11/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #24 - Glaucia Hamond


A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Natural de Jundiaí (SP), formada em comunicação social, nossa convidada de hoje, Glaucia Hamond, já foi vendedora de loja, professora de inglês e até já vendeu sanduíche natural. Mas isso tudo ficou para trás quando resolveu seguir seu sonho de infância de se tornar uma atriz. Na década de 90, entrou para a famosa CAL e desde de então vem aprimorando sua arte inicialmente no teatro depois em comerciais, webséries e cinema. No RJ há muitos anos, essa cinéfila dona de uma gargalhada única ama expressar sua arte seja lá onde for.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu prefiro as salas do Cinemark do Shopping Downtown. Pois além de ser no bairro onde moro, as salas são confortáveis e o valor costuma ser mais barato que outros cinemas. E como tem várias salas, sempre consigo ver lá os filmes que busco.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Não tenho certeza qual foi o primeiro. Mas creio ter sido A Noviça Rebelde ou Fernão Capelo e Gaivota. Mas o cinema foi o antigo Cine Opera na Praia de Botafogo (onde hoje acho que funciona uma "Casa & Video"). Minha mãe lia a legenda para mim, já que eu era muito nova pra acompanhar a rapidez com que as frases apareciam na tela. Pra desespero das outras pessoas ao redor... hahaha E eu me apaixonei por aquela atmosfera mágica do cinema!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Nossa, tão difícil essa! Tenho apreço por vários diretores! Não consigo citar um só. Gosto do Tarantino, do Coppola, Almodóvar, Stanley Kubrick, etc. rsrs

Filme, a mesma coisa. Mas tem alguns que me marcaram muito. O Dólar Furado, por exemplo. Pois assisti ainda pequena com meu pai na TV mesmo. Passou na "Primeira Exibição", que acontecia aos sábados à noite, na Rede Globo. Eu deveria ter uns 4 anos. E meu pai foi o meu primeiro incentivador a assistir filmes. Eu era tão pequena que nem conseguia falar "primeira exibição". Eu dizia: "Oba! Hoje tem Primeira Bibibição"! Hahaha

Meu pai citava a sinopse dos filmes com tanto fervor, que eu ficava louca para assistí-los logo! Ele dizia, com o dedo pro alto, como um político num discurso: "O sujeito foi salvo por uma moeda de 1 dólar que estava em seu bolso! A bala pegou na moeda, salvando seu coração! Por isso o nome do filme!" Ele dava spoiler mesmo. Hahahaha Mas os spoilers que me deixavam com mais vontade ainda de ver logo aquilo tudo convertido em imagens.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Tem muitos! Mas Central do Brasil me tocou bastante e como teve indicação de melhor filme estrangeiro e melhor atriz para Fernanda Montenegro (sendo a primeira latino-americana indicada ao Oscar) isso colocou o cinema nacional numa evidência internacional.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É apreciar uma obra cinematográfica por inteiro (como se aprecia um bom vinho, uma boa música, uma peça de arte num museu). Levando em consideração todo o processo de sua elaboração, as pessoas envolvidas (atores, produtores, maquiadores, figurinistas, etc) e o porquê daquela obra; sua mensagem. É decifrar os mistérios ou enigmas ali presentes. É captar os segredos que possam estar nos pequenos detalhes. Pois um filme sempre te passará algum conteúdo e com isso, sempre te fará crescer.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não exatamente. Tirando alguns cinemas que tem uma programação diferenciada (no caso daqueles que só passam filmes cults, por exemplo) os cinemas, no geral, passam de tudo um pouco, uma "salada" de estilos e gostos. E eu entendo. Eles precisam de dinheiro para se manter. Por isso essa variedade na programação.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que não, pois a magia de se assistir numa telona não tem comparação!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ih, têm muitos! Principalmente os mais antigos. A juventude tem muito preconceito com filme antigo. Filme antigo é uma obra de arte, e tecnologia alguma irá superar! Por isso tenho uma certa implicância com remakes. Sendo assim, indico, pra galera mais nova principalmente, Midnight Cowboy (Perdidos na Noite) com Jon Voight e Dustin Hoffman. Filme que rendeu algumas referências em outros filmes posteriores, principalmente pela música tema Everybody's Talkin de Harry Nilsson. Em Forrest Gump, por exemplo, a cena de Forrest atravessando a rua com o cadeirante e ex-combatente (Tenente Dan), faz essa menção ao filme.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Olha, tenho receio disso... Mas caso reabram deve-se ter um rigor enorme! Checagem de temperatura na entrada, álcool 70 disponível para todos, assentos intercalados, higienização geral das salas e poltronas entre sessões, e além da máscara individual, o uso do Face Shield (aquele protetor facial) que de repente possa ser emprestado pelo próprio cinema, assim como eram os óculos 3D, porém esterilizados após cada uso.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Está crescendo bastante! Tanto na parte de produção da obra quanto na atuação dos atores. Conheço pessoas que diziam não gostar de cinema brasileiro e que hoje assistem com muito prazer.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não costumo ver um filme apenas pelo ator/atriz. Eu vou pelo conjunto da obra. Mas se é pra citar um, cito Wagner Moura.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vou citar algo parecido que escrevi logo após as filmagens de um curta que participei (sou atriz).

"Cinema é a luz que ganha vida logo após se escutar a palavra "ação", e é nesse exato momento que a magia entra em cena".

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Ah, aconteceu comigo. Em meados dos anos 90 fui ao cinema com alguns amigos assistir A Rede (The Net) com Sandra Bullock. O problema é que eu gosto muito de rir, gargalhar. As vezes vejo graça onde ninguém mais viu... rsrs. Num determinado momento do filme, a protagonista é perseguida por um atirador num parque de diversões cheio de gente. E como todo parque americano, tem um mascote, um sujeito vestido de coelho, no caso. Aí, quando o atirador está prestes a alcançar a moça, o coelho esbarra sem querer no sujeito, fazendo-o cair, e ainda o pega pelos braços como se quisesse dançar uma valsa. O atirador, raivoso, o empurra para o chão. O coelho se levantou puto e dá uma "banana" com as mãos, dizendo "gee" (caramba). Foi com essa cena boba que eu comecei a gargalhar sem parar! Eu chorava de tanto rir! Porém eu fui a ÚNICA no cinema inteiro a achar graça desta cena boba... hahaha

Lembrando que eu tenho uma gargalhada bem exagerada... E o pior foi que, no decorrer do filme, eu relembrava o coelho e caía na gargalhada de novo. Meu amigo ao meu lado, me dizia: "Gláucia, você ainda tá rindo do coelho? Não teve graça nenhuma! Para de rir!" E essa frase só fez aumentar ainda mais a minha vontade de gargalhar! As pessoas, incomodadas, CLARO, começaram a pedir silêncio fazendo "sshhiiiii" e eu tive que começar a pensar em coisas muito tristes para poder conter o meu riso. Hahahahaha. Óbvio que por isso nem prestei muita atenção na estória do filme... Mas quando a sessão terminou, eu do lado de fora, me vi finalmente livre para expor minha comoção e voltei a gargalhar! Eis que um adolescente aponta para mim e diz: "olha! Ela que estava rindo!" E eu voltei pra casa chorando de rir daquilo que não teve graça alguma... rsrs

