As angústias e o aprender através de um desabafo. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim desse ano, o longa-metragem norueguês Dreams busca, ao triangular três gerações de mulheres da mesma família, ótimos debates que vão de encontro aos impulsos nas experiências de vidas e as hipocrisias nas validações da sociedade sobre alguns assuntos tabus. Com seus intensos diálogos – nunca desinteressantes – e uma imersiva narradora-personagem somos convidados ao deleite de reflexões que são apresentadas através do sobe e desce nas escadas que interligam emoções.
Johanne (Ella Øverbye)
é uma jovem estudante do ensino médio que após a chegada da nova professora de
francês Johanna (Selome Emnetu)
começa a desenvolver uma intensa paixão por ela. Buscando uma solução para
entender melhor toda essa bomba de emoções que está vivendo, resolve escrever
todos seus sentimentos e experiências em um diário. Até que um dia convida sua
avó Karin (Anne Marit Jacobsen) e
sua mãe Kristin (Ane Dahl Torp) para
ler todas as páginas desse amor proibido, causando um choque entre as três gerações.
O cineasta – e também bibliotecário – norueguês Dag Johan Haugerud, de 60 anos, resolveu
criar uma trilogia sobre a tão profunda complexidade nos relacionamentos
humanos através de sua observação sobre a sociedade. Dreams é o terceiro e último filme desse ciclo. O roteiro – todo escrito
por Haugerud – atravessa a exposição
radical da intimidade de uma adolescente abrindo camadas de percepções mundanas
através do desenvolvimento de todas as ótimas personagens.
A narrativa consegue captar o psicológico com o sociológico,
um arranjo corajoso que dentro da fórmula explorada ganha-se muito na
curiosidade pelo desfecho. Através de longos diálogos – algo que pode soar
cansativo para parte do público - degrau por degrau vamos navegando pelo mar da
desilusão de uma juventude sedenta por descobertas (principalmente os impulsos
sexuais), os desencontros da meia idade e as validações das certezas da melhor
idade.
Ainda mais a fundo, enxergamos rapidamente o ponto
psicológico, muito bem amarrado no roteiro, que parece caminhar paralelo a tudo
que assistimos. O enfrentar sozinho, as soluções ao expressar desejos e sonhos,
até mesmo a tentativa de abertura com um psicólogo. Já no lado sociológico,
vemos um interessante um exercício quando percebemos que o refletir passa para
o outro numa gincana de autodescobertas.
Dreams foi o
filme de abertura da 1ª edição do Festival de Cinema Europeu Imovision e deve
ganhar espaço no circuito exibidor brasileiro ainda esse ano.