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02/12/2020

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10 filmes sobre Irmãos - Parte I


Nem todo mundo nessa vida pode dizer que tem um irmão ou uma irmã. Dentro desse universo, dos que estão contidos nele, uma série de situações e memórias buscamos rapidamente quando lembramos neles. Nem sempre os relacionamentos são fáceis, as vezes complicados, com hiatos, brigas, desentendimentos mas sempre com uma pontinha de esperança de que no final tudo fique bem novamente. O universo cinematográfico todos os anos aborda recortes as vezes superficiais, as vezes profundos que tem essa temática ‘relacionamento entre irmãos’ envolvida no roteiro. Pensando nisso, resolvemos criar uma lista sobre o tema e reunimos aqui 10 filmes que nos mostram um pouquinho de recortes dessas relações tão diferentes de família para família.

 

Irmã (China)

As memórias que não existiram mas que também nunca se foram. Usando a técnica de stop-motion, a animação chinesa dirigida pela cineasta Siqi Song, transforma uma frustração em uma grande carta poética em forma de animação. Irmã, em seus curtos minutos, fala muito sobre o sentimento das famílias chinesas que viveram dentro dos 30 anos da política de apenas um filho. Selecionado pelo Festival de Sundance ano passado e um dos 5 indicados ao Oscar na categoria melhor curta de animação desse ano, o filme é um relato importante sobre um fato que afetou milhares de pessoas no país mais populoso do planeta.

 

Em 08 minutinhos, ambientado na década de 90, somos envolvidos em um pequeno retrato que vai do imaginário a realidade. Conhecemos um jovem que relata sua convivência com sua irmãzinha, muitas situações que acontecem com a chegada da nova integrante da família, só que descobrimos que essa irmã nunca existiu pois a família do protagonista não poderia ter mais de um filho por conta de uma política de 30 anos das autoridades chinesas.

 

Lançada pelo governo chinês no fim da década de 1970, essa lei que é pano de fundo dessa história, consistia numa lei segundo a qual ficava proibido, a qualquer casal, ter mais de um filho (em outubro de 2013, o governo chinês aboliu essa lei). Fato esse que deixou vários filhos únicos sem a possibilidade de dividir sua vida com um irmão ou irmã. O curta navega nessa vertente e usa a imaginação do pensar como forma de homenagem a todos que não puderam ter um irmãozinho durante todo esse período na China. O cinema é isso, uma maneira de refletir sobre nossas épocas: passado, presente ou futuro.

 

 

Warrior (EUA)

O universo do MMA mais uma vez vira pauta de um longa. Para nos guiar por essa história foram escalados dois atores que tiveram, com certeza, que passar por uma série de treinamento específico para compor seus personagens. Tom Hardy e Joel Edgerton interpretam os irmãos que lutam (literalmente falando) por objetivos diferentes. Os bastidores do evento, os estilos de luta... parece que estamos ligados naquele famoso canal de Tv a Cabo, ao vivo, vendo uma transmissão desse esporte que virou febre no mundo todo. Warrior é eletrizante do primeiro ao último minuto.

 

Na trama, conhecemos a história de uma família que tem na sua essência a alma da luta. Aos poucos vamos vendo o presente de cada um dos membros: um dos filhos é professor de física (do ensino médio americano) com sérias dificuldades financeiras, o outro filho é um ex-fuzileiro naval que sofrera um trauma com sua unidade durante uma de suas missões no Iraque. Ambos, ao decorrer da fita, vão sendo jogados de volta ao octagon (cenário onde ocorrem as lutas dessa modalidade esportiva). Um deles guiado pelos conselhos profissionais do pai, que antes fora um grande treinador de luta olímpica, o outro busca forças na sua esposa que o apoia mesmo não gostando que ele lute.

 

O grande destaque do longa, dirigido por Gavin O'Connor, é o veteraníssimo ator americano Nick Nolte. Com seu personagem, Paddy Conlon, um ex-dependente alcoólico que tem muitos problemas na relação com sua família no passado, consegue explorar todos os aspectos que rondam esse intenso papel. Sempre bom ver experientes artistas representando bem seus personagens.

 

 

Blood Ties (EUA)

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família. Depois de dar uma pausa nas atuações e se dedicar às direções, o francês Guillaume Canet no ano de 2014 assinou a direção desse filme de ação que possui uma excelente construção, fruto do bom trabalho do roteiro de James Gray, onde os ótimos Clive Owen e Billy Crudup se revezam como protagonistas da história. Blood Ties possui subtramas envolventes mas que só funcionam de fato por conta das ótimas atuações do elenco. Cada qual com sua personagem, ajudam a contar essa explosiva e envolvente história.

 

Na trama, acompanhamos a história de dois irmãos que estão em lados opostos da lei. Após a saída da prisão, Chris (Clive Owen) insiste em ser feliz longe do crime, procurando ser um cara mais correto. Já Frank (Billy Crudup), é um policial esquentado que abandonou um grande amor no passado e não tem um bom relacionamento com seu irmão mais velho. A vida de ambos muda radicalmente quando, no mesmo período, um dos irmãos volta a ser um bandido perigoso e o outro é caçado por um outro ex-prisioneiro.

 

O roteiro não é nada muito diferente do que já vimos em outros filmes do gênero. Um fato que se diferencia das outras fitas é a direção detalhista de Canet. O cineasta, marido da atriz Marion Cotillard (que também está no filme), é inteligente, principalmente sob o ponto de vista das relações familiares que contornam as histórias. Assim, consegue captar toda a essência e sentimentos fervorosos da trama sob as ações dos personagens.

 

O filme entra em um ritmo acelerado do meio para frente. Essa, é uma daquelas fitas que o cinéfilo precisa ter certa paciência pois a apresentação lenta dos personagens se torna extremamente necessária para entendermos certas ações dos mesmos ao longo do longa-metragem. Os personagens principais chegam ao mesmo tempo no clímax das conseqüências das ações cometidas. Nesse momento, fica mais evidente que a história na verdade é sobre o relacionamento de toda uma família marcada por traumas violentos e terríveis.

 

Lembram dos tiroteios e cenas tensas de violência à sangue frio do filme francês Inimigo Público Nº 1 – Instinto de Morte (protagonizado pelo sempre excelente Vincent Cassell)? A construção da maioria das cenas de ação de Blood Ties são nesses moldes. É uma junção de Os Donos da Noite com pitadas pequenas de Fogo contra Fogo. Claro, guardadas suas devidas comparações. Pra quem curte filmes de ação, é um prato cheio!

