15/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #31 - Jorge Nunes

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistado de hoje é cinéfilo, carioca, frequentador de cabines de imprensa no RJ. Trabalhou como editor em diversos lugares além de crítico de cinema de alguns portais. Jorge Nunes, a simpatia em pessoa, nos conta um pouco de seus pensamentos cinéfilos através de nossas perguntas desse especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Rede Cinemark, seja por já ter trabalhado nela, seja pela proximidade. A programação acho que o Estação NET Botafogo.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente. Batman - O Retorno.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Christopher Nolan - A trilogia de Batman, mas se for pra ser um filme vai o Cavaleiro das Trevas.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Elis. Porque achei uma grande história, interessante, com um roteiro rico em bons diálogos e que não teve palavrão pelo que eu me lembre! Rs.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É ter vontade de ver filme todo o dia senão é como se o dia não compensasse.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acredito que não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca pensei nisso, mas com essa pandemia comecei a pensar no assunto! Acho que não acaba não. Assim como existe a TV e a Internet, existe cinema e Netflix. Se complementam!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Mais Que Vencedores.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho perigoso nesse momento pois a curva só aumenta. Creio que o correto é reabrir quando houver a vacina.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Depois de Mais forte que o Mundo, creio que em muita coisa melhorou. São produções e produções. O forte brasileiro são as histórias, temos tido grandes roteiros.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Por enquanto Irandhir Santos ou Júlio Andrade.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é uma paixão cheia de definição (pixels) kkkk.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Não consigo me lembrar de nenhuma kkk.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

É como um belo vestido cheio de camadas em rodelas para enaltecer o quanto a baiana roda! Rs.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

O ideal é que fosse, mas sabemos que nem sempre é assim! Cinema é cultura. Quanto mais ele vê, mais know how ele tem pra criar!

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14/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #30 - Luciano Vidigal

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso entrevistado de hoje é professor de teatro, ator, cineasta e gente boa. Luciano Vidigal, também é professor da ONG Nós do Morro e já teve curta premiado nos festivais de São Paulo, Londrina, Rio de Janeiro e Marseille. Fã de Spike Lee, esse grande artista do nosso audiovisual responde agora nosso questionário/entrevista sobre cinema.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Todas as salas do Estação de Cinema. Exibem filmes raros, diversos e contemplativos. E faz uma parceria linda oferecendo ingressos gratuitos para os artistas do Nós do Morro.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Faça A Coisa Certa do Spike Lee. Me arrebatou.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Spike Lee, Faça A Coisa Certa rs rs.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Pixote do Hector Babenco. Uma obra prima. Cinema de uma realidade autêntica. E foi o filme que me fez amar o cinema brasileiro.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Dormir e acordar consumindo cinema. É ser um expectador que assiste o filme com um olhar sagrado.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Infelizmente o capitalismo grita mais alto. O comercial ultrapassa a arte.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Tenho esse medo. Mas sou otimista e acredito que vamos resistir.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A Negação do Brasil de Joel Zito Araújo. Um importante oportunidade de repensar o Brasil.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Sim. Com todas as precauções. Por que abriram shoppings, bares? E liberaram as praias? E os cinemas não? Eles tem medo da cultura.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sinto orgulho. O cinema digital proporcionou uma diversidade que o Brasil não tinha. Mesmos com esse nocaute da complexa política brasileira, fomos selecionados, premiados e júris de festivais importantes como Cannes e Berlim.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Kleber Mendonça.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é redescobrir e se comunicar com o mundo através de imagens.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Um casal transando em um canto da sala. E na tela o filme "Gasparzinho, o Fantasminha Camarada".

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

"Deu ruim".

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Sim! Referência é tudo.

 

16) Você é cineasta. Que dica daria para os jovens que futuramente querem ter cinema como profissão?

Tenha a sua causa, tenha a curiosidade do saber, tenha psicologia, ame poesia, aprenda para desaprender. Cinema não é só para entreter, é para revolucionar...

 

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10 Documentários imperdíveis na Netflix

Muitas vezes passando desapercebidos em inúmeros catálogos dos vários streaming que cada vez mais nascem pelo planeta, muitos documentários tentam apresentar fatos e reações de qualquer tema, assunto, deixando para o espectador o veredito final de tudo que viu e analisou durante o tempo de projeção. Patinhos feios do circuito exibidor brasileiro, que muitas vezes preza pelo ‘filme de algum famoso’, a chance de assistir a um belo documentário aumentou com essas novas janelas de exibição. Pensando nisso, essa lista chega como uma oportunidade para quem está buscando referências para assistir a um bom documentário na mais famosas das janelas de Streaming, Netflix.

 

Raul, o Começo o Meio e o Fim

Em uma época onde o rock era a música que afirmava um poder fictício aos jovens, surgia no cenário mundial aquele que virou uma lenda, um mito, Raul Seixas. Dirigido pelo competente Wálter Carvalho, Raul: O Começo, o Fim, o Meio, é um documentário divertido e emocionante que narra a trajetória do eterno maluco beleza da música popular brasileira.

Nesse ótimo documentário fazemos uma viagem na vida profissional e pessoal de Raul. A influência de Elvis Presley, o primeiro grupo (Raulzito e seus Panteras), o disco da virada na carreira (o álbum que tem o clássico “Sociedade Alternativa”), os muitos relacionamentos e depoimentos emocionados preenchem parte das lacunas deixadas pelo ídolo de uma multidão.

O homem que classificava sua própria música de ‘Raul Seixismo’, viveu intensos relacionamentos entre as décadas de 70 e 80. Raul era um pai amoroso que amou muitas mulheres. Via depoimentos, um inclusive via Skype, entendemos um pouco melhor a vida pessoal desse artista. O amor pelo grande ídolo é mostrado em muitos momentos, mais um em especial é marcante, nas enlouquecidas vozes de fãs cantando alguns clássicos em uma comemoração do aniversário do artista.

Entrevistas antológicas são mostradas. Depoimentos memoráveis de Paulo Coelho (grande parceiro de composição de Raul, ensinou exoterismo ao Maluco Beleza e o mesmo o ensinou a fazer letra de música), Nelson Motta, Pedro Bial, Caetano Veloso, Tom Zé, entre outros. Nessa hora percebemos o quão original era esse homem que mudou para sempre a história da nossa música.

