06/03/2016

Crítica do filme: 'Min så kallade pappa'

A força da maternidade é maior que as leis da natureza. Lançado na Suécia em setembro de 2014, o longa-metragem Min så kallade pappa (ainda sem tradução para o Brasil) é um daqueles belos filmes que infelizmente quase certo de eu nunca veremos por aqui. O projeto conta com o grande ator sueco Michael Nyqvist e é dirigido pelo experiente diretor Ulf Malmros. Utilizando bem a realidade e os pés nos chão para contar uma história que tinha tudo para ser um filminho de sessão da tarde, Min så kallade pappa é um filme que você precisa conferir.

Na trama, conhecemos a futura mamãe e professora do jardim de infância Malin (Vera Vitali), uma mulher com garra e atitude que está passando por um momento de separação com o futuro pai de seu primeiro filho. Definida a tomar atitudes corajosas sobre seu futuro, resolve ir em busca do pai que nunca conhecemos, Martin (Michael Nyqvist), um veterano ator de teatro que nunca fez questão de procurar notícias de sua única filha. Durante o inusitado encontro, Martin sofre uma espécie de derrame e perde parte da memória. Assim, é a grande oportunidade de Malin se aproximar de seu desconhecido pai.

 O fato que mais chama a atenção nesta fita sueca é a forma realista que o diretor apresenta os fatos e segue as linhas dos diálogos neste forte drama. Martin e sua personalidade forte, parece lutar contra seu passado a todo instante, até quando perde a memória. Malin vive todos os atos do filme atormentada por um passado que se mistura com o presente, sentindo que o futuro filho vai sofrer da mesma forma como sofreu quando seu pai a rejeitou quando criança. A linha de raciocínio para entendermos melhor a profundidade das características de cada personagem é feita de maneira brilhante.


Min så kallade pappa é para corações fortes, se aproxima um poucos das duras realidades mostrada por Susanne Bier e um pouco da poesia melancólica dos trabalhos de Isabel Coixet. Ao longo das cerca de duas horas de projeção o público se emociona e torce pela sofrida personagem a todo instante.  Min så kallade pappa é um belo filme que mescla uma realidade quase que infinita e uma linda poesia quase que melancólica. 
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Crítica do filme: 'Zootopia'

Faça cada aventura de sua vida valer a pena. Desde fevereiro, um grande sucesso na Itália, França, Argentina, a nova aventura utilizando as técnicas de animação Zootopia é uma das grandes histórias voltadas ao público infanto-juvenil deste ano. Com muita intelecção e personagens cativantes consegue ensinar diversas lições para a criançada. Pelo trailer, a animação parecia ser até certo ponto bobinha e sem muitas novidades mas quando você assiste ao filme percebe o quão profundo e brilhante uma aventura pode ter ao nossos olhos.

Com direção dos cineastas Byron Howard (Enrolados) e Rich Moore (Detona Ralph), na trama de Zootopia, conhecemos a sonhadora coelhinha Judy Hopps que sonha em ser uma grande policial e defender o planeta do mal. Quando uma série de desaparecimentos pairam sobre a cidade de Zootopia, a agora recruta da polícia Judy percorre cada espaço da cidade atrás das pistas para resolver esse grande mistério. A simpática personagem contará com a ajuda da debochada raposa Nick Wilde.

Um dos grandes ensinamentos deste belo trabalho são os entendimentos bem didáticos sobre o mundo dos animais. Zootopia é uma espécie de cidade habitat, onde os animais meio que se dividem sem nunca esquecer que podem conviver juntos como se fossem uma só espécie. A protagonista, uma coelinha, é forte, inteligente e quebra qualquer raciocínio sobre a fragilidade que um coelho pode ter em nossa realidade. A grande vilã da trama (sem dizer quem é para não entregar spoilers), é de uma espécie que nunca imaginaríamos fazer algum mal. Essa quebra de paradigmas é muito interessante e traz vários ensinamentos.


