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03/06/2025

Crítica do filme: 'O Jogo da Viúva'


Um intrigante passeio psicológico e os motivos que levam até um crime são duas variáveis destrinchadas no novo sucesso da Netflix, o longa-metragem espanhol O Jogo da Viúva. Inspirado nos acontecimentos do conhecido Caso Patraix, ocorrido em Valência, Espanha, em agosto de 2017, este true crime, ao longo de duas horas de projeção, nos conduz pelas complexidades da mente e o atropelamento dos princípios que guiam o comportamento humano.

A enfermeira Maje (Ivana Baquero) é casada faz menos de um ano com um engenheiro e entra numa reta de desilusões e infelicidade. Depois de inúmeras traições por parte dela, consegue seduzir um conhecido do trabalho, o também enfermeiro Salva (Tristán Ulloa), e o convence de executar um plano diabólico: matar o marido dela. Quando o assassinato acontece, as peças desse jogo da viúva vai caindo aos poucos por conta de uma investigação detalhada guiada por Eva (Carmen Machi), a detetive responsável pelo caso.

Longos atos, dedicados ao desenvolvimento dos conflitos, revelam dois pontos de vista centrais neste tabuleiro macabro, apresentando, em detalhes, seus elementos mais impactantes. Num primeiro instante, o olhar da investigação policial através de Eva, uma experiente detetive da polícia espanhola que começa aos poucos perceber os verdadeiros caminhos para a solução desse crime. Num segundo momento, somos convidados a um retrato psicológico sombrio de uma mulher manipuladora e pronta pra tirar o marido do caminho.

Dessa forma, o filme ganha ritmo e olhar de curiosidade com um boomerang de informações, um vai e vém que mostra o antes e depois desse crime que chocou a Espanha. Buscar traçar os caminhos para a inconsequência que se somam a um jogo pra satisfazer desejos sombrios, num primeiro momento parece arriscado já que o filme é muito mais um suspense policial do que um suspense psicológico. Mas a fórmula acaba dando certo.

Mas não espere momentos de alta tensão ou alguma reviravolta, não há muitas inovações em relação a outros projetos sobre investigações de assassinatos. O roteiro é competente, mostra todos os lados dos envolvidos, mesmo com apenas pinceladas num primeiro momento, um abre alas frio e que busca logo se encontrar com o clímax. Mesmo sabendo sobre o desfecho, a estrada até os motivos geram reflexões e são bem contextualizadas.  

O Jogo da Viúva logo alcançou o Top 10 da Netflix, reforçando o sucesso de obras audiovisuais True Crime com o público. Gosta de filmes policiais? Veja e tire suas próprias conclusões.


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25/05/2025

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Crítica do filme: 'Thunderbirds: A Força Aérea de Elite dos EUA'


Pouca gente sabe mas a maior potência bélica do planeta tem um ‘Dream Team’ na sua força aérea que se prontifica a percorrer os Estados Unidos, e outros lugares do mundo, realizando acrobacias aéreas de tirar o fôlego! Pegando um recorte que avança todo o período de certificação de novos integrantes dessa equipe de pilotos de elite, chegou na Netflix um documentário que abre as portas dessa que é uma das mais antigas equipes acrobáticas em atividade, os Thunderbirds.

Com o nome inspirado no ‘Pássaro-Trovão’, criatura lendária que faz parte das mitologias de algumas culturas indígenas norte-americanas, os Thunderbirds tendo como ferramenta o caça supersônico F-16C Fighting Falcon, muitas vezes percorrendo quatro vezes a força da gravidade, em situações de extremo perigo.   

Guiados pelos depoimentos do Tenente-Coronel Justin Elliott — nome de guerra ‘Astro’ — líder do esquadrão que se despede do posto de comandante da frota, acompanhamos a jornada rumo à excelência e à construção da confiança, em um ciclo contínuo de renovação com a chegada anual de novos pilotos às posições de destaque. Personagem central da narrativa, Elliott é um pai de família que sonhava em ser astronauta, mas acabou trilhando um caminho diferente, encontrando nas acrobacias perigosas uma nova missão de vida.

É uma pena que a narrativa se perca em um foco excessivo no processo, um verdadeiro calcanhar de aquiles comum em obras de apresentação. Como mencionado, acompanhamos alguns meses do período de certificação, mergulhados em uma rotina árdua marcada por erros, correções e uma repetição incessante. Os poucos conflitos que ganham destaque na tela estão ligados ao perfeccionismo extremo exigido pela função — onde um único erro pode significar a diferença entre a vida e a morte.

Sem tanta profundidade, mesmo que passe por tragédias e conflitos que acompanharam a trajetória dessa equipe desde sua criação no início dos anos 1950, o documentário se coloca numa posição de mera apresentação desse esquadrão que não é tão conhecido assim pelo mundo. Quem curte aviões e todo seu contexto vai se deliciar com imagens de tirar o fôlego. Já quem procura um roteiro mais profundo - com fortes desenrolares de conflitos que se mostram presentes - pode se decepcionar.   

 

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16/05/2025

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Pausa para uma série: 'Procurados - EUA: Osama Bin Laden'


Na manhã de 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, o mundo assistiu, estarrecido, a um ataque aéreo sem precedentes contra um dos maiores símbolos dos Estados Unidos. A partir daquele momento, iniciou-se uma longa caçada — atravessando dois governos — para capturar o principal responsável pelo atentado: o líder da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda.

Percorrendo detalhes poucas vezes vistos, com entrevistas emocionadas de personagens importantes do governo norte-americano, da CIA, de forças especiais, e uma recriação impecável de situações ocorridas nesse período de angústia e ansiedade com o objetivo de encontrar Osama Bin Laden, a excelente série documental Procurados - EUA: Osama Bin Laden nos faz voltar no tempo para entender melhor os pormenores dessa caçada.

Dividida em três episódios, a minissérie explora os acontecimentos que antecederam e cercaram a operação que culminaria em seu objetivo final. Em meio a mudanças no comando do poder, pessoas que participaram diretamente ou acompanharam de perto as reuniões secretas tornam-se peças-chave na construção da narrativa. A força de seus depoimentos sustenta a base desta investigação documental, que lança luz sobre um dos episódios mais marcantes da história norte-americana.

