30/07/2014

Crítica do filme: 'Sobrevivente'



Se a sua vida for a melhor coisa que já te aconteceu, acredite, você tem mais sorte do que pode imaginar. Baseado em uma inacreditável história real, o novo trabalho do bom diretor Baltasar Kormákur, Sobrevivente, é a jornada de um homem em busca de sobrevivência em uma situação deveras extrema. Mas se vocês pensam que o filme se resume a um homem jogado ao mar pela força da natureza, estão enganados! Na verdade o grande clímax do filme acontece quando ele sai das águas geladas e enfrentam o conturbado mundo da ciência. 

Na trama, acompanhamos o tímido e querido pescador Gulli (interpretado pelo inspirado ator Ólafur Darri Ólafsson), um homem que durante o inverno de 1984 na Islândia se vê em uma situação delicada quando o barco onde estava naufraga nas águas do atlântico norte. Após nadar por inacreditáveis seis horas e enfrentar vários percalços nessa desumana trajetória pela sobrevivência, consegue chegar são e salvo em casa. Mais a dor de Gulli não termina por aí, agora precisa enfrentar a dor da perda dos amigos nesse acidente e a curiosidade de cientistas que insistem em fazer testes para descobrir como foi possível um ser humano viver 6 horas nas águas mais geladas do mundo.

O que mais impressiona neste belo trabalho, é a impecável direção de Kormakúr. As cenas do naufrágio são pensadas de maneira inteligente. Nessas tensas sequências, o espectador praticamente é transportado para dentro do atlântico norte e acompanha as dores do protagonista. Tudo foi filmado de maneira tão real que impressiona. Mesmo tendo um consequente spoiler no seu título, Sobrevivente ganha o coração do cinéfilo quando chega ao seu clímax quando, passado pela situação extrema, seu personagem principal enfrenta o insensível mundo da ciência que praticamente quer fazer de Gulli uma cobaia. Nesse momento o ator Ólafur Darri Ólafsson toma conta da tela e nos mostra uma viagem de autoconhecimento inspiradora. 

O filme, que se passa na década de 80, consegue fazer um retrato fiel ao que eram as condições que os tripulantes dos navios de pescas daquela região, praticamente esquecida pelo planeta, viviam. Talvez por isso, ao final do longa, juntamente com depoimentos do verdadeiro Gulli, uma bela dedicação a esses bravos trabalhadores é colocada em aberto ao público. Indicado ao Oscar pela Islândia no ano passado, Sobrevivente é um filme que você precisa conferir.
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27/07/2014

Crítica do filme: 'Miss Violence'



O famoso Carl Gustav Jung dizia: “O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o”. Será, Jung? E vem da Grécia, um dos filmes mais chocantes que entrarão em circuito neste ano aqui no Brasil, Miss Violence. Vencedor de alguns prêmios no último Festival de Veneza, a história impactante dirigida por Alexandros Avranas (que também assina o roteiro) fala sobre a violência absurda embutida em uma família grega de classe média cheia de regras e punições. Esse é um daqueles trabalhos que deixarão o público assustado.

Na trama, sem nenhum tipo de introdução, somos guiados para dentro do dia do aniversário de 11 anos da jovem Angeliki, que de repente e sem ninguém entender, se joga da janela da casa onde mora com sua mãe, seus irmãos e avós. A polícia e o serviço social são chamados e tentam a todo custo descobrir a razão desse suicídio. Assim, somos guiados para o cotidiano tenebroso dessa estranha família que tem na figura do avô (interpretado de maneira brilhante pelo ator Themis Panou) a razão de seu mistério.

Miss Violence é um filme muito forte que vai causar indignação de grande parte do público. Coloca em questão assuntos polêmicos, como: a prostituição infantil, a violência doméstica e o suicídio. É um trabalho de direção muito interessante de Avranas que praticamente coloca os olhos do espectador dentro do dia a dia dessa família. Talvez por isso, seja tão chocante. A passividade do restante da família em relação as ações absurdas do Avô, causam espanto de todos.  

Os cineastas gregos, volta e meia, chegam com filmes impactantes, que incomodam. Lembram do tenebroso Dente Canino? Miss Violence com certeza terá uma classificação de 18 anos, realmente as cenas são fortes, chocantes. Esperamos que esse detalhe da classificação não atrapalhe alguns cinemas de exibir esse grande filme aqui no Brasil. Por mais fortes que esses filmes sejam, não há como negar a qualidade no cinema deste país. Esses dois trabalhos, que muito se assemelham, são uma brilhante crítica social.
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Crítica do filme: 'Omar'



O destino é uma fábula quando não se encontra uma saída para sua própria sobrevivência. Um dos filmes indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro do ano passado, é um retrato marcante e emocionante sobre um tema atemporal que causa dor e sofrimento ano após ano. Omar é muito mais que uma história de amor, é muito mais que um conflito sobre raízes, é um filme sobre traição que mostra que alguns destinos já estão traçados. Dirigido por Hany Abu-Assad e com uma atuação inspirada do ator Adam Bakri, o projeto foi o primeiro filme palestino a ser indicado ao Oscar.

Na trama, acompanhamos a vida de Omar (Adam Bakri), um padeiro que vive com a família na Cisjordânia, ocupada. O protagonista e seus dois amigos de infância, fazem parte de um movimento de libertação e lutam à sua maneira pela liberdade de seu povo. Omar é apaixonado por Nadia, irmã de um desses amigos, e isso sempre o coloca em dúvida de como seguir lutando. Quando uma traição ocorre nesse grupo revolucionário, Omar é preso e precisa decidir de qual lado ele está nesse grande conflito.

