09/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #16 - Katia Chavarry

O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.

Nossa convidada de hoje trabalhou durante duas décadas como curadora na área de cinema e vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro). A querida cinéfila Katia Chavarry é formada em comunicação na década de 80 e sempre frequentou os cinemas cariocas, sendo figura bastante presente em sessões históricas da cidade maravilhosa.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

CCBB, Estação Botafogo, Estação Net e Cine Joia. Gosto da programação de filmes de arte, que não são filmes comerciais, mas sim de obras exibidas em festivais e selecionadas para o público que prefere esse perfil de Filmes. E são salas que combinam com os filmes e o público cinéfilo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Tom e Jerry.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tenho diversos diretores preferidos, bem difícil. Mas vou ficar com Ken Loach com Meu nome é Joe e seu primeiro filme, Kess.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Lavoura Arcaica, porque é uma boa adaptação do livro, a fotografia e cenografia me encantam e os atores arrasam (difícil responder essa pergunta também...).

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É viver assistindo filmes com estruturas, roteiros, diretores etc diferentes e curtir essa diversidade. Ser cinéfilo é ter uma paixão maravilhosa, que enriquece a vida.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Os cinemas com esse perfil de filmes não comerciais sim. O programador precisa conhecer diretores, filmografias, filmes de diversos países, estar sempre pesquisando e assistindo a maior quantidade de filmes possíveis.

 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Tenho horror de pensar isso, mas infelizmente quase todos os cinemas de rua fecharam no Rio de Janeiro. E apesar dos streamings nada será como a tela grande, que é a paixão dos cinéfilos. Torço para que nunca fechem.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Fundo do Coração, do Coppola.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Infelizmente creio que não, apesar das saudades de ir ao cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que o cinema nacional é bastante especial, reconhecido internacionalmente, inclusive com diversos atores participando de filmes de outras nacionalidades.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Nunca escolhi um filme nacional por ator/atriz, e sim pelo diretor ou temática.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Como disse Samuel Fuller em Pierrot le Fou, do Godard: “um filme é como um campo de batalha. Amor. Ódio. Ação. Violência. Morte. Em uma só palavra: Emoção.”

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando eu era curadora de cinema no CCBB realizamos uma mostra do Rosa Von Pronheim e no meio da sessão de um filme que não lembro o nome alguém gritou “esse filme é uma merda, só tem viado”! E outro expectador respondeu: “então por que você não vai embora?”. Gargalhada geral. E uma vez no Cine Joia, na exibição de um filme de Jonas Mekas, o público foi saindo aos poucos e uma senhora, quase na porta virou e disse: “Tchau, boa tarde.”  Foi bastante divertido.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Infelizmente não assisti.

 

 

15) Qual o pior filme que viu na vida?

Não gosto de Olga.

 

16) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente, mas conhecer filmografias diversas é bastante enriquecedor.


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08/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #15 - Miguel Barbieri Jr.

O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.

Nosso convidado de hoje é um dos mais reconhecidos jornalistas especializados em cinema do Brasil. Miguel Barbieri Jr. escreve para a Veja São Paulo há quase 20 anos, utiliza as plataformas digitais para interagir com seus leitores sempre dando diversas dicas, formulando listas e expressando opiniões com muita argumentação sobre o universo audiovisual. Conversar com o querido cinéfilo Miguel é sempre uma grande aula e percebemos o amor pela sétima arte em cada letra, cada palavra.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Pergunta difícil. Eu adoro salas vip e em São Paulo há muitas, como as do JK Iguatemi, que eu adoro. Tenho grande admiração pelo CineSesc, uma gostosa memória afetiva, que tem uma sala confortável, mas, por ser uma única sala, a programação é restrita. O Reserva Cultural tem uma ótima programação (para cinéfilos). Mas se tivesse que escolher apenas UM cinema, seria o complexo do Espaço Itaú Frei Caneca porque, embora as salas já estejam desatualizadas, tem a melhor programação, que combina blockbusters com filmes independentes.  

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Na minha memória, vem as comédias/faroestes do Trinity, estreladas por Terence Hill e Bud Spencer, mas "cinema como um lugar diferente", nada supera os filmes-catástrofe, como Aeroporto 75 e Inferno na Torre.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Outra pergunta impossível. Eu digo que, dos vivos, Almodóvar e Woody Allen. Acho que ficaria, então, com A Lei do Desejo, do Almodóvar. Do Woody Allen, não saberia apontar apenas um. Dos que já foram, Visconti e seu Morte em Veneza.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Lavoura Arcaica, do Luiz Fernando Carvalho, porque poucas vezes vi um livro ser tão bem adaptado para o cinema. É cinema na sua essência e literatura também (e sem ser boring). 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter o cinema como um prazer, algo que te alimenta de alguma forma.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acho que são pessoas que entendem do business, de negócios e podem, eventualmente, gostar de cinema, mas não necessariamente entender de cinema. 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. O cinema já esteve várias vezes ameaçado e permanece aí há mais de 100 anos.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Diva, que está no cardápio do Belas Artes à la Carte. É do início dos anos 80, passou num circuito bem cult de SP, mas me marcou com sua estética publicitária, que era moda na época.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se abrem academias, que considero um espaço muito mais perigoso para pegar o vírus, porque não reabrir os cinemas?

