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10/07/2025

Crítica do filme: 'Com Unhas e Dentes'


Sem grandes pretensões além de entregar sustos e tensão típicos do universo zumbi, o longa-metragem tailandês Unhas e Dentes aposta em uma narrativa desenfreada onde artes marciais colidem com cadáveres reanimados por um vírus desconhecido. Dirigido por Kulp Kaljareuk e já disponível na Netflix, o filme não busca reflexões profundas — é um convite direto a quem quer embarcar em uma jornada de ação desenfreada.

Ambientado em um mundo distópico onde a fome se tornou um dos graves problemas da humanidade, um lutador de Muay Thai (Mark Prin Suparat) sobrevive do jeito que pode ao lado da companheira, a cirurgiã Rin (Nuttanicha Dungwattanawanich). Quando o local onde ela trabalha é tomado por uma epidemia zumbi, o lutador fará de tudo para conseguir salvá-la.

Mesmo partindo de um cenário promissor — um planeta devastado por seus próprios erros, onde a fome já ultrapassou o nível de alerta e a opressão domina nas mãos de quem detém o poder — o projeto estanca qualquer tentativa de aprofundamento, evitando explorar com mais contundência as possíveis críticas sociais. Uma pena!

As cenas de ação e luta são bem feitas, com os mais conhecidos exageros de outras estruturas narrativas de filmes onde zumbis tem um certo protagonismo. É clichê pra tudo que é lado, mas aqui adicionado ao fato de fugir da previsibilidade, talvez o maior mérito da produção. Com sangue jorrando em toda parte, o cenário caótico se prende ao ambiente hospitalar, um lugar onde a cura é constante mas aqui ganha ares horripilantes.  

A proposta é muito simples: embarcar nos velhos e batidos dilemas de toda luta pela sobrevivência em um universo dominado pelo caos. Nessa batalha forçada entre o bem e o mal, com um lutador de artes marciais de um lado caminhando todos os passos e desafios na sua jornada do herói, e zumbis (do estilo corredores) dominando a vilania, é estabelecido um clássico molde narrativo onde pode entreter quem curte filmes do gênero.


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08/07/2025

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Crítica do filme: 'Desastre Total: O Verdadeiro Projeto X'


Um convite para uma festa de aniversário de uma jovem de 16 anos viraliza pelo Facebook e logo vira o estopim de uma história que marcou uma cidadezinha na Holanda e ganhou as páginas policiais. Abordando esse peculiar caso que envolve inúmeras questões desde a falta de preparo das forças policiais até o comportamento descontrolado de jovens em busca de diversão, a Netflix, no seu ótimo projeto Desastre Total, apresenta um média-metragem documental marcante que gera muitas reflexões sociais.

Em 2002, na cidade de Haren, no município de Groningen (Holanda), uma jovem sonhava em comemorar seu aniversário com uma festa especial. Para isso, decidiu convidar amigos e conhecidos criando um evento no Facebook. No entanto, ao deixá-lo público por engano, o convite rapidamente se espalhou e viralizou, alcançando milhares de jovens que passaram a compartilhar e planejar a ida ao local. Naquele mesmo ano, um dos filmes mais marcantes quando pensamos em festas descontroladas - Projeto X - Uma Festa Fora de Controle - foi lançado nos cinemas, e logo uma inusitada associação foi criada impulsionando ainda mais o evento.

Dentro de um recorte temporal que liga dias antes do ocorrido ao início de toda a confusão, a construção da narrativa se movimenta através de depoimentos de pessoas próximas ao caso, além de reportagens e vídeos que foram divulgados na época. São 48 minutos de total imersão a uma série de situações que levaram ao verdadeiro caos em um lugar sem agitações.

Todos os aspectos que envolveram a situação são amplamente apresentados, desde o descaso da prefeitura local diante de riscos evidentes, até o papel da mídia na cobertura do caso. O documentário também expõe a postura inconsequente de parte dos jovens que só buscavam diversão, do despreparo policial, além dos desabafos da própria aniversariante, que acabou vivendo uma celebração completamente diferente do que imaginava — fruto de uma sequência quase inacreditável de acontecimentos.

Faltou somente alguma profundidade sobre as consequências das ações, seria interessante para um recorte amplo ter mais detalhes sobre o depois do ocorrido. Nesse ponto, o documentário se apressa em destacar a renúncia da autoridade local, mas oferece poucas explicações sobre outros fatores essenciais — peças-chave de um tabuleiro caótico que transformou uma simples festa de aniversário em um verdadeiro cenário de descontrole.

Dirigido por Alex Wood, este é mais um episódio da ótima série da Netflix intitulada Desastre Total que tem algumas outras histórias que beiram ao absurdo já contadas e disponíveis na plataforma.

 

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Crítica do filme: 'Coração Delator'


Trazendo para debate, mesmo que em plano de fundo, a importante questão da gentrificação e também do transplante de órgãos, o longa-metragem argentino Coração Delator chegou recentemente na Netflix. Escrito e dirigido pelo cineasta argentino Marcos Carnevale, de sucessos como Elsa & Fred - Um Amor de Paixão e Granizo, o longa-metragem busca num previsível romance água com açúcar criar caminhos para suas questões que atingem paralelos, de alguma forma, na realidade.

Juan Manuel (Benjamín Vicuña) é um empresário bem sucedido do ramo das construções. Um workholic declarado, com dificuldades em relacionamentos amorosos. Certo dia, no caminho para mais uma viagem com amigos milionários, passa mal e logo se constata que ele precisa de um transplante de coração urgente. Meses se passam e sua forma de olhar a vida começa a passar por mudanças, e ele resolve conhecer melhor a família do homem que lhe permitiu ser transplantado. Só não esperava se apaixonar pela viúva do doador, Vale (Julieta Díaz).

Com muitas filmagens acontecendo em Lanús, província de Buenos Aires, o foco aqui é o amor, ou mesmo a redescoberta desse sentimento poderoso. A narrativa se joga num mergulho sem olhar pra trás no mundo dos clichês do gênero. Com a já batida jornada de modificações do homem rico que se transforma ao passar por uma situação de vida ou morte, somos conduzidos para uma estrutura que apenas alcança pinceladas de senso crítico sobre o que vem ao redor.

