Os dois lados do milagre. Chegando com seu tom sobrenatural ao Bonito CineSur 2025, o longa-metragem equatoriano Chuzalongo apresenta para o público uma versão novelesca da lenda de uma criatura mitológica andina, num cenário ambientado no Século XIX, que se mistura com o dilema de um padre em uma região consumida por disputas políticas. Nesse recheado cenário, com um pé no universo fantástico e outro no desencontro com algum clímax, acompanhamos de interessante mesmo somente uma conturbada relação paternal entrelaçada.
Ao longo dos quase 100 minutos de projeção, acompanhamos
Melalo (Wolframio Sinué), um homem
que vê sua vida desmoronar após a morte de sua filha grávida, logo após o
parto. Inicialmente rejeitada por ele, a criança sobrevive e, anos depois,
torna-se uma figura sobrenatural que vaga pela região, precisando alimentar-se
do sangue de mulheres para continuar viva. Mais adiante, o padre Nicanor (Bruno Odar) cruza seu destino com o da
misteriosa criatura e se vê diante de dilemas profundos ao assumir a
responsabilidade de cuidar dela.
À primeira vista, parecia que assistiríamos a um épico
equatoriano — com longas tomadas de uma paisagem camponesa nos Andes e um clima
crescente de vingança. Mas era apenas uma ilusão. O primeiro arco do filme se
dedica a retratar o amplo contexto das disputas entre liberais e conservadores
por volta de 1888, entrelaçado a dramas familiares que surgem de forma espaçada,
tanto na narrativa quanto na linha temporal. O ritmo começa a se arrastar, e
quando a trama finalmente vira a chave, ela encontra inesperadamente o Gore —
subgênero do terror — levando o drama para outra estrada, onde os dilemas
ganham abrigo no suspense.
Escrito e dirigido por Diego
Ortuño, o discurso desse projeto apresenta no ponto principal compor uma
atmosfera sobre o vazio existencial e as necessidades na falta de esperança, a
partir do que se sabe da tal lenda. Logo, a política e a fé se misturam, com a
adição de uma trilha sonora viva (que é ‘too much’ em muitos momentos) buscando
de qualquer forma dar amplitude a composição dos elementos em cena.
Mesmo com certa coesão narrativa, esse longo novelão aborda
os dilemas morais de forma atabalhoada — especialmente no que deveria ser o
centro da trama: os conflitos dos dois lados de um dito milagre. O filme se
alonga na construção de seu discurso, levanta questões, mas não as resolve de
forma convincente, num clássico exemplo de narrativa que perde o fôlego antes
da linha de chegada. Em resumo, Chuzalongo
é mais um drama arrastado do que um terror, que falha tanto em provocar medo
quanto em gerar tensão.