04/06/2016

Crítica do filme: 'Lolo, o Filho da Minha Namorada'



O amor de mãe é o combustível que capacita um ser humano comum a fazer o impossível. Dirigido pela queridinha francesa que todos nós amamos Julie Delpy (Antes do Amanhecer), a comédia Lolo, o Filho da Minha Namorada é um típico filme da sessão da tarde com uma imersões estranhas ligadas a uma certa psicopatia doentia do filho da protagonista. O longa-metragem, longe de ser um drama como alguns podem falar, é modelado para ser uma comédia para tirar muitos risos, porém, a trama é fraca e acaba não se sustentando ao longo dos sonolentos 99 minutos de projeção.

Na trama, acompanhamos a elegante, chique e bela quarentona Violette (Julie Delpy), uma produtora de eventos de Moda que mora em Paris. Certo dia, de férias no sul da França, acaba conhecendo o ‘hacker’ Jean René (Dany Boon), um homem que vive uma vida simples mas que está de mudança para a capital francesa. Logo, inicia-se um amor entre os dois. Quem não gosta nada disse é Lolo (Vincent Lacoste), o filho mimado de Violette, um jovem inconsequente e totalmente obsessivo na relação mãe e filho. Assim, lutando contra Lolo, Jean Rene precisará ter muita paciência para conseguir viver feliz ao lado do grande amor de sua vida.  

Há uma certa camuflagem na apresentação dos personagens. Violette, por exemplo, se mostra firme e confiança no início do filme mas quando vemos a relação exagerada dela com o filho percebemos uma imaturidade ingênua, que é por pouco tempo explorada pela trama. Já Lolo, de filhinho querido da mamãe, vira um psicopata igual a de filmes de suspense. O único que se mantém bastante original é Jean René, pacato, humilde e amoroso o personagem tenta levar o filme nas costas e até consegue por boa parte da projeção. Mas os exageros que o roteiro comete, nas situações que passam os personagens, atrapalham demais e incomodam muito. O filme se mantém em uma linha reta, veste a camisa de ser uma trama artificial e sem graça. 

Lançado em outubro do ano passado na França, Lolo, o Filho da Minha Namorada é uma água com bastante açúcar, completamente esquecível logo assim que dobramos a esquina na saída do cinema.
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Crítica do filme: 'Um Doce Refúgio'



Escrito, dirigido e interpretado pelo artista francês Bruno Podalydès, o filme mais doidinho do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, Um Doce Refúgio, é uma prosa leve e suave sobre o despertar para a vida através de uma simples obsessão. Ao longo dos 105 minutos de projeção, vamos navegando com o protagonista em seu mundo secreto e explorando a cada sequência um inconsciente muito particular. É um daqueles filmes que você ama ou você odeia.

Na trama, conhecemos o tímido e contido Michel (Bruno Podalydès), um artista gráfico que vive uma pacata vida com sua mulher Rachelle (Sandrine Kiberlain). Andando com sua motinho de casa para o trabalho e do trabalho para casa, mostra não estar muito feliz com a vida que leva. Michel é fascinando pelo mundo aeronáutico e sem querer acaba descobrindo que um caíque tem uma engenharia parecida. Assim, resolve comprar esse enorme objeto, escondido de sua mulher e amigos, e acaba embarcando em uma peculiar história de autodescoberta.

Para comprar a ideia deste trabalho é preciso muita atenção à psicologia agregada ao personagem. Obviamente estamos vendo um obsessivo sonhador que de uma maneira totalmente inconsequente e silenciosa resolve descobrir outras opções e caminhos para sua vida sem graça. Explorando sonhos, uma relação um pouco distante com uma convivência social, e um certo erotismo dentro de sua acesa imaginação, Michel aos poucos vai mostrando-se para o público. O personagem ao longo da projeção vai se abrindo devagarinho e assim vamos descobrindo sua essência. 