O olhar mais atento chega numa crítica social importante sobre a valorização imobiliária e num automático êxodo da população com raízes culturais no lugar (gentrificação) e também para a importância da doação de órgãos, momento sempre delicado para toda família. Esses importantes assuntos que circulam pela trama são diluídos dentro de uma esticada de tapete vermelho para um amor inesperado, se tornando aos poucos um suco de ‘sessão de tarde’ completamente previsível.

 

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Crítica do filme: 'Um Pai para Lily'


Premiado com mais de 25 prêmios ao redor do mundo, Um Pai para Lily chegou à Netflix trazendo uma história real comovente que toca o coração de forma genuína. No centro da trama, duas pessoas solitárias se cruzam e descobrem, na amizade, um novo sentido para a vida. Escrito e dirigido pela cineasta texana Tracie Laymon — em seu segundo longa-metragem — o filme aborda traumas afetivos, luto e recomeços, criando uma atmosfera delicada e tocante que conquista rapidamente o público.

A vida da jovem Lily Trevino (Barbie Ferreira) não tá fácil, completamente esquecida pelo pai Robert (French Stewart), trabalha como cuidadora para se sustentar. Um dia, numa navegada pelo facebook acaba acidentalmente chegando até um homônimo de seu progenitor, um outro Bob Trevino (John Leguizamo), um homem casado e com uma perda recente irreparável. Logo uma linda amizade surge e juntos vão aprender um pouquinho sobre a arte do recomeçar.

A jornada dos personagens é bem estruturada e evolui de forma natural durante a narrativa. Com os olhos em Lily, percebemos todas suas dores e angústias, que vão da rejeição até a busca pelo pertencimento chegando também na beira da depressão, uma bolha criada por um passado com lacunas em relação ao pai e um presente completamente exposta a um mundo duro e cheio de armadilhas. A chegada de Bob a sua vida, é uma luz no fim do túnel, uma peça que faltava para mais coisas ao seu redor fazerem sentido.

O carisma nessa amizade que surge é a base de uma trama que busca sem delongas chegar ao transbordar das emoções. O papo é reto, sem meio campo, algo que aproxima espectadores da história. Mesmo assim o desacelerar da narrativa para destacar importantes momentos acaba atingindo o ritmo mas nada que atrapalhe o cometa de emoções que saltam na tela. É bem capaz de você se emocionar ao longo dessa jornada.  

O projeto é baseado em fatos reais que aconteceram com a própria diretora do filme, Tracie Laymon, quando ela acabou criando uma forte amizade com um alguém enquanto procurava, pelas redes sociais, pelo próprio pai. Transformar isso tudo em cinema deve ter sido um grande desafio mas essa proximidade com a história faz todo o sentido quando vemos a emoção em cada cena.

  

 

 

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24/06/2025

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Pausa para uma série: 'As Mil Mortes de Nora Dalmasso'


Um dos crimes mais cruéis de toda história da Argentina, com quase duas décadas desde seu ocorrido, e ainda sem solução. Retratando em uma contextualização profunda os desenrolares desse brutal assassinato, chegou na Netflix As Mil Mortes de Nora Dalmasso, um projeto que por meio de depoimentos de advogados, imprensa que fez a cobertura na época, reportagens da época e da própria família, monta recortes com pontos de vistas sobre todo o circo midiático que se tornou a investigação.

Río Cuarto, província de Córdoba, novembro de 2006. Uma mulher, sozinha em casa, é brutalmente assassinada, enforcada pela corda do seu próprio roupão. Seu corpo é encontrado e logo uma investigação se mostra em ação. O filho estava longe dali, a filha morando em outro país, o marido disputando um campeonato de golf longe dali. A pergunta que logo chega: quem matou essa mulher?

Nos dias que se seguem a descoberta do corpo, nos primeiros passos da investigação, logo se percebe uma polícia completamente perdida, com várias falhas apontadas até ações seguintes. Esse fator é crucial para os desenrolares e acusações infundadas que se seguiram. A produção seriada parte desse ponto para trazer os fatos ao público jogando um foco maior numa guerra entre a família e o quarto poder.

A minissérie documental True Crime consegue trazer para forte debate o papel da imprensa na cobertura de casos de assassinatos que logo se tornam midiáticos de uma forma bem mais profunda que outras produções. Perseguidos e muitas vezes induzidos como suspeitos, jogados aos leões da opinião pública, a família da vítima também ganha importante espaço contando o caos que virou suas vidas após o ocorrido.

Vale tudo pela notícia? As reflexões se acumulam quando pensamos nas linhas tênues que o jornalismo sensacionalista percorre em qualquer caso de grande repercussão. Em alguns casos, opiniões pessoais acabam iludindo e influenciando profissionais que deveriam prezar pela imparcialidade e focar em apresentar o fatos concretos. Momentos chocantes são vistos em relação a isso, como os impactos na vida pessoal do filho da vítima que teve sua vida e questões íntimas completamente exposta.

As Mil Mortes de Nora Dalmasso, ao longo de seus intensos três episódios, parte de uma enigmática morte na alta sociedade argentina para apresentar as hipocrisias em casos de grandes repercussões. Veja e tire suas próprias conclusões!


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21/06/2025

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Crítica do filme: 'Desastre Total: Prefeito do Caos'


Como ser amado e odiado ao mesmo tempo? Contornando os detalhes de conhecimento público sobre a ascensão e a queda de um dos políticos mais polêmicos que já passaram pelo comando em qualquer cidade do Canadá, Desastre Total: Prefeito do Caos apresenta todos os lados e versões da vida de Rob Ford, ex-prefeito de Toronto. Ao longo de menos de 50 minutos, esse média-metragem, que faz parte do projeto ‘Desastre Total’ da Netflix, nos leva de forma contundente ao seu ápice: uma verdadeira batalha entre o político e a mídia.

