Com camadas habilmente construídas e guiado por um sentimento profundo de compaixão, o curta-metragem La Falta expõe, de forma crua e sensível, a dor de quem observa de fora uma tragédia em curso. Através do olhar de profissionais da educação, somos levados a enfrentar uma situação devastadora que marca para sempre a vida de uma aluna. Selecionado para a mostra competitiva de curtas sul-americanos do Bonito CineSur 2025, o filme desponta como um dos fortes candidatos ao troféu Kadiwéu.
Escrito e dirigido por Carmela
Sandberg, o curta de apenas oito minutos mergulha o espectador em uma
atmosfera densa de tensão e incerteza. Tudo começa quando o diretor de uma
escola primária recebe um telefonema devastador: a mãe de Bianca, uma aluna de
apenas 9 anos, sofreu um grave acidente a caminho da escola e está entre a vida
e a morte no hospital. Diante da tragédia iminente, ele e outros professores se
veem diante de um dilema delicado — como comunicar à menina uma notícia que
mudará sua vida para sempre.
Esta coprodução entre Argentina e Uruguai lança luz sobre um
recorte sensível do sistema educacional, explorando suas nuances a partir de
uma tragédia familiar. Ao longo de toda a narrativa — ambientada inteiramente
na sala do diretor, espaço que por si só carrega o peso de decisões difíceis —,
o lado humano dos educadores se sobrepõe aos protocolos. São suas ações,
hesitações e dilemas que conduzem nosso olhar, revelando a complexidade de
lidar com o inesperado quando o papel de ensinar se entrelaça com o de cuidar.
Impressiona o clima constante de tensão que atravessa o
curta do início ao fim, sustentado por uma composição visual precisa e
enquadramentos objetivos. A câmera captura com sensibilidade o pulsar emocional
dos personagens, revelando um olhar de dentro para fora — uma conexão que se
estabelece, sobretudo, nas reações daqueles que recebem a notícia: do diretor à
sua equipe, até chegar à própria aluna. Uma dinâmica harmônica que encaixa como
uma luva na proposta do filme.