Da difícil tarefa de reviver os dias de tensão até a conclusão de um árduo trabalho – que mexeu com muitas vidas pessoais - quando o principal símbolo do terror foi localizado e morto em um esconderijo nos arredores de uma cidade no Paquistão, os depoimentos dos analistas da CIA são estarrecedores, um recorte de emoções que marcou a trajetória de cada uma dessas pessoas.

Pelas entrelinhas, enxergamos questões políticas, divergências conflitantes, onde o medo do fracasso se torna uma variável a se prestar a atenção. De George W. Bush a Barack Obama: o primeiro, presidente durante os atentados e os dias de tensão que se seguiram; o segundo, encarregado de cumprir a missão que se tornou um dos principais objetivos de seu governo, acompanhamos decisões cruciais que levaram ao sucesso da operação final ocorrida em 2 de maio de 2011.

Procurados - EUA: Osama Bin Laden é mais uma série consistente da Netflix dentro desse caminho de explorar com ampla investigação fatos marcantes dentro de acontecimentos chocantes nos Estados Unidos. Estão no catálogo da líder dos streamings também, Procurados - EUA: O.J. Simpson e Procurados - EUA: O Atentado à Maratona de Boston.


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12/05/2025

Crítica do filme: 'Casamento Letal nos EUA'


Uma ligação durante a madrugada para um serviço de emergência da Carolina do Norte seria o início de uma história cheia de variáveis que colocaria a polícia de frente com as possíveis verdades de um fato que num primeiro momento parecia ser uma ação em legítima defesa. Dirigido por Jessica Burgess e Jenny Popplewell, Casamento Letal nos EUA, impactante documentário True Crime que chegou na NETFLIX nesse início de maio, nos leva - a partir de vários pontos de vistas - para uma disputa por narrativas.

Jason Corbett era um empresário irlandês bem-sucedido que perdeu a primeira esposa muito cedo e encontrou em Molly Martens um novo amor. No início do relacionamento, ainda morando ainda na Ilha Esmeralda, resolve se mudar para os Estados Unidos ao lado dos dois filhos pequenos para se jogar nesse relacionamento. Anos depois, em 2015, sua vida chegaria ao fim de forma violenta, em sua própria casa, pelas mãos da esposa e do sogro (um ex-agente do FBI).

A busca pela verdade, no qual o projeto investigativo coloca na ponta do seu discurso, é ampliada com contextos do passado de todas as pessoas envolvidas no crime somando-se a uma série de entrevistas com amigos próximos, familiares, forças policiais e até gravações dos primeiros interrogatórios. A alegação de legitima defesa é construída como a base principal de Molly e seu pai.

Assim, ao longo dos anos, a história é contada de forma imparcial, com possibilidades de falas de ambos os lados. Algumas reviravoltas são vistas ao longo do tempo a partir das estratégias de defesa e também fatos que são comprovados sobre o passado e as realidades nua e cruas do andamento do casamento de Jason e Molly. Os filhos de Jason, ganham um enorme espaço que mostra toda a dor e sofrimento que vivem com a até então não solução para o ocorrido.    

O circo midiático que tomou conta do caso também é citado - tanto nos Estados Unidos quanto na Irlanda – mesmo que sem muita profundidade - com a amostra das disputas de narrativas. O papel da imprensa no caso, como na maioria das coberturas de um crime violento, fica sempre na linha tênue onde o bom senso algumas vezes é driblado.  

Casamento Letal nos EUA chama a atenção desde seu início, deixando o público com as reflexões para se chegar em preenchimentos das lacunas. Os desenrolares jurídicos e condenações também ganham espaço para um desfecho desse crime violento que chocou a Carolina do Norte 10 anos atrás.


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11/05/2025

Crítica do filme: 'À Altura'


Os duelos que dizem muito sobre si mesmo. Buscando envolver o público com uma rivalidade acirrada entre um professor e seu aprendiz, profissionais de um jogo de tabuleiro abstrato e considerado o mais antigo jogado até o presente, o longa-metragem sul-coreano À Altura consegue criar um universo fascinante de reflexões captando paralelos das emoções que encontram interseções sobre a disciplina e lapsos morais. Escrito e dirigido por Kim Hyeong-ju esse projeto, que chegou na NETFLIX em 2025, é um grande achado em meio a tantas ofertas pelos streamings.

Cho Hun-hyun (Lee Byung-hun) é um famoso jogador de GO, vencedor de títulos nacionais e internacionais, se tornando o rosto da Coreia do Sul nesse jogo milenar. Um dia, se depara com um jovem prodígio, Lee Chang-ho (Yoo Ah-in), e logo vira seu professor. Com o passar dos anos, mestre e aluno estabelecem uma forte relação que é colocada à prova quando Lee passa a conquistar muitas vitórias e vencer seu professor.

Inventado na China há mais de 2500 anos, o Go é um jogo individual no estilo ‘um contra um’ onde o objetivo – tendo em mãos pedras brancas e pretas - é cercar mais território do que o oponente. A partir desse game pouco conhecido no Brasil, que usa da lógica e raciocínio rápido para vantagens, À Altura se desenvolve em um roteiro cheio de questões existenciais onde duas características saltam aos olhos e caminham como uma porta de entrada para as emoções dos personagens.

Uma delas é a frustração. Uma variável pulsante e jogada para reflexão, logo se colocando na vitrine dos acontecimentos. Por meio desse sentimento cheio de ambiguidades vamos explorando conflitos profundos que dizem muito sobre as personalidades dos dois protagonistas. A outra, é a relação paternal que se estabelece com o forte vínculo entre as duas partes, algo que se torna insustentável pelas derrapadas das emoções que deixam laços translúcidos e à beira de um rompimento. As disputas no tabuleiro logo viram confrontos pessoais e a narrativa se joga em cima dessa questão.