O filme navega em temas polêmicos que giram em torno do conflito milenar entre Israel e Palestina. A violência a todo instante, os julgamentos premeditados da comunidade, as traições que ocorrem a todo instante, a detenção e o tratamento desumano, torturas e rebeliões por uma causa. Ninguém é inocente nessa história. Por lutarem pelas convicções que acham as corretas, não há como ter um dia de paz nesses lugares.

A grande sacada do filme é o desdobramento da história de amor que lhe é embutida. Mas vocês pensam que isso deixa a história mais leve? Bonitinha? Nada disso. Não há clichês, percebemos novas verdades cruéis a cada sequência. Omar é um sobrevivente em um mundo de dor e violência, como milhões de pessoas que sofrem por conta desse imbecil conflito entre Israel e Palestina.

Já em seu desfecho (que final espetacular, emblemático!), com os créditos aparecendo na tela sem nenhuma trilha sonora, começamos a raciocinar e abrir os olhos de que o filme terminou mas o conflito infelizmente continua e cada vez mais sem finais felizes.
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03/07/2014

Crítica do filme: 'Muppets 2: Procurados e Amados'



Um sucesso do passado pode fazer sucesso no presente? Chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira (26.06) a sequência de Os Muppets – O filme, comédia infantil baseada no clássico programa de televisão de anos atrás. Dirigido por James Bobin e com Ricky Gervais e Ty Burrell no elenco, Muppets 2: Procurados e Amados é um tantinho de mais do mesmo misturado com comédia pastelão. Não se propõe a absolutamente nada, nem divertir.

Na trama, voltamos a acompanhar os simpáticos Caco (também conhecido como Kermit), Pig, Gonzo e o restante da turma, agora com o objetivo de fazer uma turnê mundial. Para isso, acabam se juntando a Dominic (Ricky Gervais), um falso cara bonzinho, que na verdade é um criminoso perigoso. Assim, em maus lençóis, os amiguinhos precisarão reunir forças para combater os obstáculos. 

O carisma dos Muppets rompeu gerações na televisão. No formato cinematográfico, nem tanto porque não conseguiu ser um filme divertido para os adultos também. Essa sequência é mais uma daquelas dispensáveis que não acrescentam em nada a toda nostalgia que os personagens conseguiram reviver ao longo desse tempo. O roteiro é chato e sem complemento para as sequências; é maçante e poucos risos vão ser escutados nas salas de cinema. 

A sorte do longa-metragem é que não há em cartaz tantos filmes infantis. Os papais e as mamães é que ficarão reféns dessa história. A tentação para assistir a esse filme será grande, já que ir ao cinema cada vez mais voltou a ser um programa de fim de semana de muitas famílias brasileiras. Para esses, vai uma dica: aluguem A Bela e a Fera, Alladin, O Rei Leão e passe para a criançada.
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Crítica do filme: 'O Grande Hotel Budapeste'



Existe valor para uma grande amizade? Para falar sobre a trivialidade dos sentimentos do ser humano, ninguém melhor que o cineasta, queridinho dos cinéfilos, Wes Anderson (Moonrise Kingdom). Seu mais novo trabalho, O Grande Hotel Budapeste, é uma incrível aventura percorrida através do real valor de uma amizade. Com uma atuação espetacular de Ralph Fiennes (com toda a pinta que vai ser indicado ao próximo Oscar), esse filme vai agradar a grande maioria do público. É uma obra que empolga o espectador, do início ao fim.

Na trama, conhecemos o atual dono do famoso Grande Hotel Budapeste, um homem com um passado sofrido que por meio de flashbacks relembra toda sua história de aventuras inesquecíveis ao lado de seu grande amigo M. Gustave (Ralph Fiennes). Baseado em textos de Stefan Zweig, o roteiro adaptado assinado pelo próprio diretor é o paradoxo quebrado entre o muito bom e o muito bom ainda mais bom. 

A trama, dividida em partes (a La Von trier), é recheada de elemntos fascinantes. Depois de mais esse belo trabalho, não há mais dúvidas sobre a genialidade e originalidade de Wes Anderson que neste novo projeto, consegue executar com maestria todas suas brilhantes ideias em meio a planos incríveis. O mais impressionante nos trabalhos do diretor é que se você acha que seu modo de filmar é sempre igual, você se agarra aos personagens e fica tudo maravilhoso outra vez.

Forçando um sotaque engraçado, andando de Bobsled, passando um perfume atrás do outro, o carismático M. Gustave rouba a cena graças a interpretação iluminada do sempre ótimo Ralph Fiennes. Inseguro, pobre e depois rico, o mais famoso funcionário do Grande Hotel Budapeste se joga em diálogos deliciosos que conquistam o público rapidamente. Em meio a um grande conjunto de rostos conhecidos pelo grande público (Willem Dafoe, Adrien Brody, Edward Norton, Bill Murray, Tilda Swinton, Jude Law, entre outros), Fiennes é a grande atração. 

Com personagens excêntricos, situações inusitadas, uma fantasia disfarçada de ficção e muito bom humor, O Grande Hotel Budapeste é sem dúvidas um dos grandes filmes deste ano. Corram para os cinemas! Bravo!

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