No segundo ato em diante a trama ganha mais contornos profundos e parte dos mistérios começam a ser descobertos. Saímos de um filme fofinho para uma trama bem aos contornos de Agatha Christie. Toda essa força do roteiro, assinado pela dupla Jared Bush e Phil Johnston (Detona Ralph),  é fabulosa e faz a criançada não tirar os olhinhos da telona. Zootopia estreia no Brasil daqui duas quinta-feiras (17) e promete ser mais um grande sucesso de um dos estúdios que mais emocionam o coração de todos nós. 
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05/03/2016

Crítica do filme: 'A Vingança está na Moda'



A vingança nos torna igual ao inimigo. O perdão nos torna superiores a ele. Será? Após um longo hiato, de exatamente 18 anos, desde seu último filme como diretora, a cineasta australiana Jocelyn Moorhouse (Colcha de Retalhos) volta às telonas dessa vez para contar uma história que flutua levemente em vários gêneros com muita personalidade. A Vingança está na Moda é um filme que deve agradar demais aos fanáticos fãs da excepcional atriz Kate Winslet, que mais uma vez dá seu conhecido show em cena.

Na trama, somos rapidamente apresentados a Myrtle 'Tilly' Dunnage (Kate Winslet), uma elegante costureira que conseguiu que seu trabalho fosse reconhecido na conhecida Paris. Tilly está voltando para casa, lugar onde não tem boas recordações. Quando pequena, foi acusada de causar um acidente, que teve como conseqüência o falecimento de um menino, e assim foi enviada para fora da cidade rural australiana onde vivia. Mas agora, anos se passaram e Tilly está de volta e busca sua redenção misturada com vingança sobre todos que conspiraram para o grande abalo que sofrera sua família.  Assim, Tilly contará apenas com a ajuda de Teddy (Liam Hemsworth), um simpático morador da esquisita cidade, do hilário sargento Farrat (Hugo Weaving em grande atuação) e de sua mãe, a complicada Molly Dunnage (Judy Davis, excelente no papel).

Um dos grandes destaques do filme é a força do seu elenco. Moorhouse consegue com muita inteligência aproveitar cada um dos personagens em cena, principalmente os coadjuvantes que dão todo o charme e elevam a protagonista sempre com ótimos diálogos. O filme tem um ‘q’ de Twin Peaks, talvez pela força peculiar das características dos personagens, talvez por ser uma micro cidade praticamente isolada do planeta, talvez pelas ações inconseqüentes e, no mínimo, estranhas de muitos dos personagens. A fita navega em diversos gêneros, sempre com muita margem para explicar detalhadamente as ações dos personagens, talvez por isso o filme tenha ficado um pouco longo demais (118 minutos) mas nada que atrapalhe excelentes cotações para este belo trabalho. 

Sempre reclamamos das traduções dos títulos de muitos filmes que chegam ao circuito anualmente. Dessa vez, o título caí como uma luva em relação a todo o contexto da trama. Baseado no livro The Dressmaker, de Rosalie Ham, A Vingança está na Moda estreia no Brasil este ano ainda e promete agradar bastante.
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Crítica do filme: 'The Program'

É mais fácil lidar com uma má consciência do que com uma má reputação. Dirigido pelo experiente diretor britânico Stephen Frears (Alta Fidelidade), The Program mostra os detalhes mais profundos de um fato real que abalou o mundo do esporte e conseguiu transformar um herói norte-americano do esporte em um grande traidor e anti desportista. Com um excelente roteiro adaptado, assinado pelo craque John Hodge (Trainspotting - Sem Limites), uma baita atuação do sempre dedicado Ben Foster e uma direção muito correta de Frears, o longa-metragem promete gerar mais indignação sobre esse famoso caso mundial.

