20/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #48 - André Pellenz

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é cineasta, gente boa, inteligente e cinéfilo! Formado na excelente faculdade de cinema da UFF em Niterói, e com pós-graduação em cinema e direção de atores na American Film Institute, em Los Angeles, André Pellenz já foi também diretor de videoclipes e comerciais. Tem no currículo seis filmes como diretor, dois desses foram um gigante sucesso de bilheteria nos últimos tempos: Minha Mãe é uma Peça (2013) e Detetives do Prédio Azul (2016). Em 2020, André está sendo o responsável por uma inovação na maneira de fazer cinema, por conta dos problemas oriundos pela Pandemia da Covid-19, está rodando o longa-metragem Fluxo à distância. Todos os atores em cena são filmados em suas casas através de seus próprios dispositivos, como laptops e smartphones.

Obs: André é um cara que entende muito de cinema e técnicas de filmagens. Nunca o vi pessoalmente mas espero que um dia consigamos tomar um café e falar sobre filmes! Uma honra ter ele aqui em nosso especial.

 

1) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Digby, o maior cão do mundo. Eu era bem pequeno e vi no Rian, cinema enorme que não existe mais.

 

2) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Kubrick, Laranja Mecânica. Mas Antonioni, Ettore Scola e Alan Parker correm quase juntos.

 

3) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

"Eles não usam Black-tie". Porque queria muito que Leon Hirszman estivesse vivo.

 

4) O que é ser cinéfilo para você?

Não é "ver tudo". É conhecer os filmes, os lançamentos, o que já tenha passado, os diretores, e, daí, ver o que interessar.

 

5) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Até onde pude conhecer, a maioria da programação é baseada em interesse do público jovem, "que é quem vai ao cinema" (já ouvi isso zilhões de vezes) e muitas vezes sinto falta de pensarem fora da caixa, mesmo em cinemas ditos "comerciais". O Leblon 2, que não existe mais, programava filmes como Amarelo Manga e lotava - mesmo com um suposto "público careta". Acredito que chega a existir quase um preconceito - "o público da Barra não vê filme autoral", por exemplo. Ah, não? Por quê? Será? Os únicos critérios parecem ser pesquisas de hábitos passados e alcance dos atores em redes sociais. E o instinto de um programador, onde fica?

 

6)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

 

Não acredito. O teatro não acabou, mas não acho nem que essa é uma comparação válida, já que o teatro (atores em cena na sua frente) é insubstituível, enquanto um filme pode ser visto em casa com cada vez mais qualidade. A razão, para mim, está no sentimento humano do pertencimento, de sentir-se integrado, "de estar vendo a mesma coisa junto com outros". Tanto que é diferente ver um filme numa sala de cinema vazia e numa sessão cheia. Além disso, com cada vez menos opções - e razões - para ir à rua, o cinema passa a ser um "bom motivo".

 

 

7) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Crônicamente Inviável, do Sérgio Bianchi. É um filme de tempos atrás, bastante irregular, mas tem uma pegada, um discurso visceral dos atores que reflete bem os dias de hoje e que é único em termos de linguagem.

 

8) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Se os protocolos forem seguidos e se provarem seguros, não vejo porque não abrir.

 

9) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro entrou em colapso por conta dos ataques do governo e a atual gerência da Ancine. Mas estava indo muito bem, com filmes de sucesso de público e em festivais, mesmo com os orçamentos mínimos em que trabalhamos. O que me incomoda, e sempre incomodou, é o (falso, para mim) dilema filme comercial versus filme de arte.

Ou é "filme-cabeça" ou é "filme popular". Não se faz mais um filme que junte as duas coisas, o tal "filme médio". O cinema americano, que também sofre com isso, de certa forma sempre absorve um tiquinho do cinema "autoral" deles - não taaanto, é verdade, mas um pouco, pelo menos.

Aqui não. Aqui já te perguntam se o seu filme é pra "público" ou pra "festival", antes mesmo de filmar.

 

10) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Fernando Meirelles.

 

11) Defina cinema com uma frase:

Uma espécie de templo que, em vez de altar, tem uma tela branca onde as divindades aparecem.

 

 

12) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Gosto de ir em sessões de público, para ver meus filmes com eles. Estava numa sessão lotada de Minha Mãe é uma Peça quando fui ao banheiro durante a parte emotiva do filme, que eu trabalhei tanto no roteiro como na direção como melodrama, para combinar com a comédia. Neste momento entra um sujeito no banheiro, emocionado, chorando. Ao me ver, sem saber que eu era o diretor do filme, começa a reclamar. "Pô, essa porra num é comédia? Tô todo emocionado aqui, filme brasileiro é uma merda mesmo, né?" Eu dei linha, concordei, ele lavou o rosto e voltou correndo pra sala: "deixa eu voltar que eu não quero perder o resto".

 

13) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Digno, pois deu trabalho para muita gente. E, de certa forma, o cinema sempre precisa de um "Tcham" - não poderíamos ficar sem Carla Perez em nossa cinematografia.

 

14) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Ter uma boa cultura cinematográfica é fundamental para um diretor, até para não repetir clichês e evoluir a linguagem de forma sólida. Mas, em tese, pode até ser interessante um filme de alguém que não tenha visto quase nada, um olhar sem referências.

 

15) Você é cineasta. É muito difícil trabalhar com audiovisual no Brasil?

Com certeza. Porque não somos tratados como artistas, e sim como pedintes, e vivemos culpados por fazer uma arte que, de fato, custa caro.

Um país deste tamanho não merece os orçamentos que praticamos e o tratamento que recebemos. Fazer cinema no Brasil é discutir mais política de fomento do que linguagem, roteiro, etc.

De um lado, cineastas com carreiras consolidadas, mesmo em filmes comerciais, têm enorme dificuldade de seguir fazendo longas para cinema. Por outro, os jovens talentos estão vivendo um grande desalento. E é justamente a combinação de diretores mais experientes com sangue novo é que forma as melhores cinematografias.

 

17) Qual o pior filme que viu na vida?

Waterworld. Prefiro rever Cinderela Baiana.

 

 

18) Qual dica você daria para os jovens cinéfilos que futuramente pretendem trabalhar com cinema no Brasil?

