Os labirintos que envolvem a mente humana. Primeira aparição na tela grande de um dos personagens mais enigmáticos do cinema, o Dr. Hannibal Lecter, Manhunter - Caçador de Assassinos, baseado na famosa obra do escritor e jornalista norte-americano Thomas Harris, Dragão Vermelho, explora com maestria os distúrbios da mente humana como forte elemento dentro de uma pulsante e minuciosa narrativa. Primeiro grande filme da carreira do genial cineasta Michael Mann (hoje com 80 anos e na ativa, com três projetos em pré-produção), o projeto percorre ao longo de quase duas horas de projeção detalhes de uma complicada investigação. Nessa obra, pouco explorada pelos amantes do cinema, repleta de curiosidades, a nomenclatura usada para o aterrorizante psiquiatra é Lecktor (então não estranhem). Mas o certo, das obras de Harris, é Lector como nos filmes que vem em sequência.
Na trama, conhecemos Will Graham (William Petersen) um licenciado agente do departamento de análise
comportamental do FBI, que vive seus dias em calmaria, numa casa de frente pro
mar quando é novamente recrutado para ajudar na caça de um terrível e brutal
serial killer conhecido pela alcunha de ‘Dentes de Monstro’, um impiedoso
assassino que age com a presença da lua cheia. Ao aceitar o convite, sabe que
precisará interagir novamente com um outro serial killer que está preso, o
ex-psiquiatra Dr. Lecktor (Brian Cox),
um psicopata que quis matá-lo em eventos passados. Com traumas abertos nessa
conflituosa relação com Lecktor, Will passará por muitos obstáculos para
concluir esse misterioso caso.
Atos nutrem fantasias. A narrativa consegue do início ao
fim, criar um importante clima de tensão. Um jogo sobre vaidades intelectuais é
instaurado, de um lado um exímio analista comportamental que percorre fatos
dando ênfase à detalhes perdidos dentro da investigação, de um outro um serial
killer completamente insano que age de uma forma peculiar à procura de sua
vítimas. Em paralelo a isso, Lecktor que parece jogar outro tipo de tabuleiro,
talvez muito mais sombrio, algo ligado ao passado dele com o de Will. Navegando
entre a loucura e o brilhantismo, o protagonista embarca rumo as investigações
utilizando métodos bastante particulares, excêntricos, ao juntar peças
complicadas para traçar o perfil do assassino, algo como se precisasse pensar
como ele, entrar na mente do criminoso. Um caminho muito perigoso e que afeta
não só a ele mas todos ao seu redor.
Muito antes de ser o temido executivo Logan Roy no seriado
de sucesso Succession, o experiente
ator escocês Brian Cox foi o
primeiro intérprete de Hannibal. Uma curta aparição nesse filme, diga-se de
passagem, inclusive filmou as cenas do personagem em apenas três dias. E esse
foi um papel bastante concorrido na época, Cox disputou o papel com Brian Dennehy, Bruce Dern, John Lithgow (esse
que depois viria a ser outro impactante serial killer, o trinity na Série Dexter) e Mandy Patinkin. Um
fato curiosíssimo é que quando Cox
interpretava o Dr. Lecter nesse filme, Anthony
Hopkins (o interprete do mesmo personagens em outras adaptações) estava
fazendo uma montagem da obra de William Shakespeare, Rei Lear no Teatro. Quando
Hopkins assumiu o papel de Lecter em Silêncio
dos Inocentes, Cox também estava em cartaz com uma montagem da mesma peça!
Completando 37 anos esse ano, Manhunter - Caçador de Assassinos é uma obra-prima do suspense, um
filme com cenas de tirar o fôlego. Para quem se interessar em assistir pela
primeira vez, ou mesmo rever, o filme está disponível no catálogo do streaming
Looke.