Na trama, baseada totalmente em fatos reais, tendo como base o livro Seven Deadly Sins: My Pursuit of Lance Armstrong, do jornalista David Walsh (no filme interpretado por Chris O'Dowd), conhecemos a curiosa trajetória do ciclista Lance Armstrong (Ben Foster), um atleta que conseguiu o impossível, vencer o mais difícil torneio de ciclismo do mundo, o Tour de France, por nada mais nada menos que sete vezes consecutivas, entre os anos de 1999 e 2005. Tratado como herói norte-americano, tendo que superar um inesperado câncer, o ex-campeão era praticamente um Deus em sua terra natal. Até que um dia, tudo que ele fez vai ralo abaixo quando é comprovado, e tardiamente confessado por Armstrong, que ele fez parte de um programa de dopagem.

Ao longo dos 103 minutos de projeção, passados de maneira bem dinâmica e inteligente, vamos acompanhando, perplexos, todo o desenrolar da trama, que mostra detalhadamente uma corrupção dentro de um esporte amado por muitos. O filme é bem forte e resolve mostrar tudo mesmo, talvez pelas fortes certezas sobre o acusado, talvez por ser uma produção britânica. O pilar, também central, da trama é o jornalista David Walsh (Chris O'Dowd), um amante do ciclismo do bem que embarca em uma busca frenética onde teve que suportar diversos tipos de pressões, tanto de pessoas ligadas ao alto escalão do ciclismo na época, quanto do próprio jornal onde escrevia para poder provar e comprovar a dopagem de Armstrong. Analisando os fatos apresentados neste projeto, imaginamos como será a reação do público norte-americano ao filme, que estreia na ‘casa de Armstrong’, nos Estados Unidos, no dia 18 de março deste ano.


Lançado no último Festival de Toronto, The Program não fala sobre heróis, fala sobre vilões, e também sobre os falsos limites que o ser humano se impõe para poder vencer a qualquer custo.  Em ano olímpico no Brasil, um filme como esse só reforça a obrigação dos atletas em respeitar o espírito olímpico, competindo com lealdade e honestidade. E quem não respeitar, que seja banido do esporte, como Lance foi.  
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21/02/2016

Crítica do filme: 'White God'



Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um novo destino. E vem da Hungria um dos roteiros mais significativos e inovadores dos últimos tempos no Universo do Cinema. White God, vencedor do prêmio de Melhor Filme da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes em 2014, é uma fita corajosa que mostra todas as habilidades técnicas do cineasta húngaro Kornél Mundruczó. Misturando inusitadas situações, envolvendo praticamente uma guerra entre cachorros e pessoas, o longa-metragem é uma grande lição sobre os limites que todos nós devemos navegar. Para tudo que é vida no planeta ter um certo tipo de evolução, precisamos nos entender como seres humanos urgentemente.

 Na trama, conhecemos a corajosa menina Lili (Zsófia Psotta) que vai precisar passar algumas semanas com seu deprimido pai. A menina, que toca trompete em uma orquestra de sua cidade, leva consigo um belo cachorro chamado Hagen, fato que não é bem visto por seu pai. Certo dia, após um dos inúmeros estresses diários de seu pai, o cãozinho é abandonado no meio da rua e ao longo das próximas semanas provocará uma grande revolução, e até certo ponto vingança, canina, onde vários cachorros conseguirão fugir de um abrigo e buscarão ‘justiça’ contra as pessoas que os maltrataram. 

Quando pensamos em ‘Revolução Canina’ tudo parece muito estranho, certo? No contexto do filme, esse clímax estoura em um momento chave, fazendo total sentido a série de conseqüências para as ações. Tudo é orquestrado pelo auau protagonista Hagen, em total sintonia com os outros caninos, dominam as cenas deixando o espectador com cara de surpresa para tantas ações surpreendentes. O peculiar é que nada parece ser forçado e, principalmente com os argumentos de maus tratos apresentados, a revolução canina pode ser bem vista por parte do público.

