Será que há coisas mais valiosas do que a verdade?
Escrito e dirigido pelo cineasta americano Joseph Cedar (do excelente Beaufort),
Notas
de Rodapé é um filme simples que mostra de maneira muito verdadeira a
relação conturbada entre um pai e um filho. A direção é detalhista, nos joga
para a ótica do personagem principal com maestria. Esse último, por sua vez, é
interpretado de maneira retilínea, constante e muito correta pelo ótimo ator
Shlomo Bar-Aba.
Logo nos primeiros minutos já somos apresentados ao
rabugento Eliezer Shkolnik e seu incômodo de estar em uma certa solenidade. Seu
filho conseguiu se desenvolver muito melhor e sua profissão, recebendo vários
prêmios e honrarias que jamais preencheram as mãos do velho Eliezer. O
Organizado pesquisador (sempre próximo de seu protetor de ouvido amarelo), caminha
a quarenta anos à pé, sempre fazendo o mesmo trajeto de sua casa à biblioteca
nacional. Entre alguns fatos curiosos sobre sua vida, se recusou a cancelar sua
matéria na faculdade mesmo tendo apenas um aluno matriculado. A única
felicidade que percebemos foi a de ter recebido, anos atrás, uma menção em uma
roda de rodapé no livro de um autor famoso. Tem um relacionamento conturbado
com seu único filho, sente inveja das conquistas do mesmo. Certo dia, o
telefone toca e o velho pesquisador recebe a notícia que tanto queria: irá
receber o prêmio máximo de pesquisa em seu país. Porém, por conta de um erro, a
história se modifica levando a todos os personagens aos limites de suas
paciências.
Falamos muito do personagem principal, o pai, mas precisamos
falar também do filho. A sua relação com seu pai acaba afetando também seu
relacionamento em casa, com sua mulher e seu filho. Irritações, indecisões o
desespero toma conta do personagem de Lior Ashkenazi, Uriel Shkolnik.
Aos poucos os argumentos do passado (porque aquelas
situações estão acontecendo) são apresentados ao público de maneira atual,
divertida, com bastante expertise. Assim fica fácil do público entender aquele relacionamento
com problemas e automaticamente ser fisgado para dentro da história. O
longa-metragem tem cenas comoventes acopladas em trilha sonora, assinada por
Amit Poznansky, que lembra os filmes americanos do início do último século.
Toda a parte de produção, bem detalhista, merece um sonoro elogio.
Pré-indicado ao Oscar do ano, Notas de Rodapé promete
emocionar e levar ao público uma história sólida que se sustenta no
relacionamento entre pai e filho e as inversões que ocorrem quando somos apresentados
a fatos que mudam uma trajetória. Não deixem de conferir!