Já revi este filme e realmente, a cena não é tão engraçada assim... rsrs


14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Posso definir com uma só palavra: Misericórdia! Hahahaha

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho sim! Melhor dizendo, acho que um diretor deve conhecer de tudo um pouco do universo cinematográfico. Assim como qualquer outra profissão, em que o profissional tem que estudar, pesquisar, ler, buscar fontes, para se inteirar do assunto a ser tratado/executado. Sendo assim, o cineasta que quer reconhecimento e um bom produto final, precisa assistir vários filmes, sim! Simplesmente para não ficar limitado, preso a u
Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #24 - Glaucia Hamond

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #23 - Itamar Borges

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nascido e criado em Goiania, nosso convidado de hoje é cinéfilo desde a década de 60. Produtor responsável por vários festivais de cinema pelo Brasil, Itamar Borges é figura sempre muito querida nas redes sociais de quem tem a honra de tê-lo como amigo. Sempre com dicas e pensamentos profundos sobre o audiovisual brasileiro, conversar com esse querido cinéfilo é sempre muito bom.

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui até há alguns anos a sala preferida era a dos Cinemas Lumiere no Shopping Bougainvile (filmes estrangeiros na sua maioria), que foram fechadas bem antes da pandemia, e o Cine Cultura (Cinema da Secretaria Estadual de Cultura) com uma programação de filmes brasileiros mais forte, mas não se esquecendo de filmes estrangeiros muitos deles fora de circuito comercial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Difícil.... minha primeira lembrança de cinema  eu acho que tinha uns 8 anos e fui levado ao Cine Teatro Goiânia na matinê de sábado e foi uma festa, mas o filme não me lembro o nome mas era alguma coisa do tipo Robinson Crusoé... isso faz tempo!!!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São vários diretores e diretoras Bergman, Hitchcock, Chaplin, Visconti, Spielberg, Scorsese, Kurosawa, Copolla, Fellini, Agnès Varda, Suzana Amaral, Buñuel, Wood Allen, Kubrick, Godard, Anna Muylaert, Samira Makhmalbaf, Dee Rees, Jane Campion, Scola, Allan Parker, Claudio Assis, Camilo Cavalcante, Bigode, KMF, PTA, Coutinho, Brant, Asghar Farhadi, Abbas Kiarostami, Almodovar, Pasolini, Sergio Leone ou seja eu gosto de muita gente.... gosto de bons filmes e se for citar todos aqui vou ficar o dia inteiro e isso vai ficar muito longo e eu vou esquecer um monte de gente...

 

4) Qual seu filme favorito e porquê?

Eu realmente não tenho um filme favorito, tenho filmes que gosto muito de rever como por exemplo revi há pouco Amantes Eternos (Jim Jarmusch), Diários de Motocicleta (Walter Salles), Um Dia Muito Especial (Ettore Scola), A Hora da Estrela (Suzana Amaral) ou seja sou bem eclético quanto a filmes... Adoro animações.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Aprendizado, diversão e entretenimento, trabalho tudo isso ao mesmo tempo e agora.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A maioria dos cinemas “independentes” que conheço tem bons programadores, com mostras bem interessantes e outros tem aquela programação feita para o seu público cativo, estes na sua maioria os multiplex que priorizam mais o lado comercial .....

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não, pois não existe nada mais mágico do que a sala escura e a tela grande sendo iluminada e aquela imersão que isso proporciona. E antigamente tinha cinemas que tinham a cortina que abria... Se acabar um dia vai ser muito chato, como é chato ir ao cine drive in e ficar dentro de um carro vendo um filme...Mas a ideia de voltar a este tipo de cinema é bacana. Não imagino o mundo sem salas de cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Frank  de Lenny Abrahamson, acho bem interessante e esquisito mas é legal.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho complicado, mesmo com todos os protocolos de segurança.... em primeiro lugar vem a saúde, a minha e a do próximo a mim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sou suspeito pois acho que não devemos nada em qualidade atualmente a nenhum cinema feito no mundo, isso em longa metragem e no curta metragem também. O nosso problema é a distribuição e atualmente a  “nova politica cultural do governo brasileiro” que insiste em desmontar toda a cadeia que há anos vem se consolidando  cada vez mais, mas vamos resistir  e ganhar essa guerra.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos.... são muitos.

 

 

 

12) Defina cinema com uma frase:

Parafraseando “Cinema é luz, é raio estrela e luar. Manhã de sol meu iaiá meu ioiô. Você é sim e nunca meu não, quando tão louco me beija na boca e me ama no chão”.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nunca vou esquecer em Brasília, quando fui assistir Saló (Pier Paolo Pasolini), fila enorme, sala lotada.... no meio do filme, sala ficando vazia e no fim éramos somente eu e o meu amigo Emerval Crespi e mais umas duas pessoas. Nunca tinha visto isso.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

A melhor comedia romântica brasileira dos últimos tempos!!

 

15) Você trabalha com cinema em um Brasil que já enfrentou diversas dificuldades quando falamos em incentivo à Cultura. Que dica você pode dar para os jovens cinéfilos q pensam em trabalhar no audiovisual futuramente?

“ Se for, vá na paz”

 

16) Diga o pior filme que assistiu na vida.

Adoro Ficção Cientifica... mas Tau de Federico D' Alessandro, não sei se é o pior pois isso é muito subjetivo.... não me pegou.

 

17) Depois de Gloria Pires e o falecimento do grande Rubens Ewald Filho, quem deveria comentar os prêmios do Oscar na TV aberta ou fechada?

Gente que entende de filme e premiações e principalmente gente que assiste filmes e que saiba falar dos filmes e não apenas que o vestido é maravilhoso ou como ela é linda ou ele é lindo. Claro que isso é divertido também!

               

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #23 - Itamar Borges

10/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #22 - Aly Muritiba

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso convidado é cineasta, baiano, formado em história pela USP. Ganhador do prêmio Global Filmmaking do Festival de Sundance em 2013, e muito elogiado por toda sua bela filmografia com destaque para: Ferrugem em 2018 (lançado no Festival de Sundance), e Para minha Amada Morta, em 2015. Aly Muritiba é um dos cineastas mais premiados da nova geração do audiovisual brasileiro. Tendo o grande Michael Haneke como um de seus diretores preferidos, fico muito feliz por Aly poder participar desse nosso questionário/entrevista cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Passeio é uma sala pública, com programação variada e voltada à filmes independentes e ingressos acessíveis.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Jurassic Park do Steven Spielberg, o primeiro filme que eu vi numa sala de cinema.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Michael Haneke, Caché.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Abril Despedaçado, a mais bela adaptação que o cinema brasileiro já produziu. O filme fala de um sertão profundo e violento onde a arte é apresentada como ferramenta capaz de romper o ciclo de morte.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Amar, odiar, apreciar e rechaçar filmes, mas sempre respeitá-los através da análise crítica.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não e não acho que devam. Cinema não necessariamente precisa ser "entendido", mas antes experienciado.