Pensando em termos técnicos e elaboração de planejamento das filmagens, é muito legal saber que todas as cenas foram realizadas com animais de verdade, cerca de 250. Mundruczó e companhia devem ter tido um enorme trabalho mas que valeu muito a pena. O Ato final é bastante poético, com direito a uma forte sequência  e até certo ponto uma linda mensagem de respeito é passada ao público.  White God é um daqueles filmes que você precisa ir correndo assistir, uma experiência única repleta de qualidades.
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Crítica do filme: 'O Lobo do Deserto'



A guerra é feita para que os mais fortes vivam, e os mais fracos lutem pela sobrevivência. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pela Jordânia, O Lobo do Deserto é um filme com uma fotografia belíssima, uma direção determinada e atuações concentradas. A sutileza envolta de situações extremas é a assinatura de Naji Abu Nowar que marca sua estreia na direção de longa-metragem. Mas, mesmo com ótimas qualidades técnicas, é necessário dizer que é um filme deveras difícil e para alguns será facilmente esquecido. 

Na trama, ambientada em parte do período da primeira guerra mundial, conhecemos o jovem Theeb (Jacir Eid Al-Hwietat) um menino, muito apegado com seu irmão, que vive com sua família na província otomana de Hijaz. Certo dia, um soldado do exército britânico aparece buscando ajudando para encontrar um lugar. Assim, em meio a um deserto cheio de perigos, Theeb e seu irmão vão ajudar o soldado e acabam encontrando uma aventura que fará Theeb amadurecer bem mais rápido que qualquer outro menino de sua idade.

Com diálogos amadurecidos, personagens convincentes e excelente tecnicamente, O Lobo de Deserto, instiga no espectador uma profundidade ampla sobre o contexto para definir as ações e reações da trama. A descoberta de várias coisas ao mesmo tempo, um precoce amadurecimento evidente e um espírito indomável do jovem protagonista são algumas das marcas desta história forte sobre o cotidiano de uma região em tempos de guerra. O filme não veste o rótulo de comercial, longe disso, prefere detalhar sua ambientação e conta muito com a força dos poucos personagens que vemos em cena. 

Vencedor do prêmio de Melhor Diretor na conceituada mostra Horizontes do Festival de Veneza 2014, Naji Abu Nowar brinda o público com uma aula de como fazer cinema em alto nível usando muita habilidade para contextualizar complexas situações ambientadas em um passado conturbado de uma região muitas vezes esquecida por todos nós.
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20/02/2016

Crítica do filme: 'El Desconocido'

Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta espanhol Dani de la Torre percorre o gênero de ação e Thriller para contar uma história bem agitada que guarda algumas boas surpresas já no seu arco final. Protagonizado pelo excelente ator espanhol Luis Tosar, El Desconocido passa do drama para a ação com a maestria de outros bons filmes que se assemelham em sua estrutura. O único pesar é que talvez o filme nunca ganhe as telonas do circuito nacional.

Na trama, conhecemos a história de um executivo de contas de um forte banco chamado Carlos (Luis Tosar) que passa por uma grave crise em seu casamento e possui uma relação bem distante com seus dois filhos. Certo dia, logo após sair de casa com os dois filhos no carro, recebe uma ligação misteriosa dizendo que embaixo do carro tem uma bomba e que se o carro parar o explosivo se acionará automaticamente. Desesperado, Carlos vai precisar de muito sangue frio para entender o porquê está nessa situação e quem está fazendo isso com ele.

O filme se parece um pouco com Locke (2013), protagonizado por Tom Hardy. A adrenalina, angústia e surpresa são exatamente no mesmo nível. El Desconocido ainda usa mais elementos para elucidar a história ao público. O excelente ator espanhol Luis Tosar mais uma vez dá um show em cena. Desde seu início, sabemos que o personagem chave da trama esconde alguns segredos que acabaram provocando as conseqüências dos atos mostrados. Ao longo dos 102 minutos, não conseguimos tirar os olhos da tela, fruto do excelente desenvolvimento de uma trama que tinha tudo para ser tão simples mas se mostra aos poucos bem complexa.