 

 

Xingu (Brasil)

Livremente baseado em histórias reais e com uma beleza impressionante nas imagens (muito bem aproveitadas pela ótima condução do diretor), “Xingu, trabalho do diretor Cao Hamburger, transforma a saga dos irmãos Villas-Bôas em uma grande aventura.

 

O filme conta a trajetória corajosa de Claudio, Orlando e Leonardo. O irmãos, que estudaram em bons colégios, tinham bons empregos e resolveram largar tudo pela vida na mata. Desde os primeiros passos e os começos de contato com as tribos indígenas, “Xingu”, detalha esse encontro que mudou a vida deles para sempre. Descansando em redes improvisadas, fazendo fogueira, caçando animais, eles lutaram pela primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Fato que ocorreu, em 1961, e que completa 50 anos em 2011. Até hoje, irmãos Villas-Bôas são considerados os grandes defensores dos índios no Brasil.

 

Para dar vida aos protagonistas, foram escolhidos três bons nomes do nosso cinema. Claudio Villas Bôas é interpretado por João Miguel, personagem intenso que muitas vezes age mais pelo coração do que pela razão, mais uma ótima atuação desse ótimo ator. Orlando Villas Bôas é o mais político dos três irmãos, volta e meia frequentando as salas arrumadas do governo (tentando sempre algum tipo de benefício para os índios) tem papel importante para o desfecho positivo da história. Felipe Camargo faz muito bem esse papel.  Leonardo Villas Bôas é o personagem de Caio Blat, o mais jovem do trio, um dos mais inconsequentes também, deixou a história cedo, sendo expulso pelos irmãos por engravidar uma índia durante a trajetória. Blat, sempre que em cena com seu personagem, ajuda muito bem a guiar a história.

 

A relação com os índios, desde o primeiro momento é uma mescla de surpresa e descoberta, na maioria das vezes bastante amistosa. Entre um cigarro e outro, os carismáticos irmãos entram mata à dentro tentando se aproximar de muitas tribos indígenas nunca antes contactadas. Enfrentam muitas dificuldades e orquestram uma batalha nas terras e foras delas para consolidar a reserva indígena prometida. Os índios nunca tiveram fronteiras, mas naquele momento era o melhor que podiam ter. Com o governo de olho na Amazônia, os irmãos Villas-Bôas tinham que correr contra o tempo para consolidar o plano de proteger as tribos indígenas.

 

Com boas atuações, uma direção muito segura e imagens maravilhosas, Xingu, é uma ótima pedida! Vá acompanhar essa aventura dos irmãos que foram indicados ao prêmio Nobel e fizeram um trabalho excepcional que muitas vezes fora esquecido pela memória brasileira.

 

 

White Irish Drinkers (EUA)

 

Um filme muito interessante que surpreende pela carga emocional envolvida nessa história de dois irmãos que moram no mesmo lugar mas vivem uma realidade completamente diferente uma da outra. Escrito e dirigido por John Gray (que já dirigiu alguns episódios do seriado Ghost Whisperer), é uma grata surpresa.

 

Na trama, que acontece no Brooklyn em meados da década de 70, dois irmãos buscam uma maneira de sair do bairro em que vivem e ser alguém na vida. Danny (Geoffrey Wigdor) é um impulsivo marginal que vive de pequenos delitos, já Brian (Nick Thurston) é um sonhador que tem na arte do desenho sua válvula de escape para a violência que enfrenta em casa nas mãos do pai. Quando ficam sabendo de uma apresentação dos Rolling Stones num teatro local resolvem fazer um pacto para roubar o local na noite de um concerto.

 

O longa analisa a situação de uma complexa família no Brooklyn em algumas décadas atrás. O sofrimento dos filhos, a incapacidade de ação da mãe (muito bem interpretada pela atriz Karen Allen), o genioso e nada amoroso pai, as dificuldades de morar em um lugar sem grandes oportunidades, a luta pelo primeiro amor, a busca de chances em outro lugar. Cada personagem contribui bastante para que o filme ganhe contornos dramáticos já em seu final.

 

As menções à uma época passada (quando os irmãos eram menores) ajuda a entender todo aquele sentimento que às vezes parece se perder nas atitudes de uma dessas partes. É uma daquelas fitas ideais para que gosta do gênero drama. Não há muitas surpresas ao longo da trajetória dos protagonistas, fica um pouco eminente o desfecho por conta do caminho seguido pelos personagens ao longo da história. Gosta de emoção e personagens envolventes? Dê uma chance a esse filme!

 

 

Tirez la langue, mademoiselle (França)

As lições do coração. Escrito e dirigido por Axelle RopertTirez la langue, mademoiselle tem uma pegada meio ‘sessão da tarde’ mas ao longo dos 102 minutos de projeção vamos vendo desabrochar de maneira delicada e objetiva a mesmice na vida de dois irmãos que trabalham em um mesmo consultório em uma Paris nos dias atuais. A personagem da talentosa artista francesa Louise Bourgoin é a terceira ponta no triângulo amoroso instaurado. O projeto, entre outras coisas, fala sobre as linhas de interpretações do que é o amor em nossas vidas.

 

Na trama, conhecemos os irmãos, quase inseparáveis, Boris (Cédric Kahn) e Dimitri (Laurent Stocker) que vivem uma rotina de mesmice, dividindo um mesmo consultório em uma clínica geral onde também atendem em domicílio. Certo dia, após uma ligação, conhecem a mãe solteira Judith (Louise Bourgoin) por quem rapidamente se apaixonam, provocando uma grande quebra na rotina e relação dos dois irmãos.

 

É difícil tratar o sentimento de amor como uma coisa nova na vida de quarentões mas é exatamente em cima dessa ideia que a trama desse belo trabalho francês se solidifica. Os irmãos doutores são de diferentes maneiras de pensar, Dimitri até certo ponto bastante carente e luta constantemente contra o alcoolismo, já Boris é o que podemos dizer de solitário, rígido e um pouco carrancudo. A vida dos dois muda radicalmente com a descoberta do amor, pela mesma mulher. A partir disso, cada um busca sua felicidade à sua maneira, definindo novos rumos não só na maneira de pensar a vida mas no ganho de uma liberdade que eles nunca tinham observado.

 

Já Judith, mãe de uma pré adolescente, solteira que trabalha como barwoman pelas noites e Paris abre sua personalidade aos poucos. Conforme vamos conhecendo melhor essa intrigante personagem, percebemos os conflitos que se desenvolvem no futuro, principalmente as questões mal resolvidas com o ex-marido, pai de sua filha. 

 

 

Tirez la langue, mademoiselle é uma fita delicada, com o ritmo certo para apresentações dos personagens. Também muito realista, mostrando os conflitos emocionais que podem ser provocados quando o coração bate mais forte por alguém.