Mas nem tudo eram flores na vida de Raul Seixas. As irresponsabilidades começaram a influenciar a carreira, o alcoolismo e as drogas foram caminhos percorridos pelo cantor que já dedicou um show ao cineasta Glauber Rocha. Por trás dos óculos escuros, uma lenda surgia. Saiba como isso aconteceu.

 

El Pepe, uma Vida Suprema

A beleza da simplicidade. Dirigido pelo premiado cineasta sérvio Emir Kusturica, El Pepe, uma Vida Suprema navega pela intensa vida do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, um homem adorado por seu povo que conseguiu mudar o Uruguai de patamar no cenário latino-americano e porque não dizer também mundial. Ao longo dos quase 80 minutos de projeção, conhecemos as manias, as famosas histórias sempre em pano de fundo os últimos dias de presidência da celebridade sul americana.

Já disponível no catálogo da Netflix, o documentário que teve estreia no famoso Festival de Veneza no ano de 2018 apresenta um pouco profundo raio-x da vida de militância do uruguaio, seu grande amor da vida que também era militante, e toda força que conquistou através do silêncio por ter ficado preso por mais de uma década rodando de prisão em prisão durante a ditadura uruguaia. Vivendo uma vida simples, mesmo quando era o chefão de seu país, sempre a bordo de seu famoso fusquinha, vemos uma homem e um objetivo: melhorar em todas as áreas o país que tanto ama. Amante da agricultura, passa horas do seu dia ao lado de seu plantio e também ensina aos que querem aprender.

Surpreendente em alguns relatos, Pepe e suas histórias deixam um grande plano de interação com Kusturica, deixando o filme bastante informal e natural. Usando um ponto eletrônico, a tradução simultânea, o diretor se diverte com muitos dos pensamentos de Mujica. Nem vemos o tempo passar e ainda da gostinho de quero mais. Que vida, que história. Que bom pra América do Sul!

 

 

Jim and Andy

A linha tênue entre atuação e a paciência. Mostrando os bastidores de uma das filmagens mais complicadas de Hollywood na década de 90, conhecemos a doação do ator Jim Carrey, esse fabuloso artista dramático, com veias cômicas incomparáveis, que parece não ter limite quando entra em um personagem. O documentário, proibido (provavelmente) durante um bom tempo, conta passo a passo como foi o processo de criação de Jim, e as loucuras que aprontava no set de filmagens do cineasta tcheco Milos Forman (Um Estranho no Ninho) no que mais tarde seria um dos filmes mais aplaudidos daquele ano, O Mundo de Andy.

Jim Carrey nem de longe era a primeira escolha de Forman para o papel de Andy Kaufman, logo no início do documentário ficamos sabendo que ele teve que fazer um teste para o filme. Depois de sucessos de bilheterias como O Máscara, Débi e Lóide e Ace Ventura, Carrey mandou uma fita para a audição. Passou. Jim, era muito fã de Andy, conhecendo suas piadas, seus modos de agir, seus conceitos. Para entregar um personagem quase real, Carrey incorpora Andy durante todas as semanas de filmagens, mesmo quando as câmeras não estão ligadas, levando a todos da produção a uma verdadeira loucura que só é recompensada com a finalização do que seria um dos mais aclamados papéis de um ator durante muito tempo.

Há uma invisível linha tênue que separa os limites que Carrey contornava seu personagem, ele não queria que Andy fosse embora quando a claquete batia, ele precisava de alguma forma levar Kaufman de volta ao mundo. Invadiu a casa do dono da Revista Playboy, passeava com carrinhos de golfes pela major que produzia o filme, conversava com todos sendo Andy. A maneira que arranjou foi desestabilizar a todos, deixando que todos acreditassem que Andy estava ali com eles. Uma técnica arriscada de sucesso mas que conforme vimos no filme O Mundo de Andy, acaba se encaixando com louvor.

 

 

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado

Do triunfo ao quase desastre, sempre na esperança de voltar a falar com seu público. Muitas gerações recentes aqui no Brasil talvez nem nunca tenham ouvido falar no porto riquenho Walter Mercado. Sem zap, internet, quem comandava a festa da informação/comunicação eram as televisões e suas enormes audiências. Assim, anos atrás, na década de 90, um chamativo homem sempre com roupas extravagantes, capas, falando sobre astrologia dominou o interesse popular no Brasil e em toda a América Latina durante anos mandando mensagens positivas para milhares de devotos. Mas como que no auge da carreira e exposição na mídia, essa figura pública amada sumiu e nunca mais voltou à tv? Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado, produzido pela Netflix, dirigido pela dupla de cineastas Cristina Costantini e Kareem Tabsch, mostra as verdades sobre tudo que aconteceu na formação, no auge do sucesso e no pós sumiço televisivo desse personagem sempre intrigante da televisão. Dois pontos muito interessantes: o encontro do atual gênio da Broadway Lin-Manuel Miranda com seu ídolo de infância é algo que emociona. Segundo, o projeto nos faz uma pergunta indiretamente: será que Walter Mercado faria sucesso nos dias atuais? A resposta está no filme!

Dividido em arcos muito bem compostos, esse ótimo documentário navega em pontos importantes da trajetória do astrólogo mais famoso do mundo na década de 90. A questão sobre a sexualidade dele, assunto que Walter não gostava de falar muito sobre, contorna o documentário sob ponto de vista de um ativista lgbt de Porto Rico que teve nele como alguém de referência para ser quem ele queria ser. Outra questão é a briga na justiça que Mercado teve com seu ex-empresário. Como a maioria dos artistas que se dedicam fortemente à sua arte sem pensar na estrutura que precisa administrar para que tudo aconteça, Walter acaba caindo em armadilha contratuais que praticamente extinguiram sua marca, seu nome que sempre lutou para deixar intacto no auge. Há um belo destaque também para as lembranças da carreira de ator de Walter, uma passagem muito bonita em um lindo teatro em Porto Rico ganha destaque no documentário.

Ícone da moda? Figura pop? Rei dos memes foi por jovens que nunca o viram na tv? Cascateiro? Ingênuo? Walter Mercado pode ser definido por você leitor da forma como o enxergar mas uma coisa não tem como nenhum de nós negar: marcou a história da televisão mundial.