Se algum dia você leitor tiver chance de conferir a esse filme, não pense duas vezes.  El Desconocido reúne elementos fantásticos e bem criativos que tornam a experiência de ver a esse filme algo fantástica.
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13/02/2016

Crítica do filme: 'Misconduct'

Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade. Em seu primeiro longa-metragem, o cineasta Shintaro Shimosawa tem a complexa missão de dirigir dois monstros sagrados do cinema. Misconduct, estrelado por Anthony Hopkins e Al Pacino, é um filme um pouco parecido com outros trabalhos do gênero, só que com alguns diferenciais nas composições dos personagens. O roteiro, assinado pela dupla Simon Boyes e Adam Mason, é estranhamente mentecapto.

Neste thriller dramático, conhecemos o ambicioso advogado Ben (Josh Duhamel), um homem que passa por uma crise no casamento por conta de uma tragédia que aconteceu. Sua mulher Charlotte (Alice Eve) é uma mulher gelada que praticamente vive no hospital onde trabalha. Certo dia, Ben encontra uma ex-namorada chamada Emily (Malin Akerman) que esconde informações confidenciais sobre o namorado, o bilionário Denning (Anthony Hopkins), que interessam o escritório de advocacia onde Ben trabalha, que é comandado por Abrams (Al Pacino). Assim, Ben acaba se metendo em uma trama misteriosa onde precisará tomar muito cuidado a cada nova revelação.

Misconduct, como um todo, é uma fita apenas regular. Exemplo de pontos positivos: vemos uma composição mais puxada para a realidade dos personagens, com destaque para o ambíguo Denning (Hopkins e sua eterna elegância em cena) e a quase robótica Charlotte, essa última muito bem interpretada pela atriz Alice Eve. Exemplo de pontos negativos: a falta de criatividade do roteiro para dar bons andamentos para as subtramas (que acabam sendo excessivas e atrapalham o entendido de parte da história), Josh Duhamel (infelizmente se perde em alguns momentos).


O longa-metragem, ainda sem data de estreia no circuito brasileiro, deixa a desejar. Mesmo quem curte filmes de suspense tende a se decepcionar bastante. 
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09/02/2016

Crítica do filme: 'O Clube'

Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes. Indicado ao Oscar pelo Chile, a brilhante fita O Clube, dirigida pelo cineasta Pablo Larraín é sem dúvidas um dos melhores filmes do último ano. Não perdendo nem um segundo da atmosfera pesada, fruto dos passados dos personagens, o corajoso filme é um soco no estômago para quem ainda tinha qualquer dúvida sobre alguns absurdos que a Igreja Católica escondeu, esconde e esconderá do planeta.

Grande vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim em 2015, O Clube conta a história de alguns homens ligados à Igreja Católica que se escondem de seus passados em uma casa no interior, ajudados por uma freira. Sem total ligação com o mundo e vivendo dia após dia enclausurados em seus pecados, certo dia recebem a visita de um padre que remexerá toda a angústia e aflição desses ex-padres.

 O roteiro, assinado pela dupla Daniel Villalobos e Guillermo Calderón é brilhante. O longa-metragem parece uma peça teatral, muito bem definida em seus atos. Impressionante as verdades ditas. Todos os atores estão inspirados. Mas o grande destaque é a direção. Com muita técnica e simplicidade, consegue captar toda a angústia dos personagens principalmente nos momentos chaves da trama, uma aula de direção de Larraín.