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Como sempre, tem seus altos e baixos. Há muitos filmes brasileiros que são produzidos, são ruins, pouca gente vê e fica por isso mesmo. Mas, por outro lado, surgem umas pérolas como Gabriel e a Montanha, Como Nossos Pais, Benzinho e Pacarrete, que são filmes que "conversam" com o público e não são grandes sucessos de bilheteria.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Como crítico, é difícil perder algum filme de um artista importante. Mas, caso esta não fosse minha profissão, diria Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é viver a vida de outros.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Estava vendo algum Missão: Impossível numa sala da Cinemark do Eldorado quando começou uma briga de socos. Tudo porque um sujeito pediu silêncio para um pai com um filho, eles continuaram a falar e o outro partiu para o ataque esmurrando o pai. Todo mundo começou a pedir para que ele parasse. Até que acenderam as luzes. O agressor saiu da sala como se nada tivesse acontecido e a sessão voltou do ponto que havia parado. Detesto pessoas que falam durante o filme, mas nada justifica você agredir uma pessoa por causa disso. 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #14 - Lufe Steffen

O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.

Hoje conversaremos com um artista completo do audiovisual. O cinéfilo, cineasta, jornalista, escritor, ator e cantor, formado em Comunicação – Rádio & Televisão, Lufe Steffen. Já dirigiu 10 curtas-metragens ficcionais e 2 longas documentais, os premiados São Paulo em Hi-Fi (2016) e A Volta da Pauliceia Desvairada (2012), ambos sobre a noite LGBT paulistana. Curador e produtor de algumas mostras audiovisuais, atualmente ministra oficinas de cinema e mantém o canal Naftalufe, no YouTube além de acabar de rodar seu primeiro longa de ficção, o musical queer ambientado nos anos 80 Nós Somos o Amanhã.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

CineSesc, tanto em termos de programação como de tudo, localização, instalações, a sala em si, tela, o café, tudo. É um recanto, um refúgio, um oásis. A programação costuma ter retrospectivas de grandes cineastas. Aí então vira uma apoteose, é maravilhoso acompanhar essas retrospectivas lá. Nos anos mais recentes tivemos do Visconti, Milos Forman, e o Fellini este ano infelizmente foi interrompido pela pandemia.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Xanadu, de 1980. Assisti no cinema quando era muito pequeno, mal podia acompanhar as legendas, mas até hoje lembro desse impacto.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil rs! Tenho vários diretores favoritos... Vou escolher um mas só porque tenho que escolher: Pedro Almodóvar e o filme é Má Educação.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Também aqui teria de escolher vários, eu poderia citar uns 50 filmes brasileiros que são meus preferidos. Então tomo a liberdade de escolher 3: Bye Bye Brasil do Cacá Diegues, considero um retrato brilhante do Brasil e suas contradições, e permanece atual; Onda Nova, de Ícaro Martins e Zé Antônio Garcia, também um retrato, mas da juventude dos anos 80, e está super atual, moderno; e Anjos da Noite, de Wilson Barros, um filme moderno e ousado em sua linguagem, que vem sendo redescoberto.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É viver em função do cinema, balizar a vida a partir disso.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Complicado responder isso rs! Eu teria de conhecer melhor as pessoas que fazem a programação, e conheço poucas. As que conheço, sim, entendem.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não. Se depender de mim, não vão, pois continuarei frequentando enquanto existirem.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Vou indicar 2 filmes de terror do diretor Carlos Hugo Christensen: Enigma para Demônios de 1974 e A Mulher do Desejo de 1975. São excelentes obras do terror nacional pouco lembradas hoje.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não sei... É complicado. O ideal seria esperar a vacina. Por outro lado, se abrirem e os tais protocolos forem respeitados, tudo bem. No fim, a decisão cabe ao espectador: ir ou não ir.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acredito que tem muita coisa legal, tecnicamente a qualidade sempre cresce e melhora, isso deixou de ser um problema no cinema brasileiro. O que sinto falta é de mais variedade e ecletismo nas propostas e linguagens. Aí é uma questão de gosto meu. Sinto que muitos filmes se parecem entre si, existem estilos e padrões e os filmes acabam se encaixando em algum deles. Sinto que está faltando ousadia, atrevimento e despudor.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gosto muito da Gilda Nomacce, atriz que faz muita coisa no cinema, é sempre bom vê-la em ação.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Poção mágica.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

O que mais me lembro é das ocasiões em que o público aplaudiu, às vezes de pé, o filme no final. Quando isso acontece é sempre arrebatador e emocionante, me lembro da sessão de Hair no CineSesc em 2018, que teve isso, por exemplo.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Nunca vi esse filme rs... Uma falha no meu currículo.

 

15) Qual pior filme que você viu na vida?

Não sei responder essa pergunta, porque acho que quase todo filme sempre tem algo de bom, algo sempre se salva. E além disso, a memória guarda os filmes que gostei, que vejo, revejo. Os filmes que não gostei, acabo esquecendo!

 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #13 - Lucas Vasconcelos

O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.

Nosso convidado de hoje é cineasta e ator. Cinéfilo, que tem em Spielberg como seu diretor preferido, Lucas Vasconcelos é um artista da nova geração do universo audiovisual. Já competiu em 2018, com seu curta-metragem Bem-Vindo de Volta no Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF) e também já atuou no elogiado seriado Malhação - Toda Forma de Amar. Para falar um pouco sobre cinema e curiosidades sobre esse mundo, entrevistamos ele.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu gosto muito do estação, lá eu consigo tanto ver os filmes independentes quanto os filmes de bilheteria e comerciais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Cinema Paradiso

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Steven Spielberg e o filme favorito dele é E.T.

 

 4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Meu filme favorito nacional é Linha de Passe, acho incrível a forma que o Walter Salles e a Danielle Thomás retrataram a realidade. São performances tão reais que parece ser um documentário.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo para mim remete pertencer a um nicho de amantes da 7 arte.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca, elas podem se enfraquecer por conta dos streamings, mas assim como o teatro, o cinema é uma arte que nunca morrerá.

