuda internacional de alguns países, esse recorte tenso da história militar argentina mostra as fraquezas e incertezas de governantes de um país colocados contra a parede pelo seu povo.

O seriado é bem detalhista ao jogar na tela versões, situações, além de conseguir ampliar o contexto que chega com força na política de um país em eternas crises financeiras. Do lado da família, dor e muito sofrimento, algo que se prolonga com as inacreditáveis descobertas que são feitas ao longo desse espinhoso caminho rumo às verdades.  

Teorias vão se criando, desde possíveis erros humanos na manutenção de alguma operação técnica dentro do submarino, até mesmo fogo inimigo, no caso aqui do Reino Unido já que a embarcação poderia estar perto da região das Maldivas, uma área de eterna tensão militar que teve uma guerra de alguns meses no início da década de 80. Conflito esse que ainda deixa marcas nos corações dos argentinos.

Ara San Juan: O Submarino que Desapareceu é muito mais do que um recorte sobre uma tragédia, é a exposição de uma série de absurdos com pessoas que deveriam proteger e confortar dando um bico na moral.


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11/03/2024

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Pausa para uma série: 'O Sinal'


O que pode estar lá fora? Desde os tempos inesquecíveis de episódios semanais de Arquivo X, nos primórdios das produções seriadas, nos deparamos com situações ligadas as incertezas do universo. A nova minissérie da Netflix, O Sinal, percorre o mesmo caminho, nos levando a questões sobre as verdades que estão lá fora de uma forma inteligente, costurando o que é real e o que a mente projeta.


Tendo como alicerce misteriosas situações que acontecem em uma estação espacial, ao longo de quatro episódios com cerca de uma hora de duração, essa produção alemã parte para suas reflexões existenciais a partir da certeza que a história da humanidade nada mais é que um ciclo vicioso, explorando as ações do ser humano quando existe a possibilidade de se achar a ruptura disso.


Na trama, conhecemos Paula (Peri Baumeister), uma brilhante cientista alemã enviada por uma empresa privada para o espaço com um único objetivo de realizar pesquisas sobre possíveis sinais vindos de fora da Terra. Ao mesmo tempo, seu marido, o professor de história Sven (Florian David Fitz) e sua jovem filha com deficiência auditiva esperam o retorno dela. Perto de completar sua missão, Paula se depara com uma descoberta e conflitos se desenrolam. Ao voltar ao nosso planeta acaba sendo responsabilizada por uma tragédia, modificando completamente a vida de sua família.


Questões geopolíticas, ambições, circo midiático, dramas familiares se entrelaçam nesse projeto que busca perguntas sobre a relação do ser humano com o próprio sentido de existência. É um caminhar bem filosófico que gera interpretações diversas. Há um curioso mistério que percorre os episódios, a princípio mal definido nos dois primeiros capítulos mas conforme vamos juntando as peças tudo começa a fazer um certo sentido. O choque entre o dilema de Paula na espaço e os dramas que sofre sua família na Terra é o combustível desse roteiro que objetiva encontrar um norte entre esses paralelos.  


O ponto mais interessante é quando entendemos sobre o que de fato é essa história. Aqui a humanidade é colocada em evidência, dentro do ciclo vicioso já mencionado, a partir das possibilidades de descobertas sobre o que há pelo universo. A ganância, a imposição militar, o reconhecimento, as loucuras que a mente é capaz de projetar, são alguns dos elementos que estão associados as ações vistas que traçam paralelos com a realidades de conflitos de diversos cotidianos. O eterno embate entre as ações individuais e coletivas, dentro de um sentido da essência do ser humano pondera o certo e o errado.  


Na sua incessante busca pelos conflitos emocionais de uma protagonista em crise nos dilemas que percebe na sua trajetória, algo necessário para entendermos a construção e desconstrução da personagem, a narrativa pode se tornar confusa em alguns momentos com um uso excessivo de flashbacks onde a variável tempo e seu vai e vem se tornam constantes. Mas o contexto acaba sendo uma peça chave, e mesmo caminhando pela previsibilidade, encontra um desfecho que não deixa de ser surpreendente, com um simbolismo importante para os nossos tempos.