Diferente de muitas outras histórias onde há um embate entre professor e aprendiz, em À Altura o discurso se amplia repleto de questões sociais e com um contextualização que se movimenta rapidamente, apresentando através da dor e sentimentos conflitantes seu verdadeiro epicentro para debates. O roteiro, muito bem construído, nos leva até os quatro cantos dessa relação conturbada, que tem dois pontos de vistas bem diferentes, e parece se construir no campo das ilusões, nas fraquezas, no temido sopro do fracasso.   


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10/05/2025

Crítica do filme: 'Nonnas'


Nada como o cheirinho que traz lindas lembranças. Partindo da dor do luto encontrando forças para um despertar de uma veia empreendedora, o novo trabalho do cineasta Stephen Chbosky (diretor dos emocionantes As Vantagens de ser Invisível e Extraordinário) chega para conquistar nossos corações através da culinária. Baseado na vida de Joe Scaravella, Nonnas, lançamento da Netflix desse início de maio, tem um leque de personagens carismáticos que se encontram em um roteiro que reflete sobre amor, família, tradição e redescoberta da vida.

Joe (Vince Vaughn), um simpático homem de meia idade que trabalha com consertos automotivos, acaba de perder a mãe. Nesse momento de luto, lembranças das comidas que ela e sua vó faziam dominam suas lembranças. Um dia, com o dinheiro da herança, resolve comprar um restaurante e fazer dele um lugar especial. Para isso, contará com a ajuda de amigos de longa data e quatro mulheres na melhor idade que tem receitas deliciosas para atrair o público.    

O clima fúnebre dos primeiros minutos desse projeto – bem escancarado pela paleta de cores frias remetendo a tristeza e isolamento – vão de encontro a necessidade de solitude imerso na desgraça do luto. Dentro dessa razão existencial, algo que todos nós vamos passar em algum momento de nossas vidas, um renascer logo se apresenta através das memórias de família. Junto a isso, todas as formas de amores de uma vida se encontram em mesmo momento e a maneira como somos conduzidos a descobrir os temperos dessa história fazem toda a diferença.

Em uma simpática narrativa que explora com eficiência os caminhos de um renovar, da euforia até os desencontros, mensagens bonitas são vistas a todo instante. Se distanciando de qualquer pretensão, ou forçar situações, o desenvolvimento do protagonista e do restante dos personagens andam em harmonia. Assim, abre-se espaço para ótimos temas se desenvolverem, como: questões relacionadas a melhor idade, os caminhos até o empreender, até mesmo raízes e rivalidades em uma nova Iorque plural.

Mesmo esbarrando em clichês dos mais banais, prevalece a força de contar com simpatia uma história baseada em partes reais que remete ao passado e chega por memórias. O amor por cozinhar, a comida de vó, ganham o reforço do entusiasmo de uma alegria contagiante e que logo se iluminam – agora com cores quentes - nos atos finais. Nonnas é aquele filme que além de despertar a fome pode nos levar de volta para cantinhos esquecidos da nossa própria trajetória.


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Crítica do filme: 'Má Influência'


É bem difícil escrever sobre uma obra onde olhamos para todos os lados e não nos desprendemos de um vazio. O longa-metragem espanhol Má Influência, que chegou essa semana na Netflix, apresenta sua ingênua trama a partir de um discurso repleto de incongruências. De drama teen convencional, avança para um suspense sem pé nem cabeça culminando em um desfecho forçado tendo um nada agradável desfile de personagens sem um pingo de carisma.

Reese (Eléa Rochera) é uma jovem estudante do ensino médio que ultimamente vem recebendo uma série de ameaças de um stalker misterioso. Preocupado, seu pai Bruce (Enrique Arce, o Arturo de La Casa de Papel) contrata Eros (Alberto Olmo), que está preso em final de pena, para ser uma espécie de guarda-costas da filha. Aos poucos, Reese e Eros vão se aproximando e uma paixão intensa vai nascendo.

Dirigido por Chloé Wallace o filme passa que nem uma flecha por assuntos que encostam na realidade não avançando além da superfície, entre outros fatores, pelo péssimo desenvolvimento de personagens que veem seus conflitos cair na mesmice e de forma redundante. Debates rasos sobre conflitos de classes sociais, buscar algum sentido para as amizades nocivas e um romance insosso são alguns dos pontos que nos fazem querer contar os minutos para o filme acabar.

Os dois lados de uma juventude perdida com o poder da informação, com constantes embates nos laços familiares, se tornam pontos que ficam distantes, não conseguindo elos para entendermos melhor o que o discurso propõe. Quando a narrativa busca uma imersão no sensual, um clímax previsível desde o primeiro minuto, é a constatação que essa obra usa e abusa de um paraíso infinito de clichês.

Sonolento drama existencial? Suspense sem tensão? Romance água com açúcar? As definições são inúmeras. É um verdadeiro teste de paciência chegar até o final desse projeto. Se tivesse um prêmio framboesa de ouro dos lançamentos direto nos streamings, esse filme seria um forte candidato a ser indicado.


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09/05/2025

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Pausa para uma série: 'As Quatro Estações do Ano'


Os altos e baixos do matrimônio. Buscando uma atualização de uma obra homônima lançada no início da década de 1980, escrita e dirigida por Alan Alda – que faz uma pequena participação aqui – o novo seriado da Netflix As Quatro Estações do Ano traz aos olhos do público uma história bem-humorada, madura, que envolve questões sobre o casamento na visão de três casais, amigos de longa data. Já podemos considerar essa como uma das ótimas adições ao catálogo da toda poderosa do mundo dos streamings.

E o motivo dos elogios é simples: É muito fácil se identificar! Desde a reviravolta do primeiro episódio, é provável que você seja capturado por essa história! Com um texto leve, divertido, sem esquecer de dar um pulo em camadas além do superficial – principalmente quando embates mais evidentes saltam na tela – ao longo de oito episódios dessa (provável) primeira temporada, vamos navegando no mar das instabilidades de uniões que para muitos parecem ser perfeitas.

