17/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #0 - Raphael Camacho

Muito pediram, então seguem minhas respostas sobre esse especial cinéfilo que inventei.

Raphael Camacho, das exatas para o mundo das artes. Cinéfilo. Gosta de ver filmes e falar sobre eles. Odeia mesmice e pensa que o mundo precisa encontrar soluções criativas quando falamos sobre cultura. Ganhador de prêmios, gente boa, coração enorme. Um filme bom muda um dia, uma vida. Não gosta de muitos filmes do Nicolas Cage talvez por decepção na fase dos últimos dez anos dele, já que quando era pequeno ele era seu ídolo. Certo dia estava na melhor faculdade de informática do país, de terno, onde tinha bolsa, após um dia estressante, entrou em uma turma de Desenvolvimento Local e Social e após algumas horas já estava sem o terno e uma mudança radical em sua vida aconteceu. Virou programador de um lendário cinema na zona sul carioca e transformou junto com a equipe que trabalhava lá esse cinema em algo que marcou uma geração de cinéfilos. Sempre com muito amor, bom humor e intensidade de querer sempre ser e fazer o melhor. Se aposentou aos 33 anos dessa vida cinematográfica, o telefone toca várias vezes com oportunidades nesse mercado mas nenhum projeto o seduz para um eventual retorno. Quem sabe um dia volta, mas tem que ser o projeto que brilhe seus olhos. Mantém seu blog ativo sempre que possível, blog que criou na noite que saiu daquela sala de faculdade mais de uma década atrás.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Falemos do RJ. A cada ano muda um pouco na minha opinião. Como conheço os programadores, fica muito difícil escolher a melhor programação. Mas na época que eu era o programador do Cine Joia, sem modéstias, não tenho dúvidas de que o Cine Joia era a melhor programação da cidade do Rio de Janeiro e uma das melhores da América Latina não só porque o programador era cinéfilo, intenso, corajoso, justo, carinhoso e competente mas também porque a equipe do Cine Joia tinha cada um a seu modo um importante papel como um todo. Mas hoje, acho que a melhor programação do RJ é do Espaço Itaú de Cinemas na praia de botafogo, o programador é cinéfilo, você percebe. Pode ser uma impressão, mas tem um outro famoso cinema badalado que também gosto pois o frequento a muitos anos mas percebo de alguma forma que quem o programa não vê muitos filmes o que me deixa com um pé atrás. Nesse meio quando você trabalha em cinema que tem renome, tudo fica mais fácil por conta da oferta de filmes que chegam semanalmente querendo ser exibido. O bom programador tem que ser criativo sempre e não cair na mesmice.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sempre gostei cinema, demais. Comecei pelos filmes antigos, lembro por exemplo de assistir várias vezes Ben-Hur em vhs com meu avô Heráclito na cada dele em Vila Isabel. Lembro que usava cinema como terapia, pois meu pai e minha mãe brigavam a todo instante durante minha infância e adolescência e eu para me defender daquela loucura diária, protegia a mim e a minha irmã colocando filmes para nós assistirmos em um vídeo cassete antigo que precisava usar uma chave de fenda para fazê-lo funcionar. Mas o estalo mesmo só se deu em uma sessão de dois reais, na primeira sessão do dia, em um cinema que tinha no Rio Designer Barra num filme sul-coreano chamado Oldboy. Tudo mudou após aquelas duas horas e pouca de projeção. Agradeço minhas primas por terem ido comigo.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Alexandr Sokurov. Eu não sei explicar mas sempre tive muita curiosidade sobre a história russa. E como amo cinema, em uma pesquisa, anos atrás sobre cineastas russos cheguei a filmografia desse genial artista do audiovisual mundial. Meu filme preferido dele é: A Arca Russa.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Poderia falar os mais badalados mas vou pela vertente do coração. Não por Acaso. Esse filme mexe comigo de uma forma que eu não sei explicar. A cena do desfecho do semáforo é uma das coisas mais lindas e emocionantes que já vi numa produção nacional.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Não é ver grande quantidade de filmes. É enxergar além do básico que assistimos quando vemos um filme e obviamente gostar de tagarelar sobre a obra vista. Todo cinema deveria ter em sua última sessão (no mínimo) a sessão seguida de debate. Fundamental, ainda mais em tempos como esses que enfrentamos burrices ligados à políticas a todo instante.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. A maioria não entende nada de cinema. O absurdo não é entender cinema, é não ver filmes. E tem muito programador que não assiste filme. Raras vezes em mais de 1500 dias programando um cinema no RJ eu marquei um filme sem assistir. Você precisa oferecer ao seu público o melhor. Sempre. Aí vem os chatos: ‘O que é melhor?’... blá blá blá. Cada um pensa como quiser, livre arbítrio, mas pra mim é inadmissível um programador do mercado exibidor não assistir a filmes.  Um técnico de futebol não vê jogos de futebol?

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca. Serão reduzidas mas nunca deixarão de existir.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