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26/02/2024

Crítica do filme: 'O Abismo'


O somatório de dramas movidos por uma catástrofe. Chegou recentemente no catálogo da Netflix um filme que tinha tudo para ser um show de mesmices, clichês amontoados, tendo como epicentro uma tragédia anunciada. Só que no longa-metragem sueco O Abismo um fator muito bem encaixado na sua trama acaba deixando tudo mais profundo prendendo a atenção do espectador nos 103 minutos de projeção. Dirigido pelo cineasta Richard Holm, o projeto consegue com muita eficiência na sua intensa narrativa alinhar conflitos familiares a uma tragédia.

Na trama, acompanhamos a história de Frigga (Tuva Novotny), uma mulher de atitude, mãe de dois, chefe de segurança de uma mina subterrânea Kiirunavaara, situada na cidade de Kiruna. Quando rachaduras enormes vão aparecendo pela cidade, Frigga embarca em uma jornada de sobrevivência tendo que lidar com o sumiço do filho Simon (Edvin Ryding), a recente chegada do novo namorado Dabir (Kardo Razzazi), o relacionamento conturbado com o ex Tage (Peter Franzén) e os embates com a filha Mika (Felicia Truedsson).

Uma cidade condenada onde fica uma mina de ferro, que praticamente é uma bomba relógio, onde o chão racha a cada metro explorado, é o ponto central de uma história que não se desprende da alcunha de ‘filme catástrofe’ mas trazendo elementos que ajudam a narrativa a encontrar caminhos. O liquidificador de falhas geológicas e os emaranhados das emoções familiares ditam o ritmo de um filme que tem drama, ação, suspense, dilemas, conseguindo altos picos de tensão.

A contextualização é muito bem feita. Cães fugindo, insetos se locomovendo, canos estourando, vamos entendendo os dramas dos moradores através da iminência de uma evacuação às pressas. As subtramas ajudam nesse ponto. Esse olhar para o todo nos faz entender melhor os dramas dos protagonistas além das escolhas difíceis que se seguem. Não há espaço para inconsequências, a sobrevivência toma conta da razão existencial numa narrativa pés no chão mas sem deixar de causar os incômodos que objetiva.



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24/02/2024

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Pausa para uma série: 'House of Ninjas'


Nem toda batalha é vencida pela espada. Buscando resgatar a história das tradições e do imaginário japonês através dos chamados shinobis (no popular, ninjas) figuras bastante conhecidas no Japão feudal, entre os séculos XVI a XIX, chegou na Netflix nesse início de 2024 um empolgante seriado onde os conflitos se desenvolvem através dos dilemas entre o certo e o errado, com personagens enfrentando diferentes crises existenciais no período presente.

Na trama, conhecemos os membros da família Tawara, um clã de Shinobis que preferiu viver uma vida normal no Japão nos dias atuais após um deles morrer numa missão secreta seis anos atrás. Mas, quando um outro clã inimigo ressurge com seus novos integrantes ligados a arquitetura de uma conspiração global, os Tawara precisarão voltar a vestir a roupa ninja e ir para o confronto.

Um dos méritos do roteiro é conseguir nos seus oito episódios da primeira temporada prender a atenção do espectador, mesmo sem grandes reviravoltas, pelos conflitos que se seguem através dos ótimos e carismáticos personagens. O trauma, o luto, a dor, as dúvidas sobre o casamento, se misturam com uma casa cheia de regras onde não pode comer carne, não pode se apaixonar. A narrativa é empolgante com cenas de lutas com brilhantismo nas coreografias que se misturam a vazios existenciais ligados à globalização e até mesmo as formas de se comunicar no dinamismo desses novos tempos.

O sentido de justiça por aqui é visto como um conjunto de regras. Respondendo a um órgão específico para assuntos ninjas, essa família descendentes de guerreiros muitas vezes são meras peças dentro de um tabuleiro indecifrável onde a ponte entre o certo e o errado é feita por uma linha tênue. Uma ideologia definia no passado os shinobis como espiões ou em alguns casos guerreiros por recompensas, algo diferente dos samurais por exemplo que tinham a honra em primeiro lugar, mesmo que aqui nesse projeto a noção da dicotomia (bem e mal) seja colocada na mesa de forma trivial.