Robert Bruce "Rob" Ford veio de um berço estável e logo que pintou uma oportunidade se tornou um político populista de direita, amado e odiado. Em pouco tempo foi vereador e logo chegou até a prefeitura. Mostrando seu caminho até o poder, esse documentário político muito bem produzido abre suas portas para os momentos de sua queda, quando ficou à deriva dos próprios atos impopulares, com vídeos polêmicos usando drogas, que gerou uma verdadeira guerra contra a imprensa.

Dirigido por Shianne Brown, o projeto apresenta por meio de depoimentos e matérias da época o conturbado cenário político que viveu a cidade de Toronto entre 2010 a 2014, quando Rob aproveitou um vazio no cenário político canadense, se elegeu e venceu de forma surpreendente. Ao longo de seu governo, muitas matérias saíram sobre sua vida pessoal, levando Rob a uma queda impressionante de popularidade.

Do lado da imprensa, jornalistas relatam com olhar crítico os ataques cometidos por Rob diante das câmeras, trazendo depoimentos contundentes sobre o impacto de suas ações. Além disso, ex-integrantes de seu gabinete oferecem diferentes perspectivas, ajudando a compor o cenário político da época. Por outro lado, as poucas vozes em defesa de Rob vêm principalmente de seu segurança pessoal, que apresenta um raro contraponto favorável ao ex-prefeito.

Trazendo todos os lados de uma mesma história, como todo bom documentário deve fazer, o público fica com as informações e interpreta. As reflexões causadas por bons projetos documentais servem sempre como uma ferramenta eficaz para entendermos nossa sociedade e a busca por mudanças.  


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20/06/2025

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Crítica do filme: 'Titan: O Desastre da OceanGate'


Os detalhes da catástrofe. Chega à Netflix um documentário que reconstrói, com rigorosa pesquisa e depoimentos impactantes, todo o contexto que levou a um dos desastres marítimos mais trágicos dos últimos tempos. Dirigido por Mark Monroe, Titan: O Desastre da OceanGate organiza seus achados investigativos em uma linha temporal precisa, trazendo reflexões profundas e múltiplos pontos de vista sobre o ocorrido.

Um chefe narcisista que não admitia ser questionado. Assim é definido Stockton Rush, um empresário norte-americano fundador e diretor executivo da OceanGate, grande foco de reflexões desse documentário que logo alcançou o Top 10 da plataforma em alguns países. Sua empresa, especialista em levar pessoas pagantes por meio de submersíveis até alguns limites dos oceanos, percorreu noticiários pelo mundo com avanços nas expedições oceânicas em busca também de estudos e relevância sobre grandes naufrágios.

Visto por alguns como um visionário genial, essa imagem desmorona diante dos relatos de ex-funcionários presentes no documentário. Movido pelo sonho de explorar mais detalhadamente os destroços do Titanic, Stockton tornou-se obcecado pelo projeto do novo submersível Titan, assumindo um papel central em sua continuidade, mesmo após sucessivos alertas sobre os riscos envolvidos. A bordo do submersível que viria a implodir, estavam o próprio Stockton, um especialista no Titanic; um empresário britânico; um empresário paquistanês-britânico e seu filho.

Rico em detalhes, este projeto audiovisual com forte caráter investigativo nos conduz por análises técnicas que vão desde a escolha dos materiais até os testes realizados com o novo modelo de submersível. Os relatos vêm de pessoas que acompanharam de perto todas as etapas do processo. A negligência surge como um fio condutor da narrativa, com o documentário apontando de forma direta para Stockton como o principal responsável pela tragédia. Ao longo de quase duas horas, somos levados a um choque constante, com verdades sendo expostas uma após a outra.

Com estreia mundial no Festival de Tribeca dias atrás, esse documentário de grande impacto emocional, que pode gerar indignações pelos absurdos cometidos por um homem que achava que sabia de tudo, chegou logo em seguida ao catálogo da Netflix de muitos países, inclusive o Brasil.

 

 

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Crítica do filme: 'Nossos Tempos'


Um projeto super secreto, uma história de amor que percorre o tempo. Já vimos algo parecido por aí, não é mesmo? O filme mexicano Nossos Tempos, recém-lançado na líder dos streamings (Netflix), tenta dar um frescor ao tema ao misturar conceitos de física com um drama que transita entre reflexões sobre relacionamentos, choque cultural e questões de sexismo. O machismo estrutural e as inquietações sobre o futuro posicionam o filme diante de temas relevantes, mas, apesar do potencial para ir mais fundo, a narrativa recua e acaba se acomodando na zona de conforto de um romance piegas.

Nora (Lucero) e Héctor (Benny Ibarra) são dois brilhantes cientistas que no ano de 1966, em seus estudos secretos no porão da universidade onde lecionam, descobrem como viajar no tempo. Embarcando na incrível máquina que criaram, acabam indo parar 59 anos no futuro onde enfrentarão situações que nunca imaginaram, além das surpresas com os avanços tecnológicos de um mundo em intensas modificações. Logo, o relacionamento entre os dois enfrenta uma crise provocada pela não adaptação de Héctor ao mundo que se apresenta.

Dirigido por Salvador Cartas, entre expectativas criadas e estereótipos desenvolvidos, Nossos Tempos tem um início promissor seguindo pelo fascinante universo da física, viagem no tempo, buraco de minhoca (espaço-tempo que conecta duas regiões distantes do universo). Quando a física abre espaço para os problemas conjugais, guiados pelos dilemas de entendimento das mudanças importantes e necessárias na sociedade ao longo do tempo o projeto vai desabando aos poucos.  

Em seu clímax, é notório um ‘tilt’ entre o foco na ciência e a história de amor, nos levando para a comodidade da superfície quando se mostram na cara do gol assuntos relevantes para reflexões. As boas intenções no roteiro, ao trazer para debates mudanças necessárias de nossa sociedade, vão por água abaixo. O importante tema que gira em torno do feminismo e do sexismo são jogados para escanteio, definidos de forma decepcionante por um desfecho insosso e contraditório.