The Beautiful Country de Hans Petter Moland. Eu estava assistindo um dia ao programa do Ronnie Von, por acaso. Lá um crítico de cinema que eu adorava falava sobre os filmes: Christian Petermann. Ele indicou esse. Vi e amei. Sempre recomendo, pois, raramente é comentado nas rodinhas cinéfilas.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não. Absurdo abrir qualquer lugar fechado em um país como o nosso, onde o governo não conseguiu controlar como deveria o avanço da pandemia.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A cada ano melhora. Adoro assistir aos avanços do cinema nordestino por exemplo, esbanjando qualidade em tela. Temos muito material humano para produzir coisas ricas, lindas e criativas. Precisamos sempre é de mais incentivo e o cinema brasileiro ser reconhecido como importante/fundamental para uma sociedade democrática. E digo mais: há preconceito do público com filmes nacionais. Precisamos mudar isso. Os próprios exibidores, na sua maioria, não ajudam. Há pouca divulgação de filmes marcados mas não badalados. Eu sempre digo: o exibidor precisa ajudar o distribuidor!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Claudio Assis.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Não existe caminho para o cinema. O cinema é o caminho.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Programei um filme francês no cinema que eu trabalhava, que o crítico de um jornal muito famoso no RJ deu uma nota bem ruim pra ele. A crítica quando é ruim para filmes ditos ‘cults’ ou em cinemas que passam filmes sem ser blockbusters acaba influenciando um pouco a trajetória do filme no circuito. Eu assisti ao filme e pensei exatamente ao contrário do texto da crítica do jornalista, respeito sempre os argumentos dos amigos jornalistas mas vou sempre pelo que eu penso. Pronto, programei (a crítica sai na 5ª e a programação é feita entre 2ª e 3ª, então o programador programa sem saber sobre críticas). Um sucesso estrondoso. As pessoas saiam leves, rindo muito. Numa das sessões, que estavam lotadas durante toda a semana de estreia, no meio do filme um cheiro ruim começa a tomar conta da sala. Uma pessoa tinha literalmente se cagado de rir. Foi uma loucura.  

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Inusitadamente um clássico do cinema brasileiro.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho. E acho bizarro cineastas não assistirem filmes. Tem muitos. No Brasil então... Tem uma galera que surfa muito na onda dos outros dentro do audiovisual brasileiro. Só estando dentro desse mercado para sentir isso. Em eventos você percebe rapidamente, principalmente quando alguns fogem de determinados papos sobre filmes. Mas prefiro falar dos que são cinéfilos, ou pelo menos amam cinema, conheço alguns que admiro muito. Sempre bom papear com esses.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

O Imperador (Outcast), com Nicolas Cage e Hayden Christensen no elenco. Eu nunca levantei em um filme, vejo sempre até o final mas esse foi o que mais chegou perto de eu resolver querer ir embora do cinema. Outro filme terrível é A Reconquista com o John Travolta de protagonista, que coisa bizarra esse filme. O engraçado que Cage e Travolta fizeram juntos o ótimo Faceoff (A Outra Face). São coisas do cinema!

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #39 - Octavio Caruso

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é um grande cinéfilo carioca que tem como um de seus ídolos Elvis Presley. Dono de um texto sobre cinema cheio de argumentações e inteligentes colocações, Octavio Caruso é escritor, crítico de cinema, ator, roteirista e cineasta independente. Sempre com grandes comentários em suas postagens pelas redes sociais, é polêmico esse tijucano mas sempre em busca da defesa da sétima arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Sem dúvida, o Cine Joia, a minha "casa" enquanto cineasta independente, local que acolheu meu sonho desde o início. Já virou tradição anual exibir meus curtas lá.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O filme que me despertou a paixão foi Ben-Hur (1959), visto em VHS na infância, mas não foi o primeiro que vi. Eu creio que o primeiro tenha sido Branca de Neve e os Sete Anões, na sala de cinema, com minha mãe. Todo o ritual me encantou, a sala escura, a tela gigantesca (aos olhos da criança), foi mágico.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Woody Allen é o meu diretor favorito por sua produtividade invejável, ele sempre tem algo relevante a dizer. Gosto muito dele como escritor também, um gênio. O meu filme favorito dele é Hannah e suas Irmãs, seguido de perto por A Última Noite de Boris Grushenko.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte. Eu gosto tanto, que meu primeiro texto como profissional da crítica, em 2008, foi sobre a inveja dos colegas cinemanovistas com a consagração de Anselmo em Cannes. É um roteiro focado, com simbologia, mas emocionalmente eficiente, uma obra que prova que o maior refinamento é a simplicidade.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É apreciar a arte como algo atemporal, valorizar a memória cultural, entender que a REVISÃO é fundamental. Quem vê o filme apenas uma vez enxerga o cinema como um passatempo pueril, facilmente substituível por uma partida de gamão. O amor urge pelo reencontro. Enxergar a beleza única de cada gênero cinematográfico, sem preconceito, sem ser raso e imediatista. O cinéfilo entende o filme como oxigênio, algo existencialmente precioso. Fonte de estudo e prazer.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

É raro, o Cine Joia trabalha assim, curadoria é importante, mas na maior parte atendem somente o público mainstream, qualquer animal adestrado poderia fazer o mesmo trabalho.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Sem ritual, a arte perde relevância, creio que o cinema sempre irá se reinventar, sem perder o essencial.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Toda semana descubro pérolas obscuras, vou citar uma que vi recentemente, Tatuagem, com o Bruce Dern e a Maud Adams.

 

9) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Durante décadas, qualquer projeto que não atendesse a cartilha progressista não era sequer considerado, eu vivi isso na pele quando tentei produzir uma websérie anos atrás com o Carlos Miranda, o eterno "Vigilante Rodoviário". O esquema refletia nos temas abordados e na qualidade dos trabalhos, uma indústria encabrestada não evolui. Há guerreiros na seara independente, mas vai demorar muito tempo para que consigamos reverter décadas de aparelhamento estatal.

 

10) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente, difícil. Vejo todos, mas não me sinto emocionalmente atraído (no sentido da pergunta). A minha paixão é rever os grandes do passado, Humberto Mauro, José Mojica, os filmes da Cinédia, Vera Cruz, Atlântida. Troco qualquer produção nacional atual por uma comédia com o Mazzaropi.

 

11) Defina cinema com uma frase:

Cinema é vida.

 

12) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Eu vivi algumas curiosas como crítico, em exibições para imprensa, como por exemplo, um colega veterano dormindo a sessão inteira de um filme do Cláudio Assis, mas dando nota máxima em seu texto (rs), tudo para agradar a "companheirada".