 

 

Chasing Trane

É algo realmente notável tocar em um nível tão especial. Tentando decifrar, de alguma forma, parte da genialidade de um dos maiores músicos saxofonistas da história desse imenso planeta em que vivemos, Chasing Trane, dirigido pelo cineasta John Scheinfeld, exibe várias curiosidades de um dos mitos das origens do jazz, John Coltrane. Filho único, nascido no sul dos Estados Unidos, tocava em casas de shows badaladas (algumas cheias de cafetões e vigaristas) trabalhando para sustentar sua esposa e a sua enteada, desde os tempos em que era integrante da espetacular banda de outro genial, Miles Davis (Miles Davis Quintet). O documentário, que tem narração de passagens na voz de Denzel Washington, é cronológico e aos poucos, com muitos detalhes, acompanhamos a construção desse mito do sax. Um projeto para sempre ser exibido a cada nova geração. Nunca podemos nos esquecer dos bons, jamais.

 

A dor que temos, a esperança que sofremos. Em suas canções, e principalmente após se descobrir um ótimo compositor, Coltrane aborda política, desigualdade social e outros temas em um som puxado para um pop jazz que ninguém fazia, sendo responsável pela divulgação cada vez mais forte do poderoso jazz norte-americano. Viciado em heroína logo no início de carreira, quase seguindo o destino de outra lenda do jazz Charlie Parker (Bird, do qual era fã), Coltrane consegue com muita força de espírito sair de alguma forma desse vício horroroso o que elevou sua vontade de viver e automaticamente sua criatividade musical.

Com depoimentos de biógrafos, filósofo, músicos como o baterista do The Doors que era seu fã, amigos próximos, parte de sua família, e até do ex-presidente Bill Clinton, vamos navegando na mente de um dos mais criativos artistas das últimas décadas. Imagens antigas da década de 40, 50 e 60 caminham junto à cronologia que que se adapta a todos os feitos e importantes marcos na carreira de Coltrane, como a composição de um de seus maiores sucessos Alabama que teve como inspiração o terrível atentado a uma igreja batista por supremacistas brancos que mataram quatro crianças.

Contra o contexto do preconceito os negros usavam a música como forma de alegria e equilíbrio emocional. Há um paralelo importante entre Martin Luther King e John Coltrane, o segundo encontra na música uma forma de lidar contra tudo de complicado que enxerga ao seu redor, e nós sentimos em nossos corações.

 

Democracia em Vertigem

As verdades só se tornam realmente verdades quando nós mesmos sentimos o que vivemos. Um dos documentários que mais trouxeram discussões nos últimos tempos, Democracia em Vertigem, que está disponível na plataforma de streaming Netflix, é uma saga sobre os rumos políticos do Brasil nos últimos anos e a troca do poder da esquerda para a direita. Abordando relatos pessoais em paralelo com a cronologia de queda da ex-presidente Dilma Rousseff, a competente cineasta Petra Costa narra essa trajetória de sua vida que se torna um espelho do que acontece nos bastidores do poder ao seu redor.

Com imagens e alguns relatos de muitas figuras políticas brasileiras, Petra vai da ascensão à queda do PT, e nas entrelinhas, expõe sua visão pessoal sobre toda essa situação. A vida da cineasta é aberta, como nos seus relatos sobre ser parente de um dos criadores de uma das maiores construtoras do país e os momentos que seus pais viveram lutando contra a ditadura.

Considerado um dos melhores documentários no ano de seu lançamento pelo 'New York Times', Democracia em Vertigem, assim como o Brasil se encontra ultimamente, vai ter gente que não vai querer assistir por ser de direita e poderá ser louvado por muitos do outro extremo. De qualquer forma, torcemos para todo mundo assistir e tirarem suas próprias conclusões. Pra mim, é um belo trabalho dessa grande cineasta brasileira.

 

Virando a Mesa do Poder

O mundo do poder é muito parecido em qualquer lugar do mundo. Disponível no catálogo da Netflix, o documentário Virando a Mesa do Poder nos apresenta mulheres inteligentes e com vontade de mudar a situação nas regiões onde vivem, decidindo se candidatar a uma vaga no congresso norte-americano. O documentário, importante principalmente sob o ponto de vista de abrir a mente dos jovens eleitores sobre as inúmeras possibilidades e da real importância do voto (que nos Estados Unidos não é obrigatório), é dirigido pela cineasta Rachel Lears. Lançado no início do ano passado, o filme não ganhou tanta repercussão. Mas vale a pena conferir.

Relatos fortes, impactantes, a maioria das candidatas que conhece mais de perto são mulheres, fortes e batalhadoras que abriram os olhos e não querem mais fechar. De Nevada até big apple, o case mais profundo chega da mais badalada cidade norte-americana, Nova Iorque, quando após 14 anos uma prévia para o senado acontece na cidade, tendo a debutante a uma vaga no congresso a ativista Alexandria Ocasio-Cortez. A campanha de todas as candidatas mostradas são baseadas em doações de outras pessoas, diferentes dos poderosos do outro lado que são impulsionados por outros já poderosos de grandes empresas. De maneira bem simples, o documentário passa um raio-x de como o poder é cheio de alianças polêmicas e somente a força de vontade do povo que pode algum dia mudar isso.

Engajamentos, lideranças femininas. Importante menções ao mais engajado universo de hoje em que vivemos, Virando a Mesa do Poder não deixa de ser uma série de relatos sobre como podemos todos juntos mudar um pouco sistemas tão do arco da velha.

 

Ícaro

Vencedor do primeiro prêmio conquistado por uma produção da Netflix no Oscar, o excelente documentário Ícaro traz à tona um caso que afeta de maneira geral a integridade de órgãos de proteção ao doping pelo mundo. Dirigido pelo ciclista amador Bryan Fogel, o projeto é um grande experimento sobre o uso de substâncias proibidas em grandes eventos esportivos, principalmente, o maior de todos eles, as olimpíadas.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Bryan Fogel, um amante do ciclismo, fã (ou ex-fã) de Lance Armstrong que resolve investigar por si mesmo um dos casos mais elaborados de doping da história, ocorrido na Rússia. Assim, consegue o contato do bioquímico Grigory Rodchenkov, um dos chefes do controle russo de doping. Assim, assistimos por meio de declarações polêmicas e muitas provas apresentadas que o programa russo usava drogas desde da década de 60 para melhorar o desempenho dos seus atletas, e o pior de tudo, sempre com o aval do presidente, Vladimir Putin.