Um grupo de amigos animados se encontram sempre que tem uma folguinha para compartilhar de mais momentos juntos. Assim, somos apresentados aos casais: Kate (Tina Fey) e Jack (Will Forte), Danny (Colman Domingo) e Claude (Marco Calvani), Anne (Kerri Kenney) e Nick (Steve Carell). A questão que gira em torno de tudo que acompanhamos é a de que Nick resolve se separar, pegando a todos de surpresa. Esse fato apresenta mais conflitos ao grupo de amigos, principalmente quando ele assume um novo romance, com Ginny (Erika Henningsen), uma mulher mais jovem.

Com muito episódios escritos por Tina Fey, esse projeto segue uma fórmula bem definida com um quase ‘começo, meio e fim’ a cada dois episódios. Isso ocorre pois as estações do ano viram quatro atos, então, a cada dois capítulos vemos um novo reencontro. Os ganchos para tais deslizam entre o tema central (a já mencionada separação de um dos casais) e atualizações sobre o cotidiano dos períodos. Um mérito que fica bem exposto é a forma como abrem-se camadas para todos os casais e seus conflitos. As entrelinhas são poucas.

Com locações que circularam entre Nova Iorque e a Califórnia, essa série que deve chegar rapidamente ao TOP 10 da plataforma, apresenta também uma maturidade nos diálogos levando esse projeto para um outro patamar em comparação a muitas obras (filmes ou séries) que buscaram o mesmo caminho: falar com propriedade sobre relacionamentos. Ajuda, o ótimo elenco que apresenta um carisma impressionante com seus maravilhosos e bem entrosados personagens.

Os conflitos de casais sempre geram muitas reflexões, em As Quatro Estações do Ano não é diferente. A fácil identificação é trunfo bem desenvolvida, segue na linha do existencial sem parafernalhas. Ao fim do oitavo episódio fica um gostinho de quero mais. Quem sabe não vemos mais uma temporada em breve. Ganchos tem aos montes!


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03/05/2025

Crítica do filme: 'Exterritorial'


Uma mãe em busca do paradeiro do seu único filho é o ponto central de Exterritorial, longa-metragem alemão que chegou na Netflix nesse primeiro semestre de 2025. Com a ação misturada no drama não se mostrando eficiente, ficando evidente um desequilíbrio provocado pela falta de criatividade, achismos, absurdos longe de qualquer realidade e uma porção de clichês, o projeto escrito e dirigido por Christian Zübert é mais uma decepção que chega nas plataformas de streamings.

Sara (Jeanne Goursaud) é uma ex-soldada que serviu nas forças especiais alemãs no Afeganistão. Mãe solteira, busca uma vida melhor junto com seu filho. Decidida a se mudar da Alemanha para os Estados Unidos, lar do falecido pai da criança, vai em busca do seu visto de trabalho no consulado norte-americano em Frankfurt. Durante sua presença no local, seu filho some e ela precisará encarar vários desafios para descobrir seu paradeiro.

A fuga do bom senso para com a realidade, do óbvio, é um calcanhar de aquiles que segue durante a projeção. Não é possível imaginarmos um jogo de gato e rato dentro de um consulado norte-americano sem que não tenha uma rápida solução! Nesse mundo imaginativo que é colocado no roteiro, dribles inacreditáveis no maior centro de segurança do mundo são vistos aos montes. É pulo de sacadas, roubos facilitados de cartões de acesso, protagonista que dribla de todas as formas seus obstáculos. Em resumo, um show de cenas absurdas que se desvincula dos pés no chão.  

A estrutura da parte de ação dramática (conflitos, complicações, desfechos...) é um verdadeiro caos. O maior exemplo disso é o terrível uso da condição de transtorno pós-traumático – vivido pela protagonista - uma questão que sempre gera boas reflexões e que aqui se prende num quarto vazio mencionado apenas em situações de risco, pouco desenvolvido e dado como justifica para qualquer revés. Definições simplistas são algo constante nesse longa-metragem de 110 minutos.

Desde o seu início da pra perceber que o foco é total na ação, como se o bom entretenimento se resumisse a isso. As coreografias dos combates são bem executadas mas completam apenas a camada superficial da jornada da heroína. Havia tanto para ser explorado! A personagem principal é muito mal desenvolvida e isso é quase um atestado de fracasso.


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02/05/2025

Crítica do filme: 'Ladrões de Joias: Começa o Assalto'


Trazendo justificativas superficiais e nada desenvolvidas para um conflito moral entre pai e filho como epicentro de um roteiro onde o heroísmo se resume a um conjunto de clichês, o longa-metragem indiano Ladrões de Joias: Começa o Assalto é um show de mentirinhas. Dirigido por Robbie Grewal e Kookie Gulati, e compondo o catálogo da Netflix, esse é mais um daqueles filmes que entram para a galeria dos longas-metragens esquecíveis de 2025.

Rehan (Saif Ali Khan) é um experiente e charmoso ladrão de joias que se esconde durante anos em Budapeste para não ser preso. Quando sua família fica na mira de Rajan (Jaideep Ahlawat), um audacioso e sangrento criminoso ligado ao mundo do contrabando de artes, o protagonista precisará planejar e executar o roubo da Red Sun, a joia mais valiosa da África.  

É válido mencionar que não há pretensões nessa obra! A trama encontra seu oásis na jornada já batida de um anti-herói (aqui camuflado de grande herói) não se estendendo em camadas para um amplo desenvolvimento de outros personagens. Mesmo aos trancos e barrancos, o vilão rouba a cena muitas vezes através do chocar de ações violentas dentro de uma narrativa que explora o faz de conta, o lugar seguro onde tudo é possível.    

O desenvolvimento dramático do protagonista passa por instabilidades no roteiro ao não conseguir conectar-se com o único ponto interessante que se apresenta: a relação pai e filho. Tudo é ligado de alguma forma a esse conflito moral mas o entendimento só chega por entrelinhas forçadas pelos impulsos incontroláveis de traduzir uma relação através da violência, deixando os rastros da moral não chegarem as reflexões.