 

13) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

 

O resultado fraco do trabalho de uma equipe criativa que tentou, como todas, o seu melhor.

 

14) Você é um grande fã do Elvis Presley. Quais filmes você indicaria dele?

Sim, fui curador em uma mostra de filmes dele no Cine Joia, cantei seu repertório antes de cada sessão. Eu indico Balada Sangrenta, O Prisioneiro do Rock, Louco por Garotas, Viva Las Vegas, Estrela de Fogo e Viva um Pouquinho, Ame um Pouquinho.

 

15) Além de ser crítico de cinema você é ator, diretor, roteirista. O cinema é a sua vida? Você sempre recebeu o apoio de amigos e familiares para seguir nessa carreira do audiovisual?

Sim, eu produzi de forma independente 6 curtas até o momento, selecionados em festivais de Portugal (Figueira Film Art e FESTin). Eu respiro filmes e livros desde pequeno, o título do meu primeiro livro, lançado em 2013, é Devo Tudo ao Cinema, nem preciso dizer que o cinema é minha vida. Não recebi apoio, porque durante muito tempo neste país, trabalhar com arte (sem berço de ouro, sem grana) era equivalente à querer ser astronauta. Não há artistas na minha família, então não foi fácil para meus pais entenderem minha opção profissional. Hoje, mudou bastante, a internet possibilita uma democratização nesta área.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #38 - Jorge Caetano

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Ator, produtor executivo, roteirista e cinéfilo. Há mais de 30 décadas vivendo do mundo artístico que ama, principalmente os palcos do teatro de todo o Brasil, Jorge Caetano desde os tempos em que viu Fantasia no cinema, nunca mais abandonou a paixão pelo cinema que ficou mais forte ainda nos últimos anos quando escreveu e produziu Reviver e Fado Tropical (esse rodado em Portugal e lançado no Festin em 2019) ao lado do amigo Cavi Borges, além de interpretar um dos protagonistas em ambas as produções. Para falar um pouquinho sobre essa arte que tanto amamos, conversamos com esse brilhante artista que tive a honra de conferir de pertinho na excelente peça Edypop.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Qualquer sala do grupo Estação, principalmente a de Botafogo. Frequento a rede há mais de 30 anos e há sempre algum título que me interessa. O bom gosto da programação, somado as memórias afetivas que carrego de noites incríveis no Estação nos anos 80, torna a sala especial para mim.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tive a sorte de ver FANTASIA (1940) no cinema quando eu tinha uns 8 anos. Foi uma experiência impactante, me iniciei logo com o filme mais experimental de Walt Disney, onde não há uma estória linear, e sim, 8 músicas clássicas que serviram de inspiração para os animadores. Saí de lá com a sensação de que para a animação não havia limites para a criatividade, e que,  junto com a música, poderia nos levar a lugares inimagináveis. E foi nessa época, nos anos 70, quando o filme foi relançado, no auge das experiências lisérgicas, que ele fez sucesso. Até um pôster psicodélico - que tenho em meu escritório-,  foi especialmente criado para esse relançamento.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Adoro muitos diretores: Woody Allen, Kubrick, Almodóvar, Tarantino... Mas Allan Parker, recentemente falecido, marcou minha juventude com o musical Pink Floyd – The Wall (1979). Um marco pra mim, pela experiência estética radical e pela forma original do roteiro. O longa, além de trazer a estória do artista em crise, trazia o rock do Pink Floyd, a critica as instituições, animações fantásticas, poucos diálogos e um roteiro todo fragmentado, porém coeso.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

 

Bye Bye Brasil de Cacá Diegues. O roteiro, brilhante, com os três artistas ambulantes  atravessando o Brasil, apesar do ar lúdico, traz uma importante reflexão sobre a transformação social que ocorria no país, sua “americanização” e o avanço da TV.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Acho que existem vários tipos de cinéfilos, mas o mais emblemático é aquele que procura saber tudo sobre seu filme preferido ou seu diretor favorito. Lê biografias e acompanha os festivais e novos lançamentos. Geralmente é um colecionador de filmes, e tem muito orgulho de mostrar a coleção de “títulos raros” ou inéditos no Brasil. Resumindo: é ter paixão pela sétima arte.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não, com certeza não.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que nunca. Apesar de todas as crises, o cinema e o teatro nunca deixarão de existir. Nada se compara a experiência de se ver um filme numa tela grande, em silêncio, junto ao público. É sempre uma outra emoção. E sempre haverá o espectador que não quer perder o hábito, e o jovem, sempre em busca de novas experiências e sensações.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Miradouro da Lua, de Jorge Antônio (1993), a primeira coprodução entre Portugal e Angola. O protagonista é um estudante de teatro, que recebe um convite de seu pai, que não conhece, para encontrar com ele em Angola. Ganhador do Prémio Um Certo Olhar no Festival de Gramado.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É bem delicado arriscar qualquer opinião nesse momento. Os cientistas ainda estão tentando entender o vírus e suas consequências.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que o cinema brasileiro tem se aprimorado bastante. Apesar da tendência de produzir filmes de fácil degustação, com estética similar à da TV, o Brasil tem lançado filmes importantes, com grande repercussão internacional.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Domingos de Oliveira.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Sonhar de olhos abertos.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vivenciei uma situação bem inusitada, durante uma sessão lotada de um filme estrangeiro no Festival do Rio, no Cine Odeon. As legendas falharam e durante um bom tempo o filme continuou apenas com o áudio em inglês. Uma senhora se levantou e repentinamente começou a gritar, exigindo as legendas em português, porque ela não era obrigada a saber inglês. Ela fez tamanha confusão, que os espectadores chamaram o segurança, que foi obrigado a retirar essa senhora da sala à força.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras..