Nossos Tempos tinha tudo para ser um importante trabalho audiovisual onde o universo do tempo e espaço encontram suas fronteiras entre as formas de entendimento com manifestações em diversos aspectos da sociedade e cultura. Mas ao preferir seguir uma fórmula de bolo, se torna um produto mais do mesmo.   

 

 

 

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03/06/2025

Crítica do filme: 'O Jogo da Viúva'


Um intrigante passeio psicológico e os motivos que levam até um crime são duas variáveis destrinchadas no novo sucesso da Netflix, o longa-metragem espanhol O Jogo da Viúva. Inspirado nos acontecimentos do conhecido Caso Patraix, ocorrido em Valência, Espanha, em agosto de 2017, este true crime, ao longo de duas horas de projeção, nos conduz pelas complexidades da mente e o atropelamento dos princípios que guiam o comportamento humano.

A enfermeira Maje (Ivana Baquero) é casada faz menos de um ano com um engenheiro e entra numa reta de desilusões e infelicidade. Depois de inúmeras traições por parte dela, consegue seduzir um conhecido do trabalho, o também enfermeiro Salva (Tristán Ulloa), e o convence de executar um plano diabólico: matar o marido dela. Quando o assassinato acontece, as peças desse jogo da viúva vai caindo aos poucos por conta de uma investigação detalhada guiada por Eva (Carmen Machi), a detetive responsável pelo caso.

Longos atos, dedicados ao desenvolvimento dos conflitos, revelam dois pontos de vista centrais neste tabuleiro macabro, apresentando, em detalhes, seus elementos mais impactantes. Num primeiro instante, o olhar da investigação policial através de Eva, uma experiente detetive da polícia espanhola que começa aos poucos perceber os verdadeiros caminhos para a solução desse crime. Num segundo momento, somos convidados a um retrato psicológico sombrio de uma mulher manipuladora e pronta pra tirar o marido do caminho.

Dessa forma, o filme ganha ritmo e olhar de curiosidade com um boomerang de informações, um vai e vém que mostra o antes e depois desse crime que chocou a Espanha. Buscar traçar os caminhos para a inconsequência que se somam a um jogo pra satisfazer desejos sombrios, num primeiro momento parece arriscado já que o filme é muito mais um suspense policial do que um suspense psicológico. Mas a fórmula acaba dando certo.

Mas não espere momentos de alta tensão ou alguma reviravolta, não há muitas inovações em relação a outros projetos sobre investigações de assassinatos. O roteiro é competente, mostra todos os lados dos envolvidos, mesmo com apenas pinceladas num primeiro momento, um abre alas frio e que busca logo se encontrar com o clímax. Mesmo sabendo sobre o desfecho, a estrada até os motivos geram reflexões e são bem contextualizadas.  

O Jogo da Viúva logo alcançou o Top 10 da Netflix, reforçando o sucesso de obras audiovisuais True Crime com o público. Gosta de filmes policiais? Veja e tire suas próprias conclusões.


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25/05/2025

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Crítica do filme: 'Thunderbirds: A Força Aérea de Elite dos EUA'


Pouca gente sabe mas a maior potência bélica do planeta tem um ‘Dream Team’ na sua força aérea que se prontifica a percorrer os Estados Unidos, e outros lugares do mundo, realizando acrobacias aéreas de tirar o fôlego! Pegando um recorte que avança todo o período de certificação de novos integrantes dessa equipe de pilotos de elite, chegou na Netflix um documentário que abre as portas dessa que é uma das mais antigas equipes acrobáticas em atividade, os Thunderbirds.

Com o nome inspirado no ‘Pássaro-Trovão’, criatura lendária que faz parte das mitologias de algumas culturas indígenas norte-americanas, os Thunderbirds tendo como ferramenta o caça supersônico F-16C Fighting Falcon, muitas vezes percorrendo quatro vezes a força da gravidade, em situações de extremo perigo.   

Guiados pelos depoimentos do Tenente-Coronel Justin Elliott — nome de guerra ‘Astro’ — líder do esquadrão que se despede do posto de comandante da frota, acompanhamos a jornada rumo à excelência e à construção da confiança, em um ciclo contínuo de renovação com a chegada anual de novos pilotos às posições de destaque. Personagem central da narrativa, Elliott é um pai de família que sonhava em ser astronauta, mas acabou trilhando um caminho diferente, encontrando nas acrobacias perigosas uma nova missão de vida.

É uma pena que a narrativa se perca em um foco excessivo no processo, um verdadeiro calcanhar de aquiles comum em obras de apresentação. Como mencionado, acompanhamos alguns meses do período de certificação, mergulhados em uma rotina árdua marcada por erros, correções e uma repetição incessante. Os poucos conflitos que ganham destaque na tela estão ligados ao perfeccionismo extremo exigido pela função — onde um único erro pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Sem tanta profundidade, mesmo que passe por tragédias e conflitos que acompanharam a trajetória dessa equipe desde sua criação no início dos anos 1950, o documentário se coloca numa posição de mera apresentação desse esquadrão que não é tão conhecido assim pelo mundo. Quem curte aviões e todo seu contexto vai se deliciar com imagens de tirar o fôlego. Já quem procura um roteiro mais profundo - com fortes desenrolares de conflitos que se mostram presentes - pode se decepcionar.   

 

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16/05/2025

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Pausa para uma série: 'Procurados - EUA: Osama Bin Laden'


Na manhã de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, o mundo assistiu, estarrecido, a um ataque aéreo sem precedentes contra um dos maiores símbolos dos Estados Unidos. A partir daquele momento, iniciou-se uma longa caçada — atravessando dois governos — para capturar o principal responsável pelo atentado: o líder da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Percorrendo detalhes poucas vezes vistos, com entrevistas emocionadas de personagens importantes do governo norte-americano, da CIA, de forças especiais, e uma recriação impecável de situações ocorridas nesse período de angústia e ansiedade com o objetivo de encontrar Osama Bin Laden, a excelente série documental Procurados - EUA: Osama Bin Laden nos faz voltar no tempo para entender melhor os pormenores dessa caçada.