 

 

A Gloria e a Graça (Brasil)

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio Ramos Tambellini, que volta a direção de um longa após seis anos, seu último trabalho foi o delicado Malu de Bicicleta (2010)A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas vidas. O entrosamento em cena de Carolina Ferraz e Sandra Corveloni, protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.

 

Na trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra Corveloni) uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com seu irmão que não vê a muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Gloria (Carolina Ferraz), dona de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu único parente vivo.

 

O filme tinha tudo para cair num senso melo dramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muito experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.


A Glória e a Graça é um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro.


Neve Negra (Argentina)

O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente. Depois de dez anos de seu último longa-metragem (O Sinal, 2007), o cineasta argentino Martin Hodara volta a tela grande em um ótimo suspense com atmosfera tensa. O roteiro é sublime, nos faz ficar atento até o último segundo. O elenco é de primeira, tendo como cereja do bolo o maior ator da atualidade, o argentino Ricardo DarinNeve Negra é um, sem dúvidas, um dos bons suspenses argentinos dos últimos anos.

 

Na trama, conhecemos o casal Laura (Laia Costa) e Marcos (Leonardo Sbaraglia) que viajam da Espanha, onde moram, para uma cidade gelada na Argentina para resolver questões burocráticas e a herança do pai de Marcos que falecera recentemente. Chegando no lugar, Marcos confrontará uma tragédia no passado de sua família principalmente quando precisa convencer o irmão Salvador (Ricardo Darin) a vender a casa onde vive. Laura aos poucos vai entendendo o jogo quase que psicológico que os dois irmãos mantém reunindo peças de uma quebra cabeça cheio de amargura, solidão e tristeza.

 

Os segredos pertencentes a família começam a cair por terra quando um iminente confronto dos irmãos é imposto por uma futura, possível e rentável venda do terreno onde viveram toda uma vida. As revelações chegam aos poucos, o que deixa o clima cheio de tensão. A esposa de Marcos tem papel importante nesse quebra cabeça, ela segue como os olhos do público a cada peça encontrada para esclarecimento do que realmente aconteceu ali no passado que essa família jamais esqueceu. A reunião de todas as peças culmina em um final chocante, arrebatador.

 

Um dos focos da trama, a amargura de Salvador é nítida, tido como o vilão de sempre por um pai pouco piedoso que descarregou toda sua frustração com o ocorrido no colo do irmão mais velho. A composição de Darin para sua personagem é algo estrondoso, consegue preencher as cenas com poucas falas mas uma expressão que fala muito deixando o público atento para qualquer revelação que chegue em algum instante.

 

Neve Negra foi um estrondoso sucesso na Argentina logo na semana de estreia. Realmente é um filme que mexe com nossas emoções, angustiante até a última gota de sofrimento que chegam em forma de revelações bombásticas de um passado inesquecível de uma família que guardava segredos polêmicos. Fora o excelente roteiro, a brilhante direção e atuações acima da média, um filme com Ricardo Darín no elenco sempre precisa ser visto.

 

Os Infratores (EUA)

Na época de Al Capone e de muitos outros nomes famosos do crime conhecemos uma história de irmandade e muito sangue de uma família, estamos falando do excelente “Os Infratores”. Dirigido pelo australiano John Hillcoat (que comandou o ótimo “A Estrada”) somos guiados até o início da década de 30, entre uma dose e outra, há muita ação e aventura, baseada na obra de Matt Bondurant.

 

Na trama, conhecemos a história dos irmãos Bondurant (Jack, Forrest e Howard) que vivem do contrabando de bebidas, nos primórdios da década de 30. Os negócios iam bem até que um novo chefe local coloca um assistente nos pés dessa corajosa família. Na terra dos valentões e à bordo de um carro que bebe muito álcool essa família irá enfrentar um grande desafio para manter os negócios. Em meio a tiros e muito sangue jorrando na tela temos algumas histórias de amor, uma bastante carnal, outra romântica (com ar jovial). A animada trilha sonora preenche com louvor todas as lacunas que precisam ser completadas. A contextualização é fácil e direta, levando o público facilmente para dentro daquele universo, méritos do roteiro (adaptado) de Nick Cave.

 

Cada um dos ótimos atores efetivamente dá sua contribuição à fita. Guy Pearce consegue ser um ótimo vilão com seu personagem sem sobrancelha, o trejeito estranho e a ironia são muito bem evidenciados pelo ator inglês. Gary Oldman e suas aparições relâmpagos ajudam a dar certa continuidade à trama. Tom Hardy está espetacular na pele do homem que acreditava na própria lenda, acertou em cheio na composição de seu personagem, nome certo no próximo Oscar. No papel do irmão mais novo (aquele que faz muitas besteiras durante toda a fita) poderiam ter sido escolhidos muitos atores, o selecionado foi o Shia LeBeouf, que faz o famoso feijão com arroz e não compromete no papel.

 

Dá pra rir, se emocionar e torcer muito para os personagens que exalam simpatia. Com todos esses ingredientes é uma grande infração cinéfila você não conferir esse filme.

 

 

Shame (EUA)

 

O que fazer para se curar de um vício que está deteriorando gradativamente a sua vida? O novo trabalho do diretor inglês Steve McQueen (Hunger) nos conta o drama de um homem e sua compulsão. A ótima trilha sonora assinada por Harry Escott (que fez também a trilha de Meninama.com) ajuda a narrar esse que é um dos grandes filmes do ano de 2012.

 

Na trama, um compulsivo sexual ao extremo (com uma promissora carreira profissional) vive dias de desespero após a chegada de sua irmã ao apartamento onde mora. Seus dias eram preenchidos com visitas a sites pornográficos, coleção de revistas com tema adulto, masturbações nas pausas do trabalho (no banheiro da empresa) e vários encontros com desconhecidas, sempre terminando em sexo ou ações desse tipo. Quando sua irmã entra na história, sua rotina é abruptamente afetada e isso gera um descontrole intenso.

 

Na apresentação do personagem principal já temos uma ideia do vício que ele possui, com cenas muito verdadeiras (nua e crua em alguns momentos), vamos conhecendo melhor o protagonista.

 

Impressiona a atuação de Michael Fassbender, passa muita tristeza nos olhos por conta desse vício que sofre. Seu personagem Brandon Sullivan é um ninfomaníaco bastante consumido por seus impulsos. O ator alemão comove e se entrega em cenas bem complexas. Infelizmente foi esquecido pela Academia (Oscar). Carey Mulligan está fabulosa no papel de Sissy Sullivan, tem um carisma único e contagia o espectador. Quando aparece cantando um clássico do Sinatra e com uma roupa bem ao estilo Marylin Monroe, vira um dos melhores momentos, simplesmente espetacular.