 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Rebobine Por Favor, de Michel Gondry! A história de uma locadora que vai à falência e os funcionários começam a fazer filmes para salvar o local.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Infelizmente eu acho que seria mais seguro só depois da vacina mesmo... uma pena por que eu estou com sede de sala de cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em um lento processo de adaptação.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Um fluxo constante de um sonho.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Quando fui na estreia de Noé e vi o Russel Crowe.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Hahahahaha risos!!

 

15) Você é um cineasta da nova geração. Com que artistas gostaria de trabalhar em futuros filmes dirigidos por você?

Selton Mello, Daniel de Oliveira e Leandra Leal!


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07/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #12 - João Rocha

O cinema é a luz que ilumina os nossos tempos, o passado e o futuro. Pensando em dividir com você leitor, dicas e curiosidades de inúmeros cinéfilos espalhados por nosso país, criamos essa coluna semanal onde convidado amantes da sétima arte que trabalham ou não com cinema.

Nosso convidado de hoje é produtor, diretor, ator, formado em Marketing, foi fundador e curador do Brazil Cine Fest / Macaé Cine International Film Festival entre os anos de 2011 e 2015. João Rocha, sobrinho de um dos maiores diretores que o Brasil já produziu, Glauber Rocha, segue seu próprio caminho no audiovisual, que teve início tempos atrás como designer do filme indicado ao Oscar O Que é Isso, Companheiro?

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Escolher uma sala de cinema por programação sempre foi difícil. A crescente difusão das redes das salas comerciais acaba fazendo adequações de mercado e de distribuição, as programações vão de acordo com as bilheterias, retorno financeiro e de mídia. Existem alguns refúgios que mantém uma programação 'off-broadway' com filmes que recebem pouco ou nenhum espaço de exibição, que permitem ao público alcançar produções menos parrudas, midiáticas e com narrativas menos comerciais. Valorizo muito esses locais. Aqui no Rio o Estação é um deles. O cinema Laura Alvim também.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A Dança dos Vampiros de Roman Polanski e seguida O Destino do Poseidon dirigido por Ronald Neame.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho um. Tenho alguns. O australiano Baz Luhrmann, Darren Aronofsky, tem o Brian de Palma. Diretores com assinatura forte. Sei lá, não me ligo no nome de diretores. Toda mente brilhante tem altos e baixos. Ninguém é criativo o tempo todo, tão pouco genial. Eu gosto de filmes, ponto! Gosto filmes para pensar, filmes para não pensar, para rir, para chorar, para sentir medo, só não gosto de filmes para cochilar. Filmes que começam, acabam e não chegam em lugar nenhum. 

 

 4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Vou ser nepotista, gosto do O que é isso, Companheiro?! (risos) sou o design do filme e concorremos ao Oscar, né?! Mas é difícil escolher, sou fã do cinema nacional. Nasci e cresci nos bastidores, vendo tudo acontecer. Tenho uma relação muito pessoal com quase todos. Poderia listar um monte aqui.       

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter amor pelo cinema como um todo. Sem distinção de segmento. De gênero. É se permitir conhecer o cinema em sua totalidade e apreciar todo o universo que se relaciona direta ou indiretamente com essa maravilhosa sétima arte.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

As salas de cinema são um serviço comercial, são instituições financeiras. Acho que isso já responde.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Da forma que conhecemos, sim. As telas migram mas o cinema nunca morre!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Irreversível (2002) escrito e dirigido por Gaspar Noé.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Uma pergunta difícil que exige uma resposta mais difícil ainda. Tenho opiniões divididas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Somos uma das maiores potências mundiais, porque fazemos filmes incríveis com o mínimo de recursos. É como o carnaval. Avançamos muito desde a retomada e podemos avançar ainda mais quando colocarmos nosso preconceito sobre os gêneros, sobre os aspectos comerciais, sobre indústria de lado. E principalmente, quando pararmos de fazer cinema para satisfazer nossos frágeis egos.  

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Tem isso? Então nenhum. Vejo 'o filme', não vejo o artista. Até mesmo porque um filme não é a obra de uma única pessoa, é uma obra coletiva. É uma comunhão de talentos.   

 

12) Defina cinema com uma frase:

Mágica.

 

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Lembro quando eu era pequeno em Salvador e uma senhora pulou da cadeira e foi até a tela beijar o pé de uma personagem e começou a gritar coisas que não posso repetir aqui. Acho que era A Rosa Púrpura.

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um produto do momento, igual a tantos outros no mundo todo. Para todo filme existe um público.

 

15) Você é cineasta. Como você enxerga o setor audiovisual brasileiro? Há muita dificuldade em se realizar um filme e colocar ele em um cinema?

Enxergo como uma roleta russa. Fazer cinema no Brasil é um sacrifício. O incentivo é zero, o retorno quase nenhum e a exibição nos cinemas dependem de uma série de acordos, lobbies e contratos. Na verdade sempre foi assim. Atualmente existem plataformas digitais e canais de tv para assinantes, oferecendo novas possibilidades de exibição para um público muito mais abrangente, globalizado. Muita gente está voltando a produzir pensando nesses novos veículos. 

 

16) Você acha que após a pandemia, vão haver muitos filmes com temática sobre a quarentena que o mundo vive nos dias de hoje?

Sim, com certeza! Na verdade já tem muita gente produzindo na quarentena, se adequando, falando sobre todo esse universo novo e solitário, que antes assistíamos apenas na tela grande. São experiências, sentimentos, sensações novas e que fazem parte de um momento nunca antes vivido em toda a humanidade nessas proporções. Falar sobre esse assunto é necessário para termos as impressões, os registros, as percepções de como cada um viveu e observou essa histórica pandemia.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #11 - Ana Carolina Garcia

Como expressar nosso amor pelo cinema? Pensando em reunir diversos cinéfilos de todo o Brasil, essa humilde coluna vem para dividir com vocês fatos e dicas sobre como pensam inúmeros cinéfilos, que trabalham ou não com cinema.