De um simples experimento para tentar tirar a prova real se realmente algumas substâncias aumentam o desempenho dos atletas, o projeto se transforma em um grande thriller documentário principalmente quando o cerco das autoridades mundiais, principalmente a WADA, se fecha em torno dos russos. Antes consultor, do experimento que Fogel fez, Rodchenkov se torna pessoa não grata na Rússia e precisa fugir para os Estados Unidos em busca de proteção, pois seu depoimento para as autoridades é de supra importância para o melhor esclarecimento dos detalhes de todo o planejamento ilegal dos russos em diversas competições e de diversas modalidades esportivas ao longo dos anos.

A força das documentações e argumentos obtidos por Fogel e sua equipe, foram usados como argumentos para o veto da delegação Russa em muitas competições, inclusive nas olímpiadas que aconteceram aqui no RJ.

 

The Two Killings of Sam Cooke

A trajetória de um ícone, o adeus a uma lenda. Dirigido pela cineasta Kelly Duane de la Vega, disponível no catálogo da Netflix, The Two Killings of Sam Cooke retrata alguns recortes da carreira e vida pessoal de Sam Cooke, artista esquecido por muitos mas com canções que até hoje escutamos por aí, como a fantástica A Change is Gonna Come. Ativista, amigo de Malcolm X e Cassius Klay (Muhammad Ali) reza a lenda que sofria investigações do FBI na época em que todo o seu maior drama aconteceu. Ao longo dos enérgicos 74 minutos de projeção vamos sendo testemunhas de um raio-x sobre a personalidade forte desse artista único.

Um cantor, dono de uma voz marcante, no auge do sucesso acaba sendo assassinado em circunstâncias até hoje bastante duvidosas. Para quem nunca ouviu falar de Sam Cooke, esse foi um dos maiores cantores de sua geração, mas só viveu 33 anos para contar sua história cheia de triunfos e dramas. O documentário mostra em outros fatos, o jeito habilidoso com que Cooke visionava o mercado da música nos Estados Unidos, mesmo assim não conseguiu fugir de pessoas que só queriam se beneficiar de seu sucesso caindo em uma espécie de golpe de direitos autorais.

De uma época onde o preconceito era algo comum e tristemente visto em muita esquinas norte-americanas, principalmente no sul do país, Sam Cooke fez de tudo para ser um sucesso usando somente seu talento. Caído no esquecimento décadas depois de seu falecimento, o título desse projeto é bastante certeiro pois gira em torno de como no auge tudo desmoronou para esse protagonista que merece ser conhecido por quem nunca ouviu falar dele.

 

I Called Him Morgan

Como contar a história de uma tragédia e fazer ser interessante os dois lados da moeda? Apresentando uma das histórias mais trágicas e banais da história do Jazz, o cineasta sueco Kasper Collin apresenta ao público argumentos e os porquês que encerraram no início da década de 70 a trajetória do genial trompetista Lee Morgan nesse mundo. Descobrindo uma inusitada entrevista da autora do crime em fita k7, a esposa na época de Lee, Helen Morgan, conseguimos descobrir os motivos da tragédia e um pouco mais da personalidade desses dois personagens, marido e mulher sua união e sua tragédia. Uma história impactante, do início ao fim.

Belas imagens de arquivos saltam com energia na tela transformando os sons de Morgan ao fundo em uma sinfonia belíssima. Impressionante o talento desse jazzista. No início, acompanhamos fases da vida de Lee Morgan, sua ascensão nas noites dos mais badalados casa de shows de jazz dos Estados Unidos, seu primeiro declínio para as drogas e seu renascimento através de Helen, que conhecera quando estava na pior mas que futuramente em um ato sem pensar acaba destruindo pra sempre essa história. Mesmo que sem depoimentos próximos, os detalhes fornecidos pelos entrevistados, amigos dos dois naquela época, principalmente a situação do clímax desse filme, parece que nos colocam dentro daquela Nova Iorque fria em dezembro.

O roteiro do documentário é primoroso. Instiga o espectador a cada instante, mostrando os dois lados da moeda, o assassinado e o assassino, os pontos de intercessão até seu final para lá de impactante. Um belo trabalho que merece ser conferido.

 

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13/08/2020

Crítica do filme: 'I Called Him Morgan'

Como contar a história de uma tragédia e fazer ser interessante os dois lados da moeda? Apresentando uma das histórias mais trágicas e banais da história do Jazz, o cineasta sueco Kasper Collin apresenta ao público argumentos e os porquês que encerraram no início da década de 70 a trajetória do genial trompetista Lee Morgan nesse mundo. Descobrindo uma inusitada entrevista da autora do crime em fita k7, a esposa na época de Lee, Helen Morgan, conseguimos descobrir os motivos da tragédia e um pouco mais da personalidade desses dois personagens, marido e mulher sua união e sua tragédia. Uma história impactante, do início ao fim.

Belas imagens de arquivos saltam com energia na tela transformando os sons de Morgan ao fundo em uma sinfonia belíssima. Impressionante o talento desse jazzista. No início, acompanhamos fases da vida de Lee Morgan, sua ascensão nas noites dos mais badalados casa de shows de jazz dos Estados Unidos, seu primeiro declínio para as drogas e seu renascimento através de Helen, que conhecera quando estava na pior mas que futuramente em um ato sem pensar acaba destruindo pra sempre essa história. Mesmo que sem depoimentos próximos, os detalhes fornecidos pelos entrevistados, amigos dos dois naquela época, principalmente a situação do clímax desse filme, parece que nos colocam dentro daquela Nova Iorque fria em dezembro.

O roteiro do documentário é primoroso. Instiga o espectador a cada instante, mostrando os dois lados da moeda, o assassinado e o assassino, os pontos de intercessão até seu final para lá de impactante. Um belo trabalho que merece ser conferido.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #29 - Marcelo Ikeda

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso entrevistado de hoje é um grande estudioso sobre essa arte que tanto amamos. Mestre formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e economista de formação, Marcelo Ikeda trabalhou na Agência Nacional do Cinema (ANCINE) entre 2002 e 2010, ocupando diversas funções. Como crítico de cinema, escreveu para vários veículos, organizou mostras e escreveu um livro. Com tanta experiência no audiovisual brasileiro, é uma grande honra ter Ikeda em nosso especial cinéfilo.