Dividida em três episódios, a minissérie explora os acontecimentos que antecederam e cercaram a operação que culminaria em seu objetivo final. Em meio a mudanças no comando do poder, pessoas que participaram diretamente ou acompanharam de perto as reuniões secretas tornam-se peças-chave na construção da narrativa. A força de seus depoimentos sustenta a base desta investigação documental, que lança luz sobre um dos episódios mais marcantes da história norte-americana.

Da difícil tarefa de reviver os dias de tensão até a conclusão de um árduo trabalho – que mexeu com muitas vidas pessoais - quando o principal símbolo do terror foi localizado e morto em um esconderijo nos arredores de uma cidade no Paquistão, os depoimentos dos analistas da CIA são estarrecedores, um recorte de emoções que marcou a trajetória de cada uma dessas pessoas.

Pelas entrelinhas, enxergamos questões políticas, divergências conflitantes, onde o medo do fracasso se torna uma variável a se prestar a atenção. De George W. Bush a Barack Obama: o primeiro, presidente durante os atentados e os dias de tensão que se seguiram; o segundo, encarregado de cumprir a missão que se tornou um dos principais objetivos de seu governo, acompanhamos decisões cruciais que levaram ao sucesso da operação final ocorrida em 2 de maio de 2011.

Procurados - EUA: Osama Bin Laden é mais uma série consistente da Netflix dentro desse caminho de explorar com ampla investigação fatos marcantes dentro de acontecimentos chocantes nos Estados Unidos. Estão no catálogo da líder dos streamings também, Procurados - EUA: O.J. Simpson e Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston.


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12/05/2025

Crítica do filme: 'Casamento Letal nos EUA'


Uma ligação durante a madrugada para um serviço de emergência da Carolina do Norte seria o início de uma história cheia de variáveis que colocaria a polícia de frente com as possíveis verdades de um fato que num primeiro momento parecia ser uma ação em legítima defesa. Dirigido por Jessica Burgess e Jenny Popplewell, Casamento Letal nos EUA, impactante documentário True Crime que chegou na NETFLIX nesse início de maio, nos leva - a partir de vários pontos de vistas - para uma disputa por narrativas.

Jason Corbett era um empresário irlandês bem-sucedido que perdeu a primeira esposa muito cedo e encontrou em Molly Martens um novo amor. No início do relacionamento, ainda morando ainda na Ilha Esmeralda, resolve se mudar para os Estados Unidos ao lado dos dois filhos pequenos para se jogar nesse relacionamento. Anos depois, em 2015, sua vida chegaria ao fim de forma violenta, em sua própria casa, pelas mãos da esposa e do sogro (um ex-agente do FBI).

A busca pela verdade, no qual o projeto investigativo coloca na ponta do seu discurso, é ampliada com contextos do passado de todas as pessoas envolvidas no crime somando-se a uma série de entrevistas com amigos próximos, familiares, forças policiais e até gravações dos primeiros interrogatórios. A alegação de legitima defesa é construída como a base principal de Molly e seu pai.

Assim, ao longo dos anos, a história é contada de forma imparcial, com possibilidades de falas de ambos os lados. Algumas reviravoltas são vistas ao longo do tempo a partir das estratégias de defesa e também fatos que são comprovados sobre o passado e as realidades nua e cruas do andamento do casamento de Jason e Molly. Os filhos de Jason, ganham um enorme espaço que mostra toda a dor e sofrimento que vivem com a até então não solução para o ocorrido.    

O circo midiático que tomou conta do caso também é citado - tanto nos Estados Unidos quanto na Irlanda – mesmo que sem muita profundidade - com a amostra das disputas de narrativas. O papel da imprensa no caso, como na maioria das coberturas de um crime violento, fica sempre na linha tênue onde o bom senso algumas vezes é driblado.  

Casamento Letal nos EUA chama a atenção desde seu início, deixando o público com as reflexões para se chegar em preenchimentos das lacunas. Os desenrolares jurídicos e condenações também ganham espaço para um desfecho desse crime violento que chocou a Carolina do Norte 10 anos atrás.


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11/05/2025

Crítica do filme: 'À Altura'


Os duelos que dizem muito sobre si mesmo. Buscando envolver o público com uma rivalidade acirrada entre um professor e seu aprendiz, profissionais de um jogo de tabuleiro abstrato e considerado o mais antigo jogado até o presente, o longa-metragem sul-coreano À Altura consegue criar um universo fascinante de reflexões captando paralelos das emoções que encontram interseções sobre a disciplina e lapsos morais. Escrito e dirigido por Kim Hyeong-ju esse projeto, que chegou na NETFLIX em 2025, é um grande achado em meio a tantas ofertas pelos streamings.

Cho Hun-hyun (Lee Byung-hun) é um famoso jogador de GO, vencedor de títulos nacionais e internacionais, se tornando o rosto da Coreia do Sul nesse jogo milenar. Um dia, se depara com um jovem prodígio, Lee Chang-ho (Yoo Ah-in), e logo vira seu professor. Com o passar dos anos, mestre e aluno estabelecem uma forte relação que é colocada à prova quando Lee passa a conquistar muitas vitórias e vencer seu professor.

Inventado na China há mais de 2500 anos, o Go é um jogo individual no estilo ‘um contra um’ onde o objetivo – tendo em mãos pedras brancas e pretas - é cercar mais território do que o oponente. A partir desse game pouco conhecido no Brasil, que usa da lógica e raciocínio rápido para vantagens, À Altura se desenvolve em um roteiro cheio de questões existenciais onde duas características saltam aos olhos e caminham como uma porta de entrada para as emoções dos personagens.

Uma delas é a frustração. Uma variável pulsante e jogada para reflexão, logo se colocando na vitrine dos acontecimentos. Por meio desse sentimento cheio de ambiguidades vamos explorando conflitos profundos que dizem muito sobre as personalidades dos dois protagonistas. A outra, é a relação paternal que se estabelece com o forte vínculo entre as duas partes, algo que se torna insustentável pelas derrapadas das emoções que deixam laços translúcidos e à beira de um rompimento. As disputas no tabuleiro logo viram confrontos pessoais e a narrativa se joga em cima dessa questão.