Nossa décima primeira entrevistada é jornalista, autora do ótimo livro A Fantástica Fábrica de Filmes - Como Hollywood se Tornou a Capital Mundial do Cinema, da Editora Senac Rio, e atualmente escreve sobre cinema para o site https://www.srzd.com/. Ana Carolina Garcia é carioca e figura presente nas cabines de cinema que ocorrem na cidade sempre com sua simpatia e habilidade de argumentos falando sobre cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Não há, da minha parte, preferência em termos de programação porque na maioria das vezes a oferta é a mesma, principalmente nas grandes redes. Mas há, sim, preferência em termos de conforto e tecnologia. Neste caso, fico com a IMAX, no UCI do New York City Center, na Barra da Tijuca.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Vou ao cinema desde muito pequena, então não lembro qual filme despertou interesse enquanto experiência cinematográfica.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Acho que posso relacionar esta resposta à anterior. Cresci assistindo E.T. – O Extraterrestre e Tubarão na Sessão da Tarde, na Rede Globo. E A Lista de Schindler demonstrou o quão rico é o leque de temas abordados pelo cinema, bem como a genialidade de um de seus realizadores, Steven Spielberg, que é o meu cineasta favorito.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho dois, na verdade: Cidade de Deus e Tropa de Elite, que fazem um retrato dolorido do Rio. Não consigo decidir entre eles pelo conteúdo e apuro técnico.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É se permitir relaxar por algumas horas – exceto quando preciso analisar o filme para criticá-lo – e esquecer um pouco do estresse cotidiano.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maioria prioriza a questão comercial, algo até compreensível porque as salas precisam gerar lucro suficiente para que possam permanecer em funcionamento. O problema é que títulos independentes, menores, não têm espaço. Às vezes, nem mesmo em cinemas que tradicionalmente priorizam filmes pouco badalados comercialmente.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito nesta possibilidade porque as salas são, historicamente, espaços de socialização. Mas acho que, face à ameaça do streaming e do VOD, considerando a quebra da janela de exibição tradicional pela Universal Pictures em acordo com a AMC Theatres, nos Estados Unidos, as salas terão de se adaptar para atrair o público, inclusive investindo em conforto e tecnologia. Além disso, enfrentarão momentos de crise, principalmente no período pós-pandemia.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

Expresso do Amanhã, do Bong Joon-ho. Protagonizado por Chris Evans, é um filme de arte travestido de blockbuster que trabalha com perspicácia os gêneros de ficção-científica, ação e drama, tecendo crítica ao abismo entre classes sociais distintas, representadas pelos vagões da locomotiva, que surgem como fases de videogame.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não devem reabrir enquanto o risco de contágio for alto, principalmente se observarmos a dificuldade de parte da população em respeitar regras. Além disso, acho muito difícil, para não dizer impossível, as salas colocarem máscara como acessório de uso obrigatório por causa da bomboniere.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Está melhorando a cada ano, basta observarmos a quantidade de cineastas que tem se arriscado fora da zona de conforto proporcionada pelas comédias de grande apelo comercial. Há, também, mais cuidado no que tange à técnica, preocupação em se equiparar às produções estrangeiras até para que possam participar de seleções de festivais e da temporada de premiações americana, que termina com o Oscar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Marco Ricca. É um profissional talentoso e versátil que explode em cena, tendo em sua filmografia dois trabalhos que considero os melhores de sua carreira: Chatô – O Rei do Brasil e Canastra Suja.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Subestimado no passado, cinema é uma forma de arte em constante transformação e que reflete seu tempo, utilizando a seu favor o fato de ser um poderoso meio de comunicação de massa.

 

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Sessões de blockbusters estrelados por super-heróis sempre são barulhentas porque o público realmente interage com o que é mostrado na tela. Em Vingadores: Ultimato havia toda a comoção pelo encerramento de um ciclo no UCM, despedida de personagens amados pelos fãs e defendidos por atores igualmente amados. Na sequência da batalha final, que mostra a despedida de um deles, o silêncio tomou conta da sala em sinal de respeito e devoção. Este é um exemplo de como o cinema pode unir o público, independente da idade.

 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #10 - Guilherme Tristão

‘O cinema é um modo divino de contar a vida.’ Com essa frase de Federico Fellini começamos mais uma edição da nossa coluna feita de cinéfilo para cinéfilo: E aí, querido cinéfilo?!

Toda semana estamos colocando entrevistas e curiosidades de amantes da sétima arte espalhados pelo Brasil. Apaixonados por cinema que usam parte de seu tempo diário amando a sétima arte. Na coluna de hoje, entrevistamos uma das mais fantásticas mentes quando pensamos em várias esferas do audiovisual, o nosso convidado é um grande estudioso sobre exibição em cinema e também um dos grandes cinéfilos desse nosso imenso país. Guilherme Tristão, a quem eu carinhosamente chamo de ‘mestre’ é um dos coordenadores de programação de várias edições do Festival do Rio de Cinema, assistente da direção do Centro de Artes (Ceart) da UFF, coordenador do Festival Brasileiro de Cinema Universitário, realizado anualmente no Rio de Janeiro, fora as dezenas de outros projetos que ele participa a cada ano dentro do mercado audiovisual nacional. Dono de um humor peculiar, lembro-me com muito carinho de inúmeras conversas sobre filmes nas mesinhas elegantes de um dos cinemas mais lindos do brasil: O Reserva Cultural Niterói.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