 

Os irmãos possuem ao longo da trama diálogos intensos (às vezes violento). Um tenta ajudar ao outro mas as barreiras colocadas por cada um deles são muito difíceis de serem superadas. Há muito carinho nessa relação, muitas cenas mostram isso, porém, por conta da tentativa de ajuda de ambos os lados não serem feitas com êxito a eminência de uma tragédia para uma das partes se torna concreto. O final é bem aberto, deixando o público tirar suas próprias conclusões.

 

 

Os Meninos Que Enganavam Nazistas (França, Canadá, República Tcheca)

 

Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer. Dirigido pelo experiente cineasta canadense Christian Duguay, Os Meninos Que Enganavam Nazistas é mais um recorte da grande guerra. Mostra um lado do conflito que dizimou populações de vários países. Aos olhos de dois carismáticos irmãos somos testemunhas dos absurdos que os nazistas faziam, uma perseguição em massa contra os judeus em uma França dividida na década de 40. O roteiro é baseado em fatos reais e na obra Un Sac de Billes – também o nome original desse longa – escrito por Joseph Joffo, um dos protagonistas da história.

 

Na trama, conhecemos a família Joffo, judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões desse país, tornando a vida de esforçados trabalhadores em um inferno doloroso. Assim, Joseph (Dorian Le Clech) e Maurice (Batyste Fleurial) precisam fugir, seguindo um plano mirabolante feito por seu pai, o barbeiro Roman (Patrick Bruel) para uma região neutra e assim a família poder ser reunida novamente. Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

 

Um dos focos da trama é o valor da amizade entre os irmãos. Ambos enfrentam situações extremas na luta pela sobrevivência, em uma França repleta de soldados nazistas. Mostra-se também todo o sofrimento da família e as escolhas difíceis que precisam tomar para proteger a todos. A figura do pai é emblemática aos olhos dos irmãos, barbeiro e trabalhador, vê seu mundo desabar com as ameaças que recebe mas jamais perde a ternura e o carinho pelos seus filhos. Uma bela atuação do ótimo ator argelino Patrick Bruel.

 

O longa mostra o amadurecimento precoce dos jovens e uma vivência que levaram para o resto da vida. Como filme, Os Meninos Que Enganavam Nazistas, não acrescenta muito sobre fatos e relatos já vistos, lidos sobre os conflitos históricos da década de 40 na Europa. Há uma delicadeza na direção em algumas sequências, tenta mostrar todo um sofrimento de maneira até certo ponto superficial.

 

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28/11/2020

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13 Filmes Sobre Pais E Filhos – Parte 3


Seguindo em nossa jornada sobre esse tema complicado e bastante abordando de diversas maneiras por inúmeras produções pelo mundo todo ano, dessa vez reunimos filmes da Romênia, Israel, França, EUA, Argentina, um clássico sobre o tema com Christopher Walken e Sean Penn no elenco, até curta-metragem separamos para essa parte 3 de nosso especial.

 

O Caderno de Tomy (Argentina)

 

Ame, leia, veja, escute...e pense em mim de vez em quando. Baseado em uma história real, o longa-metragem argentino O Caderno de Tomy é uma história, antes de mais nada, sobre um último desejo de mãe para filho. Abordando temas delicados como a linha tênue entre procedimentos legais e a eutanásia, a difícil tarefa de dizer adeus, o projeto gera muitas emoções pois em nossas vidas já conhecemos ou conhecemos alguém que já conheceu quem teve câncer. Disponível na Netflix, o filme pode também ser definido como uma grande mistura de sentimentos. Escrito e dirigido pelo cineasta Carlos Sorin.

 

Na trama, conhecemos uma mulher de 40 e poucos anos (interpretada pela ótima atriz argentina Valeria Bertuccelli) que é diagnosticada com um câncer terminal. Seu marido (Esteban Lamothe), sempre ao seu lado, faz de tudo para que ela fique bem nos seus últimos dias em um quarto de hospital. Certo dia, fugindo de um quadro depressivo por conta de sua situação, resolve escrever um diário endereçado a seu filho pequeno, a cada página que escreve ela conta sobre sua experiência de estar ali mas também todos seus desejos par ao futuro dele. Além do diário, resolve ir twitando sobre sua rotina e acaba ficando famosa involuntariamente saindo em jornais e aparecendo na televisão.

 

Quando ser corajoso e forte é nossa única opção. Não é um filme fácil, há muita dor pelo caminho dos 84 minutos de projeção. Os diálogos da protagonista com o médico chefe são sinceros, fortes e com uma maturidade gigante. Sedação paliativa ou eutanásia, os contornos dessa linha tênue chegam já no arco final dando bastante profundidade para o polêmico tema.

 

Por mais que não seja o foco principal, está dentro de outros subtópicos o sentido do relacionamento de pais e filhos. Além disso é algo profundo, dolorido e notório que não é fácil para ela nem para todos ao seu redor. As cenas dos arcos finais deixam nossos corações apertados. O Caderno de Tomy gera muita reflexão sobre o sentido de nossas vidas e o que fazemos com ela.

 

Se Algo Acontecer...Te Amo (EUA)

 

Só o amor vence batalhas que durante muito tempo não pensamos em como superar. Como contar os reflexos de uma tragédia através da técnica de animação em menos de 15 minutos? O vazio existencial, a solidão. Uma tristeza que abala o casamento, portas abertas de uma lembrança que machuca mas que mostra uma esperança. Se Algo Acontecer...Te Amo, curta-metragem disponível na Netflix (que legal ter curtas em algum streaming!), busca transformar pequenos minutos em grandiosos momentos contando o recorte de uma família, suas desilusões e algum caminho para a esperança. Escrito e dirigido pela dupla Michael Govier e Will McCormack o projeto transforma a dor em forma de traços e tinta.

 

Utilizando as técnicas de animação, o drama Se Algo Acontecer...Te Amo mostra uma família que tem sua rotina completamente afetada com lembranças após uma tragédia acontecer com a filha dentro de um colégio norte-americano. Em 12 minutos somos testemunhas de um avassalador recorte de uma família abatida pelo luto.

 

A sombra, o espírito. A interpretação para tudo o que vemos vem de cada um de nós. Fica forte a tendência de que os sentimentos podem ser identificados como as sombras que vão e vém nesse pequeno grande filme. A paleta de cores se mostra presenta e sem entrelinhas indica o colorido quando geravam lembranças da filha. Govier e McCormack tem um grande méritos de conseguir envolver o espectador do primeiro ao último minuto. Um projeto corajoso e muito emocionante.

