Chegou esta semana à Netflix um filme argentino que apresenta, de forma bem-humorada, um drama sobre internação não voluntária – questão que teve mudança na legislação argentina anos atrás. Dirigido e protagonizado pelo uruguaio Daniel Hendler, o projeto, baseado na obra Veintisiete Noches, escrita por Natalia Zito, busca, sem se prolongar, ampliar os debates sobre o bem-estar psicológico.
Buscando, em uma fórmula que combina ponderação e sutileza,
alguns caminhos para boas reflexões, um dos méritos desse filme é suavizar o
‘pé da letra’ sem se reduzir a uma obra simplória. Entre, emoções,
comportamentos e uma passada rápida nas burocracias jurídicas, o tema da saúde
mental vira um elemento crucial - e nada maçante - que circula durante toda a
trama.
Leandro (Daniel
Hendler) é um perito designado por um tribunal para avaliar Martha (Marilú Marini), uma mulher octagenária,
depois que suas filhas a internam, de forma involuntária, em uma clínica, com a
justificativa que sofre com demência frontotemporal e vem tomando atitudes
suspeitas. Conforme vai se aproximando da mulher, ele acaba entendendo melhor
todo o contexto, passando também por uma enorme transformação em sua própria
vida.
O conflito geracional e as formas de compreender a vida são
alguns dos assuntos que permeiam os personagens, sempre tendo uma direção rumo
ao lado humano e suas contradições. Mesmo com coadjuvantes colocados em segundo
plano, a troca de perspectiva entre Leandro e Martha funciona muito bem,
garantindo um alicerce para o ritmo não se perder.
A simpática narrativa molda seu desenrolar equilibrada entre
o presente - ambientado algumas décadas atrás – e os flashbacks, ajudando a
contar essa história. Sob o ponto de vista do protagonista – um personagem
longe do carisma - chegamos até as poucas camadas que se abrem. Nada é muito
profundo por aqui, mas a obra não deixa de ser relevante, principalmente por
explorar com eficácia e leveza pontos de vistas, descontruindo assim o tema
cisudo.