 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não sei se vão acabar, mas estão cada vez mais se tornando algo de galeria, elitizado e apartado do público. E se continuar nessa toada elitizada, prefiro que acabe.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Caché.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De modo algum. A vide é infinitamente mais importante que o cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Temos feito filmes incríveis nos últimos anos e estamos buscando a reconciliação com o público, deixando um pouco de lado o hermetismo vazio de outros tempos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Adirley Queirós.

 

12) Defina cinema com uma frase:

24 quadros de mentira por segundo. 24 quadros de verdade por segundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Não lembro de nenhuma específica. É sempre pipoca, gente dormindo, gente falando, gente chorando, gente sorrindo, eventualmente gente se pegando.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um clássico.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Tanto quanto um cinéfilo precisa ser diretor para apreciar um filme.  Eu, por exemplo, não sou cinéfilo e dirijo meus filmes.

 

16) Você é cineasta e bastante conhecido pelos cinéfilos brasileiros. Que dica você daria para os jovens que futuramente pretendem trabalhar com cinema no Brasil?

Arranje um turma e comece já.

 

17) Algum artista que você ainda não trabalhou mas quer muito trabalhar?

Fernanda Montenegro.

 

18) Diga o pior filme que você viu na vida:

Todo filme tem algo de bom. E quem o fez merece respeito, então não consigo fazer tal eleição.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #22 - Aly Muritiba

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #21 - Bernardo Brum

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso entrevistado de hoje é um grande pensador cinéfilo e escritor. Começou a escrever sobre cinema em antigos fóruns nos primórdios das interações sociais digitais. Jornalista de formação, adora descobrir ou redescobrir filmes antigos e faz parte de um time de críticos de cinema importantes para a formação cinéfila de várias gerações, oriundos do ótimo site Cineplayers (https://cineplayers.com/). Para contar um pouco sobre suas raízes e pensamentos cinéfilos, procuramos Bernardo Brum para responder ao nosso questionário/entrevista.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

A rede de cinemas Estação. Lá vi filmes que não veria em nenhuma outra franquia, além de serem a "casa" dos festivais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

É algo que precisa ser respondido em duas "partes", digamos assim. Gosto de algo que o Woody Allen disse sobre "filmes da infância", pelos quais temos admiração afetiva e "filmes da maturidade", pelos quais nutrimos admiração intelectual. Então, respondendo sob esses parâmetros, diria que Jurassic Park e Annie Hall.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Alfred Hitchcock é o diretor que mais admiro os filmes, o estilo autoral, as temáticas escolhidas, a persona. Apesar da escolha difícil, vou de Um Corpo que Cai.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha. Sganzerla deglutiu a revolução do cinema novo, o gênero policial e a desconstrução formal de Orson Welles e pariu um filme até hoje único não só na história da cinematografia brasileira mas em qualquer cinema.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser um aficcionado não apenas pelo ato de ver filmes mas também viver numa cultura que gira em torno disso, no tocante a conversar e debater sobre e conhecer diferentes propostas ao ser exposto frente a um manancial infinito de possibilidades.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

"Entender cinema" acho um termo muito relativo. A maioria dos cinemas de shopping ou de rua tem uma mentalidade comercial, orientada para o retorno imediato nas bilheterias. Se falham - como no episódio de lançar Guerra ao Terror nos cinemas após o mesmo ser indicado ao Oscar, quando já havia até DVD do mesmo - advém dessa mentalidade. Mas cinemas como o Estação ou o Cine Joia de Copacabana você já sente a disposição em disponibilizar maior diversidade.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Como conhecemos? Sim. A reconfiguração é inevitável, e já acontece. Cinema era barato, agora já não o é, por exemplo. Com isso, os filmes tendem a ficar mais espetaculares, mais sensacionais, as salas tem que se adaptar ao espetáculo técnico oferecido. Com isso, algumas propostas são deixadas de lado e em nome de serem realizadas têm de procurar outras mídias, como a televisão e os serviços de streaming. Agora, eles ficam mais nos shoppings do que nas ruas, tendem a direcionar-se a toda família, o que implica numa série de custos, então os filmes que são lançados no cinema tem que gerar alguma espécie de retorno se não forem apoiados por políticas públicas, então cria-se uma lógica "seriada" para ver filmes em sequência que justifiquem os custos (vide a Disney e seu MCU)... E assim vai. Já não é a lógica de, digamos, 25-30 anos atrás, quando você ia no cinema e poderia topar tanto com Forrest Gump quanto Pulp Fiction disputando espaço. O segundo não teria chance. Se isso é ruim? Bem, o teatro e a ópera que conhecemos hoje não são as mesmas de 100, 200 ou mesmo 2.000 anos atrás - com o cinema não vai ser diferente.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Nausicäa do Vale do Vento, de Hayao Miyazaki. Uma das grandes animações já feitas, nunca falada o suficiente.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Isso não deveria nem ser cogitado. Não precisa nem de muitos fatos para conferir como seria uma irresponsabilidade. Porém, os governos deveriam estar discutindo há muito tempo políticas públicas para a manutenção desse setor que é um dos que mais movimentam dinheiro no mundo (incluindo no Brasil).

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Tão diverso e inventivo como sempre foi. Agora, felizmente, outros núcleos e ciclos têm mais visibilidade que o do núcleo Rio-SP.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Atualmente, Irandhir Santos (no cinema; novela não é do meu interesse).

 

12) Defina cinema com uma frase:

"A verdade 24 vezes por segundo" (Jean-Luc Godard). Inclusive quando mente.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Ouve-se um toque de celular. Pára. Recomeça. As pessoas começam a xingar, enfurecidas e justificadamente. O telefone continua tocando, e tocando, e tocando... Todos se olham acusadoramente, querendo saber quem está recebendo ligação. Eis que a porta do cinema abre e... "Gente, alguém viu um celular caído? Estou ligado para ele, mas ninguém atende"... Aí todo mundo perdeu a compostura e começou a rir. Pobre do filme que era um drama... Mas certamente foi um experimento social único.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma tentativa de capitalizar em cima da persona de uma figura pública, não muito diferente dos filmes do Elvis ou Moonwalker do Michael Jackson, e aqui no Brasil, Lua de Cristal ou Super Xuxa Contra o Baixo Astral. Não bastasse ser raso como todos os "filmes de música" feitos no calor do momento - cujo principal interesse é o artista cantando e não exatamente os aspectos artísticos da produção, foi prejudicado por uma equipe advinda de um cinema mais adulto (terror, policial, pornochanchada), sem, digamos, intimidade com algo mais popular e "família" e por sua produção atribulada, roteiro criado à revelia e filmado enquanto a artista estava disponível. Dessa mistura de dificuldade e urgência, não tinha como sair um produto muito esmerado.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não mesmo. Ele deve conhecer seu ofício, mas de fato não é necessário para John Ford assistir Bergman antes de dirigir um western, por exemplo. O cineasta cinéfilo é algo relativamente recente.