Mesmo falando abertamente as verdades sobre situações que ocorreram com pessoas ligadas à Igreja Católica e toda a polêmica que levanta, o longa-metragem foi aclamado em diversos festivais e quase conseguiu uma das cinco vagas finais para concorrer ao Oscar de Melhor filme estrangeiro neste ano. Não percam O Clube, um filme forte e uma grande aula de cinema.
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Crítica do filme: 'Moonwalkers'

Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino. Em seu primeiro longa-metragem no currículo, o cineasta Antoine Bardou-Jacquet resolve aceitar um projeto inusitado escrito pelo roteirista do excelente Morte no Funeral (as duas versões), Dean Craig. Dessa vez, Craig não consegue ajeitar o tom da comédia e tudo para muito exagerado, além da falta de força cênica, carisma mesmo, dos protagonistas em cena. Jacquet se perde do início ao fim, talvez fruto de sua inexperiência, não consegue realizar um bom trabalho.  

Na trama, no final da década de 60, acompanhamos o perturbado agente da CIA Kidman (Ron Perlman) que se mete em uma missão deveras peculiar: encontrar com o diretor Stanley Kubrick e propôr que o mesmo grave uma espécie de filme, do homem pisando na lua, caso a aventura norte-americana no espaço não desse certo. Mas tudo vai por água abaixo quando Kidman se confunde e acaba entregando a ideia sobre o filme para Jonny (Rupert Grint), um trambiqueiro que no final acabará ajudando Kidman a tentar conquistar seu objetivo, só que sem Kubrick.

A ideia inicial era boa: mexia com Kubrick, uma fake viagem à lua, personagens excêntricos em uma Londres de outros tempos, muito louca. A aplicação disso tudo foi um desastre. Deram margem ao extremo da loucura que o roteiro deixava de alcance e esqueceram que o filme poderia ser bem mais que isso. Personagens perdidos em cena, um roteiro que não consegue se ajustar, uma direção confusa. A decepção é tamanha que vira quase um pecado cinéfilo usar o nome do grande Stanley Kubrick numa bobagem desse tamanho.


O filme tem boas cenas de ação e uma abertura criativa mas somente isso. Muito pouco para ser apenas um filme regular, imagina um filme bom. Moonwalkers é uma grande decepção, não há como negar. Ainda bem que o homem foi à lua. Ou será que não foi?
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Crítica do filme: 'Amor ao Primeiro Filho' (Ange et Gabrielle)

Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências. Escrito e dirigido por Anne Giafferi Amor ao Primeiro Filho é mais um daqueles filmes água com açúcar que os franceses adoram produzir ao longo dos anos. Variando entre bons e arrastados momentos, o longa-metragem estrelado pela dupla Isabelle Carré e Patrick Bruel é um daqueles projetos que muitas vezes passam desapercebidos pelo público cinéfilo.

Na trama, conhecemos o arquiteto de sucesso e hipocondríaco Ange (Patrick Bruel) um mulherengo que no passado não quis assumir uma suposta criança que seria seu filho. Como a vida dá voltas, certo dia, uma farmacêutica de meia idade invade seu escritório e pede uma curiosa ajuda de Ange, para ajudá-la a convencer seu suposto filho a assumir a paternidade de uma criança fruto do relacionamento desse suposto filho com a filha da farmacêutica em questão. Confusão criada, agora Ange precisará passar um apressado processo de amadurecimento para poder resolver todas as questões não resolvidas tanto do seu passado, quanto de seu presente.

Ange et Gabrielle, no original, é um típico filme sessão da tarde. O roteiro é raso, apesar de bons diálogos que acompanham a corrida história. A falta de profundidade afasta um pouco o público dos personagens e automaticamente da trama em si. Há bons momentos, principalmente quando o filme ganha uma virada, e o relacionamento entre os protagonistas fica mais próximo. A melhor cena do filme é quando pai e filho precisam cuidar de um bebê e acabam se atrapalhando bastante. Situação já vista em outros filmes e de maneira bem parecida, nada original.


Sem previsão de estreia no circuito brasileiro, com boas possibilidades de ir direto para as locadoras, Amor ao Primeiro Filho não é um filme ruim mas um projeto muito parecido com outros filmes do gênero. Nada mais de especial. 
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