 

1)  Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em Fortaleza, onde atualmente moro, o Cinema do Dragão, mantido pelo Governo do Estado do Ceará. No Rio de Janeiro, uma sala pela qual sempre tive muito carinho, muito importante para minha formação, é a Cinemateca do MAM.

 

2)  Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

NÃO AMARÁS, do Kieslowski. Quando vi esse filme, tinha uns 12 anos de idade, e foi como uma anunciação. Logo ao final desse filme, percebi imediatamente que o cinema passava a fazer parte da minha vida, como uma sombra, de modo que, sem ele, eu não existiria.

 

3)  Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São tantos rs. Vou citar dois. Jonas Mekas (Walden). Chantal Akerman (Jeanne Dielman ou News From Home).

 

4)  Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Aopção, do Ozualdo Candeias. O porquê está aqui rs. http://www.cinecasulofilia.com/2008/04/ave-candeias-vi-aopo.html

 

5)  O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é se dedicar profundamente a realmente querer compreender o que de fato é um filme.

 

 

 

6)  Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Infelizmente não. Me parece que a maior parte das pessoas que programam atualmente as salas de cinema entende de comércio, e não de cinema.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Elas já não têm e não terão a importância que já tiveram um dia, pois hoje há outras formas de ver cinema para além das salas de cinema, o que têm aspectos positivos e negativos. Mas a sala de cinema nunca vai acabar.

 

8)  Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Nossa, são tantos rs. Vou citar O SOL DO MARMELEIRO, do Victor Erice. Um filme luminoso sobre a relação entre criação e vida. Quero citar também um filme brasileiro: O QUE SE MOVE, de Caetano Gotardo, um filme sombrio e delicado sobre como tudo pode estar prestes a ruir, mesmo sem nenhuma explicação plausível.

 

9)  Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não cabe a mim dizer, pois essa decisão deve ser feita por especialistas em políticas sanitárias, especialmente médicos. No entanto, aqui na Europa, vejo muito mais riscos em aglomerações em ambientes como bares e aviões do que em salas de cinema.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro vive um momento de grande pluralidade, de muitas coisas diferentes sendo feitas, algumas delas de muita qualidade. Mas os principais filmes brasileiros do seu tempo não são vistos, são vistos por muito poucos, apenas em festivais de cinema. E vivemos um momento de desmonte, de uma tentativa de reduzir o impacto da arte e da cultura brasileira, o que é muito grave.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

André Novais Oliveira. Petrus Cariry.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Inspirado pelo movimento do mundo, o cinema é uma forma de criar outros possíveis, outros modos de ser, ativando nossa experiência sensível diante do mundo.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Uma vez eu fechei os olhos numa sala de cinema e, quando os abri, estava em outro mundo.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O fim (e o fracasso) de um modelo de produção do cinema brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Adoro diretores cinéfilos, mas, mais que unicamente pelo cinema, os cineastas devem ser tocados não só por outras formas artísticas mas especialmente pelo movimento do mundo. Como diziam os neorrealistas italianos: não estamos interessados propriamente no cinema, mas sobretudo no homem e na natureza.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #28 - Wilker Medeiros

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistado de hoje é de Recife. Crítico de cinema dos portais Cinema com Rapadura e Cinepop, participante do Rapaduracast e do podcast Alerta Vermelho, no Cine Alerta. Um grande admirador da sétima arte que adora os filmes de Scorsese e Coutinho mas tem em PTA (Paul Thomas Anderson) um diretor que possui um poder especial sobre ele. Wilker Medeiros, um querido amigo cinéfilo que sempre está pelas redes sociais falando sobre a sétima arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Em relação a programação, sem dúvidas, é o Cinema da Fundação. Que foi regido por muitos anos pelo Kleber Mendonça FIlho e hoje é comandada pelo mestre e grande amigo Ernesto Barros. Uma programação pensada pra cinema, e não apenas visando lucro.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Exatamente o primeiro que vi no Cinema São Luiz, templo do cinema em Pernambuco e Brasil, que foi O Rei Leão. Incrível e marcante aquela tela gigante, e quando a gente é pequeno, ela ainda é maior até metaforicamente falando.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eduardo Coutinho e Martin Scorsese são cineastas que acho irretocáveis, porém confesso que o cinema do Paul Thomas Anderson tem um poder especial em mim. É o que possuo mais intimidade e até por isso meu filme favorito é Magnólia.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Esse volto no Coutinho, no caso com Cabra Marcado para Morrer. É um filme que transcende cinema. Passa a ser registro histórico. Luta e resistência de pessoas. O tipo de cinema social e absolutamente forte em sua proposta.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Não vejo muito pelo rótulo, mas sim pela paixão forte de sentir e apreciar um filme. De poder ser transportado para os universos abordados.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

A questão não é entender de cinema, mas sim como a coisa funciona. Quando falamos de uma grande corporação de shopping, pensam em cinema como puro entretenimento, de pessoas que vão ao shopping e de lá passam no cinema. Não o contrário. Então só consigo ver uma pessoa gerindo um cinema quando há ali algo mais centrado. Empresa não tem como ser vista dessa maneira.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Jamais.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

É sempre complicado esse tipo de indicação, difícil saber o que é visto pelas pessoas de tempos em tempos. Porém vou indicar algo que é recente e pouca gente comenta, que é Paterson, do Jim Jarmusch. É um filme que merece ser mais explorado.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

De forma alguma.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro é um dos mais interessantes do mundo, artisticamente falando. E isso há no mínimo duas décadas. E atualmente está cada vez mais plural não só tematicamente, mas em gêneros explorados.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não fala pra ele, pra não ficar mais convencido, mas atualmente o Kleber Mendonça Filho tem construído uma filmografia impressionante. Desde curtas e longas até os comentários sobre o audiovisual dentro do cenário sociopolítico. Mas o Beto Brant é um cineasta que se lançar um filme, não perco jamais. Aliás, saudades dele.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Transcendental (perdão, Caê).

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Tem algumas, mas a que vem na cabeça é quando vi um filme sozinho numa sala de cinema, além das cabines de imprensa. A questão foi que peguei duas sessões seguidas, à noite, e após terminar a primeira, fui à outra sala ver Pânico 4. Passaram os trailers e nada de ninguém chegar. Até que o lanterninha chegou pra mim e perguntou se eu estaria disposto a vir no outro dia, pois iriam dar um ingresso. Porém, como não podia e sou um porre, vi o filme sozinho. Pois é, projetaram a despedida do mestre Wes Craven só pra mim.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Na real? Nunca vi.