CINE ARTE UFF - uma sala decididamente alternativa, e só lá pode-se assistir filmes que não vão ser exibidos em lugar mais nenhum, especialmente brasileiros artesanais e/ou autorais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro que me trouxe esse fascínio foi O BAGUNCEIRO ARRUMADINHO (The Disordely Ordely), de e com Jerry Lewis, de quem me tornei fã.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Federico Fellini / ROMA. Mas, meu filme preferido é A FELICIDADE NÃO SE COMPRA (It's a Wonderful Life) de Frank Capra.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

TERRA EM TRANSE. Delirante, cenas incríveis, politicamente complexo e atual.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

Ter uma intensa curiosidade por qualquer tipo de filme que pareça ter um mínimo de qualidade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Bem, depende do que se entende por 'entender de cinema": acho que há programadores que entendem o que é popular; outros entendem o que emociona as pessoas; outras o que são filmes de exceção; outros que entendem o que são filmes mais sofisticados; ainda há os que conhecem a história do cinema, os grandes clássicos e diretores. A depender do objetivo de determinada sala, ela pode ter ou não programadores que atendam esses objetivos. Acho que a maioria das salas que conheço tem gente apropriada para o seu perfil.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho praticamente impossível, especialmente se HOLLYWOOD continuar existindo, com seu marketing e constante inovação tecnológica.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Respondendo, sem pensar muito:  CABARÉ BIBLIOTEQUE PASCAL (Bibliotèque Pascal), de Szabolcs Hadju. Há pouco vi um obscuro (acho!) filme russo que adorei: A RUSSIAN YOUTH, de Alexander Zolotukhin (discípulo do Sukurov).


9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Eu, particularmente, não vou se abrir antes. Se as mortes no estado caírem para menos de 5 por mês, vou pensar! Mas gosto muito de STREAMING!!!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O grande destaque (parece chavão, mas não é) é a diversidade de propostas. Sinto falta, no entanto, de filmes mais interessantes para a classe média, produções comerciais, de maior qualidade, com roteiros mais bem feitos, tipo QUE HORAS ELA VOLTA, BEIJO NO ASFALTO (nova versão), O FILME DA MINHA VIDA...filmes que evitam fórmulas ou clichês.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

A rigor não tenho esse tipo de artista no Brasil, mas já fui MUITO curioso pelos filmes de Sérgio Bianchi e, hoje, tenho curiosidade pelos filmes do Esmir Filho, mas não gostei de seu último longa (ALGUMA COISA ASSIM).

 

12) Defina cinema com uma frase:

 

'Espetáculo' audiovisual para grande público.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Ao ver TERREMOTO no sistema SENSURROUND no Roxy, na época da estreia, houve um defeito no sistema de som numa das cenas tranquilas do filme: um BUM gravíssimo e alto, vindo da parte de trás direita do cinema. O Sensurround era um sistema com um são tão grave que você não só 'ouvia' como sentia no corpo as vibrações graves do som. Bem quando deu esse BUM acidental, metade do cinema se levantou em pânico sem saber o que fazer. Depois a risada foi geral e o excitamento geral aumentou!

 

 

 

 


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Crítica do filme: 'Virando a Mesa do Poder'

O mundo do poder é muito parecido em qualquer lugar do mundo. Disponível no catálogo da Netflix, o documentário Virando a Mesa do Poder nos apresenta mulheres inteligentes e com vontade de mudar a situação nas regiões onde vivem, decidindo se candidatar a uma vaga no congresso norte-americano. O documentário, importante principalmente sob o ponto de vista de abrir a mente dos jovens eleitores sobre as inúmeras possibilidades e da real importância do voto (que nos Estados Unidos não é obrigatório), é dirigido pela cineasta Rachel Lears. Lançado no início do ano passado, o filme não ganhou tanta repercussão. Mas vale a pena conferir.

Relatos fortes, impactantes, a maioria das candidatas que conhece mais de perto são mulheres, fortes e batalhadoras que abriram os olhos e não querem mais fechar. De Nevada até big apple, o case mais profundo chega da mais badalada cidade norte-americana, Nova Iorque, quando após 14 anos uma prévia para o senado acontece na cidade, tendo a debutante a uma vaga no congresso a ativista Alexandria Ocasio-Cortez. A campanha de todas as candidatas mostradas são baseadas em doações de outras pessoas, diferentes dos poderosos do outro lado que são impulsionados por outros já poderosos de grandes empresas. De maneira bem simples, o documentário passa um raio-x de como o poder é cheio de alianças polêmicas e somente a força de vontade do povo que pode algum dia mudar isso.

Engajamentos, lideranças femininas. Importante menções ao mais engajado universo de hoje em que vivemos, Virando a Mesa do Poder não deixa de ser uma série de relatos sobre como podemos todos juntos mudar um pouco sistemas tão do arco da velha.

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06/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #9 - João Daniel Tikhomiroff

Não existe caminho para o cinema, o cinema é o caminho. Buscando curiosidades e respondendo a perguntas sobre o universo cinematográfico do Brasil e do mundo, essa humilde coluna desse jovem cinéfilo busca encontrar outros cinéfilos para juntos falarmos sobre uma das coisas que mais amamos nesse planeta que vivemos: cinema.

Nosso entrevistado de hoje tem mais de quarenta anos de experiência no mercado audiovisual brasileiro. Sócio da Mixer Films, e com 41 leões (nome do prêmio) conquistados no Festival Internacional de Publicidade de Cannes, João Daniel Tikhomiroff tornou-se referência na produção publicitária. O cinema sempre foi a paixão desse mente criativa do audiovisual, debutou como cineasta em Besouro no ano de 2009, depois dirigiu mais dois filmes: Didi e o segredo dos anjos (2014) e Os saltimbancos trapalhões rumo à Hollywood (2017).