Já ouvi falar, mas nunca assisti. Tenho curiosidade...rs

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Mas para isso o diretor tem que ser um daqueles artistas geniais e sensíveis ao ponto de produzir uma bela obra sem ter nenhuma experiência no assunto. É óbvio que ter uma cultura cinematográfica razoável é uma grande vantagem para um candidato a cineasta. Mas acredito que um verdadeiro artista, quando imbuído de força e vontade de criar, é capaz de realizar algo interessante.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #37 - Cristiano Requião

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é cineasta e cinéfilo! Cristiano Requião, profissional de cinema há mais de 40 anos, trabalhou em onze longas-metragens como assistente de direção e diretor de fotografia, além de realizar centenas de filmes institucionais. Durante dez anos trabalhou em um Centro Universitário nos cursos de Comunicação e Propaganda e Publicidade. Retornou ao cinema comercial em 2009 e até hoje dirigiu, roteirizou e fotografou sete curtas e os longas-metragens Outro Olhar e Morrer de Amor.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Cine Joia e os cinemas do Estação em Botafogo, os dois. Saem do esquemão de filmes meramente comerciais, exibindo uma variedade maior de gêneros e estilos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Fazem muitos anos... Mas eu lembro de um filme francês que marcou a minha adolescência. Chama-se Os Aventureiros, do Robert Enrico com Alain Delon e Lino Ventura. Neste filme eu decidi que queria trabalhar em cinema. Não pela narrativa, mas sim pela capacidade de um filme de gerar emoções.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Jacques Audiard e o Sur mes Lèvres de 2001 com uma atriz que eu considero uma das maiores, a Emmanuelle Devos.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

O Bandido da Luz Vermelha do Sganzerla. Um filme feito na garra e com uma história incrível explorando, na época diversas linguagens.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

É quem ama e estuda cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

 

Não posso dizer. Vejo acertos fantásticos e equívocos terríveis. Dos cinemas menores com seus donos próximos o resultado tem sido melhor.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Temo que isso ocorra, mas acredito que não. Tem filmes que são feitos e devem ser assistidos nos cinemas. Tomara que sobrem os cinemas independentes, principalmente.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O Roubo da Taça do Caito Ortiz. Para que as pessoas cinéfilas e não cinéfilas possam ter certeza que filmes comerciais podem ter um recheio com conteúdo, sejam divertidos e questionadores.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Fosse eu um biólogo ou infectologista poderia responder.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Qualidade é um termo equivocado, a meu ver. Pode significar algo bem acabado e vazio. O cinema brasileiro têm excelentes filmes num determinado formato de produção que lamentavelmente não chega a todos os realizadores.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

Com algumas decepções, Julio Andrade.

 

12) Defina cinema com uma frase:

 

Uma ferramenta política com dois gumes.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Estreia do Pedro Mico no antigo Ricamar em Copa. Não havia público, convidados, só alguns apareceram. Para que a sessão não ficasse vazia, nós da equipe fomos a rua pedir para que as pessoas entrassem de graça. Não me lembro sequer da presença da imprensa. Público voluntário na plateia de baixo e no girau equipe e atores. Bastaram aparecer as cenas mais eróticas entre o Pelé e a Tereza Raquel para rolar uma vaia acompanhada de observações a respeito da performance em cena. Depois disso a maior parte das pessoas foi embora.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma tentativa pretensiosa de fazer cinema apostando na fama de uma atriz. Um filme risível.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acho que ajuda muito. O que colocamos na tela é um MMC do que vimos e vivenciamos. A gramática cinematográfica é a ferramenta. Quanto mais filmes, desde que selecionados, mais afiada fica a nossa léxica.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não saberia responder, porque não conseguiria também apontar o melhor.
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16/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #36 - Paulo Fontenelle

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Produtor, roteirista e diretor. Paulo Fontenelle tem uma vasta carreira no audiovisual brasileiro. Grande cinéfilo, já dirigiu documentário, filme de suspense, comédia, além de seriados, um inclusive rodado dentro de um cinema. Sempre tranquilo e bom de papo, o nosso convidado de hoje tem muita coisa boa para nos contar. Uma grande honra ter o Paulo aqui nesse nosso especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação?

Detalhe o porquê da escolha. Artplex. Porque tem uma programação variada, tantos com filmes de arte quanto com filmes comerciais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

 E.T. - O extraterrestre.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Difícil nomear um diretor favorito, pois eu sou um cara que gosto dos mais variados gêneros. Vou desde Terrence Malick até Spielberg. Kubrick, Bunel, Coppola, George Lucas, Tornatore, Hitchcock, Capra, Chaplin, Kusturica, Sabu, Wong Kar Wai, Park Chan-Wook, John Hughes, Bergman, Blake Edwards. A lista segue imensa, não tenho como nomear um diretor só.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê? 

Sou péssimo nessa questão de filmes favoritos. Não tenho aquele filme que me marcou acima de todos os outros. Penso em vários, temos vários filmes brasileiros geniais.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo sempre foi gostar de ver muitos filmes, dos mais variados gêneros e formatos, mas hoje também adoro séries. Então acho que o termo tomou um significado maior, em relação ao audiovisual como um todo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

