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02/05/2025

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Crítica do filme: 'Monsieur Aznavour'


A incessante busca pelos aplausos. Com o enorme desafio de contar em cerca de duas horas momentos marcantes de um dos mais populares e longevos cantores franceses da história, a dupla Mehdi Idir e Grand Corps Malade opta pelas pinceladas em atos bem divididos trazendo ao público fragmentos da vida de Shahnour Vaghinagh Aznavourian, também conhecido como Charles Aznavour. E para dar vida a esse ícone musical, o escolhido foi o ator Tahar Rahim que brilha com uma atuação maravilhosa e uma intensidade nítida do início ao fim. Não há dúvidas que esse era o nome certo para o papel.

Em Monsieur Aznavour somos testemunhas da reunião de um apanhado de histórias reais que moldaram a vida pessoal e carreira do conhecido artista das multidões. Passando por inúmeros anos, desde a infância com a instabilidade financeira do pais refugiados, percorrendo os horrores da guerra e também seu lado mulherengo, no longa-metragem selecionado para a 1ª edição do Festival de Cinema Europeu Imovision vemos uma história com altos e baixos de uma trajetória guiada pela força de canções românticas imortalizadas.

O roteiro busca um retrato amplo mas com poucos contextos, fato que deixa lacunas com a falta de profundidade. Mesmo com uma narrativa impulsionada por um dinamismo que funciona, derrapa no bumerangue de informações que envolvem ambições conflitantes e dilemas. Ao apresentar uma personalidade melancólica, um eterno insatisfeito e até certo ponto distante dos laços familiares, vemos de maneira simplória um homem atrás dos seus sonhos, vivendo intensamente a boemia e aproveitando cada lição dos encontros que o destino lhe reservou.

Para os amantes da música europeia, momentos marcantes são reservados. O convívio e aprendizagem com Edith Piaf (Marie-Julie Baup) ganham ótimas cenas dentro do projeto. Ela foi um elemento impulsionador de sua carreira ao levá-lo para abrir seus shows na França e em outros lugares do mundo. Junto a esse ponto, seu convívio e conflitos com o pianista Pierre Roche (Bastien Bouillon) se tornam os momentos de maior destaque. Sobre esse último citado, formou um duo com o protagonista que foi praticamente o início de tudo para Aznavour.

O processo criativo, fator importante dessa caminhada do cantor e compositor que escreveu mais de 800 canções e vendeu cerca de 200 milhões de álbum em todo o mundo, é aqui aliado a sua eterna luta para provar seu talento. Não passando a mão na cabeça do elemento central dessa cinebiografia, é apresentado visões de fatos que culminam numa personalidade workholic e muitas vezes insensível. Será isso algo que possa chocar os fãs?   

Monsieur Aznavour teve quatro indicações ao Prêmio César (o Oscar Francês) e deve chegar ao cinemas brasileiros ainda em 2025.


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Crítica do filme: 'Quando a Luz Arrebenta'


Filme de abertura da Mostra Um Certo Olhar na última edição do Festival de Cannes, o longa-metragem islandês Quando a Luz Arrebenta consegue em um curto ciclo, projetando seu clímax para o luto solitário, dilacerar a dor que sufoca com vários respiros para as reflexões. Escrito e dirigido pelo excelente cineasta islandês Rúnar Rúnarsson - de Vulcão e outros belos trabalhos – somos atraídos a cada minuto de projeção pelas estradas conturbadas de uma protagonista de frente com o caos emocional provocado por uma fatalidade.

Una (Elín Hall) é uma jovem estudante de artes, integrante de uma banda nas horas vagas, que vive um romance não exposto com Diddi (Baldur Einarsson), esse último ainda num outro relacionamento. Quando uma inesperada tragédia acontece com seu amor, a personagem principal precisará enfrentar o luto e as verdades não ditas nas horas que se seguem.