É sempre a mesma coisa: "é difícil, não desista". Enfim, não deixem de trabalhar em cinema só porque é difícil conseguir dirigir um filme. Claro, tentem dirigir, se for essa a vontade e a vocação de vocês, mas existem muitas funções fundamentais no cinema, não é só o "diretor". E em todas você estará "fazendo cinema".

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #47 - Rodrigo Molina

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é fotógrafo, diretor e, sobretudo, cinéfilo. Rodrigo Molina é carioca e está sempre com ótimos projetos ligados ao audiovisual. Para conversar um pouco sobre essa arte que tanto amamos, fomos conversar com o Rodrigo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Eu gosto do Cine Joia, pelo critério de escolha de filmes que já nascem cult e pela exibição de clássicos.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

E.T.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Stanley Kubrick - De Olhos bem Fechados

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Cidade de Deus. Eu teria tanta coisa pra falar sobre o filme, que acho que extrapolaria o espaço que me é dedicado.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Sonhar acordado. Sei que pode ser clichê, mas é isso mesmo.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Eu acredito que a maior parte dos cinemas que eu conheço possuem programação feita por pessoas que entendem do negócio do cinema.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Jamais vão acabar. Nenhuma plataforma substitui a magia da sala de cinema. Absolutamente nenhuma. Em que pese o momento difícil vivido com a pandemia, as salas de cinema sobreviverão.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O documentário Dogtown and Z-boys - Onde Tudo Começou, de Stacy Peralta.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Não.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Excelente!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Defino com uma palavra: Magia.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

O final de Seven, os Sete Pecados Capitais. Eu me lembro até hoje a reação das pessoas ao final do filme quando as luzes da sala de cinema no Shopping da Gávea se acenderam. Um climão, um silêncio ensurdecedor. As pessoas se entreolhavam. O ar estava pesado.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Olha, eu não vi... (risos) Mas de cara, eu te digo que adoro o Tchan!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acho indispensável pelo menos um mínimo de cultura cinematográfica pra se fazer um filme. Ter referências e olhos educados é algo imprescindível ao cineasta, a meu ver.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Não me lembro de um assim de imediato. E se lembrasse, talvez não dissesse. Fazer um filme, por si só, é uma aventura que merece respeito.

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #46 - Daniel Queiroz

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é mineiro, de Belo Horizonte e começou a trabalhar com cinema no CEC – Centro de Estudos Cinematográficos, na década de 1990. Daniel Queiroz foi Diretor de Audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, programador do Cine Humberto Mauro, do Cine 104 e Diretor Artístico do Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte. Desde 2012 é programador do Festival Semana de Cinema. Em 2018 passou a atuar na área de distribuição de cinema brasileiro, com a Embaúba Filmes.

Obs: Dani é um dos caras mais inteligentes com quem já conversei sobre cinema. Nos falamos durante uma reunião de programação e salas de artes em Fortaleza anos atrás. Ótimo papo: aprendi muito com esse grande amigo cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Cine Humberto Mauro, sala que desde 1978 ajudou a formar várias gerações de cinéfilos em Belo Horizonte, guardando coerência em sua programação, que abarca do cinema clássico ao moderno. A sala sempre praticou um preço popular e há vários anos adotou a gratuidade em todas as suas exibições. Recebe as principais mostras e festivais de cinema da cidade e é o única sala em Belo Horizonte que conta com equipamentos adequados para exibir filmes em 16mm e 35mm. Além de tudo, ainda fica no centro, num equipamento público de cultura, o Palácio das Artes, bem ao lado do Parque Municipal.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sempre tive uma predileção por ver filmes em cinema, entendendo que há algo de sagrado nisto, uma certa liturgia envolvida. Um filme que me marcou pela grandiosidade da imagem, numa boa sala, foi o De Olhos Bem Fechados, do Kubrick, minha despedida do Cine Palladium, um dos últimos grandes cinemas de Belo Horizonte (com 2 mil lugares) a ser fechado, pouco tempo depois. Sempre gostei de sentar um pouco mais à frente nos cinemas, de modo que a tela ocupe quase todo o meu campo visual. No Palladium isto não era difícil, pois tinha uma das maiores telas de BH e este filme ainda era no formato Scope. Para ver toda a tela, eu precisava mover o pescoço. Foi uma sessão incrível, lembrando o tanto que esta experiência é irreprodutível em outros espaços.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Jonas Mekas - Lost, Lost, Lost

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Sem Título #1 - Dance of Leitfossil, de Carlos Adriano. Porque encarna toda a beleza do cinema e da vida. Som e imagem exalam poesia e a inserção de uns poucos frames transformam e ressignificam o filme de uma forma absurda. É uma obra de rigor e êxtase absolutos, que mexe muito comigo a cada revisão.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Uma dedicação permanente a descoberta de outros mundos e vidas por meio da sala de cinema. Embora eu reconheça a cinefilia de sofá, ainda curto a ideia de uma cinefilia tradicional, que passe pela frequentação incessante às salas de cinema.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Há que se fazer uma divisão entre o circuito comercial e o circuito “de arte”. Neste último, as programações costumam ser feitas por pessoas que entendem de cinema, em maior ou menor grau. No primeiro os filmes não importam muito, apenas os números e cifrões.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

De maneira alguma, não consigo vislumbrar esta possibilidade. As salas devem diminuir de quantidade, a ida ao cinema pode se tornar mais episódica, menos frequente, mas quero crer que os cinemas existirão para sempre, bem como os museus e outros equipamentos culturais.

 

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Los Angeles Plays Itself, do Thom Andersen, um excelente cineasta pouco visto no Brasil, que teve rara oportunidade de conhecer alguns de seus filmes há alguns anos atrás, numa mostra que contou com curadoria do crítico e programador, Aaron Cutler.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

É difícil falar sobre reabertura neste momento e compreensível imaginar que cinema seja uma das atividades que mais demore a voltar. Talvez esta volta possa ser antes da vacina, desde que o país consiga controlar a propagação do vírus, o que parece bem improvável neste momento. De toda forma, acredito que quando temos mais de mil mortes diárias, não é hora ainda para se pensar em reabertura de nada que não seja essencial.

 

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Ele vive o paradigma de atravessar um de seus melhores momentos históricos, com grande qualidade e pluralidade na produção, mas vislumbra um futuro difícil, haja visto que hoje é considerado um inimigo pelo Estado (bem como a cultura de um modo geral, a educação, a pesquisa, tudo o que produz e compartilha conhecimento e ideias - as ideias podem ser muito perigosas).