De cinema em si, não. Mas com certeza por pessoas que entendem do business cinema e do que tem mais chance de retorno de bilheteria. Entendo que o foco das salas de cinema é (e precisa ser) esse, o de vender ingresso, mas as vezes sinto falta de um risco maior, principalmente por filmes brasileiros.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não. Cinema é um ritual. É algo que você faz com seus filhos no final de semana. Cinema não é só ver filmes, é sair de casa, comprar o ingresso, a pipoca, o lanche. Meus filhos farão com os deles e assim por diante. É eterno.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Tem um milhão de filmes desconhecidos que nem entram em listas cults. Mas o que me vem a cabeça imediatamente e que acho que quase ninguém viu é o Postman Blues do Sabu.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que sim. Com higienização e distanciamento entre os espectadores, mas acho difícil as pessoas irem ao cinema antes da vacina.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Acho que está melhorando, mas ainda temos muito a crescer. O problema do cinema brasileiro é cultural, de formação mesmo. O grande problema é que as referências de nossos profissionais são novelas e teatro, porque isso foi o mais forte no Brasil por muitos anos. Agora está mudando, mas as séries estão ganhando mais força do que os longas. Eu fui professor em uma universidade de cinema e senti na pele o complicado dessa formação. Além do que, temos poucas oportunidades para os jovens que estão começando. Mas acho que de uns anos pra cá temos melhorado muito em qualidade técnica e produzido muita coisa legal.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Engraçado que eu não tenho essa cultura da idolatria. E então não tem ninguém que eu não perca um filme. Mas tem sempre os que chamam mais sua atenção.

 

12) Defina cinema com uma frase: 

A melhor terapia de todas.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Engraçado. Estou aqui tentando lembrar de uma história, mas tá difícil. Quando vou ao cinema não me ligo muito no universo a minha volta. Desligo mesmo. O que é ótimo. Claro que já vi bebês chorando, pessoas que não calam a boca, brigas por causa de celular e porque pessoas insistem em chutar nossas cadeiras, mas nada muito fora do comum. Um amigo me contou sobre dois caras que chegaram as vias de fato por causa disso e as namoradas, ao invés de apartar, acabaram brigando também, mas eu não estava nessa sessão. Uma história triste e desesperadora (Rs) foi quando eu fui ver Vingadores: Guerra infinita. Eu fui sozinho e fiz questão de ir numa segunda de tarde, pra pegar o cinema vazio. Na bombonière tinha uma promoção de coca-cola 500ml, como o filme era longo, acabei comprando. O problema foi que coca-cola associada ao ar condicionado super frio (por conta do cinema vazio) é o maior diurético do mundo. A vontade insuportável de fazer xixi demorou, mas surgiu assim que o Thanos chegou em Wakanda. O problema é que ainda teve uns 20 minutos de filme. Levantei rapidamente depois que ele estalou o dedo, mas lembrei da cena pós créditos e sentei de novo. Acho que foram os maiores créditos de filme da minha vida e talvez um dos xixis mais aliviadores. Kkkkkkkkkk

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Coisas que só o cinema permite que aconteçam.

 

15) Você é cineasta. Qual dica você daria para os jovens que sonham em ser diretor de cinema? O mercado audiovisual no Brasil é muito complicado?

Eu não mentiria. Nosso mercado é muito complicado mesmo. Pra fazer cinema no Brasil você precisa ter muita certeza do que quer. E então se for realmente o que você deseja, o primeiro conselho é ver filmes, ver making ofs, se informar o máximo que você possa sobre técnicas e sobre teoria. E então procure participar de produções, fazer assistências, trabalhar com pessoas legais. E seja sempre humilde. Não, você não sabe mais do que as pessoas que já fazem isso há anos só porque você viu mil filmes e tem um bom gosto cinematográfico. Seja humilde, escute as pessoas, aprenda. Seu maior erro será sempre o seu ego. Ele vai te fechar portas, te afastar de pessoas legais. Meu principal conselho é a humildade.

 

16) Você tá com um filme fraquinho aí pra ser lançado, um documentário sobre a banda Blitz. Nos fale como teve a ideia desse projeto. 

Na verdade o documentário da BLITZ não foi uma ideia minha, foi um convite da produtora Vira Lata, através do produtor Gabriel Correa e Castro. O editor Bruno Miod estava dando aulas de finalcut para o Evandro Mesquita e teve a ideia do filme. Eu estava escrevendo o roteiro do documentário do Palace 2 para a Vira Lata na época, já conhecia o Gabriel há muito tempo e ele conhecia o meu trabalho como documentarista, então rolou o convite. E foi uma experiência incrível, não só fazer o filme em si, mas a parceria com o Gabriel e toda a equipe. Tanto que já temos outros projetos juntos em desenvolvimento. A história da BLITZ é única. A maior parte das pessoas só conhece a banda, as músicas, mas não tem ideia da revolução que ela causou na música brasileira, Não tem noção de que, se não fosse a Blitz, talvez não tivesse acontecido o Rock BR, que veio logo depois e revelou tantas bandas que nós amamos. Fora isso, quando eu faço um documentário me envolvo muito com meus documentados. É natural que criemos uma relação, porque eu acabo entrando na intimidade de suas vidas. Pode me aproximar de pessoas de quem fui fã quando criança foi demais. A Blitz foi a união de vários gênios da música, do teatro, do design e do audiovisual.  São tantos nomes que eu nem tenho como listar aqui sem deixar ninguém de fora.

 

17) Qual o pior filme que você viu na vida?

Já vi muitos filmes ruins, mas o que me marcou ultimamente como uma das piores coisas que já vi (senão a pior) foi o final de uma série chamada Transparent. Eles fizeram um episódio longa-metragem de duas horas de duração para encerrar a série, pois tiveram problema com o elenco. É horroroso. A série mistura, em suas temporadas, drama, comédia, conteúdo forte. Esse longa final é um musical idiota e o pior é que não respeita nada o que vimos do desenvolvimento dos personagens durante 4 ou 5 temporadas. Pra você ter uma ideia, uma mulher, que vimos como um rabina judaica om problemas de relacionamento, mas uma pessoa normal, começa a dançar do nada, vestida de sado masoquista e o pior, ela faz parte de um "clube" para meninas que ficaram menstruadas. É realmente o pior de todos, indescritível.

 

18) Você foi o diretor de um seriado que se passa em um cinema. Você pode falar mais sobre esse projeto e quando lança?