 

 

Uncle Frank (EUA)

 

Você vai fazer as coisas como querem que você faça ou da maneira como você quer fazer? Escrito e dirigido por Alan Ball (produtor de seriados de sucesso como A Sete Palmos e True Blood), em seu segundo longa-metragem como diretor, Uncle Frank é sensível recorte passado no início da década de 70 onde um professor universitário não assumidamente gay precisa enfrentar seus grandes fantasmas do passado quando seu pai falece. Delicado e com reflexivos diálogos, o filme percorre todas as dores de um personagem (e os ótimos coadjuvantes) inteligentes e cativantes. Os atores Peter Macdissi e Paul Bettany conseguem extrair de seus personagens todo amor e carinho de uma relação secreta que passa uma grande verdade para o lado de cá da tela. Um emocionante filme, disponível na Amazon Prime.

 

 

Na trama, conhecemos a jovem Beth (Sophia Lillis) que mora no interior dos Estados Unidos e não possui muitos sonhos na vida. Sua grande referência acaba sendo o seu tio Frank (Paul Bettany) um homem inteligente, educado, professor da Universidade de Nova Iorque, distante do resto da família, por motivos que a princípio não sabemos, que a faz entender alguns conceitos básicos para que tenha independência e consiga ser quem ela realmente quiser ser. Os anos se passam e Beth passa para a mesa Universidade que o tio dá aulas e acaba, durante uma festa meio que secreta, descobrindo que ele é gay e vive casado com Wally (Peter Macdissi), um engenheiro aeronáutico, a mais de 10 anos. Dias depois, Frank recebe a notícia que seu pai, avô de Beth, faleceu, e os dois precisam embarcar para a cidade natal deles para o funeral.

 

 

Há uma impressionante linda passagem entre os arcos, harmônicos e com recheio de emoções perdidas ou encubadas principalmente do amargurado protagonista que acaba se descontruindo e se construindo novamente aos nossos olhos. Não chega a ser um road movie mas é um caminho de descobertas, ou, encerramentos de capítulos não terminados de um passado que vivia gritando dentro de Frank. A delicadeza percorre todos os menos de 100 minutos de projeção, mesmo nas partes mais dolorosas como os preconceitos sofridos há uma quebra de hipocrisia com sarcasmos e muitos risos, alguns desses provocados pelo ótimo personagem Wally (o quase desconhecido por aqui, o ator libanês Peter Macdissi em grande atuação).

 

 

Fica mais rico ainda o filme se analisarmos pela ótica de Beth, a referência em quase tudo que conhece sobre livros e vivência vem desse tio tão especial para ela, como se fosse uma filha para ele. Uncle Frank não deixa de tocar o ponto principal a todo instante, relacionamentos pais e filhos, na linha do protagonista e na de muitos dos personagens coadjuvantes, seus conflitos e suas escolhas. Um belo trabalho de Bell e cia.

 

 

 

Caminhos Violentos (EUA)

 

Violência gera violência. Explorando uma relação explosiva entre pai e filho, o cineasta nova iorquino James Foley nos apresenta um longa-metragem repleto de questões que envolvem principalmente questões familiares e a falta de uma maturidade em um início de uma fase adulta conturbada, sem muitas referências. Somos testemunhas de caminhos inconsequentes, violentos em uma primavera de 1978 no interior da Pensilvânia. Vale o destaque também para a trilha sonora, com direito a canção Live to Tell da Madonna. Destaques para as atuações de Christopher Walken Sean Penn.

 

 

Na trama, conhecemos Brad Jr. (Sean Penn), um jovem que trabalha com um bico pouco rentável e vive com a mãe, a avó e o irmão em uma simples casa na Pensilvânia. Brad Jr. se apaixona por Terry (Mary Stuart Masterson) com quem deseja fugir da cidade e ter uma nova vida. Mas, ao mesmo tempo, Brad tem em sua vida novamente o seu pai, o bandido Brad Sr. (Christopher Walken) com que começa a ter uma reaproximação que culminará em um desfecho tenso, frio e sangrento.  



Baseado em fatos reais, At Close Range, no original, possui um roteiro bem desenvolvido, assinado por Nicholas Kazan. As verdades da vida são colocadas todas expostas, nem toda trama tem um final feliz, como muitas trajetórias inconsequentes e/ou perdidas do lado de cá da telona. O foco é total na relação complicada entre pai e filho, uma verdadeira luta entre a imaturidade e o pensar sem escrúpulos. Toda a trajetória é violenta, desde o abandono da ex-esposa e dos filhos até a maneira como lida com isso e os inconsequentes atos que se seguem. Um filme marcante, com cenas fortes que apresentam ao público uma história chocante, indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim.

 

 

Charter (Suécia)

 

Se tivesse que escolher, você ficaria com sua mãe ou seu pai? Indicado da Suécia ao próximo Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro, Charter, escrito e dirigido pela cineasta sueca de 34 anos Amanda Kernell, possui um arrepiante abre alas, um diálogo no escuro que diz muito sobre sentimentos dúvidas/incertezas que veremos ao longo dos intensos 94 minutos de projeção. No início tudo é muito misterioso, aos poucos vamos descobrindo as verdades e alguns porquês (nem todos) sobre como todos os personagens foram parar ali naquela situação complexa que envolve guarda das crianças, a polícia, assistentes sociais, e uma mãe em fuga com os próprios filhos. Um drama profundo, muito bem dirigido. A atuação de Ane Dahl Torp é uma das melhores dos últimos anos quando pensamos em filmes europeus.

 

 

Na trama, conhecemos Alice (Ane Dahl Torp) uma mulher que precisou se distanciar dos dois filhos, Elina (Tintin Poggats Sarri) e Vincent (Troy Lundkvist) por alguns meses esperando sair a decisão sobre a custódia das crianças. Mas certo dia, Vicent liga para mãe no meio da noite e isso faz com que ela volte correndo para o lugar onde seus filhos vivem e acaba sequestrando as crianças com destino às ilhas canárias. Mas o pai das crianças, o indecifrável Mattis (Sverrir Gudnason) não deixará barato e aciona a polícia em busca do paradeiro deles.