Criado pelo cineasta Dave Boyle, e tendo como lema ‘a família em primeiro lugar’ House of Ninjas reflete sobre o imaginário de outrora mas buscando um olhar familiar sobre os conflitos dos novos tempos já que antes de mais nada esses guerreiros são seres humanos de carne e osso.

 

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Pausa para uma série: 'Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau'


A informação é poder. Trazendo para o público uma quase inacreditável história da vida real que tem como epicentro um jovem que ao longo do tempo se tornou uma peça numa corrente de favores que acabou trazendo à tona a corrupção em território espanhol, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau, minissérie documental da Netflix, ao longo de três intrigantes episódios deixa muitas perguntas no ar. Espião? Um contador de histórias? Apenas um garoto esperto? Um vigarista? Vamos acompanhando uma trajetória de fascínio pelo mundo político que logo vira uma obsessão.

O contexto político sobre tudo que acontece nessa curiosa história é de fundamental importância. Anos atrás, num momento difícil da economia espanhola, com uma alarmante crise bancária, e logo após o Partido popular chegando ao poder, foi o período dos primeiros avanços importantes no meio político de Francisco Nicolás, um jovem com uma capacidade impressionante de reunir pessoas que começou promovendo festas exclusivas, ainda adolescente, em lugares badalados na Espanha.

O documentário, muito bem estruturado e detalhado, guiado com analogias ao famoso ‘jogo da vida’, mostra através dos fatos o antes e o depois dessa sua meteórica história no cenário político. Num primeiro momento, com uma narrativa que emenda depoimentos de jornalistas, imagens e vídeos da época, além de revelações do próprio Fran, busca-se um traço de personalidade desse inventor de muitas vidas. Depois passamos a acompanhar suas mais famosas façanhas como a ida à coroação do Rei Felipe VI e a intrigante mensagem para o telefone do rei Juan Carlos (que tinha acabado de abdicar do seu reinado). Desembocando no estouro midiático que se tornou sua vida, com direito a convite a um famoso reality show.

Não há dúvidas de que o protagonista não fez a coisa certa mas será que estava inventando tudo? Essa pergunta é o ponto de interseção que liga todos os momentos de seu caminho, desde a ascensão até o declínio. Indo mais a fundo, o projeto não deixa de tentar decifrar a mente de Fran (depois conhecido como Pequenos Nicolás). Dono de uma arrogância que foi piorando com o tempo, perdendo aos poucos a noção da realidade, mas mantendo um inacreditável grau de influência com poderosos políticos e empresários, muitas histórias cercam a sua própria.

Em tempos onde a informação é o poder, Pequeno Nicolás: A Surreal História de um Cara-de-pau apresenta os fatos e alguns pontos de vistas. As interpretações serão inúmeras desse personagem da história recente da política espanhola repleto de cartas na manga que insiste em nunca se deixar afastar de um enorme tabuleiro de ‘disse me disse’.

 

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22/02/2024

Crítica do filme: 'Einstein e a Bomba'


As distâncias entre a paz e a moral. Traçando um profundo recorte do ponto de vista de um dos mais famosos cientistas da nossa história, a produção original da Netflix Einstein e a Bomba, em menos de 80 minutos, caminha por contextos históricos marcantes que levaram o homem a lançar, sem dó nem piedade, uma poderosa bomba que traçaria para sempre o destino da humanidade e colocaria em xeque a moral. A culpa e a responsabilidade são variáveis que contornam todos os contextos por aqui.

Uma mente brilhante, um pacifista, famoso por inúmeras descobertas como a relação entre a matéria e a energia. Baseado em eventos que circularam a trajetória da vida de Albert Einstein, ambientado em um contexto histórico onde a Europa vive os primórdios dos horrores da ascensão do nazismo, acompanhamos o aclamado físico, na maior parte do tempo, exilado na Inglaterra, fugindo do pesadelo que virou sua rotina na Alemanha. Nesse lugar isolado, depois de perder todo seu patrimônio para os seguidores de Hitler, revisitamos memórias sobre sua trajetória e visão do mundo até ali.

Esse ponto central da narrativa é o divisor de águas do personagem principal com sua relação, mesmo que indireta, com a corrida pela bomba nuclear que desencadeou o tão falado e ultrassecreto projeto manhattan (do qual Einstein não participou). No governo de Truman, os Estados Unidos jogariam a primeira bomba nuclear da história na cidade de Hiroshima.