 

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

 

São muitos, mas eu ficaria com o Júlio Bressane, este mestre que nunca se acomoda e segue nos presenteando com novas obras surpreendentes.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Difícil fazer isto sem recorrer a clichês… eu diria que o cinema é a possibilidade de viajar no tempo e no espaço sem sair do lugar.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Lembro muito de uma exibição do primeiro longa do Éder Santos, numa mostra realizada no Cine Humberto Mauro, em 2005 ou 2006, em que o filme foi exibido em 35mm, com os rolos trocados, fora de ordem. O filme já tivera duas ou três sessões e apenas na última de suas exibições, que seria uma sessão comentada com o professor Eduardo de Jesus, que o problema foi por ele apontado. Nas sessões anteriores não houve uma reclamação a respeito, ninguém nem notou, o que foi ótimo!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras…

Ainda não vi este clássico, uma falha minha, um de tantos buracos na minha formação.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não, de forma alguma.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Já vi muito filme ruim, mas felizmente não gasto espaço na memória com eles, nem me lembro mais...

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #45 - Edu Felistoque

O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

Nosso convidado de hoje é paulista e uma das pessoas mais simpáticas e boas de papo do audiovisual brasileiro. Diretor, roteirista e produtor associado da produtora Felistoque Filmes, jurado de festivais, Edu Felistoque iniciou sua carreira como fotógrafo na década de 80. Já ganhou diversos prêmios importantes, como o Kikito do Festival de Gramado pelo curta-metragem Zagati que conta a história de um catador de lixo na periferia de São Paulo apaixonado por filmes desde criança, que consegue montar, aos 50 anos, um pequeno cinema na garagem de casa - todo feito com peças que encontrava em suas coletas. Com tanta experiência e histórias para nos contar, Edu não poderia ficar de fora de nosso especial cinéfilo.

Obs: Lembro quando procurei o Edu para exibir filmes dele no cinema que eu programava em Copacabana. A felicidade transbordava em cada linha de conversa, era bonito de ver. Nunca o vi pessoalmente mas é um cara que gostaria de conversar pessoalmente durante horas sobre cinema. Acredito que todo programador deva receber com carinho qualquer oportunidade de exibir ótimos filmes para seu público. E aqui no Brasil tem muito cineasta competente, como o Edu, que merece chance que seus filmes avancem no concorrido mercado exibidor brasileiro dominado por empresas gigantescas com seus filmes de grande divulgação e orçamento. O bom programador, vai atrás de coisa nova, que surpreenda. Pena também que muitos programadores não assistem filmes...aí fica difícil descobrir coisas novas.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

O Cine Belas Artes! (São Paulo/SP). Além de ser um charmoso cinema de rua, e que frequentei muito na minha adolescência, hoje ele mantém uma programação diversa! Tem filmes para todos lá! (eu fui um office-boy e entregava tudo rapidinho pra sobrar tempo de matar a tarde e ir ao cinema Belas Artes).

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Acho que eu tinha 06 anos e foi um desenho animado Bambi... a TV no Brasil era em preto e branco e fiquei fascinado com as cores, com o som e com aquela tela imensa! Mas ver o Apocalipse Now, no Cine Copan, em projeção de película 70 milímetros me deixou fora do eixo até hoje!

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Vários...nossa! Mas, vou de François Truffaut; Cacá Diegues com seu Bye Bye Brasil; Clint Eastwood com Gran Torino; Michel Gondry com Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (que me fez ver Jim Carrey, como ator) e Glauber Rocha com Deus e o Diabo Na Terra do Sol.

 

 

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Vou sair da caixinha (kkkk) eu tenho uma “estranha atração” pelos filmes O Palhaço, Bingo e o O Homem do Futuro de Cláudio Torres... cara... esse último tem uma grande qualidade técnica e de produção. A direção de atores do filme é incrível! Um ótimo filme para entretenimento, para um público “grandão”... muito legal!

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser totalmente apaixonado por cinema e tentar saber de tudo sobre!

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Entendem sim! Uns programadores vão mais para os filmes de entretenimento e outros para filmes de reflexão! (sim, porque, pra mim não existe “filmes de arte” ou “filmes comerciais”. Todos os filmes são de arte e todos os filmes são comerciais. Alguns mais, outros menos. Precisamos compreender que cinema também é um negócio, assim como as artes plásticas, a música...

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca! Tenho várias respostas clichês para essa pergunta kkkk... segue uma única: “Ir ao cinema é o mesmo que ver o Corinthians jogar no estádio no final de campeonato!” A sensação de ver um filme em uma sala de cinema é única! E digo isso sem nostalgia, embora eu goste também de ver filmes nos “streamings da vida”! Meus filmes foram “zilhões” de vezes mais vistos em outras mídias do que em salas de cinema.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

O filme Toro! Zoeira... Indico o filme Yesterday!

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho! Só para adultos, com distanciamento, máscaras, sem alimentação, e desinfecção com ozônio nos intervalos das sessões. Enfim, seguir protocolos!

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

 

Qualidade é boa, mas sinto falta de filmes de vários gêneros... embora necessários, existem muitos filmes ideológicos que nascem divorciados do grande público!

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Selton Mello.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é truque... é sonho! “O amor é filme ..."

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

São tantas... mas, uma aconteceu comigo... voltei do banheiro, sentei na poltrona e beijei minha namorada... só que não... sentei na poltrona errada! Apanhei das duas meninas!

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Uma grande brincadeira!

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu não sou cinéfilo! Esqueço dos títulos, dos nomes dos atores, não consigo ver todos os filmes... mas, me arrisco a dirigir filmes! (às vezes dá certo)

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Ainda não vi! Eu acredito que não existe filme ruim... existe filme sendo exibido para público errado!

 

17) Você é cineasta. Com qual artista gostaria de trabalhar que ainda não trabalhou?

Não me considero “um cineasta”, me considero um “realizador de filmes”! Eu iria me divertir muito trabalhando com Denzel Washington!

 

18) Qual dica você daria para os jovens que pretendem futuramente trabalhar com audiovisual no Brasil?

Leiam 3000 livros, vejam 2000 filmes e esqueçam de todos ao entrarem no set!