 

 

O roteiro bate na tecla ‘Peso na consciência’ constantemente. Há uma mágoa imensa dos filhos para com a mãe deles. Por conta de escolhas do passado, isso fica evidente com mais clareza quando analisamos as atitudes pela ótica da filha Elina. Mas as demonstrações de arrependimento os une, quando o espírito materno grita, atitudes desesperadas e impulsivas se jogam na tela gerando uma fuga para redescobertas e um entrelinhado pedido de desculpas embutido em cada atitude simpática vindo dessa mãe que se distanciou mas voltou.  Charter é uma poderosa Fita nórdica que fala sobre assuntos importantes que acontecem diariamente no mundo, principalmente quando envolve filhos, pais e separação.

 

 

On the Rocks (EUA)

 

As verdades precisam ser contadas ou descobertas? Analisando um peculiar raio-x da desconfiança na cabeça de uma esposa que se sente afastada do marido, a cineasta Sofia Coppola (que escreve e dirige esse projeto) nos leva em bom ritmo a uma trama repleta de ótimos diálogos mesmo com um clima amargurado que percorre toda a trama. Entre um drink e outro pai e filha nos divertem com diálogos sobre casamentos, o mundo, traições, escolhas, atos machistas. Bill Murray Rashida Jones nos brindam com ótimas atuações. As passagens dos arcos são lindas, metáforas de interseção entre a cidade e os problemas cotidianos entre quatro paredes.

 

 

Na trama, conhecemos Laura (Rashida Jones) uma escritora que está em uma péssima fase no seu trabalho e ainda começa a desconfiar da constante falta de tempo do seu marido Dean (Marlon Wayans). Nisso, surge seu pai Felix (Bill Murray) na história, um negociante de artes bem sucedido, sedutor, bom vivant, que acha ser o maior conhecedor sobre relacionamentos da face da terra. E assim, no vai e vém pelas principais ruas de uma nova Iorque que nunca dorme pai e filha tentarão descobrir se há segredos de Dean.

 

 

Uma pulga atrás da orelha é uma expressão que se encaixa na vida da protagonista. Em busca da própria aventura, Laura tenta a todo instante analisar cada variável da vida que leva e acaba entrando em constante pane emocional quando vestígios de mentiras aparecem em sua frente. Nessa hora que surge a figura do pai, de cara vemos uma relação pai e filha muito amistosa, resumindo é objetivo e deveras protetor por parte do mais velho. Caricato, porém, exalando carisma, o seu excêntrico Felix vira algo marcante na história, méritos do sempre hilário Bill Murray. Os ótimos diálogos não avançam muito em profundidade e a situação matrimonial ganha contornos de background em alguns momentos.

Mesmo não sendo perfeito, On the Rocks nos apresenta um drama disfarçado de comédia elegante com pitadas sobre um recorte do que acontece entre quatro paredes.

 

 

Mãe e Muito Mais (EUA)

 

Há sempre espaços nas histórias da vida para um final melhor. Camuflado de comédia bobinha Mãe e muito mais, é muito mais que uma historinha água com açúcar. Consegue traçar paralelos reflexivos sobre idade, dúvidas, incertezas dentro de um contexto de amizade que passa de mães para filhos. Escrito e dirigido pela cineasta Cindy Chupack (produtora do famoso seriado Sex and the City) o filme aposta em três recortes de relacionamento mãe x filho diferentes, com três artistas fantásticas que transpiram carisma.  Ao longo de simpáticos 100 minutos, o longa-metragem, que está disponível no catálogo da Netflix, caminha, nem tão raso, nem tão profundo, por assuntos tabus dentro desses relacionamentos.

 

Na trama, conhecemos as inseparáveis amigas Carol (Angela Bassett), Gillian (Patricia Arquette) e Helen (Felicity Huffman) que viveram a vida toda no interior de uma grande cidade e todas elas presenciaram a formação de cada um dos respectivos filhos delas. Quando em uma conversa argumentam sobre os porquês dos filhos não ligarem no dia das mães, impulsivamente resolvem ir atrás deles, que são amigos, e moram, cada um em sua casa, em Nova Iorque. A partir daí, casa uma delas tentará entender situações, melhorar relacionamentos e aparar problemas do passado pensando sempre em ter um futuro melhor no relacionamento mães e filhos.

 

 

Aquela sensação angustiante de ver o filho crescer e se importar pouco com a mãe. Esse raciocínio é a alma das personagens, seus objetivos passam por essa questão e o que o roteiro faz para descascar esse tema é muito produtividade, pois, habilmente, consegue abre abas, como subtemas, para questões existenciais resolvidas dupla, mãe e filho. Andando pelas ruas de Nova Iorque, muito parecido com a sensação de vários outros filmes (clichê mas bem válido), as mamães chegam à encruzilhada de que talvez não possam ser tão perfeitas como elas pensam, nem seus filhos.

 

 

Falando sobre traição, sexualidade, síndrome do ninho vazio, questões mal resolvidas de um passado longe mas presente o trio de amigas se descontroem aos olhos mais atentos em busca de um novo norte. Por isso, podemos afirmar que Mãe e muito mais é uma jornada convincente que mostra muito sobre relacionamentos de mães e seus filhos.

 

 

 

Tempestade de Areia (Israel)

 

Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade. Selecionado como representante de Israel ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017, Tempestade de Areia, falado todo em árabe, abre mais uma vez os campos de discussões sobre culturas e tradições sobre os direitos da liberdade de escolha na vida das mulheres que vivem cercadas de imposições de costumes. Na linha de frente da história estão duas mulheres corajosas que sofrem com essas imposições. A cineasta israelense Elite Zexer, em seu primeiro longa-metragem, consegue criar um drama delicado recheado de argumentos para discussões sobre o despertar da necessidade de mulheres que não possuem liberdade de escolhas.

 

 

Na trama, conhecemos Layla (Lamis Ammar) uma jovem filha de uma família de beduínos (parte de um grupo árabe habitante dos desertos) que consegue convencer seu pai a deixar ela freqüentar a faculdade. Lá, conhece um grande amor e decide tentar resolver sua situação com seu pai Suliman (Hitham Omari), esse que acaba tomando decisões drásticas em relação a isso. Ao mesmo tempo, sua mãe Jalila (Ruba Blal) está irritada com o segundo casamento de seu marido e busca, mesmo em meio aos próprios conflitos, entender a situação de Layla e ajudá-la.

 

Atrás dos véus, estão duas mulheres fortes e corajosas, mãe e filha. Um conflito ideológico, oriundo de tradições e culturas, é imposto para a jovem Layla. Querendo lutar pelo seu direito de amar quem ela bem desejar, entra em choque com a imposição do pai de arranjar um casamento com quem ele quer. Já sua mãe Jalila viveu todo o drama de não saber com quem iria se casar e sofre atualmente com a preferência do marido para a segunda esposa. Os retratos emocionais se refletem nas situações mostradas, como as necessidades que Jalila passa com suas filhas enquanto a nova esposa do marido tem uma nova casa com geladeira funcionando e eletricidade. 