Comme un avion, no original, possui ótimos coadjuvantes que ajudam a contar essa história. As ótimas Agnès Jaoui e Vimala Pons são as responsáveis para uma inversão interessante que acontece já perto do ato final. O que não dá para negar é que durante toda a projeção, há uma naturalidade e originalidade impactantes, fruto, provavelmente, do filme ser escrito, dirigido e protagonizado pela mesma pessoa. Atenção professores e estudantes de psicologia, Um Doce Refúgio é um projeto que pode interessar bastante vocês.
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Crítica do filme: 'Os Cowboys'



Até onde devemos ir por quem amamos mas não querem estar perto com nossa presença? Um dos filmes mais fortes do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, sem dúvidas nenhuma é o espetacular drama Os Cowboys, protagonizado pelo ótimo ator François Damiens e com uma atuação digna de Oscar do ator britânico Finnegan Oldfield. Ao longo dos tensos 105 minutos de projeção, onde não conseguimos desgrudar os olhos da tela, vamos sendo apresentados a personagem movidos pela angústia e uma série de consequentes ações desesperadas em prol de único objetivo que acaba consumindo e destruindo uma família de classe média francesa. Em seu primeiro longa-metragem como diretor, o cineasta francês Thomas Bidegain brinda o público com uma trama muito bem dirigida e com atuações bem acima da média. 

Na trama, conhecemos brevemente toda a família de Alain (François Damiens), um trabalhador de classe média que mora com sua mulher e os dois filhos no leste francês. Alain é um amante da cultura country e sempre vai com sua família a um famoso encontro onde confraterniza com outros amigos. Certo dia, num desses encontros, sua filha Kelly desaparece misteriosamente, levando Alain a uma desesperada busca por informações sobre a jovem. Os anos se passam e somente seu filho Kid (Finnegan Oldfield), que praticamente sacrifica sua adolescência, acredita e ajuda seu pai a tentar encontrar Kelly.

O clima é tenso desde o início. A trilha sonora composta por Moritz Reich (Fique Comigo, 2015) encaixa como uma luva e consegue deixar o público em total sinal de atenção as sequências fortes. François Damiens, na pele de Alain está possuído, embarca em um caminho sem rumo desesperado em busca de sua filha. A angústia é constante e impressionante. Isso obviamente destrói seu relacionamento com o restante de sua família. Essa estrada sem fim é acompanhada de perto por seu filho Kid que é o único que também ainda acredita que eles possam encontrá-la. Os Cowboys é um filme sobre família mas também sobre até onde o ser humano pode ir para defender suas convicções.

O longa é recheado de surpresas. Uma delas é que Kelly não é sequestrada. O porquê do sumiço dela (que não vou contar aqui) é um dos grandes trunfos do filme que explora muito bem a reação da família ao saber o que aconteceu com ela. Uma segunda surpresa é a surpreendente troca de protagonismo já entre o segundo e o terceiro ato, com o mesmo objetivo só que com um olhar um pouco diferente sob a situação a trama cresce demais nos últimos 30 minutos de projeção.  

Os Cowboys, ainda sem previsão de estreia no circuito brasileiro, é um dos grande filmes que você precisa ver no Festival Varilux de Cinema 2016 que começa no próximo dia 09 de junho em muitas salas do Brasil.
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Crítica do filme: 'Um Belo Verão'



Tão bom morrer de amor e continuar vivendo. Dirigido pela cineasta francesa Catherine Corsini, do ótimo Partir (2009), Um Belo Verão, que faz parte da programação do Festival Varilux de Cinema Francês 2016, é um filme que fala sobre a luta das mulheres na década de 70 e um amor que nasce ingênuo e vira uma página importante na história das envolvidas. Um dos grandes destaques do longa-metragem é o belo roteiro assinado pela dupla Catherine Corsini e Laurette Polmanss que consegue com maestria dominar a atenção do público contando sempre com a ajuda de uma singela dose de empatia das ótimas personagens. 