Um impiedoso vilão, um anti-herói indestrutível, um interesse romântico em meio ao caos, um desfecho previsível com cenas de ação a todo instante. Já vimos isso em outros carnavais, não é mesmo? Se jogando a longas braçadas em uma piscina de mesmices e ingenuidades constantes Ladrões de Joias: Começa o Assalto busca na lógica de outros filmes do gênero prender a atenção do público com seu entretenimento repleto de ingenuidades. Muito pouco para aguentarmos intermináveis duas horas de projeção.

 

 

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01/05/2025

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Pausa para uma série: 'Os Ladrões de Diamante'


Com um roteiro bem bolado que explora uma tentativa de roubo cinematográfico, chegou sem muito ‘oba oba’ na Netflix uma intrigante minissérie policial de apenas três capítulos que consegue jogar uma lupa para um amplo contexto de uma Inglaterra no início dos anos 2000. Produzido por Guy Ritchie e tendo no centro dos holofotes os pontos de vistas ladrões, polícia e imprensa, Os Ladrões de Diamante é um prato cheio pra quem curte true crime!

Achada no Zaire em meados dos anos 1990, a cobiçada pedra preciosa Millenium Star, da De Beers (empresa sul-africana-britânica líder mundial na indústria de diamantes), um diamante com mais de 200 quilates, ganhou os olhares do mundo na virada do milênio sendo exposta no mega empreendimento Domo do Milênio. Essa última, uma grande construção em forma de cúpula na Península de Greenwich, no sudeste de Londres.

Com tantas notícias sobre, chamou a atenção de um grupo de ladrões que aos poucos foram se organizando para executar um roubo que tinha tudo para ser o maior já feito na história da criminalidade. Em três dinâmicos capítulos, essa série nos mostra os bastidores desse crime ousado que apresenta muitas surpresas, pois, a polícia desconfiada por algumas movimentações, também armou uma estratégia bem criativa nesse duelo entre os heróis e os criminosos.

O projeto consegue ampliar o contexto de alguns porquês através das ações para o novo milênio e as mudanças na terra da Rainha, onde o primeiro-ministro Tony Blair e toda a base governamental buscava cada vez mais impulsionamentos nos atrativos culturais e financeiros das suas regiões. A justiça, a imprensa, também ganham força ao longo dos capítulos. Podemos acompanhar as conclusões desse caso através também dessas variáveis importantes.

Mas a sacada principal da série é a mescla de ficcional com documental, uma fórmula inteligente que se mostra dinâmica preparando o terreno para as surpresas. E bem que poderia virar um filme só de ficção futuramente! A narrativa explora recortes da vida do líder dos assaltantes de joias, numa espécie de antes e depois onde as verdades saem com mais facilidade.

Os Ladrões de Diamante entrou sem muita divulgação na Netflix, mas acreditem: é uma verdadeira pérola a ser descoberta! Pra quem curte True Crime então...


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Pausa para uma série: 'O Eternauta'


O silêncio e o estrondo nas relações humanas. Enfim chegou na Netflix a tão aguardada série argentina O Eternauta, protagonizada por Ricardo Darín, baseada na clássica história em quadrinhos de ficção científica criada por Héctor Germán Oesterheld (em colaboração com o desenhista Francisco Solano López), crítico ferrenho aos golpes de estado que marcaram o cotidiano dos nossos vizinhos. Tem invasão alienígena, dilemas dilacerantes, viagem no tempo, várias surpresas e muito mais!

Com uma veia crítica afiada e apontada para os deslizes da sociedade em momentos de crise, essa releitura da criação de Oesterheld nos joga para uma gangorra de paranoia aliada ao medo concreto onde um novo sentido do confiar cria barreiras e dilemas, escancarando em camadas sutis as relação familiares e de amizade. Irmãos, pais e filhos, amigos de longa data se veem na necessidade de ativar o instinto de sobrevivência, colocando qualquer laço à prova.

Sempre renovando uma amizade de quase 40 anos, quatro amigos se reúnem toda sexta-feira para jogar truco. Num desses dias, algo estranho acontece. Ao perceberem estar sob uma misteriosa e mortal nevasca, Juan Salvo (Ricardo Darín) e o restante do grupo precisarão encontrar soluções para sobreviver quando os perigos se mostram presentes. Conforme os dias passam começam a entender que uma invasão aconteceu e nada será como antes.

Ao longo dos seis episódios dessa primeira temporada, que começa com um piloto morno mas que apara o terreno para os cinco restantes deixarem nossos olhares não saírem de perto da televisão, buscamos decifrar um enorme contexto – ainda pouco explicado – através de um pai em busca da sua única filha.

Entre caminhadas solitárias e ações em grupo percebemos ao longo dessa primeira temporada a essência do que está nos quadrinhos. Trazendo as prováveis uniões e a ação conjunta a favor de um objetivo, esse espírito do ‘herói coletivo’ está nítido desde os primeiros minutos. As linhas tênues entre a moral e a ignorância também se mostra presente quase numa espécie de investigação sobre o comportamento humano em momentos decisivos.

Como tudo mudou é capaz de você mudar também. Com os pés no chão sem deixar se levar pelas infinitas possibilidades mirabolantes de caminhos para se reconstruir essa emblemática história, o criador e roteirista da série Bruno Stagnaro explora os conflitos de seus personagens de forma inteligente nos levando para embates que tem como base a: superação vs limitação.

Para criar essa distopia, de invasão do mundo que conhecemos, é importante mencionarmos a impecável direção de arte que com muita criatividade consegue ser um importante elemento. Realmente nos sentimos passeando pelas famosas ruas de Buenos Aires. As filmagens duraram cerca de 5 meses na capital argentina, e se espalharam em cerca de 50 locações. Além disso, contou com quase 3.000 artistas entre elenco e figurantes.

Com ainda muitas pontas soltas e apresentando apenas um pequeno pedaço de toda uma enorme história cheia de reviravoltas, O Eternauta chegou com sua primeira parte buscando explorar cada cantinho dessa distopia que traça pelas entrelinhas vários paralelos com a realidade. E atenção: logo nos créditos do último episódio dessa jornada de seis episódios, a confirmação: teremos uma segunda temporada! Aguardaremos!