 

 

A passividade do pai em alguns momentos chama a atenção. A mãe, figura forte e muito centrada tenta ajudar sua filha em certos momentos mas sempre na dúvida do que realmente quer para ela. Com o sofrimento imposto pelo segundo casamento de seu marido, as prováveis conseqüências de ajudar a filha a ir atrás do destino que ela quer são jogadas para escanteio, prevalece o amor pela filha. As escolhas que são feitas, já no ato final, mostram os conflitos e até onde conseguimos ir pra lutar contra quem amamos.

 

 

Vencedor do Grande Prêmio do Júri na categoria World Cinema Dramatic no Festival de Sundance, Tempestade de Areia é um grito de socorro para essas mulheres que vivem presas em conflitos sem poder respirar suas próprias escolhas e conhecer o que é liberdade.

 

 

Tempestade (França)

 

Temos o destino que merecemos. O nosso destino está de acordo com os nossos méritos. Vencedor de dois prêmios no aclamado Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2015, Tempête, no original, dirigido pelo francês Samuel Collardey, é uma daquelas pérolas sensíveis, raras, que explora a ausência até seu último suspiro. Dúvidas e escolhas são bastante explorados pelos personagens, repletos de indagações e sonhos, quase análogos à incerteza quando estamos passando por uma fase adolescente para a fase adulta. Um recorte maduro sobre a paternidade e a busca por melhores condições para uma família.

 

 

Na trama, conhecemos o pescador Dom (Dominique Leborne), um homem perto dos quarenta anos que trabalha em alto mar ficando pouco tempo por mês em terra. Ele recentemente se divorciou e conseguiu a guarda de seus dois filhos, Mailys (Mailys Leborne) e Matteo (Matteo Leborne) que escolheram ficar com ele por terem problemas com a mãe. Mesmo ausente, Dom sempre preenche a casa onde vive com os filhos de amor e carinho, mesmo com algumas irresponsabilidades. Quando a filha fica grávida aos dezesseis anos, Dom precisará encarar escolhas que mudarão para sempre os rumos dessa família.

 

 

A ausência é um tema importante, explorado com leveza, também acompanha toda a história, os caminhos da maturidade até a responsabilidade, grande dilema do protagonista. Há um certo descontrole quando se vê cheio de tempestades em sua vida, com a eminência da perda da guarda de seus filhos e a decisão de pensar em um trabalho remunerado que o deixe mais presente, em terra, perto deles. Movido pelo amor que tem pelos filhos, o protagonista embarca em uma transformação em sua vida pessoal e profissional, se apegando em seus sonhos para escrever um horizonte cheio de esperança e estabilidade.

 

 

Um pai ausente mas amoroso, irresponsável com detalhes da vida mas que ajuda quando está por perto. Dom, personagem marcante, é um retrato de parte da sociedade que na busca pro melhores condições para a família acaba abdicando de momentos importantes na formação dos filhos. Tempestade é um recorte que exala humanidade, duro, transformador quando estamos em um limite de nossas forças e de como todos os dias podemos aprender mais sobre nosso mundo.

 

Um Lindo dia na Vizinhança (EUA)

 

A mudança do mundo destruído pelas palavras. Um cotidiano das emoções em forma de declamações, um livro contado sobre a arte das emoções. Baseado em fatos reais, mais precisamente do artigo de Tom JunodCan You Say ... HeroUm Lindo dia na Vizinhança, que estreou faz poucos dias no concorrido (por termos muito poucas salas) circuito brasileiro de exibição, navega pelos sentimentos de forma bastante simples que dão a entender algo parecido a original, as declamações de pensamentos nos levam ao instantâneo ato de pensar sobre aquilo buscando referências em nossas próprias vidas. No papel principal o ator Matthews Rhys, em atuação apenas ok. No papel coadjuvante, nosso eterno Forrest. Tom Hanks é um ator diferenciado, sempre em busca dos mais complexos personagens e sempre com maestria para nos contar suas histórias. Somos sortudos por ser da mesma geração desse gênio da arte de interpretar. A direção é da cineasta californiana Marielle Heller (do elogiado Poderia Me Perdoar?).

 

 

Na trama, conhecemos um rabugento jornalista Lloyd Vogel (Matthew Rhys, do ótimo seriado The Americans) que após uma ordem de sua chefe, precisa fazer um texto de 400 palavras sobre o famoso apresentador de público infantil, Fred Rogers (Tom Hanks). Conforme vai conhecendo mais a fundo seu entrevistado, o protagonista começa a passar por mudanças profundas na sua forma de pensar e expressar seus sentimentos, principalmente com o recém aparecido pai.

 

 

Um Lindo dia na Vizinhança é um projeto peculiar que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência. Não deixa de ter também quebra de certos paradigmas como o olhar para a câmera. A tal da inteligência emocional, a partir da inspiração. Um Lindo dia na Vizinhança é um filme que você precisa ser convencido que ele pode ser uma boa experiência, isso pode acontecer. A paciência é um fator importante. Nas imperfeições, a subtrama do protagonista e sua saga em reconciliar com seu pai seja pouco profunda, quando Hanks sai de cena o filme dá umas despencadas, mesmo Chris Cooper estando ótimo no papel do pai do protagonista.

 

 

Onde ir onde quando a alma está ferida? Um fator interessante é que há uma conversa franca com o espectador. Uma grande sessão de terapia que ultrapassa as barreiras da telona. Muitos podem se identificar demais com a história contada, sobre pais e filhos. Psicólogos, psicanalistas, psiquiatras precisam assistir a esse filme. Gera um bom debate.

 

Bacalaureat (Romênia)

 

Ética é a concepção dos princípios que escolhemos, moral é a sua prática. Depois de encantar o mundo cinéfilos com filmes como 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o renomado cineasta romeno Cristian Mungiu volta ao universo cinematográfico, após um hiato de quatro anos, com o profundo longa metragem Bacalaureat, que lhe rendeu nada mais nada menos que o prêmio de melhor diretor no último e badalado Festival de Cannes. Explorando os caminhos tumultuados que um pai precisa tomar para que sua filha tenha uma vida distante dos problemas de onde vivem, Mungiu acaba fazendo uma grande exploração bastante Kantiana traçando um paralelo emblemático entre escolhas e consequências no mundo atual.