A roteiro explora com delicadeza os contrastes no campo dos sentimentos. Logo, o amor encontra as consequências da traição, a união no esbravejar a perda vira um movimento solitário, um oposto do que o momento pede. Pelos passos e sentimentos da protagonista, em uma cronologia de poucas horas entre os acontecimentos, vamos acompanhando uma história sobre a maturidade forçada pelo destino.  

Com todas suas locações na cidade de Reykjavík (capital islandesa), esse filme, selecionado para a 1 edição do Festival de Cinema Europeu Imovision, mostra como a sutiliza bem aplicada ao vazio existencial provisório nos leva a um mar de reflexões. Para isso, o uso das infinidades da linguagem e seus elementos são notórios. Com uma fotografia exuberante, que ajuda as objetivas composições de cena, encontrando sentido no pulsar das emoções profundas de uma protagonista e seu choque com a realidade, somos premiados com uma história marcante que já ganha a galeria dos melhores filmes exibidos no Brasil em 2025.

O grande trunfo dessa ficção é a facilidade com o se identificar, a relação ‘história x público’. Quem nunca teve perdas na sua vida? Como você lidou com isso? Todo amor que você teve foi vivido intensamente cada momento? Seguindo por esse caminho, as camadas se abrem impulsionadas pelas hipocrisias de regras sociais e o medo do julgamento e olhar do outro. Nesse jogo de experimentos morais que mostra os pormenores das necessidades das interrelações, um ciclo se fecha, afinal a luz que arrebenta é a mesma que ilumina.


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Crítica do filme: 'Dreams'


As angústias e o aprender através de um desabafo. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim desse ano, o longa-metragem norueguês Dreams busca, ao triangular três gerações de mulheres da mesma família, ótimos debates que vão de encontro aos impulsos nas experiências de vidas e as hipocrisias nas validações da sociedade sobre alguns assuntos tabus. Com seus intensos diálogos – nunca desinteressantes – e uma imersiva narradora-personagem somos convidados ao deleite de reflexões que são apresentadas através do sobe e desce nas escadas que interligam emoções.

Johanne (Ella Øverbye) é uma jovem estudante do ensino médio que após a chegada da nova professora de francês Johanna (Selome Emnetu) começa a desenvolver uma intensa paixão por ela. Buscando uma solução para entender melhor toda essa bomba de emoções que está vivendo, resolve escrever todos seus sentimentos e experiências em um diário. Até que um dia convida sua avó Karin (Anne Marit Jacobsen) e sua mãe Kristin (Ane Dahl Torp) para ler todas as páginas desse amor proibido, causando um choque entre as três gerações.

O cineasta – e também bibliotecário – norueguês Dag Johan Haugerud, de 60 anos, resolveu criar uma trilogia sobre a tão profunda complexidade nos relacionamentos humanos através de sua observação sobre a sociedade. Dreams é o terceiro e último filme desse ciclo. O roteiro – todo escrito por Haugerud – atravessa a exposição radical da intimidade de uma adolescente abrindo camadas de percepções mundanas através do desenvolvimento de todas as ótimas personagens.

A narrativa consegue captar o psicológico com o sociológico, um arranjo corajoso que dentro da fórmula explorada ganha-se muito na curiosidade pelo desfecho. Através de longos diálogos – algo que pode soar cansativo para parte do público - degrau por degrau vamos navegando pelo mar da desilusão de uma juventude sedenta por descobertas (principalmente os impulsos sexuais), os desencontros da meia idade e as validações das certezas da melhor idade.  

Ainda mais a fundo, enxergamos rapidamente o ponto psicológico, muito bem amarrado no roteiro, que parece caminhar paralelo a tudo que assistimos. O enfrentar sozinho, as soluções ao expressar desejos e sonhos, até mesmo a tentativa de abertura com um psicólogo. Já no lado sociológico, vemos um interessante um exercício quando percebemos que o refletir passa para o outro numa gincana de autodescobertas.  

Dreams foi o filme de abertura da 1ª edição do Festival de Cinema Europeu Imovision e deve ganhar espaço no circuito exibidor brasileiro ainda esse ano.

 

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