Sim. Coincidentemente acabei de trabalhar em dois produtos audiovisuais que tem relação direta com salas de cinema. A série Cinema Café e um filme de terror. A série conta a história de um casal de amigos que investem num cinema de rua e o transformam num multiplex. Ela é focada em filmes comerciais, que façam bilheteria, pois precisa pagar o investimento e fazer a roda girar. Ele é apaixonado por filmes de arte. A guerra dos sexos é inevitável. Cinema Café é uma comédia com grande elenco. Paloma Duarte, Bruno Ferrari, Aline Riscado, Camilo Bevilaqua, Juliana Silveira, Heitor Martinez, Alexandre Lino, Saulo Rodrigues, Rosane Gofman, entre vários outros. Está praticamente pronta, mas o lançamento depende do canal exibidor. Com a pandemia tudo foi adiado e os prazos estendidos. A série foi toda filmada no cinema Reserva Cultural em Niterói, uma locação maravilhosa que, além de ser uma obra de Oscar Niemeyer, ainda por cima tem uma vista linda da Baia de Guanabara.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #36 - Paulo Fontenelle

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #35 - Diego Alexandre

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é cineasta e mineiro, da cidade de Conselheiro Lafaiete. Atualmente reside no RJ. Colaborador do site Cine Set, recentemente disponibilizou no Youtube o seu primeiro curta-metragem, o documentário Só para Loucos. Já trabalhou com o grande Bigode (Luiz Carlos Lacerda) como assistente de direção no longa-metragem Introdução à Música do Sangue e na série Rua do Sobe e Desce, Número Que Desaparece exibida pelo Canal Brasil. Para contar um pouquinho sobre seus pensamentos cinéfilos, enviamos as nossas pergunta dessa coluna para o querido cinéfilo Diego.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Por morar em Botafogo, frequento bastante as salas do Grupo Estação e o Espaço Itaú de Cinema. A programação de ambos é sensacional, pois consegue mesclar filmes autorais de diversas nacionalidades com o melhor do cinema comercial.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

A primeira vez que pisei numa sala de cinema foi em 1999, para assistir à animação Tarzan, da Disney. Eu tinha 7 anos de idade. Até então, eu só assistia filmes em uma TV de tubo. Imagina o que significa para uma criança ver pela primeira vez uma projeção numa tela gigantesca! Para mim foi um grande acontecimento.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Stanley Kubrick, dentre os estrangeiros. Laranja Mecânica me causou um impacto muito grande quando o assisti pela primeira vez, aos 12 anos. Kubrick era um cineasta obcecado pela perfeição, e isso está impresso em cada fotograma de seus filmes. Dentre os nossos diretores, me identifico muito com o Cacá Diegues. Sou apaixonado pelo seu cinema popular brasileiro e considero Bye Bye Brasil a sua obra-prima.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil, de Walter Salles. Um filme extremamente brasileiro, mas que carrega uma mensagem universal que conquistou o mundo inteiro. Não é à toa que trouxe para o Brasil prêmios importantes como o Urso de Ouro, o BAFTA e o Globo de Ouro, além da primeira (e, até hoje, única) indicação de uma atriz brasileira ao Oscar. Inclusive, ainda é difícil de acreditar que Central do Brasil perdeu o Oscar para um xarope como A Vida é Bela.

5) O que é ser cinéfilo para você?

Para mim, ser cinéfilo é ver o cinema muito além do que um simples entretenimento.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim. O problema é que maior parte desses programadores entendem apenas de cinema comercial. São poucos os que conseguem montar uma programação diversificada que atenda todos os públicos. Isso piorou com as redes multiplex que invadiram os shoppings e transformaram as salas de cinema em lanchonetes que passam filmes. Eu venho do interior de Minas Gerais, e nas poucas cidades do interior que possuem salas de cinema, a situação é ainda pior. A programação é péssima, praticamente todos os filmes são blockbusters e com cópias somente dubladas.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

De jeito nenhum! Apesar da praticidade dos serviços de streaming e home video, importantíssimos na democratização do acesso aos filmes, nada substitui a experiência de assistir a uma projeção numa sala de cinema. O que pode acontecer é a diminuição de salas, como ocorreu nos anos 90 durante o boom das fitas VHS. Mas, se o cinema sobreviveu às videolocadoras, não vai ser a Netflix que vai acabar com ele.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Shortbus (2006), de John Cameron Mitchell. Um filme underground com roteiro aberto, diálogos improvisados e personagens criados a partir de experiências pessoais dos próprios atores.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a Covid-19?

Seria maravilhoso, desde que sejam tomadas todas as medidas de segurança por parte dos cinemas. Melhor ainda seria se o brasileiro respeitasse essas medidas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Como toda cinematografia, temos filmes muito bons e filmes muito ruins. Sempre foi assim. De qualquer forma, como disse o historiador e crítico Paulo Emílio Sales Gomes: "Até o pior filme brasileiro nos diz mais que o melhor filme estrangeiro."

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Sonia Braga. Só o seu nome já é sinônimo de cinema brasileiro, é a nossa musa máxima. E, sempre que temos a oportunidade de tê-la filmando por aqui, é impossível não acompanhar o seu trabalho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é a minha religião.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Foi numa sessão de estreia da animação Viva – A Vida é Uma Festa, da Pixar. Quando o filme terminou e as luzes se acenderam, todos os adultos estavam chorando. Desde os pais ou avós que levaram suas crianças até os marmanjos que foram sozinhos ver o filme, como eu.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Talvez o nosso melhor “pior filme”. A sequência final é antológica!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Mas não consigo entender uma pessoa que queira trabalhar com cinema e não gosta de assistir filmes. Porque todo bom cineasta traz consigo referências das obras que assistiu ao longo da vida. E, quanto mais ele expandir o seu conhecimento, mais bagagem ele terá para realizar um bom trabalho. É importante ter contato com as cinematografias dos mais diversos países, especialmente a nossa. Como levar a sério um diretor que quer fazer filmes no Brasil, mas não conhece nada de cinema brasileiro???