 

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E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #44 - Graça Paes

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nossa convidada de hoje é graduada em Comunicação Social e Administração de Empresas,  Jornalista, Assessora de Imprensa, Crítica de Cinema (ACCRJ), fotógrafa (ARFOC/RJ), produtora de Tv (DRT/RJ), Documentarista, Atriz (DRT/RJ e SATED/RJ). Graça Paes, Ceo da Agência Zapp News é uma das figuras mais queridas e conhecidas dos grandes eventos ligados à cultura. Para contar um pouquinho sobre seu amor pelo cinema, chamamos essa querida amiga cinéfila para participar de nosso especial.

 

1)    Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

New York City Center. É perto de casa e tem várias salas.

 

2)    Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Marcelino Pão e Vinho, eu tinha cinco anos. A telona me encantou e fisgou.

 

3)    Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

José Padilha, Tropa de Elite 1 e 2.

 

4)    Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Central do Brasil. Temática regional e atuações brilhantes.

 

5)    O que é ser cinéfilo para você?

É ser completamente apaixonada pela sétima arte.

 

6)    Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. Algumas salas são bem carentes, e os horários de algumas exibições são fora de contexto.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Creio que nunca, podem até diminuir, mas não acabar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Olga.

 

9)  Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Apesar de amar cinema, eu acho que devem permanecer mais um tempo fechadas.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Melhorando. Em ascensão.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Wagner Moura

 

12) Defina cinema com uma frase:

Extraordinariamente fantástico.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Pedido de casamento.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Xiiii, melhor nem comentar! kkk Uma forma de como não fazer cinema.

 

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Eu acho que sim. Por amar cinemas e escrever críticas, eu fui estudar de cinema. Ser cinéfilo faz toda a diferença para quem trabalha nesta área.

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19/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #43 - Érico Fuks

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é um grande cinéfilo! Aquariano, redator publicitário há mais ou menos 30 anos. Buscando ampliar horizontes, Érico Fuks começou no início dos anos 2000 a exercer paralelamente a crítica de Cinema. Sua primeira incursão foi na revista eletrônica Contracampo. Depois, foi colaborador da IstoÉ Gente, Omelete e revista SET. Foi um dos editores-fundadores do site Cinequanon. Sua última passagem nesse segmento foi como colaborador da revista Rolling Stone, onde escreveu para seu guia sobre Cinema e Música. Foi membro da APCA por 3 anos consecutivos. Participou de uma coletânea e de um ciclo de debates sobre uma retrospectiva de Woody Allen, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil - SP. Além disso, gosta de stand up comedy e já fez, como amador, algumas apresentações em casas de shows de São Paulo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Costumo frequentar os cinemas que prezam pela diversidade. Com uma programação mais extensa, que abrange desde os blockbusters e filmes de tom mais comercial, como também valorizam o cinema brasileiro de pequeno alcance, filmes mais autorais, lançamentos de distribuidoras pequenas ou independentes. Aqui em São Paulo temos o privilégio de ter um circuito exibidor com distribuidoras próprias, como é o caso do Belas Artes (Pandora), Reserva Cultural (Imovision) e PlayArte. Nesse aspecto, do cinema heterogêneo, coloco em pé de igualdade os citados Belas Artes e Reserva, como também os Itaús e, pelas mostras, retrospectivas e "últimas chances", o Cinesesc e o Circuito SPCine. Por uma questão mais afetiva, prefiro o Belas Artes, que além de tudo tem uma equipe jovem que estuda cinema, se envolve com cinema e procura conhecer um pouco melhor o produto que vende, diferente de alguns complexos cinematográficos mais comerciais.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Sinceramente, não sei (risos). Lembro que um dos primeiros, talvez o primeiro filme que vi, foi Dumbo. Morri de medo: aquele ambiente grande, escuro, uma imagem em movimento sobre um enorme pedaço de pano... Lembro que depois, ainda criança, todo domingo eu ia com minha mãe ao cinema do clube do qual era sócio (Hebraica), e lá eu via que tinha algo diferente na sala. Naquela época eu treinava minha leitura acompanhando as legendas. Lembro também, ainda criança, que meus pais me levaram pra ver um filme que eu não entendi nada. Só anos depois eu descobri que era uma dos primeiros trabalhos do Kusturica, e que o filme fazia parte da programação da Mostra de Cinema. Ou seja, eu frequentava a Mostra antes mesmo de saber que aquilo era a Mostra (risos).

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Eu não curto muito esse lance de criar ranking, elencar melhores e piores. Cinema pra mim é um mutante, em constante transformação. Como eu não acredito muito nesses critérios absolutos de categorizar meus gostos, acabo nem me preocupando muito em criar listas. O que é melhor hoje pode não ser melhor amanhã. Nossa memória afetiva é meio traiçoeira. Existem ALGUNS diretores que tenho em alta conta. Só pra não te deixar no vácuo e responder: Fanny e Alexandre, do Bergman. Mas aí o leitor pode achar que eu tô assassinando o Kubrick, o Kurosawa, o Fellini... (risos).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Vai na mesma linha da pergunta anterior. Tá bom, vai. Vou deixar aqui o Limite, de Mário Peixoto, que só consegui ver uma vez.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Taí uma palavra que eu TAMBÉM não gosto: "amigo" do cinema. O cinema não estabelece somente uma relação de amizade, amor. Uma pessoa que vai muito ao cinema e vê muitos filmes se considera cinéfilo, mas acho que não é só isso. Cinema pra mim é amor e ódio, é algo mais dialético e visceral ao mesmo tempo. Não importa QUANTOS filmes você veja, mas sim a relação que você estabelece com a arte. Distanciamento? Identificação? Fuga? Uma vez participei de um grupo de discussão e numa das postagens se falou sobre o termo mais apropriado: cinelatria, talvez. Não se chegou a um consenso. Acho que o termo cinéfilo poderia ser trocado por cinedito: o cinema mais vicia do que cria uma relação de amor e amizade.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Tenho a sorte e persistência de conviver com um ambiente do cinema que faz uma programação mais razoável, dando espaço para obras mais "alternativas" e tentando conciliar com filmes mais palatáveis, que garantem a sobrevivência da sala. Mas, de um modo geral, a gente sabe que o lançamento de um filme é pensado pela maioria dos exibidores como adereço da pipoca. Os filmes são lançados com base em sinopses. Mas é difícil dizer se essas escolhas são conscientes, ou feitas por falta de entendimento técnico.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Se depender de mim, nunca (risos). Esse assunto do cinema ameaçado já é meio antigo. Temia-se o fim do cinema com a chegada do videocassete. Ele sobreviveu e o que morreu foi o VHS e as locadoras. Temia-se o fim do cinema com a TV a cabo, e ele resistiu. Temia-se o fim do cinema com a chegada do streaming, e ele tá aí, sobrevivendo. Claro, existe uma transformação, que me parece ser muito mais urbana do que da própria arte. O cinema de rua praticamente fechou, mas várias salas de shopping são inauguradas. O que anda com os dias contados são essas tecnologias que procuram substituir o cinema, como foi o VHS e agora talvez aconteça com a TV a cabo, se eles não repensarem suas estratégias e continuarem cobrando valores absurdos. Mas acho que rola uma questão mágica, sabe? O cinema tá aí. Com a pandemia, voltaram os drive-ins, que estão lotando. Quer coisa mais retrô que isso?