E como a internet é tão boa para encontrarmos almas cinéfilas que talvez nunca encontraríamos na realidade, João sempre está pelo Facebook comentando sobre a sétima arte e tenho a honra de tê-lo como amigo por lá, sempre com ótimas dicas.  

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Belas Artes. Permanente cuidado na qualidade de programação, com diversidade e inteligência. Filmes que não passam no grande circuito ou que não voltarão a passar (no caso de “cult movie”).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Os Pássaros, de Alfred Hitchcock. Assisti na cabine da Universal Pictures, onde meu pai era diretor, e o projecionista começava a me mostrar algumas produções que chegavam ao Brasil, antes de exibição ao público. Eu tinha 9 anos de idade. Ali tive uma certeza: eu queria ser diretor de cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tenho vários... de várias fases e motivações. Mas pra escolher apenas um, será o mais completo de todos: Stanley Kubrick. E meu favorito dele será o filme que é uma aula completa de cinema: 2001: uma Odisseia no Espaço.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tenho vários: Macunaíma, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, São Paulo S.A. , Azyllo Muito Louco, ... mas para escolher apenas um, fico com Vidas Secas. Nelson Pereira dos Santos fez um filme incrível, tristíssimo, onde nos coloca nas vísceras da miséria nordestina, com uma condução precisa e talentosa. Filme inesquecível.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É você ter o cinema como a grande paixão da sua vida. Ser a prioridade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não. Definitivamente não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não acredito. Apesar do Covid 19, e outros vírus que deverão surgir, a magia de uma sala de cinema é insubstituível. Uma experiência que movimenta as emoções. Ninguém chora ou ri tão forte quanto ao “contágio” de uma sala de cinema cheia. Assim como o teatro não morreu, que os shows ao vivo não morreram... ao contrário, os jovens sempre buscarão essas experiências. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Toby Demmit, de Frederico Fellini. Brilhante. Um dos três episódios que compõe o filme Histórias Extraordinárias, baseado em contos do Edgar Alan Poe. Apenas o episódio feito pelo Fellini é excelente. Até hoje, surpreende.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Difícil dar uma opinião no meio de uma pandemia. Um vírus que os médicos e a ciência estão tentando entender e controlar. Não arrisco minha opinião.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

No mesmo nível do cinema mundial: ruim. Mas sempre encontramos algum bom, em ambos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Nem brasileiro, nem estrangeiro. Não perco um filme bom, ou promissor. Não importa quem sejam os atores. Mas tem atores que me fazem fugir da sala de cinema... Nicolas Cage, por exemplo. Perdeu o critério de escolha de papel...

 

12) Defina cinema com uma frase:

Viver uma magia, intensamente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

No meio de uma sessão normal do filme Sacco & Vanzetti, um sujeito se levantou comovido e gritou: “eu não aguento, pô! Muito revoltante. Não venho ao cinema pra sofrer!”... e foi embora. Aliás, recomendo muito assistir esse incrível filme, dirigido pelo Giuliano Montaldo, e trilha musical do gênio Ennio Morricone (e participa Joan Baez).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Hahahahahaha...

 

15) Você é um dos sócios da Mixer Films. Desde o tempo em que você começou até hoje, qual a dificuldade de um jovem sonhador querer trabalhar com audiovisual no Brasil?

As dificuldades são imensas. Sempre foram, mas agora está ainda mais difícil. Não existe uma mentalidade nem cultural nem investidora no audiovisual do Brasil. Por isso é uma batalha movida à paixão. Não é aberto à pessoas “normais”...

As plataformas de streaming estão mudando o cenário. As séries ganharam relevância e ousadia, muitas vezes mais que o cinema hoje. Desde Twin Peaks, de David Lynch, à antológica Família Soprano, passando por Breaking Bad, The Handmaid’s Tale, Black Mirror... e mesmo o infanto-juvenil Stranger Things, tem trazido frescor à dramaturgia audiovisual.

Fizemos na Mixer, algumas séries que nos trouxeram prêmios e muito sucesso internacional como Julie e os Fantasmas, O Negócio, a infantil Escola de Gênios, entre outras. Mas claro que cinema é cinema, e sempre será.

 

16) Você é cinéfilo mas sabemos que nem todos os cineastas brasileiros são. É importante ser cinéfilo para um diretor de cinema?

Acho que sim. Para fazer cinema você precisa ser um apaixonado pelo ofício. Mas sempre vai existir exceção à regra, brasileiro ou não. Mas desconfio de cineasta que não seja um cinéfilo...

 

17) Qual o pior filme que você viu na vida?

Alguns vão querer me matar... mas diria que foi um ganhador de Oscar :  Coração Valente (Braveheart), de Mel Gibson. Dos raros filmes que me levantei da cadeira e fui embora do cinema, no meio do filme.

 

18) Como cineasta, como você lida com as críticas dos jornalistas sobre seus filmes quando elas são negativas?

Sempre procuro não me impregnar, nem com as ruins nem com as boas. Críticos são feitos pra criticar. Assim deve ser. Mas se você se influenciar com essas opiniões, pode perder o foco. Para o bem ou para o mal. Muitos cineastas adotam essa postura: evitam ler. Elogios ou críticas negativas. Não importam.

Mas sempre respeito. Mesmo evitando ler. Mas confesso que uma crítica super elogiosa de meu filme, que chegou às minhas mãos, vinda do Hollywood Report durante o Festival de Berlim, eu não resisti e li. Hahahaha...!

 

19) Se algum jovem quisesse começar hoje a ser cinéfilo, qual filme você indicaria para ser o primeiro dele começar a ver?

Playtime, de Jacques Tati.