Diferente de muitas outras histórias onde há um embate entre professor e aprendiz, em À Altura o discurso se amplia repleto de questões sociais e com um contextualização que se movimenta rapidamente, apresentando através da dor e sentimentos conflitantes seu verdadeiro epicentro para debates. O roteiro, muito bem construído, nos leva até os quatro cantos dessa relação conturbada, que tem dois pontos de vistas bem diferentes, e parece se construir no campo das ilusões, nas fraquezas, no temido sopro do fracasso.   


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10/05/2025

Crítica do filme: 'Nonnas'


Nada como o cheirinho que traz lindas lembranças. Partindo da dor do luto encontrando forças para um despertar de uma veia empreendedora, o novo trabalho do cineasta Stephen Chbosky (diretor dos emocionantes As Vantagens de ser Invisível e Extraordinário) chega para conquistar nossos corações através da culinária. Baseado na vida de Joe Scaravella, Nonnas, lançamento da Netflix desse início de maio, tem um leque de personagens carismáticos que se encontram em um roteiro que reflete sobre amor, família, tradição e redescoberta da vida.

Joe (Vince Vaughn), um simpático homem de meia idade que trabalha com consertos automotivos, acaba de perder a mãe. Nesse momento de luto, lembranças das comidas que ela e sua vó faziam dominam suas lembranças. Um dia, com o dinheiro da herança, resolve comprar um restaurante e fazer dele um lugar especial. Para isso, contará com a ajuda de amigos de longa data e quatro mulheres na melhor idade que tem receitas deliciosas para atrair o público.    

O clima fúnebre dos primeiros minutos desse projeto – bem escancarado pela paleta de cores frias remetendo a tristeza e isolamento – vão de encontro a necessidade de solitude imerso na desgraça do luto. Dentro dessa razão existencial, algo que todos nós vamos passar em algum momento de nossas vidas, um renascer logo se apresenta através das memórias de família. Junto a isso, todas as formas de amores de uma vida se encontram em mesmo momento e a maneira como somos conduzidos a descobrir os temperos dessa história fazem toda a diferença.

Em uma simpática narrativa que explora com eficiência os caminhos de um renovar, da euforia até os desencontros, mensagens bonitas são vistas a todo instante. Se distanciando de qualquer pretensão, ou forçar situações, o desenvolvimento do protagonista e do restante dos personagens andam em harmonia. Assim, abre-se espaço para ótimos temas se desenvolverem, como: questões relacionadas a melhor idade, os caminhos até o empreender, até mesmo raízes e rivalidades em uma nova Iorque plural.

Mesmo esbarrando em clichês dos mais banais, prevalece a força de contar com simpatia uma história baseada em partes reais que remete ao passado e chega por memórias. O amor por cozinhar, a comida de vó, ganham o reforço do entusiasmo de uma alegria contagiante e que logo se iluminam – agora com cores quentes - nos atos finais. Nonnas é aquele filme que além de despertar a fome pode nos levar de volta para cantinhos esquecidos da nossa própria trajetória.


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Crítica do filme: 'Má Influência'


É bem difícil escrever sobre uma obra onde olhamos para todos os lados e não nos desprendemos de um vazio. O longa-metragem espanhol Má Influência, que chegou essa semana na Netflix, apresenta sua ingênua trama a partir de um discurso repleto de incongruências. De drama teen convencional, avança para um suspense sem pé nem cabeça culminando em um desfecho forçado tendo um nada agradável desfile de personagens sem um pingo de carisma.

Reese (Eléa Rochera) é uma jovem estudante do ensino médio que ultimamente vem recebendo uma série de ameaças de um stalker misterioso. Preocupado, seu pai Bruce (Enrique Arce, o Arturo de La Casa de Papel) contrata Eros (Alberto Olmo), que está preso em final de pena, para ser uma espécie de guarda-costas da filha. Aos poucos, Reese e Eros vão se aproximando e uma paixão intensa vai nascendo.

Dirigido por Chloé Wallace o filme passa que nem uma flecha por assuntos que encostam na realidade não avançando além da superfície, entre outros fatores, pelo péssimo desenvolvimento de personagens que veem seus conflitos cair na mesmice e de forma redundante. Debates rasos sobre conflitos de classes sociais, buscar algum sentido para as amizades nocivas e um romance insosso são alguns dos pontos que nos fazem querer contar os minutos para o filme acabar.

Os dois lados de uma juventude perdida com o poder da informação, com constantes embates nos laços familiares, se tornam pontos que ficam distantes, não conseguindo elos para entendermos melhor o que o discurso propõe. Quando a narrativa busca uma imersão no sensual, um clímax previsível desde o primeiro minuto, é a constatação que essa obra usa e abusa de um paraíso infinito de clichês.

Sonolento drama existencial? Suspense sem tensão? Romance água com açúcar? As definições são inúmeras. É um verdadeiro teste de paciência chegar até o final desse projeto. Se tivesse um prêmio framboesa de ouro dos lançamentos direto nos streamings, esse filme seria um forte candidato a ser indicado.


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09/05/2025

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Pausa para uma série: 'As Quatro Estações do Ano'


Os altos e baixos do matrimônio. Buscando uma atualização de uma obra homônima lançada no início da década de 1980, escrita e dirigida por Alan Alda – que faz uma pequena participação aqui – o novo seriado da Netflix As Quatro Estações do Ano traz aos olhos do público uma história bem-humorada, madura, que envolve questões sobre o casamento na visão de três casais, amigos de longa data. Já podemos considerar essa como uma das ótimas adições ao catálogo da toda poderosa do mundo dos streamings.

E o motivo dos elogios é simples: É muito fácil se identificar! Desde a reviravolta do primeiro episódio, é provável que você seja capturado por essa história! Com um texto leve, divertido, sem esquecer de dar um pulo em camadas além do superficial – principalmente quando embates mais evidentes saltam na tela – ao longo de oito episódios dessa (provável) primeira temporada, vamos navegando no mar das instabilidades de uniões que para muitos parecem ser perfeitas.