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Também sou meio contra esse lance de indicar, orientar, influenciar pessoas. Parece meio coisa de corretor da Bolsa, "esse filme tá bem cotado, esse teve queda"... (risos). Cinema é arte, e arte é risco. Faz parte da experiência cinematográfica ver filmes péssimos. E esse negócio de "muitos não viram" é meio relativo. Afinal, quem vai me ler? Esse leitor talvez tenha visto os filmes que a maioria não viu, eu não sei. Mas tá bom, vai, vou te dar essa canja (risos). Lembro de um filme que creio ter passado despercebido no circuito comercial. É de 1990, com direção e roteiro de Tom Stoppard (acabei de ver no Google, rs). Chama-se Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos. Esses personagens são secundários na peça Hamlet, mas aqui ganham o protagonismo com diálogos e situações absurdas. Tem Gary Oldman e Tim Roth nos papéis principais.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que isso é algo inevitável. O comércio já está reabrindo aos poucos. E a gente não sabe se a vacinação em larga escala vai ocorrer em janeiro ou no meio do ano que vem. Eu não sou autoridade técnica pra determinar o que "deve" ser feito ou deixado de fazer. Confio nos comitês de contingência e nos profissionais da ciência e da saúde. O cinema é o último, junto com teatro e grandes shows, a ter sua reabertura permitida na escala dos planos de flexibilização das cidades. Uma medida bastante razoável. Se todos os protocolos de higiene e segurança forem adotados (e eu acredito que na maioria dos cinemas isso vai acontecer), acho que ir ao cinema será algo possível dentro de alguns meses. Mas isso vai depender também de outros fatores que nada têm a ver com cinema: horários de shopping, queda nos índices de infectados, etc.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O cinema brasileiro vai muito bem, obrigado. O que fode é essa política do atual Governo Federal, de acabar aos poucos com a arte e a cultura. Mas tivemos aí representantes em Cannes, um documentário que concorreu a Oscar, uma grande quantidade de filmes inscritos em Berlim, enfim... O cinema brasileiro vive um grande momento de explosão autoral, em que a qualidade artística, o rigor estético estão ganhando visibilidade. Parece que a arte vive da crise, não é mesmo? Ou usa sua técnica justamente pra falar dela. E questionar os valores sociais. Quanto mais retrógrados os tempos em que vivemos, mais combustível para a contestação. A gente tem nomes que vêm à cabeça primeiro, como Kléber Mendonça, Karim Aïnouz, mas tem também a galera mineira do Filmes de Plástico, da Grace Passô, tem uma moçada se dedicando aos filmes de terror... ainda bem que a gente não depende só de Paulo Gustavo (risos).

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu assisto a quase tudo o que estreia comercialmente. Portanto, não perco o trabalho dos atores bons, nem dos atores ruins (risos). Mas vou citar dois atuais que admiro bastante: Júlio Andrade e Irandhir Santos.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Cinema é o constante estado de desconstrução.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Vixe, tem várias (risos). Lembro vagamente do primeiro Star Wars, aquele de 1977, no extinto Cine Gemini, em que um espectador teve um ataque epilético durante a projeção. Meu pai, que era médico, foi prestar os primeiros socorros pra pessoa.

Teve também um amigo meu que, depois de assistirmos a Quinteto Irreverente no também extinto Cine Arouche (acho que hoje é um cinema pornô, não sei ao certo), quis aprontar. Acho que ele se inspirou no filme. Trocou as placas "masculino" e "feminino" dos banheiros, só pra presenciar a confusão. Não deu muito certo. TODAS as pessoas entraram em seus respectivos banheiros errados, ou seja, não rolou aquele constrangimento ao entrar ou sair (risos).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Você acredita que eu NUNCA vi esse filme?

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não necessariamente. Claro que o repertório, as referências, ajudam bastante. Assim como é bastante recomendável que um escritor leia bastante. Mas um bom cineasta pode ter uma equipe muito foda, pode ter experiência em outros segmentos paralelos (Publicidade, por exemplo), pode adquirir conhecimentos de forma mais intuitiva... é possível, mas o ideal seria que ele também gostasse de ver o que os outros colegas de profissão estão fazendo ou já fizeram.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Cara, eu tenho 52 anos, vejo quase 500 filmes por ano... não sei te responder, minha memória já não anda tão boa pra coisas tão ruins (risos).