 

16) Qual o pior filme que viu na vida?

É difícil escolher só um. Mas dos recentes, talvez Esquadrão Suicida.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #21 - Bernardo Brum

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #20 - Mariá Velasquez

 

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistada de hoje para participar no nosso divertido questionário cinéfilo, completou recentemente duas décadas na Paramount, uma das grandes gigantes do universo audiovisual mundial. Cinéfila de carteirinha, figura presente em diversos eventos de vindas de astros nacionais e mundiais ao Brasil, estudou na Uerj na década de 90, e começou sua trajetória pelo amor aos filmes nos anos 80 quando viu um dos clássicos filmes da saga Star Wars com seu pai. Com grande conhecido sobre os filmes e sobre o mercado, Mariá Velasquez é um dos rostos mais queridos nesse competitivo mercado audiovisual brasileiro.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Tenho duas salas preferidas e que frequento muito aqui no Rio: Kinoplex São Luiz e Espaço Itaú. Tem o critério de programação, onde encontro os filmes que desejo ver sendo programados, mas também tem a questão técnica pois são salas com excelente imagem e som. Também são pertinho de casa o que é um plus! Mas gostaria de mencionar uma terceira sala que amo e que por acaso fica no bairro que moro: Cine Santa. Lá encontro filmes premiados em festivais internacionais num ambiente charmoso e cuidado de perto pelos donos. Deu pra perceber que amo cinema de rua, né? Rs.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Existem aí dois momentos. Tem a primeira vez que pisei numa sala de cinema em 1980 assistindo O Império Contra-Atraca e isso foi um marco na minha vida porque um mundo novo se abriu e vamos combinar que comecei muito bem! Rs. E tem também a primeira vez que fui no cinema sozinha (em 1980 fui com meu pai) pra ver o filme que todo mundo estava comentando. O filme que vi? ET ... difícil sair daquela sala de cinema da mesma maneira que entrei depois disso, né?

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Olha, bem difícil escolher porque meu filme favorito é Bonequinha de Luxo mas meu diretor favorito é Almodóvar então a conta não bate. Almodóvar é meu diretor favorito porque tudo o que ele faz eu amo, até quando ele erra a mão eu continuo amando hahahaha. Mas se tenho que escolher um filme favorito dele vamos de Tudo sobre Minha Mãe que é um filme que ainda me comovo depois de ter assistido dezenas de vezes.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus! Por várias razões, mas gostaria de contar uma história pessoal que tenho com esse filme. Em 1997 eu comecei a trabalhar com o audiovisual e nessa época eu organizei um concurso de roteiros. Eis que o roteiro de Cidade de Deus (que ainda não era filme) foi premiado como melhor roteiro de um roteirista estreante. Tenho orgulho de contar pra todo mundo que o primeiro prêmio do Cidade foi dado por mim. Mas é lógico que não é esse motivo que faz o filme ser o meu preferido, além de todas as qualidade técnicas ele possui um ingrediente que me faz me apaixonar toda vez que o revejo, além da sua temática contundente ele é atemporal e pode ser visto hoje e daqui há 10 anos da mesma maneira. Acho que isso faz um filme ser clássico e pra mim Cidade é!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende da sua definição de “entender cinema”. Podemos ver da perspectiva do amante do cinema e realmente nem todos são mas não necessariamente precisam ser. Acho importante o programador entender o seu público, cada sala de cinema tem um certo tipo de público e isso tem que ser levado em conta. Acho também importante ele conhecer o que o mercado está oferecendo, seja o filme um blockbuster ou um filme pequeno que ganhou um festival X. Resumindo, o programador precisa pensar no público que vai frequentar sua sala e proporcionar a ele a melhor experiência possível seja o filme que for.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Espero que não! Rs. Olha, essa história eu escuto há bastante tempo e até agora o cinema continua. Eu sou uma entusiasta e consumidora de streaming mas nada supera uma sala escura. Existem filmes que você pode até rever no conforto da sua casa mas definitivamente tem que ser visto primeiro numa sala de cinema. Mas pra que o cinema não acabe, precisamos de filmes que contem histórias que motivem o público a sair de casa e precisamos que os cinemas proporcionem ao público uma experiência que ele não tem em casa ou na tela do celular. E esse desafio é com a nova geração.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Gostaria que muita gente tivesse visto o filme Anomalisa, animação de 2015 e dirigido por Charlie Kaufman e Duke Johnson. É uma animação que até concorreu ao Oscar mas pouca gente assistiu nos cinemas. É um filme diferente a começar por ser uma animação pra adultos que usa uma técnica inovadora e conta uma grande história de amor.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se formos esperar a vacina (o que seria o ideal) as salas só reabririam no ano que vem e até lá os cinemas e toda a cadeia acabaria. Faço parte do movimento #JuntosPeloCinema, um movimento voluntário de mais de 200 profissionais que está preparando a abertura das salas de cinema. Nossa maior preocupação é a segurança do público e dos funcionários que trabalham nas salas de cinema. Só reabriremos se todos os protocolos de segurança estiverem de acordo com o que as autoridades sanitárias exigem e estamos há 4 meses trabalhando nisso. Tudo será feito com segurança e gradualmente. Existem etapas pra essa abertura e, de novo, só abriremos com 100% de certeza que será seguro pro público e pra quem trabalha nas salas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente! A cada ano vejo produções de qualidade compatível com qualquer nação. Podemos competir de igual pra igual em qualquer festival internacional. Temos diversidade e isso conta muito. Agora, se não houver incentivo do Estado não conseguiremos produzir, muito menos levar nossos filmes pra fora e virar vitrine o que ajuda a alavancar o público interno. Infelizmente estamos vivendo momentos difíceis e tudo o que conseguimos avançar pode estar regredindo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme:

Essa pergunta é uma pegadinha pois posso criar ciumeira então vou de unanimidade: Fernanda Montenegro. Tudo o que ela faz me interessa, seja no cinema, seja no teatro, seja na literatura. Uma diva que temos que reverenciar todos os dias!

 

12) Defina cinema com uma frase:

Minha terapia em doses semanais.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez fui assistir um filme francês numa sala 2 do Estação Botafogo (pra quem conhece sabe que é uma sala bem pequena). Comprei minha pipoca porque pra ir ao cinema significa comer pipoca. Pois bem, comecei a comer com todo cuidado do mundo, deixando pra mastigar somente quando havia música pra não perturbar ninguém. Mas ao meu lado um senhor muito mal humorado não só reclamou do barulho da pipoca, como levantou gritou com todo o cinema e foi pra primeira fila. Eu ri, afinal, isso também faz parte de ir ao cinema! Rs.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Sei que vou passar vergonha, mas eu nunca assisti ... sei que tem toda uma questão em cima do filme mas ainda não tive a oportunidade. Farei e, breve! Rs.