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26/04/2025

Crítica do filme: 'Explosão no Trem-Bala'


Como lidar com uma situação drástica de risco nacional? Buscando respostas para essa pergunta, o longa-metragem japonês Explosão no Trem-Bala mistura ação, policial e drama trazendo os pormenores de conflitos que se cruzam quando um trem com mais de 300 passageiros está em risco de explodir. Remake de um badalado filme japonês lançado em meados da década de 1970 - O Trem-Bala - ganha fôlego trazendo os pormenores em forma de crítica social.

Tinha tudo para ser mais um dia calmo e tranquilo para Kazuya Takaichi (Tsuyoshi Kusanagi), o responsável por um moderno trem que faz um longo percurso com destino final na capital japonesa, Tóquio. A questão é que logo nos primeiros minutos de viagem acaba sendo avisado pelo centro de controle que há várias bombas instaladas ao longo da composição. Correndo contra o tempo em busca de soluções, Kazuya e outros personagens importantes farão de tudo para salvar os passageiros.

O roteiro consegue de forma bem inteligente apresentar seu caos das emoções em momentos decisivos onde todos os personagens encontram seus espaços nas camadas que se abrem. Aliado a uma narrativa cheia de adrenalina e tensão – com cenas de ação bem executadas - essa se torna uma união satisfatória para as mais de duas horas de projeção.

E não pensem que os clichês atrapalham. Contido em quase todas as produções do gênero ação, aqui há um drible no óbvio trazendo para a trama central um interessante cardápio repleto de críticas sociais. Desde o posicionamento do governo japonês em casos de terrorismo, passando por outras questões políticas - até mesmo a força das redes sociais nos tempos atuais -  o longa-metragem que chegou nesse final de abril na Netflix é um equilibrado emaranhado de ações e consequências.  

Com seu abre-alas ao melhor estilo ‘Missão Impossível’, Explosão no Trem-Bala traz para os tempos modernos uma história parecida já contada 50 anos atrás mas dando seu próprio toque de originalidade. Esse é um filme que consegue prender a atenção.


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25/04/2025

Crítica do filme: 'O Melhor do Mundo'


Tudo acontece por uma razão. Trazendo uma previsibilidade desde seu primeiro minuto, reunindo uma série de situações com uma nada convincente força dramática, o longa-metragem mexicano O Melhor do Mundo se joga numa estrada de mão única com o foco em transformar um conflito paternal em algo leve e descontraído não apagando o caminho sonolento que se mostra presente.

Gallo (Michel Brown) é um workholic clássico. Produtor de um programa sensacionalista, vive 24 horas para seu trabalho fato que deixa sua relação com a família muito distante. Quando sua ex-esposa Alicia (Fernanda Castillo) entrega um segredo guardado a sete chaves ele embarca em uma autorreflexão com muitas descobertas, ao lado do único filho, Benito (Martino Leonardi).

Com o foco nos conflitos na paternidade, com situações que buscam encontrar seus pares na vida real, esse projeto mexicano dirigido por Salvador Espinosa, com roteiro assinado pela dupla Tato Alexander e Mariano Vera, busca explorar as emoções geradas pelas histórias que contam. Por ser muitas vezes mirabolante, dentro das possíveis infinidades de qualquer ficção, deixa de lado as subtramas e parte para uma narrativa ingênua que acredita na força dos diálogos sobre as questões que aborda.

Mas transformar em uma bela jornada um assunto cheio de camadas - se adaptarmos para qualquer dilema real - tendo um protagonista nada carismático é quase um tiro no pé.  A mescla entre comédia e drama – tendendo mais ao primeiro – logo se torna um liquidificador descontrolado com ingredientes que mais se afastam do que se encontram. É muito açúcar nessa água!

Esse é um clássico caso de tentar atingir a mensagem sem saber costurar o desenvolvimento. O ponto final dessa jornada é trazer mensagens positiva dentro da certeza de que ‘pai é quem cuida’. Mas até se chegar lá, uma enrolada trama com muitos respiros testa nossa paciência a cada minuto.  


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23/04/2025

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Pausa para uma série: 'Congonhas: Tragédia Anunciada'


Vida, verdade, justiça. Trazendo ao público detalhes impressionantes da trágica história do maior acidente aéreo da América Latina, a minissérie documental investigativa Congonhas: Tragédia Anunciada parte da dor das famílias – com muitos depoimentos de cortar o coração - rumo a uma análise bem apurada sobre responsabilidades pelo ocorrido, chegando em fatores políticos e econômicos de um setor que vinha de uma série de instabilidades e incertezas.  

O fato, de repercussão internacional, se desenrolou da seguinte forma: na tarde de 17 de julho de 2007 um avião Airbus A320 da TAM decolava do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre rumo a um outro que fica no meio da cidade de São Paulo, Congonhas. Ao se aproximar para pouso, com chuva e tempo instável, não consegue frear a tempo e atravessa a pista se chocando em alta velocidade com um prédio da própria companhia aérea. A vida de quase 200 pessoas seriam perdidas nesse momento.

Após o ocorrido, uma série de situações transformaram esse acontecimento em um tabuleiro de muitas perguntas e respostas, inclusive com o circo midiático a todo vapor em cima de personagens que de alguma forma estavam no raio do contexto do que as investigações viriam a descobrir. A proposta dessa minissérie documental – feita com uma impressionante pesquisa – é exatamente, ao longo dos seus três impactantes capítulos, acompanharmos pontos de vistas, reportagens, depoimentos, situações e ações que fizeram parte dessa tragédia anunciada.

No seu capítulo inicial somos apresentados a história de familiares e o início de suas lutas por justiça pela morte de seus parentes. A partir do segundo capítulo, o projeto encontra um caminho detalhista para traduzir em uma narrativa imersiva a fatos e situações que circularam meses próximos da data do ocorrido. Confusões, ‘Apagão Aéreo’, e um certo caos no setor ganham argumentos em amplo contexto que vai de encontro a fatores políticos, escolhas e decisões da companhia aérea, da infraero e no centro dos holofotes a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Criada e roteirizada por Angelo Defanti (que em seu trabalho anterior, Veríssimo, nos brindou com um documentário belíssimo sobre o escritor Luís Fernando Veríssimo), Congonhas: Tragédia Anunciada apresenta a dor e a insensibilidade, um contraste marcante que não deixa de representar os fatos reais de uma tragédia que nunca será esquecida.