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #43 - Érico Fuks

18/08/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #42 - Fabrício Duque

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso convidado de hoje é um querido crítico de cinema carioca, frequentador assíduo dos principais festivais de cinema no Brasil e no mundo, Fabrício Duque: um chato fofo e um vertenteiro inveterado (como ele mesmo se define em seu site, o ótimo Vertentes do Cinema (https://vertentesdocinema.com/). Seus textos possuem força e toda a marca cinéfila desse querido cinéfilo que todos adoram. Com vocês, meu amigo, Fabrício Duque.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Para todo e qualquer cinéfilo, o cinema é um templo de devoção. Cada sala representa uma nostalgia, uma memória, um aroma familiar. Eu, que percorria os lugares de exibição para assistir aos filmes, independente da geografia, fui iniciado no Cinema Estação, considerado o espaço mais decadentista, que junto com a Cinemateca do MAM e o Cine Joia, representa o ideal da arte pela arte. Foi lá nos cinemas de Botafogo que redescobri clássicos como François Truffaut, Éric Rohmer e obras “perdidas” durante o Festival do Rio. O Cinema Estação para mim tem cheiro, emoção e tesão. Tudo junto e misturado. Ao sentar em uma cadeira (quem me conhece sabe que sempre escolho a primeira fileira, talvez para evocar o amor “prazer dos olhos” dos Jovens Turcos) recebo uma força tão orgânica que desliga meu mundo real e me apresenta um universo que eu não quero sair.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Eu tive um privilégio na minha vida. Um presente cultural de formação. Meus pais nunca me proibiram (tampouco censuraram) a nada. Era uma liberdade total. Lembro que o primeiro filme que assisti foi E.T. – O Extraterrestre, de Spielberg, aos seis anos no cinema que meu tio tinha na casa dele em São Paulo, durante o natal em família. Foi um acontecimento. Eu não lembro muito bem, mas minha mãe disse que eu assisti várias vezes e “perdi a noite”. Ali, naquele momento, descobri que cinema era minha vida e que eu não conseguia viver sem. Lembro também da minha mãe brigando com o bilheteiro que não me deixou assistir Carmem, de Godard. Resumo da história. Assisti duas sessões seguidas. Tinha nove anos.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Todo ano faço um balanço se meu filme favorito mudou (até para atualizar minha lista dos dez mais). Eu tenho três filmes que andam lado a lado, e todos assisti mais de vinte vezes. 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick; Acossado, de Jean-Luc Godard; e Plata Quemada, de Marcelo Piñeyro. Essa trilogia me acompanha ano após ano. E nunca perdeu o posto. Os três causam três tipos de emoção, respectivamente, existencialista (principalmente pela icônica trilha sonora), de cinefilia artística (fiquei meses fazendo o gesto de Belmondo com os dedos na boca) e de ação psicológica, extremamente humanista-carnal-cognitiva.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

É estranho, mas eu não consigo separar cinema brasileiro do cinema estrangeiro. Para mim é tudo cinema. Tudo arte. Assim como meu filme favorito da pergunta acima, todo ano faço o balanço. Escolher um filme favorito é muito subjetivo e pessoal. Pode ser um impacto, um detalhe, um gatilho identificado. Assim, Salto no Vazio, de Patricia Niedermeier e Cavi Borges, é meu filme favorito, por causa da força das imagens, da potência orgânica de sua narração, da construção despretensiosa e descontínua que abraça Jonas Mekas e John Cassavetes.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo para mim é ser atravessado por outras vidas, outras histórias, outros dramas, outras geografias. É encontrar na sétima arte a real existência. É respirar cinema o dia todo. É conversar antes e depois da sessão sobre o filme. É chegar à conclusão que é impossível dissociar o ser pessoa do ser cinematográfico. Cinema é uma tradição, um ritual, uma religião (com seus deuses na tela grande). É se surpreender, chorar, rir e "brigar" para comprovar maestrias e desapontamentos.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Logicamente que sim. Os cinemas “de arte” só são possíveis de exibir “filmes diferentes”, porque há alguém cinéfilo nos bastidores, com uma equipe também cinéfila. É preciso que o requisito básico na contratação seja a pergunta: quais são seus filmes favoritos? Dependendo da resposta, fica ou “vaza”.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Nunca. As salas de cinema não acabaram com a televisão, com as locadoras, com o streaming. A sétima arte é a arte mais completa, porque se reinventa a todo instante. Com Drive-in na pandemia e cineclubes virtuais. De novo, nunca!

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Um Homem Fiel, de Louis Garrel, que estreou 4 de julho de 2019 nos cinemas brasileiros. Uma ode a Nouvelle Vague e à cinefilia. Uma obra de arte.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a Covid-19?

 

Não. De maneira nenhuma. É uma imprudência que só atende às necessidades do mercado. Compreendo que a crise está geral. O Cine Lume do Maranhão precisa de ajuda para não fechar. O Estação também. Mas penso que o ser humano precisa aproveitar esse momento para se reconectar e resetar. E controlar a ansiedade. E ficar em casa para ajudar o retorno à “vida real”. Nada será normal novamente e não está normal no momento. Já passamos dos 100 mil mortos e nosso povo está nas ruas, nas praias, nos bares. Eu não saio de casa há mais de cinco meses. Estou querendo sair? Sim. Mas sairei? Não. Humanidade e solidariedade ao próximo, elementos essenciais.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

O que é qualidade? Como quantificar e mensurar isso? Os olhares são subjetivos. Há quem vá ao cinema para se divertir e “desligar” o cérebro. Outros vão para aprender e ter uma experiência internacional. Os dois estão certos, porque cada um sabe exatamente o gosto que tem. Eu escolho um filme para ser atravessado, ser retirado da minha zona de conforto, ser sacudido completamente. E há também a qualidade de cada gênero. Boi Neon, de Gabriel Mascaro; Bixa Travesty, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, Iran, de Walter Carvalho. Cada um possui suas características únicas. Sim, enxergo qualidade no cinema brasileiro.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

O realizador Karim Aïnouz.

 

12) Defina cinema com uma frase:

“Cinema é a fraude mais bonita do mundo”, de Jean-Luc Godard.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

A história é muito inusitada, quase surreal. Durante uma das sessões do extinto (infelizmente) Cine Paissandú, um senhor levantou no meio do filme, foi para o canto, mijou olhando para a tela e voltou ao seu lugar. Todos, inclusive minha pessoa, não conseguiram mais assistir à exibição pelo odor “empesteado”, um cheiro horrível. A “figura” era conhecida dos cinéfilos e frequentadores de carteirinha por essa característica idiossincrática "impagável".

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

O que? Como? Por que? Oh Jesus amado de Salvador, eles não sabem o que fazem!

 

15) Você é criador de um dos sites de críticas mais bem avaliados por vários amigos cinéfilos que temos em comum. Como foi o início dessa sua jornada com o Vertentes do Cinema?