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #8 - Sandra Maya

O cinema é uma força que emociona e nos faz querer sempre a assistir o próximo filme. Seguindo na nossa série de entrevistas com queridos cinéfilos espalhados pelo Brasil que nos contam um pouquinho, por meio de determinadas perguntinhas, um pouco de toda sua paixão e amor pela sétima arte.

Hoje, que vamos entrevistar é uma das mentes mais cinéfilas que existem no Rio de Janeiro. Carioca, cinéfila, psicoterapeuta holística formada pelo Instituto Antonio Vieira, Sandra Maya é gerente e produtora da Cavideo, a fantástica locadora de filmes ainda ativa no Rio de Janeiro, mais especificamente no bairro do Humaitá. É impressionante a memória da nossa convidada, esse que vos escreve já foi várias vezes na Cavideo e Sandra, sempre simpática, já deu várias dicas de filmes sempre com uma simpatia contagiante. Muito ativa nas redes sociais, sempre falando sobre cinema em sua página pessoal do Facebook.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Unibanco Artplex. Conforto das poltronas, ar condicionado perfeito, boa livraria, perto de casa.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Ben-Hur quando era criança pela beleza e pela história (imitava as cenas em casa), e, adolescente, Gritos e Sussurros do Bergman, pela densidade dos personagens, o ambiente, a dor. Era muito jovem para avaliar os filmes tecnicamente, mas sabia que amava isso e queria fazer parte desse universo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Essa é difícil. Depende muito da obra, sou assim. Mas considerando o conjunto, Quentin Tarantino. Ele é um arquivo vivo dos anos 70/80. O melhor, Pulp Fiction, mas ele sempre inova seus filmes de maneira absurda.  E, apesar de tantos diretores maravilhosos, tenho outro que vale mencionar, Frank Darabont. Ele conseguiu fazer três filmes do Stephen King virarem obras primas. Adoro King, mas eles esculacham seus livros em cinema.       

                              

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Adoro documentários, já produzi um e vejo diariamente algum. Amo Edifício Master do Eduardo Coutinho. Ele era um mestre no que fazia.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aquela pessoa que não poder passar um dia sem ver pelo menos um filme, procura notícias sobre o que vai ser lançado, sobre técnicas de filmagem, pesquisa o trabalho dos diretores, dos atores, lê tudo, não deixa escapar nada, não importa o período, respira cinema, vive essa arte maravilhosa diariamente.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, acho que abrir uma sala de cinema é uma grande responsabilidade e você precisa oferecer um pouco de cada coisa que o público quer ver. Se você tem um negócio desses é para se realizar e passar o que você ama para frente, não pode ser só comercio, tem que ter sua alma envolvida. É uma possessão e você precisa de seguidores.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não posso acreditar nisso, acho que não. A sensação de sentar em uma poltrona de cinema e assistir um filme é algo inexplicável. Aquilo te envolve, te leva para outro mundo. Eu sou assim, quero devorar cada detalhe, saio de mim e vou para lá. As vezes o filme acaba e preciso de um tempinho para voltar daquele universo. Fui criada assim, criei meu filho assim e pretendo influenciar meu neto. Você precisa respirar isso para entender. Se acabar, ficarei sem uma parte de mim.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo:

Parente é Serpente do Mario Monicelli. Recomendo esse porque não sou fã de comédias, mas esse filme é sensível, uma comédia gostosa de ver, tem um drama comovente por toda história e acho todos tem alguém na família parecido com alguém daquela família. Monicelli é um gênio da comedia.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, infelizmente ainda penaremos um pouco.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que ele é de picos. Era ótimo, caiu muito, voltou a se reerguer com ótimas produções, mas agora está fraco de novo, muito comercial. Não que não deva ser comercial, é o que dá dinheiro, mas podemos fazer bom cinema sem ter o formato de tv.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Hoje?  Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema é a arte de nos fazer viver e conhecer outras realidades, outras vidas, sem deixar a nossa para trás.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O lançamento de Star Wars no Unibanco Artplex. Todos foram a caráter. Achei sensacional. Eu gosto de ver essas coisas, não considero fanatismo, considero paixão mesmo. E foi muito legal ver o filme no meio de seus personagens.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Vixe, virou cult mas nunca vi.

 

15) Você faz parte da equipe de uma das maiores locadoras de cinema ainda em atividade na América Latina, a Cavideo, no Humaitá, Rio de Janeiro. Como é trabalhar numa locadora em 2020? Os bate papos sobre cinema continuam fantásticos?

Os bate papos sempre serão fantásticos, principalmente porque quem vai agora é realmente cinéfilo. Mas o movimento foi bem afetado pelo streaming, pena. Eu sinto medo de um dia isso acabar porque hoje considero a Cavideo memória viva DO CINEMA. Tem tudo que você não vai ver em lugar nenhum, talvez nunca mais, pois não estão em streaming, nem em tv paga. Você leva um filme para casa a um custo mínimo, vê a hora que quer e tem sempre outro para ver. Principalmente o cinema nacional antigo, que foi esquecido pelos distribuidores, ainda temos muito para oferecer sobre ele. Acabar com as locadoras hoje, quando temos tanta tecnologia para vermos quase em telão em casa é cortar as pernas da 7ª arte.

 

16) Diga uma curiosidade sobre algum artista que alugou um filme na Cavideo.

Quando Matheus Nachtergale esteve na loja, antes da pandemia, procurando um filme que ele tinha feito, ele ficou encantado. Quando ele começou a ver os vários filmes que tínhamos dele falou: - “Meu Deus, vocês tem tudo que eu fiz, nem eu tenho tudo isso.” Ficou tão emocionado que quase chorou. Aquilo foi uma grande emoção para ambos.