Um grupo de amigos animados se encontram sempre que tem uma folguinha para compartilhar de mais momentos juntos. Assim, somos apresentados aos casais: Kate (Tina Fey) e Jack (Will Forte), Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani), Anne (Kerri Kenney) e Nick (Steve Carell). A questão que gira em torno de tudo que acompanhamos é a de que Nick resolve se separar, pegando a todos de surpresa. Esse fato apresenta mais conflitos ao grupo de amigos, principalmente quando ele assume um novo romance, com Ginny (Erika Henningsen), uma mulher mais jovem.

Com muito episódios escritos por Tina Fey, esse projeto segue uma fórmula bem definida com um quase ‘começo, meio e fim’ a cada dois episódios. Isso ocorre pois as estações do ano viram quatro atos, então, a cada dois capítulos vemos um novo reencontro. Os ganchos para tais deslizam entre o tema central (a já mencionada separação de um dos casais) e atualizações sobre o cotidiano dos períodos. Um mérito que fica bem exposto é a forma como abrem-se camadas para todos os casais e seus conflitos. As entrelinhas são poucas.

Com locações que circularam entre Nova Iorque e a Califórnia, essa série que deve chegar rapidamente ao TOP 10 da plataforma, apresenta também uma maturidade nos diálogos levando esse projeto para um outro patamar em comparação a muitas obras (filmes ou séries) que buscaram o mesmo caminho: falar com propriedade sobre relacionamentos. Ajuda, o ótimo elenco que apresenta um carisma impressionante com seus maravilhosos e bem entrosados personagens.

Os conflitos de casais sempre geram muitas reflexões, em As Quatro Estações do Ano não é diferente. A fácil identificação é trunfo bem desenvolvida, segue na linha do existencial sem parafernalhas. Ao fim do oitavo episódio fica um gostinho de quero mais. Quem sabe não vemos mais uma temporada em breve. Ganchos tem aos montes!


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03/05/2025

Crítica do filme: 'Exterritorial'


Uma mãe em busca do paradeiro do seu único filho é o ponto central de Exterritorial, longa-metragem alemão que chegou na Netflix nesse primeiro semestre de 2025. Com a ação misturada no drama não se mostrando eficiente, ficando evidente um desequilíbrio provocado pela falta de criatividade, achismos, absurdos longe de qualquer realidade e uma porção de clichês, o projeto escrito e dirigido por Christian Zübert é mais uma decepção que chega nas plataformas de streamings.

Sara (Jeanne Goursaud) é uma ex-soldada que serviu nas forças especiais alemãs no Afeganistão. Mãe solteira, busca uma vida melhor junto com seu filho. Decidida a se mudar da Alemanha para os Estados Unidos, lar do falecido pai da criança, vai em busca do seu visto de trabalho no consulado norte-americano em Frankfurt. Durante sua presença no local, seu filho some e ela precisará encarar vários desafios para descobrir seu paradeiro.

A fuga do bom senso para com a realidade, do óbvio, é um calcanhar de aquiles que segue durante a projeção. Não é possível imaginarmos um jogo de gato e rato dentro de um consulado norte-americano sem que não tenha uma rápida solução! Nesse mundo imaginativo que é colocado no roteiro, dribles inacreditáveis no maior centro de segurança do mundo são vistos aos montes. É pulo de sacadas, roubos facilitados de cartões de acesso, protagonista que dribla de todas as formas seus obstáculos. Em resumo, um show de cenas absurdas que se desvincula dos pés no chão.  

A estrutura da parte de ação dramática (conflitos, complicações, desfechos...) é um verdadeiro caos. O maior exemplo disso é o terrível uso da condição de transtorno pós-traumático – vivido pela protagonista - uma questão que sempre gera boas reflexões e que aqui se prende num quarto vazio mencionado apenas em situações de risco, pouco desenvolvido e dado como justifica para qualquer revés. Definições simplistas são algo constante nesse longa-metragem de 110 minutos.

Desde o seu início da pra perceber que o foco é total na ação, como se o bom entretenimento se resumisse a isso. As coreografias dos combates são bem executadas mas completam apenas a camada superficial da jornada da heroína. Havia tanto para ser explorado! A personagem principal é muito mal desenvolvida e isso é quase um atestado de fracasso.


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02/05/2025

Crítica do filme: 'Ladrões de Joias: Começa o Assalto'


Trazendo justificativas superficiais e nada desenvolvidas para um conflito moral entre pai e filho como epicentro de um roteiro onde o heroísmo se resume a um conjunto de clichês, o longa-metragem indiano Ladrões de Joias: Começa o Assalto é um show de mentirinhas. Dirigido por Robbie Grewal e Kookie Gulati, e compondo o catálogo da Netflix, esse é mais um daqueles filmes que entram para a galeria dos longas-metragens esquecíveis de 2025.

Rehan (Saif Ali Khan) é um experiente e charmoso ladrão de joias que se esconde durante anos em Budapeste para não ser preso. Quando sua família fica na mira de Rajan (Jaideep Ahlawat), um audacioso e sangrento criminoso ligado ao mundo do contrabando de artes, o protagonista precisará planejar e executar o roubo da Red Sun, a joia mais valiosa da África.  

É válido mencionar que não há pretensões nessa obra! A trama encontra seu oásis na jornada já batida de um anti-herói (aqui camuflado de grande herói) não se estendendo em camadas para um amplo desenvolvimento de outros personagens. Mesmo aos trancos e barrancos, o vilão rouba a cena muitas vezes através do chocar de ações violentas dentro de uma narrativa que explora o faz de conta, o lugar seguro onde tudo é possível.    

O desenvolvimento dramático do protagonista passa por instabilidades no roteiro ao não conseguir conectar-se com o único ponto interessante que se apresenta: a relação pai e filho. Tudo é ligado de alguma forma a esse conflito moral mas o entendimento só chega por entrelinhas forçadas pelos impulsos incontroláveis de traduzir uma relação através da violência, deixando os rastros da moral não chegarem as reflexões.