 

 

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15/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #34 - Rogério Machado

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Pense em uma pessoa simpática, gente boa e que adora conversar sobre cinema? Rogério Machado é um amante da sétima arte, cinéfilo de correr aos cinemas toda semana para conferir alguma boa estreia do circuito. Seu site, Papo de Cinemateca (www.papodecinemateca.com.br) tem ótimas matérias, críticas e percebemos rapidamente como é um projeto feito com muito amor e carinho. Para conhecerem melhor esse cinéfilo niteroiense, ele respondeu nossas perguntas para esse especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

No Reserva Cultural Niterói.  Pois a casa prima por um conteúdo diversificado em cinema, e também por ter uma parceria muito querida com meu site, o Papo de Cinemateca.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Avatar, de James Cameron.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

São muitos, mas vou destacar o Baz Luhrmann, e meu filme favorito dele é Moulin Rouge.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Amo Dois Coelhos do Afonso Poyart, justamente por toda inovação de um conceito inédito no nosso cinema. 

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ver filme todo santo dia, e sempre procurar inserir essa programação na vida de quem está sempre com você.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Com certeza não. 

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não creio. Os públicos se renovarão sempre. 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Fim do Século, um longa argentino bem recente, ainda inédito por aqui.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Com todo cuidado e reduzindo a lotação, acho que deveria sim.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Um dos melhores do mundo. Sem medo afirmo isso.  Com mais investimento, seríamos imbatíveis.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernanda Montenegro

 

12) Defina cinema com uma frase:

Vida e sonho.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Foi comigo essa cena.  Tive uma crise repentina de labirintite logo no início da sessão de Rio, Eu te Amo (2014). É uma crise forte, que quando vem, eu chego até a vomitar... fica tudo rodando... Isso mesmo.  Foi desagradável, mas eu vi o filme até o final. Isso sim é ser cinéfilo!  (risos) Graças à Deus, esse episódio não ocorreu novamente, ao menos numa sala de cinema.

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #33 - Celso Sabadin

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Cineasta, escritor, mestre em Comunicações, publicitário, jornalista e foi crítico de cinema diversos veículo badalados. Nosso convidado de hoje é uma verdadeira enciclopédia cinéfila. Maior especialista vivo em Mazzaropi, Celso Sabadin, a quem eu carinhosamente chamo de Mestre Cinéfilo, está sempre pelas redes sociais comentando sobre uma variedade enorme de filmes e sobre o Corinthians. Querido cinéfilo, que eu nunca pude conversar pessoalmente mas tenho certeza que esse dia chegará. Com vocês, meu amigo, Celso Sabadin.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

É o Reserva Cultural, que exibe grandes filmes (em sua maioria, europeus) contemporâneos que quase nunca decepcionam. É o tipo do cinema que nem precisa consultar a programação antes: é só chegar e escolher qualquer filme em exibição nas suas quatro salas. Quase nunca dá errado. Fora o café, o croissant de chocolate, a livraria e um "detalhe" que a maioria dos cinemas não leva em conta: o conforto da sala de espera.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Rapaz, eu vou ao cinema desde tão pequeno que eu não lembro. Mas me lembro de um filme especial que eu vi no finado Cine Rivieira, perto aqui de casa, que me impressionou muito: foi Pinochio, da Disney, Principalmente na cena em que os meninos se transformam em burros. Fiquei semanas apavorado com aquilo, e com certeza eu não teria a mesma sensação se tivesse visto numa tela pequena.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Muitas vezes me perguntam sobre isso, mas para mim é simplesmente impossível determinar um único diretor ou um único filme favorito. Não consigo. É muita gente boa, é muito filme bom, não tenho a capacidade de escolher um só. E se eu citar dez vou ser injusto com outros dez, e assim por diante. Desculpa, mas não sei responder... e isso vale para a próxima pergunta também (Qual seu filme nacional favorito e porquê?)... rsrs..  Aliás, tenho a maior dificuldade de fazer lista dos melhores filmes do ano, do dia, da década, do universo, sei lá. Tenho muita dificuldade com esta questão "competitiva" do cinema. Não consigo quantificar se uma obra de arte é "melhor" que a outra. Todas têm seu valor, cada uma a seu tempo, com seu estilo.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Respondida na pergunta anterior.

5) O que é ser cinéfilo para você?

É se deixar levar com prazer e arte por outros mundos, outros realidades, outras dimensões.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Nããããããõ. A maior parte dos cinemas do mundo tem programação definida por quem entende de pipoca.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca. Já "mataram" o cinema nos anos 1950, quando inventaram a televisão; depois nos anos 1980, quando inventaram o VHS; depois em 1990 quando inventaram o DVD; depois em 2010 quando veio o VOD e agora em 2020 com a pandemia. E ele nunca morreu. Aliás, os primeiros a "matar" o cinema foram os próprios Irmãos Lumiére: em 1900, cinco anos depois deles mesmos terem inventado o cinema, eles decidiram parar de filmar. Alegando que tudo o que era possível filmar já havia sido filmado. E pararam mesmo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Roma às 11 Horas, de Giuseppe de Santis.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não, nunca, jamais. Nada deveria abrir antes da vacina.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