Desbravador de até então enigmas indecifráveis da natureza, Einstein usou estruturas matemáticas como ponto de apoio para se chegar em soluções que ele nunca imaginara, em seu tempo, serem utilizadas como base para algo bem distante da paz que tanto almejava. As descobertas da pequena quantidade de massa convertida em uma quantidade bem grande de energia, além de uma carta enviada ao até então presidente Franklin Roosevelt, viraria o ponto central de vantagens políticas e a sede insaciável pelo poder logo virando conclusões em desabafos no pós bomba levando-o ao confronto com a culpa e a responsabilidade.

A narrativa opta pelo vai e vem temporal, o que gera dinamismo, com um bem detalhado contexto de eventos e fatos históricos marcantes. Os avanços e as novas perguntas que surgem a partir das palavras do grande físico geram caminhos para o espectador responder sobre a importância da ciência mas também sobre os rumos do destino da humanidade e as associações com a moral.

 

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19/02/2024

Crítica do filme: 'Jogo de Amor'


O faz de conta que não acontece. As vezes pode faltar boa vontade, paciência, de quem vos escreve aqui mas uma das coisas mais irritantes que existe nos filmes é o mais do mesmo. Jogo de Amor, novo lançamento da Netflix navega no vazio existencial, onde a naturalidade de conhecer alguém é substituído por engenhosos planos encenados. Convencional, com aquela receita de bolo já vista muito por aí, o filme, dirigido pela cineasta Trish Sie é um festival de clichês rumando a passos largos para a previsibilidade.

Na trama, conhecemos a jornalista esportiva Mack (Gina Rodriguez), uma mulher cheia de planos mirabolantes quando o assunto é ajudar aos outros a conquistarem alguém. Ela e seus amigos de trabalho formam quase uma equipe se ajudando mas mantendo distância de relacionamentos sérios. Até que um dia, Mack se apaixona pelo jornalista e escritor Nick (Tom Ellis), um solteirão cobiçado, embarcando em novos caminhos nos assuntos ligados ao coração.

Transformar um caso de uma noite em um romance é o alicerce de um roteiro que é jogado em uma narrativa com dinamismo atropelado que não se aprofunda nos conflitos emocionais de uma protagonista completamente perdida. Beirando a um filme besteirol em muitos momentos, com pausas dramáticas muitas vezes constrangedores de tão ineficientes, Jogo de Amor possui como único trunfo o talento e carisma de Gina Rodriguez.

A cereja do bolo são as referências a um esporte muito pouco popular no Brasil, o baseball. Sim, aquele esporte chatíssimo que poucos entendem. Pensando nesse ponto, essa comédia romântica pode ser chamada de ‘enlatado americano’ pois busca colocar em total exposição a ideologia do cotidiano do país mais poderoso do mundo onde tudo pode acontecer mas no final tudo se resolve. As ações e consequências se tornam algo superficial, trivial, dentro de um discurso completamente fora da realidade.

Passatempo descartável? Também não é pra tanto, não há motivos para ser deselegante. Você pode estar num dia que só quer ligar a televisão, colocar num streaming e assistir a qualquer coisa que faça minimamente rir. Pode ser que nesse cenário esse filme possa te agradar.



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06/02/2024

Crítica do filme: 'Caminhos da Sobrevivência'


Mais uma página dos horrores de uma guerra. Baseado em um livro chamado Wil do autor belga Jeroen Olyslaegers, o novo longa-metragem disponível no início de 2024 na Netflix, Caminhos da Sobrevivência, explora o caminho dos dilemas para retratar os labirintos das escolhas na visão de um jovem oficial da força policial em uma Bélgica ocupada pelos nazistas no início da década de 40.

Entre discursos inflamados e o ódio e perseguição aos judeus sendo vistos durante aquele presente, vemos um protagonista que sempre buscou fingir que nada acontece ter que ser impor e escolher um lado caminhando por uma estrada de medos e incertezas. Essa análise profunda do personagem embala uma narrativa detalhista, com ótima direção de Tim Mielants, que não precisa de completos desfechos para gerar reflexões.