Um impiedoso vilão, um anti-herói indestrutível, um interesse romântico em meio ao caos, um desfecho previsível com cenas de ação a todo instante. Já vimos isso em outros carnavais, não é mesmo? Se jogando a longas braçadas em uma piscina de mesmices e ingenuidades constantes Ladrões de Joias: Começa o Assalto busca na lógica de outros filmes do gênero prender a atenção do público com seu entretenimento repleto de ingenuidades. Muito pouco para aguentarmos intermináveis duas horas de projeção.

 

 

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01/05/2025

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Pausa para uma série: 'Os Ladrões de Diamante'


Com um roteiro bem bolado que explora uma tentativa de roubo cinematográfico, chegou sem muito ‘oba oba’ na Netflix uma intrigante minissérie policial de apenas três capítulos que consegue jogar uma lupa para um amplo contexto de uma Inglaterra no início dos anos 2000. Produzido por Guy Ritchie e tendo no centro dos holofotes os pontos de vistas ladrões, polícia e imprensa, Os Ladrões de Diamante é um prato cheio pra quem curte true crime!

Achada no Zaire em meados dos anos 1990, a cobiçada pedra preciosa Millenium Star, da De Beers (empresa sul-africana-britânica líder mundial na indústria de diamantes), um diamante com mais de 200 quilates, ganhou os olhares do mundo na virada do milênio sendo exposta no mega empreendimento Domo do Milênio. Essa última, uma grande construção em forma de cúpula na Península de Greenwich, no sudeste de Londres.

Com tantas notícias sobre, chamou a atenção de um grupo de ladrões que aos poucos foram se organizando para executar um roubo que tinha tudo para ser o maior já feito na história da criminalidade. Em três dinâmicos capítulos, essa série nos mostra os bastidores desse crime ousado que apresenta muitas surpresas, pois, a polícia desconfiada por algumas movimentações, também armou uma estratégia bem criativa nesse duelo entre os heróis e os criminosos.

O projeto consegue ampliar o contexto de alguns porquês através das ações para o novo milênio e as mudanças na terra da Rainha, onde o primeiro-ministro Tony Blair e toda a base governamental buscava cada vez mais impulsionamentos nos atrativos culturais e financeiros das suas regiões. A justiça, a imprensa, também ganham força ao longo dos capítulos. Podemos acompanhar as conclusões desse caso através também dessas variáveis importantes.

Mas a sacada principal da série é a mescla de ficcional com documental, uma fórmula inteligente que se mostra dinâmica preparando o terreno para as surpresas. E bem que poderia virar um filme só de ficção futuramente! A narrativa explora recortes da vida do líder dos assaltantes de joias, numa espécie de antes e depois onde as verdades saem com mais facilidade.

Os Ladrões de Diamante entrou sem muita divulgação na Netflix, mas acreditem: é uma verdadeira pérola a ser descoberta! Pra quem curte True Crime então...


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Pausa para uma série: 'O Eternauta'


O silêncio e o estrondo nas relações humanas. Enfim chegou na Netflix a tão aguardada série argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, baseada na clássica história em quadrinhos de ficção científica criada por Héctor Germán Oesterheld (em colaboração com o desenhista Francisco Solano López), crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos. Tem invasão alienígena, dilemas dilacerantes, viagem no tempo, várias surpresas e muito mais!

Com uma veia crítica afiada e apontada para os deslizes da sociedade em momentos de crise, essa releitura da criação de Oesterheld nos joga para uma gangorra de paranoia aliada ao medo concreto onde um novo sentido do confiar cria barreiras e dilemas, escancarando em camadas sutis as relação familiares e de amizade. Irmãos, pais e filhos, amigos de longa data se veem na necessidade de ativar o instinto de sobrevivência, colocando qualquer laço à prova.

Sempre renovando uma amizade de quase 40 anos, quatro amigos se reúnem toda sexta-feira para jogar truco. Num desses dias, algo estranho acontece. Ao perceberem estar sob uma misteriosa e mortal nevasca, Juan Salvo (Ricardo Darín) e o restante do grupo precisarão encontrar soluções para sobreviver quando os perigos se mostram presentes. Conforme os dias passam começam a entender que uma invasão aconteceu e nada será como antes.

Ao longo dos seis episódios dessa primeira temporada, que começa com um piloto morno mas que apara o terreno para os cinco restantes deixarem nossos olhares não saírem de perto da televisão, buscamos decifrar um enorme contexto – ainda pouco explicado – através de um pai em busca da sua única filha.

Entre caminhadas solitárias e ações em grupo percebemos ao longo dessa primeira temporada a essência do que está nos quadrinhos. Trazendo as prováveis uniões e a ação conjunta a favor de um objetivo, esse espírito do ‘herói coletivo’ está nítido desde os primeiros minutos. As linhas tênues entre a moral e a ignorância também se mostra presente quase numa espécie de investigação sobre o comportamento humano em momentos decisivos.

Como tudo mudou é capaz de você mudar também. Com os pés no chão sem deixar se levar pelas infinitas possibilidades mirabolantes de caminhos para se reconstruir essa emblemática história, o criador e roteirista da série Bruno Stagnaro explora os conflitos de seus personagens de forma inteligente nos levando para embates que tem como base a: superação vs limitação.

Para criar essa distopia, de invasão do mundo que conhecemos, é importante mencionarmos a impecável direção de arte que com muita criatividade consegue ser um importante elemento. Realmente nos sentimos passeando pelas famosas ruas de Buenos Aires. As filmagens duraram cerca de 5 meses na capital argentina, e se espalharam em cerca de 50 locações. Além disso, contou com quase 3.000 artistas entre elenco e figurantes.

Com ainda muitas pontas soltas e apresentando apenas um pequeno pedaço de toda uma enorme história cheia de reviravoltas, O Eternauta chegou com sua primeira parte buscando explorar cada cantinho dessa distopia que traça pelas entrelinhas vários paralelos com a realidade. E atenção: logo nos créditos do último episódio dessa jornada de seis episódios, a confirmação: teremos uma segunda temporada! Aguardaremos!


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