Está sendo uma aventura boa à beça. O Vertentes do Cinema nasceu às portas do Festival do Rio 2009, dia 17 de setembro, às 14:45 (o horário da primeira postagem), como um blog de pílulas críticas. E foi crescendo, dia-a-dia. Eu brinco que foi o melhor e o pior presente que recebi. Um trabalho de formiguinha que ganhou a atenção do público. Quase 11 anos depois eu só tenho a agradecer por trocar informações e amor incondicional pela sétima arte. Cada ano eu busco uma reinvenção, inserir novidades e categorias. Hoje, o Vertentes do Cinema consegue manter a atualização diária. A pandemia alterou a rotina, visto que dos sete colaboradores, só três permaneceram (incluindo minha pessoa). Mas novidades vêm por aí. Novos críticos já estão no processo final de seleção. E isso é maravilhoso. Essa rotatividade ajuda a sempre manter o site em movimento e fazer com que os “vertenteiros” possam voar. O Pedro Guedes, por exemplo, criou um site muito bom, Depois do Cinema. Na pandemia, foram 20 especiais e três mostras de curtas-metragens, que por sinal, representam um dos pontos essenciais. E no meio disso tudo um curso de crítica cinematográfica na Escola Lume de Cinema do Maranhão. Só finalizando, o Vertentes é acima de tudo um site de crítica. De estudo e análise.

 

16) Você, anualmente, frequenta muitos eventos de cinema. Para você, qual o melhor Festival de Cinema do Brasil? E do mundo?

Pergunta difícil. Cada festival tem um olhar diferente. O Vertentes nasceu no Festival do Rio, após eu participar desde os primeiros anos. Brasília, uma “porrada” política, Mostra de São Paulo, um respiro de arte, Mostra de Tiradentes, a força do “brasileiro”. E com quatro anos, o Vertentes resolveu “dar o passo maior que a perna” e deu certo. Primeiro festival internacional foi Cannes. Comecei bem eu acho. Depois Veio Berlim, Toronto… E não parou mais. Como disse, cada festival é especial. Cannes é um tufão enlouquecedor. Berlim, uma ode ao cinema. Toronto, uma prévia do Oscar. Assim, nacional não consigo escolher de jeito nenhum. Mas do mundo, confesso que Berlim é o meu queridinho de coração.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #42 - Fabrício Duque

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #41 - Bruno Giacobbo

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Nosso entrevistado de hoje é um dos cinéfilos mais inteligentes que conheço e um cara ótimo para papear sobre cinema. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) e curador do Cineclube Águas Férreas, o crítico Bruno Giacobbo fala e escreve sobre filmes, por amor, há um tempo incontável, e profissionalmente, desde 2013. Ele se considera um dos últimos românticos, pois vive a procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começa a acreditar que tal recanto só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Contudo, apesar disto, é feliz como um italiano quando sabe que terá amor, vinho e um bom filme pela frente.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação?

Em relação a este aspecto, minhas salas favoritas são a do Espaço Itaú, na Praia de Botafogo, e a do Estação Gávea, no Shopping da Gávea. São salas que não dão ênfase aos blockbusters. Elas possuem uma programação mais voltada para o que, hoje, chamamos de “cinema cult” e dão bastante espaço para o cinema brasileiro. Contudo, a sala do meu coração é o São Luiz, no Largo do Machado. Tenho uma história afetiva com ela.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O Retorno do Jedi, numa sala de cinema na cidade de Lambari. Com certeza este cinema não existe mais. Eu poderia citar, também, Goonies, num cinema de rua de Porto Alegre. Acho que foram estes dois filmes que despertaram alguma coisa em mim, pela primeira vez.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Pergunta complexa. Não dá para dar apenas uma resposta. Então, vamos lá: Walter Hugo Khouri e Eros, O Deus do Amor; Krzysztof Kieślowski e o seu grandioso Decálogo. Sim, eu sei que em tese são dez filmes de uma hora cada, mas eu acho quase impossível desassociar uns dos outros. E eu gostaria de citar também Sidney Lumet e o seu dolorosamente poético Sérpico.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e por quê?

Eros, O Deus do Amor, de Walter Hugo Khouri. Este filme, para mim, traduz boa parte a genialidade daquele que é o maior cineasta brasileiro de todos os tempos. A câmera subjetiva que mostra, em 99% do tempo, o olhar do narrador, me deixou louco da primeira vez que assisti. E este é o filme, também, onde conhecemos mais a fundo a personalidade de Marcelo Rondi, o protagonista da obra-curso do Khouri, uma espécie de alter ego do diretor. Este personagem foi interpretado por gente como Paulo José, Tarcísio Meira e Antonio Fagundes, mas o seu melhor intérprete foi, sem dúvida alguma, Roberto Maya, que é quem estrela este longa-metragem.   

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Olha, Camacho, tem gente que acha que ser cinéfilo é ver muito filme. Eu conheço pessoas que dizem ver cinco filmes por dia. Eu não duvido, mas fico me perguntando o quanto essa pessoas conseguem assimilar de um filme quando assistem cinco no mesmo dia? Eu gosto muito de fazer sessões duplas quando vou ao cinema. Sair de um filme, tomar café e mergulhar em outro. E, claro, há situações e situações. Quando você está no Festival do Rio e sabe que ali serão exibidas algumas obras que talvez jamais estreiem no Brasil, você acaba querendo ver tudo o que conseguir encaixar no seu dia. Em resumo, estou dizendo isso para afirmar que ser cinéfilo não é, necessariamente, ver muitos filmes. Ser cinéfilo é amar verdadeiramente o cinema.

 

6). Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

O que é entender de cinema? Esse pensamento “pessoas que entendem de cinema” me parece um pouco excludente. É claro que, em tese, nós críticos e todos aqueles que trabalham com cinema temos percepções que as pessoas que encaram os filmes como uma mera diversão não têm. Isto não quer dizer que estas pessoas não entendem de cinema, elas só entendem de um jeito diferente do nosso. Acredito que a mesma lógica procede para quem cuida da programação. Isto sem falar que esta programação também segue uma lógica econômica e de mercado que não tem muito a ver com entender de cinema ou com o gosto do programador. Se ainda estivéssemos falando de cineclubes, mas não estamos. Assim, prefiro pensar que ainda conheço muitas salas, embora não tantas quanto já conheci. 

 

7). Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Não.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram, mas é ótimo.

 Amadas e Violentadas, Tchau, Amor e A Mulher que Inventou o Amor, os três do artesão Jean Garrett. Os mais velhos, os críticos da antiga, devem ter visto, mas o público mais jovem precisa descobrir o Garrett. Um dos grandes cineastas brasileiros de todos os tempos. Ah, vou citar mais dois filmes, está bem? O média-metragem O Gafanhoto, do John Doo, que está dentro da antologia “Pornô!”, e o longa-metragem Duas Estranhas Mulheres, de Jair Correia. Isto tudo para dizer que o cinema brasileiro não se resume ao Cinema Novo, à Retomada ou a Humberto Mauro. Nunca se produziu tanto neste país quanto na época da Boca do Lixo.