 

15) Você trabalha em uma major, a Paramount. Qual conselho você pode dar para jovens cinéfilos que querem trabalhar com cinema no Brasil?

Estudem! A melhor maneira de conseguir seguir uma carreira é estudar aquilo que você pretende trabalhar. E não falo de estudo formal não. Assistir filmes e discutir sobre eles é uma maneira de estudar. Na quarentena eu já me matriculei em três cursos online sobre cinema (assuntos diversos) e aprendi MUITO! Acho que conhecimento nunca é demais. Sempre há algo novo pra se aprender. Frequentem festivais e mostras pois além de ter contato com filmes de outros países você fará contato com pessoas do mercado e isso também é muito importante.

 

16) Tem muito cineasta que não é cinéfilo. Você acha fundamental ser cinéfilo para dirigir um filme?

Acho que não é fundamental mas seria o ideal pois pra mim ser cinéfilo é ter contato com todos os tipos de filmes e isso te dá uma bagagem cinematográfica incrível e muito referencial. Todos os meus diretores preferidos são cinéfilos e isso está refletido nas suas obras.

 

17) Tarantino ou Almodóvar. Porquê?

Então amo os 2 e já respondi lá em cima que Almodóvar é meu diretor predileto mas Tarantino chega ali juntinho!

 

18) Diga um ídolo seu do mundo do cinema que já conseguiu ver de perto e conte aonde foi:

Então, por trabalhar na Paramount tive oportunidade e o privilégio de chegar perto e até me relacionar com grandes ídolos de cinema mas tive a sorte de fazer o lançamento do filme Mãe do Darren Aronofsky e foi uma experiência incrível estar tão perto desse cineasta incrível no lançamento de um filme tão inovador. Mas gostaria de destacar também meu contato com o Tom Cruise nas duas vezes que ele esteve no Brasil lançando dois filmes da Paramount. Confesso que não era tão fã dele assim mas depois desses dois contatos com ele virei fã de carteirinha pois ele é a pessoa mais profissional e gentil do mercado com que trabalhei.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #20 - Mariá Velasquez

09/08/2020

Crítica do filme: 'Rede de Ódio'

A ambição nas mãos de mentes perigosas, os vigias da não informação real. Explorando um assunto muito alta nos tempos atuais, a fake news, o cineasta polonês (de apenas 28 anos!) Mateusz Pacewicz que já nos presenteou com o ótimo Corpus Christi (indicado pela Polônia ao Oscar de melhor filme estrangeiro ano na cerimônia passada) chega dessa vez para marcar presença na memória dos cinéfilos com o inaudito Rede de Ódio que estreou aqui no Brasil pela Netflix. Costurando um protagonista enigmático e assombrado pelos seus pensamentos nocivos e egoístas junto a um mundo sem regras nos meios digitais, Pacewicz consegue a proeza de manter os olhos cinéfilos grudados na tela durante as mais de duas horas de duração. Impressiona a qualidade desse filme, excelente!

Na trama, conhecemos o jovem e ambicioso Tomasz Giemza (Maciej Musialowski, em atuação estacada) que vem de origem humilde, do interior da Polônia e tem seus estudos sustentados por tios ricos da capital. Invejoso pelos que os outros tem e ele não, possui uma obsessão com a família que o ajuda nos estudos. Quando o protagonista perde sua bolsa de estudos por conta de um plágio em um trabalho, seu mundo começa a se despedaçar e ele, apaixonado por Gabi (Vanessa Aleksander), filha dos tios que sustentaram seus estudos, entra em uma polêmica equipe de marketing digital onde começa a se envolver com difamação e ódio contra determinados alvos pelas redes sociais.  


Impactante até o último suspiro, Rede de Ódio, Sala samobójców. Hejter, no original, escancara os muros imperceptíveis de pessoas que se escondem em outras personalidades para disseminar terror e ódio, inconsequentes, trilhando caminhos sombrios da internet. Fruto de uma personalidade muito complicada, o protagonista não tem um pingo de bom senso quando percebe que pode ganhar a confiança dos outros com seus atos terríveis e ações sem o menor receio. Chocante e brutal, os arcos do roteiro vão nos guiando para um final estrondoso que diz muito sobre o mundo desse lado daqui da tela, esse universo real sem meio termos que vivemos e onde perdemos as chances de diálogos e entender ao próximo.

Continue lendo... Crítica do filme: 'Rede de Ódio'

Filmes que marcaram época em determinado país: #1 (Uruguai) - Whisky

O que dizer sobre a rotina monótona e a vontade de fazer diferente? Explorando o contraponto de forma trivial, com muitas expressões e poucos diálogos, o delicado filme uruguaio Whisky, dirigido pelos cineastas Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll no ano de 2004, marcou uma geração de cinéfilos latinos que volta e meia conversam sobre esse ótimo trabalho nas rodinhas cinéfilas. Falar sobre a solidão de maneira detalhista é muito complicado e um dos méritos desse projeto é conseguir de alguma forma conectar o espectador aos sentimentos de ponto futuro principalmente da personagem Marta, interpretado pela ótima atriz Mirella Pascual.

Vencedor de mais de duas dezenas de prêmios, inclusive no Festival de Gramado aqui no Brasil, Whisky conta a história de Jacobo (Andrés Pazos), um dono de uma fábrica antiga de meias (que nem de longe pensa em se modernizar) que faz um acordo com sua funcionária de maior confiança, Marta (Mirella Pascual), para que ela finja ser sua esposa durante a estadia do irmão Herman (Jorge Bolani) que mora no Brasil mas vem passar uma temporada no Uruguai para um evento ligado a mãe deles. Durante esse tempo, todos os três acabam influenciando uns na vida dos outros, principalmente Marta que começa a enxergar um novo mundo de possibilidades.

Sensível até o último segundo. Cheio de dizeres fortes pelas entrelinhas, o roteiro navega pelos sentimentos dos três personagens de maneira leve e descontraída mesmo tendo uma carga forte de emoções em plano de fundo como o distanciamento dos irmãos por conta do tempo em que a mãe deles estava doente e um só deles cuidou dela. Marta é um contraponto, uma variável amorosa forte que os irmãos nunca tiveram em suas vidas quando eram jovens e isso acaba mexendo de formas diferentes mas com os dois. Esse detalhe nesse triângulo é o fator que salta a tela mas quase nada é mostrado especificamente. O bom do cinema é isso: não precisa dizer muito se o contexto já está completo. Belo filme.

Continue lendo... Filmes que marcaram época em determinado país: #1 (Uruguai) - Whisky

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #19 - Cavi Borges

O cinema não deixa de ser um reunião, um grande elo, de pessoas que amam entender os sentimentos que caminham pelo universo que vivemos. Pensando em entender melhor as origens do amado gosto pela sétima arte, esse humilde cinéfilo que vos escreve resolveu de maneira espontânea mandar um questionário de perguntas para uma incrível seleção de cinéfilos brasileiros com o objetivo de trocar experiências sobre tudo que já viveram nesses anos de amor ao cinema.