 

 


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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #7 - Alê Shcolnik

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Continuando nossa série de entrevistas com cinéfilos espalhados pelo Brasil, hoje é a vez da jornalista, publicitária, fotógrafa, crítica de cinema, fundadora do site Rota Cult (http://rotacult.com.br) e membra da ACCRJ - Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, Alê Shcolnik. Inteligente e com presença marcante nos eventos de cinema que acontecem na capital carioca, é mais uma cinéfila amante das artes.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha. Cinemark e Grupo Estação.

No Cinemark encontro conforto e qualidade nas exibições de filmes de grandes porte como Dunkirk, além de blockbusters, já no Estação encontro filmes, que jamais entrariam no circuito.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Carne Trêmula, de Pedro Almodóvar.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Impossível citar apenas um. Woody Allen e Almodóvar são incríveis. Sofia Coppola tem um olhar peculiar sobre o mundo. Filmes de máfia não seriam o mesmo sem Scorsese e por aí vai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus, por retratar uma realidade cruel e devastadora, porém muito real.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar o cinema acima de tudo! E claro, estudar cada vez mais sobre o seu universo. É necessário conhecer todo o processo, desde a criação à pós produção para poder opinar sobre o assunto.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A programação dos cinemas é feita exclusivamente para vender ingresso. As grandes redes exibidoras quase não abrem espaço para filmes autorais.

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. A experiência de estar ali dentro imerso é única.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O cinema bollywoodiano em geral.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Definitivamente, não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Muito boa! Diria que excepcional!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello, Rodrigo Santoro, Fernanda Montenegro, são muitos ...

 

12) Defina cinema com uma frase:

“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho”. Orson Welles

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

O fato de avisarem na bilheteria que os primeiros minutos de Ninfomaníaca são parados, vamos dizer assim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

 Humor involuntário, misturado a vergonha alheia.


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05/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #6 - Alysson Oliveira

O que mais cinéfilo gosta nessa vida, fora assistir a todos os filmes possíveis durante o ano, é bater papo sobre cinema com pessoas que tenham a mesma paixão que ele. Ser cinéfilo é amar a sétima arte de forma a entender todas as formas de pensar e sentir um filme, uma história. Nós cinéfilos não brigamos, nós argumentamos com emoção.

Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi eu, um humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo ou não.

Mestre e doutorando em Letras pela FFLCH-USP, o jornalista e crítico de cinema Alysson Oliveira, uma das pessoas mais gentis e educadas desse universo do audiovisual brasileiro, é o convidado de hoje da nossa coluna sobre cinéfilos. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e sempre recheando a timeline dos sortudos ‘facebookanos’ que o seguem no site criado pelo Zuckerberg, com dicas sobre filmes e livros, Alysson tem um impressionante texto sobre filmes, que lemos sempre no Cineweb, site no qual escreve desde os anos 2000.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Minha sala preferida é o Itaú da Augusta, porque foi o primeiro “cinema de arte” a que fui (nem tinha esse nome, era Espaço Unibanco), e também por sua programação variada concentrando-se em filmes independentes e afins, também pela localização.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Leopardo, na escola, no final dos anos de 1990. Foi uma descoberta de “filme antigo”, que ia muito além do que via até então – basicamente Hollywood. E se tornou um dos meus filmes favoritos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários, mas escolho, então, Stanley Kubrick e seu Barry Lyndon, que depois de ver várias vezes na tela da televisão, pude ver no cinema, na Mostra de 2013 – e, depois disso, nunca mais tive coragem de ver novamente na tela da televisão.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

S. Bernardo, pela sua austeridade formal, e a maneira como Leon Hirszman colocou na tela a prosa de Graciliano Ramos, dando vida a um mundo decadente e de disputa de poder e propriedade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Não sei muito bem, talvez alguém cujo senso crítico tenha sido desenvolvido a partir de ver filmes quase que indiscriminadamente.

 

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria não  - levando em conta que conheço vários Cinemarks, Kinoplex, e afins – mas os que frequento, como os Itaús, Cinesesc, Belas Artes e Reserva Cultural, sim. Esses são cinemas claramente programados por pessoas que entendem do assunto.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não, e também não deverão se render a modismos, como exibição de shows etc. Acredito que uma parte das salas se adaptarão, mas continuarão sendo cinema, exibindo filmes.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Morvern Callar, da escocesa Lynne Ramsay. É um filme sobre uma crise existencial, sobre uma mulher que precisa descobrir a si mesma, e cai no mundo para isso. Tem algo de Antonioni.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, de forma alguma. É um risco de contágio enorme não apenas para frequentadores, mas, principalmente, funcionários que deverão se deslocar até o trabalho, a maioria, em transporte público.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A produção brasileira vinha bastante boa, até que, nos últimos meses, diminuíram os investimentos e incentivos. Não sabemos o que vai acontecer daqui pra frente. Vamos torcer que não seja algo como na Era Collor, quando se fazia, com sorte, um filme por ano. Não creio que hoje chegue a esse limite, mas, desconfio que, infelizmente, a produção nacional sofrerá um baque.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant. Acho-o um dos maiores diretores brasileiros de todos os tempos. Seus filmes são perspicazes na figuração do Brasil e de uma subjetividade brasileira – especialmente da classe média – no século XXI.


12) Defina cinema com uma frase:

É onde a realidade fica escancarada, mesmo que possa parecer o contrário.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Minha primeira ida ao cinema. Devia ter uns 3 anos, e fui ver ET. Tinha medo do escuro, e cheguei com o filme já começado, com aquele monstro assustador na tela, gigantesco. Chorei de medo o filme inteiro. Fiquei mais de dez anos sem ter coragem de ir ao cinema. Só na adolescência que fui novamente.


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