 

9). Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que os cinemas podem abrir, sim, desde que sejam tomadas medidas bastante rigorosas de higiene do ambiente, de controle do número de pessoas por sessão, de respeito a uma distância mínima entre os lugares ocupados pelo público e por aí vai. Desta forma, acredito que dê para abrir os cinemas antes de termos uma vacina.

 

10). Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em termos de criatividade, de iniciativa, melhor do que nunca nos últimos dez ou 15 anos. Os últimos três anos foram pródigos de filmes inventivos, criativos e originais. Se faz cinema em São Paulo, em Minas, no Ceará, em Pernambuco, no Rio de Janeiro, em Goiás, na Bahia, se faz cinema em tudo que é lugar. E cinema de qualidade.  

 

11). Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não perco um filme dos cineastas Marco Dutra e Juliana Rojas.

 

12). Defina cinema com uma frase:

Good films make your life better”. Amo esta frase. Se você procurar no Google, vai achar a foto da fachada de um cinema, em Londres, com esta frase no letreiro, como se fosse o nome de um longa-metragem.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Festival do Rio. Sessão de Me Chame Pelo Seu Nome. Vi pessoas saírem da sala carregadas, escoradas, umas nas outras, de tanto chorar. Não lembro de um filme que tenha causado tanta comoção. Tenho ainda outra história peculiar... e escatológica. Cinema São Luiz, não lembro o filme, a sessão não estava muito cheia. Lá pelas tantas, sinto um cheiro horrendo de xixi. Ao término, ouvi alguns funcionários comentarem que tinha sido um senhor que costumava ir lá e, por algum problema renal, sempre se mijava nas calças.

 

14). Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Comédia involuntária.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Não entendo um cineasta que não seja cinéfilo. Todavia, como em muitas profissões existem pessoas que não amam o que fazem ou até mesmo não gostam, apesar de não entender, não acho que seja obrigatório ser cinéfilo para dirigir um filme.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Prefiro pular essa pergunta. Risos.

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #41 - Bruno Giacobbo

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #40 - Breno Guimarães

Nessa vida temos encontros e desencontros. A internet veio para bagunçar isso tudo e para quem é esperto conseguir se aproximar de ídolos ou apaixonados por cinema que nunca teria a chance de conhecer os pensamentos se a distância entre os dois pontos não existisse, como é agora no planeta internet. Dividir curiosidades sobre o gosto cinéfilo é um grande exercício que todos nós cinéfilos adoramos descobrir. Esse especial chega exatamente para apresentar universos diferentes do seu mas sempre com um grande amor ao cinema como o seu.

Produtor, roteirista e ator. Nosso convidado de hoje é um cinéfilo carioca com participações em algumas novelas que em seu último curta-metragem ganhou 17 prêmios internacionais, de Los Angeles à Índia. Descobriu o amor pelo cinema com o clássico da década de 70: Se Minha Cama Voasse. Breno Guimarães responde abaixo nossas perguntas, de cinéfilo para cinéfilo.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Roxy. Passa sempre os melhores filmes e tenho lembranças indeléveis de quando comecei a me apaixonar pela Sétima Arte, aos seis ou sete anos de idade, fazendo meu pai entrar e sair do final três vezes para ver sem interrupção Os Três Mosqueteiros. Aconteceu da mesma forma com o filme Se Minha Cama Voasse. Adoro as estreias e pré-estreias no Roxy. Classicaço.

 

2) Qual o primeiro filme que você  lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente:

Esse que falei acima Se Minha Cama Voasse. Minha Cama se tornou a Sétima Arte, e ela me faz voar sempre, desde então, até hoje.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Nossa...diretores são muitos.  Mas vou no meu filme favorito de um ídolo compartilhado com meu querido Amigo guerreiro pacífico da Sétima Arte, Rodrigo Fonseca: Rocky, um Lutador.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Paraíso Insólito. E aguardem o longa que já já faço a mágica de captar para produzir. E está beem melhor do que o curta. É meu favorito pois foi o que me deu a honra e a realização de um sonho de ser premiado em 17 festivais internacionais de Los Angeles à Índia, passando por San Diego, Utah, Glendale, New York, Paris, Cannes Short Corner e diversos festivais nacionais, e de ter o privilégio de ser premiado em Los Angeles, na terra do cinema que amo, como Melhor Filme, Melhor Direção para Anselmo Vasconcellos, Melhor Atriz pra Dani Antunes e eu fui indicado Melhor Ator.  Realização na City of Stars.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Viver o sonho compartilhado por criadores mil do mundo inteiro e embarcar numa viagem onírica indizível. É o lugar da minha meditação aos níveis alfa da consciência.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Sim, creio que sim. Ou me iludo que sim rs. Salvo as salas blockbusters, talvez. Mas ao menos entendem de procura do público.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Sinceramente, creio que sim. As vivências holográficas estão vindo aí. Mas sempre vão haver os guerreiros pacíficos da sétima arte e cinéfilos que lutarão para a sua manutenção mesmo que nostálgica, como os vídeos da Cavideo.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Hector, em Busca da Felicidade.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Acho que sim. Irmão. Os metrôs, ônibus e BRTs funcionam com aglomerações muito mais de risco do que uma sala de cinema.  Há uma certa arbitrariedade indecentemente político financeira nessas escolhas de reativação das atividades.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Em termos de qualidade indo muito bem. Vide Bacurau. Em termos de incentivo, aguardemos pra ver se haverá uma reestruturação menos elitizada nos editais e leis de incentivo.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme:

Miguel Falabella

 

12) Defina cinema com uma frase:

A arte de transformar sonho em vida e de nos colocar dentro dele.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Não posso contar o que já fiz no Odeon Kkķkkk. Brincadeira (ou não).

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

kkkkkkkkkkkkkkkk o melhor dos piores filmes já feitos pelo ser humano.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Siiiim!!!! Todos deveriam ser um monte de Hsu Chiens.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

Pior que Cinderela Baiana? Kkkkkk.

 

Continue lendo... E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #40 - Breno Guimarães