Gente boa, um ser iluminado que todos adoram conversar. Não tem outra maneira de começar a apresentação de nosso entrevistado de outra forma. Ex-atleta profissional de judô, jurado de concurso de karaokê cinéfilo, amante da sétima arte, cineasta, produtor e fundador da locadora Cavídeo (referência dos cinéfilos cariocas). Seu extenso currículo, que já teve curta sendo exibido na semana da crítica do Festival de Cannes no ano de 2010, diz muito sobre seu amor pelo audiovisual, já dirigiu cerca de 14 longas e 43 curtas. Como produtor já fez cerca de 150 curtas e mais de seis dezenas de longas exibidos e premiados em diversos Festivais nacionais e internacionais. Cavi Borges, também conhecido como o ‘gigante simpático de camisa regata nos red carpets cariocas’, é uma grande referência para inúmeros cinéfilos. Um querido cinéfilo, amigos de muitos que sempre ajuda a todos ao redor.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sempre tive uma relação muito especial com o Estação Botafogo. Foi lá que vi meus primeiros filmes de arte e foi lá que exibi meu primeiro filme como realizador. Lá consegui passar de espectador para diretor. Um verdadeiro sonho realizado. Lá também estou podendo ocupar e desenvolver a "SALA 4" onde criei um cine-teatro e realizo minhas PEÇAS -FILMES. Ou seja, foi lá que também fiz minha estreia como diretor de teatro. Meu amor pelo cinema do Estação nem é tanto pela qualidade técnica da sala mas pela relação afetiva que tenho pelo espaço.

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Lembro o primeiro "FILME DE ARTE" e diferentão que assisti que me impactou muito: DELICATESSEN do Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, (diretor do AMELIE POULIN). Só assistia filmes americanos. Lembro bem que quando vi esse filme, senti algo estranho, uma sensação nova de ter assistido uma coisa diferente, interessante e estranha. Acho que ali nasceu a primeira "semente" da locadora Cavideo. Pensar e ver filmes diferentes... filmes de diferentes países, de diferentes gêneros e diferentes estilos. Acho que abriu minha cabeça.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Não tenho 1 diretor favorito, mas vários diretores favoritos:

1- Martin Scorsese - OS BONS COMPANHEIROS

2- Spike Lee - FAÇA A COISA CERTA

3- Spielberg - ET

4- Bergman - PERSONA

5- Walter Salles - CENTRAL DO BRASIL

e por aí vai....

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

CIDADE DE DEUS !!! Um filme onde todos estavam estreando no cinema (diretor, roteirista, editor, atores ) mas que tudo deu muito certo . Se você observar o conjunto do filme vai ver que tudo é sensacional: a música, atores, fotografia, edição!!! Um filme que já revi uma 100 vezes e sempre que por acaso vejo que está passando na tv, fico vendo um pouco, e não consigo parar até seu fim. Até fiz um documentário sobre o filme CIDADE DE DEUS - 10 ANOS DEPOIS - descobri muitas histórias de bastidores e ai passei a gostar mais ainda!!!!

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É amar assistir filmes!!!! Tento assistir a pelo menos um filme por dia. Isso me dá prazer.... além disso, também vejo isso como trabalho e aprendizado. Quando por algum motivo fico um tempo sem ver filmes, meu humor começa a mudar... fico irritado... e só vendo filmes que me sinto melhor... É quase um VÍCIO!!!!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece  possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Infelizmente sei que muitos programadores nem sempre entendem de cinema. Algumas vezes não são apaixonados pelos filmes (deveriam ser!). Encaram essa função como um trabalho como outro qualquer. Não são apaixonados!!! Sabem se o filme "FUNCIONA" ou não mas não se envolvem tanto pelos filmes como deveriam. Esse é um problema que acontece muito por ai. Você trabalhar numa coisa que não é apaixonado. Apenas pela grana. Entendo... mas tendo a não concordar!!!

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que sempre existirão salas de cinema !!! Mesmo que poucas, para um grupo seleto.... mas elas continuarão a existir!!!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Os filmes do diretor italiano MARIO BAVA!!!! Os curtas de Stanley Kubrick!!! Os primeiros filmes de Jia Zhang Ke entre outros!!!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Realmente é muito arriscado abrir agora. Mas a saudade e falta são grandes!!!!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 

Cada dia melhor, mais diverso, realizado por todo Brasil. Um cinema rico e muito diferente entre si.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Karin, Kleber Mendonça, Adirley Queiroz, Walter Salles, Claudio Assis...

 

12) Defina cinema com uma frase:

AMOR!!!!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

As pessoas cantando as músicas junto com o filme rolando no Bohemian Rhapsody. Foi emocionante!!!

As pessoas aplaudirem no meio da sessão do BACURAU !!!

Muitos outros momentos especiais!!!

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #19 - Cavi Borges

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #18 - Kathia Pompeu

O cinema não deixa de ser um reunião, um grande elo, de pessoas que amam entender os sentimentos que caminham pelo universo que vivemos. Pensando em entender melhor as origens do amado gosto pela sétima arte, esse humilde cinéfilo que vos escreve resolveu de maneira espontânea mandar um questionário de perguntas para uma incrível seleção de cinéfilos brasileiros com o objetivo de trocar experiências sobre tudo que já viveram nesses anos de amor ao cinema.

Nossa convidada de hoje é uma das pessoas que mais assistem filmes por ano no Estado do Rio de Janeiro. Com uma memória de dar inveja a qualquer cinéfilo, sempre simpática e receptiva nas saídas das sessões para conversar sobre o filme visto, Kathia Pompeu é woodyalleana, jornalista, editora-chefe de uma revista de design e arte, diretora de projetos da Agência Ângulo, amante dos filmes, gamada por jazz, colecionadora de HQ, fã do Batman, disneymaníaca e apaixonada por NY.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu gosto muito do circuito em Botafogo, que concentra inúmeras opções de salas e programações, como o Estação (que frequento desde a inauguração), que aguçam meu olhar cinéfilo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Essa pergunta tem a ver com a minha existência, considerando que minha mãe entrou em trabalho de parto num daqueles antigos cinemas da Cinelândia durante a exibição de Belo Antonio, de Mauro Bolognini, com Mastroianni no papel-título. Acho que foi nesse momento que tudo começou. Nasci cinéfila!

Elipse, uns dez anos depois, me lembro do meu tio (por parte de pai) me levar para assistir “Quando o Carnaval Chegar”, do Cacá Diegues, no Odeon - também na Cinelândia. Fiquei fascinada por aquele espaço glamouroso, aquela tela enorme dominando meu olhar. Tudo parecia mágico, e é!