 

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20/04/2025

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Crítica do filme: 'iHostage'


O risco e o destino. Imagina você entrar numa loja badalada pra comprar um novo par de fones de ouvido e surpreendentemente se vê em uma situação de risco. Isso aconteceu em fevereiro de 2022 com algumas pessoas que estavam num estabelecimento da Apple localizado em um agitado point da capital da Holanda. Os detalhes desse episódio - que correu o mundo - virou um longa-metragem ficcional que acabou de chegar na Netflix.

Dirigido pelo cineasta Bobby Boermans e tendo um roteiro que consegue com eficácia e eficiência executar uma narrativa dinâmica que logo alcança a tensão mostrando de forma prática e sem enrolação personagens e seus conflitos - dentro e fora da loja - Ihostage se coloca na prateleira dos melhores thrillers lançados pela líder dos streamings nesse primeiro semestre de 2025.

Numa tarde, um homem chamado Ammar (Soufiane Moussouli) entra em uma loja da Apple, situada na badalada praça holandesa de Leidseplein, armado e tomando logo o lugar. Alguns clientes conseguem fugir para outras partes das dependências, menos Ilian (Admir Sehovic), um búlgaro que trabalha na Holanda e foi até a loja comprar um novo par de Air Pods. Logo a polícia é atualizada da situação e durante as horas que se seguem fazem de tudo para libertar os reféns.

O filme prende a atenção principalmente pelas subtramas bem desenvolvidas que abrem-se em camadas nos levando para uma série de emoções e variáveis incontroláveis. De um lado a situação dos reféns com o foco no que fica na linha de frente e em outros quatro deles que conseguem se trancar em um pequeno depósito. Do outro, as forças policiais na ramificação: negociação, força de elite e autoridades responsáveis pelo controle do evento de emergência.

Durante a narrativa o vai e vém entre o instinto de sobrevivência e a função de salvar vidas ganham a tônica com pelo menos um personagem representando cada variável instaurada. Esse arranjo, facilmente identificável, facilita e decifra entrelinhas deixando as portas abertas para fisgar o público. Dentro desse contexto, os pontos de vistas vão florescendo levando até um desfecho de acordo com o que ouve na realidade.

Ihostage e sua versão para esse True Crime tem apenas uma canção (Feeling Good) que ficou marcada na voz de Nina Simone e aqui ganha a interpretação de Michael Bublé. A letra dessa música abre e fecha com chave de ouro um discurso afiado que apresenta as armadilhas do destino mas também uma nova vida, um novo amanhecer que sempre chega após qualquer tempestade.


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18/04/2025

Crítica do filme: 'A Influencer Divina'


As lições de ajudar ao próximo. Todos nós em algum momento da vida passaremos por uma autoavaliação sobre nossa vida até determinado instante. Isso é um fato concreto e qualquer situação que apresenta um espelho disso pode fisgar a atenção. Pegando esse gancho e mostrando a transformação de uma jovem acomodada e mimada em uma pessoa que consegue olhar com mais carinho para o próximo, A Influencer Divina tem a boa intenção de reunir exemplos de segundas chances em uma história simples, interligada com a fé, e repleta de clichês. Até aí tudo bem.

Vocês perceberão que não há muito o que decifrar na história que opta muitas vezes pelo sentir ao vez do refletir. Olivia Golden (Lara Silva) é uma influenciadora de uma boutique de artigo de luxo e vive sua rotina pendurada no telefone e na interação com seus milhares de seguidores. Quando comete alguns deslizes no trabalho e decepciona todos ao seu redor acaba chegando até um abrigo para moradores de rua, comandado por um antigo colega de escola, um lugar onde aprenderá reais significados de compaixão que antes nem imaginara.

A questão é que dentro de uma ingenuidade tamanha, com situações previsíveis e óbvias, vai se modelando um desinteressante ‘aulão de autoajuda’. O sinal de alerta começa quando o roteiro tem uma virada que busca afundar em camadas os conflitos da protagonista. De comédia água-com-açúcar se arrisca no apresentar um drama existencial convencional, se apoiando nas relações interpessoais, na troca de experiências, algo que funciona sem grande impacto, se perdendo no convencional.

Mas nem tudo é uma tragédia e longe de mim querer afastar você de ter a oportunidade de conferir e tirar suas próprias conclusões. Esse longa-metragem de 105 minutos traz um debate curioso e bastante eficaz dentro de um contexto sobre as lições de ajudar ao próximo. Coloca para seu epicentro o universo dos influencers com críticas e reflexões camufladas por um tom cômico que encosta no nonsense. A raiz do influenciar, algo que frequentemente gera conversas produtivas na realidade, ganha diversos sentidos nesse ponto.

Dirigido pela cineasta Shari Rigby e protagonizado pela atriz mineira Lara Silva, conhecida por interpretar a personagem Éden na série fenômeno mundial The Chosen, A Influencer Divina logo alcançou o Top 10 da Netflix na sua semana de estreia. O projeto bem produzido pode ser taxado por algumas pessoas como mais um filme que anda numa gangorra entre o convencional e as tentativas de impor reflexões.


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27/03/2025

Crítica do filme: 'Pequena Sibéria'


O acreditar naquilo que querem. Um cobiçado objeto vindo do espaço se torna o estopim de uma série de situações fora da curva. Assim, podemos começar a definição do novo longa-metragem finlandês da Netflix – que logo alcançou o top 10 - Pequena Sibéria. Dirigido por Dome Karukoski, o projeto é um drama existencial camuflado de comédia de erros com subtramas inconsistentes em forma de fragmentos pouco convincentes. São 105 minutos de situações incongruentes que logo viram um verdadeiro teste de paciência.