A qualidade eu acho ótima. Chegamos a um nível de diversidade temática e capacidade produtiva muito boa, algo impensável para quem viu o cinema brasileiro "morrer" na Era Collor, no início dos anos 1990. O problema é aquele de sempre: a distribuição. Não adianta a gente fazer quase 200 longas por ano - como de fato estamos fazendo - para essa produção ficar entalada num sistema de distribuição e exibição dominado por políticas criminosas das multinacionais. Junte-se a isso, agora, a falta de políticas públicas deste antigoverno idiota, genocida, infantilizado, estúpido, preconceituoso, incompetente e podre em que estamos vivendo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Atualmente, Kleber Mendonça Filho.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Sonhar acordado.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Estava eu sossegadamente vendo um filme no cinema quando duas pessoas atrás de mim começaram a conversar em tom razoavelmente alto. Virei para trás e mandei o tradicional "psiiiu!". O sujeito atrás de mim reclamou, indignado: "Psiu por que? Não tem ninguém falando na cena agora!". Fiquei abismado com a percepção de um tipo de público que acha que, se não há diálogos em determinada cena, nada de importante está acontecendo de fato naquele momento do filme.  É a "visão telenovelística" de parte do nosso público.      

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

A sublimação de um mito.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #32 - Fernando Vasconcelos

A beleza do cinema é conseguir enxergar além do que os olhos conseguem captar. Falar de cinema é uma grande prova de amor ao sentimento das curiosidades que afligem esse imenso mundão que vivemos. Todo tipo de filme, de qualquer gênero, busca o importante elo em apresentar emoções ao espectador, seja ele quem for. Pensando em entender melhor as razões do porquê o cinema ser uma coisa tão rica para nossa existência como ser humano, esse eterno jovem cinéfilo que vos escreve buscou cinéfilos espalhados pelo Brasil (alguns até pelo mundo) para contar um pouquinho da trajetória cinéfila deles para vocês.

Nosso convidado de hoje é de Recife, e sempre observei ótimas dicas e argumentos sobre cinema nos seus comentários pelo Facebook. Formado em Design Gráfico na UFPE, já fez coberturas de grandes mostras de cinema pelo Brasil, curadorias e júri, eventos, cursos, um grande universo de caminhos ligados ao audiovisual. Uma grande honra ter toda a bagagem cinéfila de Fernando Vasconcelos em nosso especial.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Aqui no Recife temos o histórico Cinema São Luiz, que faz parte da minha descoberta afetiva do cinema quando criança nos anos 70, mas a sala preferida hoje é o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, são duas salas modernas e tecnicamente perfeitas, com excelente curadoria e mostras, assistimos lá desde clássicos do cinema até sucessos de bilheteria como Parasita e Bacurau. Era frequentador assíduo, antes da pandemia.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Desde a infância eu sempre tive a percepção da sala de cinema como algo especial, mais como ir a igreja do que assistir TV em casa. Tenho anotações e assistir TUBARÃO aos 12 anos em 1976 acho que foi a primeira vez que pensei em como o cinema pode criar com efeitos especiais e fazer você acreditar no que está vendo, mesmo sabendo que é uma trucagem.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Billy Wilder. Considero pelo menos 5 filmes dele de excelência máxima, mas pra escolher só um vou de SE MEU APARTAMENTO FALASSE.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

PIXOTE de Hector Babenco. Porque é obra-prima do cinema brasileiro.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Adoro assistir filmes, como entretenimento e cultura, mas não vivo profissionalmente de cinema nem acho que algum filme mudou minha vida ou tenho ansiedade por algum novo filme. Claro que tenho diretores prediletos, cuja obra me marcam como identificação de olhar sobre a vida. O termo cinéfilo como consumidor de filmes por quantidade, bater meta de ver tantos filmes por ano ou ver obra completa de um diretor não me define.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Acredito que só salas fora do circuitão tem programadores bem formados em cinema. O circuito multiplex atende uma demanda de mercado, não precisa entender de cinema, basta ser um bom administrador da área de entretenimento.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acho que sim, as mudanças de forma de consumo de filmes tem sido muito velozes no nosso tempo. Talvez pelos próximos 20 ou 30 anos ainda teremos cinemas e depois só reste alguns espaços especiais, como salas históricas preservadas e multiplexes mais próximos do formato parque de diversões.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Até no Netflix encontramos jóias pouco vistas, como por exemplo o recente italiano LAZZARO FELICE.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Podem reabrir até antes de uma vacina mas eu só entrarei num cinema me sentindo seguro quando as mortes diárias pelo Covid-19 no Brasil estiverem próximas de zero, e está muito longe desse momento ainda.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro está num bom momento, infelizmente com filmes que até premiados não alcançam bom público. Gosto especialmente dos filmes que vem de Minas Gerais: Arábia, Temporada, No Coração do Mundo, muita gente boa fazendo cinema de qualidade. Sou pernambucano e tivemos boa produção nos últimos 20 anos, incluindo o sucesso e repercussão dos três longas de Kleber Mendonça Filho. Mas, bem, eu tenho 56 anos, vivi uma época que o cinema brasileiro era mais popular, sinto saudade disso.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Não perdia nenhum filme de Carlos Reinchenbach, que faleceu em 2012.

 

12) Defina cinema com uma frase:

"Cinema é a maior diversão."

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema

Lembro que numa pré-estreia bem lotada de WATCHMEN tem um momento no filme, em torno das 2h de duração, com Dr. Manhattan e uma música, acho que de David Bowie, entra com o maior clima de final de filme, todo mundo levanta pra ir embora e abrem a porta de saída do lado da tela, uma confusão, os fãs gritando que não terminou, o maior fluxo de gente saindo, gente na dúvida voltando, um mar de gente pra lá e pra cá, e o filme passando na tela, até todo mundo votar e se aquietar foram uns 15 minutos de filme, foi engraçado.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Eu nunca assisti, só conheço o trecho do número musical final, que é bem divertido.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Hoje em dia é natural que cineastas tenham uma bagagem de cinéfila mas cineastas mais antigos não eram cinéfilos e faziam filmaços.

 

 

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