Na trama, acompanhamos a trajetória da jovem Delphine (Izïa Higelin), filha única que vive no interior da França com seu pai e sua mãe. Certo dia, resolve abandonar sua família para descobrir o mundo em uma Paris no ano de 1971, lugar onde está passando por uma época de transformações intensas ligada à liberdade sexual e ao feminismo. Assim que chega na capital francesa, logo se aproxima de uma grupo de mulheres que lutam pelos direitos das mesmas, fazendo inúmeros protestos e invadindo conferências sobre temas polêmicos. Uma das líderes do grupo é Carole (Cécile De France), uma bela mulher que vive com seu namorado Manuel. Com o passar do tempo, Delphine e Carole vão se aproximando e acabam de apaixonando intensamente, provocando uma série de conflitos para ambas. 

Um Belo Verão se sustenta na força do amor. Fala com garra e inteligência sobre a força das mulheres em sua constante luta de igualdade de direitos. Entre esses dois universos, o do amor e o da luta feminina, giram as ótimas personagens interpretadas pela excelente atriz belga Cécile de France e pela jovem francesa Izïa Higelin. Delphine é uma jovem que sempre ajudou seu pai nos trabalhos na fazenda onde mora. Quando descobre Carole, uma mulher independente, pra frente, com muita atitude e delicadamente bela se entrega completamente a uma paixão cercada de preconceito e dúvidas em relação à liberdade desse amor. Carole descobre sua sexualidade com Delphine, se entrega e se apaixona como nunca antes fizera, vive a cada dia tentando mostrar ser merecedora do amor de Delphine. O conflito entre as duas acontece por conta da fragilidade nas atitudes de Delphine que tem muito medo do que os outros vão pensar se descobrirem sobre elas.

Se o final é triste ou não, não vou dizer. Mas acredito muito que esse belo trabalho deixa em nossa memória uma linda mensagem sobre como viver. A liberdade, a igualdade, pontos importantes na ideologia francesa ao longo das décadas, são fundamentais para que tenhamos o livre arbítrio de respirar as experiências de vida que achamos as mais felizes para nossa existência.
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02/06/2016

Crítica do filme: 'Agnus Dei'



Não é preciso que a bondade se mostre mas sim é preciso que se deixe ver. Com uma direção muito competente e segura da cineasta Anne Fontaine, um dos grandes destaques do Festival Varilux de Cinema 2016, Agnus Dei, é um filme que comove do início ao fim. Baseado em fatos reais ocorridos em uma Polônia cheia de problemas por conta da Guerra, o longa-metragem possui um roteiro envolvente e atuações acima da média que chega ao brilhantismo quando aborda o conflito da fé.  

Na trama, voltamos à Polônia no ano de 1945. A fria enfermeira Mathilde Beaulieu (Lou de Lâage) trabalha como assistente de medicina em um posto da Cruz Vermelha. Certo dia, uma misteriosa freira procura por ajuda de algum médico no posto, a única que se mexe para ajudar é Mathilde que acaba descobrindo que soldados soviéticos violentaram algumas mulheres no covento e que muitas dessas estão grávidas. Tentando ajudar a qualquer custo, a corajosa enfermeira enfrentará a todos para ajudar as freiras.

Protagonizado pela belíssima atriz Lou de Laâge, que encantou os cinéfilos com sua atuação no excelente Respire (2014), Agnus Dei, começa com um primeiro ato um pouco morno, demora um pouco para se encaixar. Nesse primeiro quadrante encontramos uma Polônia devastada pela guerra, com órfãos jogados pelas ruas e por uma estranha força militar soviética que assombra a região onde está o posto da Cruz Vermelha. O segundo ato, foca no conflito pessoal da enfermeira protagonista com as regras impostas pela irmã chefe, por conta do ocorrido, dentro do covento. Nos atos seguintes, o desenvolvimento das ações e conclusão dos fatos são feitos de maneira mais homogênea pois utilizam os conflitos da fé como interseção. 

Les Innocentes, no original, não é um filme fácil. Ao longo dos quase 120 minutos de projeção, vamos navegando nas histórias tristes que as grandes guerras produziram durante todos os anos de conflito. Tem que ter um coração forte, é um poderoso drama com muitos momentos emocionantes.  
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