Num vilarejo gelado, onde todos se conhecem, afetado por uma situação inusitada - quando um meteorito atinge o lugar – conhecemos esse curioso lugar e seus personagens através do olhar do pastor Joel (Eero Ritala), em crise conjugal. Com o valor estimado do objeto, olhos invejosos começam a bolar planos. Através desse homem de fé, em meio a um redemoinho de conflitos, a ganância e as dúvidas sobre a esposa Krista (Malla Malmivaara) logo começam a cruzar vários caminhos.

A premissa era muito interessante, falar sobre o fator humano (leia-se moral) quando uma situação que beira ao inacreditável acontece. A questão nessa produção europeia é que de um fato que sustenta o discurso abre-se camadas desenfreadas e nada inspiradas. Com pouca profundidade, em uma narrativa que se distancia de algo imersivo, o filme vai se tornando aos poucos uma série de micro episódios que não conseguem ter sentido no seu arco final.

O sugestivo nome da cidade, Hurmevaara (Encantópolis, na tradução), é mais um elemento que se soma a tantos outros para tentar dar liga a uma história que aos poucos vai se modelando sem pé nem cabeça. A comédia de erros – aplicada em outros projetos de sucesso – aqui se torna um calcanhar de aquiles, muito, por girar totalmente em torno de um protagonista sem carisma que fica tão perdido quanto nós meros espectadores.

Pequena Sibéria pode até abrir o leque para algumas reflexões mas a paciência é testada do início ao fim.

 

 

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07/03/2025

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Pausa para uma série: 'A Dona da Bola'


Mesmo não apresentando nada de novo e seguindo a linha convencional de uma série de comédia que derrapa sem receios no ‘nonsense’, o projeto da Netflix A Dona da Bola é um passatempo que diverte nos levando até os desenrolares de conflitos dos muitos personagens tendo como foco uma família disfuncional e o mundo empresarial de um dos esportes mais lucrativos dos Estados Unidos em plano de fundo.

A vida da acomodada e milionária Isla Gordon (Kate Hudson) se resume a ser a chefe de um setor filantrópico da organização milionária da família, o time de basquete Los Angeles Waves. Quando seu irmão Cam (Justin Theroux) é internado em um clínica de reabilitação, a empresa precisa de um novo presidente e o cargo é oferecido para Isla. Grande entendedora de basquete, ela precisa agora, juntamente com sua equipe, decifrar os caminhos para o sucesso de um negócio dominado pelo patriarcado.

Muitas camadas de uma família cheia de problemas nas relações interpessoais, o machismo nas organizações, a guerra do marketing, o conflito de classes, traições, dopping, problemas com drogas, o tumultuado novo mundo do glamour e dinheiro, são alguns dos pontos que transbordam nesse projeto criado pelo trio Ike Barinholtz, Mindy Kaling e Elaine Ko.  

Trazer os bastidores dos esportes para uma série de televisão não é algo inovador. De formas diferentes, vimos isso na ótima Lakers: Hora de Vencer e também na aclamada série da Apple Tv Plus, Ted Lasso. Em relação a essa última, pode ser traçar alguns paralelos com essa série da Netflix, uma pessoa que não entende muito bem do novo cargo e descobre nas relações caminhos para o sucesso. Mas A Dona da Bola não encontra o brilhantismo do projeto estrelado por Jason Sudeikis, além de escorregadas ao tentar abraçar todos os embates de seus muitos personagens. Há alguns, como o irmão recém-descoberto Jackie (Fabrizio Guido) que são esquecidos ao longo dos episódios.

Parece bobinha mas a série tem suas questões apresentadas de forma reta e objetiva chegando em boas reflexões. Pode até mesmo – para o olhar mais atento – encostar na realidade: tem romance, drama, pontos que se interligam pelos tons cômicos e situações mirabolantes. Ao longo de 10 episódios de 30 minutos, e com uma enxurrada de subtramas, o seriado protagonizado pela indicada ao Oscar Kate Hudson tem um ritmo acelerado com acertos e erros em todos os seus capítulos dessa primeira temporada. 


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01/03/2025

Crítica do filme: 'O Caminho Errado'


Dirigido por Hallvar Witzø – que já concorreu ao Oscar com o curta-metragem Tuba Atlantic – o longa-metragem norueguês O Caminho Errado aborda o ‘virar a página’ dentro de uma constatação da ruína de uma vida desestruturada e sem direção. Essa questão nos é apresentada por meio de dois irmãos completamente diferentes e suas lutas com o cotidiano dentro de relacionamentos e os conflitos provocados. O filme entrou no catálogo da Netflix nesse início de 2025.

Emilie (Ada Eide) é uma mãe solteira, com péssima relação com o pai da filha, que está completamente perdida sobre o que fazer da vida. Certo dia, após se encontrar com o seu único irmão, Gjermund (Trond Fausa), resolve se inscrever numa famosa competição de esqui cross-country, um árduo evento com o objetivo de percorrer 54 km na neve. Ao longo de todo o processo de preparação começa a perceber novos olhares para o futuro.

O ‘virar a página’ é sempre um processo tido com árduo, os problemas continuam lá mas há formas de olhar de forma diferente para eles. Tendo isso na essência dessa obra, há um caminho interessante construído ao longo dos agradáveis 90 minutos de projeção batendo na tecla do destruir para reconstruir. Logo, um paralelo com o esporte como meio de disciplina, uma experiência que muda razões existenciais, se torna a força motora para se chegar ao clímax.

O sólido roteiro atinge o objetivo de seu discurso, trazendo reflexões sobre os temas abordados – principalmente sobre a crise existencial - mesmo numa narrativa convencional sem muitos momentos marcantes. As camadas trazidas por pinceladas de subtramas, de forma complementar, nos levam até questões sobre maternidade, casamentos e estradas nesse percorrer.

O Caminho Errado é um filme pés no chão, joga na tela problemas mundanos que podemos enxergar por aí, fato que logo aproxima o público. O protagonismo andando como um espelho que reflete os embates entre os dois personagens centrais é um ótimo caminho encontrado para crescer em contextos uma história basicamente sobre superação.   


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