 

15) Qual o pior filme que você viu na vida?

Olha, pelas ofensas raciais, as péssimas escolhas, o desrespeito a obra original e a execução da coisa, O Último Mestre do Ar é uma boa escolha dentre os recentes, mas confesso que não existe isso pra mim.

 

16) Você acha que todo diretor de cinema precisa ser cinéfilo?

É difícil imaginar um realizador de cinema que não goste de cinema. Talvez numa época que Hollywood fazia produções a toque de caixa. No geral, é impossível.

 

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12/08/2020

Crítica do filme: 'The Two Killings of Sam Cooke'

A trajetória de um ícone, o adeus a uma lenda. Dirigido pela cineasta Kelly Duane de la Vega, disponível no catálogo da Netflix, The Two Killings of Sam Cooke retrata alguns recortes da carreira e vida pessoal de Sam Cooke, artista esquecido por muitos mas com canções que até hoje escutamos por aí, como a fantástica A Change is Gonna Come. Ativista, amigo de Malcolm X e Cassius Klay (Muhammad Ali) reza a lenda que sofria investigações do FBI na época em que todo o seu maior drama aconteceu. Ao longo dos enérgicos 74 minutos de projeção vamos sendo testemunhas de um raio-x sobre a personalidade forte desse artista único.

Um cantor, dono de uma voz marcante, no auge do sucesso acaba sendo assassinado em circunstâncias até hoje bastante duvidosas. Para quem nunca ouviu falar de Sam Cooke, esse foi um dos maiores cantores de sua geração, mas só viveu 33 anos para contar sua história cheia de triunfos e dramas. O documentário mostra em outros fatos, o jeito habilidoso com que Cooke visionava o mercado da música nos Estados Unidos, mesmo assim não conseguiu fugir de pessoas que só queriam se beneficiar de seu sucesso caindo em uma espécie de golpe de direitos autorais.

De uma época onde o preconceito era algo comum e tristemente visto em muita esquinas norte-americanas, principalmente no sul do país, Sam Cooke fez de tudo para ser um sucesso usando somente seu talento. Caído no esquecimento décadas depois de seu falecimento, o título desse projeto é bastante certeiro pois gira em torno de como no auge tudo desmoronou para esse protagonista que merece ser conhecido por quem nunca ouviu falar dele.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #27 - Francisco Carbone

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Figura presente em diversos festivais de cinema pelo Brasil, dono de um texto maravilhoso sobre a arte de que tanto ama, nosso convidado é o cinéfilo mais ranzinza que eu conheço e automaticamente um dos que mais respeito e adoro conversar, Francisco (Frank) Carbone. Crítico de cinema, jornalista. Se você digitar o nome dele no Google, vai ser creditado em tanto site e matérias que deveria virar tema de documentário sobre cinéfilos. Com vocês, meu amigo, Frank.

Obs: Não esqueço do dia que na cabine de Me Chame pelo Seu Nome, no RJ (mais especificamente numa das salas do Grupo Estação), produzido pelo querido cinéfilo Rodrigo Abreu Teixeira. Quando acaba a sessão encontro Frank aos prantos. Bonito ver o quanto uma obra pode emocionar até os amigos mais rabugentos J

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Grupo Estação, especificamente os da Voluntários da Pátria. Bom, é lá que me sinto à vontade, que vejo os grandes filmes em cartaz, que me sinto à vontade, que encontro amigos, que troco ideias e, muitas vezes, afetos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Bom, creio que você esteja falando da experiência cinematográfica completa, e não filme visto em casa. Pois bem, o primeiro filme que lembro de ter sentido um arrepio diferente dentro da sala de cinema, foi o Almas Gêmeas, do Peter Jackson. O assisti numa sala que não existe mais, e por lá, vendo um filme adulto e sozinho, bateu uma certeza diferenciada.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Da vida, Bergman - meu preferido é Persona, acho. São tantas obras-primas desse mestre... entre os que estão vivos, Paul Thomas Anderson. Também ele me embolo pra decidir o melhor, mas vou de Boogie Nights, a despeito de inúmeros filmaços.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha, do Sganzerla. Porquê? Ah, é a minha praia o desafio, a ousadia, o risco, a experimentação.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é, acima de tudo, não apenas amar o cinema como complementar a sua visão com inúmeras trocas infinitas com outros como você.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Eu acredito que uma parte dessas pessoas entende, mas não todas. E nem sei dizer se seriam a maioria, mas sinto que existe uma mentalidade que precise combinar o conhecimento com a necessidade de cada espaço.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Os 'coveiros do cinema' existem desde o início do mesmo. Passaram pelas guerras, pela TV, pela Internet - acho que estão todos errados.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Ghost World, de Terry Zwigoff, é um dos filmes emblemáticos da minha vida, creio que poucos viram.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que não. Na verdade, eu acho que essa correria de buscar datas para coisas como Tenet é prejudicial não apenas ao cinema como negócio como principalmente às obras.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Essa última década o nosso cinema deu um salto qualitativo que tem a ver com a descentralização do mesmo, da amplitude de olhares que invadiram várias tribos, idades, sexos e lugares, e nos colocou num patamar onde estamos de igual pra igual com o melhor cinema produzido no mundo, seja de que parte for.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente estou fascinado por Grace Passô, em todas as vertentes que esse colosso de artista se apresente. Nossa melhor tradução hoje.

 

12) Defina cinema com uma frase:

O cinema me salva desde a adolescência, e hoje vai além da minha vida - é um desdobramento meu.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Nossa, eu já vi de tudo. Já vi gente sendo retirada carregada de uma sessão de Blue Jasmine (Woody Allen), já vi críticos extremamente mal educados dentro da sessão de Cães Errantes (Tsai Ming-Liang), já vi bate boca por assento, já vi pessoas morrendo de rir em 'Saló' (Pasolini), já vi pessoas muito loucas aplaudindo uma sessão de 'Lendas da Paixão' (Edward Zwick)... e muita coisa que eu não lembro agora. Comigo, duas situações inusitados - eu caindo da cadeira na sessão de Mapas para as Estrelas e dando esporro em espectadores em Árvore da Vida (Terence Malick).