Na trama, ambientada na cidade de Antuérpia no ano de 1942, conhecemos Wilfred (Stef Aerts) um jovem policial belga que se vê completamente perdido na sua função presenciando atos cruéis de nazistas que ocupam o lugar onde nasceu sem que o governo belga nada possa fazer. Quando seu destino cruza com o outro oficial, Lode (Matteo Simoni), esse último ligado à resistência contra os nazistas, um ato que causa a morte de um oficial nazista fazem esses dois personagens se envolverem em uma trama repleta de reviravoltas onde a iminência da tragédia para todos os lados se torna algo visível.

O contexto histórico daquele espaço e governo é ferramenta chave para um melhor entendimento do que vemos por aqui, algo que o roteiro não consegue transmitir, focando no recorte sem olhar para o todo. Mesmo neutro da Segunda Guerra, nada impediu que as forças nazistas tomassem suas regiões, principalmente após o aval unilateral do então rei Leopoldo III, algo que fora, no mínimo, mal visto por outros partes dos que ajudam a governar a Bélgica. Dentro desse arranjo, vemos os desenrolares desse filme.

Em Caminhos da Sobrevivência, essa visão belga para o conflito que estabeleceu escolhas na cidade cobiçada cidade portuária da Antuérpia, vemos uma busca pela sua estrutura numa análise profunda de um protagonista que está completamente perdido em suas aflições. O lado psicológico do personagem dentro de subtramas que se seguem, é um dos elementos destrinchados em ações e reações em diversos planos que realçam significados. A dor e as incertezas se tornam personagens frequentes numa época onde o confiar se torna uma variável de questão vital.

A infinidade de recortes a partir dos desenrolares da Segunda Guerra Mundial que viram produções cinematográficas é impressionante. E isso é muito importante! O cinema tem o poder de não deixar cair no esquecimento momentos importantes da história da humanidade.


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04/02/2024

Crítica do filme: 'Orion e o Escuro'


O catálogo do medo aos olhos da imaturidade. Roteirizado pelo genial Charlie Kaufman, a partir de uma adaptação de um livro homônimo escrito pela ilustradora e escritora britânica Emma Yarlett, a nova aventura com técnicas de animação da Netflix, Orion e o Escuro, usa a fantasia para abordar inúmeras incertezas que podem acompanhar o ser humano por toda uma vida. Primeiro trabalho na direção de um longa-metragem de Sean Charmatz, a aventura traz ao público um desfile de pensamentos sobre os conflitos mundanos ligados a uma variável constante: o medo.

Na trama, acompanhamos Orion (Jacob Tremblay), um menino de 11 anos desconfiado de tudo, cursando a 5ª série, que vive pensando sempre nas coisas negativas que podem acontecer, vivendo seus dias em constante aflição e com a mente repleta de imaginação. Dentro esse leque de medos, o escuro é o número um. Certo dia, durante a noite, acaba conhecendo o próprio escuro (Paul Walter Hauser), uma criatura gigante que o leva para um tour fazendo o protagonista descobrir uma visão diferente de muitos medos que tinha.

Qual a verdadeira beleza da vida? Explorando os conflitos oriundos do medo, encostando na razão volátil do subconsciente na direção da imprevisibilidade do que é certo ou errado, do que é certeza ou não, a formação do discurso da narrativa se sustenta em personificações do abstrato transformando essa jornada em uma divertida reflexão sobre o universo da vida. Elementos ligados à noite: o silêncio, o sono, os barulhos, a insônia, dão sentido concreto para esse discurso que são compostos também por personagens carismáticos.

Dedicado ao público infanto-juvenil, por aqui também há espaço para os adultos conseguirem tirar lições. As surpresas do roteiro, que traz um choque de linhas temporais surpreendente, formando um dinamismo fundamental para alimentar o fôlego criativo, esbarram num existencialismo em busca de um real sentido da vida. A fórmula dá muito certo, liga o terror do desconhecido às novas maneiras de enxergar um conflito.

Orion e o Escuro e seu lema ‘o nada é inimaginável’ estreou sem muito ‘oba oba’ na toda poderosa Netflix e logo alcançou o top 10 na semana de estreia. É uma jornada divertida, que também emociona, para você assistir com toda a família. As únicas histórias que ajudam a entendermos melhor a vida são as que possuem um fundo de verdade. E essa tem bastante!


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