 

 

Na trama, conhecemos o médico Romeo (Adrian Titieni), um homem de idade mediana que mora com sua mulher Magda (Lia Bugnar) e sua filha Eliza (Maria-Victoria Dragus) em um bairro de classe média de uma cidade da Romênia. Romeo possui uma amante, Sandra (Malina Manovici), por quem possui um carinho enorme. Quando sua filha Eliza sofre uma violência a caminho da escola e isso a impede de completar a tempo questões de uma prova importante para o futuro dela, Romeu precisará caminhar por uma estrada onde uma linha tênue divide as posições da ética e da moral.

 

 

Um dos fatores mais interessantes do fantástico roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme, é que as ações e consequências que vemos ao longo dos 122 minutos de projeção parecem um grande debate filosófico, pisando em linhas éticas e morais, passando pelo tráfego de influência e manipulação em um sistema de ensino rígido. Todas as peças contribuem para o debate, Romeo é apenas nossos olhos nesse tabuleiro de escolhas, um homem comum, com seus princípios, talvez nada diferente de mim ou de você.

 

 

As ações das pessoas influenciam o comportamento do indivíduo. Sem uma mancha no currículo e com uma reputação irreparável, Romeo em poucos dias ultrapassa todos os limites éticos possíveis fazendo com que sua personalidade mude e que as emoções fiquem à flor da pele. As variáveis do protagonista são muito bem exploradas pelas lentes inteligentes de Mungiu, percebemos o constrangimento e a decepção caminharem lado a lado, Romeo fica completamente esgotado. Os embates e diálogos com sua filha são as cerejas no bolo, definindo também uma necessidade de Eliza em trilhar seus próprios pensamentos, se distanciando da proximidade de seu pai e tomando as atitudes que melhor achar.

 

 

Bacalaureat, infelizmente, não tem previsão de estreia no Brasil. Uma pena, discutir sobre a maneira de se comportar regulada pelo uso (moral) e os costumes (ética), é um prato cheio para nós cinéfilos que gostamos de traçar paralelos com nossa realidade. Esse filme tem muito de muitos lugares. 

 

 

Fences (EUA)

 

Mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Dirigido e protagonizado pelo genial artista Denzel Washington, Fences fala sobre a vida de um homem, seus conflitos, suas convicções e suas relações conturbadas e cheias de princípios com sua família. Baseado na peça homônima de enorme sucesso escrita por August Wilson (que assina o roteiro), e também protagonizada por Denzel nos teatros (papel que lhe rendeu o prestigiado prêmio Tony em 2010), o longa metragem tem momentos de pura poesia que nos faz pensar a cada minuto sobre nossa vida e nossos sonhos nesse imenso mundo cheio de diversidades em que vivemos. Talvez a cereja do bolo, as atuações de Denzel e Viola Davis são magistrais.

 

Na trama, ambientado na década de 50 nos Estados Unidos, acompanhamos a trajetória de Troy Maxson (Denzel Washington) um homem analfabeto, que foi preso por anos, e depois trabalhou duro todos os dias para sustentar sua família, de origem humilde, em um bairro familiar norte americano. Frustrado toda vida por não conseguir ter sido um jogador de baseball profissional, com todo o talento que tinha, seu destino lhe reservou outra história e assim ele vive o cotidiano entre um drink e outro, tentando se manter consciente em casa e no relacionamento conturbado que possui com sua mulher Rose Maxson (Viola Davis) e seus dois filhos além de ter que cuidar do irmão Gabriel (Mykelti Williamson), um ex-combatente do exército que voltou com problemas da guerra.

 

Mesmo falando de assuntos familiares complicados, com a ótica totalmente em cima nas escolhas que o protagonista toma, o filme respira poesia e leveza. As lições que o texto de August Wilson provoca no espectador são inúmeras. As cercas do título fazem total sentido, é o paralelo com Troy que parece ter colocado uma grande proteção em volta de quem os cerca. Mesmo com atitudes impulsivas e seguindo uma regra de disciplina fervorosa, Troy é o retrato de grande parte dos trabalhadores norte americanos de origem humilde na década de 50, esperando por chances que às vezes nunca chegam, lutando contra preconceitos todo dia. Podemos fazer uma analogia com os tempos atuais de crise não só no Brasil mas em boa parte do planeta.

 

O filme ganha contornos mais dramáticos quando Troy conta a sua esposa Rose, com quem é casado há 18 anos, que terá um filho em breve de uma amante. Essa cena já vale o ingresso, Viola e Denzel não dão só show, dão aula em cena. A partir desse ponto, muita coisa muda na visão de Rose mesmo Troy tentando se manter firme em suas atitudes e as conseqüências que chegam a partir disso, como o distanciamento do filho mais novo que é praticamente expulso de casa certo dia pelo pai.

 

 

Fences possui cerca de 140 minutos, e praticamente nem sentimos. Podemos dizer que é um teatro filmado, com poucos cenários e impactantes diálogos. É uma história forte, muito bem escrita e atuada que conta com atuações espetaculares de dois dos melhores atores norte-americanos em atividade. Bravo! 

 

 

Más Notícias para o Sr. Mars (França)

 

Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo. O novo trabalho do cineasta alemão Dominik Moll (O Monge) é antes de tudo um filme que dita suas regras nas entrelinhas da loucura de uma mente reclusa e exausta dos seus caminhos iguais dia após dia. Explorando bastante seu caricato protagonista, Moll transporta para tela, de maneira bem leve (e muitas vezes bem estranha), as dezenas de possibilidades que o ser humano tem todo dia de acordar e sair da rotina estressante.

 

 

Na trama, somos apresentados a Philippe (François Damiens), um analista de sistemas que vive uma vida certinha, cheia de regras e pacata em uma cidade francesa. Perto de fazer quase 50 anos sua ex-mulher, uma repórter famosa de uma emissora francesa,  decide de uma hora para outra se mudar para a Bruxelas, deixando os dois filhos adolescentes para ele cuidar. Só isso já seria impactante em sua rotina mas para deixar mais maluca essa história, Philippe começa a enfrentar problemas no seu trabalho, tendo que trabalhar com um funcionário que vai alterar de vez os rumos dessa história.

 

 

É preciso paciência e colocar nossas células cinzentas para buscar as associações que o roteiro também escrito pelo diretor busca explorar. Obviamente, a crise de meia idade é o ponto de start para que o fechado protagonista comece a navegar em sua controlada loucura que afeta (e ele também é afetado) a todos que o cercam, desde os novos ‘amigos’ de trabalho, a ira de um supervisor escandaloso, sua relação com os dois filhos, a distância de sua ex-esposa e o aparecimento em tons fantasmagóricos hilários de seus pais.  

 

 

Exibido no Festival de Berlim em 2016, esse curioso projeto, tem como protagonista o excelente e versátil ator belga François Damiens.

 

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