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #26 - Monica Marraccini

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nossa entrevistada de hoje é uma das pessoas mais cultas e carinhosas que frequentam os cinemas do Rio de Janeiro. Professora de idiomas, intérprete e tradutora, Monica Marraccini morou anos na Alemanha e tem histórias sensacionais dentro dos cinemas em vários cantos desse mundão. Cinéfila de carteirinha, quando o Central do Brasil ganhou o Festival de Berlim, justamente na época em que ela estava se mudando de volta para o Brasil, traduziu na época todos os artigos elogiosos que saíram do alemão para o português e deixou num envelope para o Walter Salles na livraria do hoje Estação Rio. Quatro anos mais tarde, encontrou com o mesmo em um evento e ele disse que tinha recebido e se alegrado com a lembrança. Essas e outras curiosidades sobre essa querida amiga cinéfila você lê agora.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

São os cinemas da rede Estação, principalmente o Estação Rio. Desde o início, o Grupo Estação optou por uma programação mais distante do cinemão comercial hollywoodiano.  Não tenho nada contra assistir a um filme considerado main stream de vez em quando, há alguns excelentes, mas acho desesperador viver em um local onde estes sejam os únicos filmes disponíveis. Também frequentava muito o Espaço Itaú, mas observei uma mudança de foco nos últimos anos em direção a filmes que podem ser assistidos em muitos outros cinemas.

Um problema recorrente nos cinemas do Rio é o ar condicionado. Já deixei o cinema doente mais de uma vez, e o Itaú exagera na temperatura gelada. Curti muito o Cine Joia nos tempos do programador Raphael Camacho, pois a seleção era realmente ainda mais ousada do que a do Grupo Estação e o Cine Clube era uma delícia. Se o cinema fosse um pouco maior e confortável, creio que poderia ter permanecido um sucesso.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Meus pais eram cinéfilos e ouvi falar de cinema e de atores muito cedo na vida. Meu pai chegou a rodar um western que não foi lançado, mas está no catálogo da Cinemateca Nacional. No meu aniversário de 11 anos, descemos ao Rio de Petrópolis para alugar um filme na antiga Mesbla que meu pai exibiu no seu projetor para os meus amigos. Me senti muito especial naquela ocasião. Era um filme com Sophia Loren e não exatamente infantil, mas as crianças adoraram. Minha primeira paixão cinematográfica foi pouco original: A Noviça Rebelde. Depois passei a assistir filmes de Walt Disney, filmes bíblicos como Ben-Hur e Quo Vadis, comediantes franceses como Louis de Funnes e Jacques Tati. Petrópolis tinha muitos cinemas de rua nos anos 70 e assisti filmes maravilhosos como A Filha de Ryan de David Lean e A Flauta Mágica de Ingmar Bergman. Quando mudei para o Rio, passei a frequentar a Cinemateca do MAM onde se podia ver filmes de Fellini e de Andrzej Wajda. Quando mudei para a Alemanha, sofri um pouco com o fato dos filmes serem dublados, mas fiz muitos amigos cinéfilos e os papos que levávamos depois dos filmes compensavam. E me tornei frequentadora do Festival de Berlim que fazia do frio mês de fevereiro o mais estimulante do ano para mim. Quando voltei para o Rio, fui salva pelo Grupo Estação. Petrópolis infelizmente quase já não tinha cinemas.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pergunta difícil. Gosto muito do Mike Leigh, do Robert Altman, do David Lean, do Truffaut, do Visconti, do Bertolucci, do Bergman e de muitos outros. Mas se tivesse que escolher, iria com o agora renegado Woody Allen. Identifico-me muito com as vozes eloquentes dos seus filmes, adoro a mistura de comédia e intelecto. Pena que o escândalo e o pessimismo tenham escurecido tanto sua atual produção. Gosto de muitos filmes dele, mas escolheria Manhattan nos anos 70, Radio Days nos anos 80, Husband and Wives nos anos 90 e Midnight in Paris nos últimos anos. Este último me fez flutuar como a Goldie Hawn. Amei aquela viagem ao passado parisiense.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Por acaso estava revendo uma hora atrás no Canal Brasil: Central do Brasil. Acho uma história belíssima que enfoca o Nordeste de forma muito poética, com uma dupla de atores espetaculares e a saudosa Marília Pera. Além disso, Central ganhou o Festival de Berlim justamente na época em que eu estava me mudando de volta para o Brasil e a emoção dos brasileiros que lá viviam com aquela vitória foi imensa. Traduzi na época todos os artigos elogiosos que saíram do alemão para o português e deixei num envelope para o Walter Salles na livraria do hoje Estação Rio. Quatro anos mais tarde, encontrei com ele em um evento e ele me disse que tinha recebido e se alegrado com a lembrança.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

O cinéfilo sente alegria com a simples visão de um cinema de rua. O dia do cinéfilo se torna imediatamente feliz se ele sabe que vai ter tempo para ir ao cinema ver um bom filme. Não consigo imaginar minha vida sem assistir filmes em um cinema. Por melhor que sejam as Netflix da vida, não vejo o momento de voltar a comprar o jornal na sexta e começar a sublinhar os filmes que quero ver durante a semana. No cinema!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Aqui no Rio temos a grande sorte de possuir uns poucos cinemas que se dedicam a um público mais exigente. A maioria dos cinemas quer vender entradas, pipoca e refrigerante com filmes fabricados em Hollywood para este objetivo.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Se ocorrer, espero que eu não esteja mais viva. Seria uma tristeza difícil de digerir.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Carrington com a Emma Thompson. Baseado na história da pintora Dora Carrington que tinha uma paixão platônica por seu companheiro de uma vida, o escritor gay Lytton Strachey. O filme tem um elenco incrível com o belíssimo Jeremy Northam e o talentosíssimo Jonathan Pryce, um dos meus atores favoritos. Além da Emma, óbvio.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se as salas não se encherem muito e o ar condicionado for muito bem controlado, creio que sim. Caso contrário, teremos em breve ainda menos cinemas de rua do que temos atualmente. E sinceramente nunca tive vontade de assistir a filmes dentro de um carro. Fico logo em casa se esta for a única possibilidade. Cinema ao ar livre pode ser uma boa opção por enquanto.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Confesso que me sinto sem autoridade para julgar. Não tenho sentido vontade de ver a nossa realidade, que já anda muito triste, nas telas de um cinema. Tenho evitado cinema brasileiro.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gostava muito dos documentários do Eduardo Coutinho que perdemos tragicamente.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Como diria talvez Woody Allen, algo que faz a vida realmente valer a pena.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Perdi o controle uma vez em um cinema na Alemanha, pois tinha esperado anos para ver O Inocente do Visconti na telona e dois sujeitos começaram a conversar do meu lado, levantei indignada, expressando um desespero tão grande que eles ficaram me olhando impressionados. Adorei dançar junto com os faxineiros do Cinema Leblon ao som dos Rolling Stones no filme do Scorsese. Recordações nada bonitas são as que tenho dos anos 70 quando eu era uma jovem que ia cinema sozinha assistir filmes como O Franco Atirador e sempre tinha algum sujeito inconveniente na sala que gostava de assediar mulheres sozinhas. Sofri muito com isto, pois na época não se falava sobre o assunto.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Não vi. Nem sei direito do que se trata rsrs.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Certamente. Os grandes escritores são todos grandes leitores e acho difícil alguém fazer um bom filme sem ter assistido a dezenas de excelentes filmes antes.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #25 - Alessandro Giannini