 

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Woody Allen, por tudo! Amo de formas diferentes cada um de seus muitos filmes, mas vou escolher aqui Annie Hall, por ter sido o primeiro dele que assisti, numa tarde dos anos 80, no Cine Joia, em Copacabana. Foi amor à primeira vista.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Um dos grandes amores do início da minha vida cinéfila foi Glauber Rocha, e tive o privilégio de assistir Deus e o Diabo na terra do Sol, no Rian - um cinemaço que ficava à beira mar de Copacabana. Era uma época que a grande maioria dos cinemas só tinha uma sala, exibindo o mesmo filme em todas as sessões, e podíamos ficar na sala, se quiséssemos, para rever o filme. Então, fui eu lá ver o sagrado-profano de Glauber, por acaso, na primeira sessão... e aquele barroco visual a fotografia em preto e branco espetacular de Waldemar Lima, as Bachianas brasileiras n.5 de Villas Lobo, a saga de Rosa e Manuel no sertão baiano, o cangaço de uma câmera quase sempre na mão e muitas ideias na cabeça glauberiana me acachaparam. Vi e revi em sequência hipnótica. Quando sai do Rian já era noite, e eu completamente fascinada por aquela obra-prima do cinema brasileiro.

 

 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Sabe a Cecília, de Rosa Púrpura do Cairo, personagem criada pelo Sr.Allen e magistralmente interpretada por Mia? Sou eu. O cinema é meu refúgio, minha janela para o mundo, meu divã de terapia, minha conexão com outras culturas, linguagens e, de uma maneira bem especial, um lugar de fazer amigos. Não à toa, a maior parte dos meus best friends conheci e convivo nas salas de cinemas.

 

6) Você acredita que os cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Sem juízo de valor, acho que algumas redes de cinema são programadas visando uma relação comercial bem sucedida, atingir grandes plateias e bilheteria. Existe um público significativo que quer isso e é atendido. Por essa razão, acho fundamental a resistência de salas dedicadas e que abram espaços para filmes, mostras e festivais com curadoria de pessoas com uma visão ampla do universo do cinema, e que o lucro venha como consequência de uma programação tão variada quanto atraente a diferentes públicos.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Tomara que não. É uma experiência coletiva-tecnológica que pode evoluir para infinitas possibilidades - o que inclui conforto, qualidade de som, de imagem e sensações. Tenho um bom equipamento na minha casa, mas não compete, e muito menos exclui, o fascínio e a mágica daquela sala escura.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Nossa! Meus amigos veem tudo e muito. Tarefa difícil indicar algo pra essa moçada que explora produções inimagináveis.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não vou fazer média, é mega arriscado.

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 

 

 

Cada vez melhor. Uma nova geração de filmes com protagonismo de equipe de criação e artistas que transitam por todos os gêneros, propostas e públicos.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

A lista, ainda bem, é vasta, mas vou de Kleber Mendonça Filho, um fazedor de obras-primas que levam à reflexão de um Brasil com muitas camadas culturais-sociais. Um diretor intenso que, de filme em filme, constrói um acervo marcado por linguagem própria, reconhecível logo nos primeiros planos, que me emociona sempre. Cinema que dialoga comigo.

Outro nome que vou sublinhar aqui é o do meu irmão Hsu Chian, um diretor que combina proatividade, versatilidade e um longo histórico de participações nos bastidores do cinema nacional. Já até perdi a conta de quantos filmes ele colaborou, mas sei todos que ele roteirizou e dirigiu. Sou fã além da amizade. Vejo tudo que ele faz e, na enorme maioria das vezes, sentada ao lado dele na plateia.

 

12) Defina cinema com uma frase:

“There's no place like home”, que nesse contexto são as salas de exibição de filmes. O lar dos cinéfilos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Anos 90.  Eu e o meu marido, Marco, levamos nossa filhota, Nathalia, aos 11 meses, para assistir Aristogatas, numa sessão às 15h, no Star Copacabana. Sentamos na primeira fila, para ela ter uma visão mais livre da tela. Enquanto o filme rolava, percebemos um intenso movimento na plateia, notadamente masculina. Era um vai e vem, uma andança pelos corredores, um senta-levanta... até que entendemos que rolava uma pegação na sala. O interesse daquele público não era exatamente pela animação da Disney. O espaço já era manjado para encontros descompromissados. Só eu e Marco não sabíamos... e muito menos a Nath, amarradona no jazz da pesada dos gatinhos que rolava na tela. Já a nossa volta, no escurinho do cinema, uma rapaziada animada se divertia ao som de “Todo mundo quer a vida que um gato tem”.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Um clássico involuntário.

 

 

 

15) Você é uma cinéfila assídua dos inúmeras sessões de cinema anualmente nos cinemas do RJ. O que você acha que os cinemas precisam melhorar para serem cada vez mais lotados de cinéfilos?

Cinéfilo é um termo genérico, então apostaria na variedade de filmes, sempre... em origem, gênero, linguagem, proposta. Quanto mais diversidade maior amplitude de alcance.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Vou te decepcionar e não dizer nenhum do Nicolas Cage, rssss. Mas já assisti muita bomba por aí, só que tenho a vantagem de ter memória seletiva.

 

17) Indique filmes para a nova geração que gostaria de ser cinéfilo e conhecer um pouco dos grandes clássicos do cinema.

Os filmes fundamentais do cinema estão em todas as listas possíveis. Prefiro dizer que pra ser cinéfilo assista muitos filmes, muitos, para poder formar um olhar embasado. Mais adiante, é até legal filtrar as preferências. Quando eu comecei a me aprofundar no universo dos filmes, me entusiasmei primeiro por diretores, especialmente os europeus. Depois passei a me ligar em movimentos de linguagem, como Nouvelle Vague, Neorrealismo, Cinema novo, entre os óbvios-essenciais, passando pelos títulos alternativos, experimentais, undergrounds e independentes. E por aí foi... ciclos sem fronteiras.

Hoje sou uma cinéfila que continua curiosa, mas estou mais exigente na minha grade de interesses. E quando digo exigente não tem nenhum pedantismo no termo, é só mesmo uma segurança maior na escolha do que me faz feliz em assistir no cinema.

 

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #18 - Kathia Pompeu

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #17 - Andrea Cursino

O cinema não deixa de ser um reunião, um grande elo, de pessoas que amam entender os sentimentos que caminham pelo universo que vivemos. Pensando em entender melhor as origens do amado gosto pela sétima arte, esse humilde cinéfilo que vos escreve resolveu de maneira espontânea mandar um questionário de perguntas para uma incrível seleção de cinéfilos brasileiros com o objetivo de trocar experiências sobre tudo que já viveram nesses anos de amor ao cinema.

Nossa convidada de hoje é jornalista formada pela FACHA (Faculdades Integradas Hélio Alonso) e já foi repórter, assessora de imprensa, produtora de programas para webtv e crítica de cinema. É professora de crítica de cinema na FACHA e mediadora debates em salas como: Cine Joia, MAM e Teatro Sesi. Fundadora e proprietária do site Cinema Para Sempre (https://cinemaparasempre.com.br/). Andrea é uma das pessoas mais carinhosas desse universo audiovisual sendo figura sempre presente nas diversas cabines de imprensa e eventos na cidade do Rio de Janeiro, principalmente.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu sou do Rio de Janeiro e a sala de cinema que gosto mais é o UCI New York City Center. Eles têm várias salas com tecnologias diferenciadas. As salas são confortáveis e tem mais variedade de títulos em cartaz. Além disso, os filmes ficam em cartaz mais tempo e é a sala mais próxima da minha casa.  