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Jornalista, muito querido, já trabalhou em diversos veículos de renome no cenário nacional, um crítico de cinema com uma análise sempre inteligente sobre as obras. Nosso convidado de hoje é o grande Alessandro Giannini. Já foi repórter na revista Set, editor de Cinema do UOL e colaborou durante um tempo com a equipe do jornal Metro, além de sua passagem pelo Jornal O Globo, entre outros. Eu mesmo sempre que via o nome do Giannini no texto eu prestava até mais atenção pois sempre era uma grande aula principalmente porque você percebe logo de cara que é um grande cinéfilo, sempre com ótimas referências.

Curiosidade de quem vos escreve: Eu uma vez, uns dez anos atrás na frente do Estação Botafogo, durante aquelas maravilhosas maratonas do Festival do RJ, na rua Voluntários da Pátria, perto de uma barraquinha de pipoca que sempre está por lá, eu vi o Alê lendo o programa do Festival. Ia falar com ele mas fiquei com vergonha, rs. 

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Difícil responder a esta pergunta cravando um só lugar, porque temos, em São Paulo, pelo menos três cinemas com programações que desviam do cardápio mais comercial - alguns deles fogem disso como o diabo da cruz. Pela ordem: Reserva Cultural, Espaço Itaú e Cinesesc.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O primeiro que assisti no cinema foi uma versão da Disney de Robinson Crusoé ou da famigerada família Robinson. Mas não tenho uma memória viva desse momento. No entanto, lembro de assistir a Rastros de Ódio, do John Ford, na TV, com o meu pai e chorar feito uma criança - que eu, de fato, era - quando o John Wayne finalmente encontra Natalie Wood.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Outra pergunta difícil e que se move de acordo com o momento. Eu acho o Martin Scorsese um gênio, e isso está meio que comprovado pelo corpo de obra e por filmes como Touro Indomável ou Os bons companheiros ou Cassino. Além de tudo, o cara é cinéfilo e fez dois docs que são aulas sobre cinema americano e italiano. Mas poderia citar, também, Roberto Rossellini (Roma, Cidade Aberta) e Fellini (Amarcord).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Assalto ao Trem Pagador, do Roberto Farias. Baseado numa história real, o filme retrata o famoso assalto ao trem da Central do Brasil. Acho que é um filme que fala e mostra como funciona o preconceito social e o racismo no Brasil.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

 

É uma paixão que não tem muitos limites e nem preferências. Acho que um cinéfilo de verdade não rejeita os filmes da Marvel e só consome filmes de arte. Ele encara tudo. E pode gostar mais de um tipo de filme ou de outro, mas está sempre aberto à descobrir algo novo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não a maior parte. Os grandes complexos certamente têm profissionais competentes, mas tratam os produtos com um olhar mais comercial do que cinéfilo. Agora, as salas que mencionei acima são dirigidas por gente com um olhar um pouco mais aguçado, sem deixar de enxergar o que podem lucrar com os filmes.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho impossível, porque é um lugar de entretenimento e também de reflexão. Assim como os teatros não acabaram e as bibliotecas também não fecharam. O que pode acontecer é uma transformação, mas não saberia dizer como.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Honeyland. Foi candidato ao Oscar de filme internacional e documentário longa. Um prodígio de narração e um retrato emocionante de uma personagem muito sofrida e com um gosto enorme pela vida. Infelizmente, foi comprado pouco antes de a pandemia chegar até nós. Quem tiver oportunidade, por favor, assista. É uma beleza.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, apesar de achar que muitos desses negócios vão sofrer mesmo que abram com as medidas de distanciamento.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Até a entrada do atual governo, estávamos em um ciclo virtuoso. As estatísticas compiladas pela Ancine mostravam isso. Uma indústria que empregava 300 mil pessoas e havia ultrapassado outros segmentos tradicionais. É muito triste, porque tínhamos muitos bons filmes sendo feitos, uma geração nova se revelando. O que temos hoje são espasmos. Você vê um Pacarrete aqui, um Partida acolá... Mas aquela explosão de novidades, acho que vai demorar um pouco para acontecer de novo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Beto Brant é um cara que sempre faz coisas interessantes e que me instigam. O Invasor dele está entre os meus dez melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Jorge Furtado, que não tem filmado muito, é outro. Fernando Meirelles também.

 

12) Defina cinema com uma frase:

É um lugar de paz e de encontro comigo mesmo. (Um clichê, claro, mas verdadeiro)

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Fui a muitas "cabines", as famosas sessões para jornalistas, ao longo da carreira. Mas nenhuma foi tão divertida quanto a de Cidade dos Sonhos (2001), do David Lynch, que tem aquela estrutura dividida - são praticamente dois filmes em um. E um crítico muito respeitado, que estava bem velhinho e tinha um problema de incontinência, saiu da sala para ir ao banheiro pouco antes da virada. Quando ele voltou, ficou ali parado por uns minutos, até perguntar para alguém que filme estavam projetando. Ele mesmo, que já não está mais entre nós, deu risada da situação.

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