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acho que desde que me entendo por gente eu sou cinéfila. Acho que é o melhor lugar do mundo para alimentar a mente humana. As histórias, as mensagens e as tantas formas de comunicação e aprendizado sempre me encantaram. Não exatamente da primeira vez que fui ao cinema, mas tenho lembrança de assistir Bernardo e Bianca aos 8 anos de idade, mas tenho certeza que assisti outros filmes da Disney no cinema antes disso.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu não consigo escolher um favorito para nada rsrsrs. Mas tenho os preferidos na lista como: Steven Spielberg. Tenho dúvidas qual meu coração gosta mais entre os três filmes de Indiana Jones (A Arca Perdida / e o Templo da Perdição e a Última Cruzada), E.T e The Post, embora ame muito outros filmes que ele dirigiu.  Os outros dois diretores são: Tim Burton e Susana Garcia.  Em relação ao Tim Burton eu gosto de quase todos os filmes, mas o favorito ainda é A Noiva Cadáver.  Acho que Suzana Garcia consegue transmitir história com muita delicadeza e bom humor e o filme favorito dela é Minha Mãe é Uma Peça 3.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e por quê?

Me quebrou de novo rsrsrs. Vou de Minha Mãe é Uma Peça 3 porque já falei antes. Tenho uma listinha de filmes nacionais que amo muito! Porque é simples, a diretora soube contar uma história familiar que podemos identificar nos personagens pessoas conhecidas, até mesmo na nossa família de forma engraçada, mas respeitosa. Não é um deboche, não trabalha com piada, trabalha com situações engraçadas. Soube dar a delicadeza na hora certa e o exagero também na medida. Ela trabalha o exagero como forma de nos fazer pensar no absurdo da situação. Suzana Garcia tratou a história de Juliano com naturalidade sem bandeirismos de coitado, oprimido. Tem muitos gays como Juliano e o cinema nunca lembra de retratá-los. Gay que tem família, emprego, amigos e relacionamento estável. O texto que Juliano fala no fim do filme fecha com chave de ouro um filme que fala sobre família.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é gostar de cinema, ou seja, dos filmes em si. Pode ser na sala ou na sobre vida de um filme: DVD, Streaming, TV, smartfone. Não é só assistir um filme, é entender o que ele quer dizer e para quem ele quer dizer. Nem todo filme é para todo mundo, mas o cinema é arte da generosidade e é para todo mundo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Alguns cinemas sim, mas acho que falta essa visão de que as salas podem ser mais abrangentes com seus títulos e procurar conhecer mais seu público. Uma pessoa que entende de cinema tem mais possibilidades de fazer a sala funcionar melhor.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca, nunquinha da silva as salas vão acabar. Podem modernizar, mas acabar nunca!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram, mas é ótimo.

Artistas e Modelos com Jerry Lewis e Dean Martin.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho uma temeridade uma sala de cinema abrir antes da doença estar totalmente controlada. Sala de cinema já um ambiente fechado, com ar condicionado e sem ventilação. É um foco de contaminação que coloca em risco a vida do público e dos funcionários que trabalham nas salas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O Cinema Nacional evoluiu muito. Hoje tenho orgulho do nosso cinema e pode ser exibido em qualquer lugar parte do mundo porque fazemos um cinema mais diversificado para atender todos os públicos. É preciso investir mais e tenho certeza de que podemos colher bons frutos de novas produções. Incentivar o estudo e aperfeiçoamento de novos profissionais do mercado cinematográfico, assim também como reciclagem de aprendizado e aperfeiçoamento de profissionais veteranos é fundamental para o Brasil estar entre os melhores produtores de cinema do mundo. 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a Soma de Todas as Artes!

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Eu fui assistir Star Wars VII - O Despertar da Força que foi uma corrida para compras antecipadas de ingressos para as sessões de 00:01. Eu na verdade comprei o último ingresso da sala 4 do Kinoplex Leblon. Era na cara da tela, que não gosto, mas fazer o que? A minha cadeira era ao lado do espaço do cadeirante. O cadeirante chegou com o filho e pediu para trocar de lugar. Aceitei na hora. Fiquei três fileiras depois. Ufa!  Visão melhor. Tinham quatro jovens sentados ao meu lado. Super gente boa. E de repente entra o gerente avisando que eles estavam com problema de KDM, confesso que ri. O rapaz ao meu lado perguntou O que é KDM? Eu respondi que é o código do filme. Isso acontecia muito em cabines de imprensa (exibição para os Críticos de Cinema). As vezes demoooora para funcionar o novo código. E foi o que aconteceu. Enquanto esperamos, o cinema liberou refil de pipoca e o estacionamento para quem estava ali naquela situação. De repente todo mundo começou a conversar e parecia uma festa de amigos se divertindo. Muito surreal mesmo. De repente todos tomamos um susto com um cara que surtou na sala, chutou a lixeira e disse que não era palhaço e foi embora deixando todos estarrecidos.  O gerente disse que quem quiser o ingresso de volta ou um outro para assistir o filme em outro dia que se dirigisse à bilheteria. Ninguém foi. Já estávamos ali há horas, então ficamos para ver a nova trilogia de Star Wars. No fim das contas o novo KDM não funcionou também e ficamos para assistir na outra sala que funcionou a sessão das 03h01m. E eu tinha que acordar às 5h30m para me arrumar e falar sobre o filme na Rádio Roquette Pinto, onde eu era comentarista de cinema. Saímos de lá às 05h30m até liberar todos os carros do estacionamento, e ainda ganhei uma carona para casa com meus novos amigos. Fui para rádio e depois voltei para casa morta com farofa. Mas pelo menos foi divertido apesar de confuso. Cheguei no Shopping Leblon às 21h e saí de lá às 05h30m com uma história para contar, além da crítica para escrever.   

 

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Confesso que só vi o trailer, é tão ruim que chega ser engraçado!

 

15) Você é professora de cinema. A maior parte dos alunos que busca especialização em cinema são cinéfilos? O que você acha?

Por incrível que pareça, em geral são alunos que gostam de assistir filmes, mas alguns tem um conhecimento muito limitado a filmes de sua época. Não são muitos que conhecem os clássicos, os antigos e os novos. Isso também se deve com o fim das locadoras de DVD que tinham uma variedade enorme de filmes. Outro fator é que as emissoras de TV pararam de passar filmes antigos. Sem que sejam devidamente alimentados, podem cair no esquecimento porque uma geração inteira não tem conhecimento e não pode passar esse conhecimento para geração seguinte.  Quem me dera ter condições de ter um centro cultural com umas quatro salas de cinema só para passar filmes antigos e reprises.  

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #17 - Andrea Cursino